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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA GUARULHOS - SP SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO FILOSOFIA ANTIGA .................................................................... 3 2 CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................... 13 2.1 Polis Grega ..................................................................................................... 13 2.2 Nascimento e Desenvolvimento da Polis ........................................................ 13 2.3 Períodos da Grécia Antiga .............................................................................. 15 2.4 Características do Período Arcaico ................................................................ 15 2.5 Características da Polis Grega ....................................................................... 16 2.6 Origem da Democracia ................................................................................... 18 2.7 Características da Democracia Ateniense ...................................................... 19 3 A ORIGEM E O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E SUA HERANÇA PARA O MUNDO OCIDENTAL ......................................................................................... 20 3.1 A História da Filosofia ..................................................................................... 21 4 FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS ...................................................................... 30 4.1 Filosofia Grega ............................................................................................... 32 5 PLATONISMO, A FILOSOFIA DE PLATÃO ....................................................... 34 5.1 Dialética de Platão .......................................................................................... 37 6 LÓGICA ARISTOTÉLICA .................................................................................... 38 7 CONDIÇÕES HISTÓRICAS DO NASCIMENTO DA ANTIGA FILOSOFIA NA GRÉCIA E ROMA ANTIGAS E A CARACTERÍSTICA GERAL DESSA FILOSOFIA...................... ................................................................................... 43 8 OS PRIMEIROS MATERIALISTAS DA GRÉCIA ANTIGA E A GERMINAÇÃO DO IDEALISMO ........................................................................................................ 47 8.1 A Filosofia Naturalista de Mileto ..................................................................... 47 8.2 A Escola Pitagórica ......................................................................................... 53 8.3 Os Eleáticos .................................................................................................... 55 9 A LUTA ENTRE O MATERIALISMO E O IDEALISMO DURANTE O PERÍODO DO FLORESCIMENTO DA GRÉCIA ESCRAVISTA ................................................. 58 9.1 Anaxágoras..................................................................................................... 59 9.2 Empédocles .................................................................................................... 61 9.3 Demócrito ....................................................................................................... 62 10 OS SOFISTAS .................................................................................................... 66 11 SÓCRATES ........................................................................................................ 68 12 PLATÃO .............................................................................................................. 69 13 ARISTÓTELES ................................................................................................... 72 14 A FILOSOFIA DURANTE O PERÍODO DA DECADÊNCIA DO MUNDO ANTIGO............. ................................................................................................. 80 15 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ..................................................................................... 88 3 1 INTRODUÇÃO FILOSOFIA ANTIGA ALGUNS ASPECTOS DE NATUREZA CIENTÍFICA E PEDAGÓGICA A disciplina de Filosofia Antiga tem-se mantido desde sempre no primeiro ano dos curricula dos Cursos de Filosofia, constituindo-se como uma das áreas âncora de qualquer plano de estudos filosóficos. O primeiro ano representa assim o lugar adequado e o tempo propício a uma iniciação ao estudo das origens do pensamento filosófico ocidental. Todavia, isso não significa que a tarefa não se apresente como de grande complexidade, a qual só irá sendo ultrapassada através da experiência adquirida ao longo de anos de docência, concretamente de docência da cadeira de Filosofia Antiga. De facto, o ensino da filosofia grega no ensino secundário revela-se extremamente deficiente, uma vez que os programas não o contemplam ou, se o fazem, realizam-no de uma forma insuficiente porque demasiado ligeira. Assim, ao docente da cadeira de Filosofia Antiga, hoje mais do que há décadas atrás, coloca-se a obrigatoriedade da consideração de uma série de factores sem os quais os conteúdos e objectivos fundamentais da disciplina se perdem e se frustram. Nesse sentido, será necessário sublinhar, por exemplo, que a emergência do filosofar não se dá num deserto vazio de acontecimentos, ou seja, é necessário identificar os alunos não só com o que é contemporâneo à filosofia, mas também com o que está antes da própria filosofia. Concretamente, impõe-se a apresentação dos fatores de ordem histórica, política, social, económica e cultural que influenciaram e configuraram o perfil do novo filosofar. Esta digressão que a Filosofia Antiga até certo ponto se impõe, por razões de ordem científica e pedagógica, uma vez que anteriormente este campo se encontrava curricularmente coberto pela cadeira, entretanto extinta, de Cultura Clássica, “atrasa” necessariamente a entrada na Filosofia Antiga propriamente dita. Todavia, este atraso não se revelará tempo perdido. Pelo contrário, os alunos demonstrarão, posteriormente, uma maior destreza na compreensão e interpretação dos textos, testemunhos ou fragmentos, revelando, inclusive, uma inesperada agilidade na descoberta de uma segunda linha informativa, avançando frequentemente com propostas interpretativas que só podem acontecer mediante uma reserva de conhecimentos anteriormente adquiridos. 4 Aliás, “atraso” é uma maneira de dizer, uma forma de ver, muito mais uma força de expressão, do que uma firme convicção. De facto, para que a disciplina de Filosofia Antiga não surja aos alunos como uma pura abstração à solta num universo de disciplinas que lhes falam de um tempo que lhes é muito mais próximo e familiar, é necessário que as aulas se constituam, também, como um certo regresso ao passado, um passado que rapidamente se revelará como algo de inesperadamente presente. Esta regressão progressivamente compreensiva na ordem dos acontecimentos, conduz os alunos até ao ponto, até ao lugar vivido da filosofia. Esta introdução de uma componente, chame-se-lhe sensitiva ou afetiva, no interior daquilo que se pretende que sejam as origens da razão, não afeta nem subverte o rigor, a ordem e a coerência lógica na análise do pensamento dos filósofos. Ao contrário, concomitantemente com o conhecimento dos grandes acontecimentos que determinarão as origens da filosofia, o acesso à peripécia, ao episódio, ao conto, ao dito, ao lugar, ao traço biográfico daquilo que, numa primeira análise, seria considerado como marginal à questão, conduz os alunos, mediante uma certa razão sentida, à análise metódica e rigorosa do fragmento, do testemunho, do texto, do conceito ou da theoria, tal como a uma compreensão mais rápida das mesmas. Na Filosofia Antiga, as questões, os diferendos que constantemente ocorrem entre os diferentes intervenientes no processo filosóficoem curso, não podem ser exclusiva e competentemente resolvidos e compreendidos através de uma única linha explicativa. É necessário entender que se está perante uma trama que como tal representa o cruzamento e o conflito de interesses, de pontos de vista e de interpretações que compete à análise rigorosa e interessada esclarecer. A título exemplificativo Tales, Anaximandro e Anaxímenes não constituíram escola filosófica nenhuma; Tales, Anaximandro e Anaxímenes não sabiam propriamente a importância do que andavam a fazer; Tales, Anaximandro e Anaxímenes nunca virão a saber onde virão a ser mais tarde colocados. A ruptura profunda empreendida por Aristóteles relativamente a Platão leva- nos a querer ler mais Platão e a procurar saber mais das razões de Aristóteles. A completa descredibilização da sofística levada a cabo pela crítica tenaz e implacável de Platão, logo seguida pela não menos demolidora censura do circunspecto Aristóteles, não deve ser passada como se de mais um ponto do programa se tratasse. É altura de dar a palavra aos sofistas, de voltar a ler o testemunho de Platão, e de fazer as pazes com os sofistas, e de continuar a admirar Platão, uma vez que o seu 5 pensamento vai surgindo cada vez mais pujante e claro à medida que a reabilitação dos sofistas vai avançando. À primeira vista, poderá parecer contraditório esta súbita e igual admiração pelo pensamento dos Sofistas e pelo pensamento de Platão. Mas não é. Os alunos descobrem-no através de um conhecimento de causa. Enfim, a disciplina de Filosofia Antiga é, igualmente, um instrumento precioso na abordagem e compreensão da História da Filosofia passada e futura, ensinando- nos o grau de envolvimento e a distância adequada relativamente a batalhas que são e já não são nossas. Do encontro e da posse dessa desejável equidistância dependerá a compreensão mais ou menos precisa da própria Filosofia Antiga. Ou seja, a Filosofia Antiga é, também, uma introdução à História da Filosofia, uma vez que nos dá a percepção aproximada das circunstâncias em que devemos abandonar o presente para, colocando-nos do lado do passado, melhor o compreendermos ou, ao contrário, quando nos devemos aproximar do presente para melhor entendermos o passado. Anteriormente, referia-se o atraso, a demora da entrada em cena da Filosofia Antiga, decorrente da necessidade de uma contextualização prévia à emergência do filosofar. Essa questão ocorre novamente quando se trata de saber qual o ponto de partida de um programa de Filosofia Antiga, que peso deverá ser atribuído a cada um desses pontos e em que medida devem ser mais ou menos aprofundados os conteúdos desse programa. A resposta à questão não é linear. Ainda que a disciplina de Filosofia Antiga se enquadre num período bem determinado e claramente datado da História da Filosofia, o entendimento e a apreciação que se podem fazer dos diferentes momentos desse período é tão variável que consente diferentes pontos de vista sobre a questão. Assim, poder-se-á “adiantar” ou “atrasar” a entrada no programa de Filosofia Antiga conforme o ponto de vista que se adopte sobre o assunto. Se se considerar que o essencial desse período da História da Filosofia é Platão e Aristóteles, tudo o que sejam considerações mais detalhadas sobre os chamados Pré- Socráticos, Sofistas ou Sócrates, será considerado como uma demora, um dispersar de tempo que deveria ser inteiramente consagrado ao estudo das duas grandes referências do pensamento filosófico antigo e ocidental. Ao contrário, se se considerar que um programa de Filosofia Antiga nunca poderá ignorar algumas das mais originais e inesperadas aventuras do espírito representadas por toda a linha pré-socrática, sofística e socrática, sem a qual, aliás, a compreensão segura e consistente do pensamento de Platão e Aristóteles nunca 6 seria inteiramente conseguida, tenderá a considerar que uma linha programática como a inicialmente referida, representa um falso avanço, um salto incorrectamente dimensionado, porque ignora e não preenche uma retaguarda já profundamente tocada pelo espírito da Filosofia. O programa de uma cadeira é algo que é pensado e redigido em função dos seus destinatários. No caso vertente, os alunos. Todavia, se é verdade que um programa não pode ser totalmente condicionado pelos alunos a quem se dirige, não é menos verdade que não deve ser pensado nem criado na pura ignorância ou não querer saber do público a que se destina, sob pena de ver a sua efetiva exequibilidade perigosamente ameaçada. Desta maneira, o programa de Filosofia Antiga tem de contemplar conteúdos, no caso em análise, as origens da filosofia e todo o pensamento filosófico pré-platónico, que, de antemão, sabe que os alunos desconhecem e cuja compreensão é absolutamente necessária para o entendimento dos períodos subsequentes. Não é pedagógica nem cientificamente correto partir do princípio de que os alunos sabem aquilo que não sabem ou vão por sua livre iniciativa tratar de saber aquilo que qualquer docente com alguns anos de docência da cadeira sabe que dificilmente e só em casos muito excepcionais será levado a cabo. A disciplina de Filosofia Antiga favorece, inclusivamente, a adopção e a prática de um modelo que contempla e associa de uma forma equilibrada a componente teórica e a componente prática da aula. Existem, concretamente, extensas partes do programa onde se consegue uma constante alternância e circulação pelos dois modelos. Todo o extenso período referente ao pensamento pré-platónico representa um bom exemplo dessa possibilidade. Assim, o estudo de qualquer filósofo pré-socrático deverá partir sempre da distribuição pelos alunos, dos seguintes elementos de consulta: um mapa representativo da geografia da filosofia, uma vez que a filosofia pré-socrática se distribui ao longo de uma extensa área geográfica com três centros de capital importância: a Grécia do oriente, a Grécia do continente e a Grécia do ocidente ou Grande Grécia; uma grelha cronológica, uma vez que os filósofos ditos pré-socráticos distribuem-se ao longo de um período que vai do século VII a. C. ao século V a. C.; uma compilação dos testemunhos, fragmentos e textos existentes. A partir daí, é possível passar-se em revista datas, vida, obra e pensamento do filósofo em causa. Depois de uma primeira leitura dos diferentes elementos de consulta, passa-se à fase da marcação do texto. Ou seja, trata-se de uma segunda aproximação ao fundo do 7 texto, procurando-se agora proceder a uma triagem, separação, escolha ou escrutínio, de modo a conseguir uma progressiva ordenação temática em ordem ao estabelecimento de um logos do filósofo. Por logos do filósofo entenda-se o fio condutor, o discurso, a razão (de ser), a estrutura do seu pensamento. A partir de agora, é possível olhar o texto como algo coerentemente articulado e proceder a uma terceira investida na base de uma análise diferenciada de cada um dos seus elementos. Assim, o pensamento do filósofo que, numa primeira leitura corrida, tinha surgido como algo que, de tão fragmentado, parecia não dispor dos meios necessários a uma recomposição verosímil, surge agora dotado de uma clara unidade e coerência. Esta metodologia é igualmente aplicável ao estudo do pensamento dos sofistas, através de uma compilação dos testemunhos, fragmentos, passagens mais ou menos extensas dos diálogos de Platão e referências directas ou indirectas na obra de Aristóteles. É claro que cada sofista é um caso e, nessa medida, não há uma estratégia de aproximação, mas estratégias. Tomando como exemplo os casos de Protágoras e de Górgias, diremos que, relativamente ao primeiro, não temos praticamente nada no que respeita a fragmentos ou passagens fidedignas e o que existe levanta sérias dificuldades de interpretação. Assim, como é óbvio, temos de nos socorrer de testemunhos deterceiros e, neste caso, de uma forma muito extensa, do testemunho de Platão. Mas então agora, já não se trata unicamente de proceder à reconstituição e compreensão do pensamento do sofista; trata-se de, prioritariamente, descortinar o que se oculta por detrás do testemunho de Platão, encontrar através do dito o que não é dito e tentar uma aproximação a Protágoras exactamente por esse lado não mostrado, oculto. Igualmente, com Aristóteles, ainda que de uma forma não tão intensa, uma vez que ele não exerce uma pressão tão forte sobre o sofista, é necessário um redobrar de cuidados interpretativos. Não se trata já de ler por detrás do dito o não dito ou de mostrar o deliberadamente encoberto. Mas, mesmo assim, há que ler bem a palavra séria e convicta de Aristóteles, para, através e além da mesma, chegar à palavra igualmente séria, convicta e original de Protágoras. Ao contrário, a existência de um conjunto de passagens de considerável extensão de algumas obras de Górgias, irá permitir uma abordagem do pensamento do sofista em moldes bastante diferentes e, cremos, mais seguros. Assim, a aproximação ao sofista será feita não só pelo lado dos testemunhos, mas, 8 essencialmente, pelo centro do seu pensamento. A título de exemplo, o Tratado Da Natureza ou Acerca do Não Ser, tal como o Elogio de Helena, constituem uma fonte preciosa de informação que permite uma reconstituição do pensamento do sofista em bases bem mais seguras do que aquelas que serviram de apoio à recomposição do pensamento de Protágoras. Por último, refira-se que, já anteriormente, no capítulo sobre Introdução à terminologia filosófica, na abordagem do conceito de Ser, e na sequência da oposição entre razão trágica e razão filosófica, a sofística já havia sido convocada tal como a sua relação difícil com Platão. Na altura, e em termos genéricos, a questão colocada era seguinte: não haverá uma relação estreita entre o desprezo e a rapidez com que Platão procede à expurgação da tragédia e a violência de que se reveste o seu combate sem tréguas contra a sofística? Ou seja, Platão ter-se-á dado conta de que, tanto o pensamento trágico como o pensamento dos sofistas, partilhavam de um terreno, de um fundo problemático comum, e mais, de que ambos seguiam no sentido de que a solução desse fundo problemático comum era insolucionável. Mas, enquanto a tragédia se tinha posicionado de maneira a poder ser arrumada no dossier das artes, ficando imediatamente de lado, isto é, do lado das manifestações artísticas proibidas, a questão da sofística parecia de solução mais difícil. Não sendo possível ignorar a sofística, era necessário arranjar-lhe um lugar, para, posteriormente, eliminá-lo e, com ele, a própria sofística. Ora, a sofística parecia aspirar ou mesmo estar segura do seu lugar na filosofia. Platão ter-se-á apercebido, então, de uma forma clara, da força e do perigo desta candidatura, uma vez que havia ali filosofar, mau, é certo, segundo o projecto platónico, mas, ainda assim, filosofar… Entretanto, já relativamente a Sócrates a situação é diferente, uma vez que aí temos de nos socorrer exclusivamente de fontes indirectas, de testemunhos, concretamente, das fontes tradicionalmente consideradas (Aristófanes, Platão, Xenofonte e Aristóteles), não sem antes ter de proceder a uma análise e discussão rigorosa da validade das mesmas. Assim, relativamente à fonte Aristófanes, a leitura e interpretação de algumas passagens da Comédia As Nuvens revela-se duplamente producente. Mostra como, na época, um sector extremamente influente da opinião pública ateniense via a filosofia, mas ajuda a compreender, também, como a série de acusações que impendem sobre Sócrates em 399 a. C., já se encontravam formuladas, no essencial, anos antes, na peça de Aristófanes. Por outro lado, Sócrates funciona como uma 9 primeira introdução a Platão, uma vez que, para ensaiarmos uma aproximação ao seu pensamento, temos de ler Platão, e, a partir daí tentar estabelecer a fronteira exequível entre o Sócrates histórico, autêntico, propriamente socrático e o Sócrates visto, sonhado, marcadamente platónico. Em síntese, a tentativa de reconstrução de um pensamento propriamente socrático implica, por um lado, a derivação e incursão por áreas não diretamente contempladas no programa (Aristófanes e Xenofonte), ao mesmo tempo que antecipa outras que hão-de vir (Platão e Aristóteles). Assim, quando chegamos a Platão, é como se, de uma certa forma, já lá tivéssemos estado; e, no momento em que iniciamos o estudo do seu pensamento, é como se, de alguma maneira, o dossier Sócrates não se encontrasse ainda definitivamente encerrado. Entretanto, relativamente a Platão e a Aristóteles, adopta-se uma estratégia que, numa primeira análise, poderá parecer menos aconselhável, senão mesmo pedagogicamente incorreta. Tentaremos demonstrar, ao contrário, com base numa continuada prática docente, que se trata de uma metodologia não só inteiramente defensável como pedagogicamente indicada. Concretamente, numa primeira fase, elege-se um conjunto de temas que, não só do nosso ponto de vista como tradicionalmente, são considerados pilares fundamentais do pensamento desses filósofos, senão mesmo de todo o pensamento que atravessa a História da Filosofia. Nomeadamente, a teoria do conhecimento, a teoria do Ser, a teoria das origens, a teoria política e a ética são temas sempre presentes ao longo de toda a História da Filosofia. Obviamente que, nesta fase, na sequência da abordagem dessas temáticas, surgem referências a aspectos muito específicos das doutrinas de cada um dos filósofos: teoria das ideias, reminiscência, teologia, intelecto ativo, intelecto passivo, motor imóvel, etc. Trata-se de um primeiro contato com o pensamento, mas não ainda com a obra; pretende-se uma aproximação e uma progressiva identificação com uma determinada linguagem e terminologia específica que favoreça uma crescente compreensão do pensamento dos filósofos e que funcione como um primeiro estímulo para a posterior abordagem das obras. Ora, geralmente, esta estratégia, neste momento, já apresenta resultados, uma vez que os alunos começam a manifestar uma certa agitação ou curiosidade, um certo querer saber mais, ou seja, começam a interrogar-se e a interrogar: que estatuto atribuir ao mundo das ideias? E ao mundo sensível? 10 Que tipo de relação/participação se estabelece entre ambos? Como articular a teoria do conhecimento com a teoria da reminiscência? Até que ponto há pitagorismo a correr nas veias do platonismo? Em que bases e a partir de que pressupostos introduz Platão uma teoria da reminiscência? Que tipo de relação se estabelece entre o demiurgo e o mundo sensível e inteligível? Como compatibilizar a crítica de Aristóteles à teoria das ideias de Platão e à consequente duplicação dos mundos, com a sua concepção de Motor Imóvel e da relação deste com o Mundo? Ou seja, como entender e conciliar o carácter transcendente e ignorante do Motor Imóvel, com a crítica de Aristóteles à deriva transcendente de Platão patente no mundo das ideias? Qual o estatuto do intelecto activo ou agente? Trata-se da parte imortal da alma racional? Que tipo de relação se pode estabelecer entre intelecto agente e intelecto paciente? Existe alguma relação entre a ideia platónica e a forma aristotélica? Por que razão Platão é tão severo com a cultura clássica e com as artes em geral? E que posição adopta Aristóteles relativamente à mesma questão? Como é que a utopia política de A República, ainda que posteriormente temperada pelas Leis, deve ser considerada como uma obra de um cidadão que vive a Cidade não de fora, mas do mais fundo dentro, não concebendo, inclusive, outro espaço possível de civilidade? E como é que a extrema razoabilidade de A Política de Aristóteles é redigida por alguém que, não sendo cidadão, sentindofundo o seu estatuto de estrangeiro, sabe tão bem da Cidade, e que, tal como Platão, não admite outro espaço de civilidade? Enfim, estão criadas as condições para pôr em marcha a fase seguinte que consiste numa abordagem directa das obras dos filósofos. Ou seja, conseguiu-se, de uma forma relativamente próxima, um conhecimento dos aspectos e tendências fundamentais do pensamento do filósofo. Essa possibilidade ficou a dever-se à abertura ou conquista de um espaço de saber que consente uma determinada mobilidade ou liberdade de escolha das obras e das respectivas passagens que poderão responder às questões inicialmente suscitadas. Assim, rapidamente, verifica-se a existência de um conjunto de diálogos de Platão que se constituem não só obras de consulta obrigatória como de consulta recorrente. Ou seja, podemos ter de abordar determinada parte de um diálogo a propósito de determinada problemática e, logo a seguir, sair para entrar num outro diálogo que toca a mesma temática; posteriormente, outras questões poderão impor um regresso aos diálogos já consultados, através de outras passagens. 11 Um só exemplo, A República funciona sempre como um ponto de partida e um lugar de regresso. A problemática gnosiológica, os níveis do conhecimento, a importância das diferentes ciências, o próprio processo do conhecimento, levam-nos a entrar pelo lado das alegorias do Sol, da Linha Dividida ou da Caverna. Mas remete- nos, igualmente, para incursões no Ménon, Parménides, Teeteto, ou Sofista. E, uma vez que esta abordagem vai suscitar necessariamente a teoria da reminiscência, abre- se uma nova frente que irá incidir no estudo do papel da alma no processo do conhecimento. Na decorrência deste processo, verificar-se-á que é necessário ir mais longe e averiguar qual a concepção de alma defendida por Platão. O estudo desta questão, entretanto, irá fazer surgir uma outra, que se prende com a compreensão do estatuto do mito no contexto da sua produção filosófica. Ou seja, nesta altura, uma série de diálogos já terão sido pela primeira vez consultados, enquanto outros terão sido objeto de uma segunda ou terceira leitura. Em concreto, verifica-se que foram convocados, novamente, o Ménon e a República, enquanto se estabeleceu um primeiro contato com, entre outros, o Fédon, o Fedro ou mesmo o Timeu. Por outro lado, a questão das origens conduz-nos novamente ao Timeu, mas sugere, igualmente, uma passagem pelo Crítias e, mais uma vez, um regresso ao Timeu. A teoria política traz-nos de volta à República, mas convida, ao mesmo tempo, a um rápido regresso e consulta do Protágoras ou do Górgias, entre outros, tal como aconselha a ir mais à frente, consultar O Político, e, inclusive, a ir mais além, até às Leis, para confirmar que, da parte de Platão, se procedeu a uma certa revisão tardia de alguns aspectos mais polémicos e dificilmente aceitáveis, defendidos, anteriormente, em A República. Entretanto, relativamente a Aristóteles, ainda que o seu pensamento e a sua obra signifiquem uma maior estabilidade e clareza de procedimentos, ou não estivéssemos perante «o criador da prosa científica e da forma expositiva»1, não decorre daí que, muito frequentemente, não surja a necessidade de, a propósito de determinada questão, percorrermos e confrontarmos mais do que uma obra do filósofo. Assim, e a título meramente indicativo, se se trata do estudo do pensamento político, obviamente que o mesmo remete diretamente para a Política, mas, não dispensa, igualmente, uma incursão pela Constituição dos Atenienses ou pelas éticas Nicomachea ou Eudemia. Se a questão se prende com o esclarecimento do estatuto do Motor Imóvel, no contexto da filosofia aristotélica, então é necessário recorrer à 12 leitura da Física e da Metafísica e, posteriormente, proceder a um confronto, análise e interpretação das respectivas passagens, nas duas obras. Por outro lado, a teoria do conhecimento, que remete diretamente para a relação entre intelecto ativo e intelecto passivo, levanta, obrigatoriamente, a questão da concepção aristotélica de alma. Esta, por sua vez, suscita outras questões que se prendem com a eventual separabilidade dos intelectos, a possibilidade da sobrevivência da alma ou intelecto individual ou, ainda, a eventual existência/presença de um intelecto divino. Ora, todas estas questões impõem, necessariamente, uma consulta e confrontação de diversas passagens de diferentes obras, tais como, o De Anima, a Metafísica, Parva Naturalia, os Analíticos Posteriores ou, inclusive, a Ética Eudemia. Enfim, é evidente que, pese embora a importância e a extensão dos conteúdos abordados, o estudo do pensamento de Aristóteles, através da sua obra, não ficou ainda concluído, como, aliás, já antes havia sucedido com Platão. Mas, como vem sendo salientado ao longo desta rápida digressão, a qual visava, essencialmente, a apresentação da aplicação prática de alguns dos pontos do programa proposto para Filosofia Antiga, trata-se, simultaneamente, de uma inevitabilidade e de um risco ou opção ponderada. De fato, a partir de um núcleo fixo ou central de questões de abordagem obrigatória, questões que são já em si o resultado de uma opção de carácter científico- pedagógico, decorre o progressivo aparecimento de uma periferia temática, a qual remete necessariamente para a análise e interpretação de um conjunto de obras que se vêm a revelar de consulta não só recorrente como igualmente obrigatória. A Filosofia Antiga Corresponde ao período do surgimento da filosofia grega no século VII a.C. Ela surge da necessidade de explicar o mundo e encontrar respostas para a origem das coisas, dos fenômenos da natureza, da existência e da racionalidade humana. O termo filosofia é de origem grega e significa “amor ao saber”, ou seja, a busca pela sabedoria. De tal modo, no momento de sua origem os filósofos possuíam esse dom de interpretação, uma vez que eles acreditavam conseguir transmitir a mensagem dos deuses. Por esse motivo, no início, a filosofia estava intimamente relacionada com a religião: mitos, crenças, etc. Assim, o pensamento mítico foi dando lugar ao pensamento racional, ou ainda, do mito ao logos. 13 2 CONTEXTO HISTÓRICO A filosofia antiga surge com a substituição do saber mítico ao da razão e isso ocor- reu com o surgimento da polis grega (cidade-estado). Com essa nova organização social e política pelo qual a Grécia passava, foi fundamental para dar lugar a raciona- lidade humana e, com isso, as reflexões dos filósofos. Mais tarde, as discussões que ocorriam em praça pública juntamente com o poder da palavra e da razão (logos) levaram a criação da democracia. 2.1 Polis Grega A polis grega eram as cidades estados da Grécia Antiga, as quais foram funda- mentais para o desenvolvimento da cultura grega no final do período homérico, perí- odo arcaico e período clássico. Sem dúvida Atenas e Esparta merecem destaque como as cidades gregas (polis) mais importantes do mundo grego. O termo “polis” em grego significa “cidade”. Note que as polis gregas representam a base do desenvolvi- mento do conceito de cidade tal qual conhecemos hoje. 2.2 Nascimento e Desenvolvimento da Polis As polis surgem no século VIII a.C. e atingem seu apogeu nos séculos VI e V a.C. Anteriormente, as pessoas se reuniam em pequenas aldeias (comunidade gentílicas agrícolas denominadas “genos”) com terras de uso coletivo, as quais floresceram durante o período homérico. A expansão demográfica e do comércio foram as principais causas para o surgimento da Polis, que incluía o campo e a cidade (centro). Foram, portanto, essenciais para fortalecer a organização dos membros da sociedade grega. A polis era controlada por uma oligarquia aristocrática e possuía uma organização própria e, portanto, independência social, política e econômica. A organização social da polis era constituídabasicamente por homens livres (os cidadãos gregos) nascidos na polis, mulheres, estrangeiros (metecos) e escravos. Sendo assim, em Atenas os denominados Eupátridas ou “Bem-nascidos” pertenciam https://www.todamateria.com.br/polis-grega/ https://www.todamateria.com.br/democracia/ 14 a pequena classe dominante que detinham as maiores terras sendo responsáveis por administrar a política da polis. Depois deles, estavam os Georgoi, agricultores proprietários de terra. E, por fim, os Thetas (ou marginais), os trabalhadores que não detinham nenhum poder sobre as terras e que representavam a maior parte da população grega. Já a sociedade em Esparta era dividida em Esparciatas (os aristocratas soldados), responsáveis pelo desenvolvimento da política da polis. Os denominados Periecos representavam os homens livres, (comerciantes, agricultores e artesãos). E por fim, os escravos, chamados de Hilotas, que constituíam a maior parte da polução espartana. As polis gregas eram divididas em duas partes: a Ástey (zona urbana) e a Khora (zona rural), sendo formadas por casas, ruas, muralhas e espaços públicos. Como espaços públicos, podemos destacar a a Acrópole, ponto mais alto da cidade, formada por palácios e templos dedicados aos deuses; e a Ágora, a praça principal donde ocorriam as feiras e diversos atos públicos como as manifestações cívicas e religiosas. A economia na polis era baseada na agricultura e no comércio sendo um núcleo urbano autossuficiente. Já a política na polis girava em torno da Assembleia do Povo, o Conselho Aristocrático e os Magistrados, embora em cada local ela apresentasse características peculiares. Por exemplo, em Atenas o poder político provinha da Eclésia, as Assembleias populares, que em Esparta eram chamadas da Apela (formado por espartanos acima de 30 anos) e Gerúsia (composto por 28 anciãos com mais de 60 anos). PERÍODO ARCAICO O Período Arcaico, entre os anos de 800 a.C. e 500 a.C., corresponde ao terceiro período histórico da Grécia Antiga, logo após o período homérico. Esta época guarda profundas mudanças políticas e econômicas devido à consolidação das cidades-estados, das quais se destacam Esparta e Atenas. 15 2.3 Períodos da Grécia Antiga Para fins de estudo, a história da sociedade grega, na Antiguidade, está dividida em quatro períodos: Período Pré-Homérico (séculos XX - XII a.C.) Período Homérico (séculos XII - VIII a.C.) Período Arcaico (séculos VIII - VI a.C.) Período Clássico (séculos V - IV a.C.) 2.4 Características do Período Arcaico As primeiras moedas gregas, como a dracma, foram cunhadas no Período Arcaico. Com o fim do período homérico e do declínio das comunidades patriarcas dos genos, a expansão das cidades-estado dominou esse período da história grega. Estudos apontam que nesse período existiam mais de cem cidades-estados na Grécia Antiga. Começa a despontar a democracia, principalmente na cidade de Atenas, e também a surgir uma sistematização das legislações. Surge o conceito de sociedade privada na sociedade grega, a qual era comandada pelos proprietários de terra. https://www.todamateria.com.br/periodo-pre-homerico/ https://www.todamateria.com.br/periodo-homerico/ https://www.todamateria.com.br/periodo-classico/ 16 ECONOMIA Foi a partir desse período que os antigos genos foram transformados em uni- dades políticas maiores chamadas de polis ou cidade-estado. Controladas por uma aristocracia proprietária de terras, esses núcleos urbanos, aos poucos se tornaram importantes centros comerciais do mundo grego. Cada uma delas possuía autonomia e independência das quais as maiores e mais prósperas foram Esparta e Atenas. Além disso, de uma economia agropastoril que predominou o período anterior, o co- mércio passa a ser uma das mais importantes fontes econômicas. Como a população aumentava e as terras cultiváveis disponíveis eram limitadas, as cidades-gregas fun- dam colônias ao longo do Mar Mediterrâneo. CULTURA E FILOSOFIA Nessa fase, a arte grega atinge o apogeu com a construção de templos, a ex- pansão da pintura, da escultura e do artesanato (sobretudo dos objetos de cerâmica). Trata-se de um período crucial para a filosofia, pois os autores deixam de buscar as explicações em mitos e usar a razão para entender o mundo. RELIGIÃO O período arcaico é o apogeu das consultas aos deuses, especialmente através dos oráculos. O mais conhecido era o Oráculo de Delfos, onde pessoas de todas as condições sociais, acudiam para receber mensagens, ditas pelas pitonisas, do próprio deus Apolo. 2.5 Características da Polis Grega As principais características das polis gregas eram: Possuía autonomia e detinha o poder; Eram autossuficientes (política, social e economicamente); Tinham leis e organização sociais próprias; Propulsionou o surgimento da propriedade privada; Possuía Complexidade social. https://www.todamateria.com.br/esparta-e-atenas/ https://www.todamateria.com.br/arte-grega/ 17 DEMOCRACIA ATENIENSE A democracia ateniense representou um dos momentos mais emblemáticos da história de Atenas. Ela foi desenvolvida por meio dos legisladores e políticos Dracon e Sólon e consolidada por volta de 510 a.C., quando o político aristocrata Clístenes derrota o tirano Hípias. Sua implementação foi essencial no desenvolvimento das polis gregas, a qual foi espalhada pelas outras cidades-estados. POLIS GREGA: FILOSOFIA Uma vez que a polis representava um dos modelos de organização social, po- lítica e econômica do mundo grego, ela foi essencial para o desenvolvimento da soci- edade bem como do pensamento humano, mediados pelos processos de socialização que ocorriam entre os cidadãos nos locais públicos. Foi a partir dessas teias de relações que a filosofia grega representou uma das importantes vertentes que foram desenvolvidas por filósofos que habitavam a polis. Com o advento da democracia, essas relações sociais foram consolidadas pelas re- flexões realizadas pelos cidadãos gregos. Essa evolução racional da mente foi a chave para o desenvolvimento da filosofia grega em detrimento da visão mitológica que dominava a mentalidade grega anteriormente. DEMOCRACIA Democracia é uma organização social em que o controle político é exercido pelo povo. É um sistema de governo que resulta da livre escolha de governantes, a qual é expressa pela união e a vontade da maioria dos governados, confirmada por meio de votos. Um sistema de governo democrático abrange todos os elementos da organização política de um país. Nesse sentido, democracia não é apenas uma forma de Estado ou de Constituição, mas a ordem constitucional, eleitoral e administrativa, o equilíbrio dos poderes e órgãos do Estado, a prioridade política do Parlamento, o sistema alternativo de grupos governamentais e de oposição. A democracia é uma forma de governo que tem como fundamentos uma conjugação de princípios de organização política, dentro de um sistema social, em que prevalece a liberdade do indivíduo diante de todos os representantes do poder político, especialmente face ao Estado a liberdade de opinião e de expressão da 18 vontade política igualdade dos direitos políticos e oportunidades favoráveis para que o povo e os partidos se pronunciem sobre todas as decisões de interesse geral. 2.6 Origem da Democracia O conceito de democracia surgiu na Grécia Antiga, em 510 a.C., quando Clístenes, aristocrata progressista, liderou uma rebelião contra o último tirano, derrubando-o e iniciando reformas que implantaram a democracia em Atenas. Atenas foi dividida em dez unidades denominadas chamadas “demos”, que era o elemento principal dessa reforma. Por isso, o novo regime passou a se chamar “demokratia”, que é formada do radical grego “demo” (povo), e de “kratia” (poder). DEMOCRACIA ATENIENSE A Democracia Ateniensefoi um regime político criado e adotado em Atenas, no período da Grécia Antiga. Ela foi essencial para a organização política das cidades- estados grega, sendo o primeiro governo democrático da história. O termo “Democracia” é formado pelo radical grego “demo” (povo) e de “kratia” (poder), que significa “poder do povo”. Anterior a implementação da Democracia em Atenas, a cidade-estado era controlada por uma elite aristocrática oligárquica denominada de “eupátridas” ou “bem nascidos”, os quais detinham o poder político e econômico na polis grega. Entretanto, com o surgimento de outras classes sociais (comerciantes, pequenos proprietários de terra, artesãos, camponeses, etc.), as quais pretendiam participar da vida política, a aristocracia resolve rever a organização política das cidades-estados, o que mais tarde resultou na implementação da “Democracia”. De tal maneira, por volta de 510 a.C. a democracia surge em Atenas através da vitória do político aristocrata grego Clístenes. Considerado o "Pai da Democracia", ele liderou uma revolta popular contra o último tirano grego, Hípias, que governou entre 527 a.C. e 510 a.C.. Após esse evento, Atenas foi dividida em dez unidades denominadas chamadas “demos”, que era o elemento principal dessa reforma e, por esse motivo, o novo regime passou a se chamar “demokratia”. Atenas possuía uma democracia direta, onde todos os cidadãos atenienses participavam diretamente das questões políticas da polis. https://www.todamateria.com.br/polis-grega/ 19 De tal modo, Clístenes, baseada nas legislações anteriormente apresentadas por Dracon e Solon, iniciou reformas de ordem política e social que resultariam na consolidação da democracia em Atenas. Como forma de garantir o processo democrático na cidade, Clístenes adotou o “ostracismo”, onde os cidadãos que demostrassem ameaças ao regime democrático sofreriam um exílio de 10 anos. Isso impediu a proliferação de tiranos no governo grego. Sendo assim, o poder não estava somente concentrado na mão dos eupátridas. Com isso, os demais cidadãos livres maiores de 18 anos e nascidos em Atenas poderiam participar das Assembleias (Eclésia ou Assembleia do Povo), embora as mulheres, estrangeiros (metecos) e escravos estavam excluídos. Diante disso, podemos intuir que a democracia ateniense não era para todos os cidadãos sendo, portanto, limitada, excludente e elitista. Estima-se que somente 10% da população desfrutavam dos direitos democráticos. Além de Clístenes, Péricles deu continuidade à política democrática. Ele foi um importante democrata ateniense que permitiu ampliar o leque de possibilidades para os cidadãos menos favorecidos. Por volta de 404 a.C., a democracia ateniense sofreu grande declínio, quando Atenas foi derrotada por Esparta na Guerra do Peloponeso, evento que durou cerca de 30 anos. 2.7 Características da Democracia Ateniense Democracia direta Reformas políticas e sociais Reformulação da antiga Constituição Igualdade perante a lei (isonomia) Igualdade de acesso aos cargos públicos (isocracia) Igualdade para falar nas Assembleias (isegoria) Direito de voto aos cidadãos atenienses DIFERENÇAS ENTRE A DEMOCRACIA GREGA E DEMOCRACIA ATUAL A democracia ateniense foi um modelo político que fora copiado por várias sociedades antigas, e que influencia até hoje o conceito de democracia no mundo. No entanto, a democracia atual é um modelo mais avançado e moderno da democracia https://www.todamateria.com.br/guerra-do-peloponeso/ https://www.todamateria.com.br/democracia/ 20 ateniense, em que todos os cidadãos (maiores de 16 ou 18 anos), inclusive mulheres, podem votar e aceder a cargos públicos, sem que seja excludente e limitada. Além disso, na democracia ateniense, os cidadãos tinham uma participação direta na aprovação das leis e nos órgãos políticos da polis, enquanto na democracia atual (democracia representativa) os cidadãos elegem um representante. DEMOCRACIA LIBERAL E DEMOCRACIA SOCIAL As concepções sobre a extensão atribuída às garantias de liberdade oscilam entre dois polos: o da democracia liberal e o da democracia social (socialista). Tam- bém é o que acontece com a participação dos cidadãos dos grupos sociais e do con- junto do povo na formação das vontades políticas. A democracia liberal é aquela em que o desenvolvimento das organizações econômicas e financeiras não está sujeito a restrições. Nela os indivíduos desfrutam de completa liberdade de contrato entre si. A democracia liberal se caracteriza pela não interferência do Estado nos assuntos econômicos e financeiros dos cidadãos. Os negócios estão entregues à iniciativa privada e a produção está sujeita a lei da oferta e da procura. 3 A ORIGEM E O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E SUA HERANÇA PARA O MUNDO OCIDENTAL A origem da palavra Filosofia é grega e composta por: Philo: amizade, amor fraterno Sophia: sabedoria Atribui-se a Pitágoras a invenção da palavra, no sec. V a. C.. Significa amor e respeito pela sabedoria, desejo pelo saber, vontade de saber e compreender a realidade. Com o tempo filosofia passou a designar não apenas amor à sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce do uso metódico da razão. 21 3.1 A História da Filosofia Começaremos a estudar Filosofia pela sua história, caracterizando os diferentes períodos dentro do contexto histórico. A Filosofia é uma instituição cultural tipicamente grega, que surgiu em um dado momento histórico, a partir de determinadas condições históricas e tornou-se o modo de pensar do mundo ocidental, inicialmente na Europa e, com a colonização, expandiu-se para a América e o mundo. A Filosofia é apresentada em grandes períodos que correspondem às vezes de modo aproximado, aos períodos da história ocidental. Principais períodos da história da Filosofia 1º. Filosofia Grega: História do pensamento filosófico grego, Sec. VI ao V a.C. - Período pré-socrático Sec. V ao sec. IV a. C. – Período Socrático: Sócrates e Platão Sec. IV ao sec. III a.C. – Período Sistemático – Aristóteles Sec. III a.C. ao sec. VI d. C. – Período Helenístico 2º. Filosofia Medieval – sec. I ao sec. XIV 3º. Filosofia Moderna - do século XVII ao século XVIII 4º. Filosofia Contemporânea – do século XX aos dias atuais. NASCIMENTO A Filosofia nasce na Antiguidade, no final do sec. VI a.C, com Tales de Mileto, nas colônias gregas da Ásia menor, em uma cidade chamada Mileto. Os pensadores perguntavam sobre o mundo questões como: Por que tudo muda?Por que se nasce e morre? Por que tudo se multiplica? Por que o dia vira noite? O que é a água, o fogo? Como surgiu? De que é feito? Por que semelhantes dão origem a semelhantes? De onde vêm os seres? Para onde vão os seres? 22 O PENSAMENTO MÍTICO Em um período anterior ao surgimento dos primeiros filósofos, todas as explicações eram dadas pela mitologia, lendas, tradições. Era em um momento em que o homem estava fortemente ligados à terra, às arvores, aos rios, às montanhas, à natureza. O homem vivia em tribos. Não se fazia distinção entre o real e o irreal. A explicação de toda realidade universal era baseada na imaginação e no sobrenatural. O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem, o funcionamento e os processos do mundo e da natureza, suas origens e seus valores. O mito é um discurso, uma narrativa imaginaria e ficcional. Pertence às tradições culturais e não são elaborados por uma pessoa. Faz parte da tradição cultural e representa a própria visão de mundo das pessoas. O mito não tem um fundamento, não se submete à críticas e aos questionamentos. São simplesmente aceitos como parte da experiência real. O mito explica a realidade por meio do sobrenatural, do mistério, do símbolo, do divino. O mitoé algo aceito e interiorizado pelo povo. É preciso lembrar que o pensamento e as instituições humanas refletem as condições sociais, econômicas e históricas de uma sociedade em uma determinada época. Na Grécia daquele momento as explicações sobre as origens do mundo e da natureza baseadas na mitologia já não correspondiam a realidade. A Filosofia surge então como a busca de uma explicação racional e ordenada do mundo ou da natureza: cosmologia. Cosmo: ordem e organização do mundo Logia: pensamento racional, conhecimento O que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia no final do sec. VI antes de Cristo? Quais as condições sociais, políticas, econômicas e históricas que permitiram o surgimento da Filosofia? As condições históricas que possibilitaram o surgimento da Filosofia na Grécia A mudança de papel do pensamento mítico resulta de um longo período de transição e de transformação da própria sociedade grega, tornando possível o surgimento do pensamento filosófico em VI a.C. As condições históricas que favorecem ao surgimento do pensamento filosófico-científico: 23 O comércio e as viagens marítimas levaram à desmitificação do mundo. Revelaram que não existiam deuses, monstros, titãs. O homem começou a conhecer concretamente o mundo e outras culturas. Invenção do calendário: o tempo deixou de ser incompreensível e divino, passou a ter dias, anos, estações. Invenção da moeda Surgimento da vida urbana: predomínio do comércio e artesanato. Surge uma classe comerciante que, para se contrapor a aristocracia da época, vai apoiar as artes, as técnicas, o conhecimento e assim a filosofia. Surge um novo tipo de organização social. Invenção da escrita alfabética: a capacidade de abstração se desenvolve. É independente, racional e pode ser usada por todos. Invenção da política: surge a lei como expressão da vontade coletiva humana, o direito de cada um se expressar racionalmente. Surge o espaço público, onde se realizam discussões e tomam-se decisões racionais. A política valoriza o ser o humano e o pensamento. Diante dessa realidade histórica, o mito como explicação real através do elemento sobrenatural e misterioso é insatisfatório. É preciso compreender essa nova realidade. Os filósofos foram reformulando e racionalizando as narrativas míticas e transformando as explicações do mundo em algo novo. Não houve uma ruptura brusca nessa passagem do saber mítico ao pensamento racional. Em relação aos conhecimentos, os gregos transformaram em ciência o que era prática para uso na vida: as curas viraram a medicina. Criaram a organização social e política que conhecemos hoje, ou seja, as sociedades até então desconheciam a separação entre poder publico, privado e religioso. Foram os gregos que fizeram essa separação através da organização de leis e instituições como forma de poder e governo. Criaram a idéia de justiça e lei, características da organização política atual. Criaram a idéia de que o pensamento segue regras, normas e leis universais, ou seja, que o pensamento pode ser racional. 24 A FILOSOFIA GREGA O marco foi o filósofo Sócrates. A Filosofia Antiga, do sec. VI a. C. ao século VI d.C, corresponde à História do pensamento filosófico grego e se divide em quatro grandes momentos: Período pré-socrático - sec. VI ao V a.C. Período Socrático: Sócrates e Platão - sec. V ao sec. IV a. C. Período Sistemático: Aristóteles - sec. IV ao sec. III a.C. Período Helenístico - sec. III a.C. ao sec. VI d. C. Período pré-socrático ou cosmológico, do sec. VI ao final do século V a. C. É o nascimento da Filosofia, momento em que se investiga o mundo e as transformações da natureza. Os principais filósofos foram Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Pitágoras de Samos, Heráclito de Éfeso, Parmênides de Eléia, e Zenão de Eléia, que fizeram parte de várias escolas. É denominado período Cosmológico, pois buscava uma visão ordenada do mundo, a explicação racional e sistemática sobre origem, ordem e transformação da natureza e seres humanos. Investigava o princípio universal, imutável e eterno que gerou todas as coisas e seres: de onde tudo vem e para onde tudo retorna. Cosmo=ordem e organização do mundo, lógico=conhecimento racional. O novo pensamento filosófico possui características centrais que rompem com a narrativa mítica. Esses pensadores desenvolveram um conjunto de noções que constituem o ponto de partida de uma visão de mundo que, apesar de terem sofrido profundas transformações, foram as raízes do nosso pensamento filosófico-científico de hoje. A physis – o mundo natural. A compreensão da realidade natural está nela mesma e não no mundo sobrenatural A causalidade – tudo tem uma causa natural e não mais mítica misteriosa. 25 A arqué – existe um elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo, o que dá uma unidade à natureza. Ex- água para Tales de Mileto, o ar para Anaxímenes. Empédocles afirma a existência de 4 elementos: ar, água, terra e fogo... Isso dá a idéia de caráter geral que inaugura a ciência. O cosmo - surge a idéia de ordem, harmonia e beleza. O mundo natural é uma realidade ordenada de acordo com os princípios racionais. O logos – não é mais uma narrativa de caráter poético e mítico logos é a explicação fundamentada na razão. É um discurso racional. O caráter crítico – as verdades não eram apresentadas como verdades absolutas, de forma dogmática, mas passiveis de serem discutidas, discordadas, criticadas. Não se trata de verdades absolutas, mas da construção do pensamento de um filosofo e pode e deve ser questionado. Surge a atitude crítica em lugar da transmissão dogmática da verdade. Os chamados “filósofos pré-socráticos” são os primeiros filósofos que viveram antes de Sócrates, e alguns foram contemporâneos deste. Sócrates é considerado um marco por sua influencia e por introduzir as questões humanas e sociais na discussão filosófica. Período socrático – final do século V e todo século IV a. C., em Atenas. A Filosofia passa a investigar as questões humanas, deixando de se preocupar apenas com as questões da natureza e suas transformações. Esse período é marcado pela presença de Sócrates (470-399 a.C), cujo pensamento rompe com a temática central da realidade natural dos filósofos anteriores e passa a investigar as questões éticas e políticas. É a época da democracia em Atenas, em que o cidadão começa a exercer a cidadania, precisa opinar, discutir, falar, persuadir nas assembléias. Surgem os chamados sofistas, que foram contemporâneos de Sócrates e compartilharam assim da mesma realidade histórica e, apesar das visões diferentes, tiveram o mesmo interesse pela problemática ético-politica. 26 O pensamento de Sócrates e os Sofistas deve ser entendido dentro do contexto histórico e sociopolítico de sua época, pois tem um compromisso bastante direto e explicito com essa realidade. A sociedade grega está estabilizada, com a consolidação de várias cidades-estados. Há o enriquecimento através do comércio, surge uma classe mercantil politicamente influente. Começam a se introduzir as primeiras regras democráticas, há quebra do poder das oligarquias, quebra da autoridade divina, é o fim das imposições autoritárias. Coexistem diferentes interesses e as decisões são tomadas em assembléias. É preciso saber falar bem, persuadir, convencer, argumentar e justificar as diferentes propostas. É o momento de passagem da tirania para a democracia. Os Sofistas Os Sofistas ensinavam a arte da oratória, a arte da persuasão. Ensinavam um modo de defender uma opinião por meio de argumentos. Eram mestres na arte da argumentação. Sofista significa sábio, entretanto ganhou o sentido de impostor. Eles eram professores que vendiam ensinamentospráticos da filosofia. Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras e Górgias. Protágoras afirma que “O homem é a medida de todas as coisas”, as coisas são como nos parecem ser, como se mostram a nossa percepção sensorial e não temos nenhum outro critério para decidir essa questão. Os sofistas foram criticados principalmente por Platão, que considerava os sofistas artistas manipuladores de raciocínios. Os Sofistas contribuíram para desenvolvimento da linguagem na tradição cultural grega. Nesse contexto, surge então Sócrates, considerado o patrono da filosofia. Ele discordava dos antigos poetas (mitologia), dos antigos filósofos (cosmologia) e dos sofistas (oradores). Sócrates (470-399 a.C), Sócrates nasceu em Atenas e é considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Seu pensamento marca o nascimento da filosofia clássica, que foi posteriormente desenvolvida por Platão e Aristóteles. É considerado o “patrono da filosofia”. As divergências inerentes à democracia da época levaram Sócrates a refletir 27 em seu interior. Refletindo sobre si mesmo, Sócrates descobriu que apesar da variedade de coisas, somos capazes de criar conceitos universais. Ele pensou que poderíamos criar um conceito universal de justiça que, por ser igual para todos, seria capaz de dissolver as divergências e discórdias nas assembléias de cidadãos. As praças públicas eram suas salas de aula. Buscava conhecer a si próprio e ajudava as pessoas a encontrar a verdade das coisas e conceitos, por meio do diálogo. Em um primeiro momento ele interrogava (processo chamado ironia, em grego significa interrogar). Depois ele conduzia o “aluno” à buscar em seu interior os conceitos verdadeiros (processo chamado de maiêutica, arte de dar a luz). Sócrates valorizava o debate e o ensinamento oral, sem nunca haver escrito nada. É Platão quem registra seus ensinamentos. Não existe o registro do pensamento original de Sócrates e sim a visão de Platão. Ele buscava a definição essencial de coragem, virtude, etc. é ir alem da opinião que se tem a respeito de algo. Ele não respondia às perguntas e sim procurava ensinar um caminho, que é origem de método. Por isso ele sempre usava o diálogo, pois acreditava que pelo diálogo a pessoa começa a revisar as crenças, opiniões, transformando a sua maneira de ver as coisas. Sócrates desenvolveu o saber filosófico em praças conversando e mostrando que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Para ele, o homem é sua alma, a alma é o desejo da razão, e isso distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza. Ele dialogava com ricos e pobres, cidadãos ou escravos e dava importância às características internas de cada pessoa. Assim, foi considerado uma ameaça a sociedade, pois não fazia distinção de classe ou posição social. Ele estava interessado na prática da virtude e na busca da verdade, e contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense. Era considerado um grande sábio e contrariou os interesses de muitos poderosos. Sócrates, em 399 a.C., é acusado de graves crimes por desrespeito às tradições religiosas e por corrupção da juventude, mas na verdade queriam puni-lo por suas críticas à democracia grega. Ele foi julgado por 501 cidadãos ema Atenas e não se declarou inocente, ao contrário, permanece coerente com suas idéias. É condenado à morte, por meio de envenenamento – cicuta. 28 Platão ( 428 – 348 a. C.) A filosofia de Platão desenvolve-se a partir dos ensinamentos de seu mestre Sócrates, por meio dos diálogos socráticos. Ainda nesse período, Platão, principal discípulo de Sócrates por 10 anos, escreveu sobre os ensinamentos dele mesmo e de Sócrates. Platão nasceu em Atenas e era de família nobre. Foi um dos maiores pensadores da história da filosofia. Após longas viagens, fundou sua própria escola - a Academia, nos jardins construídos por Acadamus. Era uma espécie de universidade de ensino do mundo ocidental. Desenvolve sua concepção filosófica que tem como núcleo a teoria das idéias ou formas. Para Platão, existia um mundo sensível – da aparência, das opiniões, da ilusão, imperfeito, incompleto e o mundo das idéias – eterno, essencial, belo, pleno, perfeito. Para se alcançar o mundo das idéias, é preciso o conhecimento racional e filosófico. Ele explica este pensamento por meio da alegoria O Mito da Caverna. Para Platão a filosofia é uma forma de saber que possui um caráter prático ético- político e, por outro lado, filosofia é essencialmente teoria capaz de levar a natureza essencial das coisas. Principais obras: Apologia de Sócrates, Eutífron, Críton, Laques, Mênon,O Banquete, A República e Parmênides. Características do período socrático: A filosofia se volta para as questões humanas: ações, comportamento, crença, valor, o lugar do homem no mundo. O homem como ser racional capaz de conhecer-se a si mesmo, capaz de refletir e estabelecer procedimentos que o levem a verdade. Definição das virtudes morais e virtudes políticas. As idéias e práticas que norteiam o comportamento dos seres humanos. Encontrar a essência dessas virtudes e valores: justiça, coragem, amizade, piedade, amor. A opinião, as percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas, mentirosas, contraditórias para se conseguir a verdade. 29 Período sistemático do final do século IV ao final do século II antes de Cristo Dizemos que sistemático é o que se caracteriza pela organização e articulação, formando um todo coerente. A obra de Aristóteles (384 - 322 a..C.) é sistemática. No chamado período sistemático, seu principal pensador foi Aristóteles, um dos mais importantes filósofos gregos da Antiguidade. Ele falou sobre o homem, a alma, classificou animais e plantas, criou o método, falou de política, leis, comportamentos. Aristóteles nasceu em 384 a.C., em Estagira, na Macedônia. Era filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia. Ainda muito jovem foi para Atenas, onde foi para a Academia de Platão, tornado-se seu discípulo. Estudou quase 20 anos na Academia, tornou-se professor, e, mais tarde, foi professor de Alexandre da Macedônia. Com a morte de Platão deixou a Academia e sai de Atenas. Mais tarde ele volta para Atenas e funda sua própria escola, o Liceu. O pensamento aristotélico desenvolveu-se a partir de uma crítica tanto aos pré- socráticos quanto a Platão. Sua principal obra filosófica Metafísica busca elaborar uma concepção filosófica original. Aristóteles redefine a filosofia e apresenta a construção de um grande sistema de saber, muito influente no desenvolvimento da ciência antiga. Aristóteles critica o dualismo representado na teoria das idéias de Platão e vai apresentar sua concepção de real, evitando o dualismo dos dois mundos – sensível e inteligível, e desenvolve uma concepção de realidade substancial. Aristóteles rompe com os ensinamentos de seu mestre Platão e desenvolve uma concepção sistemática de saber. Desenvolve seu próprio sistema e propõe uma concepção de real que parte da substancia individual, composta de matéria e forma. Ele valoriza o saber empírico e a ciência geral (do ser) e a ciência natural (da realidade natural). Valorizou as questões metodológicas e desenvolveu a lógica. Aristóteles desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio. A filosofia de Aristóteles é sistemática – coerente e precisa integrada, é uma visão integrada de saber, com diversas áreas especificas. Ele dedicou anos de seus estudos para classificar seres da natureza, ao mesmo tempo que se dedicava ao estudo do espírito humano, do universo interior e exterior do ser humano, incluindo política, sociedade, etc. Ele desenvolveu o conceito essencial que diferencia o homem de todos os seres no mundo: a capacidade de buscar sempre fazer melhor, ser feliz – a ética. Sua 30 obra foi fundamental paraa difusão e desenvolvimento da Filosofia e Ciência, por meio da questão metodológica do saber científico, abrangendo a valorização da ciência empírica, a ética, a política e a estética. A HERANÇA DA FILOSOFIA GREGA PARA O OCIDENTE A Filosofia grega possui características, apresenta formas de pensar e estabelece concepções diferentes das de outros povos e culturas. Os gregos instituíram bases e princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte. Essas bases e princípios passaram a influenciar decisivamente o pensamento e as instituições de todo ocidente até os dias atuais. A Filosofia surge quando a explicação da realidade universal dada pelos mitos já não satisfaz a alguns pensadores gregos. A verdade do mundo e dos homens passa a não ser algo secreto e misterioso, torna-se algo que podia ser conhecido por todos através do pensamento, da sabedoria, do uso metódico da razão. O momento histórico da Grécia Antiga em que surge a Filosofia está vinculado à organização da polis – cidade-estado. A cidade foi criação dos homens e não dos deuses e podia se organizada, dirigida e pelos homens, pela razão. Os filósofos queriam uma explicação para o mundo, uma ordem para o caos. 4 FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS Os filósofos pré-socráticos fazem parte do primeiro período da filosofia grega. Eles desenvolveram suas teorias do século VII ao V a.C. Recebem esse nome, posto que são os filósofos que antecederam Sócrates. Os filósofos pré-socráticos buscavam nos elementos natureza as respostas sobre a origem do ser e do mundo. Focando principalmente nos aspectos da natureza, eram chamados de “filósofos da physis”. SÓCRATES Sócrates (470 a.C-399 a.C.) foi um importante filósofo grego do segundo período da filosofia. Nasceu em Atenas sendo considerado um dos fundadores da https://www.todamateria.com.br/socrates/ 31 filosofia ocidental. A filosofia de Sócrates, baseada no diálogo, era chamada de filosofia socrática. Era marcada pela expressão “conhece-te a ti mesmo”, em virtude da busca da verdade através do autoconhecimento. Ademais, da filosofia do “diálogo” de Sócrates, destaca-se a “maiêutica”, que significa literalmente “trazer a luz”. Esta faz relação com a iluminação da verdade que, para ele, está contida no próprio ser. Sócrates nasceu em Atenas, que em meados do século V a.C tornou-se a metrópole da cultura grega. Da sua infância nada se sabe. Homem feito, chamava atenção não só pela sua inteligência mas também pela estranheza de sua figura e seus hábitos. Corpulento, olhos saltados, vestes rotas, pés descalços, costumava ficar horas mergulhado em seus pensamentos. Quando não estava meditando solitário, conversava com seus discípulos, procurando ajudá-los na busca da verdade. Nessa época teve início a segunda fase da filosofia grega, conhecida como socrática ou antropológica, onde Sócrates foi o principal filósofo desse período. Nessa fase os filósofos passaram a se preocupar com os problemas relacionados ao indivíduo e a organização da humanidade. Passaram a perguntar: O que é verdade? O que é o bem? O que é a Justiça?, uma vez que na primeira fase da filosofia grega a preocupação era com a origem do mundo, fase que ficou conhecida como pré- socrática. A VERDADE PARA SÓCRATES Para Sócrates existiam verdades universais, válidas para toda a humanidade em qualquer espaço e tempo. Para encontrá-las era necessário refletir sobre elas, descobrir suas razões. O princípio da filosofia de Sócrates estava na frase "Conhece- te a ti mesmo". Antes de lançar-se em busca de qualquer verdade, o homem precisa auto analisar-se e reconhecer sua própria ignorância. Sócrates inicia uma discussão e conduz seu interlocutor a tal reconhecimento, através do diálogo: é a primeira fase de seu método, chamada de ironia ou refutação. Na segunda fase, a "maiêutica" (técnica de trazer à luz), Sócrates solicita vários exemplos particulares do que está sendo discutido. Por exemplo, se está procurando definir a coragem, pede descrições de atos considerados corajosos. Em seguida, analisa esses casos com a finalidade de descobrir o que é comum a todos eles. Esse algo comum é a coragem, a essência dos atos heroicos, e existirá em qualquer ato corajoso, independente das circunstâncias que o cercarem. 32 A "técnica de trazer à luz" pressupõe uma crença de Sócrates, segundo a qual a verdade está no próprio homem, mas ele não pode atingi-la porque não só está envolto em falsas ideias, em preconceitos, como está desprovido de métodos adequados. Derrubado esses obstáculos, chega-se ao conhecimento verdadeiro, que Sócrates identifica como virtude, contraposta ao vício, o qual se deve unicamente à ignorância. Daí sua frase famosa: "Ninguém faz o mal voluntariamente". Por causa do incentivo ao raciocínio, Sócrates foi perseguido pelas autoridades de Atenas. Acusado de renegar os Deuses e corromper os jovens, foi julgado e condenado a suicidar-se ingerindo cicuta. FONTES PARA O ESTUDO DE SÓCRATES Sócrates não deixou obra escrita, achava mais eficiente o intercâmbio de ideias, mediante perguntas e respostas entre duas pessoas. São quatro as fontes básicas para o conhecimento de Sócrates: o filósofo Platão, seu discípulo, em cujos Diálogos o mestre figura sempre como personagem central. A segunda fonte é o historiador Xenofonte, amigo e frequentador assíduo das reuniões que Sócrates participava. O dramaturgo Aristófanes cita Sócrates como personagem em algumas de suas comédias, mas sempre o ridiculariza. A última fonte é Aristóteles, discípulo de Platão, e que nasceu 15 anos após a morte de Sócrates. Essas fontes nem sempre são coerentes entre si. 4.1 Filosofia Grega Para melhor entender a filosofia grega, vale lembrar como ela está dividida: Período Pré-Socrático: fase naturalista Período Socrático: fase antropológica-metafísica Período Helenístico: fase ética e cética CORRENTES OU ESCOLAS PRÉ-SOCRÁTICAS Segundo o foco e o local de desenvolvimento da filosofia, o período pré- socrático está dividido em Escolas ou Correntes de pensamento, a saber: https://www.todamateria.com.br/platao/ https://www.todamateria.com.br/aristoteles/ 33 Escola Jônica: desenvolvida na colônia grega Jônia, na Ásia Menor (atual Turquia), seus principais representantes são: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso. Escola Pitagórica: também chamada de "Escola Itálica", foi desenvolvida no sul da Itália, e recebe esse nome posto que seu principal representante foi Pitágoras de Samos. Escola Eleática: desenvolvida no sul da Itália, sendo seus principais representantes: Xenófanes de Colofão, Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia. Escola Atomista: também chamada de “Atomismo”, foi desenvolvida na região da Trácia, sendo seus principais representantes: Demócrito de Abdera e Leucipo de Abdera. PRINCIPAIS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS Segue abaixo os principais filósofos do período pré-socrático: Tales de Mileto (624 a.C.-548 a.C.): nascido na cidade de Mileto, região da Jônia, Tales acreditava que a água era o principal elemento, ou seja, era a essência de todas as coisas. Anaximandro de Mileto (610 a.C.-547 a.C.): discípulo de Tales nascido em Mileto, para Anaximandro o princípio de tudo estava no elemento denominado “ápeiron”, uma espécie de matéria infinita. Anaxímenes de Mileto (588 a.C.-524 a.C.): discípulo de Anaximandro nascido em Mileto, para Anaxímenes o princípio de todas as coisas estava no elemento ar. Heráclito de Éfeso (540 a.C.-476 a.C.): considerado o “Pai da Dialética”, Heráclito nasceu em Éfeso e explorou a ideia do devir (fluidez das coisas). Para ele, o princípio de todas as coisas estava contido no elemento fogo. Pitágoras de Samos (570 a.C.-497 a.C.): filósofo e matemático nascido na cidade de Samos, paraele os números foram seus principais elementos de estudo e reflexão, do qual se destaca o “Teorema de Pitágoras”. https://www.todamateria.com.br/tales-de-mileto/ https://www.todamateria.com.br/anaximandro/ https://www.todamateria.com.br/anaximenes/ https://www.todamateria.com.br/heraclito/ https://www.todamateria.com.br/pitagoras/ https://www.todamateria.com.br/teorema-de-pitagoras/ 34 Xenófanes de Cólofon: (570 a.C.-475 a.C.): nascido em Cólofon, Xenófanes foi um dos fundadores da Escola Eleática, se opondo contra o misticismo na filosofia e o antropomorfismo. Parmênides de Eléia (530 a.C.-460 a.C.): discípulo de Xenófanes, Parmênides nasceu em Eléia. Focou nos conceitos de “aletheia” e “doxa”, donde o primeiro significa a luz da verdade e o segundo, é relativo à opinião. Zenão de Eléia (490 a.C.-430 a.C.): discípulo de Parmênides, Zenão nasceu em Eléia. Foi grande defensor das ideias de seu mestre filosofando, sobretudo, acerca dos conceitos de “Dialética” e “Paradoxo”. Demócrito de Abdera (460 a.C.- 370 a.C.): nascido na cidade de Abdera, Demócrito foi discípulo de Leucipo. Para ele, o átomo era o princípio de todas as coisas, desenvolvendo assim, a “Teoria Atômica”. 5 PLATONISMO, A FILOSOFIA DE PLATÃO ACADEMIA DE PLATÃO A “Academia de Platão” foi fundada em Atenas pelo filósofo por volta de 385 a.C., primeiramente designada para cultuar as Musas Gregas e o Deus Apolo. Embora ele tenha fundado com características de culto aos deuses, o local foi considerado a primeira universidade da história do ocidente. De tal modo, na Academia Platônica, os filósofos se reuniam para discutir o desenvolvimento da filosofia e do pensamento de Platão, um dos pilares mais importantes da filosofia ocidental. Ocorriam, assim, debates sobre os mais diversos temas da filosofia. A Academia de Platão durou cerca de 9 séculos e foi encerrado em 529 d.C., pelo imperador bizantino Justiniano I. PERÍODOS DO PLATONISMO O Platonismo reúne as diversas abordagens da teoria de Platão: metafísica, retórica, ética, estética, lógica, política, dialética e da dualidade (corpo e alma), sendo classifica em três períodos, a saber: https://www.todamateria.com.br/xenofanes/ https://www.todamateria.com.br/parmenides/ https://www.todamateria.com.br/zenao/ https://www.todamateria.com.br/democrito/ 35 Platonismo Antigo (século IV a.C. até a primeira metade do século I a.C.) Médio Platonismo (séculos I e II d.C.) Neoplatonismo (séculos III d.C. e VI d.c) TEORIA DAS IDEIAS Sem dúvida, a Teoria das Ideias ou Teoria das Formas é a proposição desenvolvida por Platão que mais se destaca, posto que dela surgem vários outros pensamentos relacionados com sua filosofia. Para Platão, existem dois mundos, ou seja, a realidade estava dividida em duas partes: O mundo sensível (mundo material), mediados pelas formas autônomas que encontramos na natureza, percebido pelos cinco sentidos; e o mundo das ideias (realidade inteligível) denominado de “mundo ideal”, ou seja, aproxima-se da ideia de perfeição de algo. Assim, segundo ele a verdade suprema e absoluta além da felicidade, somente é possível encontrar a partir do mundo das ideias, donde localiza-se a essência das coisas. De tal maneira, o que percebemos no mundo sensível ou material é enganoso, ilusório e instável, enquanto no mundo das ideais atinge-se a felicidade pelo encontro do conhecimento supremo da realidade, o que correspondente a ideia de bem. Em resumo, através do conhecimento é possível transcender do mundo material ao mundo das ideais e contemplar as ideias perfeitas, alcançando assim, a felicidade. Leia Mito da Caverna. TEORIA DAS ALMAS Na filosofia de Platão encontramos a dualidade entre a alma e o corpo. Segundo ele, o ser humano era imortal e essencialmente alma, donde ela pertencia ao mundo inteligível (apreendido pelo intelecto) e não o mundo sensível (apreendido sobre os sentidos). De acordo com o filósofo, a alma estava dividida em três partes e, ao harmonizar essas três partes era possível encontrar a felicidade, o bem: Alma Concupiscente: localizada no ventre, a alma concupiscente estava relacionada com os desejos carnais. Alma Irascível: localizada no peito, a alma irascível estava relacionada às paixões. https://www.todamateria.com.br/neoplatonismo/ https://www.todamateria.com.br/mito-da-caverna/ 36 Alma Racional: localizada na cabeça, a alma racional estava relacionada ao conhecimento. Assim, com a elevação da alma ao mundo das ideias, através da contemplação das ideias perfeitas, seria possível alcançar a ideia suprema do bem. PLATÃO E A POLÍTICA Na política Platão contribuiu com sua maneira humanista de refletir sobre o homem e uma sociedade justa. Para ele, a Política era considerada uma das mais nobres atividades, posto que estava relacionada com a pólis, ou seja, as cidades gregas e a organização da vida dos cidadãos. Em sua obra “A República”, reflete sobre a construção do bem para todos os cidadãos, a função social de cada um, tal qual como as atividades básicas realizadas na pólis. Sendo assim, Platão caracterizou as atividades essenciais da pólis em três instâncias, as quais levavam em conta a aptidão de cada um: Administração da pólis Defesa da cidade Produção de materiais e alimentos Observe abaixo um trecho da Obra “A República”: “Ao fundarmos a cidade, não tínhamos em vista tornar uma única classe emi- nentemente feliz, mas, tanto quanto possível, toda a cidade. De fato, pensá- vamos que só numa cidade assim encontraríamos a justiça e na cidade pior constituída, a injustiça. (...). Agora julgamos modelar a cidade feliz, não pondo à parte um pequeno número dos seus habitantes para torna-los felizes, mas considerando-o como um todo. ” OS DIÁLOGOS DE PLATÃO A maior parte da obra de Platão foi desenvolvida através dos Diálogos, textos em que ele desenvolve suas ideias, filosofando sobre a natureza e existência humana, bem como da sociedade que o envolve. Dos diálogos destacam-se: Apologia a Sócrates, O Banquete, Górgias, Filebo, Fédon, República, Protágoras, dentre outros. 37 5.1 Dialética de Platão Platão define a dialética como a arte de pensar, questionar e hierarquizar ideias. O termo dialética é utilizado por Platão na referência a qualquer método que possa ser recomendado como veículo da filosofia. Para Platão, a dialética é um instrumento que permite o alcance a verdade. É preciso ressaltar que sua obra está ligada à preocupação com a ciência (considerada o conhecimento verdadeiro), a moral e a política. O trabalho de Platão envolve a função pedagógica e política quando o assunto é o conhecimento, considerado a materialização do real. A materialização da pedagogia ocorre pelo método usado para superar o senso comum. MÉTODO DIALÉTICO DE PLATÃO Opinião x verdade Desejo x razão Interesse particular x interesse universal Senso comum x filosofia É o senso comum o ponto de partida da dialética platônica, não para ser reafirmado, mas refutado e que deve ser superado. Platão propõe que o senso comum e a opinião sejam questionados para a descoberta da verdade a partir do indivíduo sem a interferência externa. A hierarquia do método da dialética platônica tem como objetivo demonstrar a fragilidade, a falta de fundamentação e os preconceitos que formam o senso comum. É, ainda, objetivo, que o indivíduo tenha a consciência do funcionamento do método. A dialética admite as contradições somente como meio para superá-las, exige atitude crítica, necessidade de reflexão, questionamento da opinião, da origem e de suas fundamentações. CONCEITO DE DIALÉTICA O termo dialética, do grego dialektké, é o método de discussão de ideias opostas com o objetivo de encontrar a verdade. É uma forma de argumentação lógica, https://www.todamateria.com.br/platao/ 38 exigindo
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