Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
7ª ETAPA – MÓDULO 03– PROBLEMA 03: PARKINSON INTRODUÇÃO ÀS SÍNDROMES DEMENCIAIS • Definição: Definimos como síndrome demencial (ou transtorno neurocognitivo maior) aquela caracterizada pela perda das funções cerebrais cognitivas, ou seja, funções importantes para o aprendizado e para a realização de tarefas (memória, linguagem, reconhecimento (= gnosia), destreza (= praxia), raciocínio, cálculos, julgamento, personalidade...), o que acaba prejudicando as atividades sociais e profissionais do indivíduo, sem que haja alterações no nível de consciência. • De acordo com a etiologia, podem ser reversíveis ou irreversíveis. • Tais síndromes, por definição, são arrastadas, com típica evolução após anos, sendo a doença de Alzheimer a principal representante. • Duas observações importantíssimas sobre a demência: o Não depende da alteração do nível de consciência. o Somente a perda da memória não permite o diagnóstico da síndrome demencial. • Existem dezenas de patologias capazes de causar demência. EPIDEMIOLOGIA • Estima-se que 4% da população acima de 65 anos tenha demência grave e 11% demência moderada. • Acima de 85 anos o percentual de pessoas com demência pode chegar a 50% em alguns estudos. • Mais comum e idosos o As principais causas de demência (degenerativas, vasculares...) incidem principalmente na população idosa. • A Doença de Alzheimer é a causa mais comum de Demência o Causa de mais de 50% dos casos de demência o 5-10% dos pacientes acima de 65 anos e 20-40% dos acima de 85 anos. • Em segundo lugar vem a demência vascular o 10 a 20% dos casos ETIOLOGIA DAS DEMÊNCIAS: DEGENERATIVAS • ALZHEIMER • Doença de Lewy • Doença de Pick • Parkinson • Doença de Huntington • Paralisia supranuclear progressiva PSIQUIÁTRICAS • Depressão • Esquizofrenia METABÓLICAS • Doença de Wilson (Doença hereditária - provoca um acúmulo de cobre) • Hipotireoidismo • Síndrome de Cushing • Uremia • Insuficiência hepática NUTRICIONAIS • Deficiência de vitamina B12, niacina (B3) e tiamina (B1) OUTRAS • VASCULAR • Neoplasias • Hidrocefalia de pressão normal • Trauma • Infecções • Álcool, drogas, metais pesados CLASSIFICAÇÃO • As demências são divididas em dois grandes grupos: o Demências com comprometimento estrutural do SNC o Demências sem comprometimento do SNC ▪ Ocorre de forma secundária a doenças sistêmicas • Doenças cardiovasculares e endócrinas ▪ Ao uso de drogas (como hipnóticos, antipsicóticos e antidepressivos) FATORES DE RISCO PARA ALZHEIMER • Pacientes com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) o 1 a 6% no mundo e 20% indivíduos entre 80 e 90 anos • Sexo feminino • Sedentarismo e dieta hiperlipídica • Baixa escolaridade • Atividade intelectual empobrecida • Pouco contato social o Viver sozinho • Idade avançada • Passado de AVC • Hipertensão arterial sistêmica • Tabagismo • Genética e Histórico Familiar o Mais de 20 loci genéticos foram relacionados à manifestação de DA o Principal: presença do alelo 4 da apolipoproteína E (APOE4) • Presença de Apoliproteína E pelo movito elucidado acima FISIOPATOLOGIA • A doença de Alzheimer é causada por: o Atrofia cerebral (principalmente dos lobos temporais) o Emaranhados Neurofibrilares Intracelulares o Placas Senís (Amiloides) Extracelulares • Trata-se de uma demência do tipo cortical. • Os neurônios do córtex cerebral (especialmente dos lobos parietais e temporais, hipocampo e núcleo basal de Meynert) estão depletados de acetilcolina e outros neurotransmissores. o O núcleo basal de Mynert é um núcleo presente na região septal do lobo frontal. o É a principal fonte de acetilcolina cerebral o Possui importantes conexões com o sistema límbico (hipocampo etc.). • A degeneração neuronal é decorrente do acúmulo de placas senis amiloides (formadas pela proteína amiloide Aβ) no interstício • Ocorre também acúmulo de proteína tau, formando os emaranhados neurofibrilares no citoplasma dos neurônios o Estruturas intracelulares encontradas principalmente hipocampo, amigdala e núcleos da base. • A formação dessas estruturas leva a perda da ligação sináptica e atrofia cerebral. • O cérebro passa a ter: o Aumento de ventrículos e de sulcos o Diminuição do peso do encéfalo. • As placas amiloides e os emaranhados neurofibrilares começam a surgir cerca de 20 anos da instauração da DA. QUADRO CLÍNICO • Pela possibilidade de anosognosia (incapacidade em reconhecer a própria doença), a história deve ser obtida com o paciente + algum familiar separadamente • As primeiras manifestações que surgem são relacionadas ao comprometimento da memória para fatos recentes - amnésia anterógrada o Memória declarativa ou explícita • Desorientação Temporoespacial - perda do senso geográfico o Qualquer que universal e presente em quase todos os portadores de DA o Bastante precoce também • Alterações na Linguagem o Anomia o Diminuição da fluência verbal • Apraxia ideomotora (incapacidade de repetir e executar gestos) e construcional (incapacidade de operar instrumentos, se vestir, comer, copiar figuras) • Diversos graus de afasia o Geralmente do tipo sensorial incompleta e anomia • Acalculia e graus variados de agnosia o Perda do reconhecimento sensorial • Sintomas Neuropsiquiátricos o Distúrbios do Humor ▪ Depressão acomete – 25-30% ▪ Sintomas depressivos – 70% o Delírios e Alucinações ▪ Delírios de roubo e ciúmes atingem mais de 30% dos pacientes • Principalmente em homens ▪ Alucinações visuais atinge 20% dos pacientes • São mais comuns e precoces em pacientes com doença de Lewy o Alterações de Personalidade ▪ Apatia e desinteresse o Distúrbios de Comportamento ▪ Agressão física e verbal, agitação psicomotora e comportamento sexual inapropriado podem surgir em 30-80% ▪ Estão associados com a gravidade da doença • Alterações no equilíbrio, marcha e força muscular só estão presentes nas fases finais da doença – restrito ao leito o Ela não cursa com distúrbios motores (paresias, espasticidade), salvo nas fases finais da doença. o Pode ser diferenciada clinicamente da segunda causa mais comum de demência: a demência vascular ▪ Tem evolução mais rápida (após cada infarto cerebral se estabelece de maneira aguda um novo deficit neuropsiquiátrico, que se torna permanente) e manifesta-se com síndrome piramidal e extrapiramidal precoces e graus avançados de afasia, predominantemente motora. • O óbito costuma ocorrer em até dez anos após o diagnóstico, sendo suas causas geralmente relacionadas ao estado avançado de debilidade e imobilidade, como broncoaspiração, embolia pulmonar, desidratação, desnutrição e complicações infecciosas. • O diagnóstico da etiologia da demência degenerativa depende de dois aspectos: o (1) o tempo de evolução; o (2) a ordem com que as funções cognitivas vão sendo perdidas. DIAGNÓSTICO • É feito pelo quadro clínico compatível e pela exclusão de outras causas de demência o Existem dezenas de causas de demência. o Não dá para fazer o diagnóstico etiológico só com a anamnese, ela é importante para o diagnóstico sindrômico. EXAMES COMPLEMENTARES • Neste intuito, deve-se solicitar: o TC de crânio ▪ Pesquisa de Hematoma subdural crônico, Hematoma subdural crônico, Hidrocefalia de pressão normal, ... o Exame de sangue ▪ Anemia, Intoxicação por álcool e drogas, ... o Hormônios tireoidianos ▪ Hipotireoidismo o Vitamina B12 ▪ Hipocobalaminemia o VDRL ▪ Neurossífilis o HIV ▪ Demência relacionada ao HIV • Coleta de líquor o Evidencia diminuição da proteína beta amiloide por acúmulo no espaço extracelular e aumento da proteína tau por morte neuronal. o A relação entre a beta amiloide e a proteína tau costumaestar diminuída e este acho tem alto valor preditivo negativo. • TC e a RM podem ser: o Normais o Mostrar atrofia cerebral, predominando nos lobos parietal, temporal e hipocampo. • O SPECT ou PET o Diminuição da atividade nas áreas cerebrais mais afetadas. HISTÓRIA CLÍNICA • Através da anamnese com a pesquisa do comprometimento cognitivo (memória, gnosia, praxia, linguagem, raciocínio, cálculos...) e do desempenho nas atividades diárias. • Além disso, deve-se avaliar o humor do paciente para detectar um possível quadro de depressão, que pode cursar com um quadro de pseudodemência • A função cognitiva pode ser avaliada pelo o Miniexame do Estado Mental (“minimental”), um teste simples e rápido o Avalia a orientação no tempo e no espaço, memória, cálculo, linguagem, habilidades visuais e construtivas. o O escore do teste varia de 0 a 30 pontos: quanto maior a pontuação, melhor o desempenho do paciente. o É fortemente influenciado pela escolaridade, portanto teremos pontos de corte diferenciados conforme a escolaridade: ▪ 19 pontos para analfabetos; ▪ 23 pontos para quem estudou de 1 a 3 anos; ▪ 24 pontos quem estudou de 4 a 7 anos; ▪ 28 pontos para aqueles que estudaram mais de 7 anos. OBSERVAÇÃO!!! • Chega alguém e te pergunta: existe exame diagnóstico específico para Doença de Alzaimer? • Você, despois de ler todo o resumo vira para a pessoa e responde: SIM! • A pessoa: Como?! Você não estudou que o diagnóstico é clínico?! • Você responde: Perguntou se existe, não se é útil ou indicado. A única forma de se realizar diagnóstico definitivo é através de UM EXAME ANATOMOPATOLÓGICO DE BIÓPSIA CEREBRAL...que com certeza não deve ser indicada para doentes vivos. • Recentemente, a Academia Brasileira de Neurologia propôs algumas mudanças nos critérios de diagnóstico da Alzheimer. • Deixou de ser um diagnóstico essencialmente clínico e de exclusão de outras causas de demência e passou a incluir também avanços recentes da pesquisa médica, como biomarcadores. • Além disso, passou a incluir uma fase pré-clínica e uma fase de comprometimento cognitivo leve, anteriores à demência. 1. DEMÊNCIA DA DE ALZHEIMER: CRITÉRIOS CLÍNICOS CENTRAIS • 1. Demência da doença de Alzheimer provável (modificado de McKhann et al., 2011) Preenche critérios para demência e tem adicionalmente as seguintes características: o 1.1. Início insidioso (meses ou anos). o 1.2. História clara ou observação de piora cognitiva. o 1.3. Déficits cognitivos iniciais e mais proeminentes em uma das seguintes categorias: ▪ Apresentação amnéstica (deve haver outro domínio afetado). ▪ Apresentação não amnéstica (deve haver outro domínio afetado). • Linguagem (lembranças de palavras). • Visual-espacial (cognição espacial, agnosia para objetos ou faces, simultaneoagnosia, e alexia). • Funções executivas (alteração do raciocínio, julgamento e solução de problemas). o 1.4. Tomografia ou, preferencialmente, ressonância magnética do crânio deve ser realizada para excluir outras possibilidades diagnósticas ou comorbidades, principalmente a doença vascular cerebral. o 1.5. O diagnóstico de demência da DA provável não deve ser aplicado quando houver: ▪ Evidência de doença cerebrovascular importante definida por história de AVC temporalmente relacionada ao início ou piora do comprometimento cognitivo; ou presença de infartos múltiplos ou extensos; ou lesões acentuadas na substância branca evidenciadas por exames de neuroimagem; ou ▪ Características centrais de demência com corpos de Lewy (alucinações visuais, parkinsonismo e flutuação cognitiva); ou ▪ Características proeminentes da variante comportamental da demência frontotemporal (hiperoralidade, hipersexualidade, perseveração); ou ▪ Características proeminentes de afasia progressiva primária manifestando-se como a variante semântica (também chamada demência semântica, com discurso fluente, anomia e dificuldades de memória semântica) ou como a variante não fluente, com agramatismo importante; ou ▪ Evidência de outra doença concomitante e ativa, neurológica ou não neurológica, ou de uso de medicação que pode ter efeito substancial sobre a cognição. • Os seguintes itens, quando presentes, aumentam o grau de confiabilidade do diagnóstico clínico da demência da DA provável: o A – Evidência de declínio cognitivo progressivo, constatado em avaliações sucessivas; o B – Comprovação da presença de mutação genética causadora de DA (genes da APP e presenilinas 1 e 2); o C – Positividade de biomarcadores que reflitam o processo patogênico da DA (marcadores moleculares através de PET ou liquor; ou neuroimagem estrutural e funcional). • A ocorrência do item A confirma a existência de um mecanismo degenerativo, apesar de não ser específico da DA. 2. DEMÊNCIA DA DOENÇA DE ALZHEIMER POSSÍVEL • O diagnóstico de demência da DA possível deve ser feito quando o paciente preenche os critérios diagnósticos clínicos para demência da DA, porém apresenta alguma das circunstâncias abaixo: • 2.1. Curso atípico: início abrupto e/ou padrão evolutivo distinto daquele observado usualmente, isto é lentamente progressivo. • 2.2. Apresentação mista: tem evidência de outras etiologias conforme detalhado no item 4 dos critérios de demência da DA provável (doença cerebrovascular concomitante; características de demência com corpos de Lewy; outra doença neurológica ou uma comorbidade não neurológica ou uso de medicação as quais possam ter efeito substancial sobre a cognição). • 2.3. Detalhes de história insuficientes sobre instalação e evolução da doença. 3. DEMÊNCIA DA DOENÇA DE ALZHEIMER DEFINIDA • Preenche critérios clínicos e cognitivos para demência da DA e exame neuropatológico demonstra a presença de patologia da DA segundo os critérios do NIA e do Reagan Institute Working Group. TRATAMENTO • É importante que o médico consiga perceber os sinais de CCL precocemente e identifique os fatores de risco de evolução para demência, para poder atuar sobre eles e conseguir diminuir a taxa de conversão ou retardar o início de um quadro demencial • Ainda não existe medicamento comprovado para o tratamento do CCL. Apesar disso, existe uma combinação de vitaminas e minerais que mostram algum impacto na progressão em alguns estudos, mas que precisam de mais dados para serem amplamente recomendados. • Não existe tratamento específico para a doença de Alzheimer. Como a hipótese principal é a deficiência de acetilcolina, o tratamento atualmente disponível é com base nos anticolinesterásicos de ação central (impedem a degradação da acetilcolina na fenda sináptica MEDICAMENTOS ANTICOLINESTERÁSICOS LEVE E MODERADO • Galantamina 16-24mg/ dia em 2 doses, ou dose única utilizando a cápsula de liberação prolongada. • Rivastigmina 6-12mg/ dia em 2 doses • Donepezila 5-10mg/ dia em 1 dose. o Por evitar a toxicidade hepática e por ser administrado uma vez ao dia, é o de maior vantagem terapêutica entre os quatro. • Tacrina 10-20 mg VO 6/6h o Também chamada tetra-hidroaminoacridina o A desvantagem da tacrina é em relação aos seus efeitos adversos, entre eles a hepatotoxicidade, por isso praticamente não é utilizada hoje em dia. • Não são capazes de reestabelecer a função cognitiva já degradada, tem como objetivo retardar a evolução da doença. • A escolha entre um deles é baseada na interação medicamentosa, posologia e efeitos adversos o Mais comuns são obviamente os colinérgicos: diarreia, náusea, vômito, bradicardia... CASOS GRAVES • Memantina 10-20mg/dia o Antagonista do receptor do glutamato → neurotransmissor tóxico para os neurônios o Retarda a progressão da doença e melhora os sintomas comportamentais o Associado a um inibidor da colinesterase, ou o uso isolado para pacientes que não tenhambenefício ou não toleram os anticolinesterásicos. ANTIOXIDANTES • Existem evidências que o uso de vitamina E em altas doses (2000UI/dia em 2 doses) é capaz de retardar a progressão da doença • Seleginina (inibidor da monoamina oxidase) • A vitamina E, por ser mais barata e melhor tolerada, leva vantagem sobre a seleginina. ANTIDEPRESSIVOS • Para pacientes com depressão é recomendado inibidor seletivo da recaptação da serotonina (citalopram, sertralina) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DEMÊNCIAS TRATÁVEIS: • (1) hipotireoidismo; • (2) deficiência de vitamina B12; • (3) neurossífilis; • (4) complexo de demência relacionado à Aids; • (5) tumores cerebrais; • (6) hidrocefalia comunicante normobárica. DEMÊNCIAS NÃO TRATÁVEIS: • (1) demência vascular multinfarto; • (2) doença de Binswanger; • (3) doença de Pick; • (4) doença dos corpúsculos de Lewy difusos; • (5) doença de Huntington; • (6) paralisia supranuclear progressiva; • (7) outras. Como foi dito, a maioria dos exames solicitados são para diagnóstico ou exclusão dessas causas.
Compartilhar