Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COLETÂNEA ALICERCE DO PARAÍSO VOLUME 5 IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL DO BRASIL organização e tradução: Secretaria de Tradução da IMMB São Paulo 6ª edição revisada – 2019 Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 2 Copyright by Sekai Kyussei Kyo - Atami M 456e Meishu-Sama, 1882-1955. Ensinamentos de Meishu-Sama/Organização e tradução IMMB, 6.ed. - São Paulo: Fundação Mokiti Okada, 2019. 200 p (Coletânea - Alicerce do Paraíso, v. 4) Título original: Tengoku no Ishizue Obra em 5 v. ISBN978-85-8355-057-0 (Obra Completa) ISBN978-85-8355-145-4 Fé no cotidiano 2. Aprimoramento 3. Pragmatismo religioso 4. Apego – Dívidas I. Título II. Série CDD-299.5631 Catalogação na publicação: Zilda Soledade – CRB 8/9909. Índices para catálogo sistemático: 1. Igreja Messiânica Mundial : Filosofia espiritualista de origem japonesa FUNDAÇÃO MOKITI OKADA EDIÇÃO: FUNDAÇÃO MOKITI OKADA Edição de Arte Setor de Comunicação e Marketing Projeto gráfico e diagramação: Rogério Luiz da Camara Impressão e acabamento: Ipsis Gráfica e Editora S/A IMMB: Divisão de Comunicação - Secretaria de Tradução da IMMB Revisão: Ivna Maia Fuchigami 6 ª edição – dezembro de 2019 Endereço para correspondência: Rua Morgado de Mateus, 77 – 3º andar – Setor Comunicação V. Mariana – São Paulo – SP – CEP 04015-050 Tel.: 11 5087-5000 Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 3 ÍNDICE APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO .................................................................................................. 5 AGRICULTURA NATURAL .............................................................................................................. 7 A GRANDE REVOLUÇÃO DA AGRICULTURA: O CULTIVO SEM USO DE ADUBOS EM UMA HIGIÊNICA E PRAZEROSA HORTA CASEIRA ........................................................................... 7 CULTIVO AGRÍCOLA SEM ADUBOS ........................................................................................ 12 A VITÓRIA DO CULTIVO NATURAL: A FORÇA DO SOLO ....................................................... 22 PRINCÍPIO DA AGRICULTURA NATURAL ............................................................................... 30 A GRANDE REVOLUÇÃO DA AGRICULTUR A: A CERTEZA DE 50% DO AUMENTO DA PRODUÇÃO DE ARROZ EM CINCO ANOS .............................................................................. 34 DANOS CAUSADOS PELAS PRAGAS ...................................................................................... 48 DANOS CAUSADOS PELOS VENTOS E CHUVAS ................................................................... 49 O PLANETA TERRA RESPIRA .................................................................................................. 51 ARTE ............................................................................................................................................... 53 PARAÍSO TERRESTRE ............................................................................................................. 53 A RESPEITO DO PARAÍSO TERRESTRE ................................................................................. 56 UMA CONSIDERAÇÃO SOBRE O PARAÍSO TERRESTRE ..................................................... 58 A ARTE DE DEUS....................................................................................................................... 60 RELIGIÃO E ARTE (1) ................................................................................................................ 62 RELIGIÃO E ARTE (2) ................................................................................................................ 64 RELIGIÃO ARTÍSTICA ............................................................................................................... 65 CIÊNCIA E ARTE ........................................................................................................................ 66 A MISSÃO DA ARTE................................................................................................................... 68 O PARAÍSO É O MUNDO DA ARTE ........................................................................................... 70 O PARAÍSO É O MUNDO DO BELO .......................................................................................... 71 PECULIARIDADES DA CULTURA JAPONESA ......................................................................... 74 A RESPEITO DO JARDIM DA TERRA DIVINA .......................................................................... 78 O SIGNIFICADO DA CONSTRUÇÃO DO MUSEU DE BELAS-ARTES ..................................... 82 SOCIALIZAÇÃO DA ARTE ......................................................................................................... 85 POR QUE AS OBRAS DE ARTE CHEGAM ÀS MINHAS MÃOS ................................................ 88 MOVIMENTO DE FORMAÇÃO DO PARAÍSO POR MEIO DAS FLORES ................................. 92 AS PLANTAS TÊM VIDA PRÓPRIA ........................................................................................... 95 A RESPEITO DA COLETÂNEA DE POEMAS YAMA TO MIZU (MONTE E ÁGUA) ................... 96 SOCIEDADE ................................................................................................................................... 98 O SER HUMANO E A LUTA ENTRE O BEM E O MAL ................................................................. 98 A SUPERSTIÇÃO DO ATEÍSMO ................................................................................................ 98 POR QUE O MAL SE REVELA ................................................................................................. 101 PESSOA MÁ, TEU NOME É TOLICE ....................................................................................... 104 O MALFEITOR É DOENTE ....................................................................................................... 105 COMO ACABAR COM OS CRIMES ......................................................................................... 108 A VERDADEIRA PESSOA FORTE ........................................................................................... 111 O HÁBITO DE RESIGNAÇÃO DOS JAPONESES ................................................................... 112 VENCER O MAL ....................................................................................................................... 113 SEJAM FORTES AS PESSOAS DE BEM ................................................................................ 119 DERROTAR OS MALFEITORES ............................................................................................. 121 INDIGNAÇÃO CONTRA O MAL ............................................................................................... 123 A SOCIEDADE E A LUTA ENTRE O BEM E O MAL .................................................................. 127 SENSO DE JUSTIÇA ................................................................................................................ 127 O MUNDO DO MAL .................................................................................................................. 130 EXCLUSÃO DO MAL ................................................................................................................ 134 A ORIGEM DA CORRUPÇÃO .................................................................................................. 136 A ORIGEM DOS MALES SOCIAIS ........................................................................................... 141 A VERDADEIRA CAUSA DA INSEGURANÇA SOCIAL ........................................................... 142 Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 4 O MAL SOCIAL É OU NÃO CAUSADO PELO AMBIENTE?..................................................... 144 É POSSÍVEL SOLUCIONAR OS MALES SOCIAIS? ................................................................146 A MÁ CONDUTA DAS CRIANÇAS ........................................................................................... 150 JORNAL QUE INSPIRA O BEM ................................................................................................ 152 OS VIRTUOSOS BEM-SUCEDIDOS NA VIDA ........................................................................ 154 A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL PODE SER EVITADA ........................................................ 155 A NAÇÃO ...................................................................................................................................... 160 DIRETRIZES PARA A RECONSTRUÇÃO DO JAPÃO ............................................................ 160 O IDEOGRAMA SU................................................................................................................... 164 UM NOVO CONCEITO DE PATRIOTISMO .............................................................................. 165 O JAPÃO É UM PAÍS CIVILIZADO OU BÁRBARO? ................................................................ 168 O CARÁTER DEPENDENTE DOS JAPONESES ..................................................................... 170 OS JAPONESES NÃO TÊM AMBIÇÃO .................................................................................... 175 NAÇÃO REGIDA PELO CAMINHO .......................................................................................... 178 OBEDIÊNCIA AO CAMINHO PERFEITO ................................................................................. 180 SEJA UM CIDADÃO DO MUNDO ............................................................................................. 183 RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E POLÍTICA ......................................................................................... 186 RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E POLÍTICA ...................................................................................... 186 RELIGIÃO E POLÍTICA............................................................................................................. 188 AS LEIS E O CARÁTER SELVAGEM DO SER HUMANO ........................................................ 189 PODER REVOGANTE E PODER LEGISLATIVO ..................................................................... 192 A TOLICE DO CONTROLE DA NATALIDADE ......................................................................... 193 NÃO MENOSPREZE OS CÁLCULOS ...................................................................................... 194 A EDUCAÇÃO PRECOCE É PREJUDICIAL ............................................................................ 197 POR QUE NASCEM GÊNIOS................................................................................................... 199 FONTES DOS ENSINAMENTOS E RESPECTIVA TRADUÇÃO EM JAPONÊS ........................ 201 Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 5 APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO É com imensa gratidão e alegria que disponibilizamos a edição revisada do volume 5 da coletânea Alicerce do Paraíso. Ensinamentos de Meishu-Sama são a revelação e cristalização do Amor de Deus por meio de palavras e ainda o próprio Caminho para vivermos o paraíso neste mundo. Sem dúvidas, para tal, são imprescindíveis transformações nos diversos setores da vida, e aprendemos com Meishu-Sama que a base delas “deve ser a revolução do pensamento humano”1. Neste volume, dividido em três capítulos, é possível conhecer diferentes aspectos sobre Agricultura Natural, Arte e Sociedade, na prática da fé messiânica. A essência do método da Agricultura Natural é a consciência de que o solo é um ser vivo criado por Deus para a produção de alimentos de origem vegetal. Com o desejo de expandir tal consciência, Meishu-Sama praticou a agricultura e publicou diversos textos a partir de 1948. Sua visão de vanguarda precedeu os diversos movimentos surgidos no século XX em prol de uma agricultura limpa, sustentável e livre de substâncias artificiais. Meishu-Sama ensinou-nos que a missão da arte é melhorar os sentimentos humanos, enriquecer e dar sentido à vida. Seu empenho na construção dos Protótipos do Paraíso em Hakone e Atami expressa seu firme propósito de socialização da arte ao maior número de pessoas. Na temática da sociedade, somos convidados a refletir sobre a importância da Religião e da Arte para superar a predisposição para a luta, ou seja, nosso caráter semicivilizado. O conflito entre o bem e o 1 Conforme Ensinamento “A Arte de Deus” publicado neste volume. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 6 mal é abordado em vários textos, bem como nos são apresentadas esclarecedoras considerações sobre Educação, Política, Economia, entre outras. Quanto às alterações em relação às edições anteriores deste volume , destacam-se: a) inclusão da fonte em que o Ensinamento foi publicado pela primeira vez (vide relação na página 246); b) inclusão do Ensinamento “A grande revolução da agricultura: o cultivo sem uso de adubos em uma higiênica e prazerosa horta caseira”, que anteriormente era publicado no volume 4, além da publicação na íntegra do texto: “A grande revolução da agricultura: a certeza de 50% do aumento da produção de arroz em cinco anos”. As alterações nos títulos estão indicadas no sumário. Os textos presentes neste volume constam na coletânea Tengoku no Ishizue (Alicerce do Paraíso), editada pela Igreja no Japão. A data do Ensinamento é, via de regra, aquela que consta nesta mesma coletânea. Ao final do livro, é possível ter acesso ao índice geral dos Ensinamentos publicados na coletânea Alicerce do Paraíso, por ordem alfabética e com a indicação do volume em que o texto consta. Que a força e a luz dos Ensinamentos de Meishu-Sama nos iluminem e nos guiem rumo à permanente melhoria do nosso pensamento e da nossa ação! Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 7 AGRICULTURA NATURAL A GRANDE REVOLUÇÃO DA AGRICULTURA: O CULTIVO SEM USO DE ADUBOS2 EM UM A HIGIÊNICA3 E PRAZEROSA HORTA CASEIRA No primeiro número da revista Tijo Tengoku, publiquei um artigo voltado para os agricultores em que detalhei o cultivo agrícola sem adubos. Desta vez, explicarei, principalmente, as hortas caseiras. Na referida revista e no jornal, divulguei os excelentes resultados obtidos pelos agricultores por meio do cultivo sem adubos. Acredito que os leitores tenham conseguido entender, em linhas gerais. As hortas caseiras são praticadas principalmente por leigos e, por essa razão, posso a afirmar categoricamente que as boas-novas do cultivo sem adubos traz uma grande alegria, tal qual uma luz que surge na escuridão. Até agora, nas hortas caseiras, utilizava-se principalmente esterco como adubo, mas manuseá-lo é, evidentemente, insuportável tanto pela questão do mau cheiro quanto por outros aspectos. Adotando-se o cultivo sem adubos, tais sofrimentos desaparecem, tornando-se uma prática higiênica e profundamente prazerosa. Além disso, é menos trabalhoso, e os resultados são bem melhores comparados aos da agricultura que usa adubos. Por conseguinte, é como se matassem dois coelhos com uma só cajadada. Vou enumerar as vantagens de cultivo: 1 – Sendo utilizado apenas composto à base de vegetais, o agricultor terá menos trabalho e estará livre da parte desagradável causada pelo uso de esterco; 2 – As hortaliças obtidas são de melhor qualidade e possuem sabor incomparável às cultivadas com adubos; 3 – O tamanho e a quantidade das hortaliças aumentam; 4 – O aparecimento de pragas 2 Até 1951, Meishu-Sama se referia ao método agrícola que desenvolveu como “cultivo agrícola sem adubos”. Somente após essa data é que ele passou a chamar de Agricultura Natural. 3 Título anterior: “A higiênica e agradável agricultura natural nas hortas caseiras”.Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 8 reduz-se a uma pequena fração quando equiparado ao cultivo com adubos,dispensando-se, adubos, dispensando-se, evidentemente, o uso de agrotóxico; 5 – A preocupação com a transmissão de parasitas, principalmente de lombrigas,torna-se desnecessária. Muitas outras vantagens poderiam ser citadas, mas relacionei apenas as principais. Uma vez que os espaços nas hortas caseiras são pequenos, normalmente não se plantam arroz nem trigo, e sim, hortaliças. Por essa razão, vou explicar as experiências de cultivo que tive com algumas delas. As batatas-inglesas são bem brancas, de consistência cremosa e de aroma agradável, que chegam a estimular fortemente o paladar. O tamanho e a produção reduzidos apontados pelos praticantes leigos se devem aos adubos anteriormente utilizados no cultivo das mesmas. Sem sua aplicação, o tamanho e a quantidade serão maiores. As plantas de milho são mais altas, os caules, mais grossos, e as folhas, bem mais verdes do que o comum. As espigas são mais grossas e compridas, com os grãos bem adensados e alinhados, macios e doces. As pessoas ficam admiradas com seu sabor inigualável. Os nabos são bem brancos, de casca lisa; seu comprimento e grossura apresentam-se maiores e são mais macios e saborosos que os comuns. A frequente ocorrência de textura fibrosa e com pequenas cavidades nos nabos são em decorrência do uso de adubos. Todas as hortaliças que são apropriadas para conservas, tais como acelga, mostarda, espinafre, repolho, possuem aroma Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 9 agradável, são volumosas, macias e muito apetitosas. No final do ano passado, um praticante de horta caseira trouxe-me três acelgas que pesavam mais de 5 kg cada uma. Eu nunca havia visto uma acelga daquele tamanho. Evidentemente, as leguminosas também têm bons resultados na produção pelo nosso método de cultivo. A altura da planta e as folhas são menores, como é o caso do edamame, [N .T.: soja ainda na vagem verde], mas a produção chega a dobrar. A maioria das vagens contém quatro grãos, e as de apenas um grão são muito raras. Com o cultivo por meio de adubos, tanto o caule como as folhas das leguminosas em geral crescem muito, e a ocorrência da queda de flores é maior. Consequentemente, a produção de grãos torna-se reduzida. Sem dúvida, a produção sem o uso de adubos aumenta de 50 a 100%. As berinjelas apresentam boa coloração, casca macia e aroma agradável. Não só pela aparência, mas também pelo sabor, quem já as provou não consegue comer as que são produzidas com adubos. Vou abreviar detalhes sobre a cebola, a cebolinha, o tomate, a abóbora, tipos de pepino e outros, cujas qualidades se mostraram excelentes. Especialmente, a abóbora apresenta textura muito cremosa e sabor adocicado indescritível. Entre os tubérculos, a batata-doce cresce tanto que chega a nos surpreender. Se deixá-la por muito tempo sem colher, torna-se inimaginavelmente grande. O mesmo se verifica com as frutas, em especial as cítricas. O caqui e o pêssego, entre outras, produzem frutos incomparavelmente mais saborosos do que os de cultivo com adubos. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 10 Acima está um breve relato. A seguir, explicarei o princípio e a utilização do composto. No cultivo sem adubos, é necessário o uso do composto. Existem dois tipos de composto: o de folhas de mato e o de folhas de árvores. O primeiro é apropriado para ser misturado à terra, e o segundo é indicado para fazer o berço de folhas4. A respeito disso, desejo expor o efeito da Agricultura Natural e seu princípio. Nosso método agrícola difere do usual com adubos porque, em primeiro lugar, considera o solo como uma matéria profundamente misteriosa feita pelo Criador para a produção de alimentos de origem vegetal. À vista disso, fazer o solo expressar sua vitalidade ainda mais é que possibilita o cumprimento de seu objetivo original. Desconhecendo este princípio e baseados em uma interpretação errônea, os antigos passaram, não se sabe desde quando, a usar adubos. Como resultado,o solo perde o vigor original e morre. Na tentativa de recuperar a vitalidade do solo, passaram a utilizar adubos de maneira indiscriminada, os quais intoxicaram as plantas. Dizem que o solo japonês empobreceu, mas a causa está, evidentemente, na aplicação de adubos. Especialmente nos anos recentes, como resultado do uso de fertilizantes químicos, o processo de degradação do solo acelerou. Uma boa prova disso consiste em acrescentar solo trazido de outro lugar quando ocorre queda da produção de arroz e, por meio dessa prática, observa-se a ocorrência de uma melhora temporária. Os agricultores interpretam que, devido ao cultivo realizado ao longo dos anos, houve o esgotamento de nutrientes da terra, que foram absorvidos pelas plantas e, com isso, a produção caiu. Portanto, acham que o ideal é trazer solos virgens e ricos em nutrientes de outro lugar. Contudo, isso é um grave erro, pois, na verdade, a cada ano, o solo perde sua vitalidade em consequência da utilização de 4 Berço de folhas: técnica utilizada em países de clima temperado para melhorar o desenvolvimento das plantas, aquecendo-se o solo. Vide também o Ensinamento “Cultivo agrícola sem adubos”, publicado neste volume. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 11 esterco e fertilizantes químicos. Com o acréscimo de terra isenta da toxina dos adubos, em parte, ocorre sua recuperação. Sendo assim, o composto tem por finalidade impedir a compactação do solo e aquecê-lo. Para tornar mais vigorosa a capacidade de crescimento das plantas,o fundamental é promover o desenvolvimento da raiz. O primeiro passo consiste em não deixar o solo compactar; daí a necessidade de se misturar composto ao solo. Para promover o crescimento dos pelos radiculares das plantas, deve-se utilizar o composto à base de mato, pois suas fibras são macias e não atrapalham o crescimento dos mesmos. As fibras das folhas de árvores, no entanto,são mais duras e, por esse motivo, não convém misturá-las ao solo. É melhor utilizá-las para formar um berço de folhas sob o solo, a fim de aquecê-lo. O ideal seria preparar uma camada de uns 30 cm de solo misturado ao composto à base de capim e, abaixo dela, um leito da mesma espessura, usando apenas composto à base de folhas de árvores. No cultivo de hortaliças em geral e de leguminosas, o processo descrito é conveniente, mas em se tratando de nabo, cenoura, bardana e similares, em que se visa ao crescimento das raízes, deve- se dimensionar as camadas de maneira adequada. Na medida do possível, fazer canteiros altos e possibilitar que as raízes recebam bastante sol fará com que o crescimento melhore muito. Em se tratando, por exemplo, de batata-doce, os canteiros altos devem ter mais ou menos 60 cm de altura, dispondo-se as mudas em uma distância de 30 cm uma da outra. Assim procedendo, será possível colher batatas-doces gigantes. Ouve-se dizer frequentemente que o melhor é dispor os canteiros em sentido Norte-Sul ou Leste-Oeste, mas esse procedimento é para que as plantas recebam incidência solar maior. Por essa razão, basta dispô-los levando em consideração a posição de melhor insolação e a direção do vento. Quando este é muito forte, há possibilidade de os caules se quebrarem ou de a terra se espalhar. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 12 Assim sendo, é necessário plantar árvores como quebra-vento, fazer cerca, objetivando minimizar a ação do vento. Como princípio, quanto mais limpo5 o solo for mantido, maior será a sua vitalidade. Portanto, a utilização de materiais inadequados no solo como o esterco traz resultados adversos. Mesmo que seja por desconhecimentodesse fato, o trabalho realizado não só será infrutífero, mas também trará resultados negativos. Evidentemente, os americanos jamais comem hortaliças produzidas no Japão, por temerem a presença de parasitas. Em se tratando do cultivo sem adubos, não haverá motivos para preocupação, o que é realmente uma grande revolução da agricultura e uma boa-nova para todos nós. Jornal Hikari 3, 30 de março de 1949 CULTIVO AGRÍCOLA SEM ADUBOS6 Para explicar o que é o cultivo agrícola sem adubos, começarei pelo seu princípio básico. Afinal, o que é o solo? Sem dúvida, ele foi feito pelo Criador para cultivarmos cereais e hortaliças, que são importantíssimos para a manutenção da vida humana. Por conseguinte, sua essência é profundamente misteriosa, impossível de ser decifrada pela ciência materialista. Até hoje, a agricultura, sem perceber, acabou tomando o rumo errado e, como consequência, menosprezou a força do solo, chegando à conclusão de que, para se obterem produtos agrícolas melhores, o solo dependia da adubação artificial, que usa esterco, fertilizantes químicos, entre outros, fato verificado até hoje. 5 Neste caso, o solo limpo significa um solo que não contém as impurezas dos fertilizantes e outros materiais tóxicos. 6 Título anterior: “Introdução à Agricultura Natural”. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 13 Consequentemente, com o empobrecimento e as modificações gradativas das características do solo, sua capacidade produtiva acabou diminuindo. Sem perceber isso, o ser humano se iludiu, acreditando que a causa das más colheitas é a falta de adubos e passou a utilizá-los em maior quantidade, o que acabou reduzindo, ainda mais, a força do solo. Atualmente, o solo japonês está tão pobre, que a unanimidade dos agricultores lamenta o fato. Vou listar alguns fatos para que fique claro como a adubação artificial é terrível. 1 – Hoje, o maior problema talvez seja o aparecimento de pragas. No entanto, sem procurar elucidar as causas do seu surgimento, os agricultores têm-se concentrado apenas no seu extermínio. Penso que eles agem assim justamente por não conseguirem descobrir a causa e acreditarem, sem alternativa, ser essa a melhor maneira de combatê-las. O fato é que as pragas surgem dos adubos, e o atual aumento das espécies de pragas é inteiramente decorrente do crescimento dos tipos de adubos. Os agricultores desconhecem que os pesticidas empregados, ainda que consigam combater os insetos indesejados, infiltram-se no solo e o degradam, causando o aparecimento dessas pragas. 2 – Absorvendo os adubos,as plantas enfraquecem acentuadamente e dobram-se com facilidade ante a ação do vento e da água. Da mesma forma, pela ocorrência da queda das flores, a quantidade de frutos é reduzida. Além disso, pelo fato de as plantas alcançarem maior altura e suas folhas se tornarem maiores, os frutos acabam ficando na sombra. Por essa razão, no caso do arroz, do trigo, da soja, as cascas ficam mais grossas e os grãos, menores. 3 – O sulfato de amônia ou a amônia presente no esterco, bem como os demais fertilizantes químicos, na maioria, são venenos violentos. Uma vez que eles são absorvidos pelas plantas, geralmente acabam sendo ingeridos também pelo ser humano. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 14 Mesmo que isso ocorra em quantidades ínfimas, não se pode dizer que essas substâncias não façam mal à nossa saúde. A realidade nos mostra que mais de 80% dos japoneses possuem parasitas, principalmente o verme intestinal, e sua causa evidentemente são as ovas contidas no esterco que se desenvolvem no interior do corpo humano. A própria Medicina está a afirmando ultimamente que, se suspender por dois a três anos a utilização do esterco como adubo, o problema de verme s e demais parasitas deixará de existir. Nesse aspecto, os resultados obtidos pela agricultura sem o uso de adubos são fabulosos. 4 – Ultimamente, o preço dos adubos tem aumentado, de modo que a despesa que se tem com eles é quase igual à receita oriunda da venda da produção aos órgãos controladores, cujos cálculos não condizem com os dos agricultores, que, por sua vez, são forçados a vender seus produtos também no mercado paralelo. 5 – É grande o esforço e o trabalho expendidos com a compra e a aplicação de adubos e inseticidas. 6 – Os produtos obtidos por meio do cultivo sem adubos são extremamente saborosos e, como se desenvolvem bem, tanto o tamanho do produto quanto a colheita são bem maiores que os adquiridos com adubos. Com o que acabamos de expor, creio que o leitor pôde compreender que a toxicidade dos adubos é realmente pavorosa e que o cultivo que não os utiliza é muito mais vantajoso. Em uma análise geral, podemos concluir que, na economia agrícola, não será nada difícil duplicar seu lucro. Não seria exagero afirmar que, na verdade, se trata de uma revolução jamais vista na agricultura japonesa. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 15 A seguir, vou apresentar o método e os resultados que atingi com minha experiência e os relatos de várias pessoas que já alcançaram excelentes resultados decorrentes da prática desse tipo de cultivo. O que penso é o seguinte: entre os japoneses, quantos deles conhecem o verdadeiro sabor das hortaliças e legumes? Diríamos que pouquíssimos. Isso porque, evidentemente, hoje não existe nenhum produto agrícola em que não se utilizem fertilizantes químicos e esterco. Absorvendo esses elementos, os produtos acabam perdendo o sabor atribuído pelos Céus. Se, ao invés disso, fizermos com que os mesmos absorvam os nutrientes da própria terra, seu sabor natural, que é realmente magnífico, surgirá espontaneamente. Minha alegria de viver tornou-se incalculavelmente maior após conhecer o sabor das hortaliças e legumes cultivados sem os adubos. Além da economia de dinheiro e de mão de obra, ficamos livres do desagradável mau cheiro e do risco da propagação de parasitas. Essas hortaliças tornam-se mais saborosas, reduz-se o surgimento das pragas e ocorre o aumento da produção. Enfim, matam-se sete coelhos com uma só cajadada7. Não consigo ficar sem agir por um minuto sequer diante de um problema tão sério. Quero levar esta boa-nova ao mundo inteiro e compartilhar seus benefícios o quanto antes possível. Primeiramente, quero explanar a teoria e sua prática. Afinal, qual é a capacidade do solo? Ele é formado pela união de três elementos fundamentais – terra, água e fogo –, que constitui a força da trilogia. Evidentemente, o elemento terra é a força fundamental para o desenvolvimento das plantas, e os elementos água e fogo são forças complementares. Logo, de acordo com a qualidade do solo, que é a 7 O ditado diz “Matar dois coelhos com uma só cajadada”, mas Meishu-Sama usou um número maior para enfatizar a vantagem de se praticar a agricultura sem adubos. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 16 força primordial, a influência nas plantas será boa ou má. Assim sendo, a condição básica para desenvolvermos um bom cultivo é a melhoria da qualidade do solo. Quanto melhores forem as propriedades do elemento terra, mais satisfatórios serão os resultados. Então, qual é o método para tornar o solo fértil? Sem dúvida, consiste em fortalecer sua vitalidade. Para tanto, é necessário, primeiramente, torná-lo puro e limpo, pois, quanto mais puro ele for, maior é sua força para o desenvolvimento das plantas. Até hoje, contudo, a agricultura considerava positivo aplicar ao solo o máximo possível de adubos, contrariando o que foi exposto acima, de onde se pode concluir o quanto ela está errada. Para explicar isso, acho que o leitor poderá compreender melhor se eu recorrer a uma explicaçãoque mostra o contrário dessa lógica. O que seria isso? Desde a Antiguidade, os adubos são considerados indispensáveis ao plantio, mas a verdade é que quanto mais os agricultores os aplicam, mais eles vão “matando” o solo. Com a adubação, conseguem-se bons resultados temporariamente. Pouco a pouco, no entanto, o solo vai-se envenenando, tornando-se necessário o uso de mais adubos para a obtenção de boas colheitas. Assim, quanto maior for a quantidade de adubos, maior será o resultado contrário. A melhor prova disso está no fato de que, quando a colheita de arroz começa a diminuir, os rizicultores acrescentam terras de outros locais ao seu campo irrigado, para melhorá-lo. Com esse procedimento, a produção agrícola aumenta temporariamente. Nesses casos, eles partem de um julgamento equivocado e interpretam que o cultivo consecutivo, ao longo dos anos, absorve os nutrientes do solo, causando seu empobrecimento. Entretanto, não percebem que isso ocorreu devido à sucessiva utilização de adubos. As terras novas, isentas de adubos, que são introduzidas ao arrozal, têm atividade mais intensa e, por isso, é possível obter bons resultados. Gostaria de encerrar a explicação teórica e esclarecer, uma a uma ,as vantagens práticas da não utilização de adubos. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 17 Um primeiro ponto a destacar como característica do cultivo sem adubos é a baixa altura das plantas. No cultivo com adubos, elas se tornam mais altas, e as folhas ficam maiores e mais densas. Tratando-se de leguminosas, conforme já me referi, os frutos ficam à sombra e não apresentam bom crescimento. Ocorre, também, uma maior queda das flores e, consequentemente, a frutificação também diminui. No caso da soja, em especial, se for cultivada sem adubos, a produção dobra, e nenhum grão se apresenta bichado. Ademais, seu sabor é incomparável, a ponto de deixar as pessoas admiradas. Da mesma forma, em outras espécies, como ervilhas, favas, a casca é excepcionalmente macia. Outro aspecto relevante é que, no cultivo sem adubos, jamais ocorrem fracassos. Às vezes, um leigo resolve plantar batatas e as colhe em quantidade reduzida e em tamanho pequeno. As pessoas costumam lamentar a péssima produção, mas não percebem que isso resultou do uso excessivo de adubos e interpretam o referido resultado de maneira equivocada, ou seja, atribuem o fracasso à falta de adubos e passam a usá-los em maior quantidade, o que faz piorar a situação. Se, nessas ocasiões, indagamos aos técnicos ou às pessoas experientes, estes dizem, por exemplo, que o motivo se encontra nas sementes, que não eram boas ou que foram semeadas fora da época apropriada, ou então, na acidez do solo. Todos dão respostas que fogem totalmente do ponto vital e sequer percebem a verdadeira causa. Contudo, as batatas produzidas sem o uso de adubos apresentam-se bem brancas, cremosas, de aroma agradável e saborosas. São tão deliciosas que, a princípio, nos fazem pensar que são de alguma espécie diferente. O mesmo se verifica com o inhame e outros tubérculos. A batata-doce, principalmente, deve ser plantada em canteiros altos e, entre estes, deve haver um a boa distância, de modo que recebam bastante sol. Dessa maneira, conseguem-se batatas enormes e deliciosas, capazes de impressionar qualquer pessoa. Aliás, parece que os próprios agricultores não costumam Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 18 adicionar muito adubo ao solo quando se trata de produzir batata- doce. Agora, tecerei considerações a respeito do milho. Seu cultivo sem adubos tem apresentado tão ótimos resultados, que merece um destaque especial. No início, por um ou dois anos, a colheita pode não satisfazer às expectativas, visto que as sementes ainda contêm as toxinas dos adubos. Entretanto, por volta do terceiro ano, os resultados já começam a aparecer. Sem toxinas no solo nem nas sementes, o milho cresce com o caule bastante grosso, e suas folhas apresentam um verde vivo. Se for plantado em um local onde não há escassez de água nem de sol, as espigas apresentam- se longas, com os grãos bem dispostos e sem espaços entre eles. Logo na primeira mordida, percebe-se que são ma cios e doces, com um sabor inesquecível. Quanto aos nabos, são branquinhos e lisos, cremosos, grossos e adocicados, o que os torna muito saborosos. Os nabos fibrosos e ásperos são decorrentes das toxinas dos adubos. Aliás, as hortaliças produzidas sem adubos apresentam boa coloração, maciez e um suave e agradável aroma que estimula o apetite e, em absoluto, encontra-se sinais de pragas. Uma vez que não é aplicado esterco na fertilização, são muito mais higiênicas. O que gostaria de recomendar especialmente são as berinjelas obtidas por meio do cultivo sem adubos. Elas apresentam excelente coloração, aroma agradável e casca macia, as quais realmente estimulam o apetite. Em minha casa, atualmente, ninguém mais aprecia as berinjelas produzidas com adubos. Na produção de arroz, deve-se misturar bem a palha do arroz picada ao solo alagado, pois a mesma, por absorver o calor, aquece o solo. Há,ainda, um detalhe já bastante conhecido: a água fria das Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 19 montanhas é prejudicial à plantação. Neste caso, não se devem fazer lagos intermediários no percurso de água, pois, devido à profundidade desses reservatórios, a água não chega a aquecer adequadamente. Por conseguinte, as valas devem ser as mais rasas e extensas possíveis. No caso de cucurbitáceas, como o pepino, a melancia, a abóbora, qualquer produtor consegue obter excelentes produtos, como nunca experimentara. Os pés de arroz e de trigo são baixos, mas no que se refere à qualidade e quantidade de grãos, são excelentes. O arroz, sobretudo, apresenta peso, brilho, consistência, além de excelente paladar, e vem sendo sempre classificado como arroz de categoria superior. A pesar da forma simples, creio que pude expor as vantagens do cultivo agrícola sem adubos. Não devem existir melhores perspectivas do que essas que mencionei para os praticantes das hortas caseiras que vemos, atualmente, em quase todos os lugares. Principalmente, porque a aplicação de esterco não só acarreta transtornos insuportáveis aos praticantes amadores, como também pode trazer resultados ruins, além dos inconvenientes e indesejáveis vermes intestinais, que acabam se hospedando no intestino humano. Até agora, embora fosse por desconhecimento de causa, trabalhava- se muito e obtinha-se pouco sucesso. Em contrapartida, no meu caso, apenas semeio e não tenho maiores trabalhos a não ser a remoção do mato, que preciso realizar de vez em quando, e obtenho excelentes hortaliças. Portanto, posso afirmar que não há nada mais gratificante do que esse método de cultivo. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 20 Embora não haja necessidade de adubos químicos nem de esterco, conforme já foi explicado, é preciso usar compostos naturais intensivamente. Vou detalhar a respeito. O mais importante para o desenvolvimento das plantas, em qualquer cultivo, é ter cuidado com as pontas das raízes. Esse cuidado consiste em fazer com que as radicelas cresçam livremente e, para isso, deve-se evitar o endurecimento do solo. O composto natural precisa estar semidecomposto, pois, se o estiver totalmente, acabará facilitando a compactação do solo. Aquele que é feito usando-se somente capim, decompõe-se rapidamente, mas o composto de folhas de árvores demora muito mais, devido às fibras e nervuras,que são duras; por conseguinte, é necessário deixá-lo por longo tempo, até que ocorra sua suficiente decomposição. Como já a afirmei anteriormente, a razão disso reside na obstrução do crescimento das pontas das radicelas causada pelas fibras e nervuras das folhas utilizadas comocompostos orgânicos. Ultimamente, ouvimos dizer que é bom fazer o ar chegar às raízes das plantas, mas acho que isso não tem sentido, pois sendo um solo poroso, que permite até passar o ar, nele se processará um bom desenvolvimento radicular. Por conseguinte, de fato, o ar nada tem a ver com isso. Manter o solo aquecido8 é outro ponto que merece atenção. No caso das hortaliças e legumes mais comuns, basta fazer uma camada de composto natural de mais ou menos 30 cm, a partir de uma profundidade de aproximadamente 30 cm. Tratando-se, por exemplo, de nabo, cenoura, bardana, cujas raízes constituem a parte mais importante, a profundidade deve ser compatível com o comprimento da raiz de cada planta. O composto à base de folhas de ervas e capim tem que ser bem misturado à terra. O composto à base 8 Vide nota de rodapé nº 4. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 21 de folhas de árvores deve ser aplicado para formar o leito sob o solo, conforme já expliquei anteriormente. Considero este o procedimento ideal. Ultimamente, fala-se muito na inconveniência da acidez do solo, mas a causa está nos adubos; portanto, se deixar de usá-los, essa preocupação passa a não mais existir. Há outro aspecto que surpreende as pessoas. A agricultura considera danosa a prática da cultura repetitiva. No entanto, tenho obtido ótimos resultados9 com esse procedimento. Além disso, a cada ano que passa, eles vêm melhorando. Pode até parecer milagre, mas há uma boa razão para isso. De acordo como que tenho declarado, para dar vida ao solo e ativar sua força, é necessário que se realize o maior número de vezes possível a cultura repetitiva, pois, assim, a terra cria naturalmente uma adaptabilidade no sentido de desenvolver melhor o cultivo de hortaliças e legumes. Sem a utilização de adubos, a quantidade de pragas poderá não chegar a zero, mas próximo a isso. Os próprios agricultores têm afirmado que o excede adubos aumenta as pragas. Para a produção de charutos, sabe-se que a melhor matéria- prima é produzida em Manila e Havana, que não apresenta folhas comidas por bichos, e o aroma é muito agradável. Certa vez, ouvi um especialista dizer que não se utiliza nenhum adubo na produção dessas folhas de fumo. A não ocorrência de insetos em ervas daninhas e o agradável aroma de algumas ervas silvestres comestíveis colhidas na primavera, entre elas a áster yomena e a salsa japonesa, são decorrentes, principalmente, da ausência de adubos. 9 Além do solo, vários fatores influenciam os resultados de culturas repetitivas; por isso, para colocá-las em prática, torna-se necessário um bom planejamento. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 22 Há mais um aspecto ao qual se deve estar atento: quando se introduz o cultivo sem adubos em uma terra de agricultura convencional em que os adubos vinham sendo utilizados, não se obtêm bons resultados durante um ou dois anos, porque a terra está “intoxicada”. É como uma pessoa que bebe, deixa de fazê-lo abruptamente e, por algum tempo, fica meio atordoada. O mesmo problema se verifica com os fumantes inveterados quando, de repente, suspendem o fumo, ou quando os viciados em morfina ou cocaína ficam sem estes entorpecentes e não aguentam ficar sem eles. Deve-se, portanto, ter paciência por dois ou três anos e, nesse espaço de tempo, com a diminuição gradativa das toxinas de adubos no solo e nas sementes, o solo começará a manifestar sua força. Com as considerações que acabamos de tecer sobre o cultivo sem adubos, o leitor deverá ter compreendido o quanto a agricultura tradicional está errada. Evidentemente, este novo método não tem nenhuma ligação com a fé, bastando utilizar os compostos naturais para se obterem resultados surpreendentes. Contudo, conseguiremos um efeito ainda melhor se, além desse procedimento, purificarmos o solo por meio da Luz de Deus. Coletânea Série Jikan, vol. 2, 1º de julho de 1949 A VITÓRIA DO CULTIVO NATURAL: A FORÇA DO SOLO10 O princípio da Agricultura Natural consiste em fazer manifestar a força do solo. Isto porque, até agora, o ser humano desconhecia a verdadeira natureza do solo, ou melhor, não lhe era dado conhecê-la. Tal desconhecimento levou-o a adotar o uso de adubos e, despercebidamente,acabou por colocá-lo em um a situação de total dependência em relação a eles,o que tornou essa prática uma verdadeira superstição11. 10 Título anterior: “A força do solo”. 11 Popularmente falando, a superstição é um tipo de crendice que não possui explicação científica. Ela é transmitida de geração para geração. Geralmente, quando não conhecem as causas e efeitos de certos fenômenos científicos, diversas pessoas atribuem a estes explicações não Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 23 No começo, por melhor que eu explicasse o que era o cultivo agrícola sem adubos,as pessoas não me davam ouvidos e riam de mim. No entanto, fui sendo recompensado aos poucos e, ultimamente, a cada ano que passa, os praticantes do cultivo natural têm aumentado, mesmo porque os resultados das colheitas, em toda parte, têm sido surpreendentes. Ainda que, no momento, a maioria seja da esfera dos fiéis de nossa Igreja, de hoje em diante surgirão gradativamente, em várias regiões, simpatizantes fora desse círculo. Nosso método agrícola está se expandindo rapidamente; portanto, já se pode imaginar que não está longe o dia em que ele será praticado em todo o território japonês. Assim sendo, falando francamente, acho que nossa forma de cultivo poderá ser divulgada como “movimento de derrubada da superstição do adubo”. Por ser uma agricultura que não usa absolutamente adubos, nem na forma de esterco nem de fertilizantes químicos, mas somente compostos naturais, é denominada de método de cultivo natural. Evidentemente, a matéria-prima dos compostos naturais são as folhas e os capins secos, que se produzem naturalmente. Contrariamente, os adubos químicos e os dejetos humanos, o esterco de cavalo ou galinha, os resíduos de peixe e as cinzas de madeira não caem do céu nem brotam da terra: são aplicados pelo ser humano. Portanto, não é preciso dizer que a utilização dos mesmos é antinatural. Originariamente, é certo que nada poderia existir neste mundo sem as benesses da Grande Natureza, ou seja, nada nasceria nem se desenvolveria sem os três elementos: fogo, água e terra. Em termos científicos, esses elementos correspondem, respectivamente, ao oxigênio do fogo, ao hidrogênio da água e ao nitrogênio da terra. racionais. Por exemplo, achar que passar sob uma escada pode dar azar. Contudo, Meishu-Sama amplia essa visão ao nomear outros tipos de superstição. Para ele, a crença cega na ciência e no progresso como tábua de salvação constitui igualmente uma forma de superstição. Ele ainda afirma que considerar superstição aquilo que não é, já é um tipo de superstição. Há diversos Ensinamentos da coletânea Alicerce do Paraíso em que o tema aparece: A ciência cria as superstições (vol. 1); Religião que revela Deus (vol. 1); Possessão por divindades (vol. 2); Insensibilidade em relação à religião (vol.2); A superstição da mentira (vol. 4); A superstição do ateísmo (vol. 5), entre outros. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 24 Na agricultura, não existe um só produto que não tenha relação com o oxigênio, o hidrogênio e o nitrogênio. Assim, Deus fez com que os cereais e as hortaliças que constituem os alimentos para a sobrevivência do ser humano possam ser produzidos na quantidade exatade sua necessidade. Analisando a lógica que se segue, será possível compreender isso perfeitamente. Seria um absurdo se Deus criasse o ser humano e não providenciasse os alimentos que lhe possibilitariam a vida. Logo, o fato de determinado país não conseguir produzir os alimentos necessários à sua população é porque, em algum ponto, ele não está de acordo com as Leis da Natureza criadas por Deus. Assim sendo, enquanto não se atentar para isso, não será possível sequer imaginar a solução para o problema da escassez de alimentos. A Agricultura Natural proposta por mim tem como base o princípio já citado, e o atual empobrecimento e o cansaço dos agricultores japoneses pela falta de alimentação serão solucionados sem dificuldades com a prática desse método. Deus, que a tudo vê, não deixa passar despercebida essa situação equivocada e, por meio de Seu grandioso amor e misericórdia de não os deixar desamparados, está se dignando levar, por meu intermédio, o princípio da Agricultura Natural ao conhecimento da sociedade. Urge, portanto, que os agricultores despertem e adotem o quanto antes nosso método. Só assim poderão sair dessa situação. Conforme já mencionado, os três elementos – fogo, água e terra –, são as forças motrizes para desenvolvermos os produtos agrícolas. Portanto, se houver uma boa incidência de Sol, se garantirmos um bom abastecimento de água e se plantarmos em uma terra pura, é certo que obteremos um grande êxito, jamais visto. Não se sabe quando, mas o ser humano cometeu um equívoco sem tamanho, que foi a utilização de adubos. Isso se deu por ele desconhecer, por completo, a natureza do solo. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 25 Efeitos contrários dos adubos No início, a aplicação de adubos traz considerável resultado Todavia, se essa prática durar por muito tempo,a ocorrência gradativa de efeitos contrários será inevitável. Ou seja: as plantas vão-se enfraquecendo, perdem a capacidade inerente de absorver os nutrientes existentes no solo e alteram suas características, precisando assimilar adubos como nutrientes. Poderão compreender melhor, se fizermos uma analogia com os toxicômanos. Quando alguém começa a fazer uso de drogas, sente uma sensação muito agradável e, durante certo período, muitas vezes, o funcionamento do cérebro se torna mais vivaz. Por não conseguir esquecer esse prazer, a pessoa, pouco a pouco, se aprofunda cada vez mais no vício e não consegue livrar-se dele. Nessa condição,quando o efeito do tóxico acaba, ela fica em estado de letargia ou sente dores violentas, e nada consegue fazer. Uma vez que a situação se torna intolerável, embora saiba o mal que isso lhe faz, acaba consumindo a droga novamente. E chega até mesmo a roubar, para obter recursos para adquiri-la. Fatos semelhantes são constantemente noticiados nos jornais e podemos compreender quão nocivo esse tóxico é. Aplicando tal lógica à agricultura, compreendemos de imediato e afirmamos que, hoje, todos os solos cultiváveis do Japão estão viciados em adubos, ou seja, gravemente doentes. Todavia, tendo-se tornado cegos adeptos dos adubos, os agricultores não conseguem despertar. Ocasionalmente, ao ouvirem minhas explicações, eles resolvem suspender o uso de adubos artificiais e iniciar o cultivo natural. No entanto, como nos primeiros meses os resultados são insatisfatórios, concluem, precipitadamente, que o certo mesmo é usar os adubos e, desistindo da mudança, voltam à prática anterior. Já que nosso método de cultivo está alicerçado na fé, as pessoas o praticam sem duvidar de nada do que eu digo. Assim Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 26 procedendo, elas chegam a compreender facilmente o verdadeiro valor da Agricultura Natural. Descreverei a sequência dos fatos que ocorrem com a mudança para a Agricultura Natural. No caso do arroz, ao se transplantarem as mudas para o arrozal, durante algum tempo a coloração das folhas não é satisfatória, e os talos permanecem finos e, no geral, o pé de arroz apresenta-se visivelmente bem inferior ao dos demais arrozais convencionais. Isso dá ensejo à zombaria por parte dos agricultores vizinhos, o que leva o produtor iniciante da nossa agricultura a vacilar, questionando se está no caminho certo. Cheio de preocupação e aflição, ele começa a orar a Deus. Passados dois ou três meses, os pés de arroz começam a se tornar mais viçosos e, na época do crescimento, pode ser observada uma ampla recuperação, o que traz um grande alívio para o agricultor. Finalmente, às vésperas da colheita, seu desenvolvimento já se apresenta normal ou até maior, o que tranquiliza os agricultores. Ao se proceder à colheita, ocorre o inesperado: o volume da produção do arroz, por exemplo, ultrapassa as previsões. Ademais, o produto é de boa qualidade, possui brilho e consistência, e seu sabor é inigualável. Geralmente, ele se enquadra na classificação tipo 1 ou 2 e, na pior das vezes, no tipo 3. Seu peso é também maior em uma proporção de 5 a 10% acima do peso do arroz cultivado com adubos, e o mais interessante é que, devido à sua consistência, o rendimento não se reduz com o cozimento; ao contrário, aumenta em 20% ou 30%. Assim, mesmo que a ingestão de arroz seja 30% a menos, a pessoa se sente plenamente satisfeita. Logo, até do ponto de vista econômico, é vantajoso. Logo, se todos os japoneses comessem o arroz da Agricultura Natural, o resultado seria equivalente ao que se obteria com um incremento de produção de 30%. Mesmo mantendo a quantidade de Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 27 produção atual, a importação de arroz se tornaria desnecessária, o que seria maravilhoso para a economia nacional. Superstição do adubo Esclarecendo melhor o assunto, o fato de as plantas parecerem fracas durante dois ou três meses se deve à presença de toxicidade dos adubos tanto no solo quanto nas sementes. Com o passar dos dias, essa toxicidade vai sendo eliminada, e o solo e a plantação tendem a melhorar, restabelecendo-se a capacidade original de ambos. Acho que esta teoria é perfeitamente compreensível para os agricultores, pois eles sabem que, após o acréscimo de água do campo do arrozal ou uma chuva forte, mesmo nos arrozais alagados em estado já degradado, sobrevêm certas melhoras. Isso ocorre porque o excesso de toxicidade dos adubos foi lavado e reduzido. Quando o desenvolvimento das plantas não é bom ,os agricultores costumam repor terras de outras localidades ao solo e, com isso, se observa uma ligeira melhora. Os agricultores acham que, com as sucessivas e contínuas plantações, o solo foi-se tornando pobre devido à absorção de seus nutrientes pelas plantas; por esse motivo, a melhora sobrevém com a reposição de novas terras. Todavia, isso é um equívoco, pois o solo se enfraqueceu e tornou-se pobre em decorrência da toxicidade dos adubos utilizados, ano após ano. Por intermédio dessa interpretação, podemos perceber facilmente o quanto os agricultores estão influenciados pela superstição do adubo. Os efeitos do uso de compostos orgânicos Vou explicar a aplicação de materiais orgânicos naturais. Em se tratando do cultivo de arroz 12 , corta-se a palha do arroz em pedaços bem pequenos, os quais devem ser bem incorporados ao solo, para aquecê-lo. No caso de outras culturas, em canteiros de terra, deve-se proceder à decomposição das folhas e do capim secos 12 No Japão, o cultivo do arroz se faz em canteiros alagados. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 28 e misturá-los bem à terra A razão disso é para evitar o endurecimento do solo, pois, neste caso, as raízes das plantas têm dificuldade para se desenvolver. A respeito disso, atualmente, dizem que é bom fazer o ar chegar às raízes, mas isso nãoé verdade, pois não há nenhuma razão para isso ser benéfico. Se o ar consegue chegar às raízes, é pelo simples fato de que o solo não está compactado. Trata-se de uma interpretação equivocada dos agrônomos a respeito disso. Assim sendo, no caso de cultivos cujas raízes não se aprofundam muito no solo, basta misturar à terra compostos de capim. Com relação aos produtos de raízes mais profundas, deve-se preparar um leito com compostos de folhas de árvores a uma profundidade de mais ou menos 30 cm, o qual servirá para aquecer a terra. Tratando-se da espessura do leito para as plantas de raízes profundas, pelo fato de existirem vários tipos de raízes, ele deve ter a espessura que seja de acordo com cada cultura. Geralmente, as pessoas pensam que existem elementos fertilizantes nos compostos naturais, mas isso não é verdade. Sua função é aquecer o solo, bem como não o deixar endurecer. No caso de ocorrer ressecamento do solo junto às raízes, é preciso forrar essa parte com uma quantidade considerável de compostos orgânicos, pois esse procedimento faz manter a umidade do solo. São esses, efetivamente, os três benefícios eficazes dos compostos naturais. Como puderam compreender pelo que foi exposto, a base da Agricultura Natural consiste em vivificar o solo, o que significa conservá-lo sempre puro, não utilizando impurezas como os adubos artificiais. Dessa forma, não encontrando nenhum empecilho, o solo poderá manifestar suas propriedades integralmente. Além disso, é estranho o fato de os agricultores afirmarem: “Vamos deixar o solo descansar”, o que também vem a ser um erro. Quanto mais se cultiva, melhor o solo se torna. Em termos humanos, quanto mais se trabalha, mais saudável se fica; quanto mais se descansa, menos saudável. A respeito disso, os agricultores interpretam de forma oposta, Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 29 acreditando que, quanto mais se realizam os cultivos de forma sucessiva, mais fraco o solo vai ficando, em virtude do maior consumo dos seus nutrientes pelas plantas e, assim, procuram beneficiá-lo fazendo-o “repousar”. Isto tudo está completamente errado. Devido aos equívocos, os agricultores acham que a cultura repetitiva é danosa e mudam a área de plantio todos os anos o que, lamentavelmente, é uma ignorância e está fora de cogitação. Cultura repetitiva,colheita farta Assim, em nosso método de cultivo, consideramos a cultura repetitiva uma prática benéfica. Uma prova disso é o milho que venho produzindo por sete anos, em Gora, Hakone, em uma terra misturada com pequenas pedras que, sem dúvida, seria classificada como incultivável. A pesar da má qualidade do solo, a colheita deste ano foi maravilhosa: as espigas, mais longas que o normal; os grãos, bem juntinhos e enfileirados, mais adocicados, macios e saborosos. Por que digo que a cultura repetitiva é boa? O solo tem a capacidade inerente e natural de se adaptar ao que é plantado nele. Se fizermos uma comparação com o ser humano, poderemos compreender melhor. As pessoas que executam trabalhos braçais têm seus músculos desenvolvidos; os escritores, que usam mais a cabeça, têm o seu intelecto evoluído. Por essa mesma razão, quem muda constantemente de profissão ou de localização não obtém sucesso, o que nos leva a concluir o quanto os agricultores estiveram errados até hoje. As boas-novas para a sericultura Finalizando, gostaria de dizer que, se criarmos o bicho-da-seda com folhas de amoreira cultivadas sem adubos, ele não adoecerá, seus fios serão de muito boa qualidade, resistentes, brilhantes, e o aumento da produção será garantida. Se tal prática fosse realizada Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 30 em nível nacional, evidentemente ocasionaria uma grande revolução no mundo da sericultura e traria incalculáveis benefícios à economia do nosso país. Jornal Eiko nº 79, 22 de novembro de 1950 PRINCÍPIO DA AGRICULTURA NATURAL Para que todos entendam realmente o princípio da Agricultura Natural, visto que é impossível fazê-lo por meio do pensamento que norteia a ciência atual, proponho-me explicá-lo pela ciência espiritualista, da qual tomei conhecimento por meio da Revelação Divina. No início, talvez seja muito difícil compreender esse princípio. Todavia, à medida que o lerem várias vezes e o saborearem bem, certamente hão de entender. Caso isso não ocorra, é porque o leitor ainda está preso às superstições da ciência e é bom que ele perceba isso. Os próprios fatos comprovam que o que eu exponho é a Verdade absoluta. Respeitando este princípio, é certo que, desde o primeiro ano, haverá um aumento de 10 a 50% na produção. Por outro lado, o método agrícola utilizado atualmente consiste na fusão do método tradicional com o científico. Julga-se que houve um grande progresso; porém, os resultados mostram exatamente o contrário, conforme podemos constatar pela grande quebra da produção no ano passado. A causa direta foi que as plantas do arroz não tinham força suficiente para superar as inúmeras adversidades climáticas que ocorreram. Todavia, qual a causa do enfraquecimento das plantas do arroz? Se eu disser que o fenômeno foi causado pelo tóxico chamado adubo, todos se surpreenderão, visto que os agricultores, até agora, vieram acreditando cegamente que o adubo é imprescindível para o cultivo agrícola. Em razão do pouco conhecimento dos agricultores e dos pontos cegos da ciência, não foi possível descobrir os malefícios dos adubos. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 31 É inegável o valor da ciência em relação a muitos aspectos. Entretanto, pelo menos no que se refere à agricultura, esta não somente é impotente, como também está completamente equivocada. Por exemplo, desconhecendo a verdadeira natureza do solo e o funcionamento dos adubos, considera apenas o método criado pelo ser humano, ignorando a força da Natureza. Prova disso é que, apesar de muitos anos de esforços em conjunto do governo japonês, dos agricultores e dos cientistas, não se vê nenhum progresso ou melhoria. Diante de uma fraca colheita como a do ano passado, podemos dizer que a ciência não consegue fazer nada, sendo vencida pela Natureza sem oferecer qualquer resistência, não havendo mais nenhum método a ser empregado. A agricultura japonesa está realmente em um beco sem saída. Não obstante, devemos alegrar-nos, pois Deus ensinou-me o meio de sair dele – a Agricultura Natural. Afirmo que não existe outra maneira de salvar o Japão. A seguir, vou explicar no que consiste este método agrícola. A origem do problema é a falta de compreensão sobre a verdadeira natureza do solo. Até agora, a agricultura tem negligenciado o solo, que é o principal, dando maior importância ao adubo, que é secundário. Pensem bem. Sem a terra, o que podem as plantas fazer, sejam elas quais forem? Um bom exemplo é o do soldado americano que, no pós-guerra, praticou a hidroponia no Japão, despertando grande interesse. Creio que ainda devem estar lembrados disso. No início, os resultados foram excelentes, mas ultimamente, pelo que tenho ouvido falar, ele acabou abandonando o método. De maneira semelhante, os agricultores fizeram pouco caso do solo, chegando a acreditar que os adubos eram o alimento das plantas. Com essa atitude, cometeram um terrível engano. O resultado é que o solo se tornou ácido, perdendo sua força original. Isso está muito bem comprovado pela grande diminuição da safra no Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 32 ano passado. Não percebendo seu erro, os agricultores gastam inutilmente elevadas somas em adubos, despendendo árduo esforço. É uma grande tolice, pois estão produzindo a própria causa dos danos. Empregarei o bisturi da ciência espiritualista para explicar a essência do solo. Antes, porém, é preciso conhecer seusignificado original. Deus, Criador do Universo, assim que fez o ser humano, criou o solo, afim de que este produzisse alimento suficiente para nutri-lo. Basta semear a terra que a semente germinará, e o caule, as folhas, as flores e os frutos se desenvolverão, proporcionando-nos fartas colheitas no outono. Assim, o solo que produz o arroz é um excelente especialista, ao qual deveríamos dar preferência. Obviamente, já que se trata da força da Natureza, a pesquisa sobre e força deveria ser o foco da ciência. Entretanto, esta se enganou: dependeu mais do poder humano do que da força da Natureza. O que é a força da Natureza? Trata-se da fusão dos elementos fogo, água e terra, originados, respectivamente, do Sol, Lua e Terra, resultando na incógnita X. O centro da Terra, como todos sabem, é uma massa de fogo, a qual é a fonte geradora do calor do solo. A essência desse calor atravessa a crosta terrestre e preenche o espaço até a estratosfera. Nessa essência, existem duas partes: a espiritual e a material. A parte material é conhecida pela ciência como nitrogênio, mas a parte espiritual ainda não foi descoberta por ela. Paralelamente, a essência emanada do Sol é o elemento fogo, que também possui uma parte espiritual e uma parte material; esta última é a luz e o calor, mas a outra também ainda não foi detectada pela ciência. A essência emanada da Lua é o elemento água, e sua parte material é constituída por todas as formas em que a água se apresenta; a parte espiritual, da mesma forma , ainda é desconhecida. O produto da união desses três elementos espirituais ainda não detectados constitui a incógnita X, por meio da qual todas as coisas Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 33 existentes no Universo nascem e crescem. Essa incógnita é semelhante ao Nada, mas é a origem da força vital de todas as coisas. Consequentemente, o desenvolvimento dos produtos agrícolas também se deve a essa força. Por esse motivo, podemos dizer que ele é o adubo infinito. Assim, reconhecendo-se essa verdade, amando e respeitando o solo, a capacidade deste se fortalece espantosamente. Este é o método agrícola verdadeiro e não existe outro. Portanto, praticando este método, o problema da agricultura será solucionado pela raiz. Há mais um fator importante. O ser humano, até agora, pensava que a vontade-pensamento 13 , assim como a razão e a emoção, limitava-se aos animais. No entanto, talvez se o leitor souber que eles também existem nos corpos inorgânicos, ficará boquiaberto. Obviamente, como o solo e as plantas também estão nessa mesma condição, respeitando-se e amando-se o solo, sua capacidade natural se manifestará ao máximo. Para tanto, o mais importante é não o sujar e torná-lo ainda mais puro. Com isso, o solo manifestará seu sentimento de alegria, e nem preciso dizer o quanto se tornará mais ativo. A única diferença é que a vontade-pensamento, nos animais, é mais livre e móvel, ao passo que o solo e as plantas não têm liberdade de movimento. Assim, mesmo no caso do arroz, se pedirmos com sentimento de gratidão uma farta colheita, nosso sentimento se transmitirá às plantas e, certamente, seremos agraciados. Por desconhecimento desse princípio, a ciência comete uma grande falha ao considerar que aquilo que é invisível e impalpável não existe. Jornal Eiko nº 245, 27 de janeiro de 1954 13 Vontade-pensamento: em japonês, ishi sonen. Termo utilizado por Meishu-Sama para expressar a intencionalidade do sonen. Para verificar a definição do termo, conferir a nota de rodapé nº 39 no Ensinamento “Por que o mal se revela”, publicado neste volume. Ademais, supõe-se que este tema se relaciona ao aspecto animista da religiosidade nativa japonesa. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 34 A GRANDE REVOLUÇÃO DA AGRICULTURA: A CERTEZA DE 50% DO AUMENTO DA PRODUÇÃO DE ARROZ EM CINCO ANOS14 Parte I Há mais de dez anos, descobri 15 e venho preconizando o método de cultivo agrícola natural, que permite obter fartas colheitas sem o uso de adubos químicos e de esterco e utiliza apenas compostos naturais. Naquela época, mesmo que eu me voltasse aos agricultores tentando convencê-los e fazer com que confiassem, quase ninguém me dava ouvidos e, apesar de ter me esforçado muito, não obtive resultados satisfatórios. Entretanto, desde o princípio, é minha convicção que, uma vez que esse método representa a Verdade absoluta, certamente chegará o dia em que os agricultores entenderão e perceberão que, se não for dessa forma , eles jamais serão salvos. Ao mesmo tempo, como considero que o próprio destino da nação está comprometido, cheguei ao dia de hoje sem me curvar nem esmorecer. No entanto, não sei se, feliz ou infelizmente, hoje, quando chegamos à grave situação que eu temia, tenho não só a forte sensação de que devemos fazer com que os agricultores os japoneses em geral passem a entender o cultivo agrícola natural. Do mesmo modo, comecei a vislumbrar uma grandiosa luz no futuro do nosso método agrícola e, finalmente, com a chegada do momento certo, sou levado a realizar uma ampla divulgação. O que também ajudou na implantação dessa forma de cultivo foi o fato que eu sou um religioso, pois não foram poucos os fiéis que, 14 Título anterior: “A grande revolução da agricultura”. 15 Cultivo agrícola natural: outro nome utilizado por Meishu-Sama para Agricultura Natural Messiânica. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 35 embora estranhassem bastante minha teoria, acreditaram e passaram a praticá-la, o que lhes possibilitou constatar os resultados positivos em um espaço de tempo relativamente curto. Desde então, vem crescendo o número de simpatizantes e, recentemente, não só os fiéis, mas os agricultores de fora da esfera da Igreja passaram a se interessar pela nossa agricultura. O Sr. Sadao Kanezaki, oficial do Ministério da Agricultura e Meio Ambiente, apresentou, sob um ponto de vista técnico, o resultado de uma rigorosa pesquisa realizada por vários anos que reconhece o surpreendente resultado do cultivo natural, o que me causa uma incontida satisfação. A razão de minha alegria é que, como nosso método de cultivo é norteado por preceitos religiosos, as pessoas em geral tendem a considerá-lo supersticioso. Todavia, creio que a declaração desse técnico do Ministério terá uma grande influência para anular essa imagem. Não resta dúvida de que o maior problema do Japão na atualidade é a escassez do nosso alimento principal. Após a guerra, vimos que não só o nosso território foi reduzido, como também a população vem aumentando progressivamente. Chegamos, atualmente, a 84 milhões de habitantes, e a situação acabou se tornando ainda mais tensa. Este ano, por exemplo, temos um déficit bem acima de três milhões de toneladas de arroz 16 . Com muito esforço, conseguimos ao menos estabilizar a situação, contando com a importação do produto de vários países. Uma vez que o valor da importação chega a mais de 100 bilhões de ienes, a economia nacional encontra-se em um patamar realmente difícil. Se esta questão não for solucionada, o futuro do Japão será preocupante. Além do mais, dependendo do cenário mundial, não se sabe nem quando nem que tipo de situação poderá se instaurar. Por essa razão, precisamos assegurar, a todo custo, uma quantidade básica necessária para nossa população. Assim sendo, o governo e os 16 A medida utilizada no original é o koku, uma unidade de volume utilizada no Japão. O déficit descrito no Ensinamento original era acima de 22 milhões, sendo que 1 koku corresponde à quantidade de arroz necessária para alimentar uma pessoa durante um ano. Coletânea Alicerce doParaíso – Volume 5 36 agricultores estão se empenhando o máximo nesse sentido, mas infelizmente não têm obtido sucesso. Da mesma forma, observa-se até mesmo uma tendência de redução na produção. Este ano, por exemplo, em comparação com o ano passado, houve uma diminuição de cerca de 450 mil toneladas na produção e, pelo pouco resultado que se pode esperar do controle de natalidade incentivado pelo governo, prevê-se um aumento demográfico anual superior a um milhão de habitantes. Portanto, nada pode ser feito em relação a essa grande crise, a não ser aguardar a ocorrência de um milagre marcante. Então, por que nosso país não consegue produzir arroz na quantidade necessária para alimentar a população? Este é o ponto fundamental que estou querendo expor. O fato é que havia um grande equívoco no método agrícola empregado até hoje: a utilização de adubos artificiais, como os fertilizantes químicos ou esterco. Todavia, ninguém se dera conta desse fato. Por que será que não se conseguiu perceber, até agora, um erro dessa dimensão? É porque, ao longo do tempo, inconscientemente, todos acabaram sendo tomados por um tipo de superstição em relação ao adubo. Como descobri esse erro, senti, fortemente, que eu tinha que despertar as pessoas dessa ilusão e realizar uma grande revolução no método agrícola. Por essa razão, criei esse movimento. Desejo expor minuciosamente o princípio e os procedimentos do nosso método agrícola, que permite a obtenção de fartas colheitas, utilizando apenas compostos naturais. Antes, porém, vou explicar os resultados do método de cultivo natural. Baseado na média alcançada pelos praticantes de todo o país, por meio do nosso método de cultivo no prazo de cinco anos consecutivos, será possível obter um aumento de 50% na produção. Imagino que as pessoas em geral, certamente, não conseguem acreditar. Considerando que, atualmente, a safra normal anual seja de 9 milhões e 450 mil toneladas, com o aumento de 50%, seriam 14 milhões e 175 mil toneladas. Mesmo que os japoneses comam à vontade, haverá um Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 37 excedente de 1 milhão e meio de toneladas. Por conseguinte, ao invés de importar, o Japão terá que exportar esse excedente. E não somente isso: trata-se de um método maravilhoso, uma vez que os gastos com adubos são dispensados e os danos causados pelas pragas, reduzidos a uma parte do que vemos hoje. Concomitantemente, os prejuízos causados pelas tempestades e enchentes serão reduzidos a menos da metade e, consequentemente, o trabalho, provavelmente, diminuirá drasticamente. Tudo isso se refere somente ao arroz, mas este método de cultivo se aplica também à produção agrícola em geral. Explicarei isso brevemente. Em primeiro lugar, todos os legumes e hortaliças cultivados pelo método natural apresentam, naturalmente, excelentes resultados. Por exemplo, as batatas-doces são gigantescas, de um tamanho surpreendente. Como a maioria pesa, em média, 2 quilos, a safra seguramente dobrará quando comparada ao cultivo convencional, que usa adubos. Os grãos também serão maiores e verão aumentar sua produção, sendo fácil triplicar a colheita. Os nabos são bem brancos, suaves e de consistência macia e, na medida ideal, saborosos. As hortaliças apresentam boa coloração e não são carcomidas pelos insetos, sendo macias e deliciosas. Além destes, o milho, a melancia, a abóbora, todos os cereais, os legumes, as hortaliças ou as frutas apresentam ótima e inimaginável qualidade. Merece uma menção especial o extraordinário sabor dos produtos de cultivo agrícola natural. Quem experimenta o sabor do arroz, do trigo e das hortaliças de nossa produção, provavelmente, nunca mais terá vontade de comer os produtos obtidos com adubos. Atualmente, eu também consumo apenas os produtos naturais e, felizmente, o número de praticantes desse método aumenta tanto a cada dia que, ultimamente, já não consigo consumir tudo o que recebo. O mesmo ocorre com as frutas: após a suspensão do uso de adubos artificiais, não só a produção, como também a qualidade e a receita decorrente de sua venda aumentam a cada ano. Dessa forma, todos têm-se mostrado agradecidos. Em se tratando das flores, estas Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 38 são maiores, suas cores, mais vivas e belas e, quando usadas na vivificação floral, geralmente duram mais, deixando os praticantes dessa arte extremamente satisfeitos. No cultivo agrícola natural, ocorre uma acentuada diminuição de pragas. Na verdade, os adubos sintéticos provocam o seu aparecimento; por esse motivo, é óbvio que eles deixarão de surgir se tais adubos não forem mais aplicados. Todavia, na tentativa de exterminá-los, utilizam-se atualmente os inseticidas e os defensivos agrícolas de forma abundante, os quais, na verdade, penetram no solo e se tornam a causa da proliferação dos insetos nocivos, ou seja, tudo é causado pela ignorância e nos causa pena. Ultimamente, podemos dizer que sofremos a ação de tempestades e enchentes anualmente, mas os prejuízos têm sido menores no cultivo natural. O que ocorre é que, quando as plantas absorvem adubos sintéticos, enfraquecem acentuadamente. Ou seja, descobri o seguinte: no momento em que as plantas se impregnam tanto de esterco como de adubo químico, estes se tornam tóxicos e, por sua vez, servem de alimentos para as pragas, ocasionando sua propagação. E, ainda, dependendo do tipo de adubo, há tipos que dão origem a microrganismos que se alimentam da própria planta e vão- se multiplicando. Se surgirem na raiz, devastam as radículas, devorando-as e provocando o enfraquecimento do vegetal. Esta é a causa da secagem das folhas, da quebra dos caules, da queda das flores, da má-formação de frutos, da atrofia das batatas-inglesas e outros problemas. Mesmo que não seja na raiz da planta, inúmeros tipos de microrganismos se desenvolvem; se a planta for saudável, terá força para erradicá-los. Entretanto, como já afirmei, se a planta se encontrar enfraquecida devido à aplicação de adubos, ela acaba sendo vencida pelos microrganismos. Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 5 39 A planta cultivada sem adubos é mais resistente aos ventos e às chuvas, não caindo com facilidade. Ainda que isso ocorra, a planta logo se reerguerá; ao passo que a cultivada com adubo permanecerá caída, ocasionando um prejuízo enorme. Poderão compreender seu motivo, observando-se as raízes. Nas plantas cultivadas sem adubos, a própria raiz é mais numerosa e profunda; por conseguinte, a fixação é bem mais forte. Outro ponto característico, seja com o arroz ou com outras hortaliças e legumes, é o tamanho das folhas, que são mais curtas. Os agricultores já sabem que, em todas as plantas, quanto mais curto o caule e menores as folhas, mais frutos elas dão. Em contrapartida, como a planta cultivada com adubos é mais alta e tem folhas grandes, à primeira vista, aparenta ser esplêndida, mas geralmente sua frutificação é pior do que o esperado. No caso do bicho-da-seda, se criado em uma amoreira livre de adubos será saudável, os fios produzidos serão mais resistentes e brilhantes, de qualidade superior e, naturalmente, com uma grande produção. Tal resultado será devido ao não surgimento de doenças. De acordo com o que foi explicado acima, observamos que todos os produtos cultivados pelo método natural possuem incomparáveis vantagens em relação aos que são produzidos com adubos. É necessário que saibam o seguinte: em primeiro lugar, deve-se considerar a própria capacidade do solo, o qual foi criado por Deus afim de produzir alimento suficiente para prover o ser humano e os animais. Dessa forma, por natureza, o solo é pleno de elementos fertilizantes, e podemos até dizer que é um aglomerado de adubo. Desconhecendo essa realidade até hoje,
Compartilhar