Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO PSICOLOGIA 3ºSEMESTRE - 3ºNMA Autismo: O olhar da sociedade e as políticas públicas para para o sujeito autista Trabalho de Tópicos Integradores I Beatriz Cunha Passos - RA 28288048 Evanilto Silva do Nascimento - RA 28288689 Jocelma Rosalla dos Santos Torralbo - RA 28288485 Meire Rose Aparecida Gomes Gonzaga - RA 28272964 GUARULHOS 2021 Beatriz Cunha Passos - RA 28288048 Evanilto Silva do Nascimento - RA 28288689 Jocelma Rosalla dos Santos Torralbo - RA 28288485 Meire Rose Aparecida Gomes Gonzaga - RA 28272964 Autismo: O olhar da sociedade e as políticas públicas para para o sujeito autista Trabalho apresentado ao curso de Psicologia da Universidade De Guarulhos, referente à disciplina Tópicos Integradores I, sob supervisão da Professora Ligiana Koller Gorgonio. GUARULHOS 2021 1 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO 3 2. A HISTÓRIA DO AUTISMO 4 3. VISÃO MULTIDISCIPLINAR E SISTÊMICA 7 3.1 Os Avanços Da Medicina No Tratamento Do Tea 7 3.2 O TEA e a poda neuronal 8 3.3 A psiquiatria no TEA 8 3.4 A psicoterapia ABA 9 3.5 PECS - (Picture Exchange Communication System) 10 3.5.1 Quem pode aplicar o método PECS em autistas? 11 3.5.2 A importância dos métodos de intervenção em TEA: 11 3.6 A nutrição no TEA 12 4. INCLUSÃO SOCIAL DO AUTISMO 13 4.1 Autismo e inclusão 13 4.2 Desafios da inclusão social 13 4.3 Inclusão escolar 14 5. POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE 15 5.1 Políticas públicas para o TEA 15 5.2 Olhar da Sociedade 15 5.3 Dia do orgulho Autista 16 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 17 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 18 2 1.INTRODUÇÃO O presente trabalho visa discorrer sobre TEA, neste sentido, busca-se conhecer suas características, historicidade, avanços em sua compreensão, abordagens de tratamento, desafios, legislações e conquistas para este sujeito. O problema de pesquisa proposto para as inserções é: Como acontece a inclusão do autismo na sociedade? Visando apresentar dissoluções sugerimos o tema: “O olhar da sociedade e as políticas públicas para para o sujeito autista. O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento definido, segundo os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), por déficits sociais, deficiências de linguagem e comportamentos repetitivos com interesses restritos. O autismo é definido como um transtorno complexo do desenvolvimento, do ponto de vista comportamental, com diferentes etiologias que se manifesta em graus de gravidade variados (GADIA, 2006 apud Onzi e Gomes, 2015). De acordo com Oliveira (2009), “autos” significa “próprio” e “ismo” traduz um estado ou uma orientação, isto é, orientação em si. Assim, o autismo é compreendido como um estado ou uma condição, que parece estar recluso em si próprio (Onzi e Gomes, 2015). Segundo folha informativa de 2017 da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), estima-se que uma em cada 160 crianças tem transtorno do espectro autista (TEA), atingindo 70 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, a estimativa é de mais de 2 milhões de autistas, as pessoas com transtorno do espectro autista são frequentemente sujeitas à estigmatização, discriminação e violações de direitos humanos. Os sintomas costumam ser reconhecidos durante o segundo ano de vida (12 a 24 meses). Os primeiros sintomas do transtorno do espectro autista frequentemente envolvem atraso no desenvolvimento da linguagem, ausência de interesse social ou interações sociais incomuns, padrões estranhos de brincadeiras, e padrões incomuns de comunicação (APA, 2014). O DSM 5 agrupa atualmente em transtorno do espectro autista e engloba os transtornos antes chamados de autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do 3 desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger. 2. A HISTÓRIA DO AUTISMO Em 1930, Leo Kanner era considerado o melhor psiquiatra infantil dos Estados Unidos e do mundo. Nesse tempo, tinha em média trinta anos que a psiquiatria tinha descoberto a infância como subespecialidades, o que demonstra que a profissão demorou a deixar de pensar nas crianças como adultos em miniaturas. O livro de Kanner ChildPsichiatry (psiquiatria infantil), publicado em 1935, durante muitos anos foi o único manual padrão sobre o tema. Anos depois, em meados de 1938, Leo Kanner foi procurado pelos pais de um garoto de quatro anos por nome Donald, e que no relato de seus progenitores a criança não demonstrava alegria, e vivia fechado em seu próprio mundo.Nessa ocasião, os pais descreveram em detalhes os hábitos alimentares de Donald, seus padrões verbais, e a clareza de sua enumeração, assim como a idade em que aprendeu a andar, a contar, a cantarolar e a cantar. De acordo com as informações dos pais, o menino se mostrava indiferente à companhia de outras crianças, quadro que mudava quando estava sozinho, isto é, a solidão era o seu estado preferido. Em 1942, depois de alguns anos de acompanhamento no caso de Donald e de outras crianças em condições semelhantes, Kanner optou em denominar o fenômeno como “distúrbio autista do contato afetivo”. Sua percepção foi de que essas crianças se distinguiam das demais no quesito do relacionamento com outras pessoas, e isso desde a primeira infância. As descobertas de Leo Kanner tornaram-se plataforma para novas pesquisas que passaram a ocorrer nos anos 50 e 60 do mesmo século, trazendo consigo ainda mais dúvidas e confusão acerca de um assunto ainda desconhecido.Por exemplo, alguns pesquisadores defendem que o autismo tinha origem em relações frias e distantes entre pais e filhos,causa que levou algumas mães de “mães geladeiras” à medida em que pais e mães tratavam os seus filhos sem afetividade. 4 Isso viria a mudar no início dos anos 60.Novos estudos e evidências que surgiram ao redor do mundo foram responsáveis por constatar que o autismo é fruto de um transtorno cerebral presente desde a infância do indivíduo, independente de lugar ou situação socioeconômica.Essa descoberta desconstruir o paradigma de que a causa do autismo teria ligação com o perfil de relacionamento entre os pais e a criança. Um dado histórico importante a ser ressaltado é o pedido de desculpas que Kanner fez por ter defendido essa teoria em algum momento de sua carreira. A história do autismo teve um momento importante com as pesquisas de Michael Rutter (1978), um psicólogo britânico, que dividiria o autismo em quatro bases:1) Atrasos cognitivos e desvio sociais (não só como função de retardo mental); 2) problemas de comunicação, novamente, não só em função de retardo mental associado; 3) comportamentos incomuns, tais como movimentos estereotipados e compulsivos; e, 4) início do quadro anteriormente aos 30 meses de idade.A elaboração de Rutter e o trabalho dos que continuam pesquisando sobre o autismo, influenciaram a definição desta condição no DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Isso se deu em 1980, acontecimento que marcou o momento em que o autismo deixou de ser tratado como esquizofrenia, e pela primeira foi considerado como uma nova classe de transtornos,a saber: os transtornos invasivos do desenvolvimento (TIDs) (Klin, 2006). Outro fator importante da história do autismo se deu sob as constatações da psiquiatra inglesa, LornaWing, que já na década de 1970, teria apontado o autismo como um espectro de condições, que deveria ser analisado sob níveis diferentes, dado que cada indivíduo apresentaria dificuldades específicas.Como pesquisadora e clínica, bem como mãe de uma criança com autismo, ela sempre defendeu uma melhor compreensão e serviços para pessoas com autismo e suas famílias. Fundou a NationalAutistic Society – NAS, juntamente com Judith Gold, e o Centro LornaWing. Alguns anos depois, já no século XXI, mais precisamente no dia 18 de dezembro de 2007, a ONU proclamou o diamundial de conscientização sobre o autismo, acontecimento que é comemorado todo dia 2 de abril, tendo como objetivo combater a discriminação, eliminar o preconceito, difundir o conhecimento sobre o tema, criar novos espaços para o diálogo entre familiares, profissionais da saúde mental e os próprios indivíduos com autismo, propiciando um ambiente para se pensar a seu respeito, minimizando os seus dramas. 5 Quanto ao Brasil, pouco se ouvia falar sobre o autismo até 1980. As primeiras publicações jornalísticas sobre autismo eram formadas de matérias traduzidas por agências de notícias de países como Estados Unidos e Reino Unido e caracterizavam o diagnóstico como doença. O autismo, enquanto movimento começou a se consolidar no Brasil a partir da década de 1980, quando familiares, principalmente mães, descontentes com a culpa recebida pela condição dos seus filhos, se organizaram com objetivo de terem acesso a serviços de saúde, especialmente em algumas capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Além disso, esses familiares começaram a escrever cartas para jornais visando chamar atenção para a causa autista. Em 1988, foi fundada na cidade de Belo Horizonte, a Associação Brasileira de Autismo (ABRA), com pequena adesão, em especial de algumas organizações de pequeno porte com vistas à consolidação de um movimento com representatividade em âmbito nacional. Algo marcante na história do desenvolvimento da causa pelo autismo no Brasil foi o I Congresso Nacional de Autismo que ocorreu em Brasília no ano de 1989, com a participação de 1600 pessoas. A esta altura já existiam 23 associações de autismo no País. Tempos depois foi sancionada a Lei Berenice Piana (12.764/12), que instituiu a Política Nacional de Proteção dos direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Trata-se de um marco legal de alta relevância para as garantias dos direitos aos portadores de TEA.A Legislação prevê acesso aos seguintes direitos: 1) um diagnóstico precoce; 2) tratamento; 3) terapias; medicamento pelo SUS; 4) educação; 5) proteção social; 6) trabalho; 7) moradia, inclusive à residência protegida; e, 8) previdência social e assistência social e a serviços que propiciam a igualdade de oportunidades; 9) proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; 10) nutrição adequada e terapia nutricional. Em 2013 o DSM-5 passou a abrigar todas as subcategorias do autismo em um único diagnóstico, o “Transtorno do Espectro Autista” (TEA). A partir disso, os indivíduos são diagnosticados em um único espectro com diferentes níveis de gravidade. Sendo assim, a “Síndrome de Asperger” não é mais tratada como uma condição separada e o diagnóstico para o autismo passou a ser definido por dois critérios: 1) as deficiências sociais e de comunicação; 2) a presença de comportamentos repetitivos e estereotipados. 6 A lei Brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (13.145/15), criou o “Estatuto da Pessoa com Deficiência”, que atua no sentido de aumentar a proteção aos portadores de TEA, definindo a pessoa portadora de autismo como “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial”.O Estatuto é um símbolo importante na defesa da igualdade de direitos dos deficientes, do combate à discriminação e da regulamentação da acessibilidade e do atendimento prioritário. Nota-se que a história do autismo foi um processo dinâmico e flexível, aliás, atualmente há um entendimento de que o autismo não é fruto de um distúrbio neurológico somente, mas em alguns casos têm relação com o ambiente em que se vive, o tratamento que se recebe e a alimentação. 3. VISÃO MULTIDISCIPLINAR E SISTÊMICA 3.1 Os Avanços Da Medicina No Tratamento Do Tea Existem atualmente importantes avanços em relação ao tratamento do autismo, o autista pode apresentar sintomas em níveis leves, moderados ou graves, a forma de se relacionar e se comunicar são afetados pelos sintomas mais leves, contudo nos estágios mais graves pode existir uma dependência completa, inclusive para realizar tarefas básicas. Como visto anteriormente, para determinar a presença do transtorno, o diagnóstico se baseia, principalmente, em conversas e observações clínicas. Ainda não existem exames específicos para autismo, porém alguns são necessários para investigar as causas e doenças associadas, alguns deles são o cariótipo com pesquisa de X frágil, o eletroencefalograma (EEG), a ressonância magnética nuclear (RMN), os erros inatos do metabolismo, o teste do pezinho, as sorologias para sífilis, rubéola e toxoplasmose; a audiometria e outros testes neuropsicológicos. A medicina vê o autismo como decorrente tanto de fatores genéticos como de condições do ambiente que interferem no DNA, desordens neurológicas e 7 imunológicas estão ligadas ao autismo. Assim, primariamente, os tratamentos visam combater a neuroinflamação ao mesmo tempo em que melhoram a resposta imunológica. Na prática a neurologia, psiquiatria, psicologia, pedagogia, fonoaudiologia, fisioterapia, devem fazer parte do acompanhamento do autista e é melhor que o máximo de áreas estejam envolvidas no tratamento que, além de integrativo, precisa ser individualizado devido às particularidades de cada paciente. 3.2 O TEA e a poda neuronal Pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Columbia identificaram que em crianças menores de 3 anos com ou sem autismo o número de sinapses são basicamente os mesmos, mas em adolescentes o número é significativamente maior em autistas, o que significa uma importante descoberta de que os sintomas sociais típicos do autista podem estar relacionados com uma falha na eliminação de neurônios desnecessários durante uma etapa importante do desenvolvimento neural chamada Poda Neuronal, a hipótese levantada por especialistas é que a quantidade superior e talvez desorganizada de conexões neurais causem uma espécie de ruído neural que resulta nas limitações sociais e de comunicação deste grupo, estes dados podem direcionar novas pesquisas relacionadas à produção de uma droga que corrija ou até mesmo impeça esta falha do desenvolvimento neurológico. 3.3 A psiquiatria no TEA A função do psiquiatra vai além do diagnóstico e da medicação, sua função também é avaliar as capacidades e necessidades do indivíduo afetado pelo TEA, e apontar qual das técnicas conhecidas proporcionam mais chances de melhoras e os profissionais experientes disponíveis para o trabalho, o psiquiatra deve deter o maior conhecimento possível do processo de desenvolvimento infantil, da dinâmica familiar, da psiquiatria infantil, de todas as áreas de trabalho que poderão favorecer o desenvolvimento, a melhora clínica e a psicofarmacologia do autista. 8 3.4 A psicoterapia ABA Os psicólogos são especialistas que podem ajudar muito no diagnóstico de TEA e ainda usar algumas abordagens terapêuticas que foram desenvolvidas para tratar e melhorar a qualidade de vida de crianças com o TEA e seus familiares. Uma dessas abordagens é a Análise do Comportamento Aplicada (do inglês Applied Behavior Analysis A.B.A.), que é uma terapia que usa técnicas de ensino fundamentadas em avaliação e evidências para aumentar comportamentos adequados, reduzir os prejudiciais que interferem de forma negativa no aprendizado e melhorar e a aperfeiçoar as habilidades básicas e também complexas de comunicação e socialização. As atividades propostas pela técnica podem ser desenvolvidas em casa, em escolas ou clínicas, usam formas de recompensas para reforçarem o comportamento positivo e estimularem determinadas práticas. É muito importante que a ABA ocorra desde os quatro anos de idade, aproximadamente. Os estudos mostram que em torno de 80% dos casos de TEA submetidos a tratamentos baseados em ABA mostram evolução satisfatória, porém infelizmente há casos mais severos que não alcançam resultados de evolução e precisam de acompanhamento por tempo indeterminado Existem uma série de técnicas usadas pelos psicólogospara melhorar as habilidades sociais do autista, dentre elas também está a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que se empenha no ajuste entre pensamentos, sentimentos e comportamentos. Durante as sessões, o psicólogo conhece melhor o autista e sua família e identifica os comportamentos e pensamentos que causam desconfortos e precisam ser trabalhados, como a ansiedade, depressão e situações do dia a dia como rejeição, isolamento, etc. A técnica de Estimulação e Integração Sensorial realizada pela terapia ocupacional também é essencial para o psiquismo e melhora clínica do autista, a comunicação verbal e não verbal também é uma base para o processo terapêutico dos autistas. É na escola que a criança autista encontrará seus pares e os estímulos acrescidos de interação social. Não há uma técnica melhor que a outra, o que existe são indicações mais precisas e mais específicas para que aquela pessoa melhore mais e mais rapidamente e também existem os profissionais mais experientes. As indicações terapêuticas e as prioridades mudam com o tempo e há necessidade da participação 9 de um técnico com uma visão bem ampla que possa orientar essa família ou o autista no percurso do tempo. 3.5 PECS - (Picture Exchange Communication System) O PECS - Sistema de Comunicação por Troca de Figuras é uma ferramenta de comunicação para pessoas autistas, este sistema serve para ajudar pessoas de várias idades que não conseguem se fazer entender através da fala, ou que têm uma fala muito limitada, também e permite desenvolver a comunicação interpessoal, principalmente em pessoas com dificuldades severas de comunicação. Este sistema permite desenvolver a compreensão, reduzir a frustração de quem tem dificuldade em falar e permite um poder de maior escolha de quem não se expressa oralmente, fornece um meio para essas pessoas aprenderem habilidades sociais e de iniciação da comunicação.. Mais do que ajudar a criança ou adulto com autismo a expandir o vocabulário, formular frases, expandir o discurso e a desenvolver uma linguagem funcional, seja ela verbal ou não, este sistema estimula a iniciativa de uma interação, não apenas a resposta a ela. PECS é o método de comunicação alternativa através de um sistema de Troca de Figuras (MELLO, 2004, apud SANTOS, 2015, p. 40), ele é usado em pessoas que possuem dificuldades na conversação, e tem sido muito utilizado com pessoas que têm TEA. Se utiliza de recursos visuais como ferramenta para quem tem Autismo conseguir se comunicar. Seja para fazer um pedido, compartilhar sentimentos, pensamentos, ou o que se deseje expressar, por meio do uso de imagens simples é possível estabelecer um diálogo estabelecido por uma criança ou adulto no espectro. O treino com o PECS se dá seguindo suas fases de aplicação, (BONDY; FROST, 2001), a criança com autismo aprende a escolher entre duas ou mais fotos para pedir suas coisas favoritas. Estes são colocados em um livro onde as imagens são armazenadas e facilmente removidas para comunicação. Assim, a criança aprende a construir sentenças, por meio do uso da figura que representa “eu quero”, seguido de outra que revele o item/coisa/atividade pretendido. 10 3.5.1 Quem pode aplicar o método PECS em autistas? Não é necessário ser um profissional, qualquer pessoa pode aprender a aplicar o método PEC, desde que faça o curso de formação básica na troca de imagens do sistema de comunicação, que geralmente tem a duração de 2 dias. 3.5.2 A importância dos métodos de intervenção em TEA: Deve-se ter em mente que todo método de intervenção tem a necessidade de focar-se em toda a família e não somente no indivíduo com TEA. Com objetivo de estimular a aquisição de novas habilidades e a minimização de comportamentos inadequados e improdutivos socialmente com essas pessoas. É super importante a parceria entre diversos profissionais desde seu nascimento (alguns essenciais e, outros, opcionais e escolhidos por cada família) até a escola (procedimentos para maior aproveitamento da criança nas propostas escolares e mediação na interação social). Sem essa parceria, dificilmente as metas serão atingidas, afinal, o procedimento aplicado somente em um contexto e por algumas pessoas que lidam com a criança não mudará o comportamento. Os métodos nos deixam concluir que foram necessários o diagnóstico e suas intervenções para que seja atingido um grau variável de interação do indivíduo com o meio onde se vive. Para que o indivíduo autista consiga levar uma vida o mais autônomo e funcional possível, de acordo com a intensidade de seu transtorno. O Transtorno do Espectro Autista tem por característica o comprometimento no desenvolvimento adaptativo e social do indivíduo e quando não diagnosticado precocemente, limita seriamente seu funcionamento diário ao longo da vida, pois limita a aprendizagem do indivíduo num período onde o cérebro encontra-se mais permeável para se apropriar de estímulos. As crianças com TEA perdem etapas essenciais de seus primeiros anos de vida com o prejuízo da aquisição de pré-requisitos essenciais. O Transtorno do Espectro Autista não tem cura, desafia a todos os profissionais envolvidos e na literatura médica ainda não surgiram casos em que o quadro autístico tenha desaparecido. 11 É importante deixar claro que para que a pessoa consiga ter um nível de convivência e autonomia satisfatórias, no decorrer de sua vida, deve-se trabalhar e modificar o máximo possível os déficits apresentados utilizando-se de métodos comprovados e eficazes. Imagens do PECS 3.6 A nutrição no TEA Nas áreas da nutrição e da imunologia, a dieta específica individualizada, doses de ômega 3, vitamina D, vitamina A são tratamentos recomendados por parte dos profissionais, uma vez que fatores causadores de disfunções imunológicas estão relacionados ao autismo, deve-se potencializar os tratamentos que fortalecem as células de defesa. A seletividade alimentar é uma das características diagnósticas do TEA está relacionada a problemas de modulação sensorial da audição, visão, olfato, paladar e toque. Nesses casos, os padrões são regidos pela aversão a alguns fatores, que podem envolver textura, cor, sabor, forma, temperatura e cheiro do alimento. Por outro lado, quando não há fatores orgânicos identificáveis, a questão alimentar pode ser considerada como manifestação de interesses restritos e 12 comportamento de rigidez, que também são características do autismo. A rigidez é caracterizada como a relutância em experimentar novos alimentos, ter um pequeno repertório de alimentos aceitos, não realizar as refeições em horários e locais diferentes, e até mesmo a resistência à apresentação de pratos e tipos de utensílios novos na hora da refeição. 4. INCLUSÃO SOCIAL DO AUTISMO 4.1 Autismo e inclusão Em 2014, as pessoas com transtorno do espectro autista ganharam um respaldo muito importante no que diz respeito ao acesso a vários serviços aos quais elas têm total direito. A Lei 12.764/2012 foi regulamentada pelo Decreto Presidencial 8.368/2014 e ela garantiu por lei a qualificação e a acessibilidade aos serviços públicos do Sistema Único de Saúde (SUS), da educação e de proteção social para pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo. Algumas formas de estimular a inclusão social de uma pessoa autistase dá através de: Promover o ato de brincar individualmente e/ou em grupo; Permitir acessibilidade comunicacional, estabelecer canais que promovam a conscientização para um público maior, para que haja respeito, compreensão e amor; Conscientizar o grupo que irá incluir esse sujeito, explicando de forma simples os possíveis comportamentos e estereótipos que possam surgir; Respeitar o espaço do indivíduo autista, e nunca subestimar essas pessoas; 4.2 Desafios da inclusão social Desinformação e o preconceito, além da falta de qualificação adequada dos profissionais da educação; Acesso a uma educação de qualidade, que possibilite o desenvolvimento dessas pessoas, paraque seja possível minimizar os efeitos do transtorno, desenvolvê-los e torná-los adultos aptos e sociáveis e inseridos na 13 comunidade; Promover campanhas para informar melhor a população sobre o TEA, e deve, também, aliar-se à instituição familiar, para que sejam trabalhados valores como respeito e tolerância, a fim de minimizar o preconceito existente e incluí-los no âmbito social; 4.3 Inclusão escolar A inclusão escolar é um movimento que ocorre mundialmente e se fortaleceu internacional e nacionalmente nos anos 90, a partir de leis e diretrizes governamentais, tendo tido maior divulgação nas últimas décadas. No entanto, a inclusão escolar de crianças com TEA ainda se constitui como um desafio para os profissionais da saúde e da educação, isso porque as dificuldades de comunicação, desconhecimento das características da criança com TEA e carência de estratégias pedagógicas, impactam no processo de aprendizagem (Cabral & Marin, 2017, p17). A escola participa da inclusão, como um dos espaços que favorecem o desenvolvimento infantil, tanto pela oportunidade de convivência com outras crianças quanto pelo importante papel do professor, cujas mediações favorecem a aquisição de diferentes habilidades nas crianças, o contexto escolar oportuniza contatos sociais, favorecendo o desenvolvimento da criança autista, assim como o das demais crianças, na medida em que convivem e aprendem com as diferenças ( Höher Camargo e Bosa, apud Couto & Silva, 2019, p25). A possibilidade de o autista concretizar seu potencial educacional depende da flexibilidade da escola ao contemplar a diversidade discursiva e a multiplicidade dos laços sociais nos quais se inserem os alunos, o que pode alicerçar uma construção democrática da tarefa educativa. A inserção de autistas em classes regulares traz desafios particulares, pois vários deles têm uma impossibilidade de controlar o próprio corpo, tem uma percepção sonora diferente, sofrem com rotulações chamados de débil mental, bullying ou por ser autista não verbal o que em ambos os casos dificultam a vida deles (BIALER, 2015 apud Couto & Silva, 2019, p26). As principais dificuldades encontradas nos ambientes escolares são: Falta de capacitação profissional da equipe pedagógica, desinteresse por parte do corpo docente, recusa no ato da matrícula (embora seja lei); Adaptação do material escolar, assim como a possibilidade de acompanhante terapêutico em sala de aula, 14 (quando necessário); Acompanhamento multidisciplinar (psicoterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, terapia psicopedagógica, psicomotricidade, reforço escolar e AEE); Salas de aula numerosas, o que dificulta um trabalho direcionado aos alunos com transtorno espectro autista. 5. POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE 5.1 Políticas públicas para o TEA A inclusão de políticas públicas demorou para acontecer no Brasil, em 2001 durante a III Conferência Nacional de Saúde Mental surgiu a proposta do CAPSi, que ofereceria assistência à psicóticos, viciados e também pessoas com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo). Depois, em 27 de Dezembro de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.764, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Além disso, a Lei nº 6.193, de 31/07/18, acrescentou pessoas com TEA na prioridade de atendimento, junto com gestantes, lactantes e idosos. É fácil perceber que a inserção de políticas públicas está acontecendo de forma gradual e que é preciso mais investimento nessa área. O Ministério da Saúde possui um documento nacional que norteia como deve ser o atendimento para pessoas com TEA, porém essas orientações não passam do papel. Famílias de baixa renda passam por tratamentos precários, em locais que não correspondem às necessidades de uma pessoa autista. As terapias funcionam e são comprovadas cientificamente, mas precisam ser aplicadas também em casa, o que traz mais um impasse para as famílias de crianças com TEA de baixa renda, que precisam trabalhar fora e não possuem a chance de uma diminuição da carga horária. 5.2 Olhar da Sociedade No Brasil, o dia do orgulho autista foi incluído pela união de pais e professores que aderiram à causa com o objetivo de mudar a visão negativa que ainda é prevalente nos meios de comunicação. É importante que não só a família e 15 os profissionais de saúde estejam preparados, mas sim toda a sociedade se o interesse é criar uma comunidade mais inclusiva para eles. O autismo possui diferentes graus, os mais avançados limitam em muito a autonomia de um indivíduo, porém com uma intervenção adequada e um coletivo saudável e equilibrado, os sintomas não impedirão eles de obterem suas conquistas pessoais. Para criar essa sociedade inclusiva e preparada, e também para dar assistência ao autista desde a infância, é preciso acesso a serviços e tratamentos específicos. O auxílio profissional junto com o diálogo aberto sobre seus desafios, proporcionará o caminho para que mais seja investido na saúde pública do autista brasileiro. 5.3 Dia do orgulho Autista No dia 18 de dezembro de 2007, a ONU proclamou o dia mundial de conscientização sobre o autismo, acontecimento que é comemorado todo dia 2 de abril, tendo como objetivo combater a discriminação, eliminar o preconceito, difundir o conhecimento sobre o tema, criar novos espaços para o diálogo entre familiares, profissionais da saúde mental e os próprios indivíduos com autismo, propiciando um ambiente para se pensar a seu respeito, minimizando os seus dramas. É comemorado no dia 18 de Junho, o Dia Nacional do Orgulho Autista, criado em 2005 pelo grupo Aspies For Freedom (Aspies pela Liberdade) e no dia 2 de Abril, Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. Acredita-se que ter um dia do ano dedicado a esse assunto trará mais mobilização da comunidade, conscientização e ações efetivas para a realidade nacional. 16 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A condição de estar fechado em si mesmo, não significa que o indivíduo esteja excluído da sociedade. Os diferentes olhares apontados nos remetem que ainda há um caminho a ser percorrido e que estamos avançando para que este sujeito, munido de especificidades, possa ser devidamente incluído em todas as esferas de saúde, numa compreensão biopsicossocial. O TEA tem suas especificidades com relação a forma de viver, de se comunicar, expressar, de ser e estar, do sujeito, e cabe à sociedade olhar para este tema e de fato contribuir, para que os avanços e conquistas possam ser internalizados e não negados. A história do TEA nos mostra que este sujeito vem sofrendo estigma, de diversas esferas, até mesmo pela ciência, que num dado momento culpabiliza as mães, sabe-se que os fatores condicionantes são multifatoriais e ainda é um enigma sua etiologia. Configura-se aqui um dos problemas para a inclusão, os estigmas, tanto este apresentado, como também na escola, na família, na ciência e etc. O que nos damos conta é que a falta de conhecimento no tema e a falta de prática pelos agentes envolvidos são os grandes detratores para a inclusão do autista na sociedade. Os profissionais da saúde, a família, os professores, e toda a sociedade influenciam e devem participar deste processo, de eliminar os estigmas com relação a essa condição. Na atualidade é evidente que mais esforços para inclusão são necessários, diante das leis e crescimento de casos, precisamos adentrar para a disseminação desta condição e contribuir para que mesmo o sujeito fechado em si, possa estar aberto em uma sociedade, possa se colocar dentro de suas especificidades. 17 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. Caroline. Núcleo do Conhecimento. Autismo: Importância da detecção e intervenção precoces, 2020. Disponível em: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/autismo.> Acesso em: 09 abr. 2021. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2014 ASSOCIAÇÃO de Amigos doAutista. Diagnóstico, 2021. Disponível em: <https://www.ama.org.br/site/autismo/diagnostico/>. Acesso em: 09 abr. 2021. AUTISMO BH. A função do psiquiatra infantil para a assistência da pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), 2016. Disponível em: http://autismobh.com/psiquiatria/. Acesso em: 09 abr. 2021 BAUMGARTEN, Andrea. Clinica Aquavitae (org.). Os avanços no tratamento do autismo pela medicina, 2019. Disponível em: <https://clinicaaquavitae.com.br/os-avancos-do-tratamento-do-autismo-pela-medicin a/#:~:text=Estudos%20mostram%20que%20desordens%20neurol%C3%B3gicas,qu e%20melhoram%20a%20resposta%20imunol%C3%B3gica>. Acesso em: 09 abr. 2021. BELLUCK, Pam. The New York Times. Study Finds That Brains With Autism Fail to Trim Synapses as They Develop, 2014. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2014/08/22/health/brains-of-autistic-children-have-too-ma ny-synapses-study-suggests.html.> Acesso em: 09 abr. 2021 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Brasília, 2013. CABRAL, C., & Marin, A. (2017). Inclusão escolar de crianças com transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática da literatura. Educação em Revista, 33(e142079). http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698142079. Acesso em: 10 abr. 2021. CONSELHO Regional de Serviço Social. Dia de Conscientização do Autismo: brasil ainda precisa consolidar políticas públicas. Brasil ainda precisa consolidar políticas públicas, 2020. Disponível em: <http://www.cresspr.org.br/site/dia-de-conscientizacao-do-autismo-brasil-ainda-precis a-consolidar-politicas-publicas/>. Acesso em: 09 abr. 2021. COUTO, C. C., Furtado, M. C. de C., Zilly, A., & Silva, M. A. I. (2019). Experiências de professores com o autismo: impacto no diagnóstico precoce e na inclusão escolar. Revista Eletrônica De Enfermagem, 21. https://doi.org/10.5216/ree.v21.55954. Acesso em: 10 abr. 2021. 18 http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698142079 https://doi.org/10.5216/ree.v21.55954 DONVAN, John; ZUCKER, Caren. Outra Sintonia: a história do autismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. Luis A. de Araujo. DUARTE, Brayan. Rede Humaniza Sus. O autismo e as políticas públicas assistenciais, 2019. Disponível em: https://redehumanizasus.net/o-autismo-e-as-politicas-publicas-assistenciais/. Acesso em: 09 abr. 2021. FERNANDES,Conceição Santos; TOMAZELLI, Jeane; GIRIANELLI, Vania Reis. Diagnóstico de autismo no século XXI: evolução dos domínios nas categorizações nosológicas. Psicol. USP, São Paulo , v. 31, e200027, 2020 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642020000100234 &lng=en&nrm=iso>. access on 03 Apr. 2021. HOSPITAL Santa Mônica. Autismo na sociedade: Saiba preparar a criança para o convívio social. saiba preparar a criança para o convívio social, 2019. Disponível em: <https://hospitalsantamonica.com.br/autismo-na-sociedade-saiba-preparar-a-crianca -para-o-convivio-social/>. Acesso em: 09 abr. 2021. LOCATELLI, Paula Borges; SANTOS, Mariana Fernandes. Autismo: Propostas de Intervenção, 2016. Disponível em: <http://www.fsj.edu.br/transformar/index.php/transformar/article/view/63/59>. Acesso em: 09 abr. 2021. MIZAEL, Táhcita Medrado; AIELLO, Ana Lúcia Rossito. Revisão de estudos sobre o Picture Exchange Communication System (PECS) para o ensino de linguagem a indivíduos com autismo e outras dificuldades de fala. Rev. bras. educ. espec. Dec. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382013000400011 &lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 09 abr. 2021. OLIVEIRA, Porlan. Periódicos Eletrônicos de Psicologia. Análise de sistema de comunicação alternativa no ensino de requisitar por autistas, 2016. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-6975201600010 0003>. Acesso em: 09 abr. 2021. ONZI, Franciele Zanella; GOMES, Roberta de Figueiredo. Transtorno do Espectro Autista: a importância do diagnóstico e reabilitação. Revista Caderno Pedagógico, [S.l.], v. 12, n. 3, dez. 2015. ISSN 1983-0882. Disponível em: <http://www.meep.univates.br/revistas/index.php/cadped/article/view/979>. Acesso em: 03 abr. 2021. OPAS/OMS BRASIL (org.). Transtornos do espectro autista, 2017. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?Itemid=1098>. Acesso em: 03 abr. 2021. PEGORARO, Vanessa. Instituto Unitea. Dia do Orgulho Autista Agência DUO/UniTEA, 2019. Disponível em: <https://unitea.com.br/blog-interna/dia-do-orgulho-autista>. Acesso em: 09 abr. 2021. 19 RUSSO, Fabiele. Neuroconecta. O papel do psicólogo no autismo, 2019. Disponível em: <https://neuroconecta.com.br/o-papel-do-psicologo-no-autismo/>. Acesso em: 09 abr. 2021. 20
Compartilhar