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Abdômen Agudo Obstrutivo Definição O abdome agudo obstrutivo, síndrome decorrente de uma obstrução intestinal, é uma afecção muito freqüente que engloba uma grande percentagem das internações causadas por dor abdominal. É causado pela presença de um obstáculo mecânico ou de uma alteração da motilidade intestinal que impede a progressão normal do bolo fecal. Fatores de Risco e Epidemiologia As obstruções intestinais podem acontecer desde a idade prematura até a nona década de vida, tendo seu pico máximo aos 50 anos. A idade do paciente torna-se importante, pois certas causas têm sua maior freqüência em determinadas faixas etárias. Assim, no neonato, devem ser consideradas as atresias, o volvo, o íleo meconial, a imperfuração anal e a doença de Hirchsprung. Já nos lactentes, devemos nos lembrar da invaginação intestinal, das hérnias complicadas e das obstruções por complicações do divertículo de Meckel. No adulto jovem e na meia-idade, devemos considerar as aderências, as hérnias e a doença de Crohn. Quanto mais idoso o paciente, maior a possibilidade de tratar-se de neoplasias, seguida pelas aderências, hérnias, diverticulites e fecalomas. 75% dos casos de obstrução intestinal são causadas por aderências entre alças, provenientes de cirurgias abdominais prévias; 15% dos pacientes submetidos à laparotomias serão admitidos em serviços de urgência com quadros obstrutivos. Fisiopatologia Obstrução intestinal mecânica simples As principais alterações fisiológicas do intestino com obstrução mecânica, porém com suprimento de sangue intacto, são o acúmulo de líquido e gás acima do ponto de obstrução e a alteração da motilidade intestinal, que, somados, levam a alterações sistêmicas importantes. O fator tóxico da obstrução intestinal mecânica é a perda de líquidos e eletrólitos por vômito e seqüestro na alça intestinal obstruída. O acúmulo de líquido no interior da alça intestinal obstruída ocorre de modo progressivo. O movimento de líquidos entre a luz intestinal e o sangue ocorre de duas maneiras: absorção (movimento de líquido da luz intestinal para o sangue) e secreção (movimento de líquido do sangue para a luz intestinal). Após 48 horas de obstrução intestinal, o movimento de líquido é predominantemente do sangue para a luz intestinal, aumentando muito a quantidade de líquido no intestino obstruído. O mesmo fenômeno acontece com o sódio e o potássio. A composição do líquido acumulado na luz intestinal é semelhante à do plasma. O principal componente do acúmulo de líquido na alça intestinal obstruída é o aumento de secreção. Acredita-se que a distensão abdominal aumenta a secreção de prostaglandina, que, por sua vez, produz um aumento na secreção intestinal. O segmento proximal à obstrução fica repleto de líquido e eletrólitos, o que provoca mais distensão e compromete a circulação. Esse conteúdo caminha em sentido proximal, chegando a segmentos intestinais que ainda possuem a capacidade absortiva. Outro local de perda de líquidos e eletrólitos é a parede do intestino obstruído. A parede intestinal pode ficar bastante edemaciada a ponto de perder líquido através da serosa para a cavidade peritoneal. A quantidade de líquido e eletrólitos perdidos na parede intestinal e na cavidade peritoneal depende da extensão, da congestão venosa e edema e do tempo de obstrução. A perda mais óbvia de líquidos e eletrólitos é através do vômito ou do débito da sonda nasogástrica. A soma de todas essas perdas depleta o fluido do espaço extracelular, produzindo hemoconcentração, hipovolemia, insuficiência renal, choque e morte, a não ser que o tratamento seja instituído rapidamente. O gás do intestino delgado é composto de ar atmosférico, que, após ter sido deglutido, foi acrescido de outros gases não encontrados no ar ambiente. Abdômen Agudo Obstrutivo A absorção do gás intestinal depende da sua pressão parcial no intestino, no plasma e no ar da respiração. O nitrogênio é pouco difundido, porque a sua pressão parcial é muito semelhante nesses três locais. Já o dióxido de carbono é muito difusível, porque a sua pressão parcial é alta no intestino, intermediária no plasma e baixa no ar. Por esse motivo, o dióxido de carbono produzido no intestino contribui muito pouco para a distensão intestinal. Assim que a obstrução ocorre, o peristaltismo intestinal aumenta como resposta do intestino a fim de resolver a obstrução. Após algum tempo, o peristaltismo contínuo é substituído por períodos intermitentes de peristaltismo aumentado, intercalados com períodos de acalmia. Os períodos de acalmia variam de acordo com o nível da obstrução. Em geral, esses períodos são de três a quatro minutos na obstrução alta e de dez a 15 minutos na obstrução intestinal distal ao nível do íleo terminal. O peristaltismo aumentado pode ser violento o bastante a ponto de traumatizar o intestino e provocar mais edema. A distensão intestinal proximal à obstrução provoca uma inibição do peristaltismo distal a ela. Obstrução com estrangulamento A compressão dos vasos do mesentério é a causa da interrupção do suprimento de sangue ao intestino, acarretando isquemia e necrose. Essa situação é mais freqüente na obstrução por aderências, hérnias ou volvo. À compressão das veias e à dificuldade do retorno venoso somase o problema do acúmulo de líquido e gás já descrito, levando a pequenos sangramentos na luz intestinal e na parede das alças. O segmento de intestino necrosado libera substâncias tóxicas na cavidade peritoneal e na luz do intestino. Os fatores que mais interferem na fisiopatologia da obstrução com estrangulamento são os seguintes: o conteúdo da alça obstruída é tóxico; as bactérias aí presentes são importantes para a produção dessas toxinas; os segmentos de intestino que não estão necrosados não participam na formação dessas toxinas; as toxinas não passam através de mucosa normal; a absorção das toxinas é mais importante do que a sua produção; e os sintomas podem estar correlacionados com a formação dessas toxinas. Obstrução em alça fechada Quando uma alça intestinal encontra-se obstruída simultaneamente nas extremidades proximal e distal, caracteriza-se uma obstrução em alça fechada. A obstrução em alça fechada pode progredir rapidamente para o estrangulamento. A interrupção do suprimento sangüíneo pode ocorrer pela mesma causa que provocou a obstrução em alça fechada (aderências, hérnia ou volvo), ou simplesmente pela grande distensão da alça obstruída. A pressão no interior da alça obstruída pode atingir níveis iguais ao do sistema venoso, interrompendo o fluxo de sangue nas veias e aumentado o edema intestinal. Íleo paralítico íleo adinâmico: comprometimento da resposta neuro-hormonal relacionada ao intestino. A recuperação da motilidade intestinal no período pós-operatório de cirurgia abdominal é diferente nos vários segmentos do trato gastrointestinal. O intestino delgado recupera sua motilidade em aproximadamente 24 horas, o estômago, em 48 horas e o intestino grosso, em três a cinco dias. Além da cirurgia abdominal, outras causas de inibição da motilidade intestinal são as inflamações peritoneais, como a apendicite e a pancreatite aguda, as patologias que envolvem o retroperitônio, como a cólica ureteral, o hematoma retroperitoneal ou a fratura de coluna, as lesões torácicas, como a pneumonia de base do pulmão, ou as fraturas de costelas e as causas sistêmicas, como a toxemia grave, a hiponatremia e a hipocalemia, ou a hipomagnesemia. Drogas como a morfina, a propantelina, os antiácidos, os anticoagulantes, as fenotiazinas e os agentes bloqueadores ganglionares também podem provocar íleo adinâmico. Abdômen Agudo ObstrutivoO íleo espástico não é comum, porém surge em conseqüência de uma hiper-reatividade do intestino. Pode ocorrer na intoxicação por metais pesados, na porfiria e, às vezes, quando existe uremia. O íleo com oclusão vascular caracteriza-se por uma incapacidade de coordenação da motilidade intestinal, em conseqüência da morte celular resultante da isquemia. Quadro Clinico Obstrução do intestino delgado (geral): Dor em cólica (representa o esforço do intestino para vencer a barreira física) Vômitos: são inicialmente reflexos, consequentes à intensidade da dor. Posteriormente, representam o mecanismo pelo qual o organismo tenta se livrar da sobrecarga de conteúdo intestinal que não consegue progredir. O material eliminado do estômago inicialmente é claro; quando reflui do duodeno para o estômago e é eliminado, apresenta-se bilioso; quanto mais tempo durar a obstrução e mais baixo for, no tubo digestivo, o material eliminado, mais se aproximará do aspecto fecaloide: marrom, espesso e fétido, observado na obstrução baixa do delgado. Parada de eliminação de gases e fezes Distensão abdominal: resultado do acúmulo de líquido e gás dentro das alças acima do ponto de obstrução. Os líquidos ficam retidos na luz intestinal, sem nenhuma utilidade. Alta do delgado A dor não é tão intensa, porque, estando próxima ao ângulo de Treitz, ao menor esforço o conteúdo facilmente reflui para o estômago e é eliminado. Vômitos são incoercíveis e bilosos. Os vômitos são o sintoma predominante e poderá levar 48 horas para ser completa e evidente. A distensão é insignificante, porque há poucas alças envolvidas e são facilmente esvaziadas com o vômito. Baixa do delgado Dor típica supracitada Vômito: o paciente elimina conteúdo das partes mais baixas do delgado, podendo chegar ao vômito fecaloide. O fato de o local da obstrução situar-se na parte distal do intestino delgado faz com que o aparecimento dos episódios de vômito leve algum tempo para acontecer. O doente pode apresentar grande distensão abdominal, que em certos casos chega a criar dificuldade respiratória. Note-se que, à medida que a obstrução é de localização mais distal no delgado, mais se aproxima do quadro da obstrução do cólon. CÓLON Dor: tipo cólica, porém, de baixa intensidade. Vômito: devido a distância do estômago e a ocorrência de dor de baixa intensidade, vômitos são raros. Distensão abdominal: pode assumir grandes proporções. É o sinal predominante. A parada de gases e fezes poderá ser o primeiro sintoma, desde que interpretada corretamente, porque, na maioria dos casos, ocorre em pacientes idosos com história de constipação crônica. Diagnósticos Exame físico geral • Alteração do estado geral; • Desidratação, fundamentalmente, devida aos vômitos e ao seqüestro de líquidos nas alças intestinais; os vômitos podem acarretar, além da perda líquida, perda hidroeletrolítica, determinando, às vezes, alcalose hipocalêmica; • Taquisfigmia, devida à desidratação; • Geralmente, o quadro não é acompanhado de febre; ela aparece quando temos uma complicação do quadro (peritonite bacteriana); • Hipotensão arterial pode estar presente em quadros prolongados. Abdômen Agudo Obstrutivo Exame físico abdominal Distensão abdominal (simétrica ou assimétrica); Discreto desconforto à palpação, não caracterizando sinais de irritação peritoneal, a não ser quando há complicação do quadro; Ruídos hidroaéreos aumentados em número e com alteração do timbre (timbre metálico); com o evoluir do processo e, portanto, com a isquemia da alça intestinal envolvida, os ruídos tendem a diminuir e, até, se tornar ausentes. Diagnósticos por Imagem Rx simples: Radiografia : acurácia diagnóstica varia de 50 a 86% • Método barato e amplamente disponível • Na maioria das vezes, é o exame de escolha para avaliação inicial. • Rotina de abdome agudo: - Duas incidências de abdome ( decúbito e ortostático) - Radiografia de tórax (P.A. > ortostático) - avaliar Pneumoperitôneo Distribuição do ar nas alças intestinais- determinada, em parte, pelo grau de fixação • Estômago – tamanho variável, fixo no duodeno, que é parcialmente retroperitoneal e ao diafragma • Intestino delgado-mesentério amplo • Cólon transverso – varia de posição • Cólon ascendente e descendente – relativamente fixos no retroperitôneo Alças delgadas > jejuno – pregas finas circulares, com espaçamento regular - válvula conivente > íleo – menos pregas e menor diâmetro • Intestino grosso > Haustrações – espaçadas e não atravessam as Alças. Achados Radiograficos de obstrução de alça delgada: Dilatação de alças delgadas acima do ponto de obstrução • Aumento do calibre do segmento de alça de 3 cm ou mais • Dilatação desproporcional de alças delgadas em relação ao cólon. • Válvulas coniventes – mais numerosas que as haustrações do cólon, e com menor distância entre elas > Atravessam a luz de um lado a outro > Padrão de empilhamento de moeda • Intestino esvaziado além da obstrução – importante prestar atenção no tempo de início da obstrução • Ausência de gás no reto – pode ser achado normal • Níveis hidroaéreos Abdômen Agudo Obstrutivo Achados Radiograficos de obstrução colonica. Dilatação do cólon proximal ao sítio de obstrução - Ceco acima de 9cm ; demais segmentos acima de 6cm. - Nível hidroaéreo > quadro mais agudo - pneumatose, gás no sistema porta, pneumoperitôneo > complicações - Pseudo-obstrução (íleo adinâmico ), Sd de Olgivie, e megacolon tóxico podem causar sinais semelhantes. Tomografia computadorizada: Exame padrão ouro Sensibilidade e especificidade de 95% Dilatação de alças Nível hidroaéreo Aspecto de fezes em alças delgadas adjacentes ao local de obstrução Identificação do ponto de transição Importante para avaliar complicações.
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