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Hipertensão Arterial 1 Clínica Médica e Suas Especialidades - Aula 26/ 04/ 2021 Introdução: De forma conceitual, a pressão arterial consiste na força exercida pelo sangue sobre a parede do vaso. Como o ciclo cardíaco é dividido em duas fases, sístole e diástole, para avaliar deve-se saber o valor de cada uma delas. Entre os principais fatores reguladores estão, débito cardíaco, que corresponde ao volume de sangue ejetado pelos ventrículos em um determinado intervalo de tempo, e a resistência vascular periférica, a qual é a força exercida pelo vaso em oposição à passagem do sangue. Ambos estabelecem uma relação diretamente proporcional com o valor da PA. Os outros fatores que se relacionam, são, o coração, vasos sanguíneos, volume extracelular, rins, SNC, fatores humorais e eventos celulares. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença crônica não transmissível (DCNT), sendo definida por níveis pressóricos, em que os seus benefícios superam os riscos. HAS é definida como, PA sistólica (PAS) > 140 mmHg e/ou diastólica (PAD) > 90 mmHg ou superior, essa aferição deve ser feita em consultório, seguindo a técnica correta em pelo menos duas ocasiões, nas quais o paciente não fez o uso de medicamentos antihipertensivos. Epidemiologia: HAS é uma das doenças mais comuns, acometendo em torno de 1 bilhão de pessoas no mundo. Sendo a principal causa de morte e a mais comum em uma consulta ambulatorial, além de ser um fator tratável e de fácil reconhecimento do AVC. No Brasil, afeta cerca de 30% da população adulta e até 60% dos idosos. Fisiopatologia: Mais de 90% dos casos de HAS se enquadram como primárias ou essenciais, ou seja, são aquelas que não conseguem identificar uma causa específica. Sendo assim, acredita-se que a interação dos fatores de risco se relacionem com o aumento da PA. São eles: Idade; Sexo feminino; Sedentarismo; Sobrepeso/ Obesidade; Pele Negra; Fatores genéticos; Excesso de sal; Excesso de álcool. Além dos mecanismos fisiopatológicos: Aumento da atividade do SNS; Aumento da produção de hormônios retentores de sódio e vasoconstritores; Ingestão inadequada de potássio e cálcio; Aumento da secreção ou secreção inapropriada de renina com consequente aumento na produção de angiotensina II e aldosterona; Deficiência na produção de vasodilatadores como prostaciclinas, óxido nítrico (NO) e peptídeos natriuréticos; Anormalidades dos vasos de resistência, incluindo lesões seletivas da microvasculatura renal; DM e resistência à insulina; Aumento da atividade de fatores de crescimento vascular; Alteração no receptores adrenérgicos, influenciando a frequência cardíaca, a resposta inotrópica do coração e o tônus vascular; Alteração no transporte iônico celular; Aumento da rigidez arterial, responsável direta pela hipertensão arterial do paciente idoso. Os demais casos se enquadram como HAS secundária, portanto, são aquelas consequentes de uma doença de base, a qual eleva os níveis pressóricos. As principais são: Síndrome da apnéia do sono/ hipopnéia obstrutiva do sono - Levam a uma obstrução das vias aéreas superiores e causam uma hipóxia, aumentando os riscos de desenvolver HAS; Doenças renal crônica - Ocorre uma diminuição da TFG, aumentando a produção de renina e uma ativação prolongada do SRAA; Hipotensão renovascular - Estenose parcial ou total, uni ou bilateral da artéria renal ou de seus ramos, reduzindo a pressão de FG e consequente ativação do SRAA; Hiperaldosteronismo - Produção exacerbada de aldosterona; Feocromocitoma - Tumor que acomete as células cromafins das glândulas suprarrenais, aumentando a produção de catecolaminas e consequentemente uma crise adrenérgica caracterizada pela tríade: cefaléia, palpitação e sudorese. Quando elevada a pressão arterial, o sangue exerce na parede dos vasos uma força, esse choque é mais intenso e mais constante, favorecendo a ocorrência de lesões por todo o sistema cardiovascular, além dos órgãos-alvo. Por consequência, é comum a associação da HAS com processos fisiopatológicos, como: Sistema Nervoso: Com o aumento da atividade do SNS ocorre a elevação da PA, com isso, haverá uma contribuição para o desenvolvimento e manutenção da hipertensão arterial por meio do estímulo do coração, rins e vasos periféricos. Dessa forma, ocorre um aumento do DC, retenção de volume e aumento da resistência arterial periférica. Sistema renina-angiotensina-aldosterona: A angiotensina II aumenta a pressão arterial em decorrência de suas ações, como: Vasoconstrição por ação direta; Estimulação da síntese e liberação da aldosterona; Aumento da reabsorção tubular de sódio (por ação direta ou via ação da aldosterona); Estímulo de sede e de liberação de hormônio antidiurético; Aumento da atividade simpática mediada por suas ações no SNC. Controle da Pressão Arterial: O organismo produz algumas substâncias vasoativas, as quais são capazes de regular a PA, entre elas: Vasopressina (ADH); Peptídeo natriurético atrial; Óxido nítrico e Endotelinas; Produtos do ácido aracdônico; Bradicinina; Aldosterona; Angiotensina II; Catecolaminas; Urotelina; Glicocorticóides; Hormônios sexuais… Quadro Clínico: Ao contrário do que muitos acreditam, a HAS pode se apresentar de forma assintomática. Essa doença vai de forma silenciosa lesionando os vasos sanguíneos, coração, cérebro e rins, caso não seja detectada e tratada. Quando observado que o paciente se encontra com os níveis pressóricos alterados, o ideal é que se inicie uma investigação, a fim de diagnosticar de forma precoce a HAS. Algumas questões na anamnese são importantes, como, histórico familiar, a presença de fatores de risco específicos para doenças cardiovasculares, os aspectos socioeconômicos e também seus hábitos de vida. Em questão do exame físico, devem ser obtidas informações gerais, entre elas, dados antropométricos e o exame cardiovascular completo, além da aferição de pressão arterial. Para se fazer a mensuração da PA a aferição precisa ser um pouco mais complexa. O indicado é que na primeira consulta ela seja medida em cada um dos membros superiores, com o paciente deitado, sentado e em pé. É importante avaliar os dois membros para conseguir perceber se existe uma diferença significativa entre eles. Quando a diferença é de 20 mmHg entre as PAs e até 10 mmHg, no caso da PAd, há um indício de doenças arteriais. Já quando existem grandes alterações de acordo com o posicionamento do paciente, existe uma indicação de hipotensão postural. Classificação: Se a PAs e a PAd estiverem em categorias diferentes, a maior delas deve ser utilizada para a classificação da PA. Hipertensão: Os hipertensos são aqueles pacientes que mantêm o nível pressórico igual ou acima de 140x90 mmHg. Eles ainda podem ser estratificados em 3 estágios. Entram também nesse grupo aqueles indivíduos cujo o tratamento anti-hipertensivo não está tendo efeito, se encaixando na classificação da hipertensão não controlada. Em algumas situações podem atrapalhar o momento de classificar a PA. Prevenção Primária: Diagnóstico e tratamento precoce: Principais intervenções não farmacológicas Modalidade Intervenção NF Dose Diferença da PAS obtida Controle de Peso Peso/gordur a corpórea Alcançar o peso ideal. Espera-se que a cada quilo perdido tenha uma redução de 1 mmHg. -2 /3 mmHg Dieta saudável Dieta DASH Rica em frutas, vegetais, grãos e baixo teor de gordura. - 3 mmHg ↓ ingestão de sódio Diminuir sódio na dieta Ideal < 2g ou diminuir 1,0g/dia (5g sal). - 2/ 3 mmHg ↑ ingestão de potássio Acrescentar potássio na dieta 3,5 a 5,0 g/dia em dieta rica em potássio. - 2 mmHg Atividade física Aeróbico Pelo menos 150 min/sem. de atividades moderadas ou 75 min/sem de vigoradas. - 4 mmHg Ingestão de álcool Reduzir consumo de álcool Homens < 2 drinques; Mulheres < 1 drinque (<30 g de álcool/dia). - 3 mmHg Avaliação inicial do paciente hipertenso:A avaliação inicial do paciente se dá em três etapas, (1) estadiar a PA, (2) avaliar o risco cardiovascular geral do paciente e (3) detectar indícios de hipertensão secundária que necessitam de uma avaliação adicional. (1) Estadiamento da PA: Para todos os paciente com suspeita de hipertensão, além dos exames laboratoriais o indicado é que seja solicitado exames complementares de medição residencial da PA, a MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) e a MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial). (2) Estratificação do Risco Cardiovascular: O risco cardiovascular cresce com o aumento da pressão arterial, além de também aumentar se o paciente tiver lesões de órgãos-alvo de hipertensão ou de outros fatores de risco cardiovasculares. Fatores de risco: Sexo masculino; Idade (H>55 anos, M>65 anos); Fumante; Dislipidemia; Glicose em jejum (100 a 125mg/dL; Obesidade (IMC>30 kg/m² ou circunferência de cintura: H>102 cm, M> 88 cm); Histórico familiar de doenças cardiovasculares prematura (H<55 anos, M<65 anos). Lesões em órgão-alvo: Hipertrofia ventricular esquerda pelo ECG ou ecocardiograma transtorácica; Doença renal crônica (TFG e < 60mL/min/1,73m²); Microalbuminúria (proporção albumina-para-creatina, 30 a 300 mg/g); Índice tornozelo-braquial <0,9; Velocidade de onda de pulso > 10 m/s. Diabetes melito: Glicose plasmática em jejum > 126 mg/dL; Hemoglobina > 7%; Glicose plasmática pós-carga > 198 mg/dL. Doença cardiovascular ou renal estabelecida: AVC ou AIT; DAC: infarto do miocárdio, angina, revascularização do miocárdio; Claudicação intermitente (doença arterial periférica sintomática); Insuficiência cardíaca (com fração de ejeção reduzida ou preservada); Doença renal crônica com TFG <30 mL/min/1,73m²; Retinopatia avançada: hemorragia ou exsudados, papiledema. (3) Identificação e tratamento de causas secundárias (identificáveis) de hipertensão: A terceira etapa da avaliação inicial é rastrear causas identificáveis de hipertensão. Entre os diagnósticos suspeitos estão: Doença renal crônica. Tratamento: Após a confirmação do diagnóstico de HAS o próximo passo é iniciar o tratamento. Este não tem como meta a cura da doença, mas sim de controlar a PA. Com isso, medidas farmacológicas e não farmacológicas precisam ser adotadas. Tratamento não farmacológico: O tratamento não farmacológico consiste na mudança dos hábitos de vida do paciente. Entre eles, exercício físico, redução de peso, cessar tabagismo, redução do consumo de sódio, redução do consumo de álcool, reduzir o estresse, aumentar o consumo de potássio e adotar uma alimentação saudável. Tratamento farmacológico: O tratamento farmacológico consiste em 4 classes de medicamentos. São eles: diuréticos, antagonistas de cálcio, inibidores de enzima conversora de angiotensina (iECA), bloqueador do receptor AT1 (BRA) e de bloqueadores adrenérgicos. Decisão Terapêutica:
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