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1 1 Lucas Ferraz Medicina – 1º P SP 3.2 OBJETIVOS: 1) Caracterizar lipídios, seus tipos e funções. 2) Descrever o processo de digestão e absorção de lipídios. 3) Caracterizar o mecanismo de transporte de lipídios através do sistema linfático e sangue, diferenciando os tipos de lipoproteínas (quilomícrons, HDL, LDL, VLDL). 4) Descrever o processo de obtenção de energia a partir da degradação de lipídios. 5) Descrever o processo de síntese e armazenamento de lipídios, relacionando com a via das pentoses. 6) Caracterizar o colesterol quanto suas origens e destinos. 7) Caracterizar a ação da sinvastatina no controle dos níveis de colesterol. 8) Discutir as consequências biopsicossociais da obesidade na infância e adolescência. 9) Conhecer as políticas públicas para prevenção e controle da obesidade e hipertensão arterial. 1- CARACTERIZAR LIPÍDIOS, SEUS TIPOS E FUNÇÕES CARACTERIZAÇÃO Diferente das proteínas e carboidratos, a definição de lipídeos não é de acordo com sua estrutura, mas sim com a solubilidade. A definição mais usada é: lipídeos são compostos com baixa solubilidade em água e alta solubilidade em solventes orgânicos apolares. São moléculas de gordura que, no organismo dos seres vivos, desempenham uma série de funções biológicas, principalmente o armazenamento de energia. Uma de suas características é que são facilmente armazenados pelo organismo, mas são difíceis de serem consumidos. Isso explica por que os alimentos ricos em lipídios normalmente são os que mais contribuem para aquelas o acúmulo de gorduras. Apesar de associados ao excesso de peso, os lipídios são fundamentais ao organismo, pois o corpo não produz os ácidos graxos, que são essenciais para algumas funções biológicas, como fornecimento de energia e participação na formação de membranas celulares, entre outras. Sua estrutura pode variar muito de acordo com o tipo de lipídeo, mas ela é essencialmente composta de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio(O); e em algumas classes, fósforo (P), nitrogênio (N), e enxofre (S). Muitos lipídeos são compostos anfipáticos (ou anfifílicos), ou seja, apresentam na molécula uma porção polar, hidrofílica, e uma porção apolar, hidrofóbica. FUNÇÃO → Fornecimento de energia: Quando comparado com os carboidratos, os lipídios liberam, em média, 2,23 vezes mais energia quando oxidados. Estima-se que cada grama de gordura seja responsável por liberar cerca de 9Kcal. Já uma grama de carboidrato produz apenas 4 Kcal. Vale destacar, no entanto, que o metabolismo energético dos lipídios ocorre de maneira secundária ao dos carboidratos. → Precursores de hormônios e de sais biliares: Os lipídios estão relacionados com a produção de hormônios esteroides, tais como a testosterona, progesterona e estradiol. Também se relacionam com a produção de sais biliares, compostos que agem como detergente, ajudando no processo de absorção de lipídios. → Transporte de vitaminas lipossolúveis: Os lipídios transportam vitaminas que são solúveis em gordura, tais como a A, D, E e K. → Isolante térmico e físico: Os lipídios garantem proteção contra as baixas temperaturas e contra choques mecânicos. → Impermeabilização de superfícies: Os lipídios impermeabilizam evitando a desidratação. Um bom exemplo são as ceras encontradas nas superfícies dos frutos. 2 2 Lucas Ferraz Medicina – 1º P TIPOS Os lipídios representam uma classe de compostos diversificados, o que torna difícil sua classificação. Dessa forma, didaticamente, eles podem ser classificados em: CAROTENOIDES São pigmentos alaranjados presentes nas células de todas as plantas que participam na fotossíntese junto com a clorofila, porém desempenha papel acessório. Um exemplo de fonte de caroteno é a cenoura, que ao ser ingerida, essa substância se torna precursora da vitamina A, fundamental para a boa visão. Os carotenoides também trazem benefícios para o sistema imunológico e atuam como anti-inflamatório. CERIDEOS As ceras biológicas são ésteres de ácidos graxos saturados e instaurados de cadeia longa com álcoois de cadeia longa. Classificados como lipídios simples, são encontrados na cera produzida pelas abelhas (construção da colmeia) e na superfície das folhas (cera de carnaúba) e dos frutos (a manga). Exercem função de impermeabilização e proteção; FOSFOLÍPIDIOS Moléculas anfipáticas, isto é, possuem uma região polar (cabeça hidrofílica), tendo afinidade por água, e outra região apolar (cauda hidrofóbica), que repele a água; GLICERÍDEOS Podem ter de 1 a 3 ácidos graxos unidos a uma molécula de glicerol (um álcool, com 3 carbonos unidos a hidroxilas-OH). O exemplo mais conhecido é o triglicerídeo, que é composto por três moléculas de ácidos graxos. Podem ser sólidos (gorduras) ou líquidos (óleos) em temperatura ambiente; ESTERÓIDES Esteroides são outra classe de moléculas de lipídios, identificados por sua estrutura de quatro anéis interligados. Apesar de não se assemelharem a outros lipídios estruturalmente, esteroides são incluídos nessa categoria porque também são hidrofóbicos e insolúveis na água. Todos os esteroides têm quatro anéis de carbono ligados e muitos deles, como colesterol, têm também uma cauda curta. Muitos esteroides também tem um grupo funcional -OH ligado a um sítio específico; tais esteroides também são classificados como álcoois, e são chamados, portanto, de esteróis. COLESTEROL É o esteroide mais comum, é sintetizado principalmente no fígado e é o precursor de muitos hormônios esteroides. Esses incluem os hormônios sexuais testosterona e estradiol, que são secretados pelas gônadas (testículos e ovários). O colesterol também serve como matéria-prima para outras moléculas importantes no corpo, incluindo vitamina D e ácidos biliares, que auxiliam na digestão e absorção das gorduras de origens dietéticas. É também um componente chave das membranas celulares, pois alteram sua fluidez e dinâmica. LIPOPROTEÍNAS Por serem insolúveis em água, para serem transportados pelos sistemas circulatórios, os lipídeos podem formar agregados moleculares hidrossolúveis. Nessas estruturas, lipídeos apolares e polares e proteínas formam uma partícula hidrofílica, a lipoproteína plasmática. São partículas esféricas com um núcleo central de lipídeos apolares (como ésteres de colesterol e triacilgliceróis), circundado por uma monocamada de lipídeos anfipáticos (fosfolipídios e colesterol), que estão associadas a moléculas de proteínas – apolipoproteínas. 3 3 Lucas Ferraz Medicina – 1º P 2- DESCREVER O PROCESSO DE DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE LIPÍDIOS DIGESTÃO A digestão de lipídios da dieta e seus metabólitos se inicia na boca, com a salivação e a mastigação. A lipase lingual liberada pelas glândulas serosas da língua, junto com a saliva, inicia a hidrólise dos ácidos graxos (AGs) dos triacigliceróis (TAGs). O processo continua no estomago com a ação da lipase gástrica, principalmente, na digestão de ácidos graxos de cadeia curta. A etapa mais importante da digestão ocorre no intestino delgado. Ao atingir o duodeno a gordura inibe o esvaziamento gástrico, por meio do estimulo à liberação do hormônio colecistoquinina (CCK), bloqueando a motilidade gástrica decorrente da ação da gastrina. A digestão intestinal necessita de sais biliares e de lipase pancreática, que hidrolisam os triglicerídeos (TGs) em AGs livres, monoglicerídios e diglicerídeos. As lipases, porém, não atuam sobre fosfolipídios e ésteres de colesterol,sendo necessária a ação de duas outras enzimas: a fosfolipase, que atua nos fosfolipídios, liberando ácidos graxos e lisolipídios, e a colesterol esterase, que hidrolisa os ácidos graxos dos ésteres de colesterol. ABSORÇÃO Os produtos da hidrólise, ocorrida na digestão lipídica, podem ser absorvidos no lúmen intestinal, sendo misturados aos sais biliares e lecitina para formar micelas, partículas muito pequenas que penetram facilmente nas células epiteliais. Após a absorção, os componentes lipídicos são reesterificados a triacilgliceróis, fosfolipídios e éster de colesterol e usados na produção de quilomícrons (proteínas que servem para transportar as substancias graxas formadas na mucosa intestinal). Essas partículas formam as primeiras lipoproteínas transportadas no sangue. 3- CARACTERIZAR O MECANISMO DE TRANSPORTE DE LIPÍDIOS ATRAVÉS DO SISTEMA LINFÁTICO E SANGUE, DIFERENCIANDO OS TIPOS DE LIPOPROTEÍNAS (QUILOMÍCRONS, HDL, LDL, VLDL) O sistema circulatório apresenta uma composição média de 70% de sangue e linfa que o principal componente é a água. Vale ressaltar que os lipídeos devem de alguma maneira chegar até os vasos sanguíneos e linfáticos para serem transportados. Existe um impasse entre: água como veículo de transporte polar X moléculas hidrofóbicas que necessitam chegar aos tecidos. Surge então, uma molécula especial de lipoproteínas que foi ao longo da evolução se aperfeiçoando para transportar mais eficientemente os lipídeos para o interior das células. As lipoproteínas estão presentes no sangue e na linfa, são representadas pelos Quilomícrons, IDL, LDL e HDL. Os quilomícrons são formados nas células do epitélio do intestino. Esses quilomícrons (ricos em colesterol e triglicerídeos) ganham a linfa do mesentério no comprimento abdominal e são captados pelo ducto torácico que deságua entre a veia subclávia e a jugular interna, entrando no sistema circulatório para ser transportado até os tecidos alvo. Ao chegar no sangue, a HDL doa a Apo C e a Apo E para o quilomícron, fazendo com que o mesmo se torne maduro e seja capaz de levar triglicerídeos para os tecidos. Para ser mais exato, os tecidos alvos dos quilomícrons são: Tecido Adiposo e Tecido Muscular. Os capilares dos tecidos adiposo e muscular, possuem uma lipoproteína chamada lipase (LPL). Quando o quilomícron chega e entra nos capilares desses tecidos, a Apo C ativa a LPL que quebrará o TG em ácidos graxos + triglicerol. Os ácidos graxos irão para os adipócitos e o triglicerol para o gado, onde será transformado em glicose (através da gliconeogênese). Toda vez que a Apo C ativar uma LPL, ela retornará para o HDL. O quilomícron (Sem Apo C) se torna residual, visto que já entregou o TG e não possui mais nada para distribuir. Porém, o quilomícron residual ainda possui colesterol. Dessa forma, 4 4 Lucas Ferraz Medicina – 1º P ela vai até o fígado e acopla a Apo E em um receptor (de Apo E) presente no fígado. Quando o receptor for acoplado na Apo E, o quilomícron residual é absorvido e sintetizado, produzindo a VLDL (Que contem altas concentrações de triglicerídeos). A VLDL é liberada na circulação e leva triglicerídeos do fígado para outros tecidos (Adiposo e Muscular), onde serão utilizados para estoque ou obtenção energética. Quando a VLDL é liberada na circulação a HDL doa a Apo C e a Apo E para a VLDL. A VLDL chega nos capilares dos tecidos e sofre a ação da LPL da mesma forma que o quilomícron. Depois de sofrer essa ação, a VLDL também perde sua Apo C. A perda de TG da VLDL transforma-a em outra lipoproteína: IDL (Contém concentração de Colesterol e Fosfolipídios). OBS: VLDL residual ou IDL no sangue podem retornar para o fígado, visto que ela ainda possui a Apo E. A HDL e a IDL fazem uma troca. A IDL possui pouca quantidade de TG e muito colesterol estratificado. Então, a HDL pega o TG presente na IDL e a IDL pega o Colesterol estratificado presente na HDL. Dessa forma o IDL se transformará em LDL. A LDL (Contém altas concentrações de colesterol) tem como papel transportar colesterol do fígado para as regiões periféricas. A LDL possui uma proteína exclusiva, chamada de Apo B-100. Além disso, ela irá distribuir o colesterol para os tecidos que necessitam da entrega de colesterol pela LDL. Os tecidos obtêm a maior parte do colesterol exógeno por endocitose da LDL (Menos o Fígado e o intestino). A HDL (Contém altas concentrações de proteínas) é sintetizada no gado, em maior proporção, e no intestino (em menor proporção). A HDL só se torna ativa quando receber a Apo A1 e se tornar madura. Ela transporta colesterol da periferia para o gado (para metabolização, armazenamento e excreção, atuando como o inverso da LDL). QUILOMÍCRONS Consistem em moléculas grandes de lipoproteínas sintetizadas pelas células do intestino, formado em 85-95% de triglicerídeos de origem alimentar (exógeno), pequena quantidade de colesterol livre, fosfolipídeos e 1-2% de proteínas. Uma vez que possui muito mais lipídeos do que proteínas, os quilomícrons são menos densos do que o plasma sanguíneo, flutuando nesse líquido, conferindo um aspecto leitoso ao mesmo, levando a formação de uma camada cremosa quando este é deixado em repouso. VLDL (VERY LOW DENSITY LIPOPROTEIN) São lipoproteínas de grande tamanho, porém menores do que os quilomícrons, sintetizadas no fígado. Sua composição compreende 50% de triglicerídeos, 40% de colesterol e fosfolipídeos e 10% de proteínas, especialmente a Apo B- 100, Apo C e alguma Apo E. Este tipo de lipoproteína tem como função transportar os triglicerídeos endógenos e o colesterol para os tecidos periféricos, locais onde serão estocados ou utilizados como fontes de energia. Igualmente aos quilomícrons, são capazes de turvar o plasma. LDL (LOW DENSITY LIPOPROTEIN) O LDL, que são as lipoproteínas de baixa densidade, são partículas diminutas que, mesmo quando em grandes concentrações, não são capazes de turvar o plasma. Aproximadamente 25% desta lipoproteína são compostas por proteínas, em particular a Apo B-100 e pequena quantidade de Apo C, o resto é composto por fosfolipídeos e triglicerídeos. O LDL é a lipoproteínas que mais transporta colesterol para locais onde ela exerce uma função fisiológica, como, por exemplo, para a produção de esteroides. Em sua grande maioria, são produzidos a partir de lipoproteínas VLDL. HDL (HIGH DENSITY LIPOPROTEIN) As lipoproteínas HDL são partículas pequenas, compostas de 50% por proteínas (especialmente a Apo A I e II, e uma pequena parcela de Apo C e Apo E), 20% de colesterol, 30% de triglicerídeos e vestígios de fosfolipídeos. Esta lipoproteína se divide em duas subclasses distintas: HDL 2 e HDL 3. Estas subclasses são distintas em tamanho, composição e densidade, principalmente no que diz respeito ao tipo de apoproteínas. Possuem a função de carrear o colesterol até o fígado diretamente, ou transferem ésteres de colesterol para outras lipoproteínas, em especial as VLDL. A HDL 2 é conhecida pelo papel protetor na formação de aterosclerose. 4- DESCREVER O PROCESSO DE OBTENÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DA DEGRADAÇÃO DE LIPÍDIOS DEGRADAÇÃO DOS TRIACILGLICERÓIS DOS ADIPÓCITOS Quando hormônios sinalizam a necessidade de energia metabólica, os triacilgliceróis armazenados no tecido 5 5 Lucas Ferraz Medicina – 1º P adiposo são mobilizados e transportados aos tecidos (musculatura esquelética, coração, fígado e córtex renal) nos quais os ácidos graxos podem ser oxidados para produção de energia. A mobilização do depósito de triacilgliceróis é obtida por ação da lipase dos adipócitos, uma enzima sujeitaa regulação hormonal, que hidrolisa os triacilgliceróis a ácidos graxos e glicerol. Essa enzima é ativada por ação dos hormônios adrenalina e glucagon, secretados em resposta aos baixos níveis de glicose ou atividade iminente. Os ácidos graxos liberados dos adipócitos são transportados pelo sangue ligados à albumina e utilizados pelos tecidos como fonte de energia; o tecido nervoso e as hemácias são exceções, pois obtêm energia exclusivamente a partir da oxidação de glicose. Nos tecidos-alvo, os ácidos graxos se dissociam da albumina e são levados por transportadores da membrana plasmática para dentro das células para servir de combustível. O glicerol liberado pela ação da lipase é fosforilado e oxidado a glicerol-fosfato, podendo entrar nas vias glicolítica ou gliconeogênica. Alternativamente, o glicerol-fosfato pode ser usado na síntese de triacilgliceróis ou de fosfolipídios. ΒETA-OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS A β-Oxidação é a quebra de ácidos graxos para obtenção de energia. O glucagon estimula a ação da enzima lipase sensível ao hormônio, hidrolisando triglicerídios (armazenados no tecido adiposo) em ácidos graxos, que se ligam a albumina para serem transportados pelo sangue (por serem hidrofóbicos). A degradação dos ácidos graxos é necessária tanto para fornecer ATP para que ocorra a gliconeogênese, como também para fornecer energia pela própria degradação dos AG. Em outras palavras, o catabolismo dos ácidos graxos ocorre na mitocôndria é denominado de β-oxidação, na qual fragmentos de 2 carbonos são sucessivamente removidos da extremidade carboxílica da acilCoA, produzindo acetil- CoA. No entanto, os ácidos graxos livres provenientes da corrente sanguínea que entram no citosol das células (são permeáveis na membrana plasmática), não podem passar diretamente para o interior da mitocôndria, sendo necessária uma série de três reações. ✓ No citosol, os ácidos graxos são convertidos em acil- CoA graxo pela tiocinase (acil-CoA graxo sintetase). ✓ A membrana mitocondrial interna é impermeável a moléculas grandes e polares como a CoA. Deste modo, a acil- CoA graxo se liga a carnitina, formando acil-carnitina graxo, que é transportado para a membrana mitocondrial interna, por um transportador específico chamado carnitina-acil transferase I. ✓ Na matriz mitocondrial, o grupo acil-carnitina se liga a outra molécula de acetil-CoA, regenerando a acil- CoA graxo, que é oxidado por um conjunto de enzimas existente na matriz mitocondrial. OBS3: O metabolismo dos AG é assim chamado – β-oxidação – devido à quebra sucessiva da ligação entre os carbonos α (segundo carbono, ligado ao grupo carboxila) e β (terceiro carbono) da cadeia do AG. A β-oxidação ocorre por meio de duas etapas: (1) ativação dos ácidos graxos e (2) β-oxidação propriamente dita. →ATIVAÇÃO DOS ÁCIDOS GRAXOS Por ser hidrofóbico, o AG atravessa a membrana plasmática passivamente. Ao entrar no citoplasma, ele sofre uma ativação (bem como ocorre com a glicose, que quando entra na célula, sofre uma fosforilação para ser aprisionada). A ativação do AG é o processo de incorporação de CoA-SH à sua estrutura (ainda no citosol) para a sua futura entrada na mitocôndria. Nesse processo, há um gasto de 2 ATPs independetemente do tamanho da cadeia do AG, formando um acil-CoA (o termo acil é designado para AG com número indeterminado de carbonos) por meio da enzima acil-CoA sintetase (tiocinase). A acil-CoA não é permeável à membrana mitocondrial interna. Para o seu transporte para a matriz dessa mitocôndria, a acil-CoA se liga ao aminoácido carnitina, formando o composto acil-carnitina, liberando a CoA-SH. A carnitina é incorporada ao acil-CoA por meio da enzima Carnitina Acil Transferase I, presente na camada externa da membrana mitocondrial interna. A acil-carnitina entra na matriz mitocondrial por simporte (que é quando duas substâncias são transportadas na mesma direção), em troca da carnitina (que atravessará mais acil-Coa). Essa carnitina é resultado da reação inversa realizada pela enzima Carnitina- Acil Transferase II, presente na camada interna da membrana mitocondrial interna, em que há produção de acil-CoA e carnitina a partir da Acil-Carnitina que entrou na matriz. Estando formada a Acil-CoA na matriz mitocondrial, esta irá sofrer metabolismo por meio da β-oxidação. →β-OXIDAÇÃO Após a ativação do AG, formando acil-CoA, que é carreado para dentro da matriz mitocondrial por intermédio da 6 6 Lucas Ferraz Medicina – 1º P carnitina, ele vai sofrer a β-oxidação propriamente dita em quatro etapas iniciais: ✓ 1. Inicialmente, a acil-CoA, que entrou na matriz mitocondrial carreado pela carnitina, vai sofrer uma desidrogenação entre o carbono α e β, produzindo uma insaturação entre esses dois carbonos, reduzindo uma molécula de FAD. Essa reação é catabolizada pela enzima acil-CoA-desidrogenase. ✓ 2. Essa nova molécula, a trans-∆²-enoil-CoA, sofre uma hidratação por meio da enzima enoil-CoA- hidratase. Um hidrogênio da água se liga ao carbono α e a hidroxila se liga ao carbono β, formando um álcool. ✓ 3. Em seguida, o álcool (3-L-Hidroxiacil-CoA) sofre uma oxidação em que uma molécula de NAD é reduzida, por meio da enzima 3-L-Hidroxiacil-CoA desidrogenase. Dessa oxidação, forma-se uma cetona no carbono β. ✓ 4. Essa cetona (β-acil-CoA) é quebrada pela enzima β-acil-CoA tiolase, formando acetil CoA e um composto acil com dois carbonos a menos. Este volta ao início para sofrer as quatro reações, produzindo novamente outra molécula de acetil CoA e outro composto acil com dois carbonos a menos (quatro a menos, quando em relação ao primeiro). 5- DESCREVER O PROCESSO DE SÍNTESE E ARMAZENAMENTO DE LIPÍDIOS, RELACIONANDO COM A VIA DAS PENTOSES SÍNTESE Para que haja síntese de ácidos graxos, é necessário a presença de dois compostos fundamentais: o acetil CoA e malonil CoA. Este, é sintetizado a partir da própria acetil CoA. • Carboxilação da Acetil-CoA para formar Malonil- CoA. A primeira reação que ocorre com o Acetil CoA no citoplasma é a sua carboxilação, pela ação da enzima Acetil CoA Carboxilase (dependente do co-fator biotina). Como a acetil CoA tem apenas 2 carbonos, ela recebe um carbono de íons bicarbonatos para formar o malonil CoA. • A síntese de ácidos graxos no organismo ocorre no citoplasma, a partir de duas substâncias primordiais: acetil CoA e Malonil CoA. Essa biossíntese é realizada a partir de um complexo enzimático chamado de Ácido Graxo Sintetase. Esse complexo consiste em um conjunto de enzimas com múltiplas atividades, apresentando dois sítios principais e distintos, cada um com seu grupo sulfidrila. No sítio 1, em que a sulfidrila se liga ao aminoácido cisteína (Cys), liga-se um radical acila com qualquer quantidade de carbonos. No sítio 2, em que a sulfidrila se liga a uma proteína carreadora de acila (PCA) e ao ácido pantotênico, liga-se sempre um malonil coa. Dos radicais acila, o mais simples é o acetil, que tem apenas 2 carbonos. • Inicialmente, a acetil coa se liga no sítio ativo 1 e, no sítio ativo 2, liga-se o malonil coa. • A primeira reação propriamente dita é uma reação de condensação, em que a acetil CoA se condensa com a malonil CoA por meio da ação da enzima cetoacil sintase. Nessa reação, há a liberação de um carbono, formando, assim, uma cetona de 4 carbonos no sítio 2. • O próximo passo é a redução da cetona do sítio 2 pela enzima cetoredutase, formando um álcool. Nessa reação, é utilizado a primeira molécula de NADPH (reduzido), liberando ao final um NADP+ (oxidado). • Esse álcool passa por uma desidratação, por meio da enzima desidrase, ocorrendo a liberação de H2O e a formação de uma insaturação entre os cabonos2 e 3. • Acontece agora, o ultimo passo de um primeiro ciclo: o composto do sítio 2 passa por mais uma redução por meio da enzima enoil redutase, formando assim um composto acil com 4 carbonos, ou seja, um ácido graxo inicial de 4 carbonos. Nessa reação, tem-se a utilização da segunda molécula de NADPH. • Em seguida, a enzima tioesterase transfere esse grupo acil que estava no sítio 2 para o sítio 1. Deixando livre o sítio ativo 2, uma nova molécula de malonil CoA pode se ligar ao seu grupo sufidrila para iniciar um novo ciclo (condensação, redução, desidratação, redução) para que seja adicionado mais dois carbonos a esse grupo acil, até formar um novo grupo acil, agora com 6 carbonos. 7 7 Lucas Ferraz Medicina – 1º P • Esse ciclo se repete, a partir da ação da enzima tioesterase (que libera o sítio 2), até a formação de um ácido graxo par do qual o organismo necessita no momento. A cada ciclo, ocorre a adição de 2 carbonos ao ácido graxo, o gasto de 2 moléculas de NADPH e 2 moléculas de ATP: uma para formar acetil coa a partir de citrato e outra para formar malonil coa a partir de do acetil CoA. ARMAZENAMENTO São armazenados na forma de gotas oleosas no tecido adiposo, constituindo as principais reservas de energia do corpo. • No tecido adiposo: o triacilglicerol é armazenado no citosol das células adiposas, sendo prontamente mobilizado quando o corpo necessita de combustível. • No fígado: pouco triacilglicerol é armazenado no fígado, sendo a maior parte exportada junto com o colesterol, ésteres de colesterol e fosfolipídeos e proteína apo B-100, para formar partículas de VLDL (lipoproteínas de muita baixa densidade). As VLDL são secretadas na corrente sanguínea, conduzindo os lipídeos recém- sintetizados aos tecidos periféricos. OBS5: No caso de alcoolismo crônico ou em dietas cetogênicas e ricas em carboidratos, triglicerídios vão ser armazenados com maior intensidade no fígado, causando o esteatose hepática (fígado gorduroso, o que já constitui um certo grau de lesão hepática). OBS6: A lipogênese é o processo de sintese de ácidos graxos no citoplasma. Nesse processo, destaca-se o tecido hepático e, durante a lactação, também o tecido mamário. A principal fonte desencadeadora desse processo é o excesso de carboidratos, na forma de acetil CoA 6- CARACTERIZAR O COLESTEROL QUANTO SUAS ORIGENS E DESTINOS O colesterol é um álcool integrante da fórmula de alguns lipídios, encontrado nas membranas celulares de todos os tecidos do corpo humano, que é transportado no plasma sanguíneo de todos os animais. Também é um reagente necessário a biossíntese de vários hormônios, da vitamina D e do ácido biliar. O colesterol pode ser obtido pela dieta, porém a maior parte do colesterol presente no corpo é sintetizada pelo organismo, sendo apenas uma pequena parte adquirida pela dieta. Portanto, ao contrário de como se pensava antigamente, o nível de colesterol no sangue não é aumentado ao se aumentar a quantidade de colesterol na dieta. O colesterol é mais abundante nos tecidos que mais sintetizam ou têm membranas densamente agrupadas em maior número, como o fígado, medula espinhal, cérebro e placas ateromatosas (nas artérias). O colesterol tem papel central em muitos processos bioquímicos, mas é mais conhecido pela associação existente entre doenças cardiovasculares e as diversas lipoproteínas que o transportam, e os altos níveis de colesterol no sangue (hipercolesterolemia). O colesterol é insolúvel em água e, consequentemente, insolúvel no sangue. Para ser transportado através da corrente sanguínea ele se liga a diversos tipos de lipoproteínas, partículas esféricas que tem sua superfície exterior composta principalmente por proteínas hidrossolúveis. FUNÇÕES • Componente essencial das membranas celulares: O colesterol é necessário para construir e manter as membranas celulares; regula a fluidez da membrana em diversas faixas de temperatura. O grupo hidroxil presente no colesterol interage com as cabeças fosfato da membrana celular, enquanto a maior parte dos esteroides e da cadeia de hidrocarbonetos estão mergulhados no interior da membrana. • Precursor dos ácidos biliares: O colesterol também ajuda na fabricação de sais da bile (que é armazenada na vesícula biliar). Esses sais auxiliam na digestão da gordura da dieta. • Precursor dos hormônios esteroides: é responsável por formar vários hormônios esteroides (que incluem o cortisol e a aldosterona nas glândulas suprarrenais, e os hormônios sexuais progesterona, os diversos estrógenos, testosterona e derivados). OBS1: Mulheres são mais propensas de desenvolverem cardiopatias no perído da menopausa devido ao excesso de colesterol presente em seu sangue que não é mais convertido em hormônios. OBS²: Recentemente, o colesterol também tem sido relacionado a processos de sinalização celular, pela hipótese 8 8 Lucas Ferraz Medicina – 1º P de seria um dos componentes das chamadas "jangadas lipídicas" na membrana plasmática. Também reduz a permeabilidade da membrana plasmática aos íons de hidrogênio e sódio. OBS³: Não há enzimas que degradem o colesterol a metabólitos como CO2 e H2O. Ele é excretado na forma de sais biliares ou como colesterol livre. OBS4: Quando há uma redução de colesterol oriundo da dieta, o organismo tenta uma maneira de compensar essa carência aumentando a biossíntese. Esse é um dos motivos do porque da dificuldade existente em reduzir as taxas sanguíneas de colesterol apenas com regime. OBS5: Excesso de colesterol no sangue, a longo prazo, causa a formação de placas ateromatosas, resultando em aumento da pressão sanguínea (estreitamento das artérias, reduzindo a habilidade de dilatação do vaso) e formação de coágulos (infarto do miocárdio e derrame). 7- CARACTERIZAR A AÇÃO DA SINVASTATINA NO CONTROLE DOS NÍVEIS DE COLESTEROL A sinvastatina é um fármaco usado no tratamento e na prevenção da hipercolesterolemia. Atua como inibidor da enzima 3-hidroxi-3-metil-glutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase, enzima fundamental no caminho biossintético do colesterol no fígado, coíbe a síntese de colesterol. A sinvastatina reduz os níveis do mau colesterol (colesterol LDL) e de substâncias gordurosas chamadas triglicérides e aumenta os níveis do bom colesterol (colesterol HDL) no sangue. A sinvastatina pertence à classe dos medicamentos denominados inibidores da hidroximetilglutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase. A sinvastatina diminui a produção de colesterol pelo fígado (a maior fonte de colesterol no organismo) e aumenta a remoção de colesterol da corrente sanguínea pelo fígado. A sinvastatina reduz de forma significativa os níveis do mau colesterol (colesterol LDL) e dos triglicérides e aumenta os níveis do bom colesterol (colesterol HDL). 8- DISCUTIR AS CONSEQUÊNCIAS BIOPSICOSSOCIAIS DA OBESIDADE NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA A obesidade infantil pode trazer significativas consequências psicossociais. Crianças e adolescentes obesos deparam-se com o preconceito e a discriminação que se iniciam na infância. Estudos realizados com crianças de diferentes faixas etárias evidenciam as atitudes negativas contra as crianças obesas. Foi verificado que pré-escolares entre três e cinco anos preferem relacionar-se com colegas de peso normal a obesos. As crianças entre 4 e 11 anos associam a obesidade a feiura, egoísmo, preguiça, estupidez, desonestidade, isolamento social. Uma outra pesquisa mostra que a maioria das crianças acredita que a obesidade é algo que está sob controle da pessoa, o que reforça a associação da doença com estereótipos negativos.Ainda no âmbito escolar, observou-se que entre os professores da escola primária associaram em 59% das vezes a obesidade à falta de auto- controle e 57% a problemas psicológicos. Vários são os estudos que relatam os impactos emocionais desenvolvidos por indivíduos obesos, entre eles: angústia, culpa, depressão, baixa autoestima, vergonha, timidez, ansiedade, isolamento e fracasso. A autoestima de crianças obesas parece ser inversamente proporcional à idade, quando comparada a crianças de peso normal. Verifica-se também que a baixa autoestima de crianças obesas relaciona-se às expressões de insatisfação dos pais com o peso da criança. No que se refere à depressão e à ansiedade, estudos têm relatado níveis crescentes de sintomas depressivos entre crianças com sobrepeso e obesidade, sendo tais observações mais frequentes nas mulheres. É interessante salientar os trabalhos em que a ansiedade e a depressão, assim como a culpa, solidão ou frustração, estão associadas a acentuada procura pelo alimento como gratificação ou como forma de compensação e entorpecimento das emoções. 9- CONHECER AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DA OBESIDADE E HIPERTENSÃO ARTERIAL O governo brasileiro tem promulgado ações de promoção de saúde que visam ao combate da obesidade infantil, como o Programa Saúde na Escola, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, a Regulamentação dos Alimentos Comercializados nas Cantinas Escolares, o Projeto Escola Saudável, a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas, os Dez Passos para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas e a Regulamentação de Propaganda e Publicidade de Alimentos.
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