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RESUMO CRIMINOLOGIA Viviane Amorim Resumos para concurso público CRIMINOLOGIA Professor: Murilo Ribeiro + Henrique Hoffman + Emagis + Ciclos + Rafael Strano Última atualização: 22/03/2021 Criminologia: Noções introdutórias __________________________________________________ 4 1. Introdução___________________________________________________________________________ 4 1.1. Conceito ________________________________________________________________________________ 6 1.2. Métodos ________________________________________________________________________________ 7 1.3. Objetos de estudo: ______________________________________________________________________ 8 1.3.1. DELITO_____________________________________________________________________________ 8 1.3.1.1. Criminalização _____________________________________________________________________ 9 1.3.1.2. Prevenção _________________________________________________________________________ 9 1.3.2. DELINQUENTE _____________________________________________________________________ 10 1.3.3. VÍTIMA ____________________________________________________________________________ 11 1.3.4. CONTROLE SOCIAL ________________________________________________________________ 15 1.4. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA ___________________________________________________________ 20 2. PREVENÇÃO _________________________________________________________________________ 21 2.1. Modelos Teóricos de Prevenção do Delito Modelo clássico ___________________________________ 22 2.2. Motivo neoclássico ________________________________________________________________________ 22 2.3. Classificações ____________________________________________________________________________ 22 2.3.1. Dimensão clássica (prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária) ______ 22 2.3.2. Dimensão política (modelo tradicional ou conservador, modelo liberal e modelo radical)______ 24 2.3.3. Dimensão pluridimensional (prevenção por meio do sistema de justiça penal, prevenção situacional do delito, prevenção comunitária e prevenção evolutiva ou de desenvolvimento) _____ 25 2.4. Fatores Sociais da Criminalidade ___________________________________________________________ 25 3. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME. ____________________________________________________ 26 ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA ______________________________________________________26 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA _____________________________________________________________ 26 1.1. ESCOLA CLÁSSICA: ____________________________________________________________________ 28 1.2. ESCOLA POSITIVA ou Positivista: __________________________________________________________ 31 1.3. Escola de Lyon (Escola Antropossocial ou Criminal-Sociológica) __________________________ 36 1.4. Terza Scuola Italiana (“Terceira Escola Italiana”) __________________________________________ 36 1.5. Escola Técnico-Jurídica ________________________________________________________________ 37 1.6. Escola Sociológica Alemã ou Política Criminal____________________________________________ 37 1.7. Escola Correcionalista __________________________________________________________________ 38 1.8. Escola da Nova Defesa Social ___________________________________________________________ 39 1.9. Movimento Psicossociológico ___________________________________________________________ 39 1.10. Movimento Lei e Ordem_______________________________________________________________ 40 GIRO SOCIOLÓGICO DA CRIMINOLOGIA ou Teorias Macrossociológicas (A Sociedade Criminógena) ______________________________________________________________________40 1. Introdução__________________________________________________________________________ 40 2. Teorias do Consenso, funcionalistas ou de integração _________________________________ 42 2.1. Escola de Chicago: (1920-1940) __________________________________________________________ 42 2.2. Teorias da Aprendizagem Social (Social Learning) ________________________________________ 47 2.3. Teoria da Associação Diferencial: (1883-1950) ____________________________________________ 48 2.4. Teoria da Anomia: ______________________________________________________________________ 50 2.5. Teoria da Subcultura Delinquente: (1918-2014)____________________________________________ 52 3. TEORIAS DO CONFLITO: ______________________________________________________________ 55 3.1. Teoria do Labelling Approach, Reação Social, Rotulação Social, Etiquetamento ou Interacionismo Simbólico. ____________________________________________________________________________________ 55 3.1.1. Seletividade Penal _____________________________________________________________________ 56 3.2. Criminologia Crítica, Marxista ou Nova Criminologia: ________________________________________ 57 4. TEORIAS DE CONTROLE ____________________________________________________________ 58 4.1. Teoria do enraizamento social ___________________________________________________________ 58 4.2. Teoria da conformidade diferencial ______________________________________________________ 58 4.3. Teoria da contenção ____________________________________________________________________ 59 4.4. Teoria do controle interior_______________________________________________________________ 59 4.5. Teoria da antecipação diferencial ________________________________________________________ 59 Movimentos Atuais de Política Criminal _____________________________________________61 1. Abolicionismo Penal ________________________________________________________________ 61 2. Minimalismo Penal __________________________________________________________________ 63 3. Neorrealismo Penal _________________________________________________________________ 63 4. Garantismo Penal ___________________________________________________________________ 64 5. Tendências Securitária, Justicialista e Belicista _______________________________________ 65 6. Direito Penal do Inimigo _____________________________________________________________ 66 7. Teoria do cenário da bomba relógio (the ticking time bomb scenario) ___________________ 67 8. Direito Penal Paralelo e Direito Penal Subterrâneo _____________________________________ 67 9. Bullying, Assédio Moral e Stalking ___________________________________________________ 67 CRIMINOLOGIA AMBIENTAL _______________________________________________________68 Criminologia: Noções introdutórias 1. Introdução Terminologia Latim crimen (crime) + grego logo (tratado). Estudo do crime, se estendeu ao criminoso, vítima, controle social e culturais (atualmente). Idealizador: Paul Topinard (1830 – 1911) Difusor no cenário internacional: Raffaele Garofalo (1851 – 1934) Marco científico Corrente majoritária: O homem Delinquente de Cesare Lombroso (1876). Escola positivista – científica. Corrente minoritária: Dos delitos e das penas de Cesare Beccaria (1764). A obra de Beccaria, apesar de escrita anteriormente, não é considerada marco porque o autor está inserido na escola clássica, pré-científica. A Criminologia, a Política Criminal e o Direito Penal são considerados os três pilares de sustentação das chamadas Ciências Criminais. Enquanto o Direito Penal se preocupa em criar um sistema abstrato de normas, prevendo comportamentos proibidos sob a ameaça de uma pena, a Criminologia tem por objetivo realizar um verdadeiro diagnóstico do fenômeno criminal, buscando prevenir o crime, definir as formas de intervenção no infrator e propor modelos de reação ao comportamento criminoso. Já a Política Criminal funciona como uma verdadeira ponte eficaz entre Direito Penal e a Criminologia, sugerindo medidas concretas na interação entre o saber experimental (próprio da Criminologia) e sua eventual transformação em preceitos normativos (atuação do Direito Penal). A política criminal é a disciplina que oferece aos poderes públicos as opçõescientíficas para o controle da criminalidade. A política criminal pode ser repressiva (Direito Penal) ou preventiva (ex.: iluminação pública; revitalização urbana; campanhas de conscientização). Quem faz política criminal? Todos os Poderes em todas as esferas federativas. Para a doutrina majoritária, no entanto, a Política Criminal não tem autonomia de ciência, já que não possui metodologia própria (Direito Penal e Criminologia, por sua vez, são ciências). Atenção: não há qualquer subordinação entre o saber criminológico e o dogmático penal. Zafaronni diz que há uma dificuldade em diferenciar a criminologia de política criminal porque a criminologia não consegue ser externalizada sem o seu viés político. (TJ-CE-CESPE) A respeito da política criminal, da criminologia, da aplicação da lei penal e das funções da pena, julgue os itens subsequentes. I Criminologia é a ciência que estuda o crime como fenômeno social e o criminoso como agente do ato ilícito, não se restringindo à análise da norma penal e seus efeitos, mas observando principalmente as causas que levam à delinquência, com o fim de possibilitar o aperfeiçoamento dogmático do sistema penal. II A política criminal constitui a sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social da criminalidade, com o propósito de sugerir e orientar reformas na legislação positivada. Estão certos apenas os itens I e II Importância da criminologia apura a visão crítica e científica daquele que se propõe a analisar o problema da delinquência fornece respostas mais pormenorizadas aos problemas criminais que assolam todas as sociedades A criminologia analisa quais são os fatores que culminaram no cenário atual. É a ciência que possui as ferramentas e saberes para examinar o fenômeno criminológico que ocorre na sociedade. Não incumbe à criminologia punir o transgressor (tarefa do Direito Penal), muito menos definir qual é o procedimento de persecução penal durante a investigação ou o processo (missão do Direito Processual Penal). O Direito Penal é uma ciência dogmática e a criminologia é uma ciência zetética. Tércio Sampaio Ferraz, em uma de suas obras, para ilustrar tal distinção, conta uma história. Sócrates, sentado à porta de sua casa, vê um sujeito passar correndo com um soldado atrás dele gritando: “pegue esse homem, ele é um ladrão”. Sócrates, então, pergunta ao soldado: “o que você entende por ladrão?”. A anedota histórica mostra dois enfoques distintos: o do soldado, que parte da premissa de que a definição do que seja um ladrão já está posta e, portanto, está preocupado com a ação, e a de Sócrates, para quem a premissa é duvidosa e merece questionamento. A postura do filósofo não está atrelada à norma, está no mundo do ser, no mundo concreto. O soldado corre atrás do sujeito para poder cumprir a norma, o mundo do dever-ser. Dogmática: Significa ensinar, doutrinar. Parte de um objeto de pesquisa com limites bem definidos e renuncia à pesquisa independente, vinculando-se a questões finitas, como por exemplo, os limites impostos pela lei. É a ciência do dever-ser, do mundo abstrato, ideal. Não é interdisciplinar (não admite a interferência de outras ciências). Está ligada à tarefa de interpretação de normas e princípios, especialmente preocupando-se com a aplicação destes. Zetética: Significa indagar, investigar. Despreza qualquer premissa anterior. Cria teorias (passíveis de refutação), e não dogmas (incontestáveis). Tem uma função de especulação infinita; o objeto é questionado em todas as direções. É a ciência do ser, do mundo real, e que visa explicar a realidade. 1.1. Conceito Conceito: Dentre as diversas definições trazidas pela doutrina, destaco as lições de Antonio García-Pablos de Molina que alcança, já na visão conceitual, aspectos do método, objeto e das funções do saber criminológico: “ciência autônoma empírica (baseada na realidade) e interdisciplinar (que congrega ensinamentos de sociologia, psicologia, filosofia, medicina e direito) (métodos), que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social (objetos de estudo) do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime - contemplado este como problema individual e como problema social -, assim como sobre programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito (funções)” (Tratado de Criminologia, 1999). (DP-MA-CESPE) Afirmar que a criminologia é interdisciplinar e tem o empirismo como método significa dizer que esse ramo da ciência utiliza um método analítico para desenvolver uma análise indutiva. Ciência lógica e não normativa, busca determinar o homem delinquente utilizando métodos biológicos e sociológicos. Nota-se, a partir de então, uma diferenciação com o Direito, visto que o Direito é eminentemente normativo, já a Criminologia visa determinar o homem delinquente por meio dos métodos biológico e sociológico. Características da criminologia moderna (trazidas por García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes): O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro de ação da criminologia, para alcançar também a vítima e as instâncias de controle social. Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à ideia de repressão dos modelos tradicionais. Substitui o conceito de “tratamento” (conotação clínica e individual) por “intervenção” (noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e próxima da realidade social). Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos objetos da criminologia. Não afasta a análise etiológica do delito (desvio primário). Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - A criminologia é classificada como multidisciplinar ou interdisciplinar? Por quê? Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual o conceito de multidisciplinaridade e de interdisciplinaridade? 1.2. Métodos MÉTODOS. Tema recorrente em concursos públicos. Quais são os métodos utilizados pela Criminologia? Ao contrário do Direito Penal, que parte de uma regra geral (norma) para analisar um comportamento individual (conduta humana), ou seja, de forma dedutiva, lógica e abstrata, a Criminologia adota o método INDUTIVO, partindo da análise da realidade para dela extrair as consequências, de maneira EMPÍRICA e INTERDISCIPLINAR (contribuição de diversas disciplinas, como a Biologia, a Sociologia e a Psicologia). Assim, os métodos da Criminologia para a doutrina são INDUTIVO, EMPÍRICO e INTERDISCIPLINAR. Um único cuidado aqui: para o Professor Nestor Sampaio Penteado Filho, em sua obra Manual Esquemático de Criminologia, o saber criminológico utiliza os métodos BIOLÓGICO e SOCIOLÓGICO, diante do caráter empírico e experimental de tal ciência. MÉTODOS Empírico Indutivo Interdisciplinar Análise e observação da realidade. O jurista de direito penal avança em seus estudos lendo obras de direito penal (mestrado, doutorado), o direito penal é uma ciência do dever-ser, é normativo, jurídico, dogmático. O criminólogo é o curioso, ele vai “in loco” – analisar e observar a realidade, ciência do ser. Método empírico não é a mesma coisa método experimental, nem sempre será possível a experimentação. É aquele que sai de uma situação particular para depois estabelecer uma situação geral, ao final vai estabelecer conclusões. O direito penal faz a linha inversa, adota o método dedutivo. Várias ciências vão contribuir para a criminologia. Ex: psicologia, geografia, sociologia criminais. Métodos e técnicas de investigação: Quantitativas: numérico. Estatística,questionário. Qualitativas: levam em consideração outras variáveis. Entrevista e observação participante. Transversais: tomam uma única mediação da variável. Longitudinais: levam em consideração várias medições em diferentes momentos. Toda uma vivência do indivíduo. Biografias criminais. 1.3. Objetos de estudo: Até meados do Séc. XX, com os ideais da Escola Positiva, a Criminologia possuía apenas dois objetos de estudo: o DELITO e o DELINQUENTE. Com a evolução da própria ciência, no entanto, dois outros pontos de interesse foram acrescentados: VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. Desta forma, temos quatro atuais objetos ou vertentes: DELITO, DELINQUENTE, VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. 1.3.1. DELITO O conceito de delito para a Criminologia não é o mesmo utilizado pelo Direito Penal, tão conhecido por nós quando do estudo da Teoria do Crime. Para o saber criminológico, delito é toda conduta com incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor, aflição e angústia (incidência aflitiva), com persistência espaço-temporal e que se tenha um inequívoco consenso a respeito de suas causas e suas possíveis punições. Vamos explicar melhor? a) INCIDÊNCIA MASSIVA: a conduta tida como delituosa NÃO pode ser um fato ocorrido de maneira isolada, ainda que socialmente reprovável, o fato não pode ser episódico, isolado. Ex.: a introdução de um palito de sorvete no orifício de respiração de um cetáceo; foi criada legislação para tanto, porém tratava-se de conduta episódica; vale destacar que, na exposição de motivos da lei, foi alegado que o objetivo da Legislação era evitar a caça a baleia na costa brasileira; b) INCIDÊNCIA AFLITIVA: para que haja legitimidade de punição, o ato tido como criminoso deve causar prejuízo, dor ou angústia à vítima ou à sociedade. Ex.: criminalização da expressão “couro sintético” ou “couro ecológico”; isso pode ser resolvido em outra esfera, não na penal; c) PERSISTÊNCIA ESPAÇO-TEMPORAL: o fato deve ser durável no tempo e no espaço em determinado local, não sendo possível criminalizar uma moda, algo passageiro. Ex.: brucutu, uma a peça que esguicha água nos Fuscas; era moda a subtração da peça para usar como anel; seria incabível a criminalização dessa conduta; outro ex.: a criminalização dos “rolezinhos” em centros comerciais; d) INEQUÍVOCO CONSENSO: não basta que a conduta tenha incidência massiva, aflitiva e persistência espaço-temporal, sendo necessário um inequívoco consenso de que tal ato deva ser considerado como crime. Ex: o uso do álcool. Há incidência massiva na população? Com cervej..certeza, rs! Há incidência aflitiva? Sim, alguns estudos apontam que o álcool é tão prejudicial quanto algumas drogas ilícitas. Há persistência espaço-temporal? Claro. Alguém, neste exato minuto, está consumindo em algum lugar do mundo. Apesar de tudo isso, não há um inequívoco consenso acerca de sua criminalização e da necessidade de punição. #OLHAOGANCHO: Justiça Restaurativa – É uma nova perspectiva, oposta à ideia de Justiça Retributiva (retribuir o mal com outro mal), fundada basicamente na restauração do mal provocado pela infração penal. Busca o restabelecimento do status quo ante dos protagonistas do conflito criminal, com a composição de interesses entre as partes envolvidas e reparação do dano sofrido pela vítima, por meio de acordo, consenso, transação, conciliação, mediação ou negociação, propiciando a restauração do controle social abalado pela prática do delito, a assistência ao ofendido e a recuperação do delinquente. Crime sob a perspectiva da criminologia Incidência massiva na população Incidência aflitiva Persistência espaço-temporal Consenso sobre sua etiologia e técnicas de intervenção Do crime Ente jurídico: Escola Clássica; Ente natural/manifestação patológica/desvio de personalidade: Escola do positivismo criminológico; Crime natural: Garófalo; Patologia social: Escola correcionalista; Rotulação política: labelling approach e criminologia crítica. “Para a criminologia o delito se apresenta como um problema social e comunitário, que exige do investigador uma determinada atitude para se aproximar dele (...) Portanto, a criminologia entende que delito é toda conduta desviada que viola normas jurídicas ou normas sociais.” (BISPO, 2009). “Busca analisar a conduta antissocial, as causas que gerou o delito, a busca de um tratamento eficaz ao delinquente, visando a sua não reincidência. Para a criminologia o “crime é um fenômeno social, comunitário e que se mostra como um ‘problema’ maior, a exigir do pesquisador empatia para se aproximar dele e entende-lo em suas múltiplas facetas. Destarte, a relatividade do conceito de delito é patente na criminologia, que o observa como um problema social”. (PENTEADO, 2020) “Para a criminologia, “crime é um fenômeno social, comunitário e que se demonstra como um problema maior, exigindo assim dos estudiosos uma visão ampla que permita aproximar-se dele e compreendê-lo em seus diversos enfoques.” (SUMARIVA) 1.3.1.1. Criminalização (i) Primária: é o ato de legislar em matéria penal; somente é feita pelo Poder Legislativo; Características: diz respeito a condutas abstratas e pessoas indefinidas. (ii) Secundária: é a aplicação da lei penal. Quem exerce a criminalização secundária: polícia federal, civil, militar; sistema de justiça; Exército; administração penitenciária etc. É o controle social formal; Características: ao contrário da criminalização primária, a secundária diz respeito a condutas concretas e pessoas específicas; Obs: Cifra oculta (cifra negra): É a diferença entre os crimes que acontecem e aqueles que chegam ao conhecimento do sistema de justiça. Outras cifras: Cifra verde: crimes contra o meio ambiente; cifra amarela: crimes cometidos por agentes estatais; cifra rosa: crimes de homofobia; cifra dourada: crimes de colarinho branco. 1.3.1.2. Prevenção O critério adotado para essa divisão é temporal ou cronológico. A prevenção primária ocorre muito antes do cometimento do crime, a secundária, logo após, e a terciária, muito tempo depois. a) Primária: Confunde-se com as políticas públicas de educação, saúde, moradia e emprego, e visa atingir as raízes do crime, operando a longo prazo; b) Secundária: Relaciona-se com a repressão penal e com as funções da pena (prevenção geral e especial); c) Terciária: também conhecida como previsão tardia; visa evitar a reincidência criminal, concretizando-se com as políticas de atenção ao egresso. 1.3.2. DELINQUENTE Passemos ao estudo do segundo objeto da Criminologia: o próprio criminoso. Para isso, é importante acompanhar a evolução do conceito nas diversas escolas da Criminologia (veremos com maior profundidade em cada escola), utilizando como base a obra de Sérgio Salomão Shecaira. Vamos lá? ESCOLA CLÁSSICA: o delinquente era encarado como o pecador que optou pelo mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Herança do Contrato Social, de Rousseau. O cometimento do crime era um rompimento ao pacto e a pena deveria ser proporcional ao mal causado; ESCOLA POSITIVA: houve uma mudança do foco de estudo, concentrando as pesquisas na pessoa do delinquente, que não raro era visto como “animal selvagem”. Para a Escola Positiva, o infrator era um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico) ou de processos causais alheios (determinismo social). Enquanto para os clássicos a pena deveria ser proporcional ao mal causado, para os positivistas deveria ser utilizada uma medida de segurança com finalidade curativa, por tempo indeterminado, enquanto persistisse a patologia. ESCOLA CORRECIONALISTA: para Shecaira, a Escola Correcionalista não teve reflexos significativos no Brasil. Defendia que o criminoso era um ser débil, inferior e que deveria receber do Estado uma postura pedagógica e de proteção. O infratoré um ser inválido, incapaz de dirigir-se a si mesmo. Isso justifica a adoção de um modelo paternalista em relação ao delinquente. Para os correcionalistas, a pena era tratada como um direito de recuperação e adaptação, com caráter eminentemente pedagógico. A pena, para os correcionalistas, não seria uma punição, e sim um direito do criminoso de se adaptar à sociedade. Ex: tratamento dado ao adolescente infrator. (DPE-DF-CESPE) De acordo com a teoria positivista, o criminoso é um ser inferior, incapaz de guiar livremente a sua conduta por haver debilidade em sua vontade: a intervenção estatal se faz necessária para correção da direção de sua vontade. (ERRADO) A ESCOLA CORRECIONALISTA, e não a positivista, afirma que o criminoso é um ser inferior, incapaz de guiar livremente a sua conduta, por haver debilidade em sua vontade, de modo a merecer intervenção estatal para corrigi-la. Para a escola correcionalista, o criminoso não é um ser forte e embrutecido, como diziam os positivistas, mas sim um débil, cujo ato precisa ser compreendido e cuja vontade necessita ser direcionada. A escola positivista afirma que o criminoso é um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico) ou de processos causais alheios (determinismo social). Não aceitaram a tese da Escola clássica do livre-arbítrio, mas sim a ideia do criminoso nato (determinismo biológico de Lombroso) e do determinismo social de Ferri e Garófalo. FONTE: CESPE MARXISMO: para Marx, de forma bem simplista, quem é culpável pelo crime é a própria sociedade, já que o crime seria decorrente de certas estruturas econômicas. (DPE-DF-CESPE) Na visão do marxismo, a responsabilidade pelo crime recai sobre a sociedade, tornando o infrator vítima do determinismo social e econômico. (CERTO) Para a vertente marxista, a responsabilidade do crime é da sociedade; o delinquente, convertido em vítima, é produto da estrutura econômica do Estado. Assim, o criminoso é considerado fruto da exploração capitalista patrocinada pelas classes dominantes. CONCEITO CONTEMPORÂNEO: nos dias atuais, com a perspectiva biopsicossocial, delinquente é o indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não segui-las por razões multifatoriais e nem sempre assimiladas por outras pessoas. 1.3.3. VÍTIMA Historicamente, a figura da vítima observou três fases bem delineadas: I) Protagonismo (na chamada “idade de ouro”, desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média). A vítima, neste período, detinha o poder de realizar a justiça pelas próprias mãos, na chamada autotutela (justiça privada, pena de talião); II) Neutralização (o Estado como o responsável pelo conflito social – Código Penal Francês e ideais do liberalismo moderno). Estado monopoliza o poder punitivo e trata a pena como garantia coletiva e não como ofensa à vítima; III) Redescobrimento/revalorização (traz contornos mais humanos à postura estatal em relação à vítima – sobretudo após a 2ª Guerra Mundial). Na segunda metade do Século XX, o estudo sobre a vítima assumiu contornos marcados, sendo fundada uma nova disciplina (ou ciência, para parte da doutrina), a VITIMOLOGIA, o estudo das relações da vítima com o infrator (chamada pela doutrina de “dupla penal”) ou com o sistema. Com a definição dos contornos do Estado Democrático de Direito, surgiu à necessidade da redefinição da vítima sob uma perspectiva mais humana. E quais são os tipos de vitimização? A VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA é o processo através do qual um indivíduo sofre direta ou indiretamente os efeitos nocivos ocasionados pelo delito (em regra materiais ou psíquicos). Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: CRIMINOLOGIA - O que é vitimização secundária? E vitimização terciária? A VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA, revitimização ou sobrevitimização é entendida como o sofrimento suportado pela vítima nas fases do inquérito e do processo, em que muitas vezes deverá reviver o fato criminoso por meio de interrogatórios, declarações e exames de corpo de delito, além de submeter-se a situações constrangedoras, como o reencontro com o delinquente. No concurso para o cargo de Delegado PC-BA 2018 foi considerada correta a seguinte assertiva: A chamada da vítima na fase processual da persecução penal para ser ouvida sobre o crime, por inúmeras vezes, é denominada de vitimização secundária. (DPE-DF-CESPE) A criminologia classifica como vitimização secundária a coisificação, pelas esferas de controle formal do delito, da pessoa ofendida, ao tratá-la como mero objeto e com desdém durante a persecução criminal. (CERTO) Por fim, entende-se por VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA a ausência de receptividade social, bem como a omissão estatal no atendimento da vítima, que em diversos casos se vê compelida a alterar sua rotina, os ambientes de convívio e círculos sociais em razão da estigmatização causada pelo delito. Ex: vítima de crime sexual e segregação social. Vitimização indireta – Sofrimento suportado por pessoas relacionadas intimamente à vítima do delito, que, embora não diretamente lesionadas pela conduta criminosa, partilham de seu sofrimento. VITIMIZAÇÃO QUATERNÁRIA: É o medo da vítima de se tornar vítima novamente. É influenciada pela mídia, que cria esse medo coletivo. Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Que tipo de vitimização e de prevenção estabelece a lei Maria da Penha? CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS DE BENJAMIM MENDELSOHN A classificação aqui estudada é a que cai em provas: I) Vítima completamente inocente (vítima ideal): Trata-se da vítima completamente estranha à ação do criminoso, que não provoca, não incentiva, não colabora, com a prática criminosa. Não tem qualquer culpa para a realização do delito. Ex: senhora que tem sua bolsa roubada na rua. Ela simplesmente sai na rua com sua bolsa é se torna vítima. II) Vítima de culpabilidade menor (vítima por ignorância): Ocorre quando há um impulso não voluntário ao delito, mas de certa forma existe um grau de culpa da vítima. A vítima não quer, mas acaba concorrendo para o delito. Ex: casal de namorados, que invade varanda do vizinho para ter relação sexual, o vizinho pega e comete uma lesão corporal. III) Vítima voluntária ou tão culpada: Ambos podem ser criminosos ou vítimas. A própria vítima se coloca na situação de vítima. Ex: roleta russa. IV) Vítima mais culpada que o infrator: Enquadram-se nessa hipótese as vítimas provocadoras, que incitam o autor do crime; as vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se controlarem, ainda que haja uma parcela de culpa do autor. Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: CRIMINOLOGIA - Segundo Mendelson, quem são as vítimas unicamente culpadas? V) Vítima unicamente culpada: a) Vítima infratora – é a pessoa que comete um delito e no fim se torna vítima, como ocorre no caso de homicídio por legitima defesa; b) Vítima simuladora: induz alguém a ser acusado por um delito e gera um erro judiciário. Simula situação que não aconteceu; c) Vítima imaginaria: pessoa portadora de grave transtorno mental que, em decorrência deste distúrbio, leva o judiciário ao erro, podendo se passar por vítima de um crime ou acusando uma pessoa de ser o autor. Merece menção, outrossim, a classificação de Hans von Hentig: a) 1º grupo: criminoso-vítima-criminoso, de forma sucessiva: criminoso que, em função das agruras do sistema penitenciário e da repulsa social com que depara após a soltura, torna a incidir na prática delitiva; b) 2º grupo: criminoso-vítima-criminoso, de forma simultânea: caso do usuário de drogas que se torna traficante; c) 3º grupo: criminoso-vítima, de forma imprevisível: caso do linchamento do criminoso por populares. Ainda dentro dos estudos da vitimologia têm-se as síndromes no âmbito da vitimologia. a) Síndrome da mulher dePotifar: trata-se de uma Figura criminológica a mulher que, rejeitada afetivamente, imputa falsamente a quem a ignorou o delito de estupro ou outra conduta ofensiva à dignidade sexual. Busca analisar a credibilidade, validade, e seriedade da palavra da vítima, notadamente nos crimes sexuais, que na maioria das vezes são praticados às escondidas, sem testemunhas, restando por fim apenas a palavra da vítima contra a palavra do acusado. b) Síndrome de Estocolmo: é um fenômeno em que a vítima de um sequestro passa a ter uma relação de afinidade com o criminoso, seu algoz. Primeiramente, como forma de defesa, depois como verdadeiro sentimento de afeição. c) Síndrome de Londres: é o contrário da Síndrome de Estocolmo. Ao invés de ter uma relação de afinidade com o criminoso, a vítima, geralmente em posição de refém, passa a discordar do seu algoz e a discutir com ele. Esse comportamento gera uma antipatia que pode colocar em risco toda a negociação policial com os sequestradores, ou o que é pior: resultar em um evento fatal. d) Síndrome de Otelo: é o fenômeno criminológico em que a pessoa sofre com delírio de que a parceira é infiel, podendo levar à prática de atos graves como o homicídio. A síndrome de Otelo é mais comum em homens do que em mulheres, por razões psicológicas e culturais. Em muitas sociedades ainda é forte a ideia de poder e dominação dos homens sobre as mulheres. Como resultado, alguns homens esperam que suas companheiras se submetam a suas regras e qualquer conduta de autonomia é vista como suspeita. e) Síndrome de Dom Casmurro: é o fenômeno criminológico em que a pessoa sofre com um quadro mental paranoico, em que acredita naquilo que desconfia mesmo sem evidências, e passa a procurar provas para confirmar sua suspeita descabida. Ocorre quando o magistrado desenvolve a ideia fixa de que um alvo da persecução penal é autor do fato apurado e passa a determinar de ofício produção de provas que confirmem seu raciocínio pré-concebido, bem como decretar prisões sem requerimento algum. Aqui faz-se um paralelo com o sistema acusatório do Processo Penal, na qual o juiz não pode atuar sem qualquer provocação do MP ou da autoridade policial. O Pacote Anticrime surge para tornar mais robusto esse sistema acusatório. Criminologia e Sistema de Justiça Criminal Sistema de Justiça Criminal e Controle Social O sistema de justiça criminal se posiciona dentro do sistema formal de controle social. É formado pelo Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia e Administração Penitenciária. Os órgãos públicos exercem um papel expressivo na condução do controle do fenômeno criminal. O funcionamento dessas quatro instâncias (separadas e organizadas) é de fundamental importância para a criminologia, pois são aplicadores natos do controle social formal. Justiça Retributiva Justiça Restaurativa Valores O conceito de crime é estritamente jurídico, e considera-se que a infração é ato contra a sociedade. O Estado detém o monopólio da justiça criminal, primando pelo interesse público. Impera a aplicação do direito positivo. O crime é conceituado em sentido amplo, considerando-o como ato que afeta autor, vítima e a sociedade. A justiça é participativa, e valoriza também os interesses das pessoas envolvidas no fato. A aplicação do direito positivo é alternativa. Procedimentos Sua linguagem e rituais são impregnados pelo formalismo e pela solenidade. As autoridades incumbidas da persecução penal são os agentes que protagonizam Seus rituais são informais, e o procedimento é regido pelo princípio da oportunidade. As pessoas envolvidas, como vítimas, infratores e a todos os procedimentos. própria comunidade se envolvem no processo decisório. Resultados Penas aplicadas ao infrator com o objetivo de intimidar e punir (prevenção geral e especial). Gera estigmatização e discriminação de infrator e vítima. As penas privativas de liberdade aplicadas são desproporcionais, e as penas alternativas são ineficazes. A ressocialização é relegada a plano secundário. Embora o objetivo seja a pacificação social, a tensão permanece. Busca restaurar a relação entre as partes. Emprega a retratação, reparação, prestação de serviços comunitários como formas de atenuar traumas e prejuízos; Evita a estigmatização, e prima pela efetiva a reintegração do infrator e da vítima à sociedade. Procura concretizar a paz social com dignidade. Efeitos para a vítima Deixada em segundo plano, geralmente não recebe qualquer apoio do Estado. Permanece frustrada e ressentida após o processo. Tem participação ativa no processo, e suas opiniões são levadas em consideração para a resolução do conflito. Recebe assistência e é reparada por suas perdas materiais. Efeitos para o infrator Tem pouca participação no processo, e raramente compreende suas etapas e procedimentos. Manifesta-se apenas por meio de um advogado. Ao fim do processo, não é efetivamente responsabilizado pela prática delitiva, mas apenas punido. Compreende as etapas e procedimentos do processo, recebendo todas as informações necessárias. Participa de maneira ativa no processo, e sua capacidade de responsabilizar-se pelo fato é levada em consideração. É incentivado a dialogar com a vítima e com a comunidade, a fim de melhor compreender os impactos de sua conduta. Tem a oportunidade de desculpar-se e reparar o dano causado. 1.3.4. CONTROLE SOCIAL São as instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas comunitárias de modo orientador e fiscalizador. Com relação aos seus destinatários, pode ser difuso (à coletividade) ou localizado (a determinados grupos). Subdivide-se em CONTROLE SOCIAL FORMAL (realizado pelo Estado, caracterizado pelo Sistema de Justiça Criminal – Polícias, Poder Judiciário, MP, Administração Prisional) e CONTROLE SOCIAL INFORMAL (realizado pela sociedade civil – família, mídia, opinião pública, religião, ambiente de trabalho etc.). Pode ser exercido de três principais formas: a) sanções formais (aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou penais) e sanções informais (não têm força coercitiva); b) meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções); c) controle interno (autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como multas e penas privativas de liberdade). Quando as formas de controle social informal falham, aparecem as formas de controle formal. A pena privativa de liberdade é a mais grave das sanções do controle social formal. CONTROLE SOCIAL ALTERNATIVO: reação social frente à ineficiência e/ou injustiça das instâncias de controle social formal. CONTROLE SOCIAL CONTROLE SOCIAL FORMAL INFORMAL AGENTES Família, escola, religião, clubes recreativos, opinião pública etc. Polícia, Ministério Público, Poder Judiciário, administração penitenciária. MOMENTO Disciplina o indivíduo por meio de um largo e sutil processo de socialização, interiorizando ininterruptamente no indivíduo as pautas e conduta. Entra em funcionamento quando as instâncias informais de controle falham. ESTRATÉGIAS Distintas estratégias (prevenção, repressão, ressocialização etc.) e diferentes modalidades de sanções (positivas, como recompensas, e negativas, como punições). Atua de modo coercitivo (violento) e impõe sanções mais estigmatizantes, que atribuem ao infrator da norma um singular status (de desviado, perigoso ou delinquente). EFETIVIDADE Costuma ser mais efetivo, porque é ininterrupto e onipresente, o que ajuda a explicar os níveis mais baixos de criminalidade nas pequenas cidades do interior, onde é mais forte. O atual enfraquecimento dos laços familiarese comunitários explica em boa medida a escassa confiança depositada na sua efetividade A eficaz prevenção do crime não depende tanto da maior efetividade do controle social formal, senão da melhor integração do controle social formal e informal. O controle razoável e eficaz da criminalidade não pode depender exclusivamente da efetividade das instâncias do controle social, pois a intervenção do sistema legal não incide nas raízes do delito. CONTROLE SOCIAL É formado pelas instituições, que desde nossa infância regulam nossos comportamentos. Ensinamentos, dicas, regras, que nos ensinam a viver em comunidade. A doutrina divide o controle social em: a) Informal: família, esposa/marido, escola, ambiente de trabalho, igreja, vizinhança, sogra. b) Formal: polícia, MP, Judiciário, Forças Armadas, Sistema Prisional/Socioeducativo. Os estudos de criminologia apontam que quanto mais forte o controle social informal, mais pacífica a sociedade. Em cidades pequenas esse vínculo do controle social informal é maior e mais forte e quando se tem esse ambiente mais coeso, é mais difícil das pessoas cometerem crimes. Quanto mais forte o controle informal, menos precisaremos do controle formal. Componentes fundamentais das instituições controle social: norma, processo e sanção. Estão presentes no controle social formal e informal. Sanções do controle social: a) Sanções formais – aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou penais e sanções informais – não tem força coercitiva; b) Meios positivos – prêmios e incentivos e meios negativos – imposição de sanções propriamente ditas; c) Controle interno – autocoerção e controle externo – ação da sociedade ou Estado, como multas e pena privativas de liberdade. “Quando as formas de controle social informal falham, agem as formas de controle social formal.” Obs: labelling approach – teoria da reação social. Pertencente as teorias de conflito. O controle social não é isento como parte da doutrina diz, para o Labelling approach, o controle social é seletivo, discriminatório, gerador e constitutivo de criminalidade e estigmatizante. O Estado na sua reação social é tão desproporcional, desmedida, acaba sendo decisiva para a ação secundária, que é a reincidência. (DPE-DF) Para a teoria da conformidade diferencial, a comunidade produz estímulos e pressões que impulsionam o indivíduo à conduta criminal, mas tais impulsos são impedidos por fatores internos — como a personalidade forte — e externos — como a coação normativa exercida pela sociedade. (ERRADO) A Teoria da contenção, e não da conformidade diferencial, preceitua que a sociedade produz uma série de estímulos e pressões que impulsionam o indivíduo para uma conduta criminal, mas impedido por fatores internos, como a personalidade forte, e externo, como a coação normativa exercida pela sociedade. A Teoria da conformidade diferencial, conforme Briar e Piliavin, defende a existência de um grau variável de compromisso e aceitação dos valores convencionais que se estende desde o mero medo do castigo até a representação das consequências do delito na própria imagem, nas relações interpessoais, no status e nas atividades presentes e futuras. Isso significa que, em situações equiparáveis, uma pessoa com elevado grau de compromisso ou conformidade com os valores convencionais é menos provável que assuma comportamentos delitivos, em comparação com outra de inferior nível de conformidade, e vice-versa. 1. Do controle social (control theorie): a. Teoria do enraizamento social – de Travis Hirschi (1935) em que todo indivíduo é um infrator potencial e só o medo do dano irreparável em suas relações interpessoais funciona como freio. b. Teoria da conformidade diferencial – conforme Briar e Piliavin, existe um grau variável de compromisso e aceitação dos valores convencionais que se estende desde o mero medo do castigo até a representação das consequências do delito na própria imagem, nas relações interpessoais, no status e nas atividades presentes e futuras. Isso significa que, em situações equiparáveis, uma pessoa com elevado grau de compromisso ou conformidade com os valores convencionais é menos provável que assuma comportamentos delitivos, em comparação com outra de inferior nível de conformidade. E vice-versa. c. Teoria da contenção – para esta teoria, propugnada por Reckless, a sociedade produz uma série de estímulos, de pressões, que impelem o indivíduo para a conduta desviada (mecanismos de pressão criminógena). Mas referidos impulsos são impedidos por certos mecanismos, internos ou externos, de contenção que lhes isolam positivamente. d. Teoria do controle interior – é sustentada por Reiss e tem inequívocas conexões com a psicanálise e com a cibernética. Para o autor a delinquência é o resultado de uma relativa falta de normas e regras internalizadas, do desmoronar de controles existentes com anterioridade e/ou de um conflito entre regras e técnicas sociais. A desviação social é vista como a consequência funcional de controles pessoais e sociais débeis (fundamentalmente pelo fracasso dos grupos primários). e. Teoria da antecipação diferencial – para Glaser a decisão de cometer ou não um delito vem determinada pelas consequências que o autor antecipa, pelas expectativas que derivam de sua execução ou não-execução. O indivíduo se inclinaria pelo comportar delitivo quando de seu cometer derivar mais vantagens do que desvantagens, de forma a considerar seus vínculos com a ordem social, com outras pessoas ou suas experiências precedentes. E tais expectativas, por sua vez, dependeriam do maior ou menor contato de cada indivíduo com os modelos delitivos, isto é, da aprendizagem ou associação diferencial. CRIMINOLOGIA CONCEITO Etimologicamente, criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego logos (estudo, tratado), significando o “estudo do crime”. A palavra “criminologia” foi pela primeira vez usada em 1883 por Paul Topinard e aplicada internacionalmente por Raffaele Garófalo, em seu livro Criminologia, no ano de 1885. Pode-se conceituar criminologia como a ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e o controle social das condutas criminosas. MÉTODOS A criminologia é uma ciência do “ser”, empírica, na medida em que seu objeto (crime, criminoso, vítima e controle social) é visível no mundo real e não no mundo dos valores, como ocorre com o direito, que é uma ciência do “dever-ser”, portanto normativa e valorativa. A interdisciplinaridade da criminologia decorre de sua própria consolidação histórica como ciência dotada de autonomia, à vista da influência profunda de diversas outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o direito, a medicina legal etc. METODOLOGIA: empirismo - saber fundado na observação e na experiência, remetendo, por isso, ao método INDUTIVO. Diferentemente do direito, trata-se de um conhecimento “descritivo” (ligado ao “ser”) e não “normativo” (“dever ser” - método DEDUTIVO). OBJETOS Desde os primórdios até os dias de hoje a criminologia sofreu mudanças importantes em seu objeto de estudo. Houve tempo em que ela apenas se ocupava do estudo do crime (Beccaria), passando pela verificação do delinquente (Escola Positiva). Após a década de 1950, alcançou projeção o estudo das vítimas e Delito Para a criminologia, o crime é um fenômeno social, comunitário e que se mostra como um “problema” maior, a exigir do pesquisador uma empatia para se aproximar dele e o entender em suas múltiplas facetas. A criminologia vê o crime como um problema social, um verdadeiro fenômeno comunitário, abrangendoquatro elementos constitutivos, a saber: - incidência massiva na população (não se pode tipificar como crime um fato isolado); - incidência aflitiva do fato praticado (o crime deve causar dor à vítima e à comunidade); - persistência espaço-temporal do fato delituoso (é preciso que o delito ocorra reiteradamente por um período significativo de tempo no mesmo território) e - consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas de intervenção eficazes (a criminalização de condutas depende de uma análise minuciosa desses elementos e sua repercussão na sociedade). A visão sobre o delinquente depende do enfoque dado por cada escola da criminologia: também os mecanismos de controle social, havendo uma ampliação de seu objeto, que assumiu, portanto, uma feição pluridimensional e interacionista. Atualmente, o objeto da criminologia está dividido em quatro vertentes: delito, delinquente, vítima e controle social. Delinquente - Escola Clássica: criminoso era ser pecador que escolheu o mal apesar de poder optar pelo bem; - Escola Positivista: criminoso era reflexo de sua deficiência patológica (caráter biológico – hereditário ou não) ou formação social (caráter social); - Escola Correcionalista: criminoso era ser inferior e incapaz de se autodeterminar, a merecer do Estado resposta pedagógica e piedosa; - Escola Marxista: criminoso era vítima da sociedade e das estruturas econômicas (determinismo social e econômico); essa visão se desenvolveu por estudiosos de Marx, e seus conceitos convergiram na chamada criminologia crítica; - Escola Atual: criminoso é homem real e normal que viola a lei penal por razões diversas que merecem ser investigadas e nem sempre são compreendidas. Vítima Evolução Histórica - Idade de Ouro ou Protagonismo da Vítima: É o período da vingança privada, onde permitia-se a vingança como meio de justiça. A vítima era o elemento mais importante do crime. - Neutralização da Vítima: Ocorre com o fim da idade de ouro, resultado do monopólio do Estado. Dá-se primazia às ações públicas em detrimento das privadas. A vítima é subtraída/extinta do sistema penal. - Redescobrimento da Vítima: Pós segunda guerra mundial, ressurge a importância da vítima, com base em duas vertentes: 1ª político-social e 2ª acadêmica. Processos de Vitimização - Vitimização Primária: É aquela que se relaciona ao indivíduo atingido diretamente pela conduta criminosa. Ou seja, é o processo através do qual um indivíduo sofre direta ou indiretamente os efeitos nocivos ocasionados pelo delito. Ex.: Lesões corporais, psicológicas etc. - Vitimização Secundária, Revitimização, Sobrevitimização ou Vitimização Processual: É uma consequência das relações entre as vítimas primárias e o Estado, em face da burocratização de seu aparelho repressivo (Polícia, Ministério Público, Judiciário etc.). Ou seja, é entendida como o sofrimento suportado pela vítima nas fases do inquérito e do processo, pelas suas “instâncias formais de controle social”, em que muitas vezes deverá reviver o fato criminoso por meio de interrogatórios, declarações e exames de corpo de delito, além de submeter-se a situações como presenciar a argumentação dos defensores do autor sugerindo que a vítima deu causa ao fato e o reencontro com o delinquente. - Vitimização Terciária: É aquela decorrente de um excesso de sofrimento, que extrapola os limites da lei do país, quando a vítima é abandonada, em certos delitos, pelo Estado e estigmatizada pela comunidade, incentivando as “cifras negras” (crimes que não são levados ao conhecimento das autoridades). Ou seja, é a ausência de receptividade social em relação à vítima, que em diversos casos se vê compelida a alterar sua rotina, os ambientes de convívio e círculos sociais em razão da estigmatização causada pelo delito. Ex.: a segregação social sentida pelas vítimas de crimes sexuais e as consequências da divulgação não autorizada de fotos ou vídeos íntimos nas redes sociais. #SeLiga: Vitimização Indireta: é a vitimização de pessoas próximas ou diretamente ligadas à vítima, como seus familiares, parente e amigos. Heterovitimização: corresponde à “auto recriminação da vítima” diante de um crime cometido, por meio da busca pelas razões que a tornaram, de modo provável, responsável pela prática delitiva. Controle Social - Controle Social Informal: É realizado pela sociedade civil (família, escola, religião, profissão, clubes de serviço etc). É nitidamente preventivo e educacional. O controle social informal atua ao longo da formação do indivíduo, transmitindo valores morais e éticos, sem a atuação do Estado. - Controle Social Formal: É realizado pelo Estado (Polícia, Ministério Público, Forças Armadas, Justiça, Administração Penitenciária etc.). É mais rigoroso/repressor e de conotação político-criminal. O controle social formal entra em cena quando os controles sociais informais se tornaram insuficientes, atuando de modo coercitivo e impondo sanções distintas daquelas do controle informal. Pode ser exercido de três principais formas: a) sanções formais (aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou penais) e sanções informais (não têm força coercitiva); b) meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções); c) controle interno (auto coerção e auto reprovação) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como multas e penas privativas de liberdade). 1.4. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA Quais são as funções da Criminologia? Para a doutrina, são três: I) Explicar e prevenir o crime; II) Intervir na pessoa do infrator e III) Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime. Nestor Sampaio Penteado Filho, de uma forma bastante abrangente, afirma que a função da Criminologia é desenhar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito. Primeiro, compreender cientificamente o fenômeno criminal. Segundo, intervir no delinquente, para prevenir, bem como reprimir o crime com eficiência. Destaque-se que a palavra delinquente não é pejorativa para a criminologia. Por fim, a terceira função da Criminologia é valorar os diferentes modelos de respostas ao fenômeno criminal. Portanto a Criminologia deve orientar a política criminal, para que possa realizar a prevenção da delinquência por intermédio de políticas públicas. Constata-se, portanto, uma outra relação a política criminal. A Criminologia vai influenciar o Direito Penal, notadamente na repreensão das condutas indesejadas. Muito embora a pena e a sanção penal têm um caráter preventivo, aqui está diante da repreensão. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA Compreender cientificamente o fenômeno criminal Intervir no delinquente (prevenir e reprimir o crime com eficiência) Valorar os diferentes modelos de resposta ao fenômeno criminal Funções da Criminologia para Rafael Strano Obtenção de um núcleo de conhecimentos seguros; Resolução de problemas e conflitos concretos; Prevenir eficazmente a criminalidade; Intervir no criminoso e na vítima (evitar a reincidência; estudar a vitimização). 2. PREVENÇÃO Prevenção criminal é o conjunto de medidas, públicas ou privadas, adotadas para evitar a prática de delitos. Engloba tanto as políticas sociais para redução da delinquência quanto as políticas criminais em torno das respostas penais adequadas. Em um Estado Democrático de Direito, mais do que simplesmente aumentar o aparato estatal repressivo, é preciso enfrentar os fatores criminógenos de risco com medidas de cunho não penal para o controle da criminalidade, conforme ensina Eduardo Viana. A doutrina fala em prevenção em três diferentes acepções:a) prevenção como dissuasão: busca dissuadir (processo motivacional) o potencial infrator por meio do efeito intimidatório da pena; b) prevenção como intervenção seletiva no cenário do crime: também chamada de dissuasão mediata ou indireta, dá-se por meio de instrumentos não penais que modificam o “cenário do crime”, ou seja, alguns de seus fatores ou elementos (espaço físico, atitude da vítima etc.), a fim de aumentar os riscos para o potencial infrator e diminuir os benefícios com a atividade criminosa; c) prevenção como prevenção especial: tem como destinatário já não mais o potencial infrator, mas o apenado, a fim de evitar sua reincidência. Fala-se, também, em: a) medidas prevencionistas diretas (profilaxia direta): dirigem-se à infração penal em formação (in itinere); b) medidas prevencionistas indiretas (profilaxia indireta): atuam de forma indireta sobre o crime, visando a suas causas e tendo como alvo o indivíduo (leva em consideração a análise de sua personalidade, caráter, temperamento etc.) e o meio em que habita (acesso ao emprego, à educação, à saúde etc.). (DP-SE-2018-Cespe) No que se refere à prevenção da infração penal no Estado democrático de direito, julgue o próximo item. Medidas indiretas de prevenção delitiva visam atacar as causas do crime: cessada a causa, cessam seus efeitos. (CERTO) a. Medidas Diretas – atuam por meio da Legislação vigente, ou seja, medidas de ordem jurídica com a finalidade clara de punir a pratica delitiva por meio da repressão. É a afirmação do próprio Direito Penal através de sua força repressora e punitiva e a indireta visa proporcionar a sociedade condições e qualidade de vida através de programas de cultura, lazer e outros. b. Medidas Indiretas – visam as causas do crime, sem atingi-lo de imediato. O crime só seria alcançado porque, cessada a causa, cessam os seus efeitos – cessa o crime – (sub lata causa tolitur efectus). Trata-se de excelente ação profilática – preventiva –, que demanda um campo de atuação intenso e extenso na busca de todas as causas possíveis da criminalidade, próximas ou remotas, genéricas ou especificas. A ações indiretas devem focar no indivíduo e em seu meio social. 2.1. Modelos Teóricos de Prevenção do Delito Modelo clássico Considera que o efeito intimidatório decorre do rigor e da severidade da pena abstratamente prevista para o delito. Críticas: a capacidade preventiva não decorre da natureza penal ou não da medida, mas, sim, dos resultados que alcança; elevados custos da intervenção penal; a pena é, em realidade, reflexo do fracasso do Estado no enfretamento dos problemas sociais. 2.2. Motivo neoclássico Centra-se no efetivo funcionamento do ordenamento jurídico e em sua percepção pelo potencial infrator. Críticas: a efetividade do sistema penal não enfrenta as causas reais da criminalidade; ignora outras variáveis que têm relação com a criminalidade, a qual não decorre unicamente da efetividade, ou não, do sistema penal. 2.3. Classificações A doutrina propõe três modelos de classificação da prevenção criminal: dimensão clássica, dimensão política e dimensão pluridimensional. 2.3.1. Dimensão clássica (prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária) Prevenção primária: medidas de médio e longo prazo que atingem a raiz do conflito criminal. Investimentos em educação, trabalho, bem-estar social, etc; Prevenção secundária: atua onde o crime se manifesta ou se exterioriza. As chamadas “zonas quentes de criminalidade”. A prevenção secundária tem em suas principais manifestações a atuação policial. Outros exemplos: programas de ordenação urbana e melhora do aspecto visual das obras arquitetônicas; Prevenção terciária: possui um destinatário específico, o recluso. Possui objetivo certo: ressocialização do preso, evitando a reincidência. (Delegado-SE-2018-Cespe) A prevenção terciária da infração penal consiste em medidas de longo prazo, como a garantia de educação, a redução da desigualdade social e a melhoria das condições de qualidade de vida, enquanto a prevenção primária é voltada à pessoa reclusa e visa à sua recuperação e reintegração social. (ERRADO) Primária: Ataca a raiz do conflito (educação, emprego, moradia, segurança etc.); aqui desponta a inelutável necessidade de o Estado, de forma célere, implantar os direitos sociais progressiva e universalmente, atribuindo a fatores exógenos a etiologia delitiva; a prevenção primária liga-se à garantia de educação, saúde, trabalho, segurança e qualidade de vida do povo, instrumentos preventivos de médio e longo prazo. Terciária: voltada ao recluso, visando sua recuperação e evitando a reincidência (sistema prisional); realiza-se por meio de medidas socioeducativas, como a laborterapia, a liberdade assistida, a prestação de serviços comunitários etc (DP-SE-2018-CESPE) A alteração dos espaços físicos e urbanos, como, por exemplo, a elaboração de novos desenhos arquitetônicos e o aumento da iluminação pública, pode ser considerada uma forma de prevenção delituosa. (CERTO) (DP-MA-2018-CESPE) Dados publicados em dezembro de 2017 pelo Ministério da Justiça mostram que o Brasil tem uma taxa de superlotação nos estabelecimentos prisionais na ordem de 197,4%. Agência de Notícias, Empresa Brasil de Comunicação. Sob o enfoque da prevenção da infração penal no Estado democrático de direito, a superlotação carcerária aludida no fragmento de texto anterior é um problema que prejudica a prevenção terciária. Prevenção terciária: Representa outra forma de prevenção indireta, agora voltada à pessoa do delinquente, para prevenir a reincidência. É implementada por meio das medidas de punição e ressocialização do processo de execução penal." PROGRAMAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA CARACTERÍSTICA PRINCIPAL Combate as causas, a raiz do crime – prevenção etiológica. Estratégias de prevenção de natureza mais situacional que etiológica (não combate a raiz do crime, mas o impede de se manifestar em determinadas situações). Prevenção especial do delito (ressocialização do criminoso). MOMENTO Atua antes de o crime ser gerado. Não atua quando nem onde a vontade de praticar um crime se produz, senão quando e onde se manifesta ou exterioriza. A mais distante das raízes do crime. Opera no âmbito penitenciário. DESTINATÁRIO Todos os cidadãos. Se orienta seletivamente aos grupos que ostentam maior risco de sofrer ou protagonizar um crime. O recluso (população encarcerada). INSTRUMENTOS UTILIZADOS Política cultural, econômica e social (educação e socialização, casa, trabalho, bem-estar social, qualidade de vida). Intervenção comunitária, e não mera dissuasão penal (intimidação). Política legislativa penal, ação policial. Instrumentos não penais que alteram o cenário criminal modificando alguns dos elementos do mesmo (espaço físico, desenho arquitetônico, urbanístico, atitudes de vítimas, efetividade policial etc.). Programas reabilitadores, ressocializações e de inclusão. FIM PERSEGUIDO Neutralizar as causas da criminalidade. Efeito dissuasório indireto. Pretende-se colocar obstáculos de todo tipo ao criminoso no processo de execução do plano criminal, mediante uma intervenção seletiva no cenário do crime que encarece os custos deste para o criminoso (ex.: incremento do risco, diminuição dos benefícios etc.). Evitar a reincidência. 2.3.2. Dimensão política (modelo tradicional ou conservador, modelo liberal e modelo radical) a) Modelo tradicional ou conservador: a prevenção deve visar à dissuasão geral e especial, por meio do efeito intimidatório da pena de prisão. b) Modelo liberal: a prevenção deve atuar tanto na esfera individual quanto na esfera social, por ser o crime um problema social. c) Modelo radical: o objetivo da prevençãodeve ser a redução das desigualdades sociais, haja vista ser o crime um produto dos grupos detentores do poder que se valem das desigualdades inerentes às estruturas sociais vigentes. 2.3.3. Dimensão pluridimensional (prevenção por meio do sistema de justiça penal, prevenção situacional do delito, prevenção comunitária e prevenção evolutiva ou de desenvolvimento) a) Prevenção por meio do sistema de justiça penal: a prevenção envolve a ameaça de um castigo (efeito intimidatório da pena), por meio de estratégias de dissuasão (consequências graves à prática do delito), incapacitação ou inocuização (segregação do criminoso) e reabilitação (ressocialização para permitir o retorno ao convívio social). b) Prevenção situacional do delito: inspirada nas teorias criminológicas da eleição racional e das atividades cotidianas, busca reduzir as oportunidades à prática do delito, modificando o “cenário do crime”, aumentando os riscos ao potencial infrator e diminuindo suas expectativas de ganhos. Duas modalidades: (i) prevenção situacional da recompensa, como é o caso da diminuição de caixas eletrônicos, tinta antifurto lançada em cédulas deles subtraídas, substituição de dinheiro por cartões magnéticos etc.; (ii) prevenção situacional do sentimento de culpa do infrator: campanhas educativas que reforcem a reprobabilidade da conduta criminosa e influenciem a adoção do comportamento esperado (ex.: “motorista da vez”). c) Prevenção comunitária: enfrentamento de comportamentos antissociais por meio de estratégias voltadas a alterar as condições sociais e instituições sociais (ex.: famílias, clubes etc.) que neles repercutem. d) Prevenção evolutiva ou de desenvolvimento: visa evitar o desenvolvimento do comportamento criminoso individual, reduzindo os fatores de risco e ampliando os fatores de proteção. 2.4. Fatores Sociais da Criminalidade Em uma perspectiva sociológica, o conhecimento dos fatores sociais criminógenos é fundamental para guiar a implementação de políticas públicas de cunhos social, a fim de prevenir a criminalidade. São exemplo: a) sistema econômico: desigualdades sociais e precária situação econômica fruto de determinada política salarial, fenômeno inflacionário, especulação financeira etc; b) pobreza e miséria: normalmente associadas a crimes contra o patrimônio; c) fome e desnutrição: causa de danos psicossomáticos ao indivíduo em formação; d) habitação: precarização das condições de vida; e) educação: tanto a formal (escolar) quanto a informal (familiar, social); f) má vivência (conceito desenvolvido por Hilário Veiga de Carvalho): biológica, quando pode ser étnica (ex.: ciganos), constitucional ou orgânica (ex.: andarilhos) ou de neuróticos (problemas mentais); mesológica, nas hipóteses de infância abandonada, nomadismo (fluxo migratório), desemprego etc.; g) meios de comunicação: podem influenciar na criminalidade, de acordo com o conteúdo ou forma de abordagem; h) migração: dificuldade de adaptação e limitada absorção da mão de obra imigrante; i) crescimento populacional desorganizado: normalmente associado à pobreza e à miséria; j) preconceito: a discriminação é campo fértil para conflitos sociais; k) política: grau de liberdade dos indivíduos repercute nos índices de criminalidade. 3. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME. Como vimos, uma das funções da Criminologia é propor modelos de reação ao delito. Segundo a doutrina, são três os atuais modelos. I) MODELO CLÁSSICO, DISSUASÓRIO OU RETRIBUTIVO: O objetivo deste modelo é representar verdadeira punição ao criminoso, como forma de castigo ao prejuízo/dano causado por este. Participam dessa relação o Estado (quem pune) e o infrator (quem sofre a punição); II) MODELO RESSOCIALIZADOR: Busca-se aqui a ressocialização do infrator, de forma a prepará-lo ao retorno do convívio com outras pessoas. A participação da sociedade é fundamental para atingir o objetivo; III) MODELO RESTAURADOR, JUSTIÇA RESTAURATIVA OU INTEGRADOR: Adoção de técnicas alternativas de solução de conflitos, como a conciliação e a reparação do dano à vítima, que exerce papel fundamental. O objetivo é restaurar o “status” anterior ao cometimento do delito, com especial atenção à vítima. Ex: Lei dos Juizados Especiais Criminais e projetos de mediação. IV) Modelo de SEGURANÇA CIDADÃ: Protagonistas = Estado, sociedade no exercício fiscalizatório. ATENÇÃO: doutrina minoritária esse quarto modelo. (DP-MA-2018-CESPE) A criminologia considera que o papel da vítima varia de acordo com o modelo de reação da sociedade ao crime. No modelo restaurativo, o foco é a participação dos envolvidos no conflito em atividades de reconciliação, nas quais a vítima tem um papel central. (CERTO) Modelo restaurador, integrador ou Justiça Restaurativa: Este modelo procura restaurar ostatus quo antes da prática do delito. Para tanto utiliza-se meios alternativos de solução. A restauração do controle social abalado pela delito se dá pela via da reparação do dano pelo delinquente à vítima. A ação conciliadora, com a participação dos envolvidos no conflito, é fundamental para a solução do problema criminal. Exemplo no sistema brasileiro: composição civil dos delitos nos Juizados Especiais Criminais. ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ETAPA PRÉ–CIENTÍFICA e CIENTÍFICA Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual o marco divisório do período pré-científico e científico? Etapa científica inicia com a obra do Homem delinquente que é a obra de Cesare Lombroso de 1876. Para a maior parte da doutrina esse é o marco. A Escola clássica está aqui, na etapa pré- científica. Os ideais iluministas influenciam essas Escolas – ler sobre o Iluminismo. Domínio da razão – influencia demais a Escola Clássica. LUTA DE ESCOLAS: Linha do Tempo: Séc. XVIII – início do Sec. XIX: Escola Clássica Final do Séc. XIX e início do Séc. XX: Escola Positivista Séc. XX e em especial 1950: Teorias Sociológicas de Consenso 1960: Labelling Aproach. Etiquetamento, Rotulação Social 1970: Criminologia Crítica 1980: Três tendências da criminologia crítica: Neorrealismo de esquerda, direito penal mínimo e abolicionismo penal. 1990: criminologia cultural Na verdade, a luta foi de métodos. Escola liberal Clássica: como “época dos pioneiros” = teorias sobre o crime, sobre o direito penal e sobre a pena (sec. XVII e início do sec. XIX). Autores: Feuerbach, Cesare Beccaria e Escola Clássica de direito penal na Itália. Escola Positivista: como disciplina autônoma: teorias na Europa no final do sec. XIX e início do Sec. XX. Autores: Escola Sociológica Francesa (Gabriel Tarde), Escola Social na Alemanha (Franz Von Liszt) e principalmente Positiva Italiana (Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo). ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA: No período pré-científico da Criminologia, tínhamos apenas alguns estudos esparsos sobre um ou outro tema, não havendo interesse aqui para o nosso estudo. A fase científica, segundo a doutrina, é inaugurada por duas escolas que travaram a chamada “guerra entre escolas”: ESCOLA CLÁSSICA e ESCOLA POSITIVA (OU POSITIVISTA). 1.1. ESCOLA CLÁSSICA: I) Obra inicial: Dos Delitos e das Penas, de Cesare Beccaria (1764). II) Principais autores: Cesare Beccaria (período filosófico ou teórico) e Francesco Carrara (período jurídico). III) Ideia central: a Escola Clássica fundamentou seus ideais na racionalidade do homem. Surgida no século XVIII, no contexto da filosofia iluminista, caracterizou-se pelo predomínio do método dedutivo ou lógico-abstrato, focando no estudo do fenômeno criminoso e fundamentando a responsabilidade penal segundo uma concepção contratualista (contrato social), em que o indivíduo, dotado de livre-arbítrio (autodeterminação ou princípio do indeterminismo), ao descumprir a lei de forma livree consciente, submete-se à pena como resposta objetiva à prática delitiva e como modo de restabelecimento da ordem jurídica violada. Noutras palavras, a pena — que deve ser certa, previamente estabelecida em lei e proporcional ao crime cometido — assume um caráter retribucionista e dissuasório. O crime seria um rompimento do pacto social. O criminoso era um pecador que optou pelo mal. A pena era a reparação do dano causado pela violação de um contrato e, portanto, deveria ser utilizada somente para a reparação de tal dano, por período certo e determinado. Para Carrara, o delito não é um ente de fato, é um ENTE JURÍDICO, já que a sua essência deve consistir necessariamente na VIOLAÇÃO DE UM DIREITO. O crime é a violação do direito como EXIGÊNCIA RACIONAL e não como norma de direito positivo. O homem viola porque tem VONTADE. Advém daí O LIVRE-ARBÍTRIO. Cesare Beccaria é um grande expoente desse período. Em sua clássica obra Dos delitos e das penas (1764), defendeu, de uma maneira geral, a humanização da pena e a limitação do poder estatal, enfatizando: os princípios da legalidade e da anterioridade penal, com leis claras e simples; a proporcionalidade da pena; a vedação da tortura; a finalidade preventiva da pena (utilidade), visando evitar a reincidência (efeito dissuasório); o julgamento por autoridade judicial e o princípio da presunção da inocência, com prisões preventivas revestidas de cautelaridade, e, não, como pena antecipada; vedação da pena de morte, salvo em caso de instabilidade político-social e desde que seja o único meio para dissuadir a prática do delito. Francesco Carrara, também nesse período, concebe o delito como ente jurídico, não o considerando como um simples fato, mas uma relação contraditória entre a conduta humana e a lei. Nele, têm-se uma força física (movimento corpóreo de execução do crime e produção do resultado) e uma força moral (vontade livre e consciente de delinquir). * Nomes associados à Escola Clássica (ou Retribucionista): Cesare Beccaria, Francesco Carrara, Jean Domenico Romagnosi, Jeremias Bentham, Franz Joseph Gall, Anselmo Von Feuerbach, Giovanni Carmignani, Pelegrino Rossi, Emílio Brusa e Enrico Pessina. IV) Termos que ajudam a identificar a escola na prova: racionalidade, livre-arbítrio, delito como ente jurídico, pena para reparar o mal causado. (MP/GO-promotor-2019-reaplicação) A chamada Escola Clássica do Direito Penal tem como caracteres, dentre outros, os seguintes: o Direito tem uma natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural; o delinquente é, em regra, um homem normal, que se sente livre para optar entre o bem e o mal, e preferiu o último; os objetos de estudo do Direito Penal são o delito, a pena e o processo. Um importante autor dessa época é Carrara. Gabarito: certo. Interessa notar que a doutrina aponta a exigibilidade de conduta diversa (pressuposto da culpabilidade) como um reflexo do classicismo na dogmática jurídico-penal. Também são indicadas duas teorias atuais que têm por base o pensamento clássico: a) Teoria da Escolha Racional (Clark e Cornish): ela explica a conduta criminosa em uma decisão racional dos criminosos, pela lógica da maximização dos ganhos e da redução dos custos, e, não, a partir de tendências psicológicas ou sociais; b) Teoria das Atividades Rotineiras (L. E. Cohen e Felson): ela também considera a prática delitiva como produto de uma escolha racional entre custos e benefícios, mas, sob a inf luência da Escola de Chicago, entende que a organização social pode facilitar a prática de determinados crimes. ESCOLA CLÁSSICA Autores: Cesare Beccaria, GIandomenico Romagnosi e Francesco Carrara. Paradigma histórico: transformação iluminista. Também chamada de Escola Liberal Clássica. Filosofia do Direito penal a uma fundamentação filosófica da ciência do Direito Penal. Traz uma contribuição muito maior ao direito penal, teoria da pena. Ideais do contrato social (Rosseau), da divisão dos poderes (Montesquieu) e de uma teoria jurídica do delito e da pena. Obra Inaugural: Dos delitos e das penas (1764), de Beccaria. Pressuposta a racionalidade do homem, haveria de se indagar, apenas, quanto a racionalidade da lei. Leis simples, conhecidas pelo povo e cidadãos. Para o autor, o dano social constitui elemento fundamental da teoria do delito e a defesa social, constitui elemento fundamental da teoria da pena. A base da justiça humana é a utilidade comum. O crime é uma quebra do pacto, do contrato social. Serão legitimas todas as penas que não revelem uma salvaguarda do contrato social. O delito surge da livre vontade do indivíduo. Os clássicos acreditavam nessa vontade racional Critérios das penas: necessidade ou utilidade e princípio da legalidade Pena por prazo certo e determinado, tem que ser proporcional, necessária, útil. GIANDOMENICO ROMAGNOSI O princípio natural é a conservação da espécie humana, desta regra surgem relações jurídicas que devem ser observadas. Assim, eu não posso atentar contra a vida de ninguém e ninguém deve atentar contra minha vida. A pena constitui um contraestimulo ao impulso criminoso. “Se depois do primeiro delito, existisse uma certeza moral de que não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito algum de punir o delinquente” (Giandomenico Romagnosi). FRANCESCO CARRARA. Contribuições para a moderna ciência do direito penal. O delito não é um ente de fato, mas sim um ente jurídico, porque decorre da violação de um direito – não é o direito positivado, mas sim o direito natural, a parte teórica. O fim da pena não é a retribuição, mas a eliminação do perigo social que sobreviria em razão da impunidade. Se não tiver pena, incentiva a criminalidade. O homem viola a lei porque tem vontade – livre arbítrio. Pena na lógica de HEGEL: O crime é a negação do direito, segundo Hegel. Assim, Carrara diz que a pena é a negação da negação ao direito. “A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função essencial da pena.” RESUMO - ESCOLA CLÁSSICA - CRIME: não é um ente de fato, é um ente jurídico. Não é uma ação, é uma infração (violação ao direito). - LIVRE-ARBÍTRIO: homem é racional e livre em suas ações. Portanto, se escolheu cometer um crime, é essa liberdade de escolha que permite aplicar a ele uma pena. - PENA: retribuição jurídica, buscando um reestabelecimento da ordem violada. A chamada Escola Clássica do Direito Penal tem como caracteres, dentre outros, os seguintes: o Direito tem uma natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural; o delinquente é, em regra, um homem normal, que se sente livre para optar entre o bem e o mal, e preferiu o último; os objetos de estudo do Direito Penal são o delito, a pena e o processo. Um importante autor dessa época é Carrara. # Escola clássica = humanização das penas. Ausência de unidade ideológica. Beccaria, Kant, Carrara... # Escola positiva = criminologia; multidisciplinar. Lombroso, Ferri e Garofalo. # Escola Crítica / Terza Scuola = determinismo psicológico (reação aos motivos). Ideia de imputabilidade. # Escola Moderna Alemã = dogmática penal. Sistema duplo binário (pena / medida de segurança). Função finalística da pena (prevenção geral / prevenção especial). Eliminação ou substituição das penas de curta duração. Liszt. # Escola Técnico Jurídica = direito como uma ciência normativa. Crime como um fenômeno jurídico. Rocco. # Escola Correcionalista = pena como cura do delinquente. Juiz como médico social. # Escola da Defesa Social = defesa da sociedade; não punitivista; preventismo e individualização das penas (reeducação). (TJ-PR-CESPE) Com relação às escolas e tendências penais, julgue os itens seguintes. I De acordo com a escola clássica, a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral e no livre-arbítrio humano. II A escola técnico-jurídica,
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