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Os transtornos de aprendizagem Os transtornos ou distúrbios no processo de aprendizagem da criança podem ser entendidos como alterações manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas, causados por um funcionamento cerebral atípico que podem ser detectáveis por exames clínicos ou não. Assim, os principais distúrbios de aprendizagens classificam-se em: dislexia, dificuldade na leitura; discalculia, dificuldade na matemática; disgrafia, dificuldade na escrita; disortografia, dificuldade ortográfica. 1. A dislexia Segundo Gabanini et al (2016, p. 24) a dislexia “é um transtorno específico da leitura e persistente, sendo uma alteração do neurodesenvolvimento”. É caracterizado por um fraco desempenho na leitura, no início da alfabetização, “quando a criança tenta soletrar letras com muita dificuldade e sem sucesso” (SAMPAIO, 2014, p. 38). 1.1. Principais características Sampaio (2014) apresenta algumas características da dislexia que poderão ser identificados em crianças de risco para este transtorno de aprendizagem, desde a pré-escola: • Omissões, trocas de sílabas e fonemas; • Deficiência fonológica; • Dificuldade em aprender e recordar os nomes e os sons das letras; • Dificuldade em memorizar canções, poesias, parlendas e etc.; • Dificuldade em perceber rimas e aliterações; • Esquece nome de objetos, pessoas e lugares. No ensino fundamental, para a autora, algumas dificuldades permanecerão, e outras surgirão devido à deficiência: • Leitura lenta, muitas vezes silabadas; • Não entende o que lê, ou há interpretação fragmentada; • Confusão de fonemas com sons semelhantes: t-d, v-f, m-n, p-b, q-g, c-z, j-x; • Saltar, retroceder ou perder a linha de leitura; • Dificuldade em copiar da lousa; • Dificuldade em memorizar o alfabeto, a tabuada, as sequências como os dias da semana e os meses do ano. 1.2. Estratégias pedagógicas Ações pedagógicas podem auxiliar a pessoa com dislexia. Sampaio (2014), nesse sentido, sugere aos professores adotar alguns procedimentos: • Maior tempo para copiar do quadro; • Introdução de cada letra com ênfase na relação entre nome e som; • Trabalhar canções com rimas; • Exercício com figuras para que se identifiquem os fonemas, as rimas e as aliterações; • Evitar pedir que leia em voz alta; • Avaliações diferenciadas com textos curtos e intercalados com as perguntas que deverão ser mais diretas; • Dar mais tempo para a prova, lendo sempre o enunciado me voz alta, cerificando-se de que ele entendeu o que foi pedido; • Não tirar ponto da ortografia na avaliação. 2. A disgrafia Para Gabanini et al (2016, p. 27) a disgrafia ou transtorno da escrita pode envolver três dimensões: grafia, ortografia e produção textual. A dificuldade na grafia afeta a legibilidade de letras, palavras e textos. Geralmente são decorrentes de déficits em habilidades motoras finas, movimento sequencial e planejamento motor. Ciasca (2015, p. 187) registra que a disgrafia é “a principal dificuldade da escrita manual. É considerada como uma falha no processo de desenvolvimento ou da aquisição da escrita”, o que torna a pessoa incapaz de produzir uma escrita culturalmente aceitável, apesar de possuir um nível intelectual e instrução adequados. 2.1. Principais características Quanto à grafia, Gabanini et al (2016, p. 27) apresenta-nos algumas características de quem tem este transtorno: • Dificuldade para escrever letras e números; • Mistura de letras maiúsculas e minúsculas na palavra; • Traçado de letra inteligível; • Traçado de letra incompleto; • Dificuldade para realizar cópia; • Falta de respeito à margem do caderno; • Tempo de escrita de palavras aumentado; • Dificuldade para soletrar palavras; • Dificuldade em colocar letra em palavras em sequência. Com relação à ortografia, pessoas tem significativas dificuldades em dominá-la. A este transtorno, chama-se de disortografia, na qual a escrita “é marcada por erros que envolvem a representação da ortografia” (GABANINI et al, 2016, p. 28). Para os autores, sua principal característica é a confusão entre letras e sílabas em palavras, além da persistência em trocas ortográficas em palavras conhecidas e bastante trabalhadas pelo professor. A disortografia impossibilita o indivíduo a “transcrever corretamente a linguagem oral” (CRENITE; GONÇALVES, 2015, p. 197). Também, os alunos com transtorno de expressão escrita terão dificuldades na produção de textos, a qual é “bastante empobrecida em termos de detalhes, organização e coerência do relato. Muitas vezes necessitam das perguntas norteadoras para orientar a produção de um texto” (GABANINI et al, 2016, p. 29). 2.2. Estratégias pedagógicas Para que a aprendizagem da escrita aconteça, diversas ações pedagógicas devem ser utilizadas para o desenvolvimento da escrita no aluno, como “a reescrita individual e coletiva de textos produzidos em sala de aula e a análise de seus problemas, tanto pela criança como pela professora” (SALGADO, 2015, p. 223). Ainda, a mediação de todos os agentes educativos e profissionais clínicos é indispensável na promoção da aprendizagem escolar. A Neurosaber (2017) elenca, em seu website, algumas técnicas que podem ser usadas no caso da disgrafia: • Exercícios grafomotores: eles são ideais para que o pequeno possa trabalhar, com o acompanhamento de um profissional, a coordenação motora e o domínio das mãos ao movimentar um lápis sobre o papel. • Caligrafia: a criança pode, aqui, ter a habilidade da escrita desempenhada para que ele tenha maior domínio na escrita. • Posição ao escrever: a maneira a qual a criança segura o lápis é determinante e causa dor e fadiga nas mãos do pequeno. Neste caso, o aluno precisa ser orientado à forma mais adequada para desenvolver a escrita sem prejudicar seus membros. Além disso, a posição do papel também reflete a maneira que o pequeno escreve. • Pincel: o uso do instrumento é ideal na fase inicial do treinamento, principalmente para que a criança consiga trabalhar a pressão que é exercida sobre a folha de papel. Aqui, o profissional pode indicar traços retos para que o pequeno possa desenvolver sua coordenação. 3. A discalculia A discalculia do desenvolvimento (DD), também conhecida como Transtorno Específico da Habilidade Aritmética e Transtorno da Matemática, “manifesta-se principalmente como uma dificuldade para realizar operações elementares de adição, subtração, multiplicação e divisão, sem que isso seja resultado de um ensino inadequado ou retardo mental global” (MONTIEL; CAPOVILLA, 2009, p. 39). 3.1. Principais características Gabanini et al (2016, p. 30) afirmam que alunos que leem os números de trás para frente, têm dificuldade para dizer as horas, confundem partes com o todo, têm dificuldade de acompanhar pontuação em um jogo e têm dificuldade para lembrar fatos matemáticos, conceitos, regras, fórmulas, sequências e procedimentos, eles podem ter um transtorno específico das habilidades matemáticas. Outros indicadores do transtorno são apontados pelos autores: • Dificuldade em processar auditivamente, entender e escrever números; • Dificuldade com os cálculos mentais; • Problemas para aprender, evocar e/ou usar fatos e procedimentos numéricos (tabuada, divisões longas); • Dificuldades com sequências temporais como os meses do ano, ou a noção de ontem, hoje e amanhã; • Falta de noção de magnitude: a criança tem dificuldade para entender que 200 é menor que 2000; • Dificuldade para entender conceitos numéricos simples; • Dificuldade para realizar pagamento e calcular o troco; 3.2. Estratégias pedagógicas Silva (2014) escreve que quando se trata de uma intervenção de aprendizagem em alunos com discalculia, deve-se lembrar que este transtorno é de natureza neurológica, sendonecessária a busca por atividades que estimulem “todas as dimensões do sujeito, aqui compreendidas como motora, social, cognitiva e afetiva” (SILVA, 2014, p. 75). Nessa perspectiva, a autora propõe o uso do jogo, considerando que esta ferramenta abrange todas as necessidades da pessoa com discalculia, possibilitando o desenvolvimento nas áreas neurológicas e cognitivas. Ainda, o jogo desperta o aluno para “o ato de hipotetizar, planejar, elaborar e anteceder, fazendo, assim, evoluir a sua forma de pensar, logicamente falando” (SILVA, 2014, p. 77), além de ajudá-lo na resolução de problemas e construção do conhecimento. Alguns jogos que podem contribuir para este propósito são indicados por Silva (2014): pega-varetas, dominó, jogo da velha, jogos de trilha e bingos. Estes instrumentos contribuem para desenvolver a capacidade de realização de cálculos matemáticos, de concentração, de organização espacial e visual, de planejamento, da motricidade, bem como de percepção das cores. Para Montiel e Capovilla (2009), a intervenção educativa deve centrar-se no problema neuropsicológico da criança com discalculia, como dificuldades de percepção visual-espacial, verbal e percepção auditiva. Para tanto, os autores sugerem estratégias que trabalhem a verbalização de conceitos aritméticos, processos e operações, e que os alunos podem aprender aritmética sempre que as estratégias e conceitos estiverem voltadas para a resolução de problemas. Referência bibliográfica CIASCA, Sylvia Maria. Disgrafia: transtorno específico da escrita. In: MONTIEL, José M.; CAPOVILLA, Fernando C. Atualização em transtornos da aprendizagem. Campinas-SP: Editora Artes Médicas, 2009.p. 184-190. CRENITTE, Patrícia Abreu Pinheiro; GONÇALVES, Thais dos Santos. Disgrafia e linguagem escrita. In: MONTIEL, José M.; CAPOVILLA, Fernando C. Atualização em transtornos da aprendizagem. Campinas-SP: Editora Artes Médicas, 2009 p.192-206. GABANINI, Adriana Pizzo Nascimento. et al. Dificuldades e transtornos de aprendizagem: por que o aluno não aprende? Módulo 2. Instituto ABCD. 2016. Disponível em: < https://docplayer.com.br/24842510-Modulo-2-dificuldades-e-transtornos-de-aprendizagem- por-que-o-aluno-nao-aprende.html> Acesso em: 28/12/2019. NEUROSABER. Como trabalhar com crianças com disgrafia? 2017. Disponível em: < https://neurosaber.com.br/como-trabalhar-com-criancas-com-disgrafia/> Acesso em: 25/02/2020. SALGADO, Cintia Alves. Processo interventivo na disgrafia. In: MONTIEL, José M.; CAPOVILLA, Fernando C. Atualização em transtornos da aprendizagem. Campinas-SP: Editora Artes Médicas, 2009 p.222-231. SAMPAIO, Simaia. Aspectos neuropsicopedagógicos da dislexia e sua influência em sala de aula. In. SAMPAIO, Simaia; FREITAS, Ivana Braga de. Transtornos de dificuldades de aprendizagem: entendendo melhor os alunos com necessidades educativas especiais. 2 ed. Rio de Janeiro: Walk Editora, 2014. SILVA, Joselma Gomes da. Discalculia: ressignificar para intervir na sala de aula. In. SAMPAIO, Simaia; FREITAS, Ivana Braga de. Transtornos de dificuldades de aprendizagem: entendendo melhor os alunos com necessidades educativas especiais. 2 ed. Rio de Janeiro: Walk Editora, 2014.
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