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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Matriz de análise Disciplina: Direito do Seguro e Resseguro Módulo: 1,2 e 3 Aluno: Caroline Navarro Braga Turma: 0321-1_1 Tarefa: Parecer à Seguradora Introdução O contrato a ser analisado é de Seguro Garantia, firmado entre a Construtora XPTO e a Seguradora, para construção de uma nova rodovia interestadual, haja vista que saiu vencedora da licitação promovida pelo Governo Federal. O Governo Federal exigiu que fosse contratado seguro garantia no valor máximo permitido pela lei 8.666/93, para cobrir eventuais prejuízos causados pela contratante durante o curso da obra, após intalação de processo administrativo. A construção duraria entre 25 de maio de 2014 a 25 de maio de 2018, mesmo período abrangido pelo Seguro Garantia. Houve rescisão do contrato administrativo firmado entre a Construtora XPTO e o Governo Federal, rescisão esta consolidada pela decisão administrativa proferida nos autos do processo administrativo movido pelo Governo Federal exclusivamente em face da Construtora, gerando o dever de indenizar o Governo Federal em 120 milhões de reais. O Governo Federal comunicou a Seguradora contratada pela construtora XPTO em 03 de março de 2016, após a decisão final do processo administrativo, exigindo a cobertura da multa indenizatória devida pela Construtora. Assim, diante o relato dos fatos, o objetivo deste parecer é analisar as peculiaridades do contrato de seguro em questão em conjunto com as Normas da SUSEP, a fim de determinar se a Seguradora deverá cobrir o valor da multa. 2 Desenvolvimento A modalidade de seguro garantia contratada no caso em tela está prevista na Circular n 477/2013 da Susep, no capítulo II. Trata-se de Seguro Garantia para Construção, Fornecimento ou prestação de serviços. Trata-se de uma relação multilateral, haja vista que há 3 partes envolvidas nesta relação. A primeira é a Construtora XPTO, denominada tomadora, que foi a responsável pelo pagamento do prêmio à Seguradora conforme estipulado em contrato. A segunda é a Seguradora que, como forma de contraprestação ao prêmio pago pela Construtora, devera administrar o fundo de prêmios e ser capaz de cobrir o valor estipulado em contrato em caso de configuração do sinistro. E a terceira é a Adminsitração Pública Federal, segurada, que será a beneficiária do valor estipulado em contrato, em caso de ocorrência do Sinistro. Analisando as disposições deste contrato, tem-se no item 1 que a garantia está limitada ao valor estipulado na apólice entre as partes, e cobrirão prejuízos decorrentes do inadimplemento das obrigações da empresa contratada no contrato principal, que no caso é a Construtora XPTO, para construção, fornecimento ou prestação de serviços. Esta modalidade de seguro garantia tabém cobrirá os valores das multas e indenizações devidas à Administração Pública, observando o que dispõe a Lei 8.666/93. No caso em tela, a execução da obra da nova rodovia interestadual ficou orçada em 980 milhões de reais. O Governo Federal, por sua vez, exigiu garantia no valor máximo permitido pela Lei 8.666/93, qual seja 10% do valor do contrato, conforme previsto no artigo 56, parágrafo 3º da referida lei, haja vista se tratar de obra de grande vulto. Assim, cumprindo as exigências da Adminitração Pública Federal, o seguro garantia contratado poderia cobrir indenizações e prejuízos em até R$ 98 milhões de reais. Conforme relatado, a multa gerada pela rescisão contratual entre a Construtora XPTO e o Governo Federal foi de 120 milhões de reais, sendo este um valor acima em relação ao teto máximo de cobertura do seguro garantia contratado. Deste modo, a Seguradora só poderia cobrir parcialmente o valor da multa, no limite de 98 milhões de reais, gerando um saldo de 22 milhões que deverão ser arcados pela Construtora XPTO. Partindo para a análise das demais disposições contratuais do Seguro Garantia em tela, tem-se no item 4.1 a necessidade de registrar a expectativa de Sinistro. Neste caso, o Segurado deverá comunicar imediatamente a Seguradora em caso de instauração de processo administrativo com a finalidade apurar possível inadimplência do Tomador do contrato principal, bem como oportunizar ao tomador a chance de adimplir suas obrigações. Ademais, o item 4.2 prevê a Reclamação, situação na qual a Seguradora não é comunicada previamente do processo administrativo, mas sim apenas ao final, havendo conversão da expectativa de sinistro em Reclamação. A comunicação deverá vir acompanhada de cópia de todo o processo administrativo e o sinistro só será caracterizado após a análise da seguradora e comprovada a inadimplência da Tomadora em relação às obrigações cobertas pela apólice. No caso em discussão, a Seguradora não foi notificada de imediato, no momento da instauração do processo administrativo, mas sim apenas ao final, quando já havia sido concretizada a rescisão contratual entre a Construtora XPTO e a Administração Pública, e quando já estava sendo demandada pela cobertura da multa. À época do recebimento da notificação, a Seguradora negou cobertura, sob o argumento de que o Segurado (Governo Federal) não cumpriu as disposições contratuais, que no caso foi o desrespeito à expectativa de sinistro. De acordo com o item v, artigo 11 do capítulo I (Condições Getais do Seguro Garantia, da circular nº 477/2013 da SUSEP, caso o segurado não cumpra integralmente qualquer obrigação prevista no contrato de seguro, o segurado perderá o direito à indenização. Sob a ótica desta disposição, a Seguradora estaria correta ao negar a cobertura, haja vista que a Administração Pública descumpriu a Expectativa de Sinistro. Contudo, conforme citado acima, o contrato prevê uma alternativa à não informação da expectativa de sinistro, permitindo a conversão desta expectativa em Reclamação, após a rescisão contratual. 4 Assim, seguindo o princípio da boa-fé, a Seguradora poderia, à época, realizar a cobertura da multa no limite previsto na apólice. Contudo, não de imediato, sem antes analisar os aspectos do processo administrativo e apurar a real responsabilidade do Tomador. Em que pese a possibilidade de cobertura da apólice pela Seguradora, a decisão à época foi pela não cobertura. Passaram-se 5 anos do ocorrido e a Administração Pública permaneceu inerte em relação à negativa de cobertura da Seguradora. O artigo 206, II, b, CC/2002 prevê a prescrição em um ano de qualquer pretensão do segurado em face da Seguradora, contado a partir da notificação recebida pela Seguradora. Como no caso em tela a Seguradora recebeu a notificação em 03 de março de 2016, a Administração Pública poderia reclamar judicialmente em face da Seguradora em razão da negativa de cobertura até 03 de março de 2017, o que não o fez. Assim, qualquer pedido realizado por meio de ação judicial em face da Seguradora estará prescrito há 4 anos. ] Conclusão Diante o exposto, podemos concluir que o valor limite de cobertura da apólice de seguro garantia era de 98 milhões de reais, haja vista a imposição da lei 8666/93, que limitava o valor do seguro garantia em até 10% do valor do contrato principal em obras de grande vulto. Assim, a Construtora XPTO deveria ainda arcar com 22 milhões do valor da multa. Em 2016, quando a Seguradora foi notificada, após o decurso do regular processo administrativo, sem a informação de Expectativa de Sinistro, poderia ser discutida a obrigatoriedade de cobertura. O Segurado não cumpriu com todas as disposições contratuais ao não comunicar a Seguradora no início da instauração do processo administrativo, mas, por outro lado, o contrato previa uma alternativa no caso da não comunicação imediata da Seguradora, que seria transformara expectativa de sinistro em Reclamação. A Seguradora sob o argumento do segurado ter desrespeitado o contrato, optou por negar a cobertura. Essa negativa poderia ser contestada judicialmente pela Adminsitração Pública até março de 2017, mas não o fez. Assim, em que pese a possibilidade de cobertura do valor da apólice na época, atualmente, a Seguradora não está mais obrigada a realizar qualquer cobertura, haja vista a prescrição de qualquer pedido judicial a ser ajuizado pela Administração Pública que tenha como objeto este contrato de Seguro Garantia. 6 Referências bibliográficas CIRCULAR SUSEP Nº 477, DE 30 DE SETEMBRO DE 2013. Dispõe sobre o Seguro Garantia, divulga Condições Padronizadas e dá outras providências. SUSEP, 2013. Disponível em < https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario- Oficial/circular-susep-no-477-de-30092013.html#item5>. Acesso em 28 de março de 2021. LEI Nº 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. PLANALTO, 1993. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8666cons.htm>. Acesso em 29 de março de 2021. LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 . Institui o Código Civil. PLANALTO, 2002. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 30 de março de 2021. https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario-Oficial/circular-susep-no-477-de-30092013.html#item5 https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario-Oficial/circular-susep-no-477-de-30092013.html#item5 http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.666-1993?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8666cons.htm http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.406-2002?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm
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