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Kant e a Filosofia Crítica

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-A concepção kantiana de filosofia
A obra de Immanuel Kant pode ser vista como um marco na filosofia moderna. Seu
pensamento é dividido em duas fases:
● Pré-crítica: vai até a Dissertação de 1770;
● Crítica: a partir da publicação da Crítica da Razão Pura.
Na fase pré-crítica, Kant era considerado um representante do racionalismo dogmático, que
caracteriza-se pela forte influência do “sistema Leibniz-Wolff”, ou seja, do predomínio da
filosofia racionalista inspirada em Leibniz e desenvolvida e sistematizada por Wolff. Foi a
leitura de Hume que despertou Kant de seu “sonho dogmático”. Kant visava empreender
uma defesa do racionalismo contra o empirismo cético. Entretanto, o filósofo percebeu a
importância das questões levantadas pelos empiristas e acabou por elaborar uma filosofia
que caracterizou como racionalismo crítico, pretendendo superar a dicotomia entre
racionalismo e empirismo.
Em sua Lógica, Kant define a filosofia como “a ciência da relação de todo conhecimento e
de todo uso da razão como o fim último da razão humana”, e trouxe o desenvolvimento de
quatro questões fundamentais:
1. O que posso saber? Questão que diz respeito à metafísica, no sentido kantiano de
investigação sobre a possibilidade e legitimidade do conhecimento;
2. O que devo fazer? Cuja resposta é dada pela moral;
3. O que posso esperar? O problema da esperança, de que trata a religião;
4. O que é o homem? Objetivo da antropologia, à qual em última análise se reduzem
as outras três e que é a mais importante das quatro.
Tendo em vista estas questões, o filósofo deve determinar:
1. As fontes do saber humano;
2. As extensões do uso possível e útil de todo saber;
3. Os limites da razão
O último trata-se do item mais difícil e mais necessário na perspectiva da filosofia crítica.
No prefácio de Crítica da razão pura, Kant refere-se ao “escândalo” das disputas entres as
várias correntes e doutrinas filosóficas, que só poderiam ser superadas pela introdução da
crítica. Um dos objetivos fundamentais da filosofia neste livro é estabelecer critérios de
demarcação entre o que podemos legitimamente conhecer e as falsas pretensões ao
conhecimento, que nunca se realiza. Para Kant, a crítica se opõe ao dogmatismo, "à
pretensão de progredir apenas com um conhecimento puro baseado em conceitos, segundo
princípios há tempos usados pela razão, sem se indagar contudo de que modo e com que
direito ela chegou a eles”. A tarefa da crítica consiste em examinar os limites da razão
teórica e estabelecer os critérios de um conhecimento legítimo.
-Crítica da Razão Pura
Nesse livro, Kant formula sua concepção de uma filosofia transcendental, que é uma
investigação que “em geral se ocupa não tanto com objetos, mas com o nosso modo de
conhecimento de objetos”. Portanto, a filosofia transcendental contém a teoria do
conhecimento de Kant, sua análise das condições de possibilidade do conhecimento, por
meio da qual pode-se delimitar a ciência da pseudociência, distinguindo o uso cognitivo da
razão, que efetivamente produz conhecimento do real, de seu uso meramente especulativo,
em que ao pensamento não correspondem objetos. A obra consiste no exame da
constituição interna da razão e no exame de seu funcionamento.
Kant inicia na distinção tradicional entre juízos analíticos e juízos sintéticos.
● Juízos Analíticos: caráter lógico, aqueles em que o predicado está contido no
sujeito, ou seja, não produzem conhecimento, mas simplesmente explicitam a
definição do sujeito do juízo. São a priori, independentes da experiência, universais
e necessários, mas não cognitivos.
● Juízos sintéticos: são a posteriori, dependem da experiência e constituem uma
ampliação de nosso conhecimento. Produzem conhecimento, mas não são
universais nem necessários, pois baseiam-se na experiência e resultam de
generalizações empíricas.
Kant considera que a distinção analítico é insuficiente para explicar a possibilidade da
ciência, pois precisamos dar conta de juízos universais e necessários que ampliem o
conhecimento:
● Os juízos sintéticos a priori: é caracterizado por Kant como independente da
experiência, porém relacionado a ela, já que diz respeito às suas condições de
possibilidade. Os princípios mais gerais da ciência, os fundamentos da física e da
matemática e os juízos filosóficos da teoria do conhecimento que Kant pretende
estabelecer, pertenceriam a esta nova classe de juízo.
Kant formula que na relação de conhecimento, não é o sujeito que se orienta pelo objeto (o
real), mas o objeto que é determinado pelo sujeito. Dessa forma, o livro visa investigar as
condições de possibilidade do conhecimento, ou seja, o modo pelo qual, na experiência
de conhecimento, sujeito e objeto se relacionam e em que condições esta relação pode ser
considerada legítima. Portanto, “sujeito” e “objeto” são termos relacionais, que só podem ser
considerados como parte da relação do conhecimento, e não autonomamente. Só há objeto
para o sujeito, só há sujeito se este se dirige ao objeto.
O conhecimento do objeto resulta da contribuição de duas faculdades de nossa mente, ou
de nossa razão, a sensibilidade e o entendimento. Na primeira parte do livro, a Estética
Transcendental, trata-se da contribuição das formas puras da sensibilidade, as intuições de
espaço e tempo, para o conhecimento. A segunda parte, Analítica Transcendental, examina
a contribuição dos conceitos puros do entendimento, as categorias, para o conhecimento,
considerando nas seções relativas à unidade sintética da percepção e ao esquematismo
da razão pura, como sensibilidade e entendimento se unem para constituir a experiência
cognitiva. Trata-se da formulação de um modelo do uso da razão no conhecimento que
procura dar conta de como se constitui este conhecimento de forma legítima.
Kant emprega o termo “estética” no sentido tradicional de análise da sensibilidade do ponto
de vista do conhecimento. Sua teoria de sensibilidade em a Estética Transcendental
pretende investigar as formas puras da sensibilidade, as intuições de espaço e tempo como
condições de possibilidade da experiência sensível. Dessa forma, seriam elementos
constitutivos de nossa relação com objetos enquanto determinados espaço-temporalmente.
Kant rejeita a noção de uma intuição intelectual tal como encontramos na metafísica
tradicional. Por definição, a essencia é o incondicional, conhecê-la seria entrar em uma
relação com a essencia, a partir do que deixaria de ser incondicionada. A intuição é
sempre sensível, é o modo como os objetos se apresentam a nós no espaço e no tempo,
condição de possibilidade para que sejam objetos. O que conhecemos não é o real, mas
sempre o real em relação com o sujeito do conhecimento, o real enquanto objeto. Kant
separa o mundo dos fenômenos, a realidade de nossa experiência, do mundo do
número, a realidade considerada em si mesma, a qual podemos pensar, mas não
conhecer. Temos assim as seguinte relação:
Sujeito objeto ↔ objeto (fenômeno) / real (coisa-em-si)
O idealismo consiste apenas na afirmação de que não existe outro ser senão o pensante;
as demais coisas, que acreditamos perceber na intuição, seriam apenas representações
nos seres pensantes, às quais não correspondem nenhum objeto fora deles. Kant afirma o
contrário: são-nos dadas coisas como objetos de nossos sentidos, existentes fora de nós,
só que nada sabemos do que eles possam ser em si mesmos, mas conhecemos apenas
seus fenômenos, as suas representações que produzem em nós ao afetarem nossos
sentidos.
Kant apresenta uma tabela das categorias de formas do entendimento que nos permitem
pensar objetos. O primeiro conhecimento que nos deve ser dado a priori para o
conhecimento de todos os objetos é o múltiplo da intuição pura; a síntese deste múltiplo
constitui o segundo elemento, mas sem ainda fornecer um conhecimento. Os conceitos que
dão unidade a esta síntese consistem apenas na representação desta unidade sintética
necessária, constituem o terceiro elemento para o conhecimento de um objeto.
Os juízos e
categorias deles
derivados
constituem as
formasmais
básicas e gerais de
formulação de
nosso pensamento,
a tabela apresenta
um mapa de
nossas
possibilidades de
pensar. Kant deriva
os conceitos dos
juízos, dando com
isso prioridade aos
juízos sobre os conceitos. Não pode haver nenhuma combinação de conceitos se não
houver uma unidade originária que a permita. Dado o caráter predicativo dos conceitos,
estes só podem ser entendidos a partir de seu papel nos juízos. Os juízos possuem uma
unidade, uma forma lógica que independe de seu conteúdo. Os conceitos enquanto
predicados de juízos possíveis relacionam-se a uma representação de um objeto ainda não
determinado. Assim, o conceito de corpo afirma significar algo que só pode ser conhecido a
partir do conceito. É portanto um conceito apenas por compreender outras representações
através das quais se relaciona com objetos, é nesse sentido que é considerado predicado
de um juízo possível.
A sensibilidade nos fornece os dados da experiência (o múltiplo), a imaginação completa
estes dados e os unifica, e o entendimento lhes dá unidade conceitual, permitindo-nos
pensá-los. O conhecimento resulta da contribuição desses três elementos. A Dedução
Transcendental visa fundamentar o conhecimento a partir do uso dos conceitos. Em um
juízo empírico objetivo, “Esta pedra é pesada”, nós unificamos aparições através de
conceitos explicitamente usados e da categoria inerente à sua forma lógica. Esta unificação
ou síntese caracteriza-se por:
1. Um múltiplo ou diverso de maniversações, percepções, lembranças, imaginações;
2. Essas manifestações são reunidas e completadas pela imaginação;
3. Através da aplicação dos conceitos e da categoria correspondente, essa coleção
adquire unidade sintética, referência objetiva.
Na seção sobre a unidade sintética originária da percepção, Kant mostra como nossas
experiências devem ser sempre remetidas a um “eu penso” que lhes dá unidade. Somente
pelo fato de que posso conectar, em uma consciência, um múltiplo de representações
dadas, é possível que eu próprio me represente, nessas representações, a identidade da
consciência. O “eu penso” de Kant não é puro, mas precisamente o que lhes dá unidade e
não pode ser considerado independentemente delas. Kant, sobre a identidade pessoal,
afirma que para que haja experiências, estas têm de ser remetidas a um “eu” de que são
experiências, o “eu” consiste na unidade originária da consciência.
A Dialética Transcendental trata do uso especulativo da razão, em que esta não produz
conhecimento porque não remete a objetos de uma experiência possível. É nesse sentido
que, para Kant, a metafísica tal como tradicionalmente concebida não pode ser uma
ciência, não produzindo conhecimento efetivo do real por não ter objetos. A metafísica não
tem objetos porque, por definição, Deus, o cosmo e a alma não podem ser objetos de uma
experiência espaço-temporal, pois não se manifestam no espaço e no tempo. Kant examina
nas antinomias e no paralogismos da razão pura exatamente este uso indevido da razão,
quando pretende tratar as ideias de Deus como se fosse objeto do conhecimento,
produzindo conflitos e questões insolúveis (antinomias) e raciocínios defeituosos
(paralogismos). A Estética e a Analítica fornecem os critérios que permitem demarcar os
usos legítimos e ilegítimos da razão teórica no campo do conhecimento, e as ideias
podem ter apenas um uso regulativo, estabelecendo metas e diretrizes para a investigação
humana, não sendo objetos do conhecimento, mas agindo como se o fossem. Entretanto,
Kant admite que a razão humana se coloca questões que não pode evitar, pois provêm de
sua própria natureza, mas que tampouco pode responder, por ultrapassarem totalmente sua
capacidade cognitiva. Kant diz que teve que suprimir o saber para dar lugar à fé.
-A filosofia moral de Kant
Para Kant, as questões sobre ética pertencem a outra dimensão de nossa racionalidade, a
razão prática e não à razão teórica. Considera que o homem não é um sujeito do
conhecimento, mas um agente livre e racional. Para o filósofo, é no domínio da razão
prática que somos livres, que se põe a questão da liberdade e da moralidade, enquanto no
domínio da razão teórica, do conhecimento, somos limitados por nossa própria estrutura
cognitiva. A ética é estritamente racional, bem como universal, no sentido de que não está
restrita a preceitos de caráter pessoal nem a hábitos e práticas culturais ou sociais, os
princípios éticos são derivados da racionalidade humana. Dessa forma, a moralidade trata
do uso prático e livre da razão. Pode-se considerar a ética kantiana como uma ética do
dever, uma ética prescritiva.
● Os princípios da razão prática são leis universais que definem nossos deveres.
● Os princípios morais resultam da razão prática e se aplicam a todos os indivíduos
em qualquer circunstância.
No mundo dos fenômenos tudo depende de uma determinação causal. Se o homem é
parte da natureza e as ações humanas ocorrem no mundo natural, então suas ações
seguem uma determinação causal e o homem não é livre nem responsável por seus atos.
Porém, o homem é um ser racional e por isso distingue-se da ordem natural, submetido aos
princípios morais derivados de sua razão. A moral é independente do mundo natural. No
campo do conhecimento, Kant parte da existência da ciência para investigar suas
condições de possibilidade; no campo da ética, parte da existência da consciência moral
para estabelecer seus princípios.
O objetivo fundamental de Kant é estabelecer os princípios a priori, universais e imutáveis
da moral. Seu foco é o agente moral, suas intenções e motivos. O dever consiste na
obediência a uma lei que se impõe universalmente.
● Imperativo categórico: Age de forma que sua ação possa ser considerada como
norma universal. Toda ação exige a antecipação de um fim, o ser humano deve agir
como se este fim fosse realizável. Este princípio não estabelece o que se deve fazer,
mas apenas um critério geral para o agir ético, sendo este seu objetivo.
● Imperativos hipotéticos: têm um caráter prático, estabelecendo uma regra para a
realização de um fim.
Segundo Kant, a noção da busca da felicidade é insuficiente como fundamento da moral,
porque o conceito de felicidade é variável, dependendo de fatores subjetivos,
psicológicos, ao passo que a lei moral é invariável, universal, por isso seu fundamento é o
dever.
Na concepção kantiana, a razão prática pressupõe uma crença em Deus, na liberdade e na
imortalidade da alma, que funcionam como ideias ou princípios regulativos. A crença em
Deus é o que possibilita o supremo bem, recompensar a virtude com a felicidade. A
imortalidade da alma é necessária, pois neste mundo virtude e felicidade não coincidem, a
liberdade é um pressuposto do imperativo categórico, libertando-nos de nossas
inclinações e desejos, uma vez que o dever supõe o poder fazer algo.
Na terceira crítica, a Crítica do Juízo, Kant pretende analisar os juízos de gosto,
fundamento da estética (no sentido da arte), e os juízos teológicos (de finalidade). Porém
na realidade seu objetivo principal é superar a dicotomia anterior entre razão teórica (ou
cognitiva) e prática (ou moral), considerando a faculdade do juízo como uma faculdade
intermediária. Kant examina a ideia da natureza como dotada de um propósito ou
finalidade. Porém, Kant considera que o juízo estético não pode ser simplesmente
subjetivo, devendo ser dotado de objetividade e universalidade. O juízo estético tem como
objetivo algo particular, considerado em si mesmo, sem nenhum interesse específico por
parte do sujeito além da consideração do próprio particular. É esta ausência de interesse
que garante sua objetividade e universalidade.

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