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Má Absorção Intestinal Diagnóstico O achado de esteatorreia é decisivo para o diagnóstico de síndrome de má absorção. Os testes diagnósticos podem nos dar informações preciosas a respeito da presença de gordura em excesso nas fezes (Teste Quantitativo); da viabilidade absortiva da mucosa intestinal (D-xilose); da existência de insuficiência pancreática exócrina (Teste da Secretina); da existência de supercrescimento bacteriano ou deficiência de lactase (Testes Respiratórios). 1. Teste Quantitativo de Gordura Fecal Para os casos de dúvida, a única maneira fidedigna de se confirmar a esteatorreia é através da dosagem de gordura presente nas fezes acumuladas em 72h. Neste período o paciente terá ingerido uma dieta rica em gorduras – 100 g/dia. Em uso dessa dieta, indivíduos normais excretam menos de 7 gramas de gordura/dia (>7 g/dia = esteatorreia). Método de difícil realização na prática. O teste quantitativo para a gordura fecal diagnostica a esteatorreia e, dessa forma, confirma uma síndrome disabsortiva. Entretanto são necessários vários outros testes para se estabelecer uma causa específica. 2. Teste Qualitativo de Gordura Fecal Capaz de informar apenas se existe ou não um excesso grosseiro de gordura nas fezes, através de exame microscópico corado pelo Sudan III, sem determinar quantidade. Exame inicial de screening em casos suspeitos de esteatorreia. Sua positividade justifica a realização do teste quantitativo. O teste de Sudan III pode ser realizado de dois modos diferentes: 1) Na primeira lâmina de fezes, o uso do corante Sudan seria precedido pela adição de 2 gotas de água e 2 gotas de álcool etílico – permite a detecção de triglicerídeos. Positiva na insuficiência pancreática exógena. 2) Na segunda, o uso do corante Sudan seria precedido pela adição de algumas gotas de ácido acético – permite a detecção de ácidos graxos livres. Positiva nas doenças do intestino delgado e na deficiência de ácidos biliares – doença ileal, colestase. Ajuda na diferenciação entres causas digestivas e mal absortivas de esteatorreia. Teste barato e de fácil e rápida realização. 3. Teste da D-Xilose Urinária Distingue a má absorção causada por doenças do intestino delgado, da decorrente de insuficiência pancreática exócrina. Em indivíduos normais, se 25g de D-xilose forem ingeridos, é esperado encontrar pelo menos 5g na urina após 5h. Pacientes com lesão da mucosa do intestino proximal (onde a xilose é absorvida) tem uma diminuição importante deste substância, que passa a ser não detectável na urina ou em quantidades muito pequenas. A insuficiência pancreática exócrina não interfere com sua captação pelo intestino, pois a xilose não precisa de enzimas pancreáticas para ser absorvida, justificando o níveis urinários normais nesses pacientes. Supercrescimento bacteriano também reduz a absorção de xilose porque as bactérias catabolizam esta substância na luz intestinal. 4. Teste de Insuficiência Pancreática Exócrina Teste da Secretina Um cateter é posicionado no duodeno, possibilitando a coleta direta das secreções pancreáticas e dosagem de amilase, lipase, tripsina e bicarbonato. Antes da coleta ser realizada, o pâncreas é estimulado por uma injeção de secretina e/ou colecistoquinina. I. A injeção de secretina estimula a liberação de bicarbonato. II. A injeção de colecistoquinina estimula a liberação de tripsina, amilase e lipase. Por ser direto é o mais sensível para diagnosticar a insuficiência exócrina do pâncreas e se, o cateter estiver corretamente posicionado, os resultados falso-positivos virtualmente não existem. Teste caro e de difícil realização. 5. Testes de Exalação (Respiratórios) Teste de Exalação de Xilose Marcada (C14 –xilose) Supercrescimento Bacteriano Bastante sensível e específico. Baseia-se no fato de que os Gram negativos entéricos são capazes de catabolizar a xilose, liberando CO2. Após a administração de xilose oral marcada, a quantidade de CO2 radioativo exalado pela respiração é medida aos 30 e 60 minutos. Um aumento do CO2 radioativo diagnostica o supercrescimento bacteriano com acurácia em torno de 90%. Teste de Exalação do Hidrogênio (H2) Supercrescimento Bacteriano Intolerância à Lactose Supercrescimento Bacteriano (Teste da Lactulose): Os Gram-negativos entéricos fermentam carboidratos não metabolizados pelo homem, produzindo H2, que pode ser medido no teste respiratório. Após ingestão oral de lactulose o H2 é medido. Um valor acima de 20 ppm é considerado positivo. É fundamental que antes do teste o paciente não tenha fumado nas últimas 2h e feito lavagem bucal com antissépticos (para exterminar a flora oral). Intolerância à Lactose (Teste da Lactose): Lactose é um dissacarídeo e não consegue ser diretamente absorvida pela mucosa intestinal. A absorção final dos carboidratos necessita da ação de dissacaridases, como a lactase. Quando há lesão do epitélio intestinal (com perda da atividade das dissacaridases), a lactose fica ‘’perdida’’ no delgado, sendo eliminada através de uma diarreia osmótica. O teste exalação de H2, após ingestão de lactose é utilizado para determinar a possível deficiência de lactase. Se baseia no fato de que a lactose, quando não absorvida, fica sujeita à ação das bactérias intestinais, liberando H2 no ar exalado. Administra-se 25g de lactose oral e mede-se o H do ar exalado. Se houver aumento em relação aos níveis de H2 respiratórios prévios, é diagnosticado intolerância a lactose. 6. Cultura do Delgado O exame ‘’padrão ouro’’ para o diagnóstico do supercrescimento bacteriano é a cultura quantitativo do fluido aspirado do delgado. O intestino é cateterizado após jejum noturno (endoscopia ou sonda radiopaca) e, com medidas que garantam a esterilidade do processo, uma amostra é colhida e rapidamente levada ao laboratório. Em indivíduos normais, as culturas quantitativas raramente ultrapassam 104 UFC/ml no jejuno, ou 107 UFC/ml no íleo. Contagens superiores a 105 UFC/ml no aspirado jejunal já caracterizam hiperproliferação bacteriana, embora esta condição, corriqueiramente, determine contagens de 106 a 109 UCF/ml. Resultados falso-negativos podem ocorrer quando o crescimento bacteriano se instala de forma localizada no intestino. 7. Estudos Radiológicos O exame baritado chamado “trânsito de delgado” é realizado com radiografias obtidas após ingestão do sulfato de bário. Exame semelhante e de maior acurácia – enteróclise, em que o trânsito do delgado é feito após administração do bário por uma sonda introduzida na porção distal do duodeno. Também é possível realizar o trânsito de delgado por meio de TC com contraste oral e venoso, ou mesmo RM, métodos conhecidos como entero-TC e entero-RM, respectivamente. Informações que os exames de imagem pode fornecer em relação à investigação de um paciente com síndrome de má absorção: Detecção de calcificações pancreáticas (evidenciando pancreatite crônica); Achado de condições predisponentes para supercrescimento bacteriano, com diverticulose do delgado, alça cega cirúrgica (alça de delgado que não recebe o trânsito intestinal) ou semioclusão intestinal; Detecção de lesões da mucosa. Obs: na investigação de um paciente com diarreia crônica, a presença de floculação do bário, em estudo contrastado do delgado, é bastante sugestiva de síndrome disabsortiva. 8. Endoscopia e Biopsia do Delgado Biópsia é fundamental para o diagnóstico de muitas das condições intestinais que cursam com síndrome disabsortiva. Achados histológicos são patognomônicos em algumas condições, entretanto, para a maioria delas costuma ser apenas sugestivo, tendo um papel importante na montagemde um algoritmo diagnóstico. Nem todas as doenças entéricas têm um padrão de acometimento difuso e homogêneo, assim é importante se atentar a interpretação do material histopatológico. Maneira mais simples e disponível para se obter a biópsia do delgado é através da endoscopia digestiva alta. É feita uma inspeção na porção distal do duodeno, que pode apresentar ulcerações (linfoma), aspecto em pedra de calçamento (doença de Crohn) ou atrofia (doença celíaca). A ileocolonoscopia com biópsia colônica e do íleo terminal é o melhor exame para o diagnóstico da doença de Crohn. Endoscopia digestiva alta (gastroduodenoscopia) + ileocolonoscopia, diagnostica por biópsia a maioria das doenças que comprometem a mucosa intestinal. A biopsia também pode ser obtida utilizando-se uma cápsula perioral, conhecida como cápsula de Watson ou Crosby- Kugler. É acoplada a uma sonda ou pinça durante o processo de endoscopia digestiva alta. É possível também por meio da cápsula endoscópica wireless, que pode ajudar no diagnóstico diferencial das doenças que comprometem o intestino delgado. O paciente deglute uma cápsula descartável que possui um chip com capacidade de transmitir imagens coloridas a um receptor externo. Investigação de Síndrome Disabsortiva Suspeitar de síndrome disabsortiva no paciente com: Emagrecimento pronunciado – apesar do apetite mantido; Franca esteatorreia – fezes oleosas, mal cheirosas e que grudam no vaso. Nos casos oligossintomáticos, que se manifestam apenas com: Distensão abdominal; Diarreia crônica; Deficiências específicas de nutrientes (anemia ferropriva inexplicada, deficiência de B12), A pesquisa da gordura fecal está indicada, fazendo-se a triagem com o Sudam III e procedendo-se à pesquisa quantitativa nos casos positivos. Testes parasitológicos sempre devem ser solicitados. Coletam-se pelo menos 3 amostras de EPF em dias consecutivos, podendo-se acrescentar a pesquisa fecal de antígenos de Giardia e Ameba. Exames de sangue também devem ser solicitados: Dosagem de hemograma; Hepatograma; Lipidograma; Função renal; Bioquímica sérica cinética de ferro e vitaminas (incluindo B12 e vit. D). A hipocolesterolemia pode acompanhar a má absorção de gorduras, e a hipoalbuminemia grave (< 2,5 g/dl) acompanha a enteropatia perdedora de proteínas (ex.: estrongiloidíase, linfangiectasia, linfoma). Os exames complementares específicos para pesquisar a etiologia da síndrome disabsortiva devem ser selecionados de forma individualizada, de acordo com os dados clínicos da anamnese + exame físico. Na anamnese dirigida devem ser avaliados: História de cirurgia (gastrectomia, ressecção intestinal, reconstruções em alça cega). Dor abdominal recorrente (pancreatite crônica, doença de Crohn); Síndrome colestática; Radioterapia prévia (enterite actínica); História familiar positiva (doença celíaca, doença de Crohn); História de diarreia crônica com sangue, pus e muco (doença de Crohn, neoplasia); Presença de fatores de risco para HIV (parasitoses oportunistas, enteropatia induzida pelo HIV). Nos casos em que a etiologia da síndrome disabsortiva permanece desconhecida após essa etapa inicial, pode-se recorrer de a exames de imagem: Êntero-RM (opções: êntero-TC ou mesmo o tradicional trânsito de delgado) Endoscopias com biópsia (endoscopia digestiva alta com biópsias do duodeno distal e ileocolonoscopia com biópsias do íleo terminal).
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