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SÍNDROMES ICTERÍCIAS GENÉTICAS E SÍNDROMES POLIPOIDES FAMILIARES

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VICTORIA CHAGAS – P.I.3 
SÍNDROMES ICTÉRICAS GENÉTICAS 
 
 
 
 
 
 
 
Gilbert 
 
 Também chamada de disfunção hepática constitucional. Acomete cerca de 5 a 10% da população mundial. 
Mais comum em homens jovens. É uma doença benigna causada por um defeito no gene UGT1A responsável 
pela produção da enzima glucoronil transferase. Essa enzima é responsável pela transformação da bilirrubina 
indireta em direta. Em pacientes com Gilbert a enzima apresenta uma redução de até 80%, acarretando num 
acúmulo de bilirrubina indireta no sangue. Para ser portador da síndrome deve-se receber uma cópia defeituosa 
do UGT1A da mãe e do pai. Se receber apenas uma, costuma apresentar uma discreta alteração das 
bilirrubinas, não desenvolvendo a síndrome completamente. Geralmente é assintomática, sendo apenas 20-
30% que apresentam enzimas suficientes para causar uma icterícia identificável facilmente. Na maioria dos 
pacientes. A icterícia só ocorre em períodos de estresse, jejum prolongado, atividade física intensa ou febre. 
Devido a sua pouca clínica, não é preciso tratamento, porém alguns cuidados são recomendados. A mesma 
enzima glucoronil transferase que transforma a bilirrubina indireta em direta, também é responsável pela 
metabolização de algumas drogas no fígado, como o anticancerígeno Irinotecan e o antiviral Indinavir. Pode-se 
usar Fenobarbital 100mg à noite em casos de icterícia mais clinicamente visível. 
 
 
 
 
Dubin 
Johson 
 
 É uma síndrome caracterizada por episódios de icterícia colestática recorrente, sendo de caráter benigno e 
familiar. É raro e de transmissão genética, sendo um defeito no gene que codifica a proteína transportadora de 
ânions 8 orgânicos MRP2. Ao contrário das síndromes de Gilbert e Crigler-Najjar, a bilirrubina que se acumula 
é direta (conjugada). Nessa síndrome o fígado consegue conjugar normalmente a bilirrubina indireta em direta, 
porém, ele é incapaz de secretá-la através da bile para ser eliminada nas fezes. Não há tratamento específico 
e o fenobarbital pode ser usado em casos de icterícia mais clinicamente visível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Crigler-
Najjar I/II 
 
 É uma doença genética causado por defeitos no metabolismo das bilirrubinas, sendo muito rara e que pode 
levar a complicações sérias. Estima-se que ocorra em 1 a cada 1 milhão de nascimentos. O mecanismo é 
semelhante ao Gilbert, sendo um defeito na produção da enzima glucoronil transferase, porém, na Crigler-Najjar 
a sua deficiência é muito mais grave. Na síndrome de Crigler-Najjar tipo 1 há praticamente 0% de glucoronil 
transferase funcionante, enquanto que na síndrome de Crigler-Najjar tipo 2, a sua função é de apenas 10%. No 
tipo 1, o recém-nascido já apresenta icterícia persistente logo após o nascimento, podendo desenvolver 
kernicterus (intoxicação cerebral pelo excesso de bilirrubinas), que pode levar à morte. Enquanto no Gilbert a 
bilirrubina costuma ficar ao redor de 3 mg/dl, na síndrome de Crigler-Najjar tipo 1 esta pode chegar até 50 mg/dl, 
ultrapassando em muito o limite da toxicidade. Na síndrome de Crigler-Najjar tipo 2, o quadro é mais brando e 
a icterícia pode surgir após alguns anos de vida. A ocorrência de kernicterus é rara e a bilirrubina costuma ficar 
ao redor de 10 a 20 mg/dl. No tipo 1 o tratamento deve ser instituído logo após o nascimento para tentar evitar 
a ocorrência do kernicterus. Um dos tratamentos pode ser a fototerapia, sendo de longo prazo, porém quanto 
mais velha for a criança, menor sua eficácia devido ao fato da pele ir se tornando cada vez mais grossa. Além 
disso, a troca frequente do plasma sanguíneo através de um procedimento chamado plasmaferese também é 
muito importante no controle dos níveis de bilirrubina. Estes dois tratamentos apenas baixam provisoriamente 
os níveis de bilirrubina, sem atuar na causa da síndrome. Eles são importantes para evitar o aparecimento do 
kernicterus, porém, o único tratamento definitivo é o transplante de fígado. No tipo 2, os 10% de ação da 
glucoronil transferase costuma ser suficientes para não ocorrer o kernicterus. Porém, se não há evidente risco 
de morte e de sequelas neurológicas na maioria dos casos, a icterícia costuma ser exuberante e esteticamente 
indesejável. Nestes casos, pode-se indicar o uso de fenobarbital, uma droga usada como anticonvulsivante, 
mas que também tem como efeito a redução de até 25% dos níveis de bilirrubinas no sangue. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rotor 
 
 Doença muito rara, transmitida de forma autossômica recessiva, tendo os pais e irmãos dos pacientes 
afetados também. É semelhante a Dubin Johnson e os principais sintomas consistem em icterícia ligeira a 
moderada recorrente sem prurido. Podem ocorrer ataques de dor abdominal e febre baixa, mas são raros. A 
bilirrubina sérica total (principalmente na forma conjugada: 50-80%) está elevada, normalmente entre 2 e 5 
mg/dl. A doença resulta de uma deficiência na capacidade de armazenamento hepático de bilirrubina conjugada 
e outros produtos biliares orgânicos. Já que a base genética permanece desconhecida e as características 
clínicas, bioquímicas e histológicas são inespecíficas, a síndrome permanece como diagnóstico de exclusão. A 
síndrome deve ser considerada em todos os doentes que exibem predominantemente hiperbilirrubinemia 
conjugada sem alteração concomitantes nas atividades das enzimas hepáticas e na ausência de qualquer 
condição séptica, anomalia ecográfica do fígado ou medicamento interferente. Neste contexto, as concentrações 
urinárias elevadas (250 a 500% mais altas que nos controlos) de coproporfirinas totais e de coproporfirina I são 
muito sugestivas, mas não completamente específicas. O principal diagnóstico diferencial é a síndrome de 
Dubin-Johnson, sendo diferenciado pelo nível de excreção urinária de coproporfirina (normais na Dubin 
Johnson) e histologia hepática (na Dubin Johnson o hepatócito possui uma pigmentação preta-acastanhada). 
Não necessita de tratamentos específicos. Os pacientes são aconselhados a evitar álcool e medicamentos 
hepatotóxicos. 
 
 
VICTORIA CHAGAS – P.I.3 
2) Descrever sobre a doença polipoide intestinal e suas síndromes familiares 
 Um pólipo consiste em qualquer lesão que surja na superfície interna do TGI, projetando-se para 
a luz. Os pólipos do tipo adenomatoso são lesões pré-malignas que antecedem o 
adenocarcinoma colorretal. Podem ocorrer de forma isolada (esporádica), ou como 
manifestação de determinadas síndromes hereditárias. 
 
• POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR (PAF) → É a síndrome mais comum, sendo autossômico 
dominante e caracterizado pelo surgimento de vários pólipos adenomatosos, com frequência 
de centenas ou milhares, que atapetam todo o cólon e o reto. A forma clássica é 
diagnosticada pelo encontro de pelo menos 100 pólipos adenomatosos na colonoscopia, na 
forma atenuada, cerca de 10-100 pólipos. A doença começa na adolescência com o 
aparecimento de alguns pólipos, e com o passar dos anos se desenvolvem às centenas ou 
milhares, causando diarreia e sangramento retal, ou permanecendo assintomáticos. Em 90% 
dos casos a doença está relacionada à ocorrência de mutações no gene APC. A 
probabilidade de ocorrência de câncer colorretal em indivíduos com PAF aproxima-se de 100% 
por volta dos 40 anos, estando por esta razão indicada a colectomia profilática para todos os 
pacientes com a doença, assim que ela for detectada. 
 
• SÍNDROME DE GARDNER → Variante da PAF, envolvendo também o defeito no gene da APC e 
chance de quase 100% de desenvolver CA colorretal. Está associada a osteomas 
(principalmente mandibulares e cranianos) e tumores de tecidos moles (tumores desmoides, 
cistos sebáceos, lipomas, fibromas, fibrossarcomas). Os sintomas costumam aparecer entre os 
2 meses e os 20 anos de idade. Geralmente as manifestações extracolônicas, como os tumores 
de pele e osteomas surgem antes dos Pólipos adenomatosos. 
 
• SÍNDROME DE TURCOT → Outra variante da PAF, na qual a polipose colorretal vem associadaa 
tumores do SNC, do tipo meduloblastoma (principal) e glioblastoma. 
 
• POLIPOSE JUVENIL FAMILIAR → Síndrome autossômica dominante caracterizada pelo 
aparecimento de 10 ou mais pólipos hamartomatosos juvenis. Embora de natureza 
hamartomatosa, alguns pólipos adquirem focos adenomatosos e podem se degenerar em um 
adenocarcinoma colorretal com risco o risco variável, em torno de 10%. A doença costuma se 
manifestar na infância ou adolescência (4-14 anos), com hematoquezia e anemia ferropriva. 
As complicações mais comuns decorrem de sangramento, intussuscepção e obstrução. 
 
• SÍNDROME DE PEUTZ-JEGHERS → Outra desordem autossômica dominante, rara e causada pelo 
gene STK11 associada a polipose hamartomatosa, associados a manchas melanóticas na pele 
e mucosas. O hamartoma desta síndrome é diferente de outros pólipos juvenis, por possuir 
tecido muscular liso envolvendo o tecido glandular, em continuidade com a muscular da 
mucosa. Embora os pólipos predominem no delgado, podem ocorrer no cólon, assim como 
em outras partes do TGI Episódios recorrentes de intussuscepção intestinal, levando à obstrução 
intestinal mecânica, podem ocorrer. Hematoquezia e anemia ferropriva são complicações 
típicas. Tal como na polipose juvenil familiar, podem surgir focos adenomatosos nos 
hamartomas da síndrome. Os portadores dessa síndrome podem desenvolver uma grande 
variedade de neoplasias (mama, estômago, pâncreas, pulmão, ovário, colo uterino) inclusive 
câncer colorretal, que se desenvolve em 20% dos pacientes. 
 
• SÍNDROME DE LYNCH → A síndrome de Lynch envolve mutações autossômicas dominantes dos 
genes de reparo (genes MMR), o que promove um risco aumentado de câncer colorretal sem 
associação com quadro de polipose. É responsável por cerca de 1-3% dos casos de câncer 
colorretal e está associada com uma grande variedade de neoplasias. O risco de 
desenvolvimento de câncer colorretal ao longo da vida varia de 15 a 70%. As demais 
neoplasias associadas incluem endométrio, trato urinário, ovário, pâncreas, estômago, intestino 
delgado, trato biliar, cérebro e pele. 
 
VICTORIA CHAGAS – P.I.3 
REFERÊNCIAS: 
1. COELHO, J. Aparelho Digestivo: clínica e cirurgia. 4 ed. São Paulo: Atheneu, 2012. 
2. FILHO, G. Bogliolo: Patologia. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 
3. ZATERKA, S, EISIG, J. Tratado de Gastroenterologia: da graduação à pós-graduação. 2 ed. 
São Paulo: Atheneu, 2016. 
4. Cardoso DM. Síndromes de polipose colorretal. Endoscopia Terapêutica; 2020. Disponível 
em: https://endoscopiaterapeutica.com.br/assuntosgerais/sindromes-de-polipose-
colorretal/

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