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Osteoartrite Rayane Aguiar – p8 Definição Síndrome clínica que representa a via final comum das alterações bioquímicas, metabólicas e fisiológica que ocorrem de forma simultânea na cartilagem hialina e no osso subcondral. A doença compreende uma variedade de subgrupos com fatores etiológicos distintos, tendo como substrato patológico, a diminuição do espaço articular devido à perda cartilaginosa e à formação de osteófito. Fisiopatologia Existem 2 fisiopatologias diferentes para a OA, a depender de sua etiologia. * Na primeira e mais importante, existe um déficit relativo intrínseco à cartilagem que a torna incapaz de manter o seu ciclo de destruição e reparação. Essa alteração intrínseca decorre de fatores diversos em múltiplos componentes da cartilagem que se referem à qualidade do colágeno e do osso subcondral, à eficiência dos condrócitos, à eficiência das células inflamatórias, ao perfil de citocinas, ao balanço entre fatores de crescimento e degradação etc. Isoladamente, essas alterações, que são genéticas e epigenéticas não necessariamente representam doença cartilaginosa e articular, mas, uma vez que o indivíduo é exposto a mecanismos de insulto cartilaginoso, é possível que os fatores descritos contribuam para que o ciclo de recuperação articular seja insuficiente para manter a homeostasia. Esse é um modelo para explicar a osteoartrite chamada de primária – aquela que é intrínseca ao indivíduo. * Um segundo modelo é necessário para explicar a osteoartrite secundária. Nesta situação, a cartilagem é intrinsecamente competente, mas doenças bem definidas externas à cartilagem impedem que o ciclo natural e fisiológico de destruição e reparo se mantenha, causando um saldo cartilaginoso negativo. É evidente que, se o indivíduo se expuser a outros fatores estressores da articulação, o processo provavelmente irá acelerar ainda mais. * As características histopatológicas principais da OA são a perda focal e gradual da cartilagem articular e o comprometimento do osso subcondral. Dentre os fatores relacionados ao estresse articular, o envelhecimento talvez seja um dos mais importantes. Tríade radiológica clássica da OA: redução do espaço articular, esclerose óssea subcondral e formação de osteófitos. * Cabe lembrar que a OA não é uma doença exclusivamente da cartilagem e, sim, de todo o aparelho locomotor. Manifestações clínicas * As principais características da OA primária são a evolução lenta e o acometimento de articulações típicas. * A prevalência está correlacionada a idade, sexo, localização da doença e método do diagnóstico – OA simplesmente radiográfica ou síndrome osteoartrítica – com predominância no sexo feminino nos principais sítios (joelho e mãos). * A OA pode provocar dor articular, rigidez matinal (geralmente < 15 minutos), limitação de movimentos, crepitações, ocasionalmente derrame articular e graus variados de inflamação local. * É uma doença de caráter crônico e evolução lenta, sem comprometimento sistêmico. Na grande maioria dos indivíduos, desenvolve-se de maneira silenciosa. * A dor tem características mecânicas, aparece ou exacerba-se no início dos movimentos (dor protocinética), melhora levemente após alguma movimentação, mas é marcadamente exacerbada com o uso prolongado da articulação. Nos estágios mais avançados, não é incomum o paciente ter dor mesmo quando em repouso, acordando algumas vezes durante a noite. * Nos membros superiores, a OA primária costuma acometer as interfalangianas proximais (IFPs) e distais (IFDs) das mãos, a articulação trapézio-metacarpo na base do polegar (rizartrose) e a acromioclavicular. As deformidades das IFPs são descritas como nódulos de Bouchard, e as das IFDs, como nódulos de Heberden. * Classicamente, são poupados na OA primária as articulações metacarpofalangianas, os punhos, os cotovelos e os ombros (glenoumerais). O Osteoartrite Rayane Aguiar – p8 acometimento por OA dessas articulações sugere OA secundária. * Nos membros inferiores, é comum o acometimento dos quadris (coxartrose), joelhos (gonartrose), primeiras metatarsofalangianas e as interfalangianas dos pés. Os joelhos podem apresentar-se aumentados de volume, com discreta elevação de temperatura, edema e alteração de eixo, sendo mais comum a acentuação de joelho varo. * Classicamente, são poupados na OA primária as demais articulações metatarsofalangianas, os tornozelos e o tarso. O acometimento dessas articulações sugere OA secundária. Diagnóstico * O diagnóstico clínico da OA usualmente é confirmado com radiografias das articulações acometidas. O clássico achado radiológico é a tríade da OA: redução do espaço articular; esclerose do osso subcondral e presença de osteófitos (proliferação óssea nas margens articulares). * Diferentemente da artrite reumatoide e de outras artrites inflamatórias, o acometimento articular é focal e assimétrico dentro de cada articulação. Assim, a redução do espaço articular é irregular, acometendo mais um compartimento articular que outro. No quadril, a porção superior da articulação é mais comumente afetada. Já nos joelhos, é mais comum o acometimento do compartimento femorotibial medial e do femoropatelar lateral, levando os achados da tríade a serem encontrados de forma assimétrica. Achados laboratoriais * Os exames laboratoriais habitualmente são normais e utilizados para identificar outras condições. A avaliação da hemoglobina, creatinina, potássio e transaminases é necessária antes de iniciar a terapia com Anti- Inflamatórios Não Hormonais (AINHs). * As provas de atividade inflamatória (velocidade de hemossedimentação e proteína C reativa) são comumente normais. * A análise do líquido sinovial comumente revela perfil não inflamatório, com viscosidade normal e baixa contagem celular (<2.000 células/mm3). Excepcionalmente, quando há derrame articular, alguns pacientes podem apresentar líquido sinovial levemente inflamado, com pequenos aumentos na celularidade e discreta diminuição da viscosidade. Tratamento * O tratamento NÃO farmacológico é o mais importante e inclui: motivação ao tratamento, estímulo à prática de atividade física, fisioterapia, fortalecimento muscular, condicionamento físico; órteses; estabilização medial da patela e perda de peso. * O principal objetivo do tratamento farmacológico na OA é o alívio da dor. A única classe de medicamentos estudada é AINHs. Contudo, todas as diretrizes fazem ressalvas ao risco de toxicidade renal, hepática e gastrintestinal. * Pacientes com dor crônica ou perfil depressivo podem se beneficiar de duloxetina. Recomenda-se o uso de doses entre 30 a 60 mg/d. * Mantém-se indicação fraca de infiltração de joelhos com corticoide ou hialuronatos apenas como medida de controle álgico de curta a média duração em casos selecionados, não devendo ser repetido constantemente * Anti-inflamatórios não hormonais serão indicados quando houver dor moderada a grave, refratária a analgesia simples, associada a quadro inflamatório exuberante e nas eventuais crises de agudização. Têm- se AINHs não seletivos (diclofenaco, nimesulida, meloxicam), tendo maior risco de sangramento/perfuração gastrintestinal, e os seletivos de COX-2 (celecoxibe), usados quando há fatores de risco para eventos adversos no TGI alto, que incluem: idade > 65 anos; outras comorbidades; glicocorticoides orais; história de úlcera péptica, sangramento gastrintestinal; anticoagulantes. Principais efeitos colaterais são hipertensão arterial, piora da função renal, retenção hídrica, hipercalemia, sangramento ou intolerância gastrintestinal. * Glicosamina, condroitina e colágeno são conflitantes. Pode ser recomendada para OA de joelhos especialmente, associada ou não à condroitina. A dose usual de glicosaminaé de 1.500 mg/d, e a de condroitina, 1.200 mg/d. Colágeno, 1 capsula/dia/6 meses. *Tratamento cirúrgico: osteotomias, debridamentos artroscópicos, artroplastias e artrodeses. A artroplastia total é muito efetiva para paciente com dor intensa e OA avançada de quadril ou joelho. Referência: Medcel 2021.
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