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Aspectos gerais • Base legal: Lei nº 8.937/92, alterada pela Lei nº 9.532/97 • Conceito: “A medida cautelar fiscal é ação exacional própria criada pela Lei 8.397/92 e alterada pela Lei 9.532/97. Pode ser manejada pela Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal ou do Município, com a finalidade de obter judicialmente a indisponibilidade de bens de devedores tributários ou não tributários.” (MARINS, 2003. p. 515.) Aspectos gerais • LEONARDO JOSÉ CARNEIRO DA CUNHA acrescenta ainda que “a medida cautelar fiscal pode ser concedida incidentalmente ou em procedimento preparatório” (2010. p. 244). • Ou seja, a medida cautelar pode ser proposta como procedimento preparatório prévio ao ajuizamento de execução fiscal ou já no seu curso, em caráter incidental. Aspectos gerais • Finalidade: instrumental, Medida de caráter destinada a assegurar a posterior satisfação do crédito tributário. • Objeto: Decretação da indisponibilidade de bens de sujeitos passivos de créditos fiscais que, não obstante a existência do passivo tributário, promovem ações que possam dificultar ou impedir sua solvência. Aspectos gerais Hugo de Brito MACHADO entende pela desnecessidade do procedimento: Em tal situação, com o crédito regularmente constituído, pode a Fazenda Pública credora promover a execução fiscal e, assim, conseguir a penhora de bens, O pedido de cautelar, portanto, é procedimento inútil, que nada acrescenta como garantia do Tesouro Público. A não ser que se pretenda o deferimento da medida cautelar sem que exista crédito devidamente constituído, o que seria absurdo. Ainda, segundo Eduardo Marcial Ferreira JARDIM: Como se pode notar, num primeiro súbito de vista, a aludida ação representa mais uma trapalhada governamental, dentre incontáveis outras, diga-se de passo, máxime porque agride frontalmente inúmeros direitos e garantias, a exemplo do direito de propriedade, da ampla defesa, do devido processo legal e da segurança jurídica. Aspectos gerais • Há desigualdade processual? • A maior crítica a se fazer da medida cautelar fiscal é a desigualdade processual a que estão submetidas as partes, uma vez que o juiz é frequentemente obrigado (nos termos do art. 7º da Lei nº 8.397/92 ‘Art. O Juiz concederá liminarmente a medida cautelar fiscal, dispensada a Fazenda Pública de justificação prévia e de prestação de caução.’) a aplicar presunções que muitas vezes não traduzem à realidade, prejudicando sempre o polo passivo da demanda ao conceder a medida cautelar fiscal pretendida pela Fazenda Pública. Ora, considerar a simples venda de um imóvel como presunção de fraude, simulação ou qualquer obstáculo à satisfação do crédito da Fazenda sem qualquer prova mais substanciosa é subverter todas as regras referentes ao ônus da prova, além de destoar de todo o sistema processual do Código de Processo Civil no que tange às liminares em ações cautelares, que necessitam, para sua concessão, de uma "situação jurídica individualizada justificadora da concessão de medida inaudita altera parte“ (Rawlinson José Pacheco Figueiredo em Medida cautelar fiscal) Aspectos gerais • Legitimidade ativa: Entes Federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e suas autarquias (Art. 1º, da Lei 8.973/92). • Legitimidade Passiva: Sujeito passivo do crédito tributário ou não tributário que se encontre em uma das situações previstas no art. 2º, da referida lei: • “Art.2º. A medida cautelar fiscal poderá ser requerida contra o sujeito passivo de crédito tributário ou não tributário, quando o devedor: I.- sem domicílio certo, intenta ausentar-se ou alienar bens que possui ou deixa de pagar a obrigação no prazo fixado; II.- tendo domicílio certo, ausenta-se ou tenta se ausentar, visando a elidir o adimplemento da obrigação; III.- caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens; IV.- contrai ou tenta contrair dívidas que comprometam a liquidez do seu patrimônio; V.- notificado pela Fazenda Pública para que proceda ao recolhimento do crédito fiscal: a) deixa de pagá-lo no prazo legal, salvo se suspensa sua exigibilidade; b) põe ou tenta por seus bens em nome de terceiros; VI.- possui débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapassem trinta por cento do seu patrimônio conhecido; VII.- aliena bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao órgão da Fazenda Pública competente, quando exigível em virtude de lei; VIII.- tem sua inscrição no cadastro de contribuintes declarada inapta, pelo órgão fazendário; IX.- pratica outros atos que dificultem ou impeçam a satisfação do crédito.” Medida Cautelar Fiscal e Arrolamento de bens A Lei nº 9.532/97, além de alterar dispositivos da Lei nº 8.937/92 quanto à Medida Cautelar Fiscal estabeleceu em seu art. 64 e 64-A a figura do arrolamento de bens: Art. 64. A autoridade fiscal competente procederá ao arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo sempre que o valor dos créditos tributários de sua responsabilidade for superior a trinta por cento do seu patrimônio conhecido. (...) § 2º Na falta de outros elementos indicativos, considera-se patrimônio conhecido, o valor constante da última declaração de rendimentos apresentada. § 3º A partir da data da notificação do ato de arrolamento, mediante entrega de cópia do respectivo termo, o proprietário dos bens e direitos arrolados, ao transferi-los, aliená-los ou onerá-los, deve comunicar o fato à unidade do órgão fazendário que jurisdiciona o domicílio tributário do sujeito passivo. § 4º A alienação, oneração ou transferência, a qualquer título, dos bens e direitos arrolados, sem o cumprimento da formalidade prevista no parágrafo anterior, autoriza o requerimento de medida cautelar fiscal contra o sujeito passivo. Medida Cautelar Fiscal e Arrolamento de bens Art. 64-A. O arrolamento de que trata o art. 64 recairá sobre bens e direitos suscetíveis de registro público, com prioridade aos imóveis, e em valor suficiente para cobrir o montante do crédito tributário de responsabilidade do sujeito passivo. .(Incluído pela Medida Provisória nº 2158-35, de 2001) Parágrafo único. O arrolamento somente poderá alcançar outros bens e direitos para fins de complementar o valor referido no caput. .(Incluído pela Medida Provisória nº 2158- 35, de 2001) § 1o O arrolamento somente poderá alcançar outros bens e direitos para fins de complementar o valor referido no caput. (Incluído pela Lei nº 12.973, de 2014) § 2o Fica a critério do sujeito passivo, a expensas dele, requerer, anualmente, aos órgãos de registro público onde os bens e direitos estiverem arrolados, por petição fundamentada, avaliação dos referidos ativos, por perito indicado pelo próprio órgão de registro, a identificar o valor justo dos bens e direitos arrolados e evitar, deste modo, excesso de garantia. Medida Cautelar Fiscal e Arrolamento de bens A in 1.565/15, regulamento o Arrolamento de bens e a MCF, dispõe que: Art. 2º O arrolamento de bens e direitos de que trata o art. 1º deverá ser efetuado sempre que a soma dos créditos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), de responsabilidade do sujeito passivo, exceder, simultaneamente, a: I - 30% (trinta por cento) do seu patrimônio conhecido; e II - R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). § 1º Não serão computados na soma dos créditos tributários os débitos confessados passíveis de imediata inscrição em Dívida Ativa da União (DAU). Medida Cautelar Fiscal e Arrolamento de bens Por sua vez, com base em dita IN, a MCF estará autorizada apenas através de representação da RFB para propositura da medida: Art. 15. O titular da unidade da RFB do domicílio tributário do sujeito passivo encaminhará representação para a propositura de medida cautelar fiscal à correspondente unidade da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) quando o sujeito passivo: I - não tiver domicílio certo e: a) intentar ausentar-se; b) intentar alienar bens que possui; ou c) deixar de pagar a obrigaçãono prazo fixado; II - tiver domicílio certo e ausentar-se ou tentar ausentar-se, visando a elidir o adimplemento da obrigação; III - cair em insolvência e alienar ou tentar alienar bens; IV - contrair ou tentar contrair dívidas que comprometam a liquidez do seu patrimônio; V - tiver sido notificado para que proceda ao recolhimento do crédito tributário e: a) deixar de pagá-lo no prazo legal, salvo se suspensa a sua exigibilidade; ou b) transferir ou tentar transferir, a qualquer título, seus bens e direitos para terceiros; VI - possuir débitos, inscritos ou não em DAU, que, somados, ultrapassem 30% (trinta por cento) do seu patrimônio conhecido; VII - alienar bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao órgão da Fazenda Pública nos termos do caput do art. 8º; VIII - tiver sua inscrição no cadastro de contribuintes declarada inapta pelo órgão fazendário; IX - praticar outros atos que dificultem ou impeçam a satisfação do crédito tributário. Medida Cautelar Fiscal e Arrolamento de bens Há, portanto, que ser estabelecida uma conjugação sistêmica entre os institutos do Arrolamento de bens e da Medida Cautelar Fiscal, de modo que sem eventual representação da RFB que justifique a finalidade e a necessidade de uma MCF, a medida seria de todo inválida. Requisitos • O art. 3º da Lei nº 8.397/32 exige ainda para a propositura da ação: » Prova literal tributário; da constituição do crédito » Prova documental de algum dos casos mencionados no art. 2º da Lei nº 8.397/92. Necessidade de constituição do crédito tributário • Dispõe o art. 1º da Lei nº 8.397/92, que “O procedimento cautelar fiscal poderá ser instaurado após a constituição do crédito [...]”. • Sobretudo antes da Lei nº 9.532/97 havia o questionamento sobre o que viria a ser ‘constituição do crédito’: lançamento ou constituição definitiva? • O STJ tinha inclusive posicionamento favorável à constituição do crédito mediante mero lançamento, com base em uma análise conjugada do art. 1º c/c 3º, I da Lei da MCF: Necessidade de constituição do crédito tributário “[...] Consoante doutrina o eminente Ministro José Delgado: "Há entre os pressupostos enumerados um que é básico: a prova de constituição do crédito fiscal. O inciso I do art. 3º da Lei nº 8.397/92 não exige constituição definitiva do crédito fiscal; exige, apenas, que ele encontre-se constituído. Por crédito tributário constituído deve ser entendido aquele materializado pela via do lançamento. A respeito do momento em que o crédito tributário deve ser considerado para o devedor como constituído, há de ser lembrado que, por orientação jurisprudencial, este momento é fixado quando da lavratura do auto de infração comunicado ao contribuinte. " (Artigo Aspectos doutrinários e jurisprudenciais da medida cautelar fiscal, na obra coletiva Medida cautelar fiscal. Coordenadores: Ives Gandra da Silva Martins, Rogério Gandra Martins e André Elali. São Paulo: MP Editora, 2006, p. 79) [...]” (REsp 466.723/RS, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/06/2006, DJ 22/06/2006, p. 178) Necessidade de constituição do crédito tributário • Todavia, a Lei nº 9.532/97 incluiu parágrafo único ao art 1º para, excetuar a necessidade de constituição de crédito “[...] na hipótese dos incisos V, alínea "b” (põe ou tenta por seus bens em nome de terceiros), e VII (aliena bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao órgão da Fazenda Pública competente, quando exigível em virtude de lei), do art. 2º”. • Por decorrência lógica, o caput do art. 1º, ao referir-se à ‘constituição do crédito’ estava de fato fazendo menção à constituição definitiva do crédito tributário, pois, se assim não fosse, não haveria razão de ser nas exceções postas no parágrafo único. • Carlos Henrique Abrão: “Justificam-se, em ambas as hipóteses, as medidas previstas pelo legislador, antes da regular constituição do crédito tributário, baseadas na conduta fraudulenta ou ilícita do contribuinte, em detrimento do fisco” Necessidade de constituição do crédito tributário TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR FISCAL. CRÉDITO TRIBUTÁRIO AINDA NÃO CONSTITUÍDO DEFINITIVAMENTE. IMPOSSIBILIDADE. MULTA. CABIMENTO. 1. É pacífico nesta Corte superior o entendimento de que, enquanto suspensa a exigibilidade do crédito tributário, não se pode decretar a indisponibilidade dos bens do devedor ao fundamento exclusivo de que os débitos somados ultrapassam trinta por cento de seu patrimônio conhecido (art. 2º, VI, da Lei n. 8.397/1992). Precedentes. 2. A hipótese não é uma daquelas em relação às quais o art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 8.397/1992 autoriza a instauração de medida cautelar fiscal antes da constituição definitiva do crédito tributário, circunstância reservada às situações dos incisos V, alínea "b", e VII do art. 2º daquele diploma legal. 3. Os precedentes trazidos pela agravante não guardam similitude fática com a hipótese dos autos, pois tratam de situações de dilapidação ou tentativa de ocultação de patrimônio, em relação às quais a lei autoriza expressamente a medida cautelar prévia à constituição do débito. 4. O recurso manifestamente improcedente atrai a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, na razão de 1% a 5% do valor atualizado da causa. 5. Agravo interno desprovido, com aplicação de multa. (STJ. AgInt no AgInt no AREsp 939.120/PE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/10/2017, DJe 27/11/2017) Necessidade de constituição do crédito tributário MEDIDA CAUTELAR FISCAL. IMPOSSIBILIDADE DE DEFERIMENTO DA MEDIDA CONTRA O DEVEDOR COM CRÉDITO TRIBUTÁRIO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. 1. Consoante expressa disposição do art. 2º, V, "a", da Lei n. 8.397/92, em regra é vedado conceder medida cautelar fiscal para acautelar crédito tributário com a exigibilidade anteriormente suspensa. 2. Em tais situações excepcionalmente é possível o deferimento de medida cautelar fiscal quando o devedor busca indevidamente a alienação de seus bens como forma de esvaziar seu patrimônio que poderia responder pela dívida (art. 2º, V, "b" e VII, da Lei n 8.397/92). 3. No caso concreto, a medida cautelar fiscal foi proposta com fulcro no art. 2º, VI, da Lei n. 8.397/92 (VI - possui débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapassem trinta por cento do seu patrimônio conhecido). O dispositivo legal invocado não se encontra dentre as exceções que autorizam a concessão da medida. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1443285/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 16/10/2015) Necessidade de constituição do crédito tributário PROCESSUAL CIVIL TRIBUTARIO. AÇÃO CAUTELAR FISCAL. INDISPONIBILIDADE DE BENS. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO. IMPUGNAÇÃO ADMINISTRATIVA. ART. 151, III, DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. CRÉDITO SUPERIOR A TRINTA POR CENTO DO PATRIMÔNIO CONHECIDO.PROVIMENTO CAUTELAR INDEFERIDO 1. O crédito da Fazenda Nacional está com a sua exigibilidade suspensa, em razão de oferecimento de impugnação na esfera administrativa (Código Tributário Nacional, art. 151, III), o que prejudica o deferimento da medida cautelar, conforme estabelece o art. 2º, V, "a", da Lei nº 8.397/92. 2. Por outro lado, a hipótese prevista no art. 2º, VI, da Lei nº 8.397/92, relativa a "débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapassem trinta por cento do seu patrimônio conhecido", somente tem aplicabilidade se não houver a suspensão da exigibilidade do crédito. 3. "(...) MEDIDA CAUTELAR FISCAL. CRÉDITO TRIBUTÁRIO SUPERIOR A 30% DO PATRIMÔNIO CONHECIDO DO DEVEDOR. ART. 2º, VI, DA LEI N. 8.397/1992. EXIGIBILIDADE SUSPENSA EM RAZÃO DE RECURSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE HIPÓTESE PARA A INDISPONIBILIDADE DE BENS. 1. O art. 2º da Lei n. 9.397/1992, inciso VI, estabelece que "a medida cautelar fiscal poderá ser requerida contra o sujeito passivo de crédito tributário ou não tributário, quando o devedor possui débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapassemtrinta por cento do seu patrimônio conhecido". 2. Porém, enquanto suspensa a exigibilidade do crédito tributário, não se pode pretender a indisponibilidade dos bens do contribuinte/responsável com base no inciso VI do art. 2º da Lei n. 9.397/1992. Nesse sentido: REsp 1186252/MG, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe 13/04/2011; REsp 1314033/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 18/10/2013; REsp 1163392/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 28/08/2012. 3. Agravo regimental não provido.". (AgRg no AREsp 571.765/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/11/2014, DJe 14/11/2014). 4. Apelação e remessa oficial não providas. Sentença confirmada. (TRF 1ª Região, Numeração Única: 0000047-11.2006.4.01.3100, 22/01/2016 e-DJF1) Necessidade de constituição do crédito tributário • Conclusão: o art. 1ºdeve ser interpretado da seguinte forma: O procedimento cautelar fiscal poderá ser instaurado após a constituição definitiva do crédito (esgotamento do prazo para pagamento ou das vias recursais administrativas), salvo nas exceções do parágrafo único. Viabilidade da medida na hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário Nesse sentido, o art. 2º, V a) da Lei da MCF: Art. 2º A medida cautelar fiscal poderá ser requerida contra o sujeito passivo de crédito tributário ou não tributário, quando o devedor: (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito) V - notificado pela Fazenda Pública para que proceda ao recolhimento do crédito fiscal: (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito) a) deixa de pagá-lo no prazo legal, salvo se suspensa sua exigibilidade; (Incluída pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito) - Se a MCF independesse, em qualquer hipótese, da suspensão da exigibilidade, não haveria sentido jurídico para a exceção posta. Viabilidade da medida na hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário Art. 12 da Lei da MCF: Art. 12. A medida cautelar fiscal conserva a sua eficácia no prazo do artigo antecedente e na pendência do processo de execução judicial da Dívida Ativa, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou modificada. Caso a medida seja ajuizada e, posteriormente os débitos tenham sua exigibilidade suspensa, a eficácia da mesma será mantida, salvo se o Juízo entender diferente. O art. 12 da Lei nº 8.397/92 deixa claro que o acautelamento apenas pode atingir débitos que, na época da sua propositura, estavam sem a exigibilidade suspensa, do contrário seria semanticamente impossível conservar a eficácia de débitos que já se encontravam suspensos. Viabilidade da medida na hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário FISCAL PREPARATÓRIA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.EXTINÇÃO DA INDISPONIBILIDADE DE BENS DECRETADA. 1.A suspensão da exigibilidade do crédito tributário determina a extinção da medida cautelar fiscal preparatória e, por consequência, da constrição de bens nela decretada. 2. Recurso especial improvido.” (REsp 1186252/MG, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 13/04/2011) Viabilidade da medida na hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário • Caráter instrumental e referencial da Medida Cautelar: Se a Execução Fiscal não pode ser proposta (crédito com a exigibilidade suspensa), falta interesse de agir para propor a Cautelar. • Conforme Carlos Henrique Abraão: “o procedimento cautelar fiscal não goza de autonomia, no sentindo de exprimir um provimento que, de per si, represente a vontade definitiva do Estado-Juiz, mas simplesmente traduz uma manifestação provisória, sem descer às minúcias que o confronto principal ensejara (...)” Bens atingidos: ativo permanente? • Art. 4º (Lei nº 8.397/92): “A decretação da medida cautelar fiscal produzirá, de imediato, a indisponibilidade dos bens do requerido, até o limite da satisfação da obrigação.” • § 1º: Pessoa jurídica: “[...] a indisponibilidade recairá somente sobre os bens do ativo permanente [...]” » Obs.: “[...] O art. 4º, § 1º, da Lei nº 8.397/02 que disciplina a medida cautelar fiscal põe a salvo do gravame da indisponibilidade os bens de pessoa jurídica que não integrem o seu ativo permanente. Todavia, em situações excepcionais, quando a empresa estiver com suas atividades paralisadas ou não forem localizados em seu patrimônio bens que pudessem garantir a execução fiscal, esta Corte vem admitindo a decretação de indisponibilidade de bens de pessoa jurídica, ainda que estes não constituam o seu ativo permanente (REsp 513.078/AL).[...]” (REsp 677.424/PE, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJ 04/04/2005, p. 288) Bens atingidos: ativo permanente? PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR FISCAL. BLOQUEIO DE BENS ESTRANHOS AO ATIVO PERMANENTE. EXCEPCIONALIDADE. 1. A jurisprudência do STJ, a respeito da indisponibilidade de bens em Medida Cautelar Fiscal, interpreta o art. 4º da Lei 8.397/1992 nos seguintes termos: a) em regra, somente atinge os bens do ativo permanente; b) em situações excepcionais, pode alcançar bens estranhos ao ativo permanente. 2. Hipótese em que a Fazenda Pública pretende que o decreto de indisponibilidade bloqueie as contas bancárias, afirmando que estão configuradas as circunstâncias excepcionais, mas o Tribunal de origem consignou, em caráter genérico e absoluto, que somente os bens do ativo permanente podem ser indisponibilizados. 3. Embora seja inviável o revolvimento do acervo fático-probatório em Recurso Especial (Súmula 7/STJ), a pretensão recursal merece parcial acolhida, para afastar o entendimento de que somente os bens do ativo permanente estão sujeitos à indisponibilidade (ou seja, de que a regra não comporta exceção). 4. Recurso Especial parcialmente provido. Determinação de devolução dos autos ao Tribunal de origem para que, em continuação do julgamento da Apelação fazendária, examine e justifique se é cabível, nos termos acima, o bloqueio dos bens indicados pelo ente público. (STJ. Ministro HERMAN BENJAMIN, REsp 1646556 / SP, DJe 16/06/2017) Possibilidade de extensão a bens de terceiros • Art. 4º, § 1º: A indisponibilidade poderá recair sobre os bens do acionista controlador e sobre os bens dos que, em razão do contrato social ou estatuto, tenham poderes para fazer a empresa cumprir suas obrigações fiscais, ao tempo do fato gerador, nos casos de lançamento de ofício, ou do inadimplemento da obrigação fiscal, nos demais casos (§1º). Possibilidade de extensão a bens de terceiros • Contudo, a extensão da cautelar fiscal a bens de terceiros que não tenham participado do procedimento de constituição do crédito tributário (não são mencionados no lançamento como contribuintes ou responsáveis tributários) é de duvidosa legalidade e constitucionalidade: Art. 5º, inciso LIV, da CR/88: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Possibilidade de extensão a bens de terceiros • Também a esta hipótese, o STJ faz a seguinte ressalva: “[...] É assente na Corte que o redirecionamento da execução fiscal, e seus consectários legais, para o sócio-gerente da empresa, somente é cabível quando reste demonstrado que este agiu com excesso de poderes, infração à lei ou contra o estatuto, ou na hipótese de dissolução irregular da empresa [...]”. (REsp 722.998/MT, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJ 28/04/2006, p. 272) Possibilidade de extensão a bens de terceiros TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR FISCAL. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. LEI 8.397/92. AUSÊNCIA DE ANÁLISE QUANTO À COMPROVAÇÃO DE EXCESSO DE MANDATO, INFRAÇÃO À LEI OU AO REGULAMENTO. NECESSIDADE DE VERIFICAÇÃO DOS REQUISITOS DO ART. 135 DO CTN. (...) 5. A decretação da indisponibilidade dos bens do sócio, ora recorrente, no Tribunal de origem, baseou-se unicamente no fato de o devedor ter sido citado para pagamento da dívida tributária.6. "A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o REsp 1.101.728/SP, Min. Teori Albino Zavascki, na sessão do dia 11.3.2009, sob o regime do art. 543-C do CPC, firmou entendimento de que a simples falta do pagamento de tributo não configura, por si só, circunstância que acarrete a responsabilidade subsidiária dos sócios" (AgRg no REsp 1.122.807/PR, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 23/04/2010). 7. Recurso especial provido. (STJ. Ministro BENEDITO GONÇALVES. REsp 1141977 / SC. DJe 04/10/2010) Possibilidade de extensão a bens de terceiros Afrontas ao art. 124 ou 135 do CTN: Art. 124. São solidariamente obrigadas: I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; II - as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem. Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. Possibilidade de extensão a bens de terceiros 1. Insurge-se a recorrente contra acórdão que manteve a indisponibilidade de bens do seu patrimônio decretada em Medida Cautelar Fiscal, por estar reconhecida a formação de grupo econômico de fato e a existência de interesse comum entre a recorrente e devedora principal. (...) 16. A inclusão da recorrente no polo passivo da cautelar fiscal obedece à previsão legal e depende apenas da sua condição como responsável tributário à luz do CTN. 17. Nesse particular, o Superior Tribunal de Justiça entende ser aplicável a responsabilidade solidária do art. 124 do CTN quando há comprovação de práticas comuns, prática conjunta do fato gerador ou, ainda, quando há confusão patrimonial. 18. É o que se passa na espécie, em que o Tribunal local reconhece a existência de grupo econômico e ligações empresariais estreitas entre a recorrente e a devedora originária decorrentes da administração familiar das empresas, coincidência de endereços e objetos sociais, movimentação da conta bancária da recorrente pelo fundador da executada, esvaziamento patrimonial da devedora originária concomitantemente ao desenvolvimento econômicos da recorrente. Tudo a demonstrar não só a existência, no mundo dos fatos, de grupo econômico integrado pela recorrente, como o interesse comum previsto no art. 124 do CTN. (...) 22. O art. 135 do CTN foi bem afastado na origem e merece reiteração nesta instância, pelos mesmos fundamentos (aplicabilidade, ao caso, do art. 124, I). (STJ. REsp 1689431 / ES Ministro HERMAN BENJAMIN. T2 - SEGUNDA TURMA. DJe 19/12/2017) Possibilidade de extensão a bens de terceiros • “4. A responsabilização dos sócios advém do art. 134 do CTN, não constituindo, a medida cautelar em tela, perda da propriedade, apenas restrição da disponibilidade dos bens (REsp nº 172.736/RO) com o intuito de assegurar o ressarcimento ao erário. De outro lado, ‘em medida cautelar contra sociedades controladas, informalmente, por um grupo econômico, incabível a discussão sobre ilegitimidade passiva ad causam porque há presunção legal de responsabilidade solidária entre todos os integrantes do grupo. (...). 5. ‘Havendo indícios claros de grupo econômico, preenchidos os requisitos legais do art. 3º, I, da Lei n.º 8.397/92 e observada as hipóteses dos incisos VI e VIII do art. 2º da Lei n.º 8.397/92, a indisponibilidade dos bens de todos os integrantes do grupo econômico é medida que se impõe.’ [...]” (TRF1, AGA 0019696-37.2012.4.01.0000, Rel. Desembargador Federal REYNALDO FONSECA, Sétima Turma, DJ 05.04.2013) Possibilidade de extensão a bens de terceiros • Recentíssimo julgamento do dia 12.06.2019 - REsp 1.656.172: • O caso envolve, segundo a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), um conglomerado de pessoas físicas e jurídicas que se reuniram com o objetivo de fraudar o Fisco. As empresas, do ramo de refrigerantes, realizavam manobras para criar artificialmente créditos de IPI e ICMS, reduzindo a carga tributária dos tributos. De acordo com o procurador Paulo Mendes, da PGFN, o esquema envolveu a criação de empresas fantasmas, que tinham por objetivo simular operações e gerar créditos artificialmente. • O processo analisado nessa terça pelo STJ envolve a sócia de uma das empresas supostamente integrantes do conglomerado. Ela propôs a ação após a 2ª Vara Empresarial, de Fazenda Pública e Registros Públicos da Comarca de Contagem (MG) deferir pedido da Fazenda para determinar a indisponibilidade de seus bens e de outras empresas. • “[A cautelar fiscal] pode atingir outras pessoas que estão fora dessa execução, mas não tenho como fazer essa análise [nesse processo]”, afirmou durante o julgamento o ministro Gurgel de Faria, relator do caso. • O STJ determinou o retorno dos autos ao TRF 1ª Região para que a Corte determine se, no caso concreto, a Pessoa Física envolvida na discussão pode ser responsabilizada pela dívida tributária. Possibilidade de extensão a bens de terceiros • Art. 4º, § 2º da Lei nº 8.397/92: Também é extensível aos bens adquiridos a qualquer título do requerido ou daqueles que estejam ou tenham estado na função de administrador (§ 1°), desde que seja capaz de frustrar a pretensão da Fazenda Pública (§ 2º). Possibilidade de extensão a bens de terceiros • Tal hipótese depende de comprovação de fraude à execução ou fraude contra credores. Também assim já entendeu o STJ: “[...] 3. O art. 4º, §2º, da Lei n. 8.397/92, autoriza o requerimento da medida cautelar fiscal contra terceiros, desde que tenham adquirido bens do sujeito passivo (contribuinte ou responsável) em condições que sejam capazes de frustrar a satisfação do crédito pretendido. 4.Essas condições remontam à fraude de execução e à fraude contra credores. 5.Descaracterizada a fraude à execução e não ajuizada a ação pauliana ou revocatória em tempo hábil, impõe-se o reconhecimento da perda superveniente do interesse de agir do credor em medida cautelar fiscal contra terceiros. [...]” (REsp 962.023/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 16/03/2012)
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