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O flúor é um elemento-traço amplamente presente no ambiente. Ele entra na hidrosfera por infiltração a partir dos solos e minerais para as águas profundas. As erupções vulcânicas e as tempestades de areia em áreas ricas em rochas vulcânicas adicionam F- à atmosfera. Quando a importância do fluoreto no controle da cárie foi descoberta, em regiões que possuíam fluoreto natural na água, acreditou- se que seu efeito seria pré-eruptivo, tornando os dentes mais resistentes à cárie. Hoje já há conhecimento consolidado de que o fluoreto importante é aquele presente na cavidade bucal, em contato com a estrutura dental, para exercer seu efeito nos processos de des/remineralização. Assim, seu efeito é basicamente pós-eruptivo, agindo nos dentes presentes na cavidade bucal. Portanto, onde age? Na saliva e no biofilme dental Mecanismos cariostáticos do fluoreto O mecanismo de ação do F–, independentemente do veículo usado (água, pastas de dente, sal de cozinha, comprimidos, géis, vernizes etc.), é baseado na disponibilidade de íon nos fluidos bucais (saliva, fluido do biofilme) para interferir no processo de cárie. Quando disponível na cavidade bucal, o íon flúor (ou fluoreto) exerce um enorme efeito físico-químico no processo de des/remineralização dental, que resulta em diminuição na velocidade de progressão das lesões de cárie. A fermentação de produtos da dieta induz a desmineralização da estrutura dental. No entanto, na presença de fluoreto, o processo pode ser desacelerado, uma vez que o fluoreto é um potente ativador da precipitação de minerais na estrutura dental. Assim, a perda mineral total é menor se o desafio cariogênico (exposição do biofilme dental a açúcares fermentáveis) ocorrer na presença de fluoreto. Esse é o chamado efeito do fluoreto na diminuição da desmineralização dental. Além disso, quando a saliva está exercendo seu efeito remineralizador natural (quando cessa o desafio cariogênico), a disponibilidade de fluoreto na cavidade bucal ativa a remineralização. A esse efeito denomina-se ativação da remineralização pelo fluoreto. Também é possível entender o efeito do fluoreto no controle de progressão de lesões de cárie quando imaginamos que estas são formadas como resultado de processos gradativos de perda e ganho de mineral, quando prevalece a perda mineral. Assim, havendo interrupção do processo de perda, a lesão será paralisada ou revertida. Os minerais do dente são muito estáveis, pois a saliva sob condições de pH normal tem concentrações de cálcio e fosfato suficientemente altas para serem supersaturadas com relação às fases minerais dos dentes (principalmente hidroxiapatita). Somente em certas condições, quando essa supersaturação é perturbada (ou seja, quando o metabolismo do biofilme produz ácido a partir da fermentação de açúcar), a desmineralização dentária pode ocorrer. A fermentação da sacarose resulta na produção de prótons, que reduzem a supersaturação do fluido do biofilme em relação aos minerais dentários e leva à dissolução mineral a fim de manter a condição de saturação. Caso esse episódio de desmineralização seja repetido várias vezes no dia, em um período de semanas a meses, se desenvolverá uma lesão de cárie visível. Embora o F– não afete a formação do biofilme, o metabolismo dos açúcares na concentração disponível na saliva e o fluido do biofilme, a desmineralização dentária é reduzida pela concomitante precipitação de flúor- hidroxiapatita, uma fase mineral mais estável do que a hidroxiapatita em qualquer pH determinado. Portanto, enquanto a hidroxiapatita do interior do esmalte dentário está se dissolvendo durante um desafio cariogênico, uma apatita fluoretada pode se precipitar nas camadas muito superficiais. O resultado final é a redução da perda mineral total, acompanhada pela formação gradual de um mineral enriquecido de F– (uma consequência, e não uma causa, do efeito do F–). Durante o período em que o pH do biofilme está alto, o suficiente para prevenir qualquer dissolução mineral, o F– disponível no fluido bucal melhorará a precipitação mineral como flúor-hidroxiapatita. O F– pode estar disponível nas pastas de dente em diferentes formas de sal, como NaF, fluoreto de estanho (SnF2), monofluorfosfato de sódio (Na2 PO3F, MFP) e fluoreto de amina (no qual o F– é o ânion e uma amina com cadeia longa de hidrocarbonetos substituída é o cátion). O F– está disponível na forma iônica em todas as formulações, exceto no MFP, que depende da hidrólise intrabucal pelos fosfatos inespecíficos do biofilme para fornecer o F– iônico. A pasta de dente, e qualquer outro veículo contendo F–, aumenta intensamente a concentração de F– nos fluidos bucais. Contudo, a cavidade bucal atua como uma pia aberta e essas altas concentrações de F– são reduzidas à medida que a saliva desce pelo sifão da “pia”. Após 1 a 2 h, a concentração de F– na saliva mista volta a seu valor original. A concentração de F– na pasta de dente e os hábitos pós-escovação, como cuspir ou enxaguar a boca, determinam os níveis médios de F– na saliva total e com que rapidez os níveis salivares voltam ao normal. O grande efeito do fluoreto no controle da cárie dentária pode ser explicado pelas diminutas concentrações necessárias para que exerça seu efeito. Quanto? Concentrações menores do que 1 micromolar (0,019 ppm F, mais de 35 vezes menor do que a concentração de 0,7 ppm F presente na água fluoretada) já são suficientes para reduzir a desmineralização dental e ativar a remineralização dental. Assim, é possível entender o conceito de que são necessárias concentrações baixas constantemente disponíveis na cavidade bucal do íon para que seu efeito anticárie seja exercido. OBS: Concentrações menores do que 1 micromolar já são suficientes para reduzir a desmineralização dental e ativar a remineralização dental. Área c/ flúor: 3000 -5000 ppm Área s/ flúor: 1000 -2000 ppm pH 5,5 a 4,5 íons hidrogênio esgotam a capacidade de tamponamento dos minerais saída de minerais do esmalte - desmineralização em presença de flúor – menor perda mineral - formação de fluorapatita (deposita no esmalte – remineralização). maior resistência a novo processo de desmineralização. camada de fluoreto de cálcio revestimento por uma camada de cálcio, fosfato e/ou proteínas. pH baixa-camada protetora dissolvida fluoreto de cálcio se dissocia Íon flúor livre para atuar na Des-Re fluorapatitase deposita no esmalte –RE maior resistência a novo processo de DES restabelecida a camada de Fluoreto de cálcio O esmalte formado na presença de Flúor não não é constituído de Fluorapatita, mas de hidroxiapatita fluoretada. O comportamento da hidroxiapatita fluortetada frente aos ácidos bucais é o mesmo da hidroxiapatita pura. O Flúor incorporado ao esmalte não aumenta sua resistência aos ácidos. “Mesmo o esmalte de tubarão (30.000 ppm de Flúor FA) fica desmineralizado sob placa espessa, em ambiente bucal humano.” - ÖGAARD, B., 1990. Quando a diminuição do pH da placa é muito acentuada, seu fluido fica subsaturado em relação à Fluorapatita, e qualquer quantidade adicional de Fluoreto não tem efeito.” - Rölla, G., Saxegaard, E., 1990. perturba a função de barreira da membrana celular (trocas com o meio). tem efeito antienzimático (enolase). nterfere na adesão, pode inibir a formação de PEC, efeito bacteriostático (Fluoreto Estanoso). Meios de uso de fluoreto abordagem: coletiva manutenção de fluoreto na cavidade bucal: elevação das concentrações salivares por até uma hora após a ingestão de alimentos ou bebidas fluoretadas; após absorção gastrintestinal, retorno do fluoreto à cavidade bucal pela secreção salivar. uso contínuo mantém concentração ligeiramente superior a 1 micromolar na saliva de quem a consome continuamente, também no biofilme dental, que fica enriquecido pelo fluoreto disponibilizado. quando a água é ingerida, ou alimentos com ela cozidos são mastigados, concentrações de fluoreto da ordem de 0,3 a 0,4 ppm de F são liberadas e vão gradativamente diminuindo pela ação do fluxo salivar. Cerca de uma hora após a ingestão da água ou alimento, a concentração de fluoreto já caiu bastante, porém, se mantém acima de 0,019 ppm F (1 micromolar) como resultado da liberação na saliva do fluoreto que foi absorvido no trato gastrintestinal. seu efeito é limitado ao tempo em que ela está sendo ingerida, já que a reciclagem do íon retornando para a saliva é necessária para ter seu efeito.. A fluoretação da água é única como medida de saúde pública para o fornecimento de F–, pois ela não depende da colaboração individual e é uma “medicação de massa” passiva. é a forma mais racional da utilização de fluoreto, pois, ao mesmo tempo em que o biofilme dental é desorganizado pela escovação, o fluoreto é disponibilizado para a cavidade bucal para o controle da cárie. suas concentrações de 1000 a 1500 ppm de fluoreto (padrão) são diluídas na saliva durante escovação, porém, devido à alta concentração original, mantém concentrações elevadas por cerca de 1 a 2 horas. também são capazes de enriquecer de fluoreto o biofilme dental que não foi adequadamente removido pela escovação. Assim, horas após a escovação com dentifrícios fluoretados, a concentração de fluoreto no biofilme remanescente – o local onde é mais necessário – ainda está elevada. como para a água fluoretada, seu efeito requer que sejam continuamente utilizados, pois não são capazes de reter seu efeito quando seu uso é interrompido. Durante a escovação dos dentes, o F– é disseminado pela cavidade bucal e os tecidos moles absorvem o F– liberado na saliva durante os minutos/horas subsequentes. O F– pode ser armazenado temporariamente nas superfícies de esmalte e no biofilme dental. É importante evitar os bochechos com água após a escovação para aumentar a disponibilidade de F– na saliva, e evitar os bochechos vigorosos (cuspa, não engula) parece ser importante para o efeito de redução das cáries. efeito similar ao dos dentifrícios, porém não têm associação à remoção do biofilme dental. Assim, devem funcionar como coadjuvantes dos meios anteriormente citados, para pacientes que possuem um desafio cariogênico alto e que não conseguem controlar a cárie apenas com a água e o dentifrício fluoretado. aplicados nas superfícies dentais em alta concentração (> 9.000 ppm F), reagem com o mineral da estrutura dental, formando reservatórios solúveis de fluoreto de cálcio. A quantidade de produtos de reação formados é maior na dentina do que no esmalte e maior nas superfícies com lesão de cárie do que nas hígidas. esses reservatórios se dissolvem gradativamente, liberando o íon F, e por isso mantendo o efeito por semanas ou meses após a aplicação. essa é a grande diferença entre esses meios de uso de fluoreto e a água/ dentifrício: seu efeito é prolongado e independe do uso diário. Daí sua indicação para pacientes que não conseguem controlar a doença cárie pelo uso de apenas água e dentifrício fluoretado. assim como os produtos de aplicação profissional de fluoreto, são fontes mais duradouras do íon na cavidade bucal, pois são capazes de liberá-lo por meses. sua indicação, paralelamente ao protocolo clínico escolhido pelo profissional, tem base nos pacientes que não controlam a doença cárie pelo uso de dentifrício e água fluoretada. O principal produto resultante da reação do F– com a apatita do dente é um mineral parecido com CaF2. A formação de CaF2 é possível quando as concentrações de F– estão acima de 100 ppm, embora concentrações modestas de CaF2 possam ser formadas após a utilização de pastas de dente ou enxaguatórios bucais. A quantidade de CaF2 formada aumentará conforme a elevação da atividade de F–, o aumento do tempo de exposição e a redução de pH na solução de tratamento. Portanto, uma solução de fluorfosfato acidulado (APF) melhorará a disponibilidade dos íons cálcio dissolvidos da apatita dos dentes. Ca10 (PO4)6(OH)2 + 20F – + 8H+ → 10CaF2 + 6HPO4 2– + 2H2O Dentifrício fluoretado Coletiva ou individual Elevação das concentrações salivares por até 2 horas após a escovação (dependente da concentração utilizada); retenção no biofilme dental não removido pela escovação Soluções fluoretadas para bochecho Coletiva ou individual Elevação das concentrações salivares por até 2 horas após o uso (dependente da concentração utilizada); retenção no biofilme dental presente na cavidade bucal Géis e espumas fluoretados Profissional Formação de reservatórios de fluoreto (fluoreto de cálcio) sobre a estrutura dental durante a aplicação e sua dissolução gradativa durante períodos prolongados (meses) Vernizes fluoretados Profissional Formação de reservatórios de fluoreto (fluoreto de cálcio) sobre a estrutura dental durante a manutenção do verniz sobre os dentes e sua dissolução gradativa durante períodos prolongados (meses) Materiais odontológicos liberadores de fluoreto Profissional Liberação de fluoreto dos materiais (dependente de sua composição química) durante períodos prolongados; possibilidade de recarga dos materiais por fluoreto utilizado a partir de dentifrícios, soluções ou produtos de aplicação profissional A formação de CaF2 a partir de vernizes de F – não é tão rápida porque a maioria do F– nos vernizes é insolúvel na forma de partículas de NaF na matriz do verniz. Portanto, para reagir com a estrutura do dente, o verniz deve ser mantido na superfície por várias horas, possibilitando a solubilização contínua do NaF da matriz de verniz embebida em saliva. Por isso, o paciente não deveria bochechar nem comer nada imediatamente após a aplicação do verniz. Quanto mais porosa a superfície do esmalte, mais profundas as porosidades nas quais o CaF2 pode se formar. Esses ambientes microporosos inacessíveis nas lesões de cáries de esmalte podem, assim, atuar como reservatórios para CaF2 por períodos prolongados (ou seja, meses). Esse mecanismo de liberação lenta provavelmente explica o efeito redutor das cáries dos tratamentos tópicos de F– concentrados fornecidos pelos profissionais odontológicos. Abordagem terapêutica Nem sempre a combinação dos meios de uso de fluoreto anteriormente descritos resulta em efeito adicional. Essa é uma consideração importante a ser feita quando da sua indicação. Assim, água fluoretada e dentifrício fluoretado estão indicadas para todos os indivíduos, mas o uso profissional de fluoreto (produtos de aplicação e materiais restauradores) beneficiará principalmente aqueles que requerem um adicional de fluoreto, quer seja devido a um desafio cariogênico muito grande, quer seja pelo uso irregular do dentifrício fluoretado. O atendimento integral do paciente com o uso de fluoreto deve, portanto, estar embasado no conhecimento do profissional das limitações de higiene e controle da dieta de seus pacientes, bem como de possíveis fatores agravantes, como drástica redução do fluxo salivar causada por doenças ou medicamentos. Metabolismo dos fluoretos O F– é mal transportado do plasma para o leite materno, mesmo quando a mãe ou o animal tem uma alta ingestão de F–; assim, estão contidas concentrações muito baixas de F–. Em contraste, os leites formulados disponíveis comercialmente podem ter um conteúdo altamente variável de F– e, se forem preparados com água fluoretada, as crianças podem ingerir potencialmente quantidades consideráveis de F–. Após a ingestão, o F– solúvel é rapidamente absorvido pelo plasma sanguíneo, predominantemente no estômago, cujos conteúdos são importantes para determinar a velocidade desse processo. Leite, cafés da manhã ricos em cálcio e até mesmo o almoço podem reduzir o grau de absorção de cerca de 90% para um nível em torno de 60%. Ohorário de ingestão de F– em relação às refeições é crítico sobre quanto F– se tornará biodisponível. Além disso, quando as pastas de dente são ingeridas por crianças, a quantidade de F– absorvida depende da formulação da pasta de dente, pois, naquelas que contêm cálcio no abrasivo, somente parte do F– estará biodisponível. O F– é distribuído por todo o organismo pelo plasma predominantemente como F– iônico. Naturalmente, o grau de fluxo sanguíneo pelos diferentes tipos de tecidos determina a velocidade com que ocorre a distribuição. De interesse especial é a informação de que o rim, em geral, tem uma concentração mais alta de F– do que a concentração correspondente no plasma. Em contraste, o sistema nervoso central e o tecido adiposo contêm somente cerca de 20% da concentração de F– no plasma. O F– é um agente altamente reativo, reagindo rapidamente com os tecidos mineralizados. Com o passar do tempo, o F– gradualmente se incorpora à estrutura cristalina na forma de flúor-hidroxiapatita. É na fase de crescimento do esqueleto, durante a mineralização ativa, que as proporções mais altas de uma dose de F– ingerida serão depositadas. Assim, a retenção de F– nos lactentes pode ser de até 90%, enquanto, nos adultos, é somente de cerca de 50% do F– que pode ser retido no osso. O F– no osso não é ligado irreversivelmente aos cristais. O osso nos seres humanos é constantemente submetido à remodelação e, assim, o F– é mobilizado lentamente a partir do esqueleto. Portanto, as concentrações de F– no plasma e na urina não serão apenas determinadas pela ingestão de um passado imediato, mas também pela exposição mais recente ao F– e pelo grau de acumulação de F– no osso. Além disso, com a idade, a taxa de mobilização do osso e a eficiência dos rins na excreção de F– influenciarão muito esses níveis. Assim, o osso pode ser considerado um reservatório de F– que mantém as concentrações de F– nos fluidos corporais entre os períodos em que ele não está sendo ingerido. O F– não absorvido no trato gastrintestinal é excretado pelas fezes que, em geral, são responsáveis por menos de 10% da quantidade ingerida a cada dia pela dieta. Com o aumento da idade, os níveis plasmáticos de F– aumentam gradualmente, devido a remodelação óssea reduzida. O F– absorvido e não incorporado ao osso é eliminado principalmente pela urina durante a excreção. Se o pH da urina é baixo, o F– é reabsorvido pelos túbulos renais, retornando para o sangue. Esse mecanismo pode ser importante em relação ao efeito crônico do F– em virtude de a duração de suas altas concentrações plasmáticas ser prolongada. Obs: Em geral, a concentração de F– da dentina é levemente mais alta do que no esmalte central e aumenta conforme se penetra mais profundamente no dente. À medida que a formação da dentina continua lentamente durante toda a vida, o F– se acumula de modo constante na interface dentino-pulpar. Contudo, a concentração de F– nas camadas superficiais aumenta sempre que os processos de desmineralização e remineralização estão vigentes. Isso significa que, nas regiões cervicais, nas quais a placa dental se acumula, as concentrações de F– aumentarão gradualmente com o passar do tempo. Essa também é a razão pela qual a zona superficial que recobre uma lesão de cárie subsuperficial contém quantidades significativamente mais elevadas de F– do que o esmalte normal circundante. OBS: Não existem mecanismos homeostáticos para manter a concentração de F– em qualquer compartimento corporal e os níveis de F– no sangue são bastante dependentes da ingestão diária. Isso tem uma implicação importante para o ambiente bucal. Biodisponibilidade do F– ingerido em pastas de dente, dependendo do conteúdo do estômago. Reproduzida de Cury et al., 2005. ASPECTOS TOXICOLÓGICOS Manifestação bucal: fluorose dental Estômago: dores abdominais, diarréia, vômitos, náusea. Plasma: tetanias, convulsões, arritmias cardíacas, paralisia SNC: coma, depressão respiratória. Grande variação na literatura, diferentes respostas individuais, resultando em falta de dados exatos. [sintomas gastrintestinais - 5 mg/Kg e relato de óbito 16 mg/Kg.] Dose certamente letal 6 - 32 mg/kg. Dose seguramente tolerada 8 – 16 mg/kg Dose provavelmente tóxica 5 mg/kg Dose certamente letal 32 - 64 mg F/Kg (HODGE; SMITH, 1965) OBS: casos de óbito com doses menores que esta. Exemplos: Idade: 1 a 2 anos Peso corporal: 10 Kg MÉTODO DPT Água fluoretada 71 L Sal fluoretado 166g Comprimidos – 1 mG F 200 NaF – gotas 50 Idade: 4 a 6 anos Peso corporal: 20 Kg MÉTODO DPT Bochechos NaF – 0,05% 440 mL Bochechos NaF – 0,2% 110 mL Creme dental – 1000 ppm F 100g Aplicação profissional – gel 1,23% 8g Prevenção das intoxicações advertir o paciente para não deglutir o gel. usar pouco gel na moldeira. usar moldeiras adequadas. sentar o paciente verticalmente. usar sucção. solicitar que o paciente dispense a saliva por cerca de 1 minuto após a aplicação. estômago cheio - a absorção é diminuída. leite; ter antiácido (hidróxido de alumínio Al(OH)3, redução de 60% da absorção, segundo Rosalen e Cury; Pepsamar (Winthrop: frasco 240 ml, 2 colheres de chá em ½ copo de água / Siludrox, Pepsogel ou Leite de Magnésio) Quantidade média ingerida em uma aplicação - 20 mg Dividindo pelo peso médio de 20 Kg teremos - 1 mg/Kg 1/5 da DPT Recomendações ao paciente: não ingerir qualquer alimento na 1ª hora. não alimentar-se com frutas ácidas por dois dias. evitar alimentos com corantes por até 30 dias. manter suplementação com solução fluoretada por até 3 meses. relatar ao profissional a ocorrência de qualquer alteração. Quantidade de creme dental na escova: grão de arroz, grão de ervilha, técnica transversal, etc. considerando idade e peso corporal. A quantidade de pasta de dente que as crianças usam é bastante constante entre as idades de 2 e 7 anos, o que tem consequências importantes para o risco de fluorose. As crianças pequenas não apenas engolem mais pasta e, com frequência, não são supervisionadas quando escovam os dentes, como também estão em maior risco de desenvolver fluorose em virtude de seu peso corporal ser menor do que das crianças mais velhas. Portanto, é preciso ter cautela especialmente ao usar pasta de dente com F– em crianças menores e certificar- se de que quantidades pequenas (do tamanho de uma ervilha ou, no Brasil, um grão de arroz!) são usadas, e as crianças também devem ser encorajadas a cuspir todo o conteúdo da pasta com a maior eficiência possível Em regiões onde a água de abastecimento é fluoretada, diversos estudos relatam uma relação entre a ingestão de F– na pasta de dente e formas mais leves de fluorose dental. Em países como os EUA e o Brasil, onde a fluoretação da água é disseminada e o uso de pasta de dente contendo F– é comum, o grau mais prevalente de fluorose dental encontrado é declarado como “leve” e não é uma “preocupação de saúde pública”. As crianças amamentadas no peito recebem apenas quantidades desprezíveis de flúor pelo leite materno. Crianças amamentadas na mamadeira podem receber de 150 a 200 vezes mais flúor, o qual, somado ao dos dentifrícios pode causar fluorose dentária. Tratamento das intoxicações Relacionado a provável dose ingerida, tem como objetivos: diminuir a quantidade de flúor disponível para absorção. aumentar a excreção do flúor. > 5 mgF-/Kg 1. Cálcio por via oral (leite) 5 – 15 mgF-/Kg 1. Indução de vômito 2. Cálcio solúvel oral (leite, Gluconato de Ca 5% ou solução de lactato de Ca) 3. Hospitalização e observação por algumas horas >15 mgF-/Kg 1. Hospitalização imediata 2. Indução de vômito 3. Iniciar monitoramento cardíaco e estar preparado p/ arritmias cardíacas (observar intervalo Q-T no ECG) 4. Administrar IV 10 ml de gluconato de Ca 10% 5. Administrar diuréticos 6. Medidasgerais p/ choque 39% dos casos por comprimidos e soluções, 34% por complexos vitamínicos, 27% bochechos e dentifrícios. Mais de 90% dos acidentes por envenenamento ocorrem em casa. Em 1999, 52,5% dos casos ocorreram entre crianças. FLUOROSE DENTAL “Anomalia de desenvolvimento do esmalte, do tipo hipoplásica, indicando distúrbio na função ameloblástica.” Shafer, W. G., et al, 1987. “Alteração na mineralização dentária induzida pelo flúor com diversos graus de severidade. Hipomineralização dentária caracterizada por porosidade no esmalte como resultado da ação do flúor durante a formação dentária.” Burt e Eklund, 1992 Os primeiros relatos se deram por: Eager, J. M., Nápoles, Itália 1901; Mc Kay, F. S. & Black, G. V. Colorado Springs, EUA, 1916. Imperfeições de desenvolvimento nos dentes das crianças. dentes permanentes hígidos - sem risco de manchamento dentição decídua e dentição permanente em risco dentes manchados resistentes à cárie algo (?) na água de abastecimento! Entre os possíveis e “timing” estão na fase secretora, onde ocorre a síntese proteica, secreção e inicio da maturação, e na fase de maturação. Na fase secretora, infere-se que a causa seja inibição da síntese proteica (somente em altas doses); sendo quando ocorre o acúmulo nos tecidos circundantes, Já na fase de maturação, pode ser pela deficiente remoção de proteínas, dificultando o crescimento do cristal, assim, o dente irrompe com a mineralização incompleta. OBS: exposição restrita à fase secretora: riscos mínimos. Exposição fase secretora e de maturação: riscos máximos. OBS: Deve-se compreender que, uma vez que a largura total do esmalte é depositada, o esmalte está longe de ser completamente mineralizado. A transformação do esmalte macio rico em proteínas em um maduro altamente mineralizado e duro é resultado do crescimento em tamanho dos cristais já semeados na estrutura. Uma vez que a matriz é depositada, os cristais de apatita são instantaneamente semeados e ocorre um aumento do conteúdo mineral como resultado do crescimento longitudinal dos cristais. De fato, em ratos, calculou-se que o esmalte contém somente cerca de 18 a 20% do mineral após estar completamente formado. Após essa etapa, as proteínas da matriz do esmalte precisam ser fragmentadas e removidas do esmalte, enquanto o cálcio e os fosfatos têm que ser transportados simultaneamente para o esmalte e deve-se deixá-los precipitar sobre as superfícies dos cristais em crescimento. Os cristais de hidroxila apatita crescem predominantemente em largura e espessura até que o esmalte contenha cerca de 96% de mineral em peso. Os cristais de esmalte crescem muito lentamente e a maturação pré-eruptiva do esmalte pode durar vários anos nos seres humanos! Apesar dos estudos extensos sobre a maturação normal do esmalte em animais de experimento, está-se longe de compreender os processos que levam a um esmalte totalmente mineralizado. 96 Portanto, é especulativo afirmar como o F– em pequenas dosagens elevadas no plasma poderia interferir nos processos. A manifestação mais precoce da fluorose dental é o aumento da porosidade do dente ao longo das estrias de Retzius. Com uma maior exposição ao F– durante a formação dentária, o esmalte exibe um aumento da porosidade ao longo de toda a superfície do dente. Essa porosidade, resultado de uma hipomineralização do esmalte. Cortes de tecido dos dentes examinados com microscopia de luz transmitida. Nota-se como os estágios precoces da fluorose dental (A) exibem uma zona porosa na porção mais externa no esmalte. Com o aumento da gravidade, essa zona de porosidade estende-se mais profundamente no esmalte (B); com casos mais graves, a porosidade se estende profundamente no tecido do esmalte ao longo de toda a coroa dentária (C) e nas áreas cervicais, chegando até a junção amelodentinária. A hipomineralização é muito diferente da hipoplasia. A estrutura normal do esmalte permanece, mas o tecido é menos bem mineralizado. A extensão e o grau da hipomineralização aumentam com a elevação da exposição ao F– durante o desenvolvimento do dente. Em seres humanos, as formas mais graves de lesão hipomineralizada estendem-se por todo o esmalte quase até a junção amelodentinária no terço cervical das coroas, enquanto, nos dois terços oclusais dos dentes, a banda de hipomineralização estende-se mais da metade através do esmalte. Tal esmalte gravemente hipomineralizado será muito frágil; assim, quando o dente erupciona, podem ocorrer danos superficiais em decorrência da mastigação, do atrito e da abrasão. linhas brancas finas. “cobertura de neve”; áreas nebulosas irregulares. manchas acastanhadas (pigmentações). micro-depressões (porosidades sub-superficiais). Depressões maiores surgem com o deslocamento do esmalte externo e pigmentam- se facilmente. a secagem agrava o aspecto, já que o esmalte fluorótico é mais micro-poroso. A substituição da água pelo ar revela seu real aspecto. perda quase total da superfície (alteração da forma geral). opacidade do esmalte. depressões (pós-eruptivas): dependem do grau de porosidade do esmalte. manchas marrons (pós-eruptivas): dependem das condições do meio bucal. Assim, as alterações de esmalte induzidas pelo F– na erupção do dente variam desde linhas brancas opacas finas, correspondendo às periquimatas, que cruzam pela superfície do dente até uma superfície branca completamente porosa. Dependendo do grau de hipomineralização, esse esmalte branco poroso pode, então, sofrer alterações de modo pós-eruptivo em virtude dos danos mecânicos, resultando em formas mais graves de fluorose. A fluorose resulta da ingestão total de fluoretos durante o desenvolvimento do dente, independentemente da fonte de F–. Classificação O índice de Dean classifica a fluorose como questionável, muito leve, leve, moderada e grave. Observa-se que as formas menos graves de fluorose (questionável e muito leve) são responsáveis pela maioria dos casos e existe uma relação dose-resposta muito clara entre o nível de F– na água de abastecimento e a prevalência de fluorose, mesmo em níveis de F– na água de abastecimento abaixo de 1 ppm. Portanto, mesmo em níveis baixos de F– na água de abastecimento, houve algum risco associado ao uso de F–. Considerações: não está relacionado a histopatologia da doença, dificuldade em classificar a fluorose, questionável. Não diferencia os escores entre 5-9. Normal Esmalte apresenta a estrutura comum do tipo translúcido semivítreo. A superfície é lisa, lustrosa e, geralmente, de cor branca cremosa pálida. Questionável O esmalte revela pequenas aberrações da translucidez do esmalte normal, indo desde algumas partículas brancas até eventuais manchas brancas. Esta classificação é utilizada nos casos em que um diagnóstico definitivo da forma mais branda de fluorose não é garantido e uma classificação de “normal” não é justificada. Muito leve Pequenas áreas brancas como papel e opacas espalhadas irregularmente no dente, mas não envolvendo mais do que aproximadamente 25% da superfície do dente. Geralmente são incluídos nesta classificação os dentes que não apresentam mais que aproximadamente 1-2 mm de opacidade branca no vértice das pontas da cúspide dos pré-molares ou segundos molares. Leve As áreas opacas brancas no esmalte dos dentes são mais extensas, mas não envolvem mais do que 50% do dente. Moderada Todas as superfícies do esmalte dos dentes estão afetadas e as superfícies sujeitas a atrito apresentam desgaste marcante. A mancha castanha geralmente é uma característica desfigurante. Grave Todas as superfícies do esmalte estão afetadas e a hipoplasia é tão marcante que a forma geral do dente pode ser afetada. O principal sinal diagnóstico desta classificação são as depressões discretas ou confluentes. As manchas castanhas estãoespalhadas e os dentes geralmente apresentam uma aparência de corrosão. Em 1978, Thylstrup e Fejerskov propuseram uma maneira de registrar a fluorose dental (índice de TF) com base nas características histopatológicas dos vários graus de fluorose dental. O chamado índice de TF representa uma medida em uma escala ordinal e, portanto, deve ser considerado somente um ponto arbitrário ao longo de um continuum de alterações de esmalte. 0 A translucidez normal do esmalte branco bege brilhante permanece após a limpeza e secagem da superfície 1 Linhas brancas delgadas são observadas correndo pela superfície do dente, sendo encontradas em todas as partes da superfície. As linhas correspondem à posição das periquimatas. Em alguns casos, uma leve “cobertura em capuz de neve” das cúspides/bordos incisais pode ser observada 2 As linhas brancas opacas são mais pronunciadas e frequentemente se mesclam para formar pequenas áreas turvas disseminadas por toda a superfície. A “cobertura em capuz de neve” dos bordos incisais e pontas das cúspides é comum 3 Ocorre a mescla das linhas brancas e as áreas turvas de opacidade surgem disseminadamente sobre muitas partes da superfície. Entre as áreas turvas, também podem ser observadas linhas brancas 4 A superfície toda exibe uma opacidade acentuada ou uma aparência branca porosa. As partes da superfície expostas ao atrito ou ao desgaste parecem ser menos afetadas 5 Toda a superfície é opaca e existem fóssulas arredondadas (perda focal do esmalte mais externo) que têm menos de 2 mm de diâmetro 6 Pequenas fóssulas podem frequentemente ser observadas coalescendo no esmalte opaco para formar bandas que têm menos de 2 mm de altura Normal Questionável Leve Moderada Grave vertical. Nesta classe, também são incluídas as superfícies nas quais o esmalte das cúspides e da face vestibular está lascado e a dimensão vertical dos danos resultantes é inferior a 2 mm 7 Existe uma perda do esmalte mais externo em áreas irregulares e menos da metade da superfície está envolvida. O restante do esmalte intacto é opaco 8 A perda do esmalte mais externo envolve mais da metade do esmalte total. O restante do esmalte intacto é opaco 9 A perda da maior parte do esmalte externo resulta em uma alteração do formato anatômico da superfície/dente. Uma rima cervical de esmalte opaco frequentemente é observada TF- 1 TF- 2 TF- 3 TF- 4 e TF - 5 TF- 6 TF- 7 TF- 8 TF- 9
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