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Políticas Públicas de Enfrentamento ao Crime de Tráfico de Pessoas no Brasil

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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
BRUNNA XXXXXXXX XXXX CAVALCANTE
POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO AO CRIME DE TRÁFICO DE PESSOAS NA SOCIEDADE BRASILEIRA
Mogi das Cruzes, SP.
2020
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES BRUNNA XXXXXXXX CXXX CAVALCANTE – RGM XXX
POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO AO CRIME DE TRÁFICO DE PESSOAS NA SOCIEDADE BRASILEIRA
Artigo científico apresentado ao curso de Direito da Universidade de Mogi das Cruzes, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.
Professor Orientador: Dr. XXXXXX
Mogi das Cruzes, SP.
2020
10
Dedico este trabalho e expresso minha solidariedade
a todas as crianças, jovens, adultos e idosos, de todas as raças, etnias, gêneros, classes, nacionalidades,
que foram vítimas de tráfico humano.
Agradeço 
a todos os professores que se dedicam a arte de ensinar e preparar pessoas
para a vida.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO AO CRIME DE TRÁFICO DE PESSOAS NA SOCIEDADE BRASILEIRA
Brunna Cristina Cano Cavalcante
Prof. Dr. XXXXXXXX
RESUMO
O presente trabalho tratará sobre a aplicação das políticas públicas de enfretamento ao crime de tráfico de pessoas no Brasil, cuja importância decorre do fato de este ser um crime muito recorrente no país, mesmo havendo políticas públicas de combate, conforme será amplamente analisado a seguir. O presente ainda possui como objetivo a análise da aplicação e eficácia das políticas públicas relacionadas ao crime, elaboradas pelo Poder Legislativo e a análise da atuação do Poder Executivo diante do crime. Ainda, por ser um crime notório, de abrangência mundial, será estudada a aplicabilidade das políticas públicas internacionais no território brasileiro. O método utilizado neste artigo foi o estudo da doutrina e da legislação nacional e internacional referente ao respectivo tema. Neste estudo, os resultados demonstram que, apesar do intenso trabalho no combate a este delito tão severo, o tráfico de pessoas ainda é muito constante no território brasileiro, tendo um contínuo crescimento ao longo dos anos, afetando, diariamente, milhares de pessoas inocentes, sem qualquer distinção de idade, gênero, raça ou classe.
Palavras-chaves: Crime. Tráfico de pessoas. Políticas Públicas. Prevenção. Brasil.
1 INTRODUÇÃO
O tráfico de pessoas (ou tráfico humano) é um crime que grande relevância mundial, uma vez que é um dos mais recorrentes no mundo e, ainda, um dos mais graves, afetando diretamente os direitos humanos. Todavia, apesar da sua imensidão e gravidade, no Brasil este delito ainda é pouco abordado dentro das mídias sociais (como jornal, televisão, redes sociais, dentre outros), escolas, universidades e até mesmo em “roda de amigos”, sendo raramente pauta de assunto na sociedade.
Sendo assim, considerando a importância de se falar sobre este assunto, este artigo não
somente tratará sobre o problema em questão (o crime), mas abordará algo de grande importância para a sociedade: a solução que está sendo buscada para o enfrentamento do crime no Brasil.
Logo, a análise principal do artigo será sobre as políticas públicas que efetivamente são realizadas para o combate ao tráfico de pessoas, tando no âmbito legislativo quanto executivo, observando também as legislações internacionais que são aplicadas, especialmente, no território brasileiro.
A escolha do tema advém também da necessidade de se discutir sobre as leis de proteção as vítimas do crime de tráfico de pessoas, uma vez que o crime é considerado como uma forma “moderna” de escravidão, na qual as vítimas são submetidas a tratamentos brutais que ferem diretamente os direitos humanos, e, em especial, a dignidade da pessoa humana, sustentando, ainda, um mercado bilionário ao redor do mundo e, principalmente, no Brasil, um dos principais países de origem, trânsito e destino de vítimas de tráfico.
Este artigo aborda ainda sobre os meios de prevenção ao crime, além dos meios de punição ao agente causador do dano, com escopo de desenvolver um projeto que sirva de parâmetro e incentive novas discussões acerca do assunto.
2 O TRÁFICO DE PESSOAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE AO CRIME
2.1 Do Surgimento do Crime de Tráfico de Pessoas e Seu Crescimento no Âmbito Mundial
O tráfico de pessoas, também conhecido como tráfico humano, é um crime mundialmente conhecido não só por desrespeitar diretamente os direitos humanos, mas também por gerar um mercado bilionário em favor dos criminosos, sendo o terceiro mercado ilícito mais rentável do mundo, após o mercado de tráfico de drogas e armas, movimentando cerca de US$ 32 bilhões anuais, sendo que 85% desse valor provém de exploração sexual.
Esta prática está presente em todos os países e tem como vítima todos os tipos de pessoas, independente de raça, etnia, gênero, idade, sexo, classe ou nacionalidade. Contudo, os países mais vulneráveis a tal crime são aqueles mais pobres, com índice de desenvolvimento humano menor, onde há uma maior desigualdade social e desistabilidade política e econômica.
Posto isto, é importante resaltar que, antes de destrinchar o tema a ser abordado, é
necessário compreender o que é o crime de tráfico de pessoas, qual sua origem e quando ele começou a ter certa relevâncua para as maiores autoridades políticas de todo o mundo.
Ao analisarmos a história da humanidade, notamos que o tráfico de pessoas sempre esteve presente nos mais variados momentos da história e que, nem sempre, este ato foi classificado como crime: temos como exemplo o tráfico negreiro, que ocorreu dentre os séculos XV e XVII, que foi uma das maiores práticas tráficos de pessoas no mundo com fins lucrativos e que era considerada totalmente comum e legal na época das grandes navegações e colonizações, sem que houvesse qualquer discriminação quanto ato.
Todavia, a partir do século XIX, as autoridades mundias começaram a enxergar o tráfico de pessoas como uma prática desumana e ilegal. Assim, começaram a unir esforços para que a prática do tráfico fosse proibida ao redor do mundo, conseguindo assim, em 1904, os primeiros instrumentos legais de proibição ao crime.
Já em meados de 1956 houve o surgimento da Convenção de Genebra que passou a reconhecer como ilegal a prática de transporte de pessoas entre países e a privação da liberdade, condutas típicas do crime de tráfico de pessoas.
Muitos anos depois, mais especificamente em 1998, o Estatuto do Tribunal Penal Internacional passou a definir o tráfico para fins de exploração sexual como um crime internacional contra a humanidade, na qual as principais vítimas são mulheres.
Em seguida, a partir de 1999, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) passou a tratar sobre a relevância deste crime, utilizando como base os seguintes instrumentos:
· UNICRI (Programa contra o Tráfico de Seres Humanos);
· Protocolo Relativo à Prevenção e Punição do Tráfico de Pessoas (em especial crianças e mulheres);
· Protocolo contra o Crime Organizado Transnacional Relativo ao Combate ao Contrabando de Migrantes por via Terrestre, Marítima e Aérea (promulgado pelo Brasil em 2004 através do Decreto nº 5.016).
Neste período, ainda, a proibição do tráfico de crianças passou a observada e registrada pela Convenção dos Direitos da Criança das Nações Unidas, realizada em 1989 e adotada pelo Brasil em 1990, e pela Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho, realizada em 1999.
A questão do tráfico de crianças ainda foi muito discutida em grandes eventos internacionais como no I Congresso Munidal contra a Exploração Sexual Comercial de
Crianças, realizado em 1996 em Estocolmo, na Suécia, e no II Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças, realizado em 2001, em Yokohama, no Japão. Tais congressos trouxeram como resultado um acordo firmado e assinado por 161 países, incluindo o Brasil: o Compromisso Global de Yokohama, que, por sua vez, atribui a responsabilidade aos países participantes de realizarmedidas de combate ao tráfico de crianças.
Contudo, dentre todos os instrumentos internacionais criados, um dos mais importantes foi “Protocolo de Palermo”, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000, sendo este um instrumento legal internacional que trata sobre o tráfico de pessoas como um crime organizado transnacional (comum entre vários países), tendo apenas entrado em vigor no ano de 2003 e ratificado pelo Brasil através do Decreto nº 5.016/04.
No que tange a legislação brasileira, em 2004 foi firmado um protocolo adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, que se refere a prevenção do tráfico de pessoas, em especial, no que se refere às crianças e mulheres.
Ainda, no ano de 2006 foi criado pelo Brasil, através do Decreto nº 5.948, a “Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas” e deste primeiro instrumento, foram criados os “Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP)”, através do Decreto nº 10.087/19, instituindo ainda o Grupo Assessor de Avaliação e Disseminação do Plano mencionado, que serão melhor analisados posteriormente.
Anos após, no Brasil, entrou em vigor a Lei nº 13.344/16, que trata, em seu art. 149- A do Código Penal, sobre prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas, bem como medidas de atenção às vítimas.
Observando toda nossa história, verificamos que, apesar deste crime estar presente desde os tempos dos nossos antepassados, as políticas públicas de combate ao crime ainda são poucas e muito recentes, sendo que estas, ainda, continuam em constante desenvolvimento.
2.2 Do Conceito do Crime de Tráfico de Pessoas e Sua Forma de Ocorrência
De prôemio, ressalta-se o conceito de maior relevância sobre o crime de tráfico humano está presente no Protocolo de Palermo (o instrumento legal e internacional mais renomado em relação ao crime) que dispõe, em seu artigo 3º, alínea “a”, que o tráfico de pessoas é:
“o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de
pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tem autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração deverá incluir, pelo menos, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, a escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a extração de órgãos”. (g.n.)
No que tange ao conceito presente na legislação brasileira, o Código Penal Brasileiro tipifica, em seu art. 149-A, incluído pela Lei nº 13.344/16, o crime de tráfico de pessoas como:
“Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa”. (g.n.)
Comparando o Protocolo de Palermo com o Código Penal Brasileiro observamos que ambos possuem conceitos bem semelhantes, mas que divergem nos seguintes fatos: o Brasil especifica que são considerados vítimas aqueles que foram traficados com a finalidade de remoção de órgãos, escravidão ou servidão, adoção ilegal ou exploração sexual. Já o Protocolo de Palermo considera como vítimas aqueles que foram traficados para fins de exploração (conceito mais amplo), podendo a exploração ser relacionada a trabalho, serviço forçado, prática sexual, escravidão, servidão ou remoção de órgãos.
Note-se que o Brasil inclui no rol de tráfico a adoção ilegal, pratica esta que não se encontra presente no dispositivo do Protocolo de Palermo. Por outro lado, a legislação brasileira não inclui no rol de vítimas aqueles que são traficados com a finalidade de exercer atividades ilícitas ou para o casamento, bem como não contempla os casos em que houve consentimento da vítima, como no Protocolo de Palermo (apesar deste entender que o consentimento da vítima é irrelevante para a classificação do delito).
Mesmo havendo certas divergências quanto ao seu conceito, de modo geral,
verificamos que em ambas definições estão presentes as práticas de comercialização, exploração, recrutação ou alojamento de pessoas, mediante ameaça ou outras formas de coerção (violência, fraude, abuso, etc), tanto para fins de lucrativos ou materiais (como a remoção de órgãos, tecidos ou partes do corpo, escravidão/servidão, adoção ilegal, exploração sexual ou qualquer outra forma de exploração ilegal de pessoas.
Contudo, vale ressaltar que muitas pessoas ainda confundem o crime de tráfico humano com o crime de “contrabando de migrantes”. Ambos crimes envolvem o transporte de pessoas com finalidade lucrativa ou material, mas os dois se diferenciam quanto ao consetimento da vítima, a forma de exploração e quanto a abrangência, conforme a seguir:
· Consentimento: para a caracterização do tráfico humano o consentimento é irrelevante, todavia, no caso do crime de contrabando de migrantes é necessária a existência de consentimento, mesmo em casos perigosos e degradantes.
· Exploração: o delito do contrabando termina com a chegada do migrante no local de destino, já no caso do tráfico não há “término”, pois, após o rapto da vítima, esta é explorada pelos criminosos.
· Abrangência: o tráfico pode ser internacional ou nacional, já o contrabando é um delito exclusivamente transnacional (entre países).
No que tange ao tráfico de pessoas, destaca-se ainda que aqueles que são explorados para fins de escravidão ou praticas sexuais, em sua maioria, são os que “caem na armadilha” através de ofertas de trabalho oferecidas pelos aliciadores (geralmente são trabalhos voltados para modelos, dançarinos, atividades de agricultura, pecuária, construção civil, costura, dentre outros), seduzidos com a oferta de uma vida melhor, mas que acabam sendo traficado e submetidos a exploração, sendo constantemente submetidos à ameaças ou violência, tendo também seus documentos retidos, para que permaneçam junto ao traficante ou rede criminosa.
Ao que se refere aos crimes voltados à remoção de órgãos e adoção ilegal, geralmente são realizadas mediante sequestro das vítimas, com o auxílio de agentes oficiais que trabalham nas fronteiras dos países.
Ainda, não podemos esquecer das vítimas que são submetidas as tráfico com a finalidade de obrigá-la ao casamento, como ocorre em países como África do Sul, Venezuela e Nepal.
Todavia, independente da finalidade do crime, em todos os casos os traficantes ou aliciadores utilizam-se de rotas especiais para a condução das vítimas. Assim, quando se trata de tráfico de âmbito internacional (quando as vítimas são levadas de um país a outro), verificamos que existem os países de origem, de trânsito e de destino das vítimas, como veremos a seguir:
· Países de Origem: a rota de origem do tráfico inicia-se em locais onde, seja pela pobreza ou dificuldades de se conseguir trabalho, as pessoas não alcançam boas perspectiva de vida. Desta forma, o aliciamento ocorre através de promessas de emprego tanto na prostituiçãocomo em outras áreas, podendo o tráfico se camuflar como agências de emprego ou de casamento. Nesta toada, a rota de origem ocorre, geralmente, nos seguintes países: África do Sul, Albânia, Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, El Salvador, Etiópia, Honduras, Filipinas, Gana, Mali, Marrocos, México, Nepal, Nigéria, Peru, Polônia, República, Tcheca, Rússia, Suriname, Tailândia, Ucrânia, Uruguai e Venezuela.
· Países de trânsito: os países de trânsito, em sua maioria, são os que dispõem fronteiras com fiscalização precária. Estes “países de trânsito” funcionam como rota de passagem para chegar ao destino, podendo ou não existir bases de apoio, como local de hospedagem. Dentre estes países estão: Brasil, Canadá, Suriname e Guianas.
· Países de destino: são aqueles onde ocorre a exploração. Os países com maior índice de desenvolvimento são os maiores “países de destino”, especialmente quando se trata de tráfico para o casamento ou trabalho forçado, bem como locais onde crianças possam servir de soldados de guerrilhas, tráfico de drogas ou adoção ilegal. Dentre os maiores países de destino estão: Alemanha, Arábia Saudita, Bélgica, Brasil, Canadá, Costa do Marfim, Dinamarca, Espanha, EUA, Grécia, Holanda, Israel, Itália, Japão, Kuait, Libano, Líbia, Noruega, Nigéria, Paraguai, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíca, Suriname, Tailândia e Turquia.
Observamos que o Brasil é um dos principais países utilizados tanto como local de origem, trânsito ou destino. Logo, verificamos a relevância de se tratar sobre as políticas públicas aplicadas ao enfrentamento do crime, uma vez que o território brasileiro é amplamente utilizado pelos traficantes, sendo uma das principais rotas dos criminosos comparados com os demais países do mundo.
2.3 Da Abrangência do Crime de Tráfico de Pessoas no Âmbito Nacional e Internacional
Ao que se refer ao âmbito internacional, segundo estudos publicados pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), entre 2012 e 2014, em torno de 63,2 mil pessoas foram vítimas do tráfico em 106 países. Foi publicado ainda o tráfico de pessoas em todo o mundo movimenta em torno de 30 bilhões de dólares com ações ilegais relacionadas a exploração utilizando-se de cerca de 2,5 milhões de vítimas.
Já segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em relatório publicado em 2018, existem em média 460 rotas de tráfico humano pelo mundo, estando esta prática presente em pelo menos 118 países, levando mais de 20 milhões de pessoas ao trabalho escravo. Na maior parte das vezes as vítimas são mulheres e crianças, destinadas a trabalho escravo e a prática sexual, representando um total de 25% a 30% de pessoas dentro desse período analisado.
Estudos deste mesmo ano (2018) apresentam que, apenas no Brasil, existem cerca de 241 rotas de tráfico humano nacional e internacional para fins de exploração sexual de mulheres e adolescentes, estando a maioria do número de rotas presentes em locais com alta incidência de pobreza.
Ressalta-se ainda que o Departamento do Estado Americano publica anualmente um relatório acerca do tráfico humano ao redor do mundo. Em um destes relatórios, informa que há cerca de 20 países que nada fazem para combater o tráfico, mesmo existindo uma alta incidência dentro deles, sendo eles: China, Rússia, Arábia Saudita e alguns países da África e Ásia.
Tal relatório informa ainda que, segundo dados coletados em 2010, uma a cada quatro pessoas traficadas é criança, sendo que em alguns locais o número de crianças traficadas supera o de adultos, como a África, os Andres, Sudentes Asiático e os Bálcãs. Na Arábia Saudita, especialmente, as crianças são levadas com a ajuda de agentes oficiais da fronteira, onde são usadas inicialmente para transporte de drogas e, após o transporte, se tornam vítimas de exploração sexual. Já em países como Equador, Ruanda e Congo, segundo o relatório da ONU (2018), as crianças são levadas para a formação de “soldados infantis”’ para guerras.
Já no Brasil, conforme relatório do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (2018), a cada quatro dias o país registrou um caso de tráfico humano. Os dados fazem parte de um levantamento da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, utilizando como base informações do Disque 100 (canal de denúncias do governo federal).
Posto isto, observamos que o crime de tráfico de pessoas continua sendo muito recorrente em todo o planeta, desde da idade média, apresentando alto crescimento principalmente no Brasil, fazendo milhares de vítimas anualmente, principalmente crianças e mulheres jovens. Observando isto, indaga-se, diante a evolução do crime, quais políticas públicas vem sendo aplicadas pelo governo brasileiro para o combate a este crime? A resposta é o que observaremos a seguir.
2.4 As Políticas Públicas de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil
De proêmio, é importante destacar o que a doutrina entende como políticas públicas. Hofling (2001) define políticas públicas como sendo “o Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade”. Já Teresi (2012) entende as política públicas como “um conjunto de ações pensadas e organizadas, coordenadas e desencadeadas pelo Estado, com a intenção de atender a determinada temática e setores específicos da sociedade”. Assim, quando falamos de política públicas podemos entendâ-las como um conjunto de programas e ações do Estado que visam solucionar um problema social, através de planos, projetos, bases de dados ou sistemas de informações e pesquisas, sendo, depois que postas em prática, acompanhadas e avaliadas.
Posto isto, ressalta-se que a regulametação das políticas públicas no Brasil para o enfrentamento do crime deu-se principalmente pela implantação do PNETP - Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (2006), criado através do Decreto nº 5.948/06, que visa a consolidação dos princípios e das e ações de prevenção, repressão e responsabilização dos criminosos pela prática do tráfico, bem como o atendimento às vítimas. Tal projeto levou a instituição do I e II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, instituidos através do Decreto nº 10.087/19, que têm como objetivo a coordenação das ações de enfrentamento ao tráfico através da Secretaria Nacional de Justiça, Ministério da Justiça, Secretaria dos Direitos Humanos e Secretaria de Políticas para as
Mulheres.
Dentre os principais resultados dos Planos podemos citar a ampliação de assistência às vítimas, o aumento significativo de estudos e pesquisas acerca do assunto e o crescimento no número de denúncias e inquéritos instaurados.
Ainda, em o apoio ao PNETP, foi instituído o Grupo Assessor de Avaliação e Disseminação, através do Decreto nº 6.347/08, que tem como atribuições apoiar o Ministério
da Justiça quanto ao monitoramento e a avaliação do PNETP, a elaboração de relatórios semestrais, a implantação de métodos de monitoramento e avaliação e acompanhemento das ações, atividades e metas estabelecidas. No mais, ressalta-se que tais projetos não impedem que o resguardo legal e a assistência psicológica e médica às vítimas ocorram com o auxílio de ONGs.
Vale destacar também que as diretrizes do PNETP estão alinhadas com os dispostos no Protocolo de Palermo, bem como estão de acordo com os princípios e normas dos demais instrumentos internacionais acordados pelo Brasil. Todavia, deve-se observar que as ações de âmbito nacional devem ser realizadas harmonicamente pelo governo federal, estadual e municipal, buscando efetivar estas ações de maneira rápida e eficaz.
Ademais, descata-se que, dentre as atividades realizadas pelo Brasil a fim de dar cumprimento ao acordado no Protocolo de Palermo, podemos destacar: a instituição do Plano de Ação para a Luta contra o Tráfico de Pessoas entre os Estados Parte do Mercosul e os Estados Associados (através da Portaria do Ministério da Justiça nº 2.167 de 2006); a instituição da Portaria nº 31 de 2009 que estabeleceu o Núcleo de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas e PostosAvançados; a Lei nº 11.106/05 que alterou os artigos 148, 215, 216, 226, 227, 231 e acrescentou o artigo 231-A do Código Penal; a Lei nº 13.445/17 que definiu as normas de migração no país; e, o Decreto nº 9.833/19 que regulamentou o Comitê Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas.
Apesar do vasto amparo normativo, podemos observar que as medidas de enfrentamento ao tráfico e proteção às vítimas adotadas pelo Brasil estão focadas exclusivamente à implementação de normas que criminalizam o problema, o que pode ser um problema, a medida que deve ser demonstrada a eficácia da norma jurídica na prática, como serpa elucidado a seguir.
2.5 Da Eficácia das Políticas Públicas de Enfretamento ao Tráfico Humano
Ao analisarmos a vasta legislação brasileira acerca do tráfico de pessoas, podemos observar que a questão do tráfico no Brasil é visto muito mais como um problema de segurança pública, ao invés de um problema relacionado ao direitos humanos. Ou seja, ao que parece, há mais políticas voltadas em prender os criminiosos do que auxiliar e proteger as vítimas que sofreram com estas ações.
Assim, não podemos esquecer que de nada vale a criação de políticas públicas, se estas não são possuem eficácia e não apresentam amparo as vítimas do crime.
No maos, em análise ao “Relatório Final de Execução do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas” podemos observar que mesmo após a criação dos projetos, são poucos estados brasileiros que de fato implantam tais ações de combate ao tráfico de pessoas, fazendo com que o país em geral não esteja cumprindo com seu trabalho de prevenção e assistência às vìtimas, e, consequentemente, não esteja conseguindo identificar os aliciadores e contrabandos, que, por sua vez, continuam obtendo êxito em suas práticas delitivas.
Diante disto, observamos que nosso país possui um bom respaldo legislativo para que possam ser realizadas ações de prevenção e combate ao crime de tráfico de pessoas, contudo, não há efetividade das ações.
Ainda, observamos que as políticas públicas, no geral, apenas serão eficazes quando o governo brasileiro, em todos os seus níveis, começarem a realizar de fato tais planos, ações e pesquisas de maneira uniforme e reiterada, visando a cessão ou a máxima diminuição da prática criminosa, de modo geral.
Diante desse cenário, fica evidente também que os esforços para combater este crime deve levar em conta políticas públicas mais amplas, que visam ainda o combate à pobreza e a desigualdade social, com defesa dos direitos humanos a todos, pois, mesmo diante da dimensão do crime de tráfico de pessoas, verifica-se que suas políticas públicas não diminuem a abrangência de tal delito, sendo este um dos mais recorrentes no Brasil e em todo o território internacional.
Por fim, destaca-se sobre a importância da prevenção para que não sejamos vitimas do tráfico de pessoas. Há diversos indícios que existem na prática deste delito, sendo o mais comum, a oferta de empregos fáceis e lucrativos ou ofertas de trabalho que incluam o deslocamento, viagens nacionais ou internacionais, além da inexistência de endereço, telefone ou localização da agência de empregos contratante. Caso detectado uma possível prática de tráfico de pessoas, a denúncia pode ser feita através do Disque 100. A prevenção é sempre a melhor iniciativa.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo tratou sobre o surgimento do crime tráfico humano e sua evolução história, bem como analisou as políticas de combate ao crime de tráfico de pessoas no Brasil, observando que há um amplo amparo legislativo, tanto no âmbito internacional quanto nacional.
Verificamos que as leis de proteção as vítimas do crime de tráfico de pessoas, apesar de serem bem tratadas juridicamente, não se aplicam de modo efetivo no que tange a sua execução, sendo precárias quanto o auxílio e assistência as vítimas do crime e a prevenção do tráfico humano (através de políticas voltadas a diminuição da desigualdade social).
Apontamos que a punição ao agente causador do dano necessitam ser abordados vastivamente, pelo fato de ser um crime de alta gravidade, todavia, deve ser observado, a mesma medida, que, além da punibilidade, é necessária a aplicação de políticas de prevenção ao crime, bem como de suporte as vítimas e suas famílias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL, Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988.
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. II Plano nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Secretaria Nacional de Justiça. Brasília: Ministério da Justiça, 2013.
BRASIL. Lei nº 13.344, de 6 de outubro de 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20152018/2016/lei/l13344.htm. Acesso em: 01 maio 2020.
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. 2020. Disponível em: https://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico- de-pessoas/politica- brasileira/planos. Acesso em: 01 maio 2020.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. O que é tráfico de pessoas? 2020. Disponível	em: https://www.cnj.jus.br/programas-eacoes/assuntosfundiariostrabalhoescravoetraficodepessoas/trafico- de- pessoas/. Acesso em: 01 maio 2020.
COSTA, Breno; SELIGMAN, Felipe. Como funciona o tráfico de pessoas: eles prometem trabalho numa terra onde os salários são altos, mas colocam suas vítimas numa rede de exploração	sexual	e	escravidão.	2018.	Disponível	em:
https://super.abril.com.br/sociedade/como-funciona-o-trafico-de-pessoas/. Acesso em: 01 maio 2020.
HOFLING, Eloisa de Mattos. Estado e políticas (públicas) sociais. Cadernos Cedes, n. 55, 2001
IGNACIO, Julia. Tráfico de pessoas: como é feito no Brasil e no mundo?. 2018. Disponível em: https://www.politize.com.br/trafico-de-pessoas- no-brasil-e-no-mundo/. Acesso em: 01 maio 2020.
INSTITUTO TERRA TRABALHO E CIDADANIA (São Paulo). ITTC EXPLICA: Você
sabe o que é tráfico de pessoas? Disponível em: http://ittc.org.br/ittc-explica-trafico-de- pessoas/. Acesso em: 01 maio 2020.
ONU. Protocolo de Palermo: promulgado pelo Decreto nº 5.017, de 12/03/2004. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/protocolo-de-palermo/. Acesso em: 01 maio 2020.
SALGADO, Daniel de Resende. O Bem Jurídico Tutelado pela Criminalização do Tráfico	Internacional	de	Seres	Humanos.	Disponível		em: http:/www.prsp.mpf.mp.br/prdc/areadeatuacao/escravtraf/artigo%20tr_341fico%20de%20s eres%20humanos%20_para%20publica_347_343o%20-%20nova%20co_205.pdf.	Acesso em 27 de julho de 2013.
TERESI, Verônica Maria. Guia de referência para a rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil. Brasília, Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, 2012.

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