Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Mandado de Segurança Tributário Legitimação (ativa e passiva) para impetração de Mandado de Segurança No que concerne à legitimidade ativa, podem impetrar Mandado de Segurança Individual todas as pessoas físicas e jurídicas, órgãos públicos despersonalizados (mesas legislativas e chefias do Poder Executivo) e entes despersonalizados (espólio, massa falida). Segundo Celso Agrícola Barbi (2009), podem figurar como impetrantes em Mandado de Segurança Individual: a pessoa física ou jurídica residente ou sediada no Brasil ou no exterior, a massa falida, a herança, a sociedade sem personalidade jurídica, o condomínio edilício e a massa do devedor civil insolvente, dentre outras. Nesse sentido, apesar de não gozarem de personalidade jurídica (entes despersonalizados), gozam de capacidade postulatória para fins de impetração de Mandado de Segurança Individual. Sob a mesma ótica, sustenta Destaca Cássio Scarpinella Bueno que: [...] no contexto da Constituição de 198 8, já não há mais espaço para questionamentos, no sentido de que todo aquele que pode invocar os direitos e as garantias listados em seu art. 5° pode impetrar o mandado de segurança. (2007, p. 33). Como se percebe, a legitimação ativa para impetração de Mandado de Segurança Individual é bem mais ampla que em qualquer outra modalidade de ação judicial, questão explicada por sua finalidade de garantia de direitos fundamentais. II.2 – Legitimação ativa no Mandado de Segurança Coletivo Como acima demonstrado, a principal diferença entre o Mandado de Segurança Individual e o Mandado de Segurança Coletivo reside na legitimação ativa. No último, não há conceito aberto, mas definição taxativa dos legitimados ativos, quais sejam partido político com representação no Congresso nacional, organização sindical, entidade de classe ou associação (que preencha requisitos constitucionais). Por se tratar de remédio constitucional voltado à garantia de direitos fundamentais da coletividade, os impetrantes, em nome próprio, reivindicam direitos de terceiros, em modalidade de legitimação extraordinária ou substituição processual. Sobre o Mandado de Segurança Coletivo, dispõe a Lei nº 12.016/2009: Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certo s da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.” Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituída pelo impetrante. § 1º O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva. § 2º No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas. Acerca da legitimação passiva no Mandado de Segurança Coletivo, entendimento exarado pelo Supremo Tribunal Federal (STF): “Em se tratando de mandado de segurança coletivo, esta Corte já firmou o entendimento de que, em tal caso, a entidade de classe ou a associação é parte legítima para impetrá-lo, ocorrendo, nesse caso, substituição processual. Na substituição processual, distingue-se o substituto como parte em sentido formal os substituídos como partes em sentido material, por serem estes, embora não integrando a relação processual, titulares do direito que, em nome próprio, é defendido pelo substituto” (Rcl 1.097-AgR, STF, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 2-9-99, DJ de 12-11-99). Em se tratando de substituição processual e não de representação processual não há que se falar na necessidade de autorização dos envolvidos para a postulação do direito. Para sacramentar a questão, conteúdo da Súmula nº 629, do Supremo Tribunal Federal: “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes”. Agora, analisemos, de forma apartada, a legitimidade ativa de cada uma das figuras constantes do inciso LXX, do artigo 5ª da CRFB/88. Comecemos pelos partidos políticos. A motivação da inclusão dos partidos políticos decorre da natureza basilar destes, vez que partido político “destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal”. Vejam, pois, que a motivação tem umbilical ligação com a democracia, postulado do Estado Democrático de Direito. Como consta no texto constitucional, apesar da nobre função dos partidos políticos, só pode impetrar Mandado de Segurança Coletivo partido político com representação no Congresso Nacional. Muito se debateu sobre a abrangência da legitimidade ativa dos partidos políticos: se poderiam buscar a proteção de qualquer direito ou se haveria limitações. De um lado (a ampla abrangência,) a Professora Ada Pellegrini Grinover entende que o texto constitucional: [...] adotou a redação mais ampla possível: e para retirar do dispositivo a maior carga de eficácia, parece claro que nenhuma restrição há de ser feita. Por isso, o partido político está legitimado a agir para a defesa de todo e qualquer direito, seja ele de natureza eleitoral ou não. No primeiro caso o partido estará defendendo os seus próprios interesses institucionais para o qual se constitui. Agirá, a nosso ver, investido de legitimação ordinária. No segundo caso – quando, por exemplo, atuar para a defesa do ambiente, do consumidor, dos contribuintes –, será substituto processual, defendendo em nome próprio interesses alheios. Mas nenhuma outra restrição deve sofrer quanto aos interesses e direitos protegidos: além da tutela dos direitos coletivos e individuais homogêneos, que se titularizam nas pessoas afiliada s ao partido, pode o partido buscar, pela via de segurança coletiva, aquele atinente a interesses difusos, que transcendem aos seus filiados. (1990, p. 93) De outro (abrangência limitada), Calmon de Passos sustenta que “a legitimação sem fronteiras que seja reconhecida aos partidos políticos significará o caos, além de transferir para o âmbito do Judiciário (a rena inadequada) a luta política que deve ser levada a cabo em outro campo”. Corroborando com o último entendimento, posicionamento do Supremo Tribunal Federal: Uma exigência tributária configura interesse de grupo o u classe de pessoas, só podendo ser impugnada por eles próprios, de forma individual ou coletiva. Precedente: RE 213.631, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 7-4-2000. O partido político não está, pois, autorizado a valer -se do mandado de segurança coletivo para, substituindo todos o s cidadãos na defesa de interesses individuais, impugnar majoração de tributo" (RE 196.184, STF, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 27 -10-04, DJ de 18-2-05) Quando aConstituição autoriza um partido político a impetrar mandado de segurança coletivo, só pode ser no sentido de defender seus filiados e em questões políticas, ainda assim, quando autorizado por lei ou pelo estatuto. Impossibilidade de dar a um partido político legitimidade para vir a juízo defender 50 milhões de aposentados, que não são, em sua totalidade, filiados ao partido e que não autorizam o mesmo a impetrar mandado de segurança em nome deles” (MS 197, STJ, 1ª Seção, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 20 -08-90) A exemplo dos sindicatos e das associações, também os partidos políticos só podem impetrar mandado de segurança coletivo em assuntos integrantes de seus fins sociais em nome de filiados seus, quando devidamente autorizados pela lei ou por seus estatutos. Não pode ele vir a juízo defender direitos subjetivos de cidadãos a ele não filiados ou interesses difusos e, sim, direitos de natureza política, como, por exemplo, o s previstos nos arts. 14 a 16 da CF (EDMS 197, STJ, 1ª Seção, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 20-08-90) Como conclusão, com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal, podem os partidos políticos impetraram Mandado de Segurança Coletivo para defesa dos interesses de seus filiados (e não todo e qualquer direito) e, mesmo assim, quando autorizados por lei ou por estatuto. Como nosso enfoque é a matéria tributária, importante ressaltar aquilo que quedou definido nos autos do RE 196.184. Naqueles autos, o STF firmou que partido político não teria competência, legitimação ativa, para impetrar Mandado de Segurança Coletivo com vistas a questionar exações tributárias no âmbito nacional, mas tão somente para defesa circunscrita aos interesses dos filiados. Encerrada a questão quanto a legitimidade ativa dos partidos políticos para impetração de Mandado de Segurança Coletivo, verifiquemos agora a legitimidade ativa dos sindicatos, entidades de classe e associações, começando pelos conceitos. Nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) o conceito de sindicato seria: associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos, ou profissionais, de todos o s que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas. Já entidades de classe, para o doutrinador Uadi Lamêgo Bulos, “são pessoas jurídicas, públicas ou privadas, com personalidade jurídica própria, cuja finalidade é representar um agrupamento de associados, os quais se submetem à disciplina imposta em seus estatutos” (1996, p. 52). Sobre a legitimidade ativa dessa figura, Súmula nº 630, do STF: " A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria”. Por fim, associação, para De Plácido e Silva: [...] designa toda agremiação ou união de pessoas, promovida com um fim determinado, seja de ordem beneficente, literária, científica, artística, recreativa, desportiva o u política. (...). A Constituição brasileira (arts. 5°, XVIII, XIX, XX e XXI) assegura a plena liberdade de associação para fins lícitos – vedada a de caráter paramilitar –, independente de autorização ou interferência estatal no seu funcionamento. (2001, p. 89) Como já exposto, a CRFB/88 confere legitimidade ativa a essas figuras para impetração de Mandado de Segurança Coletiva. Contudo, estabelece alguns requisitos gerais e específicos. Primeiro, faz-se necessário comprovar, de plano, a regularidade de sua constituição, mediante juntada, em conjunto com a inicial, dos atos constitutivos. Segundo, especificamente sobre as associações, há requisito expresso no sentido de que se faz necessário, para gozar do direito de impetrar o mandamus, demonstrar, de plano, “funcionamento há pelo menos um ano”. Cumpridos esses requisitos, firmada a legitimidade ativa dos partidos políticos, sindicatos, entidades de classe, associações, para propositura de Mandado de Segurança Coletivo. Avancemos, então, para a análise da legitimação passiva no Mandado de Segurança. O legitimado passivo do Mandado de Segurança (individual e coletivo), nos termos da lei de regência, é denominado autoridade coatora, o u seja, autoridade que praticou ato ilegal ou abusivo contrário a direito líquido e certo. Destaquemos trechos da Lei nº nº12. 016/2009 afetos a legitimidade passiva: Art. 2º Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada. (...) Art. 6º A petição inicial, que deverá preencher o s requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. Postos estes dispositivos legais, vislumbramos uma questão duvidosa. Quem seria o legitimado passivo? Seria a autoridade coatora ou a pessoa jurídica a qual está vinculada? Existem doutrinadores renomados defendendo tanto a primeira quanto a segunda opção. Aqueles que defendem que a autoridade coatora seria o legitimado passivo do Mandado de Segurança o fazem sustentando que se foi esta a responsável pelo ato coator que deu azo ao remédio constitucional é elas quem deve figurar no polo passivo. Nesse sentido, os professores que defendem a legitimidade passiva da autoridade coatora alegam que o remédio constitucional tem por objeto coibir/evitar ato abusivo ou ilegal e não regular relação jurídica entre o impetrante e o ente federativo a que está vinculada a autoridade coatora. Seguindo esta linha, o atual Ministro no Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes: Sujeito passivo é a autoridade coatora que pratica ou ordena concreta e especificamente a execução ou inexecução d o ato impugnado, responde pelas suas consequências administrativas e detenha competência para corrigir a ilegalidade, podendo a pessoa jurídica de direito público, da qual faça parte, ingressar como litisconsorte. (...) Reafirme-se que a pessoa jurídica de direito público sempre será parte legítima para integrar a lide em qualquer fase, pois suportará o ônus da decisão proferida em sede de mandado de segurança. Poderão ser sujeitos passivos no mandado d e segurança os praticantes de atos ou omissões revestidos de força jurídica especial e componentes de qualquer dos Poderes da União, Estados e Municípios, de autarquia, de empresas públicas e sociedades de economia mista exercentes de serviços públicos e, ainda, de pessoas naturais ou jurídicas de direito privado com funções delegadas do Poder Público, como ocorre em relação às concessionárias de serviços de utilidade pública. (MORAES, 2000, p. 158) No mesmo sentido, Antônio Raphael Silva Salvador e Osni de Sousa: Autoridade coatora é quem efetivamente ordenou, executou ou se omitiu na prática do ato impugnado, desde que pudesse dispor de autoridade e competência para deixar de praticar ou então pudesse corrigir a ilegalidade alegada. É quem ordena concreta e especificamente a execução ou inexecução do ato impugnado e responde por suas consequências administrativas (SALVADOR; SOUSA; 2002, p. 23-30) Demonstrada essa primeira corrente, partamos para a segunda corrente, que defende que a legitimidade passiva em Mandado de Segurança remete à pessoa jurídica à qual a autoridade coatora está vinculada. O renomado doutrinador Celso Agrícola Barbi faz parte desta corrente, sustentando que: (a) “o ato do funcionário é ato da entidade pública a que ele se subordina"; (b) os efeitos do ato “se operam em relação à pessoa jurídica de direito público"; (c) é a pessoa jurídica de direito público, por lei, que "tem capacidade de ser parte no nosso direito processualcivil”; (d) “o coator é citado em juízo como “representante” daquela pessoa”; (e) “a condenação nas despesas judiciais é contra a entidade de direito público e não contra o coator. Vencida na causa é aquela e não este”; (f) “quando se tratar de pessoas de direito privado, com funções delegadas de poder público, pois, então, parte passiva serão aquelas e não o Poder Público” (BARBI, 1984, p. 180-181). Em síntese, entende que o ato coator, a despeito de ser capitaneado pela autoridade coatora, decorre de exercício de função, onde está presente o elemento subordinação. Há, portanto, demanda judicial em face da função exercida, do cargo exercido e não da pessoa física ali lotada. Sob esse viés, entendem os doutrinadores dessa segunda corrente que as decisões proferidas no Mandado de Segurança acabam por afetar a pessoa jurídica em que a autoridade coatora está lotada e não sua pessoa física. Por exemplo, na vasta maioria das vezes, nos Mandados de Segurança em matéria tributária, quando figura como autoridade coatora Delegado da Receita Federal do Brasil, na fase recursal t odos os atos de defesa são formalizados pela pessoa jurídica interessada (União Federal – Fazenda Nacional), por meio da advocacia pública. De toda forma, independente da práxis, o texto constitucional é expresso em resguardar defesa direta pela autoridade coatora na fase recursal. Finalmente, defendendo posição sui generis sobre a questão, aduz o Professor Humberto Theodoro Júnior que: O mandado de segurança é proposto contra a autoridade que praticou o ato abusivo, a quem se determinará, em lugar da tradicional contestação, a prestação de informações no prazo da lei. Com isso, há quem entenda que o sujeito passivo, na espécie, seria a própria autoridade e não a pessoa jurídica de direito público em cujo nome se praticou o ato impugnado, isto é, a União, o Estado, o Município etc. Na verdade, a melhor exegese é a que atribui à autoridade coatora apenas a legitimidade formal para defender a pessoa jurídica de direito público em cujo O nome atuou na prática do ato discutido no mandamus. Com efeito, a repercussão do processo operará toda sobre os poderes e interesses daquela pessoa pública e não apenas sobre a autoridade notificada. Não há como, portanto, ignorar a participação substancial da entidade no processo. (THEODORO JÚNIOR, 2005, p. 472). Vislumbramos, pois, essa dicotomia, não superada pela “Nova Lei do Mandado de Segurança”. Ultrapassado esse pequeno conflito, cumpre destacar a importância da correta indicação da autoridade coatora, essencial à impetração deste remédio constitucional, traduzindo-se, para parte da doutrina, em condição da ação. Sendo condição da ação, no caso de indicação errônea (indicação de autoridade coatora que não tenha ligação direta com o ato coator), ato contínuo seria a extinção do remédio constitucional, sem julgamento do mérito. Entretanto, com o objetivo de superar burocracias vazias e valorizar a importância constitucional do mandamus, com vistas a evitar que Mandados de Segurança fossem extintos sem julgamento de mérito , ou tivessem seus julgamentos postergados por necessidades de correções processuais, a doutrina e a jurisprudência estudaram. Aplicar a “Teoria da Encampação” em Mandados de Segurança. Tal teoria se subsume na possibilidade de, diante de equivocada indicação de determinado sujeito, proceder com a correção do vício sem consequências mais drásticas. Sobre a possibilidade de aplicação da “Teoria da Encampação”, ementa de recente julgado do Superior Tribunal de Justiça: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDORA PÚBLICA ESTADUAL.MANDADO DE SEGURANÇA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO.APLICABILIDADE. 1. A aplicação da teoria d a encampação exige o preenchimento dos seguintes requisitos: (a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; (b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; (c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal. Precedentes. 2. Na espécie, (a) existe o vínculo de hierarquia entre a autoridade indicada na ação mandamental (Governador de Estado), e uma outra que é a verdadeiramente competente para a prática e desfazimento do ato administrativo (Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão - SEPLAG - nos termos do Decreto estadual nº 44.817/2008); (b) houve a defesa do ato praticado pelo órgão administrativo subalterno; (c) não há modificação da competência atribuída pela Constituição do Estado ao Tribunal de Justiça (art. 106, "c", da CE). 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no RM S 43.289/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/12/2015, DJe 18/12/2015) MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. INDEFERIMENTO DE PENSÃO POR MORTE. ATO IMPUGNADO DE COMPETÊNCIA DO COORDENADOR-GERAL DE GESTÃO DE PESSOAS. MINISTRO DE ESTADO DOS TRANSPORTES. ILEGITIMIDADE PASSIVA. 1. A autoridade que praticou o ato impugnado não foi o Ministro de Estado dos Transportes, senão o Coordenador-Geral de Recursos Humanos (atual Gestão de Pessoas), que, em mandado de segurança, não está submetido à competência constitucional deste Superior Tribunal. 2. Não há falar -se em (eventual) aplicação da teoria da encampação, somente aplicada quando não implica deslocamento da competência do órgão judicante. 3. Mandado de segurança denegado (art. 6º, § 5º, Lei 12.016/2009, c/c o art. 267, VI, CPC). (MS 20.937/DF, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/02/2016, DJe 02/03/2016). Nesse contexto, firmados os seguintes critérios para verificar a possibilidade (ou não) de se aplicar a teoria: a) a autoridade erradamente mencionada tem que ser hierarquicamente superior àquela devida; b) a autoridade há que ter respondido processualmente, apresentando informações para a lide – não bastando a contestação de ilegitimidade passiva; c) o erro quanto à autoridade não deve gerar vício de competência do juízo – por se tratar de nulidade absoluta. Em matéria tributária, é notória a dificuldade da identificação exata da autoridade coatora, haja vista que essa delimitação abrange estrutura de órgãos vinculados à União Federal, estados e municípios. Hugo de Brito Machado (2009, p. 81) ressalta a amplitude da legitimação passiva em Mandado de Segurança: Aliás, a impetração é cabível contra ato de autoridade, ou de agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Assim, mesmo que o autor do ato impugnado não seja autoridade, no sentido de que não tem competência para decidir se pratica, ou não, o ato questionado, é cabível contra ele a impetração, desde que esteja agindo no exercício de atribuições do Poder Público. É o caso, por exemplo, e um diretor de empresa privada que Faz o desconto do imposto de renda na fonte de um tributo. Ele está arrecadando um tributo. Está, portanto, no exercício de atribuições próprias do Poder Público. É agente do estado, pelo menos para o fim de arrecadar o tributo. Assim, se a exigência tributária é ilegal, ou inconstitucional, seu ato enseja a impetração de mandado de segurança. Como se vê, a divisão da doutrina sobre o legitimado passivo em Mandado de Segurança traz reflexos no presente ponto, atinente a importância da escorreita indicação da autoridade coatora. Por óbvio, a primeira corrente (legitimação passiva da autoridade coatora), entende que a indicação correta da autoridade coatora é condição da ação, cujo Descumprimento implica extinção da ação judicial. Aqui, valoriza-se sobremaneira a atuação processual da autoridade coatora. Também por óbvio, a segunda corrente (legitimação passiva da pessoa jurídica a qual a autoridade coatora está vinculada) sustenta que a indicação equivocada da autoridade coatora constitui vício plenamente sanável, que não implicaria extinçãodo processo sem julgamento de mérito. Aqui, a atuação processual da autoridade coatora não é tão valorizada, pois, como assevera Cássio Scarpinella Bueno: A indicação errônea da autoridade coatora não deve levar à extinção do mandado de segurança por ilegitimidade passiva (CPC, art. 267, § 3º). Embora bastante controvertido o tema, parece mais correto o entendimento de que a autoridade coatora não é parte no mandado de segurança, isto é, não é o réu do mandado de segurança. A autoridade é convocada a prestar as informações de que trata o art. 7º, I, da Lei n. º 1.533/51, na qualidade de "representante" judicial da pessoa jurídica a que pertence. Não tutela, assim, direito seu ou exclusivamente seu, porque seu agir corresponde ao agir da pessoa a cujos quadros está vinculada (BUENO, 2002, 19). REFERÊNCIAS BARBI, Celso Agrícola. Do Mandado de Segurança. Imprenta: Rio de Janeiro, Forense, 2009. BUENO, Cassio Scarpinella. Mandado de Segurança – comentários às Leis n. 1.533/51, 4.348/64 e 5.021/66 e outros estudos sobre Mandado de Segurança. São Paulo: Saraiva, 2002. BUENO, Cássio Scarpinella. Mandado de Segurança. 3. ed. rev. at ual. amp. São Paulo: Saraiva, 2007. BULOS, Uadi Lamêgo. Mandado de Segurança Coletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 20. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros, 2004. DIAS, Hugo Reis. Pós-Graduação “lato sensu”. Escola Superior de Advocacia. Mandado de Segurança em matéria tributária. Belo Horizonte: 2020. GRINOVER, Ada Pelegrini. Mandado de segurança coletivo: legitimação e objeto. In: Revista de Direito Público. p. 93-21. São Paulo: Revista dos Tribunais, jan./mar. 1990. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo, Atlas, 2000. PASSOS, José Joaquim Calmon de. Mandado de Segurança Coletivo, Mandado de Injunção e "Habeas Data": constituição e processo. Rio de Janeiro: Forense, 1989. SALVADOR, Antônio Raphael Silva; SOUSA, Osni de. Mandado de segurança: doutrina e jurisprudência, p. 29-30, apud BUENO, Cassio Scarpinella. Mandado de Segurança – comentários às Leis n. 1.533/51, 4.348/64 e 5.021/ 66 e outros estudos sobre Mandado de Segurança. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 19. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 22.ed. rev. e atualiz. nos termos da Reforma Constitucional (até a Emenda Constitucional nº 39 de 19.12.2002). São Paulo: Malheiros, 2003. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 3. vol. 34. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
Compartilhar