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Enzimas O que são enzimas? Quais são as suas características? São proteínas que catalisam reações no nosso organismo sem sofrer alterações durante esse processo. Com exceção de um pequeno grupo de moléculas de RNA com propriedades catalíticas, chamadas de ribozimas, todas as enzimas são proteínas. Características: ● altamente eficientes; ● específicas pelo substrato; ● aceleram a velocidade das reações (105 a 107 vezes) sem ser consumidas ou alteradas ao participar da catálise; ● diminuem a energia de ativação, não alteram o equilíbrio químico das reações; ● funcionam em solução aquosa em condições suaves de temperatura e pressão; ● agem em sequências organizadas; ● podem sofrer regulação da sua atividade. Ligação de um substrato no sítio ativo de uma enzima As enzimas são bem maiores que seu substrato. Observa-se abaixo. Há um local específico de ação da enzima com o substrato chamado de sítio ativo. Esse sítio ativo consiste em um sulco na superfície da enzima complementar ao formato do substrato. Na figura anterior, alguns resíduos de aminoácidos chave do sítio ativo estão indicados em vermelho. O substrato se liga e forma o complexo enzima-substrato, ES. Após ocorrer a reação, o produto é liberado e a enzima permanece inalterada. E + S ⇌ ES ⇌ EP ⇌ E + P Complexo enzima-substrato A complementaridade geométrica e eletrônica entre enzima e substrato depende de interações não covalentes (interações eletrostáticas, ligações de hidrogênio, interações de van der Waals e interações hidrofóbicas). Resíduos de aminoácidos que normalmente aparecem no sítio ativo de enzimas No sítio ativo das enzimas, normalmente há resíduos de aminoácidos que podem funcionar como doadores de prótons (ácidos) ou receptores de prótons (bases). Aminoácidos a uma distância do sítio ativo são críticos A estrutura tridimensional de uma enzima é muito importante para sua atividade catalítica, muitas vezes resíduos de aminoácidos que estão distantes do sítio ativo podem ser necessários para uma conformação adequada do sítio ativo. O sítio ativo de uma enzima é específico para o substrato Uma enzima pode diferenciar entre lig. alfa e beta de estruturas de carboidratos, podem diferenciar isômeros ópticos. Nomenclatura e classificação das enzimas As enzimas são denominadas acrescentando-se o sufixo -ASE ao nome do substrato da enzima ou a uma expressão que descreva sua ação catalítica. Ex: a urease é uma enzima que hidrolisa o substrato uréia. A união internacional de bioquímica e biologia molecular classifica as enzimas em 6 classes: 1. oxidorredutases: reações de oxidação-redução. 2. transferases: transferência de grupos funcionais. 3. hidrolases: reações de hidrólise. 4. liases: eliminação de grupos para formar ligações duplas. 5. isomerases: isomerização. 6. ligases: formação de ligação acoplada à hidrólise de ATP. Fatores que afetam a velocidade da reação enzimática: 1. concentração da enzima. 2. concentração do substrato. 3. pH do meio. 4. temperatura. 1. Efeito da concentração de enzima na velocidade da reação enzimática A velocidade da reação aumenta com o aumento da concentração da enzima, desde que seja oferecida uma concentração elevada do substrato. Esse gráfico mostra que a velocidade da reação enzimática é diretamente proporcional à concentração da enzima, desde que o substrato não seja limitante da reação. 2. Efeito da concentração do substrato na velocidade da reação enzimática A concentração de substrato necessária para que a velocidade da reação seja a metade da velocidade máxima. A concentração do substrato influencia na velocidade da reação. Quando a [substrato] é baixa, a maior parte da enzima vai estar livre, e nessa condição, a velocidade da reação vai ser baixa, porém, proporcional à [substrato]. A medida que [substrato] aumenta, a velocidade da reação também aumenta, e isso ocorre até que [substrato] não resulta em nenhum aumento da velocidade da reação, nesse ponto, a [substrato] é saturante, pois a [substrato] vai ser muito maior que a [enzima]. E aí, toda a enzima vai estar na forma de complexo enzima-substrato, nessa condição, a velocidade máxima vai ser alcançada e no gráfico teremos um platô. A [substrato] necessária para que a velocidade da reação seja metade da velocidade máxima, se chama Km (constante de Michaelis). Equação de Michaelis-Menten Como visto anteriormente, a curva que expressa a relação entre a [substrato] e a velocidade da reação enzimática é uma curva hiperbólica que pode ser expressa algericamente pela equação de Michaelis-Menten. Leonor Michaelis e Maud Menten estudaram a cinética enzimática e esses cientistas deduziram essa equação partindo da hipótese de que a etapa limitante da velocidade de reação enzimática é a quebra do complexo ES em produto e enzima livre. O Km fornece uma ideia de afinidade da enzima pelo substrato. Km alto: baixa afinidade da enzima pelo substrato. Km baixo: alta afinidade da enzima pelo substrato. Gráfico duplo recíproco Através de uma transformação matemática, é possível converter a equação de Michaelis-Menten na equação de Lineweaver-Burk. Repara-se que a representação gráfica do inverso da Vinicial versus o inverso da [substrato], nos fornece uma linha reta, e o ponto onde essa linha reta intercepta a ordenada é igual ao inverso da Vmáxima. E o ponto de interseção na linha da abscissa é igual ao inverso do Km negativo. Esse gráfico permite a determinação mais acurada do valor da Vmáxima e do Km. 3. Efeito do pH na velocidade da reação enzimática Destaca-se que cada enzima tem um pH ótimo no qual a atividade é máxima. Que é o pH no qual a sua atividade vai ser máxima. A atividade decresce em pH maior ou menor. Nesse exemplo há duas enzimas com perfil de atividade em função do pH bem distinto. Pepsina: enzima encontrada no estômago e seu pH ótimo é em torno de 1,6 (lembrando que o pH do suco gástrico é na faixa de 1-2). Glicose-6-fosfatase: é uma enzima dos hepatócitos e seu pH ótimo é em torno de 7,8 (próximo ao pH normal dos hepatócitos que é cerca de 7,2). Em resumo, o pH ótimo é geralmente muito próximo ao pH do ambiente no qual a enzima costuma ser encontrada. 4. Efeito da temperatura na velocidade da reação enzimática Curva em forma de sino, vai haver uma temperatura ótima, que corresponde a máxima velocidade da reação e acima da temperatura ótima temos uma diminuição progressiva da velocidade da reação enzimática devido à desnaturação térmica. Inibição enzimática De que maneira uma enzima pode sofrer inibição da sua atividade. Dois tipos: 1. reversível: competitiva e não competitiva. 2. irreversível. Inibição competitiva Neste tipo de inibição, o inibidor compete com o substrato pelo sítio ativo da enzima. Esse inibidor sempre vai ter uma estrutura química muito semelhante a estrutura química do substrato, e ele vai formar um complexo enzima-inibidor e não ocorrerá a catálise. Enquanto o inibidor estiver ligado ao sítio ativo da enzima ele impede que o substrato se liga à enzima. A ligação do inibidor não inativa a enzima e quando o inibidor se dissocia, o substrato pode ligar e reagir. Uma característica desse tipo de é que a inibição pode ser revertida pelo excesso de substrato. Inibição competitiva No gráfico A, na presença do inibidor competitivo (curva vermelha) existe um aumento do Km aparente na presença do inibidor. O mesmo pode ser observado no gráfico B (gráfico duplo-recíproco). No entanto, a velocidade máxima não é alterada na presença do inibidor competitivo. Na presença desse tipo de inibidor maior [substrato] é necessária para que se atinja uma determinada velocidade e por isso o Km aparente aumenta na presença do inibidor competitivo. Na inibição competitiva, o inibidor e o substrato competem pela enzima, isto é, não podem ligar ao mesmo tempo à enzima. O inibidor aumenta o Km, mas não altera a velocidade máxima. Na presença deste tipo de inibidor, maior concentração do substrato é necessária para que se atinja uma determinada velocidade, aumentando o Km aparente. Exemplo de inibição competitiva:estatinas. As estatinas são fármacos hipocolesterolemiantes (diminuem níveis plasmáticos de colesterol). Elas agem inibindo competitivamente a enzima HMGCoA redutase que controla a síntese do colesterol. E agem dessa maneira pois possuem uma estrutura química muito semelhante ao substrato desta enzima. Outros dois exemplos de inibição competitiva: A sulfanilamida tem uma estrutura química muito semelhante ao ácido paraminobenzóico (PABA) e por isso existe uma inibição competitiva na síntese de ácido fólico em microrganismos, atuam como agentes antibacterianos, pois os microrganismos necessitam de ácido fólico para sua replicação. Em humanos temos a possibilidade em casos de leucemia de utilizar um quimioterápico que é um metotrexato que inibe competitivamente a enzima responsável por converter ácido fólico em ácido tetrahidrofólico, que é necessário para a replicação celular. Dessa forma, não produzindo ácido tetrahidrofólico, ou produzindo menos, tem-se uma redução na proliferação celular. Inibição não competitiva Na inibição não competitiva, o inibidor tem estrutura química diferente do substrato e por essa razão ele não modifica o valor do Km. Ou seja, o inibidor reduz a Vmáx da reação, mas não modifica o Km. O complexo EIS (complexo enzima-inibidor-substrato) gera produto mas em uma velocidade desprezível. Inibição enzimática irreversível Nesse tipo de inibição ocorre uma ligação covalente do inibidor em grupo funcional essencial para a atividade da enzima, mas também pode ocorrer uma associação não covalente, porém estável do inibidor com a enzima. Exemplo: reação do inibidor diisopropilfluorofosfato com a enzima quimiotripsina (enzima proteolítica). Esse inibidor modifica um determinado resíduo de aminoácido muito importante para a atividade da enzima (Ser195), inibindo a enzima irreversivelmente. Regulação enzimática A regulação da atividade das enzimas possibilita ajustes finos nas vias metabólicas, que são necessários devido às alterações das condições das células. Existem dois mecanismos que são imediatos: ○ disponibilidade de substrato: quando tem pouco substrato ele vai limitar a velocidade da reação. ○ inibição do produto: quando tivermos muito produto, o excesso de produto pode inibir a velocidade da reação enzimática ou reduzir a afinidade da enzima pelo substrato. Existem ainda mais dois mecanismos imediatos: controle alostérico e modificação covalente. Existe um mecanismo de regulação lento, que consiste na síntese ou degradação da enzima, que pode levar horas a dias. Curva de saturação de uma enzima alostérica pelo substrato A curva de saturação de uma enzima alostérica pelo substrato é diferente da curva de saturação de uma enzima clássica (enzima que segue a cinética de Michaelis-Menten). A enzima que segue a cinética de Michaelis Menten apresenta uma curva de saturação pelo substrato do tipo hiperbólica, enquanto uma enzima alostérica apresenta uma curva sigmóide. Lembrando que a [substrato] que fornece a metade da Vmáxima numa enzima clássica (segue a sinética de Michaelis-Menten), é chamado de Km, e no caso da enzima alostérica, é chamado de Km aparente ou K0,5. Enzima alostérica: em geral, apresenta muita subunidades, e apresenta além do sítio ativo ela apresenta um sítio alostérico, onde o modulador ou efetor alostérico se liga (de forma reversível e não covalente). Regulação de uma enzima alostérica Enzima alostérica com 2 sítios: ○ Em azul: sítio catalítico onde se liga o substrato. ○ Em rosa: sítio regulatório onde se liga o modulador ou o efetor alostérico. No exemplo tem-se um modulador alostérico positivo (ou estimulador alostérico), o que significa que quando esse modulador positivo se ligar de forma não covalente ao sítio alostérico (sítio regulatório) vamos ter uma mudança de conformação da enzima, que vai ficar mais ativa, formando o complexo ES ativo, levando a uma maior atividade dessa enzima. Se tivéssemos um modulador alostérico negativo teríamos um processo semelhante, mas ao contrário. Ao invés da enzima ficar mais ativa quando o modulador alostérico interage no sítio regulatório, a enzima ficaria menos ativa. Regulação de uma enzima por modificação covalente Alguns exemplos de modificação covalente, a mais comum é a fosforilação. Outros exemplos: 1. Fosforilação 2. Adenilação 3. Acetilação 4. Miristoilação 5. Ubiquitinação 6. ADP-ribosilação 7. Metilação Regulação de uma enzima por fosforilação/desfosforilação A fosforilação consiste na adição do grupo fosforil em um ou mais resíduos dos aminoácidos serina, treonina ou tirosina. Esses três aminoácidos têm em comum o fato de apresentarem hidroxila na cadeia lateral e a fosforilação acontece sempre na hidroxila. A fosforilação ocorre por ação de uma enzima chamada proteína cinase (PK - violeta). Essa enzima catalisa a transferência do grupo fosforil terminal do ATP para a proteína em questão. A proteína que vai ficar fosforilada pode se tornar mais ativa ou menos ativa, dependendo da enzima. A desfosforilação sempre ocorre por ação de uma enzima fosfatase (PP - verde). Essa enzima hidrolisa o fosfato, liberando esse fosfato (Pi) para o meio. Exemplo de modificação covalente Regulação da atividade da enzima glicogênio fosforilase muscular por fosforilação. A enzima glicogênio fosforilase está presente no fígado e no músculo e catalisa uma reação fundamental para degradação da molécula do glicogênio. Nessa reação, ocorre a produção de glicose-1-fosfato, que é usada para síntese de ATP no caso da degradação do glicogênio muscular. A enzima glicogênio fosforilase, fundamental para que ocorra a degradação do glicogênio, pode existir em duas formas: ● Enzima desfosforilada ou Fosforilase b: pouco ativa (a esquerda): por ação de uma proteína cinase, chamada de fosforilase-cinase, ocorre a transferência de dois grupos fosforil do ATP para a fosforilase B, que se tornará fosforilada e fica ativa, também chamada de fosforilase a. ● Enzima fosforilada ou Fosforilase a: ativa: A redução da atividade dessa enzima ocorre pela remoção dos grupos fosfato por ação de uma enzima chamada fosfoproteína-fosfatase 1. E isso ocorre no músculo em estado de repouso. Exemplo de enzimas que sofrem fosforilação e desfosforilação Conforme visto anteriormente, a fosforilação da enzima glicogênio-fosforilase ativa essa enzima, mas nem sempre a fosforilação promove o aumento da atividade enzimática. Observa-se na tabela que algumas enzimas ao sofrerem fosforilação ficam pouco ativas, como é o caso da Acetil-CoA-carboxilase, Glicogênio-sintase, Piruvato-desidrogenase, HMG-Coa-redutase.
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