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Doença Meningocócica

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Yanes Lara – Pediatria 
Doença Meningocócica 
Introdução 
- A doença meningocócica é causada pela Neisseria 
meningitidis, e a meningococcemia é a manifestação 
clínica da forma septicêmica da doença, na qual o 
comprometimento do sistema nervoso central pode estar 
ausente. 
- O risco de doença invasiva é maior na criança, 
diminuindo com a idade. 6 meses a 1 ano de vida, a 
criança encontra-se no período mais suscetível. 
- Essa doença é sazonal, com maior frequência no 
inverno. 
Agentes Etiológicos 
- Meningococo, que é um diplococo gram-negativo, 
aeróbico imóvel, não esporulado e de formato redondo ou 
oval, necessita de meios adequados para seu crescimento. 
- Identificados 13 sorogrupos através de soroaglutinação: 
A, B, C, D, X, Y, Z, E, W-135, H, I, K e L. No Brasil 
circulam os sorogrupos B, C, W-135 e Y. 
- A transmissão é interpessoal através do contato direto 
com gotículas respiratórias a partir de indivíduos 
portadores que atuam como reservatórios. 
- O período de incubação varia de 1 a 10 dias. 
- Pessoas com maior risco: os comunicantes íntimos de 
casos, viajantes para áreas com níveis hiperendêmicos ou 
epidêmicos, pessoas com asplenia funcional ou 
anatômica, deficiência de properdina ou deficiência de 
complemento (C% até C8). 
- Pessoas com imunossupressão, incluindo a infecção 
pelo HIV, não apresentam risco aumentando. 
Fisiopatogenia 
- Tem início após colonização nasofaríngea, invasão local 
e bacteremia com invasão meníngea. A replicação 
bacteriana no espaço subaracnóideo e a liberação de 
componentes bacterianos atingem o endotélio cerebral, 
desencadeando um processo inflamatório intenso com 
liberação de citocinas. 
- Há aumento da permeabilidade vascular, o que resulta 
em edema vasogênico, inflamação do espaço 
subaracnóideo e aumento da resistência ao fluxo 
liquórico com edema intersticial e hidrocefalia, além de 
vasculite com infarto cerebral. 
- O edema citotóxico decorre da liberação de produtos 
tóxicos de neutrófilos e bactérias. Esses eventos causam 
aumento da pressão intracraniana, redução do fluxo 
cerebral e perda da autorregulação cerebrovascular. 
Manifestações Clínicas 
- Existem quatro quadros de doença meningocócica: 
→ Bacteremia sem sepse; 
→ Meningococcemia sem meningite; 
→ Meningite com ou sem meningococcemia; 
→ Meningoencefalite. 
- A meningococcemia evolui com gravidade e o paciente 
apresenta-se toxêmico, mal-estar geral, fraqueza e 
hipotensão, manifestando-se como um quadro de choque 
séptico. 
- Exantema purpúrico ou hemorrágico com lesões 
petequiais que não ultrapassam 2 mm de diâmetro, 
atingindo principalmente as extremidades. 
- As lesões podem aparecer nas mucosas, incluindo as 
conjuntivas palpebral ou ocular. 
- As petéquias podem coalescer e atingir planos mais 
profundos, transformando-se em sufusões hemorrágicas 
ou equimoses. 
 
Yanes Lara – Pediatria 
 
- A doença pode acontecer de forma fulminante, é a 
forma mais grave, de instalação rápida e letalidade 
elevada. 
- As infecções fulminantes frequentemente levam à 
síndrome de Waterhouse-Friderichsen, com colapso 
periférico, choque e necrose das suprarrenais. 
- A infecção meningocócica pode manifestar-se somente 
pelo quadro clínico de meningoencefalite, sem 
manifestações purpúricas. 
Métodos Diagnósticos 
- Isolamento do meningococo de fluido orgânico 
usualmente estéril: sangue, liquor, líquidos sinoviais, 
pleural ou de pericárdio, ou ainda de aspirado de petéquia 
ou púrpura. 
- A identificação de antígenos pela prova do látex e 
imunoeletroforese cruzada (liquor e soro) é 
confirmatória, com a identificação dos principais 
sorogrupos. 
 
- Na infecção fulminante, o liquor pode não apresentar 
alterações inflamatórias, embora possa ser identificado o 
meningococo ao exame bacterioscópico pelo método 
Gram. 
Vacinas 
- Vacina meningocócica conjugada quadrivalente 
(ACWY). 
Tratamento 
- A utilização precoce de antibióticos eficazes no 
tratamento reduz a produção de edotoxina, diminuindo o 
estímulo pró-inflamatório e reduzindo a morbidade e a 
mortalidade. 
- A Penicilina G cristalina era o antibiótico 
tradicionalmente usado como primeira escolha. Ainda é 
eficaz, mas necessita de doses frequentes a cada 4 horas. 
- A ampicilina é uma alternativa à penicilina G cristalina, 
tem a mesma eficácia e requer doses menos frequentes a 
cada 6 horas. 
- Recentemente, com a padronização do tratamento da 
meningite bacteriana em crianças, se utiliza as 
cefalosporinas de terceira geração, como ceftriaxona e a 
cefotaxima. São eficazes contra o meningococo, 
Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae. 
→ As cefalosporinas de terceira geração têm boa 
penetração liquórica e tem baixos efeitos adversos. 
- O cloranfenicol pode ser utilizado para o tratamento de 
pacientes alérgicos aos antibióticos beta-lactâmicos. 
 
- Os corticoides devem ser associados ao tratamento, para 
reduzir sequelas neurológicas, pela frequência da 
meningite acompanhar a meningococcemia. 
→ A dexametasona deve ser administrada de 15 a 20 
minutos antes da primeira dose de antibiótico. 
→ Os corticoides devem ser utilizados nos casos de 
insuficiência adrenal comprovada e nos casos de 
hemorragia e/ou necrose de suprarrenais, como a 
síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Nesses casos, há 
choque profundo pouco responsivo a reposição volêmica 
e drogas vasoativas, acompanhado de purpura fulminans. 
→ A recomendação atual é a utilização de hidrocortisona, 
nas doses de 200 a 300 mg/dia, por 7 dias seguidos, nos 
casos de choque séptico refratário à reposição volêmica 
adequada e ao uso de drogas vasoativas por, no mínimo, 
1 hora. Havendo melhora da sepse, procede-se à redução 
da dose de hidrocortisona ao ritmo de 50% a cada 2 ou 3 
dias, desde que não haja deterioração clínica. 
- O tratamento de suporte é fundamental e deve ser 
instituído prontamente, em conjunto com o tratamento 
específico ou mesmo antes deste, enquanto são colhidos 
os exames laboratoriais. Os pacientes que apresentam 
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quadro de choque séptico devem ser priorizados, mas 
aqueles ainda nas fases iniciais da doença devem ser 
acompanhados de perto. 
- Frequentemente há rebaixamento de nível de 
consciência e eventual insuficiência respiratória aguda. 
Pacientes com quadro de choque e coma, mesmo que 
superficial, ou agitação psicomotora intensa devem ser 
sedados, intubados e colocados em ventilação mecânica 
com suporte de oxigenação, visando manter a saturação 
de oxigênio da hemoglobina acima de 90%.

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