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DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula TEORIA DO CRIME CONCEITO DE CRIME O conceito de crime varia de acordo com o critério adotado para defini-lo. Ele pode apresentar três conceituações: Conceito material ou substancial: Crime é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, apta a colocar em perigo valores fundamentais para a preservação da coletividade, seus valores fundamentais e a coexistência pacífica entre seus membros. Conceito formal ou legal: Crime é todo fato humano proibido pela lei penal. É o conceito fornecido pela própria lei, pelo legislador. Conceito analítico: Leva em conta a estrutura do crime. Aqui temos três teorias que conceituam o crime de forma distintas: a) Teoria quadripartida – O crime é composto pelo fato típico, ilicitude, culpabilidade e punibilidade. Não é adotada, pois a punibilidade não seria elemento do crime, mas sim a consequência deste; b) Teoria tripartida – O crime é dividido em fato típico, ilícito e culpável. É adotada no Brasil; c) Teoria bipartida - O crime é dividido em fato típico e ilícito. A culpabilidade seria pressuposto para aplicação da pena. Também é adotada no Brasil. LEMBRAR: No Brasil, o STF já adotou tanto a teoria tripartida quanto a teoria bipartida. Para que exista crime, surge a “briga’’ entre duas teorias: DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula TEORIA CAUSALISTA TEORIA FINALISTA Principais seguidores: Liszt, Belling e Carrara. - CRIME = Fato Típico + Antijurídico + Culpável; - Aqui, o que importa é a relação de causa e efeito; - Dolo e culpa são elementos analisados na culpabilidade. A culpabilidade era chamada de culpa em sentido amplo (“lato sensu”), cujos elementos seriam dolo (intenção de prejudicar) e culpa em sentido estrito (“strito sensu”: negligência, imprudência e imperícia); - Dolo é normativo, seria a consciência da ilicitude. Infringe a lei sabendo que aquilo é ilícito; - A ação é um movimento corporal que causa uma modificação no mundo exterior. A conduta tem vontade, mas não tem finalidade. A vontade para os causalistas representa apenas um comportamento corporal produzido pelo domínio sobre o corpo, composto por um fazer ou não fazer. O conteúdo da vontade, a finalidade, é deslocado para a culpabilidade; - No tipo penal encontra-se apenas o que é objetivo, sendo a culpabilidade aspecto subjetivo; - Haverá fato típico sempre que a conduta humana altere algo na natureza, independente da sua intenção; - Constata-se a relação de causalidade entre o fato e o delito sem analisar a intenção do agente. Principais seguidores: Welzel, Zaffaroni, Damásio de Jesus e Mirabete. - CRIME = Fato Típico + Antijurídico; -Dolo e culpa são analisados no Fato Típico, na conduta; - Dolo é natural. É a consciência e vontade de algo, mas não há consciência efetiva da ilicitude; - Aqui a culpabilidade é entendida como reprovabilidade. O dolo e a culpa são incorporados ao tipo penal, transformando a culpabilidade em reprovabilidade pura (sem dolo ou culpa); - É impossível tipificar uma conduta sem indagar a intenção do agente ao pratica- la. A vontade, para os finalistas, é a força que propulsiona a conduta, de forma que sem vontade não podemos falar em conduta; - Essa vontade não é cega, sendo sempre dirigida a determinado fim (a vontade é o motor e a finalidade a direção para onde irá o ato). Pode ser por dolo, produção de um resultado querido e visado ou pode ser por culpa, vontade e finalidade impulsionam a conduta, porém o resultado é adverso do desejado; - A vontade dirigida a uma finalidade encontra-se na base de toda e qualquer conduta, não sendo corretor afirmar que o fato típico é uma simples causação de resultado; - Há sempre dolo e culpa em um delito. DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula Obs.: Antecipação Biocibernética: Diz respeito à capacidade de antecipação das consequências causais. A possibilidade de realizar uma ação determinada requer o conhecimento ou a possibilidade de reconhecimento da realização fática (do fato jurídico, da conduta); Zaffaroni: sempre existe uma programação na busca de um fim. Desencadeamento de ações. Ex: A conduta de efetuar o disparo de arma de fogo em direção a uma determinada pessoa está contaminada pela antecipação mental das consequências deste ato (ferimento por munição de arma de fogo). Está contida também na conduta a previsão do resultado morte da vítima. ELEMENTOS DO CRIME De acordo com o conceito analítico, temos: 1. FATO TÍPICO É o comportamento humano, positivo ou negativo, que provoca resultado previsto em lei como infração penal. O fato típico é formado pelos seguintes requisitos/elementos: CONDUTA RESULTADO FATO TÍPICO NEXO CAUSAL TIPICIDADE OBS: Esses quatro elementos só estarão todos presentes simultaneamente nos crimes materiais ou causais consumados (crimes de resultado). Já nos crimes formais, de mera conduta e tentados, o fato típico só terá como elementos a conduta e a tipicidade. Isso ocorre porque, nesses tipos de crimes, não há necessidade de ocorrência de resultado para sua consumação. DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula A) CONDUTA: Conceito causalista: conduta é o movimento corporal voluntário que produz um resultado no mundo exterior. Conceito finalista: conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim. “Não há crime sem conduta. todo crime pressupõe uma conduta dolosa ou culposa.” • Formas de conduta: a) Ação = conduta é positiva b) Omissão = conduta negativa • Classificação dos crimes quanto a conduta: a) Crimes comissivos: a lei descreve uma ação; b) Crimes omissivos: a lei descreve uma omissão; Os crimes omissivos se subdividem em: i) Próprios ou puros: omissão é descrita no próprio tipo penal ii) Impróprios, espúrios ou comissivos por omissão: são aqueles em que o tipo penal descreve uma ação, mas a inércia do agente, que descumpre o seu dever de agir (art. 13, §2º, CP), leva à produção do resultado naturalístico. OBS: A relevância da omissão ou omissão penalmente relevante. Art. 13, §2º. Prevê as hipóteses do dever de agir. Só se aplica aos crimes omissivos impróprios. • Características da conduta: - Apenas o ser humano pode praticar condutas penalmente relevantes, salvo pessoa jurídica nos crimes ambientais; - Apenas a conduta voluntária interessa ao direito penal; DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula - Apenas os atos projetados no mundo exterior ingressam no conceito de conduta. O Direito Penal não pode punir as ideias ou pensamentos do ser humano. A cogitação jamais é punível, até porque na cogitação não há sequer perigo ao bem jurídico. • Hipóteses de exclusão da conduta: a) Caso fortuito (ação humana) e força maior (natureza); b) Movimentos reflexos: são reações fisiológicas, decorrentes da provocação dos sentidos. Falta vontade. Os movimentos reflexos não se confundem com as ações em curto circuito, pois estas derivam de uma explosão emocional repentina. Nas ações em curto circuito, portanto, existe conduta e crime. Não se confunde também com os atos habituais que são aquelesrealizados pela pessoa em razão de um vício qualquer. Os atos habituais são dominados pela vontade; c) Coação física irresistível ou vis absoluta - não há vontade. Exclui tipicidade; d) Sonambulismo e hipnose. B) RESULTADO Conceito: É a modificação do mundo exterior provocada pela conduta. Nem todo crime exige resultado para se consumar. • Espécies de Resultado: a) Resultado jurídico ou normativo: mera violação da norma penal como ofensa ao bem jurídico protegido; b) Resultado material ou naturalístico: é a modificação do mundo exterior, provocada pela conduta do agente. É algo que pode ser sentido e constatado no mundo real. - Existe crime sem resultado? Depende de qual resultado estamos tratando. Todo e qualquer crime tem resultado jurídico (princípio da reserva legal, ofensividade, lesividade). Agora somente os crimes materiais consumados apresentam resultado material ou naturalístico. DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula • Classificação dos crimes quanto o resultado: a) Crime material: A lei prevê um resultado e exige que ele ocorra para que o crime se consuma. Exemplo: 121, matar. (Consuma com a morte). b) Crime Formal: A lei prevê um resultado, mas não exige que ele ocorra para que o crime se consuma. Consuma com a conduta. Art. 159 “sequestrar” com fim de “obter”. (Consuma com sequestro, consuma-se com o verbo de ação) c) Crime de mera conduta: A lei não prevê qualquer resultado. Consuma com a conduta. Exemplo: art.150 “entra no domicilio alheio”. (Consuma com a entrada). C) NEXO DE CAUSALIDADE ou RELAÇÃO DE CAUSALIDADE Conceito: é o vínculo que se estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico, pelo qual se conclui se aquela deu causa a este. - Só interessa aos crimes materiais consumados. • Teorias: a) Teoria da equivalência dos antecedentes ou conditio sine qua non: Os penalistas dizem que foi desenvolvida por um alemão chamado Glaser. Para essa teoria causa é todo e qualquer acontecimento provocado pelo agente, sem o qual o resultado não teria ocorrido como e quando ocorreu; b) Teoria da causalidade adequada. Do alemão Von Kries. Causa é todo e qualquer comportamento humano eficaz para produzir o resultado; c) Teoria da Imputação objetiva: Claus Roxin trouxe essa teoria em 70. A teoria adiciona ao nexo de causalidade a criação de um risco proibido ou o aumento de um já existente e a realização desse risco no resultado. - É uma proposta doutrinária que já foi reconhecida em alguns julgados do STJ, mas não tem previsão legal no Brasil. Foi adotada pelo STJ simplesmente por ser mais favorável ao réu. Só se aplica aos crimes materiais, pois precisa haver resultado. OBS: Qual ou quais dessas teorias o Brasil adota? A teoria da equivalência dos antecedentes é a regra geral. Art. 13, caput. A Teoria da causalidade adequada é exceção prevista no art. 13, §1º. A Teoria da imputação objetiva é uma proposta doutrinária, que já foi utilizada em alguns julgados do STJ, por ser muito mais favorável ao réu. DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula • Concausas: Concausas dependente: é aquela que depende da conduta do agente para produzir o resultado. O agente responde pelo crime; Concausas independente é aquela idônea a produzir, por si só, o resultado. Essas concausas se subdividem em absolutas e relativas: A) Concausas absolutas: rompem o vínculo entre causa e efeito, rompe o nexo causal. O individuo vai responder pelos atos até então praticados. Aplicação da A teoria da equivalência dos antecedentes, art. 13, caput do CP. Elas podem ser: - Concausas preexistentes absolutamente independentes: são aquelas que ocorrem antes da conduta do agente; - Concausas simultâneas absolutamente independentes: são aquelas que ocorrem concomitantemente à conduta do agente; - Concausas supervenientes absolutamente independentes: são aquelas que ocorrem após a conduta do agente. B) Concausas relativas: são aquelas que não capazes de produzir por si sós o resultado e têm origem na conduta do agente. Não existiriam sem a atuação criminosa. Elas podem ser: - Concausas preexistentes relativamente independentes: são aquelas que ocorrem antes da conduta do agente; - Concausas simultâneas relativamente independentes: são aquelas que ocorrem concomitantemente à conduta do agente; Nas duas primeiras hipóteses é mantido o vínculo entre causa e efeito, não há rompimento do nexo de causalidade. O agente responde pelo delito consumado. - Concausas supervenientes relativamente independentes: indiretamente, o Código Penal leva ao entendimento de que existem as que não produzem, por si sós, o resultado (art. 13, caput, do CP), e aquelas que produzem, por si sós, o resultado (art. 13, §1º, do CP). DIREITO PENAL Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas anotações em aula Art. 13, caput, do CP: Não há rompimento do nexo de causalidade e o agente responde pelo resultado causado. Art. 13, §1º, do CP: Há rompimento do nexo de causalidade e o agente responde pelo seu dolo (apenas os atos praticados) e não pelo resultado. D) TIPICIDADE Conceito: É a perfeita adequação do fato ao modelo normativo. A tipicidade penal é formada pela tipicidade formal + tipicidade material. a) Tipicidade formal: é o juízo de subsunção, de adequação entre o fato e a norma. O fato praticado na vida real se encaixa no modelo de crime previsto pela norma penal; b) Tipicidade material: é na lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente protegido. O princípio da insignificância exclui a tipicidade material.
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