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2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 MICROBIOLOGIA AULA 10 Pneumonias Bacterianas INTRODUÇÃO • Pneumonia: Doenças inflamatórias agudas de causas infecciosas, que acometem o trato respiratório inferior, podendo ser causa por vírus, bactérias e fungos. • Pneumonias Agudas Comunitárias (PAC): Adquiridas fora do ambiente hospitalar. • Pneumonias Hospitalares (PH): Se manifestam após 48h de internação. • Pneumonias Associadas à Ventilação Mecânica (PAVM): Se manifestam após 48h de intubação respiratória. AGENTES ETIOLÓGICOS DE PAC • Bactérias piogênicas: Alta produção e liberação de pus. → Streptococcus pneumoniae; → Haemophilus influenzae; → Staphylococcus aureus. • Bactérias atípicas: Causam pneumonias nas quais as bactérias se alojam no parênquima pulmonar, apresenta um perfil diferenciado. → Mycoplasma pneumoniae; → Chlamydophila pnumoniae; → Legionella pneumophila. • Vírus respiratórios: → Influenza; → Parainfluenza; → Adenovírus. • Bactérias anaeróbias da boca: São chamadas de pneumonias por aspiração, resultantes da aspiração de conteúdos como saliva, líquidos e outros. Comum em indivíduos com problemas neurológicos ou em coma. → Peptostreptococcus sp.; → Fusobacterium nucleatum; → Prevotella sp. STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE • α-hemolítico não grupável. • Agrupados dois a dois. CARACTERÍSTICAS • Cápsula polissacarídica: Serve como meio para a classificação em sorotipos (>90), os quais podem ser mais ou menos invasivos, e possui ação antifagocitária. • Pneumosilina: Citolisina que atua formando poros na membrana das células do hospedeiro. Responsável pela intensa reação inflamatória. PATOGENICIDADE E VIRULÊNCIA • Faz parte da microbiota do trato respiratório superior em cerca de 5 a 70% dos adultos anormais. • Age como um patógeno oportunista. • Patogenicidade decorrente do poder do invasor. • Principal causa de pneumonia comunitária (80% dos casos), principalmente em idosos e crianças menores de 2 anos. • Pode causar otite, sinusite e meningite. DEFESAS DO HOSPEDEIRO • Defesa inata: → Antagonismo microbiano; → Barreiras mecânicas (reflexo epiglótico, cílios, células caliciformes, reflexo da tosse e fagócitos residentes); → Proteína C reativa, sintetizada em maior quantidade no processo inflamatório, que se liga a substância C da parede do pneumococo e depois ativa o sistema complemento. • Defesa específica: → Fagocitose opsonizada; → Anticorpos IgA (mucosas) e IgG (sérico); FATORES PREDISPONENTES • Infecção viral prévia do trato respiratório, como em caso de infecções virais (influenza); • Situações que diminuam o reflexo epiglótico, como frio intenso, coma, anestesia e alcoolismo; • Idosos, devido a imunossenescência; • Inalação de substâncias irritantes, como a sílica (minério usado na produção de vidro), que solta um pó fino e atrapalha alguns mecanismos de barreiras mecânicas; • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pois apresentam as defesas do trato respiratório prejudicados; • Edema pulmonar, quando os alvéolos pulmonares ficam repletos de líquido, formando um ambiente 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 propicio para o desenvolvimento de bactérias. É recorrente em situações de insuficiência cardíaca. PATOGENIA 1. Inalação de gotículas provenientes de doente ou portador. 2. Colonização da mucosa do trato respiratório superior. 3. Invasão do trato respiratório inferior, após ultrapassar as barreiras de defesa inata. 4. A bactéria se instala no álveo pulmonar, provocando intensa reação inflamatória por resposta ao seus PAMP e pneumolisina. → Por ser uma bactéria cocos gram positivo, seus PAMP são peptídeoglicanos e o ácido teicócio. 5. PAMP interagem com os macrófagos alveolares acarretando a liberação de citocinas inflamatórias, a IL-1 e TNF-α. 6. Ativação de C com liberação de C3a e C5a, que agem como anafilatoxinas (vasodilatação) e fazem a quimiotaxia. 7. Aumento da permeabilidade e passagem de fluídos e células para o interior do alvéolo. 8. Diapedese de leucócitos para o interior do alvéolo, com formação de exudato leucocitário denso, chegando a fase de consolidação. 9. Ocorrência da febre. 10. Interação entre neutrófilos, macrófagos e linfócitos promovem a fagocitose eficientes da bactéria (opsonização) e reabsorção do exudato, chegando a fase de resolução. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL • Difícil realização pela complexidade de uma coleta significativa para o diagnóstico. • Coleta de material clínico por diferentes métodos, em seguida, faz-se a bacterioscopia e cultura. → Escarro (<10 células epiteliais e >25 neutrófilos); → Aspirado traqueal, no qual se introduz uma cânula na traqueia, faz-se a injeção de um líquido estéril e o aspira novamente. → Lavado bronco-alveolar, no qual, com o uso de um broncoscópio chega-se aos bronquíolos e alvéolos do indivíduo para realizar a coleta. → Sangue: Hemocultura pode encontrar a bactéria de forma intermitente e em pouca quantidade. → Urina: Pesquisa de antígenos oriundos da capa do pneumocócico, detectados por imunocromatografia. Aplicada somente nos casos de pneumonia por S. pneumoniae. IMUNIDADE • Produção de anticorpos específicos contra o polissacarídeo capsular, exercendo uma ação opsonizantes. TRATAMENTO • Macrolídeos: Recomendadas em casos de bactérias atípicas. • β-lactâmicos; • Fluoroquinolonas da 3ª geração (Quinolonas respiratórias). TRATAMENTO EMPÍRICO • Sem dado laboratorial, feito por análise de dados epidemiológicos. • Ambulatorial: → Previamente hígidos: Macrolídeo ou β- lactâmicos. → Doenças associadas ou uso anterior de antibióticos a menos de 3 meses: Quinolona ou β-lactâmicos + Macrolídeo. • Internados não-graves: → Quinolona ou β-lactâmicos + Macrolídeo. • Admitidos em UTI: → Sem risco de Pseudomonas sp.: β-lactâmicos + Quinolona ou Macrolídeo. → Com risco de Pseudomonas sp.: β-lactâmicos – Quinolona. PREVENÇÃO • Pneumovax (Pn 23): Vacina contendo 23 sorotipos de polissacarídeo capsular, não possuindo a bactéria integra. Pois, os anticorpos que iremos produzir agiram contra a cápsula, realizando a fagocitose opsonizantes. Sendo assim, a cápsula é o principal antígeno da nossa resposta específica protetora. → Idosos (60 anos ou mais); → Portadores de pneumopatias crônicas; → Indivíduos HIV +; → 2 semanas antes de tratamento com imunossupressores. Exitem sorotipos resistentes à penicilina devido a alteração das PBPs. Crianças menores de 2 anos não respondem aos antígenos de natureza polissacarídica, pois eles são T-independentes, estimulam diretamente linfócitos B sem a colaboração dos linfócitos TCD4. Produzindo assim IgM (pouco eficientes) e não resultam na produção de memória imunológica. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 • Vacinas conjugadas: Vacina que apresenta 10 sorotipos polissacarídeo capsular conjugado a uma proteína. → Crianças tomam 2 doses, uma com 2 e a outra com 4 meses, e reforço com 12 meses. PH E PVAM • Os principais agentes empregados são os bastonetes gram negativos (60% dos casos). → Escherichia coli; → Klebsiella pneumoniae; → Pseudomonas aeruginosa. • Cocos gram positivos (15 a 25% dos casos) temos o Staphylococcus aureus. • São de difícil tratamento, normalmente sendo multirresistentes. • Possuem um perfil polimicrobiano, podendo ser causadas por algumas bactériassimultaneamente. AGENTES MAIS ISOLADOS EM PNEUMONIAS DA COMUNIDADE AGENTE PREVALÊNCIA (%) SINTOMAS FATORES PREDISPONENTES Steptococcus pneumoniae 20-60 Tosse; Expectoração; Dispneia; Dor toráxica; Febre; Mal-estar; Mialgia; Sudorese; Fagida; Cefaleia; Náuseas. Doença pulmonar obstrutiva crônica; Diabetes; Alcoolismo; Crises convulsivas; Insuficiência cardíaca congestiva; Anemia falciforme; Imunossupressão; Idade avançada; Doença respiratória prévia (em geral viral); Ventilação mecânica. Haemophillus influenzae 3-10 Staphylococcus aureus 3-5 Anaeróbios da cavidade oral 6-10 Moraxella catarrhalis 1-3 Outros gram negativos 3-10 Chlamydia pneumoniae 5-17 Legionella pneumophila 2-8 Vírus respiratórios 2-15
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