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Farmacologia aplicada Antilipêmicos ⇒ Lipoproteínas plasmáticas: Existem várias lipoproteínas na corrente sanguínea, como os quilomícrons (transportam gorduras do intestino, que derivam da dieta, ao tecido adiposo, muscular e ao fígado), VLDL (carrega triglicerídios ao tecido adiposo e músculo → após esse processo o VLDL volta para a corrente sanguínea menor, recebendo o nome de IDL, que rapidamente se transforma em LDL). A gordura mais abundante que o LDL carrega é o colesterol. O HDL faz uma função diferente das demais (que levam gordura ao tecido), tirando colesterol do tecido e levando ao fígado, para que este órgão junte o colesterol a bile e a armazene na vesícula, posteriormente a bile cai no intestino e será excretada junto com as fezes. Um paciente com dislipidemia tem aumento de lipídios e de lipoproteínas (para facilitar fazer analogia a passageiros e transporte). ⇒ Antes de iniciar a explicação sobre a farmacologia dos antilipêmicos, deve-se ressaltar que não é apenas o medicamento que resolve dislipidemia, mas a orientação e a mudança no estilo de vida do paciente são necessários, por muitas vezes o encaminhamento ao nutricionista é necessário para ajustar a dieta. ⇒ Fármacos: 1) Antilipêmicos inibidores da síntese de colesterol → estatinas ● Além do colesterol que provém da dieta, o fígado produz colesterol todo dia. Enzimas são responsáveis por essas reações, e uma delas é alvo das estatinas, a HMG CoA-redutase. Essa enzima participa da produção do colesterol no fígado, portanto ao administrar uma estatina ocorre inibição da enzima HMG CoA-redutase, dessa forma todo o restante da reação de produção do colesterol fica prejudicada. ● O uso de estatinas é recomendado quando o colesterol está sendo produzido em excesso, o que ocorre quando a HMG CoA-redutase é hiperativa (tendência genética). ● Além de diminuir a produção do colesterol, as estatinas têm um efeito complementar de diminuir LDL no sangue. No fígado, quando a produção de colesterol diminui, ocorre ativação de fatores de transcrição que atingem o núcleo de hepatócitos e encostam em genes que fazem com que ocorra a produção de receptores de LDL. Esses receptores irão atrair LDL, para que o fígado possa eliminar colesterol, e tirando LDL da corrente sanguínea previne-se formação de placas de gordura (aterosclerose). ● Existem estatinas de 1ª e 2ª geração, as de 2ª geração possuem menos efeitos adversos, porém o mecanismo de ação de ambas é o mesmo. ● Efeitos adversos: As estatinas podem lesar o músculo, podendo causar dor, cansaço, e raramente pode ocorrer rabdomiólise (liberação de mioglobina do músculo lesado). Nenhum autor afirma o porquê das estatinas lesarem o músculo, entretanto existe uma hipótese: quando a estatina inibe a HMG CoA-redutase, não ocorre síntese de mevalonato, que não é utilizado apenas para a síntese de colesterol, sendo desviado pelo fígado para síntese de ubiquinona (cadeia respiratória), dessa forma não há transporte correto de elétrons e falta ATP para a célula, o músculo sem ATP fica fadigado, fraco e pode até necrosar. 2) Inibidores da reabsorção de ácidos biliares → Resinas catiônicas poliméricas ● No fígado temos o colesterol, que pode ser quebrado em ácidos biliares, como por exemplo o ácido cólico e o AQDC, que são aniônicos (eletronegativos). O fígado precisa eliminar colesterol e ácidos biliares, então ele os mistura a bile, que fica armazenada na vesícula e cai no duodeno, sendo excretada pelas fezes. ● Parte dos ácidos biliares são reabsorvidos no intestino e voltam ao fígado. O ácido biliar reabsorvido volta a ser colesterol. ● A indústria farmacêutica criou um pó repleto de drogas poliméricas, que são resinas poliméricas. Todas essas resinas poliméricas são catiônicas (eletropositivas). Um exemplo é a colestiramina. As resinas irão se ligar aos ácidos biliares, formando um precipitado que será eliminado pelas fezes, dessa forma não haverá mais reabsorção de ácido biliar e consequentemente eles não voltam a ser colesterol. ● Os efeitos adversos mais comuns dos inibidores da reabsorção de ácidos biliares são distensão abdominal significativa e dispepsia. 3) Inibidores da absorção de colesterol ● Fármacos mais indicados para o paciente que tem muito colesterol proveniente da dieta. ● O ezetimibe é o fármaco mais conhecido da classe, ele bloqueia uma proteína de canal chamada MPC1L1, que fica na membrana do enterócito. O ezetimibe bloqueia esse canal, dessa forma o colesterol liberado pela micela não é absorvido e é excretado nas fezes. ● Efeitos adversos do ezetimibe: dor abdominal, diarreia, flatulência e sensação de cansaço em decorrência da diarreia frequente. Pode agredir fígado e causar dor na musculatura, além de outros sintomas ● Também existe uma gordura muito parecida com o colesterol, chamada de fitosterol. Atualmente o fitoesterol é conhecido como uma gordura saudável (óleo de plantas, flores, nozes...). Quando há colesterol e fitosterol ao mesmo tempo no intestino, ambos fazem parte da micela, mas o fitoesterol é mais hidrofóbico, e por isso entra primeiro na micela, dessa forma o colesterol é retirado. O colesterol cai no lúmen e é excretado pelas fezes, e quem é absorvido é o fitosterol. ● O fitosterol normalmente é associado a drogas mais potentes. O fitosterol não pode ser usado em excesso pois tem capacidade vasoativa (mas não é aterogênico como o colesterol). ● Efeitos adversos do fitoesterol: causa vasodilatação na pele, então muitas pessoas ficam com a pele vermelha e quente (aumento da irrigação), principalmente quando associado à niacina. Pode ocorrer prurido, exantema, ressecamento de pele e mucosas e acantose nigricans (hiperpigmentação das dobras cutâneas), que indica resistência à insulina (os fitosteróis podem deixar adipócitos e miócitos resistentes ao sinal da insulina, não captando glicose corretamente). Alguns pacientes apresentam náuseas e desconforto abdominal. 4) Fibratos ● Uma das classes que trabalha para diminuir o transporte de triglicerídeos (diminuir VLDL) e aumentar HDL. ● Quando o fibrato entra na célula, principalmente no hepatócito, ele ativa o receptor ativado por proliferadores de peroxissoma (PPARα), um fator de transcrição. Esse fator de transcrição vai para o núcleo e encosta no DNA, que ativa um gene que transcreve RNAm, para que ocorra o processo de síntese de novas proteínas, esse fator de transcrição induz a síntese de proteínas que fazem parte do HDL (APOA1 e 2). Concomitantemente, o fator de transcrição encosta num outro gene e inibe-o, para que a expressão da APOC3 diminua, essa proteína faz parte do VLDL. ● Se o fígado produz mais componentes do HDL e menos componentes do VLDL, a concentração de HDL aumenta e a concentração de VLDL diminui. Se há menor concentração de VLDL o transporte de triglicerídeos diminui, secundariamente há diminuição de LDL. ● Preconiza-se que o fibrato é efetivo na diminuição de triglicerídeos e aumento de HDL, mexendo muito discretamente no LDL, havendo outros antilipêmicos mais eficientes para atuação no LDL. ● Efeitos adversos dos fibratos: Exantemas, sintomas gastrointestinais, miopatias, arritmias, hipopotassemia, níveis elevados de aminotransferases ou fosfatase alcalina (indicativo de lesão hepática). Alguns pacientes podem ter queda de leucócitos ou o HT total (podem agredir medula óssea). Potencializam o efeito de anticoagulantes (muito cuidado em receitar para pacientes anticoagulados, a dose deve ser ajustada). Raramente pode ocorrer rabdomiólise. A miopatia aumenta quando o fibrato é utilizado com inibidores de redutase. O fenofibrato geralmente é o fármaco de escolha para ser utilizado junto com uma estatina (no caso de uma dislipidemia mista, por exemplo). Pensar bem ao prescrever para hepatopatas e nefropatas. Aumenta o risco do paciente desenvolver cálculos biliares de colesterol. 5) Niacina ● A niacina é a vitamina B3. ● A niacina atua no tecido adiposo, diminuindo a lipólise. Além disso, ela é hidrossolúvel. Ela diminui a lipólise ao diminuir os níveisplasmáticos de ácido graxo. ● O tecido adiposo armazena triglicerídeos, que é formado por três ácidos graxos e um glicerol. Ao diminuir a lipólise não há tanta quebra de triglicerídeos, e não há tanto ácido graxo no sangue. Se não há tanto ácido graxo no sangue, o fígado não produz novo triglicerídeo. ● Um contra do uso de niacina é a dificuldade para perder peso. Se o fígado está produzindo menos triglicérides, o VLDL diminui. Se VLDL diminui também há diminuição (discreta) de LDL. ● A niacina também vai interferir num processo de depuração da APOA1. Não se sabe ao certo como, mas a niacina envia sinais ao fígado para diminuir a excreção da APOA1. Ao diminuir a excreção urinária de APOA1 essa proteína volta para o sangue, chega ao fígado e é reutilizada para sintetizar mais HDL. ● Devemos ter cuidado com a dose da niacina. Sua potência também não é boa, podendo ser utilizada de forma isolada em dislipidemias brandas. ● Efeitos adversos: A niacina mexe com tônus de vaso, causando espasmos vasculares, rubor, prurido, aumento de ácido úrico, aumento de resistência à insulina e pode causar lesões musculares (principalmente quando associada a estatinas). Resumo feito por: Vinicius José Perri Dias
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