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curs o bá sico de hi stÓr IaS em q uadr inhos 77 Quadrinhos Alternativos Weaver Lima, Débora Santos e Sirlanney 1. Introdução Peraí, pequeno(a) padawan, você qu er saber o que são quadrinh os alternativos? Já ouviu falar em autopublicação ? Quer saber como se faz HQs independentes e co mo conseguir que s eu trabalho iraaaaado chegue n as mãos dos leitore s? Você está no lugar certo: no Curso Básico de Histórias em Quadrinhos! O módulo é ess e mesmo. Prepare a cola, pin céis, canetas, borr achas, fitas adesivas, grampea dores e qualquer p apel, pois a partir de agora voc ê é um artista! ava.fdr.org.br 9898 Além das série s mais famosas de quadrinhos lançadas por g randes (ou me smo por média s e pequenas) edit oras, encontrad as facilmente n as bancas e livrari as, existe uma produção de q ua- drinhos que cir cula à margem , “em outra pis ta”, como dizem. São os chama dos quadrinh os independente s. Por ano, vários t ítulos são lançad os aqui no Brasil e, ao contrário d o que muitos pe nsam, não são d i- fíceis de serem e ncontrados. Bas ta ter um pouco de curiosidade de conhecer outro s quadrinhos a lém dos convencion ais e procurar e m lojas especial iza- das de quadrin hos (revistarias, gibitecas ou co mic shops), em feira s de publicaçõe s independentes ou a “alguns clique s” de distância. Diferente do qua drinho comercia l que busca se adequ ar às normas e modas do mercado, o quadrinho inde pen- dente se caracte riza, principalme nte, pela vontade de seus autor es em criar seus próprios pers o- nagens e des envolver hist ó- rias. Trata-se de uma produção com forte carga pess oal, onde se per cebe a visão de mun do de seus criad ores. Muitos desses quadrinhos são auto- biográficos, que stionadores, ou sim- plesmente, obra s artísticas prod uzidas prazerosamente com total liberd ade. Os quadrinhos independentes pri- mam pela criat ividade e nos p rovam que existem in úmeras man eiras INDEPENDENTE 2. QUADRINHO por Weaver Lima de se contar histórias grafi camente, e qu e nem sempre o desenho precisa ser aquele “bo niti- nho”, redondin ho, que sequer é necessário sab er de- senhar. Pode-se criar uma HQ, por exemplo, a través de recortes e co lagens. Isso que r dizer que qua lquer pessoa pode en contrar sua pró pria maneira de fazer quadrinhos? Sim , claro! Basta se desprender dos mo- delos convencio nais e encontra r uma maneira que, principalmente, o agrade. O im portante é que o seu quadrinho se ja algo realm ente seu, que seja honesto aos se us anseios, alg o que o repres ente, que você acredi te. Esse é o esp írito da produ ção independente . 9999 2.1. Precursores dos quadrinhos independentes O quadrinho in dependente su rgiu na década de 1960, nos E stados Unidos. O mundo passa va por várias tran sformações cul turais e as rev istas em quadrinhos eram tidas co mo uma forma de entretenimento para crianças. Essas revistas e ram produzidas por grandes editora s que contratav am escritores, dese nhistas, letrista s e coloristas p ara dividirem funçõ es e criarem em escala industri al histórias “leves ” de aventuras e humor, resp ei- tando as norma s do “Comics Cod e” (código dos quadrinhos), um a espécie de ce nsura imposta p e- las próprias edi toras que domi navam os meio s de impressão e dis tribuição dos qu adrinhos. Saiba mais sobr e o Comics Code a qui: http://www.univ ersohq.com/po dcast/confins- do-universo-00 2-a-censura-no s-quadrinhos/ Foi nesse contex to que o quadrin ista americano Robert Crumb lan çou a revista Za p Comix, que se tornaria um div isor de águas n o meio dos qua dri- nhos. A Zap Com ix apresentava u m tipo de quadr i- nho autoral que quebrava tabu s formais e estil ísti- cos, assim como culturais e polít icos. Era a prime ira vez que os qua drinhos eram u tilizados como um diário pessoal d e artista que se mostrava aber ta- mente, reveland o suas neurose s de uma mane ira assustadoramen te real. A public ação, inicialmen te vendida de mão em mão pelo p róprio Crumb, s er- viu de inspiraçã o para muitos o utros autores lig a- dos à contracult ura que queriam p roduzir seus próprios quadri nhos. Robert Crumb (19 43), cartunista, ilustrador e arti sta gráfico, nas ceu na Pensilvâ nia, EUA. É um dos fundadores do movimento urderground do s quadrinhos am ericanos. Criador de Fritz , the Cat, adapt ou obras de Kafka e Bukow ski. Contracultura: movimento libe rtário e de contestaçã o social que ga nhou espaço, principalmente na década de 1 960, por meio da comunicaçã o de massa, div ulgando novos estilos, a cultur a underground , marginal e/ou alternativa, pro vocando reflexõ es e a mudança de valores e de comportament o. De lá pra cá, m ilhares de bons quadrinhos in- dependentes fo ram lançados e m várias partes do mundo. É impo ssível falar de to dos, em poucas li- nhas, mas não s e pode deixar de citar alguns títu los que são referên cias obrigatória s como, por exe m- plo, a Cannibale na Itália, a El V íbora na Espanh a, e a RAW nos E stados Unidos. Assim como a Zap Comix, esses tít ulos foram deci sivos para a mo der- nização dos qu adrinhos e fort alecimento da pro- dução independ ente. 100100 2.2. Por onde eu começo? Uma boa dica p ara se conhecer a pro- dução independ ente é procurar em sites de resenhas e specializados e m quadri- nhos. Existem m uitos blogs e v logs que divulgam qua drinhos indep endentes. Nesses sites, alé m de encontrar informa- ções sobre o con teúdo desses qu adrinhos, você fica saben do como adquir i-los. Ir às feiras de quadrinhos i nde- pendentes tam bém é um bom caminho, pois além de ter acesso a vários títulos em um só lugar, é po ssível conhecer o s seus au- tores já que, qua se sempre, são e les mesmos que vendem os seus trabalhos. E m algumas comic shops tam bém é possível encontrar espaços destina dos à produção indepen- dente, e vale des tacar que, em 20 15, surgiu em São Paulo a primeira loja especia- lizada em pu blicações inde penden- tes do Brasil: a Ugra Press, qu e além de loja é também u ma editora. Ent re seus lan- çamentos existe m publicações indispensá- veis para quem quer se inteirar do meio dos quadrinhos inde pendentes, com o os títulos da coleção “Ma ldito Seja”, que resgatam a produção de au tores do underg round bra- sileiro do períod o entre 1980 a o início dos 2000, e o Pano rama Internacio nal de Zines e Publicações In dependentes, u ma publica- ção anual que, d esde 2011, vem divulgando e documentando a produção inde pendente. Outra publicaç ão que tamb ém faz esse registro é o bimestral QI: Quadrinhos Independentes. Lançado em 1993, esse fanzine de Min as Gerais é en viado pelo correio junto a encartes adicio nais e tem o arquivo PDF da sua versão básica dis- ponibilizado no site da editora paraibana Marcade Fantas ia. QI: marcadefantasia.c om/camaradas/ qi/quadrinhos-i ndependentes. html 101101 Se você quer en trar de cabeça n o mundo dos independentes, outra boa pedid a é a Antílope, uma revista sup er caprichada q ue traz uma bo a seleção de histó rias em quadrinh os e textos críti- cos com qualida de bem acima d a média do que se encontra atu almente no Bra sil. Para dar um a geral no que es tá acontecendo no mundo, Th e Comics Journal é a publicação ind icada. Com críti- cas bem fundam entadas, longas (e históricas) en- trevistas com au tores de quadrin hos, essa publica - ção tem prestad o ótimos serviço s à compreensão dos quadrinhos enquanto categ oria de arte. Ma s, e a produção lo cal? Onde encon trar informações sobre a produçã o cearense? Com vocês... o qua- drinho indepe ndente cearen se! A seguir. 2.3. O quadrinho independente cea rense Muitos pensam que a produç ão de qua- drinhos indepe ndentes no Ce ará é recente, entretanto, há décadas se vêm publicand o por conta próp ria. Ainda nos anos de 1970 o artista Marcus Francisco (19 50-1980) lan- çou a TIPOblo comagazine, c om quadrinho s bem ousados graficamente a té para os dia s de hoje. Kazan e e Palmiro so ltaram a revis- ta Apóskalipso, influenciada p ela Zap Comix. Nos anos de 19 80, Hélio Rola apresentou a sua Rock’ndRol la and Leviana, que trazia qua - drinhos nonsen se. Arievaldo Viana uniu, pela primeira ve z aqui no Cear á, quadrinhos e literatura de co rdel em Canind é, Cidade da Fé , utilizando, entr e outras fontes , estrofes do fo - lheto Canindé, da Lenda à Rea lidade, do poet a Gonzaga Viei ra. Os anos de 1990 ficaram marcados pelo surgimento d e zines produz i- dos por coletiv os: Subcomic, Seres Urbanos, Demolição, Ma nicomics. Tamb ém vale desta- car os projetos individuais de alguns autores, como o álbum (graphic novel ) Lampião... era o cavalo do tem po atrás da bes ta vida (ganha- dor do Troféu H QMix), de Klév isson Viana, os inúmeros z ines de vários títulos editados por Guabiras e a websérie R ato do Prédio, de Falex Vida l, um dos prime iros quadrinhos produzidos para a internet no B rasil. Virando o sécu lo, a produção independente cearense se reno va com o surgim ento de uma no va geração publica ndo em zines, á lbuns e na inter net. Esses são algun s dos autores qu e estão deixan- do sua marca na cena dos quadr inhos independ en- tes no Ceará, m as existem muit os outros espalh a- dos por aí. A p rodução indepe ndente é tão va sta e plural que, co m certeza, você irá encontrar u m quadrinho que tem a sua cara . Nesse exato m o- mento, ele pod e estar sendo p roduzido dentro de um quarto pare cido com o seu , por alguém q ue pensa mais ou m enos igual a voc ê. Ou melhor ai n- da, você mesmo pode fazê-lo! J á pensou nisso? Capa de “Lampião ”, de Klévisson Via na 102102 EXPERIMENTAÇÕES 3. POSSIBILIDADES DA LINGUAGEM E No decorrer do nosso Curso Básico de Histórias em Quadrinhos, você já deve ter entendido que não existe uma única maneira de produ- zir e de publicar uma HQ e que todos nós somos capazes de nos tornarmos quadri- nistas. Os quadrinhos considerados alternativos, além de nos proporcionar essa liberdade, aumen- ta as chances disso acontecer. Quer saber como? Cola no fascículo! 3.1. Maneiras alternativas de fazer HQs Você tem uma ideia na cabeça e um lápis na mão? Legal. Daí você percebe que várias questões podem surgir e devem ser pensadas: Que imagem usar? Será desenho? Qual o melhor traço? Ou será fotografia? Será co- lorido ou não? O seu balonamento e letreiramento serão digitais ou manuais? Entre outras questões, é bom você saber que como autor independente, também poderá escolher se a sua HQ será impressa ou se será destinada à internet. O fascinante de estar à margem do que é considerado “indústria” é justamen- te você, autor(a), poder decidir tudo isso livremente e poder experimentar sem exigências, por exemplo, de um editor ou de um mercado. Aqui não existe um padrão a ser seguido, uma estética de por Débora Santos mercado, nenhum formato específico ou método de produção pré-estabelecido. O que caracteriza o quadrinho alternativo é a pessoalidade, a au- toexpressão e o experimentalismo. Existem quadrinhos alternativos feitos em bexi- gas (balões de encher), azulejo, madeira, tecidos, muros e até em papel. O quadrinista que não está enquadrado em um mercado não precisa seguir uma estética comercial, desenhando do seu jei- to, sem se preocupar em ser “agradável” para o público A ou B, ou mesmo o Z. Muitas vezes, ex- perimenta usar fotografias, recortes, colagens etc. O importante é que a sua expressão seja honesta, livre e corajosa sobre qualquer tema, sem censura. Muitas vezes o uso dessa liberdade faz com que não consiga se enquadrar em proposta de ne- nhuma editora e, por isso mesmo, boa parte dessa turma parte para a autopublicação. 103103 3.2. Autopublicação Cada autor(a) possui motivações diversas, algu- mas pessoais, outras artísticas, mas os principais motivos que atraem o quadrinista para a autopu- blicação são a liberdade criativa, ou seja, o contro- le de todo o processo, desde a concepção da história até sua divulgação, distribuição (no caso de HQs impressas) e o controle total dos lucros, fruto legítimo de seu trabalho. No entanto, as dificuldades enfrentadas por quem decide publicar por conta própria estão liga- das justamente às motivações. Como você tem o controle de tudo, além de todo trabalho de produção, deve estar sempre presente nas redes sociais, várias delas (inclusive postando vídeos, produtos, entre outros), procurar e manter contato com os(as) leitores(as), divulgar pesado o seu material com o máximo de visibilidade (por meio da mí- dia espontânea e paga, seja impressa, rádio e TV), participar de eventos de toda natureza (bienais, seminários, feiras), saber investir (reconhecer o seu mercado, público e cliente) e ser um bom administrador da receita que cai nas suas mãos (se não couber tudo no bolso). Entre os caminhos possíveis da autopublicação, os mais utilizados são a internet e os impressos. Vamos falar um pouco sobre essas opções. 3.2.1. O que a internet pode oferecer Alguns quadrinistas usam a internet como uma forma extremamente eficaz de fazer seu trabalho (webcomic) alcançar muitos leitores. Há quem comece ou siga sua carreira assim, publi- cando em blogs ou em redes sociais. Alguns, de- pois, passam para a publicação impressa indepen- dente ou por meio de editora. Bear, por exemplo, é uma webcomic publicada pela curitibana Bianca Pinheiro. Tamanha foi a sua visibilidade, que ela já pode ser encontrada na versão impressa pela editora Nemo. Sirlanney, autora dos quadrinhos da página Magra de Ruim, é outro exemplo. Conquistou tantos leitores publicando on-line, que decidiu reunir várias histórias em um livro impresso. Para isso, recorreu ao financiamento coletivo. Embora a maioria das histórias disponibilizadas on-line sejam gratuitas, existem formas de receber recursos para custear a produção ou até mesmo a im- pressão do seu trabalho. Uma opção interessante no Brasil é o Social Comics, que possui o mesmo siste- ma do Netflix. O Social Comics abriga quadrinhos e recebe trabalhos de autores independentes para ava- liação. Há também as opções internacionais, como o Comixology, em que você podeenviar seu trabalho traduzido para o inglês. No caso desse portal, o lei- tor paga para leitura de quadrinhos e pode encontrar todo tipo de publicação: das grandes editoras às pu- blicações independentes. Netflix: site com séries e filmes que você pode ter acesso a qualquer momento, bastando ter internet e pagando uma mensalidade. Outra forma de explorar a linguagem na internet que vale a pena conhecer é o portal Madefire, respon- sável por um formato chamado Motion Book, que mistura áudio e pequenas animações com páginas de quadrinhos. No site, você ainda pode acessar a plata- forma on-line de criação de Motion Books para criar a sua própria história. Basta fazer o cadastro. E as possibilidades não param por aí. Plataformas como Tumblr, Facebook, Medium, Twitter, Instagram, Issuu ou qualquer outro site que suporte imagens para publicação poderá abrigar sua webcomic. Dessa forma, basta conhecer as possibilidades e encontrar a que melhor se encaixa para promover a sua HQ. 104104 IMPORTANTE: Como autor(a) independente, você precisará de planejamento. Você tem que saber se irá publicar uma página semanal, quinzenal ou mensalmente. Se serão tirinhas diárias, se será uma HQ seriada, em capítulos, e quantos serão etc. A consistência na sua produção pode ajudar bastante para an- gariar leitores e fortalecer a sua relação com eles. Pense bem nisso antes de começar! 3.2.2. E os impressos? A decisão de imprimir HQs implica decidir algu- mas coisas antes mesmo de começar a dese- nhar a história. Entre as decisões: o número de páginas, de cores (preto e branco, duas co- res, colorida), de exemplares (tiragem), o tipo de papel e o formato que ela terá. Todas essas escolhas interferirão no custo final de produção de sua HQ. E tem mais: você deve, baseado no núme- ro de páginas, planejar a capa, contracapa, se ela terá extras, esboços, página para expediente (com informações sobre o(s) autor(es)(as)) etc. Para fazer um zine ou o planejamento de uma revista ou livro, geralmente construímos um “bo- neco”. Para isso, basta você dobrar alguns papéis ao meio, encaixá-los e pronto! (ao lado) Um boneco sempre precisará ter uma quantida- de de páginas que seja múltipla de 4. Nele, você vai decidir a sequência da sua história, o que vai considerar importante de mostrar e o que ficará de fora. Existem formatos que são mais usuais, que al- gumas gráficas imprimem com mais facilidade e que são considerados formatos econômicos, porque não há perda de papel. Ao lado, alguns exemplos. No seu planejamento, você pode decidir não procurar uma gráfica e produzir seu zine em casa, com a impressora caseira, numa tiragem curta. Ele pode ser dobrado, encaixado, diagramado à mão, costurado, xerocado, ter colagens, feito com tinta acrílica, ou guache, ou aquarela, ou pode ser todo feito no computador. D éb or a Sa nt os 105105 Impressões arte sanais como ser igrafia e xilogravura podem ser rea lizadas em casa, desde que você tenha o m aterial ne- cessário. O quad rinho Life is Ficti on (A vida é ficção) do amer icano Cole Hoy er-Winfield, por exemplo, fo i todo realizado em xilogra- vura, onde a m atriz do desenh o é talhada na madeira. Já o Troco de Qua drinhos, do cearense Ramo n Cavalcante, f oi impresso em serigrafia, té cnica onde a ma triz da ima- gem está grava da numa tela. Quanto mais re cursos você tiv er e co- nhecer, maiores serão suas opç ões de im- pressão e maior es serão as suas possibilida- de de criação. E xistem diversos formatos e tipos de papéis que podem se r utilizados. De toda forma , se optar por uma gráfica (tradicional ou rápida) é impo rtante que você tenha uma noção básica d o processo de impressão. N o módulo 11 d este curso, “Edição de HQs ”, você saberá m ais. Ah, fica a DI CA: seja qual for a técnica utiliza da para impre ssão de sua HQ, quan do for a uma gráfica SEMPRE peça um teste de impres- são (prova) a ntes de liber ar a im- pressão do se u material. Pronto, agora s eu trabalho est á pronto para encontrar o SEU leitor(a). impressão serigr áfica D or a M or ei ra Ra m on C av al ca nt e D or a M or ei ra deixando secar 106106 Sirlanney ABRA A SUA MENTE! LEITOR 4. COMO CHEGAR ao Quem faz quadrinh o, seja ele virtual (di gital) ou impresso em revista s e zines, tem três d esejos prin- cipais: (1) ser lido, (2) que os quadrin hos sejam o seu trabalho pr incipal e fonte de renda e (3) com um pouco de ambição, deseja rá, sobretu- do, atingir e aden trar a mente e o coração do leitor (consider o este último o prin cipal ponto e o que gera as me lhores histórias). Nunca foi fácil, ma s, atualmente, com menos espaço em jornais ( impressos) e com g randes edi- toras fechando as p ortas, são bem pou cos os qua- drinistas no Brasil que conseguem se manter só fazendo quadrinho s. Precisamos ser cr iativos, mo- vimentar-nos, form ar público e invent ar soluções para que leitores s e sintam motivado s a custear o trabalho do qua drinista. Agora, fal aremos um pouco sobre algum as dessas soluções que estão funcionando para v ários artistas e que poderá fun- cionar para você ta mbém, né? por Sirlanney por Sirlanney Se você conseguir um número significativo de leitores na internet, você pode tentar ganhar dinheiro por meio do financiamento contínuo. Ele funciona para projetos que não têm um tempo limitado e por isso precisam de apoio financeiro que os acompanhe durante sua jornada. Com esse pensamento, a plataforma Pathron foi criada. Com esse tipo de apoio do público, o autor tem apenas que continuar fazendo o que já faz: produzir quadrinhos. No Brasil, a plataforma Apoia.se hospeda vários quadrinistas nacionais incríveis. Conheça-os e contribua! Se você quiser criar o seu próprio projeto, veja como: https://blog.apoia.se 107107 4.1. Você pode se r uma empresa Se você quer gerar renda co m quadrinhos, uma boa opção é abrir e form alizar sua pró - pria empresa , o que pode r esultar em pos si- bilidades de trabalho e/ou contratação. O primeiro passo é estudar o ass unto. Procure s aber mais sobre em preendedoris mo. Depois di s- so, você poder á ser um Micro empreendedo r Individual (ME I). Saiba mais so bre isso no Port al do Empreend edor: MEI: www.portaldoem preendedor.gov .br/ mei-microempr eendedor-indiv idual A partir daí, em presário do ra mo de qua- drinhos, plane je-se e organize as suas finanç as. Não é porque v ocê é independ ente que não p ode ganhar dinheiro com isso. O m ercado alternat ivo existe e você po de e deve se ins erir nele. Listam os algumas dicas n a hora de pens ar a sua empre sa. Preparado, cole ga? Tome nota: a) Avalie o q uanto você tem para investir e se planeje a pa rtir de um teto de gastos; b) O seu qu adrinho é apena s um dos pro- dutos da sua em presa. As possib ilidades de produtos deriva dos do seu qua drinho são muit as. Faça uma lista d e produtos que você poderia fa zer a partir dos seu s quadrinhos e escolha os mais simples para co meçar (pôsteres , cartões-postai s, livros, revistas, c amisetas, calend ários, canecas, zines, bottons, skethbooks, ade sivos, jogos de t a- buleiro, bloquin hos, agendas, bols as etc.); c) Certifique -se de que tem bons fornecedo res (gráficas, artesã os, serigráficosetc.); d) Crie um c anal de relacion amento profissi o- nal com seus cli entes em poten cial; e) Seja aten to aos prazos e aos calendários de eventos de qua drinhos e cultur a underground; f) Organize as finanças, de talhando invest i- mentos, custos e lucros e seja b em-vindo ao Show Business! Quadrinhês: o glossário do quadrin ista 1. Financiamento coletivo (crowdfunding): é uma modalidade na qual as pessoas são convidadas a investir, por meio da internet, com quantias variáveis e voluntárias para a concretização de seu projeto mensurado em uma meta de arrecadação. Esse investimento exige recompensas a esses doadores, que pode ser apenas um exemplar de sua HQ, ou mais do que isso, conforme o grau de doação. 2. Tiragem: Número de exemplares impressos de uma única vez ou em cada edição. por Daniel Brandão e Ray mundo Netto 108108 4.2. Onde vender? Os melhores espaç os para vender q uadri- nhos alternativo s são: internet, feira s e even- tos alternativos. 4.2.1. Loja virtual Na internet você ir á encontrar uma b oa varie- dade de plataform as prontas para ho spedar sua loja virtual, como Tanlup, Iluria, Elo7 , Societ6, Collab55, que são as mais usadas no Brasil. Cada uma tem suas pr óprias taxas (sobr e produtos ou mensais), form as de assinaturas, leiaute, fa- cilidade de pagam ento e controle d e vendas. Sugerimos que voc ê conheça cada u ma delas e opte pela que mais se adequa ao seu perfil. Lembre-se d e postar boas foto s (aquelas que valorizam o se u produto) e apres entar uma descrição desse pro duto feita com car inho e pa- ciência, o que gar antirá maior possi bilidade de atrair público e boa s vendas. 4.2.2. Quadrinhos nas feiras Feiras, eventos de la nçamento, debates e pales- tras, bienais, feiras de publicações inde pendentes ou underground s ão espaços físicos onde artis- tas expõem e vend em seus produtos. Seja evento nerd, geek, de mús ica indie, feminista ou mesmo de cultura vegana, não importa, vá ond e possa en- contrar seus leitore s e dialogue com el es! Graças ao grande número de editora s inde- pendentes que surg iram nesse começo de século, foram abertos esp aços cada vez mai s relevantes para feiras de publi cações em todo pa ís, além das feiras oficiais de qu adrinhos, como o F IQ (Festival Internacional de Qu adrinhos) em Belo H orizonte, a Gibicon, em Curitib a, e a ComicCon, em São Paulo. Das feiras indepe ndentes que aco ntecem todo ano, podemo s destacar alguma s: Mercado dos Quadrinhos (F ortaleza), Publique -se (Recife), Tabuão (Salvador) , Dente (Brasília) , Pão de Forma (Rio de Jane iro), Ugra Zine Fes t, Miolo(s), Avessa: Feira de P ublicações Indepen dentes do Sesc Pompeia e Fe ira Plana (São Paul o), Grampo (Curitiba), Parque Gráfico (Florianópo lis), Parada Gráfica (Porto Alegr e), entre outras. A maioria dessas fei ras requer inscrição, então é bom ficar de olho n os prazos e editais. A lgumas de- las também possuem premiação, o que é uma mo- tivação a mais para o artista. Além de vender seus produtos e conquist ar mais clientes e leit ores, outros ganhos que essas f eiras nos trazem sã o: conhecer os quadrinistas de p erto, participar de b ate-papos, ou conhecer e apres entar o seu trabalho para novas editoras. Muitas boa s parcerias começam nas feiras de publicação indep endentes. Em cada estado, os artistas estão se or ganizando para mo vimentar a cena local, em pequ enos eventos e feira s. Participe, conheça e apoie os s eus criadores conter râneos, isso fomenta e fortalece sua própria cultura . Em um próximo nú mero de nossos fa scículos você conhecerá ou tras possibilidades de chegar ao leitor, tais como publicar por peque na e média editora, editais de c ultura e financiame nto coletivo. Não perca nenhum fascículo e assista às videoaulas! Agora que você já sabe alguns caminh os para chegar aos leitores, crie coragem e faça o seu qua- drinho. Mas faça co m o coração! 109109 Leia e Saiba Mais sobre HQs A Guerra dos Gibis, de Gonçalo Junior. Companhia das Letras, 2004 A Guerra dos Gibis 2, de Gonçalo Junior. Peixe grande Editoractiva, 2010. A Mente Suja, de Robert Crumb. Editora Veneta, 2013. Art Spiegelman: comix, essays, graphics and scraps (quadrinhos, ensaios, gráficos e quadrinhos). Centro Cultural Banco do Brasil e Sellerio. Editore, 1998. Homens do Amanhã, de Gerard Jones. Editora Conrad, 2006 Underground Classics: the transformation of comics into commix. Editora Abrams ComicArts, 2009 Zap Comix, Robert Crumb. Conrad editora, 2003. 1. Algumas das principais editoras de quadrinhos independentes do mundo Fantagraphics (Estados Unidos), Drawnandquarterly (Canadá), La Cupula (Espanha), Coconino Press/fandango (Itália), Nobrow (Inglaterra/Reino Unido), L’association/Futuropolis (França), Strapazin (Suíça), Stripburger (Eslovênia), Chili com Carne (Portugal), Veneta e Zarabatana (Brasil)2. Alguns sites que divulgam quadrinhos independentes: Raio Laser - www.raiolaser.net | Vitralizado - www.vitralizado.com | Coisa Pop - www.coisapop.com.br | Balbúrdia -balburdia.wordpress.com | Papo Zine - canal no Youtube 3. Mapeamento, ensaios e críticas: Marca de Fantasia - www.marcadefantasia.com | Ugra Press - www.ugrapress.com.br | The Comics Journal - www.tcj.com 4. Links de alguns quadrinhos independentes cearenses: Nú, Coro e Osso | Azedas - facebook.com/CartunistasFemeas Magra de Ruim - sirlanney.iluria.com ou facebook.com/sirlanneynogueira | Adivinha Dindi- adivinhadindi.tumblr.com ou facebook.com/adivinhadindi | Pedrinho Chegava Descalço - facebook.com/PedrinhoChegavaDescalco | Na Sinecura - www.facebook.com/nasinecura | Relicário - facebook.com/relicariohq | Netuno Press - netunopress.tumblr.com ou facebook.com/netunopress | The Comics Café - lojathecomicscafe.tanlup.com ou facebook.com/TheComicsCafe | Território Marginal - blogzdovitor.blogspot.com.br | Blog do Guabiras - blogdoguabiras.blogspot.com.br | Anderson Lauro - www.facebook.com/anderson.lauro | Manicomics - manicomicsblog.blogspot.com.br ou facebook.com/themanicomics | Seres Urbanos - facebook.com/seresurbanosfanzines Para saber mais detalhes da história da produção cearense até 2010, consulte a “Grande Enciclopédia do Quadrinho Cearense” no endereço eletrônico: pt.calameo.com/accounts/342368 5. Outros links legais: Petisco quadrinhos - http://petisco.org/ | Madefire - http://www.madefire.com/ Plataforma online de criação de Motion Books - http://www.madefire.com/motion-book-tool-open-access/ | Social Comics - https://www.socialcomics.com.br/ | Comixology - https://www.comixology.com/ | Magra de Ruim - https://www.facebook.com/sirlanneynogueira/?fref=ts 110110 HQ? No Ceará tem disso sim! por Raymundo Netto A Oficina de Quadrinhos da Universidade Federal do Ceará foi uma invenção do mes- tre dos magos Geraldo Jesuíno da Costa, designer, artista plás- tico, editor e contista, que afirma ter sido, há 30 anos, “o projeto mais improvável do curso de co- municação”. Desde 1983, o pro- fessor Jesuíno havia incluído, com apoio da profa. Adísia Sá, a dis- ciplina “História em Quadrinhos” no currículo do curso. Naquela época, uma turma passou a se re- unir para conversar sobre HQs, en- tre eles, o próprio Jesuíno, Flávio Paiva, Aluísio Gurgel e o bregastar Falcão. Em 1985, a Oficina surgiria como um projeto de extensão do curso de Comunicação Social com ações voltadas para a preservação, estudo e produção de quadrinhos no Ceará. Nesse período, algumaspublicações foram marcantes. Entre elas: a revista Pium (1985 e 1998) e a Carbono 14, além das adaptações para HQs, reunindo vários quadrinistas, como Moreira Campos em Quadrinhos (1995 – a data de finalização de sua última página coincide com a data de fa- lecimento do contista) e Iracema, de José de Alencar (1996). Com a aposentadoria do pro- fessor Jesuíno, em 2000, o projeto entrou em suspense, desencan- tando em 2004 pelas magia do prof. Ricardo Jorge de Lucena Lucas, atual coordenador do pro- jeto, que hoje é vinculado ao cur- so de jornalismo do Instituto de Cultura e Artes (ICA) da UFC. Nessa segunda fase da Oficina, conforme Ricardo Jorge, “o foco maior é a discussão so- bre as fases de produção de um trabalho em quadrinhos: argu- mento e roteiro, desenho para quadrinhos e arte-final.” Assim, alguns projetos marcam o novo rumo: “Contando a Cidade” (2006), em parceria com o jor- nal O POVO, a seção “Eureka!”, inserida na revista Universidade Pública, da UFC, entre 2008 e 2012, e a retomada da revis- ta Pium, ora em formato digital (inclusive as versões da primeira fase) e disponibilizada na web. Até 2011, as admissões para a Oficina eram semestrais. Em 2012, anuais, contemplando cer- ca de 30 a 40 padawans por ano, por meio de uma seleção e prova de aptidão. Em 2016, mais de 500 candidatos inscritos! Lembra-nos o prof. Ricardo que “não é preciso saber dese- nhar para fazer quadrinhos”. E, por isso, em 2016, entre os novos projetos, a Oficina oferece o curso Fotocomix, ou seja, a produção de quadrinhos não com desenhos, mas com fotografias. Enfatiza: “Fotonovelas ou, como chamam os franceses, roman-photos, ou como acharem melhor.” Oficina de Quadrinhos da UFC (GRATUITA) Dias de aula (inclusive do Fotocomix): sábados, sempre das 9 às 12h, no curso de jornalismo da UFC (avenida da Universidade, 2.762, 2º andar, Benfica). Facebook: www.facebook.com/ oficinadequadrinhos E-mail: quadrinhosufc@gmail.com 111111 Este fascículo é parte integrante do projeto HQ Ceará, em decorrência do convênio celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (SecultFOR), sob o nº 12/2016. Sirlanney (Autora) Sirlanney estudou pintura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2014, publicou seu primeiro livro, Magra de Ruim, indicado ao prêmio nacional HQ Mix e premiado com o Troféu Revelação Al Rio de Quadrinhos, em 2015. Participa de debates e ministra cursos e oficinas sobre pintura, quadrinho e feminismo por todo o país. É autora da página “Magra de Ruim” no Facebook, que já conta com 170.000 fãs. Weaver Lima (Autor) Realizou diversas exposições em prol da memória do quadrinho cearense, entre elas Luiz Sá 100 Anos, resultado de 5 anos de pesquisa sobre a obra do dese- nhista, e HQ-CE, uma exposição permanente para a Gibiteca de Fortaleza, que registra a produção de his- tórias em quadrinhos no Ceará de 1930 a 2010. Na década de 1990, foi integrante do “Seres Urbanos” (1991-1998), grupo considerado um dos mais impor- tantes da produção independente no Brasil. Guabiras (Ilustrador) Desenha desde os 5 anos de idade se baseando em tudo que se possa imaginar de quadrinhos no mundo. É ilustrador e car- tunista no jornal O POVO (Fortaleza/CE). Tem inúmeras publicações e personagens em HQs e fanzines, ministrando oficinas e participando de trabalhos/mostras coletivos e/ou individuais. Débora Santos (Autora) É formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e atua há quatro anos como ilustradora. Passou a publicar quadrinhos em 2015, ano em que imprimiu seu primeiro zine, Rebuliço, e publicou os quadrinhos Como sobreviver à terra da luz, com Brendda Lima, Pombos!, com Márcio Moreira, e Lua Cheia, todos pela Netuno Press, coletivo da qual é membro. Atualmente dá aulas de desenho e trabalha como ilustradora. Expediente FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA Presidente João Dummar Neto | Diretor Geral Marcos Tardin | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Coordenação Ana Paula Costa Salmin | CURSO BÁSICO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS Coordenação Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto Raymundo Netto | Coordenação de Conteúdo Daniel Brandão | Edição de Design Amaurício Cortez | Projeto Gráfico Amaurício Cortez, Karlson Gracie e Welton Travassos | Editoração Eletrônica Cristiane Frota | Ilustração Guabiras | Catalogação na Fonte Kelly Pereira ISBN 978-85-7529-715-5 (Coleção) | 978-85-7529-722-3 (Volume 7) Todos os direitos desta edição reservados à: Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP 60055-402 - Fortaleza- Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax: 3255.6271 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br RealizaçãoApoio
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