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REVISÃO TÉCNICA Clio Nudel Radomysler Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP. Mestre em Direito Constitucional na Faculdade de Direito da USP. Bacharel em Direito pela USP. APRESENTAÇÃO DO CURSO ......................................................................................................................................... 1 OBJETIVOS ................................................................................................................................................................................................. 1 Objetivo geral ............................................................................................................................................................................. 1 Objetivos específicos ............................................................................................................................................................ 2 AUTORES DA APOSTILA .................................................................................................................................................................. 2 ESTRUTURA DO CURSO .................................................................................................................................................................. 3 BIBLIOGRAFIA COMENTADA ........................................................................................................................................................4 INICIANDO O ESTUDO ..................................................................................................................................................... 5 UNIDADE I – VELHAS PRÁTICAS, NOVOS ESPAÇOS........................................................................................... 7 UNIDADE II – O CYBERBULLYING NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ............................................................... 13 UNIDADE III – A ESCOLA E AS MEDIDAS DE MEDIAÇÃO E PREVENÇÃO .................................................. 17 RECAPITULANDO ............................................................................................................................................................ 20 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................... 21 GLOSSÁRIO........................................................................................................................................................................ 22 1 Provavelmente você já ouviu falar sobre cyberbullying e talvez saiba que se trata de práticas de violência que crianças e adolescentes sofrem na internet. Mesmo sabendo disso, talvez você tenha algumas dúvidas, principalmente quanto à postura do educador para lidar com o problema. Não é para menos, afinal, depois de incontáveis casos de cyberbullying no Brasil e no mundo, alguns deles com consequências lamentavelmente trágicas, o tema apresenta-se como parte de uma discussão sensível, que, inclusive, levou o poder público, as escolas, a mídia e a sociedade em geral a dar mais atenção ao fenômeno, promovendo-se campanhas e programas de prevenção e combate ao bullying no ambiente virtual. A partir desse contexto, o presente curso visa trazer informações sistematizadas sobre o cyberbullying, apresentando desde definições, estatísticas e tendências, até estratégias sobre como lidar com o fenômeno nos âmbitos escolar e familiar. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Ter uma visão geral sobre o fenômeno do cyberbullying, de modo a identificar as particularidades dessa modalidade de intimidação via internet. APRESENTAÇÃO DO CURSO 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • entender as particularidades do cyberbullying em relação ao bullying convencional; • entender como a legislação brasileira aborda o tema; • entender quais são as medidas possíveis de prevenção e combate ao cyberbullying a serem tomadas pelas escolas e pelos pais de adolescentes e • conhecer as ferramentas disponíveis para prevenir e combater o cyberbullying. AUTORES DA APOSTILA Cesar André Machado de Morais Pesquisador do Centro Internacional de Direitos Humanos de São Paulo (CIDHSP) da Academia Paulista de Direito (APD). Mestrando em Direito e Desenvolvimento pela FGV Direito SP. Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto. Guilherme Forma Klafke Líder de projetos e pesquisador do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP. Doutor (2019) e mestre (2015) em Direito Constitucional pela Universidade de São Paulo. Bacharel (2011) em Direito pela Universidade de São Paulo. É colaborador da Sociedade Brasileira de Direito Público desde 2011, na qual coordenou a Escola de Formação Pública (2017). Foi professor de Filosofia do Direito da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (2017-2018). Coordena e desenvolve pesquisas nas áreas de Direito Constitucional, Jurisdição Constitucional, Ensino Jurídico, Ensino Participativo, Direitos Humanos Digitais e Filosofia do Direito. 3 Stephane Hilda Barbosa Lima Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP. Doutoranda em Teoria do Estado pela Universidade de São Paulo. Mestre (2018) em Direito Constitucional e graduada (2014) em Direito, ambos pela Universidade Federal do Ceará, além de especialista (2016) em Direito Tributário e Processo Tributário pela Escola Jurídica Juris. Desenvolve pesquisas e atividades de ensino nas áreas de Ensino Jurídico, Metodologias Participativas, Direitos Humanos Digitais, Direito Educacional, Educação Digital e Regulação. Tatiane Guimarães Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP. Graduada (2019) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). ESTRUTURA DO CURSO Neste curso, vamos abordar o conteúdo sobre cyberbulling por meio da seguinte estrutura: • Iniciando o estudo Inicialmente, apresentaremos alguns casos hipotéticos na intenção de mostrar a você as diferenças do cyberbullying em relação a outras práticas de intimidação e/ou ofensa. • Unidade 1 – Velhas práticas, novos espaços Entenderemos o que é bullying e trataremos das particularidades desse fenômeno na internet, chegando, dessa forma, à definição de cyberbullying. Também conheceremos algumas estatísticas que ajudam a compreender a gravidade do fenômeno, bem como as principais formas a partir das quais ele costuma ocorrer. 4 • Unidade 2 – O cyberbullying na legislação brasileira Veremos como a legislação brasileira entende a questão do cyberbullying, ressaltando as limitações do modelo de enfrentamento da questão da Lei Antibullying. Veremos também, brevemente, como os tribunais vêm lidando com o assunto na prática. • Unidade 3 – A escola e as medidas de mediação e prevenção Aprenderemos quais são as responsabilidades da escola nos casos envolvendo cyberbullying, bem como as formas por meio das quais ela pode lidar com o problema. BIBLIOGRAFIA COMENTADA ALMEIDA, Ana Maria Tomás de. Recomendações para a prevenção do cyberbullying em contexto escolar: uma revisão comentada dos dados de investigação. Unilasalle, Canoas, jan./jul., 2014. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Educacao/article/view/1657. Acesso em: 15 jun. 2019. Este artigo traz as principais recomendações destacadas recentemente através de um estudo Europeu sobre as orientações para a prevenção do cyberbullying em contexto escolar. Enfatiza a importância de apoiar o desenvolvimento de políticas e programas de âmbito sistêmico que promovam conhecimentos, competências e processos colaborativos de mudança de valores, atitudes e comportamentos.Nessas recomendações, considera-se o agenciamento dos pais, dos jovens, das direções e dos professores para a mudança em contexto escolar. SAFERNET BRASIL. Comportamento online: ciberbullying. [20--]. Disponível em: https://new.safernet.org.br/home?field_subject_value=Comportamento%20Online&field_comport amento_online_value[0]=Ciberbullying&field_type_value=All&page=2. Acesso em: 1 abr. 2019. Amplamente usado na elaboração do presente material, o site da SaferNet Brasil, organização sem fins lucrativos que promove o debate sobre internet segura, possui um acervo significativo de informações, dados e orientações acerca da prática do cyberbullying no país. 5 Para que possamos compreender como se dá o bulling no mundo virtual, ou seja, o cyberbulling, tenhamos em mente as seguintes situações hipotéticas: A roda ruim de conversas – Há algum tempo você vem percebendo que um de seus alunos costuma interagir pouco com os colegas de classe, além de apresentar comportamento tímido e retraído quando são propostas dinâmicas de grupo. Certo dia, durante o intervalo, você, educador, vê uma roda de garotos em volta dele intimidando- o e ridicularizando-o. Do off-line para o on-line – Uma de suas alunas vem sendo perseguida por outros adolescentes na escola, os quais a ofendem constantemente utilizando palavrões e linguagem de cunho misógino para isso. Você imaginava que o caso seria passageiro, mas, ao contrário, a situação ganhou a visibilidade dos pais e demais professores após ser criada uma página ridicularizando a garota nas redes sociais. Os gamers vira-casacas – Seu filho, um tanto envergonhado, procura você para relatar que passou a pertencer a um grupo seleto de jogadores adolescentes, que ele conheceu por intermédio de um game on-line. Ele relata a você que, nos últimos dias, vem sendo perseguido e ofendido nas redes sociais por esses mesmos jogadores, os quais anteriormente diziam-se seus amigos. Alunos contra professora – Os alunos do colégio em que você trabalha criaram uma página para ridicularizar uma professora que também trabalha lá há anos. A funcionária, perplexa, e sem saber que medidas tomar, procura você para pedir orientações sobre como lidar com a situação. INICIANDO O ESTUDO 6 Você consegue identificar quais desses casos envolvem o cyberbullying? Conhece as características típicas das situações envolvendo o cyberbullying? Sabe quais são os principais envolvidos e os efeitos dessas práticas no cotidiano escolar? Caso não consiga fazer essa diferenciação, não há problema, é justamente isso que vamos trabalhar ao longo do curso. Entre outras características, veremos que, por meio da internet, o cyberbullying potencializa os efeitos danosos decorrentes da intimidação gratuita que certas crianças e adolescentes sofrem de seus colegas, o que pode acarretar consequências bastante graves, conforme já mencionamos. Tendo em vista esse cenário, a seguir, ajudaremos você a responder às seguintes perguntas: Quais são as particularidades do cyberbullying em relação ao bullying convencional? O que a legislação brasileira diz a respeito do tema? Como as escolas, os pais, e a sociedade em geral devem agir para prevenir e combater a prática do cyberbullying? 7 É evidente que a prática hoje identificada como bullying sempre existiu na sociedade. Se perguntarmos aos nossos pais, ou ainda aos nossos avós, perceberemos que todos eles têm alguma história da infância ou da adolescência para contar, nas quais sofreram e/ou praticaram o que hoje entendemos como bullying. É mesmo a “universalidade” e a atemporalidade dessa prática que, em certa medida, serviu como motivo para deslegitimar a atenção ao tema ou a adoção de providências e medidas preventivas. Afinal, pode-se fazer afirmações como: “Eu sofri bullying na infância, os meus irmãos e os meus amigos também, e hoje somos pessoas normais”; ou ainda: “Isso acontece com todo mundo, não há porque se preocupar”. De fato, conviver com grupos de crianças e/ou adolescentes implica constantemente ouvir frases do tipo “Fulano de tal está ‘tirando’ sicrano”, ou “Fulana é a mais ‘zoada’ da escola”, ou ainda pedidos de ajuda ou reclamações como “Professor, aquela pessoa está me ‘arengando’”. Cada região do Brasil vai apresentar expressões e gírias com significados semelhantes, ou que são abarcadas pelo verbo em inglês to bully, que pode ser traduzido como “intimidar”, “maltratar”, “incomodar”, “coagir”, entre outros possíveis significados. O bullying pode ser entendido como a “violência duradoura, física ou psicológica, conduzida por um indivíduo ou grupo de indivíduos contra um indivíduo que não é capaz de se defender sozinho na situação”1. Outra definição possível é a de atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados exclusivamente por crianças e/ou adolescentes2, a partir de uma relação desigual de poder. 1 ROLAND, Erling. Bullying: The Scandinavian Research Tradition. In: TATTUM, Delwyn P.; LANE, David. A. Bullying in Schools. Stroke-on- Trent, UK: Trentham, 1989. p. 21-32. Disponível em: https://cyberbullying.org/what-is-bullying. Acesso em: 21 out. 2019. 2 SAFERNET. Ciberbullying. Comportamento online. [20--]. Disponível em: https://new.safernet.org.br/home? field_subject_value=Comportamento%20Online&field_comportamento_online_value[0]=Ciberbullying&field_type_value=All&page=2. Acesso em: 21 out. 2019. UNIDADE I – VELHAS PRÁTICAS, NOVOS ESPAÇOS 8 Dada essa definição, percebemos que o caso hipotético A roda ruim de conversas, apresentado na introdução do curso, trata de uma situação típica de bullying. Veja que o aluno em questão apresenta um comportamento tímido e retraído e tem pouca disposição para interagir com seus colegas em sala de aula. Esses sinais mostram que, muito provavelmente, a agressão que “você” notou no intervalo da aula não é pontual, ela se estende para o dia a dia do aluno na escola e, portanto, acontece de maneira sistemática e reiterada. Também é provável que os agressores sejam sempre os mesmos, os quais, muitas vezes, estão mais bem inseridos na turma, valendo-se dessa posição para intimidar o aluno que não está. Embora não seja o objetivo deste curso tratar do bullying, e sim do cyberbullying, veremos, nos próximos tópicos, algumas pinceladas sobre o comportamento que os educadores devem adotar diante de tais situações. Já em relação ao tema específico que estamos trabalhando, e a partir dessas primeiras noções, você muito provavelmente já chegou à conclusão de que: “Quando as práticas associadas ao bullying são reproduzidas na internet, estamos diante do cyberbullying.” Nesse sentido, segundo o Centro de Pesquisa em Cyberbullying, a prática em questão pode ser definida como “agressões deliberadas e sistemáticas por meio de computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos”. Além disso, existe a percepção de que a internet intensificou os efeitos nefastos da prática do bullying: enquanto, no passado, as crianças e os adolescentes vítimas desses abusos podiam escapar das agressões ou das intimidações simplesmente indo para casa ou ficando sozinhas, hoje em dia, no mundo digital, não existe mais refúgio para eles. Ter consigo um celular, um laptop, ou outro dispositivo com internet significa que textos, e-mails, chats e posts nas redes sociais, ou em aplicativos, podem chegar a qualquer momento do dia e até em grande número. Ademais, esteja a vítima on-line ou off-line, o bullying virtual segue em frente, espalhando-se amplamente entre as demais crianças e adolescentes e acarretando agressões à reputação da vítima. Isso ocorre porque as ofensas e as agressões realizadas frequentemente contagiam outras crianças e adolescentesna internet, que passam a reproduzir essas práticas contra um mesmo alvo, o que ainda é facilitado pelo compartilhamento instantâneo de mensagens e imagens ofensivas, violentas ou humilhantes, bastando apenas um click para tanto. E, ainda, uma vez que tal conteúdo é postado ou compartilhado, o procedimento para excluí-lo (ou deletá-lo) é difícil, o que aumenta o risco de as vítimas serem “revitimizadas”, tornando ainda mais difícil para elas se recuperarem. 9 Segundo relatório da Unicef3 sobre crianças e ambientes digitais, as vítimas do cyberbullying estão mais propensas a usar álcool e drogas, não ir à escola, experienciar bullying pessoalmente, tirar notas baixas e experienciar baixa autoestima, além de outros tipos de problemas de saúde. As vítimas desse tipo de abuso expressam a severidade do problema, que, em alguns casos, leva ao suicídio ou a pensamentos de suicídio. Cyberbullying e questões de gênero, raça e sexualidade Ainda que o cyberbullying seja entendido como um problema que aflige crianças e adolescentes de diversos extratos e recortes sociais, deve-se ter em mente que para alguns desses jovens soma-se um agravante relativo à posição de minoria social que eles ou elas ocupam. Nesse sentido, existem algumas evidências que apontam para as particularidades do cyberbullying no que se refere ao gênero das vítimas, à raça/cor, e à orientação sexual, particularidades estas que, se observadas, podem levar à adoção de estratégias mais adequadas à prevenção e ao combate do cyberbullying contra esses jovens. Vamos esboçar algumas dessas questões nas linhas a seguir. Inicialmente, as pesquisas apontam que as crianças e os adolescentes mais afetados pelo bullying e pelo cyberbullying são do sexo masculino4. Por outro lado, sabemos também que essas mesmas agressões, quando praticadas contra garotas, normalmente estão carregadas de conteúdo misógino, ou seja, são ofensas que inferiorizam as vítimas pelo fato de elas serem mulheres, geralmente fazendo uso de conotações sexuais como motivo de piada, ou ainda mais grave, como forma de macular a reputação dessas garotas ou de chantageá-las. No curso “Sexualidade e intimidade na internet”, discutimos como tais práticas levaram a verdadeiras tragédias entre garotas adolescentes, as quais, muitas vezes, se veem em um “beco sem saída”, sentindo-se culpadas pelas agressões que sofreram e não tendo com quem conversar sobre o assunto. Outra preocupação está relacionada ao racismo nas redes sociais, o que, evidentemente, não ocorre apenas entre adolescentes, mas que tem impacto ainda mais significativo na vida deles, justamente porque esses indivíduos estão em fase de formação de personalidade. Nesse sentido, em que pese a falta de estudos mais assertivos sobre as relações entre cyberbullying e racismo, os casos recentes de ofensas e injúrias raciais5 na internet mostram que os adolescentes negros estão extremamente suscetíveis às agressões desse tipo, o que pode ter um impacto profundo para a autoestima desses jovens6. 3 UNICEF. Office of the SRSG on Violence against Children. Ending the torment: tackling bullying from the schoolyard to cyberspace. 2016. Disponível em: https://violenceagainstchildren.un.org/sites/violenceagainstchildren.un.org/files/documents/publications/tackling_bullying_from_school yard_to_cyberspace_low_res_fa.pdf. Acesso em: 5 maio 2019. 4 Nesse sentido: REVISTA PONTOCOM. Meninos: maiores vítimas do bullying. [20--]. Disponível em: http:// revistapontocom.org.br/materias/meninos-maiores-vitimas-de-bullying. Acesso em: 5 maio 2019. 5 LOPES, Valquiria. Crença no anonimato e impunidade favorecem racismo na internet. Estado de Minas Gerais. 2016. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/12/31/interna_gerais,836174/crenca-no-anonimato-e-impunidade-favorecem- racismo-na-internet.shtml. Acesso em: 5 maio 2019. 6 Nesse sentido: UNICEF BRASIL. O impacto do racismo na infância. 2010. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/relatorios/o- impacto-do-racismo-na-infancia. Acesso em: 5 maio 2019. 10 Ainda nesse sentido, é evidente que os alunos e as alunas que não se enquadram no padrão de comportamento heterossexual têm mais predisposição para sofrer bullying nas escolas. Na internet, essa tendência também se reproduz: segundo estudo realizado na Espanha, com a participação de 533 alunos de Ensino Médio, os adolescentes identificados como não heterossexuais são os maiores alvos de bullying e cyberbullying, sendo que, em relação a este último, a taxa de vítimas não heterossexuais é superior em 20% às vítimas identificadas como heterossexuais7. Por fim, enfatizamos o entendimento de que o cyberbullying, em muitos contextos, está atrelado à falta de aceitação da diversidade, o que, evidentemente, não é uma característica natural das crianças e dos adolescentes, mas corresponde a uma cultura que foi herdada por esses jovens. Indo além, muito se fala da questão estrutural de racismo, machismo e heteronormatividade, que são reproduzidos no ambiente escolar e familiar: a partir do momento em que não há figuras de autoridade ou exemplo que representem grupos minoritários como LGBT+, negros e mulheres, o preconceito se reforça e o espaço para situações de violência, como bullying contra essas minorias, expande-se. Nesse sentido, trabalhar em sala de aula com temáticas envolvendo diversidade e combate ao preconceito se apresenta como uma estratégia de prevenção ao bullying e ao cyberbullying contra as crianças e os adolescentes que se enquadram nesses grupos sociais mencionados, além do incentivo à diversidade na composição do quadro de educadores e funcionários das escolas. Esses dados são ainda mais alarmantes quando se tem em vista a realidade brasileira. Segundo pesquisa conduzida pela organização de pesquisa IPSOS, o Brasil tem o segundo maior índice mundial de crianças e adolescentes que já foram vítimas de bullying na internet. Com 29% dos entrevistados fazendo essa afirmação, o Brasil fica atrás apenas da Índia, em que o mesmo índice sobe para 37%. É alarmante também o fato de que a porcentagem brasileira tenha subido em relação ao último levantamento, realizado em 2016, no qual 19% dos pais e mães afirmaram ter filhos vítimas de cyberbullying. 7 ELIPE, Paz; MUÑOZ, María de la Oliva; DEL REY, Rosario. Homophobic bullying and cyberbullying: study of a silenced problem. Journal of homosexuality, v. 65, 2018. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00918369.2017.1333809. Acesso em: 6 maio 2019. 11 Em relação ao perfil do cyberbullying no Brasil, veja alguns dados apresentados nos gráficos a seguir: Figura 1 – Dados referentes ao cyberbulling no Brasil: O seu/sua filho(a) já sofreu ou sofre cyberbullying? Fonte: IPSOS (2018). Figura 2 – Dados referentes ao cyberbulling no Brasil: Onde ocorre o cyberbulling? Fonte: IPSOS (2018). Figura 3 – Dados referentes ao cyberbulling no Brasil: Quem pratica o cyberbulling? Fonte: IPSOS (2018). O seu/sua filho(a) já sofreu ou sofre cyberbullying? Sim, regularmente (11%) Sim, às vezes (16%) Sim, uma vez ou outra (14%) Não, nunca (24%) Eu não sei (34%) 0% 20% 40% 60% 80% 100% Onde ocorre o cyberbullying? Redes sociais (70%) Via celular (32%) Aplicativos de mensagem (28%) Salas de bate papo (28%) E-mail (10%) Outros sites (15%) Outras tecnologias (6%) 0% 20% 40% 60% 80% 100% Quem pratica o cyberbullying? Colega de classe (53%) Criança/adolescente desconhecido (29%) Adulto conhecido (10%) Adulto desconhecido (14%) Não sabe responder (10%) Prefere não responder (4%) 12 Esses dados nos permitem concluir que o cyberbullying ocorre sobretudo nas redes sociais, sendo praticado principalmente peloscolegas de classe das crianças e dos adolescentes. Dessa forma, no caso hipotético Do off-line para o on-line, em que uma de “suas alunas” vem sendo perseguida por outros adolescentes da escola, e posteriormente torna-se alvo de uma página que a ridiculariza nas redes sociais, temos um exemplo clássico de cyberbullying, no qual uma agressão que já ocorria dentro da escola passou a ocorrer também nos ambientes virtuais. Já no caso hipotético Os gamers vira-casacas, em que o “seu filho” passa a ser ofendido e perseguido nas redes sociais pelos colegas que ele tinha feito num game on-line, também temos uma situação de cyberbullying, com a diferença de que os agressores não são colegas de classe da vítima, mas sim colegas virtuais que, depois de algum tempo, passaram a importuná-lo. “Trollar”: verbo transitivo Muito provavelmente você já ouviu de seus alunos e alunas a expressão “trollar”. Talvez tenha passado despercebido aos seus ouvidos, ou talvez você não tenha entendido nada do que eles diziam, principalmente porque essa é uma expressão muito própria da internet, a qual, de forma bastante geral, significa “provocar as pessoas na internet, incitando discussões e ‘tumultuando’ postagens nas redes sociais”. Sabe quando alguém nem está muito interessado na discussão, mas participa mesmo assim só para “tirar sarro da cara de outra pessoa”? Então, na internet, quando isso ocorre, costuma-se dizer que a pessoa está “trollando”. É interessante notar que, na maioria das vezes, a versão abrasileirada do verbo “trollar” requer um complemento para fazer sentido, ou seja, a pessoa não “trolla” sozinha, ela geralmente “está trollando” alguém ou um grupo de pessoas. Isso significa que na hora de “trollar” existe sempre um agente (chamado de “troll”) e uma vítima (a pessoa “trollada”), que podem ser pessoas completamente desconhecidas ou velhos(as) amigos(as), já que “trollar” é entendido tanto como uma brincadeira, como também um comportamento hostil de cyberbullying, principalmente se praticado de forma reiterada contra a(s) mesma(s) pessoa(s). Como na “vida real”, brincadeiras aparentemente inofensivas podem se mostrar de muito mau gosto e, para piorar, na internet é ainda mais difícil saber como a pessoa “trollada” está se sentindo em relação à brincadeira. Essa é uma questão interessante de ser trabalhada em sala de aula: se você não está vendo o(a) seu(sua) colega, não está olhando para as reações faciais dele, como pode saber que a sua “trollagem” está sendo razoável? 13 Nos anos 2015 e 2018, entraram em vigor no Brasil duas leis que compõem a política brasileira de combate ao bullying: uma, que visa instituir o Programa de Combate à Intimidação Sistemática em todo o país8, ou seja, trata-se de uma política pública em nível federal que, no caso, visa fornecer algumas definições e objetivos gerais para o enfrentamento do bullying; e, outra, que visa promover “medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência e a promoção da cultura de paz entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino”9. Especificamente no que se refere ao cyberbullying, a primeira lei, conhecida como Lei Antibullying, define essa prática como sendo a depreciação, o envio de mensagens intrusivas da intimidade, e o envio ou adulteração de fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social à vítima. É interessante notar como essa definição é bastante ampla, e engloba uma série de práticas do cyberbullying. Por exemplo, de acordo com essa definição, as práticas de sextorsão (sextortion) e pornografia de vingança, que abordamos no curso sobre “Sexualidade e intimidade na internet”, seriam também entendidas como formas de cyberbullying. Por outro lado, a despeito do possível avanço que signifique a incorporação do conceito de bullying no ordenamento jurídico brasileiro, a falta de fiscalização pouco contribui para a efetiva implementação do programa proposto. Há, inclusive, o entendimento de que o Programa “antibullying” seja uma política de compliance escolar10, o que, por definição, demandaria uma presença expressiva do poder público no acompanhamento das escolas. 8 BRASIL. Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13185.htm. Acesso em: 6 maio 2019. 9 BRASIL. Lei nº 13.663, de 14 de maio de 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13663.htm. Acesso em: 14 jun. 2019. 10 Disponível em: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/lei-antibullying-e-seu-reflexo-juridico-nas-escolas/. Acesso em: 1 abril 2019. UNIDADE II – O CYBERBULLYING NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 14 Da mesma forma que ocorre com outras leis que instituem programas ou políticas em nível federal, são necessários mecanismos que forcem as escolas que ainda não iniciaram o programa a fazê-lo. Isso pode ser feito de várias formas e, ao nosso ver, uma alternativa interessante seria promover articulações dessa política entre os níveis estaduais e municipais, de modo a criar capilaridade nos contextos locais que facilitem os esforços de fiscalização. Por causa desses motivos, atualmente, uma das formas pelas quais o poder público vem lidando com a questão é por meio da Justiça (Judiciário), na qual os juízes decidem sobre casos particulares envolvendo questões de cyberbullying (no tópico “Para saber mais” deste curso, separamos alguns julgados para que você possa ver como os magistrados vêm entendendo o tema na prática). Ainda que essa discussão exista no âmbito judicial, entendemos ser necessário que as questões envolvendo crianças e adolescentes sejam tratadas de forma preventiva e pelas vias pacíficas disponíveis. Nesse sentido, e mesmo que a Lei Antibullying não o faça, compartilhamos do entendimento de que o bullying e, por conseguinte, o cyberbullying sejam um fenômeno exclusivamente protagonizado por crianças e adolescentes, uma vez que, sendo esses atos praticados por adultos, as consequências são levadas à esfera penal, na qual se tem a previsão dos crimes de ameaça, calúnia, injúria e difamação11, ou ainda, à esfera cível, na qual estão sujeitas à compensação por danos morais. É por isso que mencionamos anteriormente a importância de se ter em mente o perfil da vítima e do agressor, porque essas características, ao nosso ver, impactam a própria definição do problema como se tratando de cyberbullying ou não. Vejamos, por exemplo, no caso hipotético Os gamers vira-casacas, se os agressores de “seu filho”, que o conheceram em um jogo on-line, fossem maiores de idade, entendemos que a situação seria ainda mais grave, uma vez que as ofensas estariam partindo de indivíduos já adultos, que, de acordo com o Direito, respondem plenamente pelos seus atos. Dessa forma, tais atos de agressão devem ser tratados de forma mais severa, uma vez que os agressores já não estão mais sob a proteção do Estado e da sociedade como estão as crianças e os adolescentes. De forma semelhante, entendemos que o caso hipotético Alunos contra professora, no qual os alunos de uma escola criam uma página na internet para ridicularizar uma das professoras da escola, deva ser tratado no campo dos direitos de personalidade e dos danos morais, sendo que, nesse caso, são os pais dos alunos que responderão pelos danos a que a vítima sofreu. Isso porque, nessa situação, entendemos não haver uma relação desigual de poder entre agressores e vítima, ou seja, a professora, enquanto indivíduo adulto, não está numa situação de fragilidade perante os adolescentes que a ofenderam. Por esse motivo, entendemos que a situação fuja da própria definição do que venha a ser bullying e cyberbullying.11 SAFERNET. Ciberbullying e criminalização: diferentes pontos de vista. [20--]. Disponível em: https://new.safernet.org.br/content/ciberbullying-e-criminaliza%C3%A7%C3%A3o-diferentes-pontos-de-vista. Acesso em: 1 abr. 2019. 15 Muito embora nem a Lei Antibullying nem a maioria das decisões judiciais se utilizem desse entendimento, acreditamos que entender o bullying e o cyberbullying como um fenômeno exclusivo entre crianças e adolescentes forneça ferramentas mais adequadas para lidar com o problema. Isso porque, nesses casos, fica evidente a postura educativa, e não punitiva, que se deve ter no enfrentamento da questão; ao contrário dos casos envolvendo indivíduos adultos, em que se sobressai o enquadramento da conduta do ofensor nos crimes contra a honra, ou no campo dos danos morais. De fato, o bullying e o cyberbullying devem ser trabalhados principalmente no campo da mediação e prevenção, em detrimento das medidas judiciais, tanto por ser menos desgastante quanto por apresentar resultados mais eficazes às vítimas e agressores. Isso é o que veremos a seguir. 16 17 A Lei Antibullying aponta para a responsabilidade das escolas na prevenção e no combate ao bullying. No entanto, quando essa prática se dá na internet, a escola ainda é responsável? O que a direção, os funcionários e os professores podem fazer para prevenir e combater o cyberbullying? A resposta para a primeira pergunta é: depende. Quando os casos de cyberbullying apresentam-se como uma continuação do que já ocorre no ambiente escolar, ou seja, quando crianças e adolescentes são intimidados na internet pelos mesmos agressores que os hostilizam na escola, entendemos que há a responsabilidade da escola pelas agressões virtuais sofridas. Por exemplo, lembra que no caso hipotético Do off-line para o on-line, antes de ser ridicularizada nas redes sociais, a garota já era perseguida na própria escola? Pois bem, nesse caso, entendemos que professores e funcionários teriam sim o dever de prevenir as ofensas e intimidações sofridas pela garota, pois a situação já estava à mostra no ambiente escolar e, nesse contexto, os professores seriam as pessoas mais capazes de perceber o problema. Ao não buscar solucionar o conflito, a escola e os professores foram omissos e, assim sendo, poderiam ser responsabilizados pelos eventuais danos que a garota viesse a sofrer na situação. Já quando os casos de cyberbullying acontecem de maneira isolada, não sendo possível à direção e aos professores prever o que está ocorrendo no ambiente virtual, é difícil falar em responsabilidade da escola pelo ocorrido. Ainda assim, de acordo com a Lei Antibullying, a escola tem o dever de conscientizar, prevenir, diagnosticar e combater a violência e a intimidação sistemática, inclusive quando ocorre de maneira virtual12. E, dessa forma, chegamos à segunda pergunta: como a direção, os professores e os funcionários devem agir para tanto? Em relação à prevenção do cyberbullying, é notável a necessidade de formação e aperfeiçoamento dos professores e funcionários para lidar com o problema. Ainda que materiais 12 Art. 3º, VIII, e Art. 5º, da Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13185.htm. Acesso em: 1 abr. 2019. UNIDADE III – A ESCOLA E AS MEDIDAS DE MEDIAÇÃO E PREVENÇÃO 18 como o presente curso sirvam como introdução ao tema, é importante prosseguir no estudo do cyberbullying para definir estratégias mais robustas de prevenção, o que pode ser feito coletivamente no âmbito da direção da escola. Também é importante aos educadores que se atualizem sobre as novidades tecnológicas e as tendências (“modas”) recentes praticadas por crianças e adolescentes. A ideia é que, para entender o comportamento virtual dos jovens, é necessário estar atualizado sobre o universo digital, por exemplo, as redes sociais e os aplicativos mais utilizados no momento. Ademais, um ponto importantíssimo de ser observado na prevenção ao cyberbullying é a construção de um clima positivo na escola e na sala de aula. Veja, o termo “positivo”, aqui, contrapõem-se à “punitivo” (negativo), ou seja, é estratégico pautar a temática do cyberbullying a partir de uma abordagem que proponha um modelo de conduta, e não apenas repreenda os comportamentos indesejáveis. Nesse sentido, uma boa estratégia é que se desenvolvam atividades que encorajem a autorreflexão, perguntando aos adolescentes o que eles pensam e o que eles sentem sobre as práticas do cyberbullying, e solicitando a eles que considerem esses pensamentos e sentimentos também em relação aos outros. A ideia é ajudar os adolescentes a desenvolverem a inteligência emocional, de modo que desenvolvam a empatia perante os colegas13. Já no que se refere ao combate ao cyberbullying, a Equipe SaferNet Brasil apresenta algumas dicas para pais e professores que possuam filhos ou alunos que estejam vivenciando alguma situação de cyberbullying. De forma bastante resumida, a ideia é que se busque resolver a situação diretamente com os envolvidos no conflito (geralmente outras crianças e adolescentes, e seus respectivos pais). Se não for possível identificar o(s) agressor(es) e/ou não for possível resolver o conflito de forma mediada, o caso deve ser comunicado ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público ou à delegacia de polícia mais próxima quando houver atos infracionais, como agressão física ou moral. O responsável legal da vítima deve fazer um boletim de ocorrência com provas – mensagens, fotos, número de celular dos agressores etc. – para que se iniciem as investigações. Veja: • Se o seu filho ou aluno está passando por esse tipo de situação, ofereça apoio e mostre que ele não está sozinho nem é culpado pelas ofensas que está sofrendo. • Provocações e ofensas na internet não devem ser respondidas. Ao passar por isso, grave todas as mensagens ou imagens. • Imagens ou comentários ofensivos podem ser denunciados ao próprio site, sendo possível bloquear o contato no celular, chat, e-mail e redes sociais. • Se perceber que algum colega de seu filho está sofrendo agressões pela internet, encoraje-o a denunciar e ajude-o. • Em casos de cyberbullying, é importante buscar diálogo com todas as partes envolvidas – autores, vítimas, pais/responsáveis e a escola, quando for o caso e quando for possível. 13 STOPBULLYING.GOV. Cyberbullying: Tips for Teachers. [20--]. Disponível em: https://www.stopbullying.gov/cyberbullying/tips-for- teachers/index.html. Acesso em: 15 jun. 2019. 19 • Os pais podem ser responsabilizados judicialmente pelas agressões que os filhos cometem, porém o mais adequado é tentar resolver essa situação com diálogo e orientação, já que crianças precisam do cuidado dos adultos, de ambos os lados da questão (SAFERNET BRASIL, 20--). Tendo em vista que a melhor maneira de resolver o conflito é, sempre que possível, pela via do diálogo, recomenda-se a conversa com o agressor, de modo a fazê-lo entender os danos nefastos que sua conduta vem causando na vida de outras crianças ou adolescentes. Inclusive, é importante ter em mente que, em alguns casos, o jovem que comete a agressão também é agredido, física ou moralmente, em outros contextos, seja no núcleo familiar, seja no círculo de outras crianças e/ou adolescentes. Como mostra o esquema a seguir, algumas das condutas que se deve recomendar ao agressor é o reconhecimento do erro e dos danos que a conduta vem causando à vítima, bem como o pedido de desculpas e a intermediação de pais e/ou outros adultos que o ajudem a lidar com a questão. Figura 4 – O que fazer quando desconfiar que cometeu cyberbullying Fonte: SAFERNET BRASIL (20--).20 • Bullying são atos de violência física e/ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados exclusivamente por crianças e/ou adolescentes, a partir de uma relação desigual de poder. • Cyberbullying é o bullying praticado pela internet. • A internet intensificou os efeitos nefastos da prática do bullying, tanto porque despojou as crianças e os adolescentes de qualquer refúgio (no mundo virtual, eles não têm mais a opção de voltar para casa ou ficar sozinhos), quanto porque possibilitou o anonimato, que potencializa a disseminação instantânea de mensagens e imagens ofensivas, violentas ou humilhantes. • Os principais casos de cyberbullying são praticados por colegas de classe por meio das redes sociais. • As questões de gênero, raça e orientação sexual interferem no cyberbullying, cada uma de um modo específico. Vê-se como fundamental o trabalho desses temas, ao lado da empatia e da representatividade desses grupos minoritários nas escolas. • A Lei Antibullying introduziu um programa em nível federal no país, o qual visa estabelecer definições e objetivos para o enfrentamento do bullying. Apesar disso, vê-se dificuldade da efetiva implementação do programa nas escolas. • As medidas de mediação e prevenção devem ser priorizadas como forma pacífica e pedagógica de lidar com os conflitos. • A escola tem responsabilidade sobre os casos de cyberbullying que reproduzem práticas que já ocorrem entre os mesmos adolescentes no ambiente escolar. 21 ALMEIDA, Ana Maria Tomás de. Recomendações para a prevenção do cyberbullying em contexto escolar: uma revisão comentada dos dados de investigação, Unilasalle, Canoas, jan./jul., 2014. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Educacao/article/view/1657. Acesso em: 15 jun. 2019. SAFERNET BRASIL. Comportamento online: ciberbullying. [20--]. Disponível em: https:// new.safernet.org.br/home?field_subject_value=Comportamento%20Online&field_comportamen to_online_value[0]=Ciberbullying&field_type_value=All&page=2. Acesso em: 1 abr. 2019. 22 • Compliance – é um conjunto de disciplinas usadas para fazer cumprir as normas legais. Pode também ser entendido como uma forma de fiscalização pública dentro de ambientes privados. • Misógino – aquele que apresenta preconceito contra mulheres ou meninas. • Ordenamento jurídico – conjunto de leis vigentes em um determinado país. • Pornografia de vingança – exposição pública na internet de vídeos íntimos, geralmente de mulheres, por motivos atrelados à vingança e ao ressentimento. Por exemplo, após o término de um relacionamento, o ex-namorado de uma garota “vaza” os vídeos íntimos dela como forma de retaliação. • Sextortion (sextorsão) – é a prática mediante a qual chantageia-se uma pessoa, para que realize determinado comportamento, em troca da manutenção do sigilo de fotos e outros materiais íntimos que se tenha da pessoa.
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