Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM SEGURANÇA AULA 3 Prof. Nivaldo Vieira Lourenço 2 CONVERSA INICIAL Esta terceira aula da disciplina de Planejamento Estratégico em Segurança tem como objetivo estudar a importância de as instituições utilizarem a gestão estratégica como ferramenta de inovação. Abordaremos também sobre o tema da gestão pela qualidade em segurança e finalizaremos com o estudo do papel e do perfil de um líder, da necessidade das pessoas serem empreendedoras, inovadoras e dirigidas por ações sustentáveis. TEMA 1 – LINHAS GERAIS DA GESTÃO ESTRATÉGICA Vamos iniciar o tema apresentando o estudo de dois estrategistas norte- americanos: Hunger e Wheelen (2002), que relatam o caso de Minoru Arakawa, presidente da empresa de videogames Nintendo. Após um período de sucesso, Arakawa enfrentou um forte dilema no ano de 1997, quando diante da necessidade de renovar os jogos disponíveis. Ocorre que nem sempre os produtos asiáticos eram aceitos pelos norte-americanos, porém o presidente, contrariando as expectativas históricas, lançou o mesmo produto japonês, sem qualquer alteração, no mercado americano, passando a ser a única marca distribuidora do Pokémon, hoje de reconhecido êxito entre os adeptos de videogames. Esta percepção não seria possível sem que os gestores percebessem a inevitabilidade de um pensar estratégico. Para tanto, os autores indicam três questões chave a serem respondidas (HUNGER; WHEELEN, 2002, p. 4): 1. Onde está a organização agora? (E não onde a gerência espera que ela esteja); 2. Se não forem feitas mudanças, onde estará a organização daqui a um, dois, cinco ou dez anos? As respostas são aceitáveis? 3. Se as respostas não forem aceitáveis, que ações específicas a gerência deve empreender? Que compensações e riscos estão envolvidos? 3 Devemos compreender a realidade das empresas de segurança em relação à da segurança pública – onde ela está agora? – em conformidade com os avanços ou mudanças culturais, tecnológicas e sociais. Ao não acompanhar estas transformações de comportamento social, onde estará instituição de segurança daqui há um, dois, cinco ou dez anos? Obtendo resultados sinceros às duas primeiras indagações chega-se ao terceiro quesito: não havendo respostas aceitáveis aos dois questionamentos iniciais, que ações devem ser concretizadas pela nossa organização? Quais os riscos e benefícios sociais e institucionais envolvidos? A gestão estratégica é definida por Hunger e Wheelen (2002, p. 4) como: o conjunto de decisões e ações estratégicas que determinam o desempenho de uma corporação a longo prazo. Este tipo de gestão inclui análise profunda dos ambientes interno e externo, formulação da estratégia (planejamento estratégico de longo prazo), implementação da estratégia, avaliação e controle. Outro estudo que apresentamos é o de Tellis e Golder (2002), que, na tentativa de desvendar os segredos de gerenciar com eficácia e inovação, dedicaram-se a uma pesquisa que procurava compreender as vantagens e desvantagens de organizações “pioneiras” em determinado ramo, vejamos: 1. A tecnologia e os mercados mudam constantemente; 2. Duas atitudes tolhem a busca incansável pela inovação: a complacência embalada pelo sucesso no passado e o medo de canibalizar os produtos existentes; 3. A complacência embalada pelo sucesso no passado por vezes leva a empresa a acreditar que é superior aos concorrentes ou que possui alguma fórmula vitoriosa que durará para sempre; 4. O medo de canibalizar os produtos existentes surge principalmente quando se desenvolvem novos produtos para servir a mercados ou atender a necessidades substancialmente semelhantes, apenas com mais vantagens para o usuário; 5. Em contraste, as inovações bem-sucedidas decorrem de características culturais profundamente arraigadas na organização. Num contexto mais amplo, a pesquisa afirma que se devem abandonar projetos antigos que não produzem mais os resultados esperados. Os dirigentes que administram as instituições de segurança são os responsáveis por fomentar 4 a inovação, obviamente que contando com a capacidade e qualificação dos demais integrantes de cada carreira, sendo necessário que identifiquem e admitam a existência das fragilidades nas organizações, assim como compreendam que o submundo do crime opera de forma inovadora, com novas formatações e a necessidade de se justapor a esta realidade. TEMA 2 – COMO IMPLEMENTAR A GESTÃO ESTRATÉGICA? Existem modelos diferentes entre os estudiosos da área sobre como implementar a gestão estratégica e suas fases. Traremos aqui as lições de Hunger e Wheelen (2002, p. 5 e 6): Fase 1 – Planejamento financeiro básico; Fase 2 – Planejamento baseado em previsão: buscar um planejamento mais eficaz para se obter crescimento, tentando prever o futuro além do ano seguinte ao ano corrente; Fase 3 – Planejamento orientado para o ambiente externo (planejamento estratégico); Fase 4 – Gestão estratégica: buscar uma vantagem competitiva e um futuro bem-sucedido por meio do gerenciamento de todos os recursos. Uma organização que já desenvolve uma gestão estratégica precisa realizar mudanças? Esta é uma pergunta difícil de se responder, já que uma série interminável de variáveis pode conduzir a mudanças ou até a alterações completas na gestão estratégica de uma corporação. No entanto, em que momentos é possível identificar abalos no modelo utilizado? 1. Novo chefe; 2. Intervenções externas; 3. Ameaças externas; 4. Reconhecimento de ineficiência na prestação dos serviços públicos. São quatro os elementos básicos para formulação de um modelo fundamental de gestão estratégica: 1. Análise ambiental: trata-se da apreciação dos ambientes internos e externos. O ambiente deve ser entendido como tudo que circunda ou envolve a organização e suas pessoas, sendo que o ambiente externo 5 consiste em variáveis (oportunidades e ameaças) que estão fora da organização, em geral fora do controle de curto prazo por parte da alta administração; já na definição de ambiente interno, as variáveis (forças e fraquezas) estão presentes na própria organização e, geralmente, também não estão sob controle de curto prazo da alta administração. 2. Formulação de estratégia: para a formulação de estratégia é necessário definir a missão da organização, bem como especificar os objetivos gerais e específicos, considerando que estes planos devem ser de longo prazo. 3. Implementação de estratégia: significa um processo pelo qual as estratégias e políticas são colocadas em ação com base no desenvolvimento de programas, em orçamentos e procedimentos. Para a inserção de estratégias em uma organização devem ser consideradas condicionantes: uma delas refere-se à previsão de custos. 4. Avaliação e controle: após o encerramento do planejamento, deve existir um acompanhamento e um monitoramento, o que significa realizar uma comparação entre os resultados esperados e os resultados reais. TEMA 3 – GESTÃO PELA QUALIDADE EM SEGURANÇA Um dos temas mais abordados no cenário contemporâneo é a gestão pela qualidade em segurança, pois cada vez mais o cidadão, como destinatário final, exige uma maior eficiência e eficácia na prestação de serviços. Da mesma forma, algumas instituições já se atentaram para essa necessidade de mudança organizacional, cujo objetivo se dirige à obtenção de resultados eficientes, eficazes e efetivos. Vamos a algumas definições: Eficiência é a relação quese estabelece entre esforço e resultado. É a capacidade que o gestor ou administrador tem de produzir o máximo de resultados com o menor dispêndio de tempo e de recursos. Eficácia consiste no cumprimento de objetivos, ou seja, em atingir as metas. Efetividade é a capacidade de concretização, de modificação do mundo exterior, de materialização dos objetivos pretendidos e de se manter, permanentemente, no mercado ou num ramo de atuação. Um dos métodos atuais para aferir o padrão de qualidade dos produtos e serviços é a realização de auditorias pela empresa contratante. Essas auditorias 6 consistem em visitas realizadas por um grupo técnico especializado, com o objetivo de aferir se o sistema de qualidade proposto está sendo seguido. Outra medida também adotada é o estabelecimento da chamada ISO. A International Organization for Standardization (ISO) é uma organização não governamental, e tem como afiliadas instituições de diversos países. Sua sede atualmente é em Genebra, na Suíça. A finalidade da ISO é estabelecer normas padrão, que servem como parâmetro para organizações públicas e privadas, visando principalmente ao fornecimento de produtos e serviços mais eficientes e seguros, além de colaborar com a disseminação de práticas de gestão e de inovação. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a representante da ISO, sendo inclusive uma de suas fundadoras. Atualmente existem mais de 20.500 normas padrão internacionais, nos mais variados aspectos da tecnologia e de negócios, sendo que no ano de 1997 a ISO lançou as normas da série 9000, que disciplinam a avaliação de sistemas de qualidade. TEMA 4 – LIDERANÇA Liderar está vinculado à ideia de estar à frente de uma equipe ou grupo, mas não como um simples chefe de padrões autoritários, que se limita a dar ordens, impondo-se única e exclusivamente pela sua posição hierárquica. Podemos concluir que liderança é um processo de influência sobre os membros de uma organização. O líder é aquele seguido pelos demais em razão de sua empatia, capacidade de organização, coordenação e inteligência. O verdadeiro líder detém as habilidades natas de ser comunicativo, de resolver conflitos internos e externos, de transmitir confiança e motivação, além de convencer seus subordinados pela argumentação. Chiavenato (2003, p. 122), indica quatro formas de liderança: 1. Liderança como um fenômeno de influência interpessoal: é a influência interpessoal exercida em uma situação e dirigida por meio do processo da comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos específicos. A liderança ocorre como um fenômeno social e exclusivamente nos grupos sociais. 2. Liderança como um processo de redução da incerteza de um grupo: o grau em que um indivíduo demonstra qualidade de liderança depende não somente 7 de suas próprias características pessoais, mas também das características da situação na qual se encontra. 3. Liderança como uma relação funcional entre líder e subordinados: Liderança é uma função das necessidades existentes em uma determinada situação e consiste em uma relação entre um indivíduo e um grupo. 4. Liderança como um processo em função do líder, dos seguidores e de variáveis da situação: processo de exercer influência sobre pessoas ou grupos nos esforços para realização de objetivos em uma determinada situação. Ao distinguir o comportamento adotado por cada líder, Chiavenato (2003, p.124), divide os modelos de liderança em autocrática, liberal e democrática. 1. Liderança autocrática – O líder centraliza as decisões e impõe suas ordens ao grupo. 2. Liderança liberal – O líder delega totalmente as decisões ao grupo e deixa-o completamente à vontade e sem controle algum. 3. Liderança democrática – O líder conduz e orienta o grupo e incentiva a participação democrática das pessoas. TEMA 5 – EMPREENDEDORISMO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SEGURANÇA O planejamento estratégico é uma ferramenta para as forças de segurança na busca de soluções dos problemas enfrentados pela comunidade. Nesse contexto, para que mudanças consistentes sejam implementadas, o perfil das pessoas que integram as organizações deve estar vinculado às competências requeridas para os profissionais da atualidade, em que são exigidos atributos de empreendedorismo, capacidade de inovação, além de comportamentos baseados em ações sustentáveis. Vamos então às definições. Empreendedorismo Chiavenato e Sapiro (2009, p. 282) apontam que o espírito empreendedor exige “[...] um profundo conhecimento da situação atual, seus desdobramentos, capacidade de análise, raciocínio lógico, forte intuição, faro sensível para as oportunidades [...]”. Afirmam ainda: “empreendedor é a pessoa que inicia e/ou opera um negócio ou empreendimento para realizar uma ideia original ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades e inovando continuamente”. Empreendedoras são aquelas pessoas preocupadas em buscar oportunidades, 8 que questionam e alcançam respostas para problemas enfrentados por outras pessoas. Inovação Chiavenato e Sapiro (2009) colocam que a inovação deve ser o coração de toda estratégia, atenta às necessidades do mercado, atendendo e satisfazendo seus clientes. Outro autor, Roger Born (2014), retrata que o planejamento estratégico é uma poderosa ferramenta de inovação. Born indica ainda que o planejamento tradicional não abre espaço para o desenvolvimento de novas ideias, e que posturas convencionais desestimulam a criatividade e o pensamento estratégico. Falconi (2009) associa a inovação ao estabelecimento de metas audaciosas, e um comportamento perseverante, em que a imaginação e a criatividade são ferramentas poderosas, que podem colocar toda uma organização em sintonia para superar um desafio. Sustentabilidade Ao lado de uma postura inovadora e empreendedora, os profissionais de segurança pública devem associar suas condutas às mais modernas ações sustentáveis. O desenvolvimento sustentável corresponde a um padrão de uso de recursos que ao mesmo tempo em que atende às demandas humanas e organizacionais do momento, preserva o ambiente de maneira a não comprometer os recursos e a habilidade das futuras. NA PRÁTICA Pesquise a Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, regulamentada pela Portaria nº 3.233/2012, DG-DPF de 10 de dezembro de 2012, a qual dispõe sobre segurança e estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores (disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7102.htm>). Após a leitura da lei, responda: na lei estão explícitas as linhas gerais da gestão estratégica em segurança? 9 FINALIZANDO Esta aula teve como objetivo apresentar o tema da gestão estratégica desenvolvido de modo que você tenha uma visão das funções e objetivos das empresas em segurança privada. Apresentamos uma breve demonstração dos estudos de Tellis e Golder, com destaque para a inovação. Já com relação a um modelo de gestão estratégica, escolhemos o formato proposto por Hunger e Wheelen: análise ambiental, formulação de estratégia, implementação de estratégia, avaliação e controle; finalizamos com a abordagem do tema gestão pela qualidade em segurança pública, o papel e o perfil do líder, a necessidade de pessoas empreendedoras, inovadoras e dirigidas por ações sustentáveis. REFERÊNCIAS: BRASIL. Lei n. 7.102, de 20 junho 1983. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7102.htm>.Acesso em: 11 abr. 2017. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: da intenção aos resultados – fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. DALLARI, D. de A. Elementos de teoria geral do Estado. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1991. HUNGER, J. D.; WHELLEN, T. L. Gestão estratégica: princípios e práticas. 2. ed. Rio de Janeiro: Reichmann e Affonso Editores, 2002. KALLÁS, D.; COUTINHO, A. R. Gestão da estratégia: experiências e lições de empresas brasileiras. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. OLIVEIRA, D. de P. R. de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 16. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001. REZENDE, D. A. Planejamento estratégico para organizações públicas e privadas: guia prático para elaboração do projeto de plano de negócios. Rio de Janeiro: Brasport, 2008.
Compartilhar