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RESUMO E QUESTÕES DAS OBRAS 
DA UEL 
POR: @DIIPLOMED 
 
CONTOS NOVOS 
MARIO DE ANDRADE 
Sobre o autor: Mário de Andrade (1893-1945) iniciou sua carreira no auge da implantação do 
Modernismo no Brasil. Ao lado de Oswald de Andrade (que não era seu parente) e outros artistas, 
colaborou decisivamente para a revolução modernista e para a realização da Semana de Arte Moderna, em 
1922. E, como tal, fez diversas experiências estilísticas tanto na prosa quanto na poesia, com destaque 
para Macunaíma – o herói sem nenhum caráter (1928) e Amar, verbo intransitivo (1927), destacando-se 
como um dos mentores da renovação literária com vocabulário, estrutura e olhar voltado à cultura 
brasileira. No caso de Contos novos, abandona o experimentalismo mais radical, em prol de uma narrativa 
modernista segura e madura, por assim dizer. As histórias, que se passam em São Paulo, tanto na capital 
quanto no interior, têm como objetivo retratar o processo de urbanização e industrialização, o duelo entre 
patriarcalismo e progressismo, além de denunciar as injustiças sociais e fazer análise psicológica dos 
personagens. 
Escola literária: modernismo – 1 ° geração. O Modernismo surgiu como produto das transformações 
sofridas pelo Brasil nas duas primeiras décadas do século 20, iniciando com a Semana de Arte Moderna de 
1922, que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo e tinha como objetivo causar incomodo e chocar os 
expectadores. O Modernismo divide-se em 3 momentos, sendo que a obra e o autor estudados pertencem 
à 1° Geração Modernista 
Sobre a obra: Contos Novos foi publicado postumamente, em 1947. A morte prematura impediu o 
autor de finalizar o projeto do livro, que compreenderia doze contos. Com isso, apenas nove foram 
efetivamente escritos. Segundo indicações do próprio Andrade, ele iniciou a redação ainda na década de 
1920, tendo-a revisado em diversas ocasiões, como é o caso, por exemplo, de Atrás da Catedral de Ruão, 
iniciado em 1927, que passou por, ao menos, cinco revisões até a sua finalização, em julho de 1944. Dos 
nove contos, quatro são narrados em 1ª pessoa pelo personagem Juca. São eles, na ordem em que 
aparecem: Vestida de Preto, Peru de Natal, Frederico Paciência e Tempo da Camisolinha. São narrativas de 
períodos distintos da vida do narrador, desde a infância, passando pela adolescência, até a fase adulta. 
Nesse sentido, a ordem dos contos é exatamente ao contrário, isto é, Tempo da Camisolinha seria o 
primeiro, Frederico Paciência o segundo; Peru de Natal o terceiro; e, finalmente, Vestida de Preto, o conto 
que compreende os três grandes momentos da vida do narrador (infância, adolescência e vida adulta). No 
 
 
entanto, em Tempo da Camisolinha, o narrador é Carlos, embora tudo indique tratar-se mesmo de Juca, 
ainda mais se consideramos a descrição dos cabelos cacheados logo no início do conto, referência idêntica 
à descrição feita do personagem nos outros contos. O objetivo 27 de todos parece ser a de tentar entender 
quem foi, que aspectos da vida levaram o narrador a ser o que é, bem como, já na quase velhice, tentar 
compreender as atitudes que tomou nos momentos específicos de sua vida. Também, pode-se dizer, que 
são contos em que o peso do lirismo é mais acentuado, em que recompor uma imagem perdida é mais 
importante que a análise social. Além disso, os contos em 1ª pessoa apresentam caráter autobiográfico. 
No período, influenciado pelas doutrinas psicanalíticas de Freud, o autor deixa-se levar por certo complexo 
edipiano, de maneira a exaltar a figura da mãe-mártir perfeita e abominar a formação patriarcal da família. 
Ainda é lembrada (Frederico Paciência) certa tendência ao homossexualismo. Por trás da análise 
psicológica, o escritor mostra a vivência urbana, retirando seus personagens das camadas médias da 
sociedade paulistana. Já os cinco contos restantes são narrados em 3a pessoa – com narrador observador e 
também narrador onisciente (“O Ladrão”, “Primeiro de Maio”, “O Poço”, “Atrás da Catedral de Ruão” e 
“Nélson”). Os três primeiros apresentam um componente social, de inspiração neorrealista, ao passo que 
os dois últimos têm como ponto central questões de ordem existencial. 
Enredo dos contos 
1. "VESTIDA DE PRETO": Juca, em flashback, recupera as primeiras experiências amorosas com sua 
prima Maria, bruscamente interrompidas por uma Tia Velha. A repressão associa-se à rejeição da prima, 
que o esnoba na adolescência. A prima se casa, descasa, e o convida para visitá-la. "Fantasticamente 
mulher", sua aparição deixa Juca assustado. 
 2."O LADRÃO": Numa madrugada paulistana, um bairro operário é acordado por gritos de pega-ladrão. 
Num primeiro momento, marcado pela agitação, os moradores reagem com atitudes que vão do medo ao 
pânico e à histeria, anulados pela solidariedade com que se unem na perseguição ao ladrão. Num segundo 
momento, caracterizado pela serenidade e enleio poético, um pequeno grupo de moradores experimenta 
momentos de êxtase existencial. Os comportamentos se sucedem, numa linha que vai do instinto gregário 
ao esvaziamento trazido pela rotina. 
3. "PRIMEIRO DE MAIO": Conflito de um jovem operário, identificado como "chapinha 35", com o 
momento histórico do Estado Novo. 35 vê passar o Dia do Trabalho, experimentando reflexões e emoções 
que vão da felicidade matinal à amargura e desencanto vespertinos. Mesmo assim, acalenta a esperança 
de que, no futuro, haja liberdade democrática para que "sua" data seja comemorada sem repressão. 
4. "ATRÁS DA CATEDRAL DE RUÃO: Relato dos obsessivos anseios sexuais de uma professora de 
francês, quarentona invicta, que procura hipocritamente dissimular seus impulsos carnais. Aplicação 
ficcional da psicanálise: decifração freudiana. 
5. "O POÇO": Joaquim Prestes, fazendeiro dividido entre o autoritarismo e o progressismo, é desafiado 
por um grupo de peões que se insubordinam, desrespeitando o mandonismo absurdo do patrão. 
 6. "PERU DE NATAL": Juca exorciza a figura do pai, "o puro-sangue dos desmancha-prazeres", 
proporcionando à família o que o velho, "acolchoado no medíocre", sempre negara. 
7. "FREDERICO PACIÊNCIA": Dois adolescentes envolvidos por uma amizade dúbia, de conotação 
homossexual, procuram encontrar justificativas para esse controvertido vínculo e se rebelam contra as 
convenções impostas pela sociedade. 
 
 
 8. "NÉLSON": Registro do comportamento insólito de um homem sem nome. Num bar, um grupo de 
rapazes exercita seu "voyeurismo" pela curiosidade despertada pelo estranho sujeito: quatro relatos se 
acumulam, na tentativa de decifrar a identidade e a história de vida de uma pessoa que vive ilhada da 
sociedade, ruminando sua misantropia. 
9. "TEMPO DE CAMISOLINHA": Juca, posicionando-se novamente como personagem narrador, evoca 
reminiscências da infância, especialmente do trauma que lhe causou o corte de seus longos cabelos 
cacheados. Reconcilia-se com a vida ao presentear um operário português com três estrelas-do-mar. 
Personagens 
 Juca: presente em vários contos na condição de narrador, parece funcionar como alter ego do autor. 
 35: o protagonista sem nome de “Primeiro de maio”, símbolo da festa e da solidariedade que se opõem 
ao estado repressivo. 
 Frederico Paciência: personagem do conto homônimo, síntese das tentativas de vencer as barreiras 
impostas pelo superego. 
 Nelson: personagem do conto homônimo, fiuração da solidão. 
 Mademoiselle: personagem de “Atrás da Catedral de Ruão”, figuração do desejo sexual reprimido. 
Trabalhadores: presentes em “O poço”, “Tempo da camisolinha” e “Primeiro de maio”, evidenciam a 
perspectiva social da literatura modernista. 
QUESTOES 
1) (UEL) Sobre Contos Novos, de Mário de Andrade, é correto afirmar que esse livro: 
a) representa obra da fase madura do autor, desligando-se dos ideais estéticos modernistas de 22 e 
retomando atitudes românticas. 
 b) representa uma evolução da prosa de ficção realista e crítica, assemelhando-se aoregionalismo do 
romance de 30, inclusive no âmbito temático. 
 c) reúne intimismo e crítica social, firmando-se como uma obra de caráter reflexivo do modernismo e 
discutindo diversos preconceitos, como a homossexualidade e o tabu da morte no âmbito familiar. 
 d) recorre, em diversos textos, à personagem Juca, que, ora como narrador, ora como personagem, se 
constitui na defesa do presente e no desprezo pelo passado. 
 e) contraria um traço expressivo da obra poética do autor, ao repudiar a oralidade valorizada nos poemas 
da primeira geração modernista. 
2) (UNEMAT) Os contos de Mário de Andrade ligam-se ao tom coloquial da primeira fase do Modernismo 
brasileiro. Nesse aspecto, assinale a alternativa correta quanto à composição narrativa. 
a) A ausência dos nomes das personagens em Primeiro de Maio e Atrás da catedral de Ruão indica a 
alienação do homem na sociedade. 
 b) A linguagem coloquial, próxima da oralidade, caracteriza a necessidade de manter o estilo parnasiano. 
 
 
 c) A exploração das novas técnicas de linguagem garante a densidade da composição e o apagamento da 
emoção. 
 d) A narrativa linear não permite a digressão e o flashback. 
e) A manutenção do espírito conservador e conformista estabiliza os conflitos das personagens. 
 3) (FUVEST) 
 I. A manobra psicológica do narrador-protagonista mostra que as lembranças obsessivas perdem a força, 
quando o seu culto as eleva a uma respeitosa distância. 
II. A paisagem paulistana é percorrida pelo olhar ingênuo de quem busca reconhecimento e esbarra no 
oficialismo autoritário. 
 As afirmações I e II referem-se, respectivamente, aos seguintes contos de Mário de Andrade (Contos 
Novos): 
 a) Vestida de Preto e Primeiro de Maio 
b) Peru de Natal e Frederico Paciência 
c) O Ladrão e Frederico Paciência 
d) Peru de Natal e Primeiro de Maio 
 e) Vestida de Preto e O Ladrão 
 4) (UNEMAT) Leia os fragmentos da obra Contos Novos, de Mário de Andrade. 
I. “E só mais tarde, já lá pelos nove ou dez anos, é que lhe dei nosso único beijo, foi maravilhoso. Se a 
criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família, porque 
assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedos aliás que nos interessava muito, apesar da idade já 
avançada para ele, mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma que casávamos rápido, 
só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos interessavam tanto, e cada par 
fugia logo, indo viver no seu quarto […]. O que os outros faziam, não sei. Eu, isto é, eu com Maria, não 
fazíamos nada. Eu adorava principalmente era ficar assim sozinho com ela, sabendo várias safadezas já, 
mas sem tentar nenhuma”. (Vestida de Preto, p. 19) 
 II. “Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim, espontaneamente, a ideia de fazer uma das minhas 
chamadas ‘loucuras’. Essa fora aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente 
familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava regularmente uma reprovação 
todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma 
detestável de tia; e principalmente desde as lições que dei ou recebi, não sei, duma criada de parentes: eu 
consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama conciliatória de ‘louco’”. (O Peru de Natal, 
p. 71) 
 Assinale a alternativa correta: 
a) Juca é o personagem-narrador do primeiro conto, enquanto o segundo, é narrado por Joaquim Prestes. 
b) As memórias da infância são recuperadas no segundo conto, pois o primeiro traz o narrador onisciente. 
 c) Em ambos os contos o personagem-narrador é o Juca que recupera a memória da infância. 
 
 
d) Nas lembranças do personagem-narrador Juca, de ambos os contos, o trauma causado pela Tia Velha foi 
o corte de seus longos cabelos cacheados. 
e) A Tia Velha representa uma lembrança prazerosa na memória do narrador. 
5) (FUVEST) “Se em ambos os contos a dominação social é tema de primeiro plano, cabe, no entanto, 
fazer uma DISTINÇÃO: em um deles, ela é direta, e aparece sob a forma do capricho e do arbítrio 
patronais; já em outro, ela é mais moderna – torna-se indireta e anônima.” 
 A distinção realizada nesta afirmação refere-se, RESPECTIVAMENTE, aos seguintes contos de Mário de 
Andrade (Contos Novos): 
a) Nélson e O Poço 
 b) O Ladrão e O Poço 
 c) O Ladrão e Nélson 
 d) O Poço e Primeiro de Maio 
e) Primeiro de Maio e O Ladrão 
GABARITO 
1) C 2) A 3) D 4) C 5) D 
 
A PALAVRA ALGO 
LUCI COLLIN 
Sobre a autora: Luci Collin nasceu em Curitiba-PR, em 1964, e reside na capital. Graduou-se em piano 
(1985) pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), em Letras PortuguêsInglês (1987) pela 
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Percussão Clássica (1990) pela EMBAP. Obteve os títulos de 
mestre em Literaturas de Língua Inglesa (1994) pela UFPR, de doutora em Estudos Linguísticos e Literários 
em Inglês (2003) pela Universidade de São Paulo (USP) e de pós-doutora (2010) pela USP. Entre 1986 a 
1987, foi presidente da Cooperativa de Artes do Paraná e, desde 1999, leciona Literaturas de Língua Inglesa 
na UFPR. Poetisa, ficcionista, tradutora e professora universitária, publicou livros de literatura, participou 
de antologias nacionais e internacionais (EUA, Alemanha, França, Uruguai, Argentina, Peru e México), 
produziu artigos e ensaios para revistas e jornais no Brasil e no exterior, escreveu e produziu textos 
dramáticos e teve vários textos seus transformados em peças teatrais. Publicou seu primeiro livro aos vinte 
anos: Estarrecer. Depois vieram outros oito livros de poesia, sete de contos e quatro romances. Obteve 
diversos prêmios por sua obra. Em 2017, com a publicação de A palavra algo (de 2016) ficou em segundo 
lugar no prêmio Jabuti, o mais importante na área literária no Brasil. 
Movimento literário: nova poética. 
 Assim como há uma prosa e teatro contemporâneo, há a poesia de autores que passaram a produzir e 
publicar no fim do século XX ou já no século XXI. Podemos dividir tal produção em oficial e marginal. Luci 
Collin se encaixa na poética oficial, que são os autores que publicaram seus trabalhos no circuito 
tradicional, ou seja, por meio de editoras. Outros autores, como: Manoel de Barros, Adélia Prado e Ferreira 
Gullar também fazem parte dessa divisão. 
 
 
Sobre a obra: Há, em A palavra algo, 47 poemas, na maior parte líricos, em que a autora retoma e 
ressignifica a tradição literária do ocidente, com destaque para alguns autores, como Edgar Allan Poe, 
Mallarmé, Fernando Pessoa, Casimiro de Abreu, William Shakespeare, entre outros. Do ponto de vista 
formal, os poemas raramente apresentam alguma pontuação, aproveitando-se da lição aprendida dos 
modernistas de 1922 e que ainda influencia uma série de poetas de outros momentos. Também exploram 
a sonoridade, os recursos estéticos, como o uso reiterado de anáforas, a linguagem simbólica por meio de 
metáforas. Além disso os poemas são marcados pela repetição e pela diversidade. 
 Enredo e Análise da obra: Como em um lance de dados Luci Collin celebra o jorro da linguagem 
em A Palavra Algo (Iluminuras, 2016) – livro que lhe concedeu o segundo lugar no Prêmio Jabuti 2017. A 
metáfora dos dados pode ser encontrada no poema “Lances” em que mostra como Collin utiliza as 
palavras para “cumprir o poema”: “dado que nos poreja / cumprir o poema / sagrar sua sorte / de verbos 
em chamas”. Sua poesia – apesar de cerebral – estabelece essa conexão com o improvável, o que lhe 
garante maior liberdade para compor seus versos: 
dado que é sem doutrina 
 jogo de emblemas 
 ondulação das cortinas 
 que tudo a voragem do início 
 e os sons feito fossem azes 
 estilando 
 o âmago desimpedido 
 de um esplêndido algo. 
Seu único comprometimento é com a poesia, ela mesma enquanto fluxo constante, como escreve em 
“Tule”: “assim aqui não se traceja perguntas / queos passos da dança são um jorro / as falas são manjar e 
reeditam / o script que a vida assina”. Esse diálogo com o inconsciente – de onde sai o jorro de 
significantes – é o material primordial da poeta, que assume sua escrita enquanto tessitura imaterial. Em 
“Firmamento”, ela nos dá a indicação: 
o espantadiço gosto da memória 
cristal de confeitaria 
adorno de sèvres longínquo 
faz desfilar aqui não só os mortos 
mas as tessituras abortadas no algo que têm 
de farelos 
de abstração 
de incongruência. 
 
 
 
A poeta e escritora curitibana deixa entrever em A palavra algo a sua clave do poético. Seu livro nos fala da 
construção da linguagem – seu cerne – e nos mostra a ficcionalidade do poema. Toda poesia é ficção. No 
poema “Óbvia”, Collin nos lembra disso: “a flor é forma de flor / que o poema vê / intenta / namora / 
cogita / grita com uma voz parecida / mas que nunca chega a ser voz de flor”. Ficção onde mais esconde do 
que mostra sua intencionalidade, como nos lembra em Atinências: “existem coisas que eu digo/no meio 
das coisas que escondo / (...) / resistem horas inteiras / em meio a meio minuto”. A poesia gravita em sua 
própria lei. Em “Desenlace”, Collin escreve sobre a inevitabilidade da escrita: “tentei escapar daquele areal 
por dentro / mas a palavra era oblívio / (...) / tentei escapar daquele terremoto por dentro / mas a palavra 
era limbo”. Poesia como limbo, limite do que é passível de ser dito. Em “Jim Said”, a poeta arma: “a poesia 
é metal precioso é metal nobre/agarrado aos detalhes e ao insubmisso”. Em A palavra algo, Luci Collin 
flerta com o corte incisivo do poema ao mostrar que toda poesia é artifício do real. Nos poemas que 
versam sobre o fazer poético da autora, lê-se que “o discurso é para ser longo e nítido/ mas a tinta borra 
hesita/ ela mesma tem lapsos/e talvez falsifique as cenas em seu arredamento de pávida lembrança”; ou 
“as palavras que se alcançam/ são o esquecimento das figuras/ que descem degraus na pressa/ do 
inédito”. 
O poema Grande Fome “anuncia” paródias anteriores e posteriores que se insinuam, mas não se 
concretizam - “essa maquiagem máscara e as paródias que insinua/ espantam as cirandas já - escassas/ e a 
pressa rega uma semente/ sifilítica” -, dando um calço nas expectativas do leitor. Luci não parodia 
explicitamente, mas cita diversos poetas como Fernando Pessoa, Mallarmé, Casimiro de Abreu. Nessas 
citações, a poeta parece ter encontrado “a amenidade do velho e a agitação de um menino ao repetir 
gestos que duplicam o pouso”. E Luci duplica o voo desses poetas. Em A Palavra Algo, Autopsicografia, de 
Fernando Pessoa, se transforma em Deveras e assim inicia: “O poeta finge/ e enquanto isso/ cigarras 
estouram/ pontes caem/ azaleias claudicam”. Luci se vale também de frases banais, provavelmente lidas 
em placas espalhadas pela cidade, e com elas constrói o poema Orçamento Sem Compromisso, no melhor 
exemplo de “escrita não criativa” contemporânea: “Compro ouro/ Cobrem-se botões/ Compro e vendo 
cabelo/ Xcalabresa/ Porção e executivo/ Piso escorregadio”. A poeta não “se incomoda” em não ser 
criativa, parece saber que, como se lê no poema Imortalha, “todos os termos foram inventados”. 
QUESTÕES 
1) (POSITIVO) Leia as assertivas a seguir: 
(01) Luci Collin em seu livro de poesias A palavra algo valoriza a língua portuguesa sem utilizar 
estrangeirismos, mas sim variantes locais, numa tentativa de reconhecer variantes regionais curitibanas 
como sendo as principais. 
 (02) Nos versos “o cavalo mais que imediato /que vibra no destino das lonjuras /trama uma esparsa 
coreografia/ que é seu discurso de casco /e informa tudo o que se diz /de olhos fechados/ amplitude 
redenção”, há um espaço proposital, cuja lacuna representa afastamento físico mesmo e pede para que o 
leitor as complete. 
(04) Em A palavra algo de Luci Collin podem ser encontrados alguns dos temas presentes da Poesia 
Brasileira Contemporânea, tais como a atualidade da apropriação de meios digitais em Imortalha e o 
suicídio em Cividade. 
(08) O recurso do neologismo (criação de novas palavras) se faz presente em títulos como Insoneto, um 
soneto no qual o eu lírico parodia várias outras referências literárias que se aventuraram nessa forma fixa, 
como Olavo Bilac e Vinicius de Moraes. 
 
 
(16) Mesmo em se tratando de uma escritora contemporânea, Luci Collins estabelece intertextualidade 
com os clássicos, como é o caso de Gonçalves Dias em Meus oito anos, bem como utiliza palavras no seu 
sentido original. 
Assinale o que for correto quanto à soma das alternativas sobre a obra A palavra algo de Luci Collin e 
sobre a Poesia Brasileira Contemporânea. 
a) 03. 
b) 06. 
c) 14. 
d) 30. 
e) 31 
GABARITO 
1) C 
O VENDEDOR DE PASSADOS 
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA 
Sobre o autor: José Eduardo Agualusa nasceu em Huambo, Angola, em 1960. Estudou agronomia e 
silvicultura e foi jornalista. Publicou até agora 13 romances, e diversas coletâneas de contos e de poesia. 
Os seus livros estão traduzidos em mais de 30 idiomas. Um dos seus romances, O Vendedor de Passados, 
ganhou o Independent Foreign Fiction Prize, em 2007. Teoria Geral do Esquecimento foi finalista do Man 
Booker International, em 2016, e vencedor do International Dublin Literary Award, em 2017. Além de 
escritor, é crítico e explora os sentidos identitários das relações entre Angola, Brasil e Portugal. 
 
Movimento literário: literatura angolana. Além da literatura brasileira e portuguesa, os vestibulares 
têm exigido como leitura obrigatória livros de autores africanos, particularmente de Angola e 
Moçambique, países também falantes do português. Como grande destaque da literatura angolana temos 
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela). Para contextualizar, é importante lembrar que a 
literatura produzida nesses países é um tanto recente, pois tornaram-se nações independentes após 1974. 
Além disso, elas abordam a negritude, ou seja, a valorização do africano e sua cultura. 
 Sobre a obra: O Vendedor de Passados é um livro de 2004, que apresenta uma narrativa inovadora, 
com uma temática inédita e original. Esta obra tem como narrador principal uma osga, espécie de 
lagartixa, que é ao mesmo tempo personagem e narrador. A história gira em torno de Félix Ventura, um 
albino que vende passados. Desta forma, Eduardo Agualusa questiona as relações entre memória e 
identidade. Questiona ainda de que forma as nossas memórias influenciam nosso comportamento 
presente e o quanto de verdade ou ficção se compõem a nossa história. 
Analise da obra: O romance de Agualusa termina com a frase “Eu fiz um sonho”. Isso é o que se 
percebe em cada linha do livro. O primeiro capítulo, intitulado “(um pequeno deus noturno)”, introduz o 
leitor nesse mundo onírico, pois o narrador é uma lagartixa, o que já estabelece uma atmosfera de 
 
 
fantasia. No final do capítulo, o narrador diz que durante o dia dorme, reforçando a ideia de que tudo se 
passa no horizonte dos sonhos. 
O primeiro personagem a ser introduzido é Félix Ventura, um negro albino. Ironicamente se percebe que o 
personagem principal, que vende passados a seus clientes, constitui-se de um ser marcado pela 
contradição: é um negro que é branco. Toda a ação do livro se passa dentro da casa de Félix, que é um 
misto de biblioteca e museu e guarda em seu interior um acervo de obras que remontam a um passado ou 
a vários. Há então uma representação da cultura e ao mesmo tempo uma constatação da mesma em cada 
linha do romance, visto que se trata da representação de uma cultura em que seus participantes, muitas 
vezes, querem ter um passado glorioso, mesmo que para isso tenham que viver uma ilusão. 
 Todos os títulos dos capítulos são colocados entre parênteses, como se fossem uma explicação, 
dispensáveis e, ao mesmo tempo, como se fossem um sussurro que não quer interferir no sonho. Além 
disso, ao todo são 32 capítulos curtos, que facilitam a leitura e reforçama ideia de sonho. No segundo 
capítulo, vê-se Eulálio descrevendo sensações que acabam por criar a imagem de um ser que se mistura 
com a casa. “A casa vive”, frase que introduz o capítulo, confirma-se o clima de sonho, pois o narrador 
acaba por misturar as suas sensações com as da casa: ele e a casa parecem ser um só. É perceptível 
também a identificação de Félix com Eulálio, pois a descrição que se faz do primeiro o assemelha a uma 
lagartixa pelo tom da pele e pela aversão ao sol: “pele seca e áspera, corde-rosa”. Eulálio apresenta-se 
como um duplo de Félix, como se fosse sua imagem no espelho. Reflete e mistura-se, realçando a 
atmosfera de sonho criada no livro. A certa altura da narrativa, os dois personagens têm o mesmo sonho. 
No capítulo 4 “(sonho n°4)”, novamente os dois se sonham. E assim, outros capítulos intitulados de 
“sonhos”, aparecem. Neles se constrói uma discussão sobre a ilusão do livro, a mentira, o sonho. 
Aparecem questionamentos sobre a verdade e a ilusão, sobre a literatura, sobre o que seria real na 
narrativa. Tudo gira em torno do sonho e da verdade. O que é verdade e o que é mentira? Há um 
questionamento sobre isso nas entrelinhas do livro. 
 O livro constrói-se como uma grande metáfora da incerteza do real. A narrativa é um sonho, sonhado 
pelos personagens e pelo leitor que, enredado por esse discurso, ajuda a configurar o universo onírico. 
Outra questão abordada no livro é o da construção identitária do povo angolano, sendo também o foco da 
narrativa. Além de libertar-se do colonizador, Angola entrou em uma violenta guerra civil que durou vários 
anos. Sendo assim, após décadas de lutas sangrentas, que finalmente tiveram fim, os angolanos se viram 
diante de uma realidade totalmente nova, em que era necessário reconstruir o país, definir os novos 
rumos da Pátria. 
 Nesse sentido, a primeira questão a respeito da construção identitária na narrativa é o fato de termos 
como personagem central do romance um albino que se afirma como negro autóctone. Nesse primeiro 
momento, Agualusa mostra que a questão da negritude vai muito além da quantidade de melanina na 
pele. Temos, além disso, um homem que, inconformado com o seu passado real, quer um passado novo 
que o faça esquecer as memórias que tanto o perturbam. O desejo de reinvenção das memórias desse 
homem que deseja um novo passado se alude à realidade angolana no pós - independência. Dessa forma, 
depois de anos de uma guerra que massacrou a nação e traumatizou todo o país, Angola tenta a todo 
custo esquecer os horrores da guerra. O livro mostra ainda, a relação entre identidade e memória. A 
identidade é construída a partir das muitas memórias que compartilhamos com outros, mostrando que 
nossa identidade está sempre em construção, que memória é identidade, que memória é relativa e que 
memória pode ser arquivada no inconsciente de maneira que não entendemos e que ela pode nos trair. Ela 
é para ser questionada. Ela existe para ser embelezada. 
 
 
 Esse operar o passado e criar outra realidade, - que se concilia com as origens de Angola e a nova Angola 
que se quer construir -, está presente também no livro quando um ministro de Estado procura Félix para 
criar-lhe um passado. Na entrega desse passado, Félix diz que ele seria descendente de Salvador Correia, 
parente de Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro. Ao ouvir isso, fica bravo pois haviam 
substituído o nome de um importante colégio para Mutu Ya Kevela, em referência a um general que lutara 
contra os portugueses no início do século XX. O antigo nome era exatamente uma homenagem a Salvador 
Correia. 
Por esse motivo, o ministro reclama, afinal um 49 “parente” seu havia sido rebaixado do panteão dos 
heróis nacionais. As novas memórias identitárias de José Buchmann também são uma alusão à nova 
identidade angolana depois da colonização. E assim como Buchmann que assume essa nova identidade e 
começa a se afirmar como tal, o povo angolano tenta reconstruir sua identidade pós-independência. Por 
fim, há uma frase no livro que dá um direcionamento geral à compreensão mais ampla do narrado: “Todas 
as histórias estão ligadas. No fim, tudo se liga”. Agualusa, demonstra isso, que histórias aparentemente 
desconexas (Pedro Gouveia, Ângela Lúcia, ministro, Barata, Félix Ventura, Eulálio etc.) se inter-relacionam 
e produzem sentido, captado exatamente pelo discurso literário, que condensa e destaca os pontos da 
vida de cada um que poderia se transformar em um romance, em um texto literário. 
QUESTÕES 
1) (PUC-MG) Sobre os personagens de O vendedor de passados é correto afirmar: 
a) José Buchman é a identidade criada por Félix Ventura para o estrangeiro que a ele recorre na tentativa 
de obter um outro passado e que vai, ao longo da trama, encarná-la cada vez com maiorrealismo. 
b) Félix Ventura figura, na trama ficcional do romance, como filho do célebre escritor português Eça de 
Queirós, autor de A relíquia, e é isso que justifica seu talento nato para a criação de genealogias falsas. 
c) a personagem de Eulálio constrói-se como um duplo especular de Félix Ventura, porém com traços 
invertidos, atuando como seu antagonista na trama. 
d) Ângela Lúcia, além de ser a amante de Eulálio, é quem comete o assassinato de José Buchman, após 
descobrir que ele era seu verdadeiro pai. 
2) (PUC-MG) Sobre o romance “O vendedor de passados”, de José Eduardo Agualusa, é 
INCORRETO afirmar que: 
a) intercala cenas de sonho e realidade. 
b) faz referência a elementos culturais do Brasil. 
c) assume, em determinado ponto, a configuração de outro gênero textual. 
d) apresenta os fatos sob uma mesma e única perspectiva. 
3) (PUC-MG) Em “O vendedor de passados”, entremeada à narração dos fatos, faz-se também uma 
reflexão sobre a literatura e a linguagem. Todas as passagens são exemplos dessa reflexão, 
EXCETO: 
a) “- Ainda tremo de cada vez que ouço alguém dizer edredom, um galicismo hediondo, em vez de frouxel, 
que a mim me parece, e estou certo que você concordará, palavra muito bela e muito nobre. Mas já me 
conformei com sutiã. Estrofião tem uma outra dignidade histórica.” 
 
 
b) “Um nome pode parecer uma condenação. Alguns arrastam o nomeado, como as águas lamacentas de 
um rio após as grandes chuvadas, e, por mais que este resista, impõem-lhe um destino. Outros, pelo 
contrário, escondem, iludem. A maioria, evidentemente, não tem poder algum.” 
c) “Existem pessoas que revelam, desde muito cedo, um enorme talento para a desventura. A infelicidade 
atinge-os como uma pedrada, dia sim, dia não, e eles recebem-na com um suspiro conformado. Outras há, 
pelo contrário, com uma estranha propensão para a felicidade.” 
d) “A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que 
existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe.” 
4) (PUC-MG) “... o que me interessa é um pouco exercitar o absurdo”, afirma José Eduardo Agualusa 
sobre sua produção literária. Em “O vendedor de passados”, esse “exercício do absurdo” só NÃO 
propicia: 
 a) uma denúncia quanto à história e ao cenário político de Angola. 
 b) uma crítica às concepções religiosas que negam a possibilidade de reencarnação. 
 c) uma discussão acerca dos limites entre o real e o imaginário. 
 d) uma problematização da narrativa histórica enquanto detentora da verdade dos fatos. 
GABARITO 
1) A 2) D 3) C 4) B 
 
QUARTO DE DESPEJO 
CAROLINA MARIA DE JESUS 
Sobre a autora: Carolina Maria de Jesus, nasceu por volta de 1914, em Sacramento – MG. Foi 
alfabetizada até o segundo ano do primário e adquiriu o hábito de leitura, exercido como meio de imaginar 
mundos diferentes, melhores do que a realidade que vivia. Com a morte da mãe, mudou-se para São Paulo 
com 23 anos. Já em São Paulo, foi empregada doméstica, e, mais tarde, passou a catar papel e outros tipos 
de lixo reaproveitáveis para sobreviver. Seus filhos, JoséCarlos, João José e Vera Eunice, nasceram quando 
já morava na favela do Canindé, respectivamente em 1948, 1949 e 1953. Ela nunca se casou com nenhum 
dos pais das crianças, pois não queria se submeter ao mando de um homem. 
Em reportagem sobre a favela do Canindé, onde vivia Carolina, o repórter Audálio Dantas a conheceu e 
descobriu que ela escrevia um diário. Surpreso com a força do texto, o jornalista mostrou-o a um editor. 
Uma vez publicado, o livro trouxe fama e algum dinheiro para Carolina. O suficiente para deixar a favela, 
mas não o bastante para escapar à pobreza. Quase esquecida pelo público e pela imprensa, a escritora 
morreu em um pequeno sítio na periferia de São Paulo, em 13 de fevereiro de 1977. Em seus 
depoimentos, Carolina relatou que começou a escrever quando sentia fome e não tinha o que comer, 
então para não xingar, ela escrevia. Além disso, segundo ela o motivo para ler um livro era simples: “para 
adquirirmos boas maneiras e formamos nosso caráter”. 
Movimento literário: literatura marginal 
 
 
Sobre a obra: Quarto de despejo foi o primeiro livro de Carolina. Publicado em 1960 e traduzido para 
13 idiomas, a autora tem outros seis livros publicados. Esse primeiro foi escrito como diário no período em 
que viveu na favela do Canindé em São Paulo.. O objetivo original da autora em escrever era registrar o 
que acontecia com ela e com os moradores da favela do Canindé. Porém, a autora não esconde nas 
páginas escritas que a sua intenção é publicar e conta com a ajuda de um jornalista que a descobriu, 
Audálio Dantas. Ela chegou a enviar 40 os originais para a revista Reader’s Digest nos Estados Unidos, mas 
houve recusa. De toda forma, em 1960 publicou seu livro no Brasil, a partir de uma entrevista dada à 
importante revista O Cruzeiro. A primeira parte do diário foi escrita entre 15 e 28 de julho de 1955 e a 
sequência entre 02 de maio de 1958 e 1 de janeiro de 1960. Trata-se de um diário, ou seja, não há começo, 
meio ou fim e apresenta o ponto de vista de uma mulher negra, pobre, batalhadora, favelada, com três 
filhos pequenos e de pais diferentes, sobre a vida do pobre e da favela. A ideia para o título da obra surgiu, 
como ela relata: “é que em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, 
nós, os pobres, que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo 
das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, 
somos os trastes velhos”. Por fim, as edições publicadas de seu diário respeitam fielmente a linguagem da 
autora, que muitas vezes contraria a gramática, incluindo a grafia e a acentuação das palavras, de forma a 
retratar exatamente a realidade vivida por ela. 
 O livro segue praticamente a escrita original da autora. 
 
QUESTÕES 
(UFRRS) Leia este trecho de Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. 
18 de dezembro... Eu estava escrevendo. Ela perguntou-me: 
 – Dona Carolina, eu estou neste livro? Deixa eu ver! 
– Não. Quem vai ler isto é o senhor Audálio Dantas, que vai publicá-lo 
. – E porque é que eu estou nisto? 
– Você está aqui por que naquele dia que o Armin brigou com você e começou a bater-te, você saiu 
correndo nua para a rua. 
Ela não gostou e disse-me: 
– O que é que a senhora ganha com isto? 
 Resolvi entrar para dentro de casa. Olhei o céu com suas nuvens negras que estavam prestes a 
transformar-se em chuva 
Considere as seguintes afirmações sobre o trecho acima. 
I. Está presente no fragmento uma tensão que perpassa o conjunto do livro: ao mesmo tempo em 
que se apropria da experiência de pobreza e violência da favela, Carolina quer diferenciar-se dela. 
II. Audálio Dantas aparece como figura que representa oportunidade de publicação e autoridade 
letrada. 
III. Aparece no fragmento uma alternância narrativa que marca Quarto de despejo: do dia a dia 
inclemente na favela para certa linguagem literária idealizada por Carolina. 
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. 
b) Apenas II. 
c) Apenas III. 
d) Apenas I e III. 
e) I, II e III. 
 
 
2) (UEM) Sobre o livro Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), de Carolina Maria de 
Jesus, assinale o que for correto. 
01) A narrativa, escrita em forma de diário, começa no dia do aniversário de Vera Eunice, filha da 
autora, que recebe de presente um par de sapatos achado no lixo. Ao longo da obra, o leitor 
percebe como a escritora, que sobrevive do lixo e de materiais recicláveis, encontra sua resistência 
na escrita e nos livros. 
02) A escritora descreve a dura realidade de uma mulher negra, moradora da favela, que trabalhava 
como catadora de papel, faxineira e lavadeira para sustentar seus três filhos. O livro apresenta os 
relatos dessa mulher que vivenciou as mazelas das camadas mais marginalizadas da sociedade. 
04) Apesar da linguagem simples, contudo original, Carolina Maria de Jesus se revela uma escritora 
atenta à realidade social do Brasil. Questionadora, crítica da classe política, sua escrita se impõe 
vigorosa por sua atualidade, ainda que passadas décadas de sua publicação. 
08) Entre as situações abordadas na obra, há relatos de discriminação racial e social; há, também, 
diálogos, descrições de encontros amorosos, de festas, de brigas e de outros conflitos cotidianos. A 
fome, entretanto, é um dos assuntos mais abordados. 
16) No diário, inúmeras são as passagens que informam que a escritora foi candidata ao cargo de 
vereadora, em 1958, evidenciando sua grande participação no cenário político nacional da época. 
3) Assinale com V ou F as seguintes afirmações abaixo: 
( ) Carolina mora na favela, é pobre, catadora de lixo e alcoólatra. Às segundas-feiras são o melhor 
dia para catar papéis. 
( ) Carolina, apesar de se dar muito bem com seus vizinhos, almeja um dia poder sair da favela e 
publicar seu livro. 
( ) Os filhos de Carolina são muito bem tratados pela comunidade da favela. A solidariedade é muito 
presente. 
( ) Carolina tem 3 filhos, Vera Eunice, José Carlos e João José. Carolina sempre teve boas 
experiências com os homens. 
a) F, F, F, F 
b) V, F, V, F 
c) V, V, V, V 
d) V, F, F, V 
e) V, F, F, F 
 
GABARITO 
1) E 2) 01 + 02 + 04 + 08 = 15 3) A 
 
 
HISTORIAS QUE OS JORNAIS NÃO CONTAM 
MOACYR SCLIAR 
Sobre o autor: Moacyr Jaime Scliar nasceu em 23 de março de 1937, no hospital da Beneficência 
Portuguesa, em Porto Alegre (RS). Seus pais, José e Sara Scliar, oriundos da Bessarábia (Rússia), chegaram 
ao Brasil em 1904. Em 1955, foi aprovado no vestibular de Medicina pela Faculdade de Medicina da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se formou em 1962. Especialista em Saúde Pública e 
 
 
Doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública, exerceu a profissão junto ao Serviço de 
Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU). 
Casou-se, em 1965, com Judith Vivien Olivien, com quem tem um filho, Roberto. Frequentemente era 
convidado para conferências e encontros de literatura no país e no exterior. Seu primeiro livro, publicado 
em 1962, foi Histórias de Médico em Formação, contos baseados em sua experiência como estudante. Em 
1968 publica O Carnaval dos Animais, contos, que Scliar considera de fato sua primeira obra. 
 Autor de 74 livros em vários gêneros: romance, conto, ensaio, crônica, ficção infanto-juvenil, escreveu, 
também, para a imprensa. Obras suas foram publicadas em muitos países, com grande repercussão crítica. 
Em 2003, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Seu nome figura entre os dez escritores brasileiros 
mais lidos no exterior. Teve textos adaptados para o cinema, teatro, tevê e rádio, inclusive no exterior. Foi, 
durante 15 anos, colunista do jornal Zero Hora, onde discorria sobre medicina, literatura e fatos do 
cotidiano. Foi colaborador da Folha de S. Paulo desde a década de 70 e assinou uma coluna no caderno 
Cotidiano. Moacyr Scliar é considerado um dosescritores mais representativos da literatura brasileira 
contemporânea. Os temas dominantes de sua obra são a realidade social da classe média urbana no Brasil, 
a medicina e o judaísmo. Suas descrições da classe média eram, frequentemente, inventadas a partir de 
um ângulo supra real. Faleceu em 27 de fevereiro de 2011, em Porto Alegre, aos 73 anos. 
Movimento literário: produção contemporânea. O termo “produções contemporâneas” é vago no 
sentido de que a contemporaneidade é um período que se refere à época presente, à atualidade. No caso 
da literatura, ocorre quando o leitor partilha com o escritor o mesmo período ou de período que 
compreende uma dada geração. No Brasil quando se fala em produção contemporânea convencionou-se 
indicar livros publicados a partir de 1964. 
Sobre a obra: A obra reúne crônicas ficcionais escritas por Moacyr Scliar, baseadas em notícias reais 
publicadas no jornal, para a Folha de S. Paulo, onde o escritor teve uma coluna por quase duas décadas. 
“Nestas 54 crônicas, publicadas entre 2004 e 2008, há textos extremamente reveladores da condição 
humana, como aqueles que falam do amor desgastado pelo tempo e do amor que se renova, ou dos que 
têm a vingança, a cobiça e traumas de infância como tema. Mas por mais sério que seja o assunto, Scliar 
consegue imprimir um toque de leveza e humor, como é característico de suas inúmeras colaborações para 
a imprensa. Nesta seleção, vê-se como banalidade do cotidiano, nas mãos de um grande escritor, pode se 
tornar uma bela leitura”. 
Ainda sobre a obra, o próprio autor escreveu “Descobri que, atrás de muitas notícias, ou nas entrelinhas 
destas, há uma história esperando para ser contada, histórias essas que podem ser extremamente 
reveladoras da condição humana. O jornal funciona, neste sentido, como a porta de entrada para uma 
outra realidade – virtual, por assim dizer. Neste momento o texto jornalístico, objetivo e preciso, dá lugar à 
literatura ficcional.” (Moacyr Scliar, 2009). 
Analise da obra 
É importante lembrar que nesse livro, Scliar escreve em linguagem simples, por vezes em primeira pessoa, 
por vezes em terceira pessoa, com pouquíssimos diálogos, abrindo vez ou outra para as personagens 
falarem, através do discurso direto. Sendo assim, os textos contidos nessa obra têm as características do 
gênero literário crônica: narrativa curta, poucos personagens, linguagem simples ou coloquial e 
acontecimentos do cotidiano, acrescidos das características do gênero ficção, que traz uma narrativa 
imaginária e irreal, mesmo que partindo de um fato real para a sua criação. No início de cada crônica, o 
autor nos apresenta a notícia ou as notícias, que o inspirou para o texto. Notícias do Brasil e de outras 
 
 
partes do mundo. Com exceção de Depois do Carnaval, que é uma crônica escrita por diversos títulos de 
notícias do Brasil, sobre, por exemplo, questões políticas, ambientais e legais, que seriam resolvidas ou 
decididas somente depois do Carnaval. Todas as notícias dessa crônica têm destacado em negrito a 
expressão depois do carnaval. 
Assim, Scliar evidencia o dito popular de que a ano no Brasil só começa realmente depois do carnaval. 
Nessa crônica não há ficção, mas fatos reais que até parecem fictícios. Scliar aborda o tema da corrupção 
brasileira nas crônicas Cueca-Cofre, baseada em três notícias sobre o muito conhecido “dinheiro na cueca”, 
em Torpedos, dividido em duas crônicas, que na primeira O torpedo no vestibular, escreve sobre o 
esquema de tentativas de fraude no vestibular para o curso de Medicina em universidades públicas, e em 
Massageando o Dorso Político, baseada em uma notícia sobre uma compra superfaturada de poltronas de 
massagem para vereadores em Espírito Santo. Já em O Futuro na Geladeira, com a notícia de uma senhora 
de 80 anos que adiou o sonho de fazer o vestibular para usar o dinheiro da inscrição para pagar a 
prestação da geladeira, Scliar nos traz a dura realidade de muitos brasileiros e muitas brasileiras, 
evidenciando a desigualdade social no nosso país. Porém, na sua obra fictícia, nos traz a esperançosa ilusão 
de que essa senhora poderá realizar o sonho no próximo ano, imaginado que ela guardaria a garrafa de 
champanhe da comemoração de uma possível aprovação em sua geladeira nova 
. No último parágrafo, podemos pensar que ele fala de guardar a garrafa no fundo da geladeira, mas 
também podemos interpretar como o sonho sendo congelado, se mantendo conservado, para em outro 
momento ser retomado: “Resolveu guardar a garrafa. Bem no fundo da geladeira. Um dia ela ainda 
ingressaria no curso de administração; um dia brindaria a seu futuro. Era só questão de esperar. Sem 
medo: Uma boa geladeira conserva qualquer champanhe.” (p. 25). O humor contido em algumas crônicas 
se dá principalmente através da ironia e quebra de expectativa. É preciso relembrar, para análise de textos 
literários, que o humor aqui, não necessariamente nos causa muitas risadas. Como exemplo, podemos 
observar a crônica Conquistas Culinárias, que é baseada em uma reportagem de uma pesquisa sobre 
homens que sabem cozinhar e que são mais atraentes por isso. Na crônica, Scliar traz um homem que não 
sabia cozinhar e que aprende para conquistar uma paquera de muito tempo. Porém, o homem se envolve 
tanto com a culinária, e tentando solucionar o problema do prato que deu errado no tão esperado 
encontro com a mulher que ele desejava, que acaba deixando de lado a paquera, direcionando o seu 
interesse para a culinária. E é nesse final inesperado (quebra de expectativa) que encontramos o humor da 
crônica. Por fim, podemos encontrar entre os temas das crônicas a solidão, traição, sonhos, corrupção e a 
modernidade através das invenções científicas. Temas que permeiam a humanidade. Além disso, a obra 
nos permite pensar em como a vida realmente imita a arte, trazendo histórias reais que parecem ter saído 
da imaginação de alguém, percebendo o quão complexo é o ser humano, e tendo na ficção uma 
continuidade e destaque, mantendo-se vivas através da criatividade, sensibilidade e registro do autor. 
QUESTÕES 
(UECE) Leia o texto a seguir para responder as questões 1 e 2. 
INTRODUÇÃO 
Em geral acreditamos que existe uma nítida linha divisória entre o real e o imaginário, entre o fato e a 
ficção: territórios claramente demarcados em nossas vidas. Mas será que é assim mesmo? 
Os escritores terão dúvidas. Frequentemente partem da realidade – um episódio histórico, um 
personagem conhecido, um fato acontecido - para, a partir daí, construírem suas histórias. Uma 
experiência que tive muitas vezes ao longo de minha trajetória literária. Mas confesso que não estava 
preparado para a verdadeira aventura, que teve início quando, anos atrás, e a convite de editores da Folha 
 
 
de São Paulo, comecei a escrever textos ficcionais baseados em notícias de jornal. Não é, obviamente, algo 
novo; já aconteceu muitas vezes. Mas, praticada sistematicamente, essa atividade foi se revelando cada 
vez mais surpreendente e fascinante. Descobri que, atrás de muitas notícias, ou nas entrelinhas destas, há 
uma história esperando para ser contada, história essa que pode ser extremamente reveladora da 
condição humana. O jornal funciona, neste sentido, como a porta de entrada para uma outra realidade – 
virtual, por assim dizer. Neste momento o texto jornalístico, objetivo e preciso, dá lugar à literatura 
ficcional. À mentira, dirá o leitor. Bem, não é propriamente mentira; são histórias que esqueceram de 
acontecer. O que o escritor faz é recuperá-las antes que se percam na imensa geleia geral composta pelos 
nossos sonhos, nossas fantasias, nossas ilusões. Este livro contém várias das histórias assim escritas. 
Espero que o leitor as tome como um convite para ingressar no inesquecível território do imaginário. 
(Moacyr Scliar. Histórias que os jornais não contam, 2009) 
1) Escrevendo a introdução de um livro de sua autoria, Moacyr Scliarfocaliza um dos problemas da 
literatura: os limites entre o real e o ficcional. Sobre esses dois territórios – o real e o ficcional –, 
considere as proposições abaixo, com base no raciocínio que o autor desenvolve no texto. 
I. Existe, para qualquer pessoa, clara demarcação entre realidade e ficção. 
II. O trabalho dos escritores de ficção situa-se no território da fantasia. 
III. O real está fora das preocupações do escritor. 
É correto o que se declara: 
a) apenas em I e II 
b) apenas em III 
c) em I, II e III 
d) apenas em II 
e) apenas em I 
2) Indique a opção em que se traduz corretamente o que Moacyr Scliar denomina de 
verdadeira aventura. 
a) Escrever textos puramente ficcionais, ou seja, literários. 
b) Criar um texto ficcional, partindo de uma notícia de jornal. 
c) Escrever sistematicamente para o jornal Folha de São Paulo. 
d) Escrever textos jornalísticos, isto é, textos não ficcionais. 
e) Escrever textos que prendam a atenção do leitor. 
GABARITO 
1) D 2) B 
ELES NÃO USAM BLACK-TIE 
GIANFRANCESCO GUARNIERI 
 
 
Sobre o autor: Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Martinenghi de Guarnieri (1934-2006), nasceu em 
Milão (Itália). A família, fugindo do fascismo de Benito Mussolini (1883-1945), se muda para o Rio de 
Janeiro, quando Gianfrancesco tinha dois anos de idade. Aos 21 anos, mudou-se para São Paulo, onde, com 
o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho (1936-1974), fundou o Teatro Paulista do Estudante, que em seguida 
iria se unir ao Teatro de Arena, conhecido por ser um polo de resistência cultural durante a ditadura militar 
no Brasil (1964-1989). Guarnieri atuou em dezenas de novelas, filmes e escreveu ao menos 23 peças 
teatrais. Faleceu em 2006 por complicações renais. 
Movimento literário: produção contemporânea. O teatro no Brasil, teve início no século XIX, mas 
foi em meados do século XX que a dramaturgia brasileira começou a se destacar de fato. Assim, o termo 
contemporâneo em teatro se inicia com Nelson Rodrigues, com Vestido de noiva (1943). 
 
Personagens 
TIÃO - Um jovem bonito, criado na cidade pelos padrinhos, viveu longe do morro e de seus pais por 
decorrência das prisões de seu pai, um operário que era detido por conta das greves feitas. Tião também 
se tornou operário e trabalhava na mesma fábrica que o pai, mas não concordava com o movimento 
(assumia isso abertamente) e foi taxado como “fura greve”; 
 OTÁVIO - Pai de Tião, revolucionário e grevista. Um homem que já foi preso durante manifestações na 
greve e se culpa por ter um filho que não concorda com o movimento operário. 
 ROMANA - Mãe de Tião e esposa de Otávio. Zelosa com o lar e família. Uma mulher forte que equilibra 
as tensões com a família. 
 MARIA - Noiva de Tião. Uma moça que cresceu no morro e gosta muito das pessoas que moram lá. Logo 
no início da obra, conta que está grávida de Tião e os dois engatam um noivado. 
 JOÃO - Irmão de Maria que se coloca ao lado de Tião quando este fura a greve, traindo seu pai. 
CHIQUINHO - Irmão de Tião, um adolescente que trabalha na venda do bairro e é apaixonado por 
Terezinha. 
TEREZINHA - Namorada de Chiquinho, também adolescente, que está sempre na casa da família e 
participa de todas as ocasiões importantes. 
 BRÁULIO - Amigo de Otávio que está sempre o apoiando na organização das greves. 
 JESUÍNO - Operário, trabalhador da mesma fábrica de Tião, Otávio e Bráulio. Foi convencido pelos chefes 
a se infiltrar no movimento operário e falar quem são os trabalhadores que participam. Trai os colegas, age 
com frieza e é covarde para admitir que trai os outros operários. 
SOBRE A OBRA: A peça se inicia com Maria e Tião conversando, trocando juras de amor. Namorados, 
ela está grávida e decidem se casar o quanto antes, para evitarem a conversa alheia. Há, nesse momento 
uma preocupação com as questões morais. Como se uma mulher não pudesse ter relações e um filho fora 
do casamento. Tião e o pai, Otávio, trabalhavam em uma metalúrgica. O pai sempre estivera à frente da 
luta pelos operários, por melhores salários e condições de trabalho. Em meio ao noivado de Tião, há um 
contexto de deflagração de uma nova greve. Tião, de sua parte, fica com medo de perder o emprego, pois 
 
 
agora tem uma família para zelar. Seus temores aumentam quando três operários são previamente presos 
acusados de tumulto à ordem social, por estimularem a greve. Então, no dia marcado para o início do 
movimento, há um confronto. Tudo isso é relatado pelos personagens, ou seja, não há na peça cenas que 
ilustram tais episódios. O que mais importa é o espectador saber o que pensam os personagens. 
Nesse dia, Tião se dirige ao trabalho antes do pai. Ao final do dia, retorna e é questionado pela mãe, 
Romana, e por Maria sobre o que se passara na fábrica. Tião informa que foi tudo bem, que do total de 
trabalhadores, dezoito haviam furado o movimento e entrado para trabalhar. Ele era um desses dezoito, 
pois recebera a garantia do emprego, além de um bônus por ter furado a greve. Se isso representava, para 
ele, algo positivo, aos demais membros de sua família e amigos, isso era um problema. Otávio, de sua 
parte, fora preso juntamente com outros trabalhadores. Romana, logo que soube da prisão, desce para a 
delegacia com outras pessoas para libertá-los. 
A partir disso, Tião fica malvisto por todos, inclusive por Maria, que por ser apegada ao morro e sentir que 
ali era seu lugar fica contraria a posição dele, decidindo por não o acompanhar na cidade. 
Otávio já em casa conversa com o filho e acreditando que ele deveria ter lutado ao seu lado pelos 
trabalhadores, expulsa-o. Romana, nesse caso, entende as justificativas de ambos e acaba por não tomar 
nenhum partido. A peça termina com Chiquinho (irmão mais novo de Tião) ouvindo Nóis não usa os bleque 
tais, de Juvêncio, um sambista do morro, suposto autor do samba, que seria, na verdade, 
de Adoniran Barbosa. 
QUESTÕES 
1) (UFPR) Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, texto encenado pela primeira vez em 
1958 e posteriormente adaptado para o cinema, trata da luta de classes no cenário urbano do Rio de 
Janeiro. Sobre essa obra, é correto afirmar: 
 a) O emprego da língua portuguesa em seu padrão culto nas falas dos operários atende a uma exigência 
própria da literatura e do teatro produzidos em meados do século XX. 
 b) Prevalece na peça uma visão conciliatória já que, influenciados por Tião, no terceiro ato os moradores 
do morro abandonam suas principais reivindicações. 
 c) O conflito que está no centro da ação dramática é motivado pelas diferentes opções que as 
personagens assumem perante uma greve. 
d) As personagens femininas não participam das decisões familiares nem têm opinião política, 
comportamento típico do patriarcalismo vigente naquele período histórico. 
 e) O sucesso do samba “Nós não usa black-tie” resultou em uma surpreendente ascensão socioeconômica 
para seu compositor, Juvêncio. 
2) (Positivo) A respeito de Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, assinale a alternativa 
correta. 
 a) O autor da peça, que era ator, enfatizou a importância das carreiras artísticas – cinema, música – como 
meio seguro para atingir melhores condições financeiras. 
 b) Enquanto outros textos encenados pelo Teatro de Arena caracterizavam-se pelo nacionalismo, Eles não 
usam black-tie afastou-se dessa tendência, por abordar a influência da cultura norte-americana no Brasil. 
 
 
 c) Os quadros que mostram a oposição entre Otávio e seu filho Tião acontecem na fábrica, para contrastar 
com cenas mais amenas, vividas no cenário doméstico do barraco. 
d) A postura realista e a coragem de Romana são responsáveis pela manutenção da união familiar, 
ameaçada apenas pela postura conflitante de Tião, que é contra a greve. 
 e) Ao dançar gafieira e executar os sambas produzidos no morro, as personagens percebem a fragilidade 
de suas convicções em relação à luta por melhores condições de trabalho. 
 3) (UFCG) Julguecomo verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações sobre a obra Eles não usam Black-tie, 
de Gianfrancesco Guarnieri. Em seguida, assinale a sequência correta 
 I. A música de Juvêncio no final da narrativa é concedida a intérpretes citadinos, simbolizando uma 
tentativa do dramaturgo de unir o morro e a cidade. 
 II. Diferentemente de Maria, Tião não reconhece o morro como seu espaço, o que, segundo alguns 
personagens, atribui-se ao fato de ter sido criado na cidade. 
 III. É uma peça peculiar da década de 50 que inova ao trazer uma linguagem revolucionária e ao abordar a 
plena liberdade sindical vivenciada pelos operários brasileiros. 
 IV. Há uma relação conflituosa entre os interesses coletivos (representado pelos operários) e os 
particulares (representado pela figura de Tião) 
 A sequência correta é: 
a) V, F, V, F. 
 b) F, V, V, F. 
 c) F, V, F, V. 
d) V, V, V, F. 
GABARITO 
 1) C 2) D 3) C 
 
POEMAS ESCOLHIDOS DE GREGORIO DE MATOS 
GREGORIO DE MATOS 
 
Sobre o autor: Gregório de Matos e Guerra nasceu em 7 de abril de 1633 (séc. XVII), na cidade de 
Salvador. Era o caçula de 3 filhos de abastada família baiana ligada a cultura açucareira. Aos 14 anos, viajou 
para Lisboa, onde concluiu os estudos em Direito. Em Portugal, depois de formado, exerceu importantes 
cargos no clero: Desembargador da Relação Eclesiástica da Baia e tesoureiro-mor da Sé Primacial do Brasil. 
Tido como intratável, acabou brigando com o arcebispo, por se recusar a vestir roupas sacerdotais 
obrigatórias para os cargos. Com uma vida envolta em mistérios e mitos, Gregório teria até entrado na 
mira da Inquisição, mas escapou graças ao prestigio da família. Tinha também fama de mulherengo, 
esbanjador e boêmio incorrigível. 
 
 
 Casou-se com Maria dos Povos e vendeu as terras que havia recebido como herança, gastando tudo sem 
economizar. Enquanto isso, trabalhava também como advogado e ficou famoso por escrever 
argumentações judiciais na forma de versos. Depois, Gregório de Matos largou tudo e tornou-se cantador 
itinerante pelo Recôncavo baiano, frequentando festas populares e convivendo com o povo. Nesse período 
ele passa a escrever cada vez mais poesias satíricas e eróticas, o que lhe rendeu o apelido “Boca do 
Inferno”. Além disso, ele escreveu diversas poesias de crítica política à corrupção e aos fidalgos locais, o 
que fez com que ele fosse deportado para Angola. 
 Só voltou ao Brasil em 1695, com a condição de que ele abandonasse os versos satíricos e fosse morar em 
Pernambuco. Nessa altura da vida, ele volta-se para a religião e escreve diversos poemas pedindo perdão a 
Deus pelos pecados que cometeu. Falece em 1696, no Recife (PE). 
 Escola literária: barroco. 
 O Barroco nasceu na Itália, na passagem para o século XVII, em meio a Reforma Protestante, que separou 
a antiga unidade religiosa. Foi um estilo de reação contra o classicismo do Renascimento, cujas bases 
giravam em torno da simetria e da proporcionalidade. Assim, a estética barroca primou pela assimetria, 
pelo excesso, pelo expressivo e pelo irregular. O próprio termo “barroco”, que nomeou o estilo, designava 
uma perola de formato bizarro. Esses traços constituíram uma verdadeira forma de vida e deram o tom a 
toda a cultura do período, uma cultura que enfatizava o contraste, o conflito, o dinâmico, o dramático, o 
grandiloquente, a dissolução dos limites. No Brasil, ainda colônia e sob grande influência de Portugal, o 
estilo se desenvolveu durante o ciclo do ouro, em que a exploração desse minério foi a principal atividade 
econômica. Nessa época, a capital do Brasil ainda era Salvador, que depois foi transferida para o Rio de 
Janeiro. Como as elites burguesas não se preocupavam em patrocinar as artes, e como a religião exercia 
enorme influência no cotidiano, vem daí que a vasta maioria do legado barroco brasileiro esteja na arte 
sacra: estatuária, pintura e obra de talha para decoração de igrejas e conventos ou para culto privado. 
Sobre a obra: Gregório de Matos é, historicamente, o primeiro grande poeta do Brasil. Sua obra é 
uma das mais importantes produzidas pelo Barroco nas Américas portuguesa e espanhola. O livro “Poemas 
escolhidos de Gregório de Matos” foi elaborado por José Miguel Wisnik, professor de Literatura Brasileira 
da USP, ensaísta, músico e compositor. De acordo com o profissional, a obra foi dividida por um critério 
temático. Partindo desse pressuposto, a divisão se dá em 3 partes: 
1) Poesia de circunstância: voltada para a realidade, o meio social, a cidade, o Recôncavo. Foram 
elencados, nesse segmento, os poemas que visam à sátira social, bem como ao aspecto gracioso 
(fazendo referência a acontecimentos pitorescos, às festas e demais divertimentos da Bahia). Além 
do mais, estão inseridos, nessa seção, os poemas encomiásticos por meio dos quais Gregório de 
Matos homenageou indivíduos que considerava dignos de admiração. 
2) Poesia amorosa: Nessa parte, estão contemplados os poemas líricos, que se voltam para a 
descrição da beleza feminina e, também, para a dualidade barroca entre amor espiritual 
(purificador, redentor) e amor carnal (pecaminoso, mas inevitável). Sobretudo, foram escolhidos, 
ainda, os poemas eróticosirônicos, responsáveis por retratarem a sexualidade de modo burlesco. 
3) Poesia religiosa: No último agrupamento, ficou a poesia que tematiza o binômio culpa X perdão 
e a vida humana como trânsito. São recorrentes, aqui, os temas da inevitabilidade do pecado, do 
medo da punição divina e da busca desesperada do eu-lírico pelo perdão de suas transgressões. 
Além da divisão, Wisnik ressalta, por meio das notas, os registros diferentes de variantes 
linguísticas encontradas no mesmo poema. Ademais, faz questão de salientar os textos cuja autoria 
está sob suspeita. 
 
 
QUESTÕES 
1) Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos. 
 Retrato / Dona Ângela 
 Anjo no nome, Angélica na cara 
 Isso é ser flor, e Anjo juntamente: 
Ser Angélica flor e Anjo florente 
 Em quem, senão em vós se uniformara? 
Quem veria uma flor, que a não cortara 
 De verde pé, de rama florescente? 
E quem um Anjo vira tão luzente, 
 Que por seu Deus o não idolatrara? 
 Se como Anjo sois dos meus altares, 
 Fôreis o meu custódio, e minha guarda, 
 Livrara eu de diabólicos azares. 
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda 
 Posto que os anjos nunca dão pesares 
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. 
Considere as seguintes afirmações sobre o poema: 
I — O poeta explora o paralelo entre Anjo e Angélica e revela a condição perecível e doméstica da flor, 
permitindo que se perceba a uniformização pretendida pelo barroco, a qual estabelece regras poéticas 
rígidas. 
 II — A mulher Anjo Luzente, no poema, encarna tanto o anjo protetor que livra "de diabólicos azares", 
quanto a criatura feminina tentadora que provoca a imaginação e a sensualidade. 
 III — A associação e o contraste da flor, que seria cortada do verde pé, com o Anjo luzente a ser 
idolatrado, indica o diálogo do poeta (vós) com o anjo enviado dos céus para proteger os altares de sua 
esposa. 
 Quais estão corretas? 
a) Apenas I 
b) . b) Apenas II. 
c) c) Apenas I e II. 
d) d) Apenas I e III. 
e) e) I, II e III. 
 
2) (UFPA) Assinale a alternativa correta a respeito de Gregório de Matos ou do Barroco. 
 
 
 a) Gregório de Matos é considerado o autor mais importante do Barroco brasileiro por ter 
introduzido a estética no país e ter escrito poemas épicos, de herança camoniana, em louvor à 
pátria, traço do nativismo literário da época. 
 b) A crítica reconhece a obra lírica de Gregório de Matos como superior à satírica, porque, nela, 
o autor não trabalha com o jogo de palavras que instaura o erótico e às vezes até o licencioso. 
 c) Tematicamente, a poesia de Gregório de Matos trabalha a religião, o amor, os costumes e a 
reflexão moral, às vezes por meio de um jogo entre erotismo idealizado x sensualismo 
desenfreado; temor divino x desrespeitopelos encarregados dos cultos. 
d) Conceptismo e cultismo são processos técnicos e expressivos do Barroco que dão 
simplicidade aos textos, principal objetivo da estética que repudiava os torneios na linguagem. 
e) O Barroco se destaca como movimento literário único, uma vez que somente em sua estética 
encontramos o uso de sugestões de luz, cor e som, bem como o uso de metáforas, hipérboles, 
perífrases, antíteses e paradoxos 
GABARITO 
 1) B 2) C 
AMOR DE PERDIÇÃO 
CAMILO CASTELO BRANCO 
 
Sobre o autor: Considerado o primeiro escritor de língua portuguesa a viver 
exclusivamente dos seus escritos literários, Camilo Castelo Branco (1825-1890) é também 
célebre pela quantidade de textos. Sua vida pessoal bastante atribulada, com relacionamentos 
passionais, bem ao gosto do romantismo, seguramente foi um foco de inspiração para seus 
livros. Durante quase quatro décadas, de 1851 a 1890, escreveu mais de 260 obras, numa 
elevada média de mais de seis por ano. O mais significativo é que a preocupação de vender os 
seus escritos não o impediu de manter uma qualidade elevada, embora dentro dos padrões 
românticos de sua época. 
 Dois aspectos se destacam: o refinado uso do idioma e o amplo aproveitamento da língua 
portuguesa. Nesse sentido, além dos seus romances, deixou um legado enorme de textos 
inéditos, comédias, folhetins, poemas, ensaios, prefácios, traduções e cartas. Esse material foi 
assinado com o seu nome ou com o de pseudônimos, como Manoel Coco, Saragoçano, 
A.E.I.O.U.Y e Árqui-Zero. 
O desfecho de sua obra, pleno de sofrimento e paixão, encontra eco na biografia do artista, que 
inclui: o casamento com uma jovem de 15 anos, a quem abandonou com uma filha; em seguida 
raptou outra moça, sua prima, e com ela passou a viver. Acusado de bigamia, foi preso. Sua 
primeira esposa morreu e, logo em seguida, a filha. Abandonou a prima e viveu amores 
passageiros com outra jovem e com uma freira. Depois, conheceu Ana Plácido, senhora casada 
que seria o grande amor de sua vida. Ocorre sua primeira tentativa de suicidar-se, diante da 
impossibilidade de viver com ela. Mas finalmente passaram a viver juntos, o que custou aos dois 
um processo por adultério. Ambos foram presos. Na prisão, Camilo escreveu Amor de Perdição. 
Absolvidos e morto o marido de Ana, se casaram. Alguns anos depois da morte de Ana, Camilo, 
vencido pela cegueira acaba por se suicidar. 
Escola literária: romantismo – 2° fase: ultrarromantismo. 
 
 
Foi um movimento literário português e brasileiro que aconteceu na segunda metade do século 
XIX. O ultrarromantismo pertence a segunda fase do romantismo, tendo como principais 
escritores portugueses: Camilo Castelo Branco e Soares de Passos, e como escritores brasileiros: 
Álvares de Azevedo, Casemiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela. Nessa fase, os 
escritores tomam atitudes extremas, transformando-se em românticos descabelados, caindo 
fatalmente no exagero, com temas soturnos e fúnebres, tudo expresso numa linguagem fácil e 
comunicativa. 
Sobre a obra: Simão Botelho era filho do desembargador Domingos Botelho, tinha um 
irmão mais velho, Manuel, com quem tivera algumas desavenças, e irmãs mais novas cuja Rita, 
a mais nova, era sua preferida. Sua mãe também se chamava Rita e por muitas vezes tinha uma 
atitude de soberba. 
 
Sendo um jovem que envergonhava a família, Simão possuía amizades que eram apenas com 
aqueles que pertenciam às classes mais pobres e vivia batendo e atirando pelos locais que 
passava. Entretanto, passado algum tempo, Simão mudou totalmente: não saía mais de casa, 
suas más amizades se encerraram e passava seus dias em casa junto com Rita (mais conhecida 
como Ritinha). A mudança no comportamento dele tratava-se de um romance. Ele e Teresa 
Albuquerque, filha de Tadeu Albuquerque, haviam se apaixonado. No entanto, as famílias eram 
inimigas, sendo assim, o romance era proibido, mas o relacionamento dos dois era conhecido 
apenas por eles. 
Simão retornou a Coimbra onde tinha iniciado seus estudos e lá se esforçava ao máximo. Nessa 
condição, Teresa e Ritinha se tornaram amigas e o amor dos dois foi confidenciado à menina, 
porém, na vez em que Domingos pegou Ritinha conversando com Teresa, obrigou-a a contar 
suas conversas e assim o romance dos dois foi revelado e instantaneamente repudiado por ele. 
Deu-se início à tragédia futura: Tadeu ofereceu a mão da filha em casamento ao primo Baltasar 
Coutinho, mas a menina o negou e foi então que começaram as tamanhas ameaças à Teresa 
que voltou a Viseu, mas para casa de um ferreiro chamado João da Cruz. Tempos depois, após 
inúmeras descobertas e reviravoltas envolvendo este triângulo romântico, Teresa foi levada a 
um convento e, posteriormente para o convento de sua tia em virtude de constantemente se 
comunicar com Simão por meio de cartas. Simão recebeu a carta com a notícia que também 
afirmava que junto a ela estariam indo suas irmãs, seu pai, Baltasar e as irmãs dele. Essa notícia 
o enfureceu e foi ao convento de sua amada, mas, quando Baltasar apareceu, junto a todos os 
outros, Simão o matou sem escrúpulos. 
Simão, por ser filho do desembargador, facilmente teria escapado da prisão, mas não quis, 
garantiu-se de ir preso. Sua família mudou-se para Vila Real e ele rejeitou a ajuda que sua mãe 
lhe ofereceu. Declarou-se sem família. Vivia do socorro de João da Cruz e sua filha, Mariana, 
que se tornara extremamente submissa a Simão, porém chegou a atingir o estado de demência. 
As correspondências de Teresa com Simão ainda eram difíceis, mas, mesmo assim, eles a 
mantinham. Foi então que a condenação à forca foi declarada a ele, por tal notícia, Teresa se 
entregou a morte e viveu como uma moribunda. 
No entanto, o pai, Domingos, afirmando que até agora tivera uma vida com honra, não 
morreria vendo na família uma morte na forca. Nessas circunstâncias Domingos agiu e impediu 
a morte do filho, mas não impediu a sua ida à prisão. Nesse tempo, Mariana voltara à sua 
sanidade e logo se dedicava a Simão. Ele viveu por dois anos e nove meses na prisão, mas João 
já vivia insatisfeito com a “perda” da filha e antes de qualquer ocorrência, infelizmente, foi 
assassinado pelo filho do homem que havia matado em uma das “pelejas” junto de Simão 
 
 
contra Baltazar e seus capangas. Sendo assim, Mariana vendeu todas as terras que a ela 
pertencia e viveu a se dedicar a Simão. 
Ao prisioneiro foram oferecidas duas penas: ficar dez anos preso ou viver dez anos no exílio na 
Índia. Por mais que vontade de Teresa era de que ele ficasse na cadeia, a mocidade e o desejo 
pelo sol fizeram-no optar pelo exílio. Além disso, Mariana foi com ele e, pelo pai que tinha, 
Simão entrou como homem livre no navio. Entretanto, do porto, Simão assistiu à morte de 
Teresa e lá recebeu as cartas que ele tinha escrito a ela e uma carta final dela. Como 
decorrência disso, Simão adoeceu, e Mariana ficou incumbida de lançar no mar os papéis e as 
cartas que ele e Teresa havia trocado. Por fim, Simão morreu e Mariana deu nele o primeiro 
beijo. Enterravam-se homens no mar, lançandoos no oceano com uma pedra presa aos pés. 
Não foi diferente que fizeram, e, quando Simão foi jogado no mar, Mariana também pulou 
entregando-se à morte e deixando as cartas dos dois amantes 
 
Analise da obra: 
Um grande ponto a se considerar é o intertexto referente ao romance “Amor de Perdição” do 
poeta Camilo Castelo Branco e a obra “Romeu e Julieta” de Willian Shakespeare, pois, de fato, 
existem semelhanças contidas em cada história. Encontra-se, nas duas histórias, um amor 
verdadeiro e esperançoso que, pelo fato de existir uma vontade muito grande dos casais, 
viverem suas vidas desfrutando desse amor, mas algo que coincide nas histórias, o que os 
impede de viver esse amor, é justamente a rivalidade de suas famílias. Além das semelhanças 
envolvendo os meios de comunicação entre os amantes de ambas as histórias,a morte dos 
protagonistas é um elemento crucial no clímax das narrativas. Portanto, em ambas as histórias, 
os casais, apesar de viverem esse amor incessante, com muita esperança e um imenso 
sofrimento, não conseguem o tão sonhado momento de viverem juntos e ambos acabam com o 
final triste e com suas mortes separando-os definitivamente. 
QUESTÕES 
1) (UEL) Sobre Amor de perdição, do escritor português Camilo Castelo Branco, assinale a 
alternativa INCORRETA: 
 a) Amor de perdição é uma novela ultrarromântica, marcada pelo sentimento passional e pelo 
idealismo amoroso, confirmando, assim, duas das principais características do período, que 
foram o subjetivismo e a luta individual do herói. 
 b) Narrada em terceira pessoa, a novela segue as convenções tradicionais da narrativa de ficção 
como a sequência temporal dos acontecimentos e a linearidade do enredo, apresentando 
também referências históricas e biográficas. 
 c) O ultrarromantismo da novela é quebrado por tendências realistas observadas no 
posicionamento da personagem Mariana e na forma pouco subjetiva como a realidade é 
tratada numa ficção documental. d) Mariana é a principal agente de comunicação entre Simão e 
Teresa, figurando como personagem auxiliar que promove a união amorosa entre os dois 
adolescentes apaixonados, embora não possa dela participar. 
 e) A personagem Mariana, encarnando o amor platônico, com pureza e resignação, e a 
personagem Teresa, representando a mulher inacessível e idealizada, encontram na morte a 
plenitude do amor idealizado, nesta novela da segunda fase romântica da literatura portuguesa. 
2) O desfecho da obra em estudo (Amor de perdição) encontra correspondência total em: 
 
a) A moreninha e Senhora. 
 b) Romeu e Julieta e Amor de salvação. 
 
 
 c) Ataliba, o Vaqueiro e Senhora. 
 d) Memórias de um Sargento de Milícias e Inocência. 
 e) Romeu e Julieta e Inocência. 
 
 3) (Mackenzie-SP) É uma característica da obra de Camilo Castelo Branco: 
 a) A influência rica, em sua poesia, de símbolos, imagens alegóricas e construções. 
 b) A oscilação entre o lirismo e o sarcasmo, deixando páginas de autêntica dramaticidade, 
vibrando com personagens que comumente intervêm no enredo, tecendo comentários 
piedosos, indignados ou sarcásticos. 
c) A busca de uma forma adequada para conter o sentimentalismo do assado e das formas 
românticas. d) O fato de deixar ao mundo um alerta sobre o mal-estar trazido pela civilização 
moderna e industrializada. e) O apego ao conto como principal realização literária, através do 
qual se tornou um dos autores mais respeitados na literatura portuguesa. 
GABARITO 
1) C 2) E 3) B 
 
 
 
CLARA DOS ANJOS 
LIMA BARRETO 
 Sobre o autor: Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio 
de 1881. Filho de pais mestiços e pobres, sofreu preconceito a vida toda e bem cedo ficou órfão 
de mãe. Sempre com a ajuda de seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto, estudou e ingressou 
na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde iniciou o curso de Engenharia. Em 1904, foi 
obrigado a abandonar o curso, pois seu pai havia enlouquecido e o sustento dos três irmãos 
passou a ser sua responsabilidade. 
Prestou concurso para escriturário do Ministério da Guerra e, nesta época, escrevia para quase 
todos os jornais do Rio de Janeiro. Em 1909 publicou o romance “Recordações do Escrivão Isaías 
Caminha”, que narra a trajetória de um jovem mulato vindo do interior e que sofre sérios 
preconceitos raciais. Em 1915 escreve “Triste Fim de Policarpo Quaresma” e, em 1919, “Vida e 
Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, ambos romances apresentando nítidos traços autobiográficos. 
Foi uma pessoa engajada com os problemas sociais, raciais e culturais de sua época e, por isso, 
escreve uma obra na qual as questões do âmbito social se apresentam na vida das personagens 
e, principalmente, na maneira como o narrador conduz os eventos da trama. 
Com seu espírito inquieto e rebelde, com seu inconformismo frente à mediocridade social, se 
entrega ao álcool. Suas constantes depressões o levam duas vezes para o hospício. Faleceu no 
Rio de Janeiro, no dia 01 de novembro de 1922. 
Movimento literário: pré-modernismo. 
SOBRE A OBRA: É um romance póstumo de Lima Barreto: o livro foi concluído em 1922 – ano 
em que o autor faleceu – e publicado apenas em 1948. O livro Clara dos Anjos leva o nome da 
protagonista: a pobre mulata Clara, filha do carteiro, que mora na periferia do Rio de Janeiro e 
que vive trancada debaixo da saia da sua mãe, Dona Engrácia. Mesmo com tanta vigilância, a 
mocinha acaba iludida pelo malandro sem caráter Cassi Jones, seduzida, grávida e abandonada 
ao desespero. 22 Sim, está revelado o fim da trama. Mas a verdade é que desde o começo do 
livro você, leitor, sabe que isso vai acontecer, uma hora ou outra. Mas não tem nada que se 
 
 
possa fazer além de ler, impotente e angustiado, o triste fim da mocinha. Inclusive, somente 
tristes fins podem vir do escritor Lima Barreto, um homem bem-humorado, mas desiludido do 
mundo, tão consciente das hipocrisias e injustiças do Brasil que da sua pena escorre uma crítica 
ácida aos costumes. Logo, o ambiente e a vida das pessoas são retratados com riqueza de 
detalhes para aproximar o leitor da realidade de cada personagem, seus pensamentos, suas 
inquietações, suas vitórias e frustações. O realismo-naturalismo, que influenciava o autor, 
aparece como cientificista e determinista, transmitindo a impressão de que as ações dos 
personagens são frutos de leis naturais: suas características hereditárias, do meio e do 
momento histórico em que vivem. 
 
A história é dividida em dez capítulos, que serão resumidos abaixo: 
I. Apresentação de Joaquim e sua família, além de seus amigos mais próximos. Durante o 
jogo de cartas, seu amigo Lafões sugere a Joaquim que Cassi Jones, mestre de violão e 
de modinhas, toque no aniversário de Clara, a duros protestos de Marramaque, que 
conhecia a má fama do rapaz. 
II. Apresentação de Cassi Jones e sua família 
III. É narrada a história de vida de Marramaque. Expõe a ocasião em que Cassi Jones 
contribuiu para o assassinato de uma mulher casada e foi parar na cadeia, momento em 
que conheceu Lafões, amigo de jogo de Joaquim, que foi preso por uma briga de bar. O 
malandro fingiu ter soltado o velho e esse ficou-lhe eternamente grato. O velho faz o 
convite para Cassi tocar no aniversário da moça. Junto de seus amigos, o malandro 
comenta sobre a formosura da filha do carteiro. 
IV. É o dia da festa de aniversário de Clara. Cassi olha gulosamente para o corpo de Clara e 
canta modinhas revirando os olhos para paquerá-la. Marramaque, percebendo as 
investidas do malandro, declama um poema que insinuava injúrias olhando para o 
músico. Estava selada a antipatia entre os dois. 
V. Cassi vai fazer uma visita a Joaquim dos Anjos e os pais de clara o recebem 
desgostosos. Em seguida, decidem que o violeiro não deve voltar à casa. A menina, 
entretanto, embarcou na ilusão de ter um caso amoroso, ela queria encontrar um amor 
que a tirasse daquela vida doméstica e fica contrariada com a postura dos pais e dos 
amigos. Deixou-se levar pelas fantasias de amor e casamento e não acreditou nos 
rumores negativos sobre Cassi, devido ao romantismo exacerbado. O doutor Meneses, 
dentista, vai até a venda do bairro à procura do poeta Leonardo Flores e fica sabendo 
que alguém está juntando provas contra Cassi Jones, denúncias precisas, com datas e 
provas das barbáries do malandro. 
VI. Cassi pensa nos motivos para a antipatia dos pais de Clara e vai até a casa de Lafões 
para descobrir de quem Joaquim era amigo e qual amigo estava falando mal dele. 
Descobriu que Marramaque queria se intrometer nos seus planos de possuir Clara (seu 
único desejo era a posse, desprezava suas vítimas). Cassi descobre sobre o dossiê com 
seus crimes que andam distribuindo pela cidade e começa a planejar sua fuga

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