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LEPTOSPIROSE

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1 Melinna Cardoso – P6 
LEPTOSPIROSE 
INTRODUÇÃO 
 Zoonose de distribuição mundial: 
o A zoonose mais comum: 1 milhão de casos 
anuais, 58.900 mortes anuais. 
 Doença infecciosa febril e de início abrupto. 
 Homem: hospedeiro terminal e acidental. 
EPIDEMIOLOGIA: 
 Importante problema de saúde pública no Brasil: 
2000-2010: 
o 63.302 casos 
o 6.064 mortes 
 Sul e sudeste; 
 Área urbana: condições de habitação. 
CONCEITO 
Doença infecciosa febril de início abrupto e espectro 
variado: desde formas inaparentes (90%) até formas 
graves. 
AGENTE ETIOLÓGICO 
 Espiroquetas patogênicas do gênero Leptospira. 
 0.1 μm de diâmetro por 6 a 20 μm de 
comprimento; 
 Extremidades finas encurvadas ou em forma de 
gancho; 
 Helicoidal; 
 Grande motilidade: rotação de dois flagelos axiais 
subjacentes à bainha da membrana, inseridos em 
extremidades opostas da célula 
Obs: Extremamente móveis, penetram com facilidade 
em barreiras orgânicas. 
 Espécies: L. interrogans (patogênica para homens e 
animais) e L. biflexa. 
o Existem mais de 250 espécies sorológicas 
denominadas sorovares. 
o 21 espécies genômicas, 11 
comprovadamente patogênicas. 
RESERVATÓRIO E PORTADORES 
 Principal reservatório: roedores sinantrópicos das 
espécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato de 
esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou rato 
preto) e Mus musculus (camundongo). 
o Ao se infectarem, não desenvolvem a 
doença, tornam-se portadores e 
“guardam” a leptospira nos rins e a 
eliminam no ambiente, contaminando 
água, solo e alimentos. 
 Outros reservatórios de importância são: caninos, 
suínos, bovinos, equinos, ovinos, caprinos, animais 
silvestres. 
TRANSMISSÃO 
Direta: contato direto com urina ou tecidos de animais 
infectados. 
Indireta: contato com solo... 
CICLO EPIDEMIOLÓGICO 
 Importante perguntar profissão do paciente; 
o Atividades de risco: trabalho em minas, 
colheita de arroz, trabalhadores de 
abatedouros, açougueiros, ordenadores de 
leite, contato com estábulos, veterinários, 
cuidadores de cães, contato com esgotos, 
pescaria, natação. 
PICO DE INCIDENCIA 
Regiões tropicais: estação de chuvas ou após as 
enchentes. 
Regiões temperadas: final do verão e início do outono. 
LEPTOSPIROSE 
VIAS DE PENETRAÇÃO: 
 Pele lesada; 
 Pele íntegra (quando imersa durante muito tempo 
em água contaminada); 
 Mucosa íntegra. 
VIAS DE ELIMINAÇÃO: 
 Urina. 
Período de incubação: 2 a 3 dias (geralmente entre 5 a 
14 dias) – média de 10 dias. 
FISIOPATOGENIA: 
 Após a invasão, ocorre disseminação 
hematogênica para todos os órgãos, incluindo o 
SNC: níveis tão altos quanto 106 leptospiras por 
mililitro de sangue; 
 Migração transendotelial é facilitada por uma 
vasculite sistêmica: contribui para o amplo 
espectro clínico da doença. 
 Lesão multiorgânica em casos graves. 
FATORES DE VIRULÊNCIA 
 
2 Melinna Cardoso – P6 
 Produção de endotoxinas: Sistema imune inato 
humano reconhece mal LPS da Leptospira. O 
receptor Toll-like humano (TLR) 4, que responde a 
concentrações extremamente baixas de LPS Gram 
negativo (endotoxina), parece não ser capaz de se 
ligar ao LPS da leptospira. 
 Toxinas hemolíticas: Produzindo dano tecidual 
direto. Podem atuar como esfingomielinases, 
fosfolipases, ou proteínas formadoras de poros. 
 Superantígenos: capacidade de superestimar a 
resposta imune, causando ativação inespecífica de 
células T em indivíduos susceptíveis (antígeno 
leucocitário humano (HLA) DQ6). 
 Adesinas e outras proteínas de superfície. 
HOSPEDEIRO 
 Fatores genéticos: HLA DQ6 (susceptibilidade); 
 Liberação de citocinas; 
 Imunocomplexos. 
Resultado: Vasculite sistêmica mediada por citocinas 
e resposta inflamatória. 
OBS: Imunidade adquirida pós-infecção é sorovar-
específica. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 Doença subclínica seguida de soroconversão 
 Ou duas síndromes clínicas: 
o Doença sistêmica auto-limitada (90% das 
infecções) 
o Doença multissistêmica grave: Potencialmente 
fatal, acompanhada de alguma combinação 
de: Insuficiência renal Insuficiência hepática e 
Pneumonite com diátese hemorrágica 
FASES CLÍNICAS 
1. Leptospirose anictérica: gravidade variável, 
mas dificilmente o indivíduo complica; 
2. Leptospirose ictérica: pode levar à hemorragia, 
miocardite e insuficiência renal. 
FASE AGUDA 
Septicêmica (leptospirosemia) – 5 a 7 dias. 
 Começa abruptamente com sintomas 
inespecíficos: 
 Febre alta, remitente (38° a 40°) e dor de cabeça; 
 Calafrios, tremores e mialgias; 
 Sufusão conjuntival (vermelhidão sem exsudato); 
 Dor abdominal; 
 Anorexia, náuseas e vômitos; 
 Diarreia; 
 Dor de garganta e faringite; 
 Hepatoesplenomegalia, adenomegalia – menos 
comum; 
 Erupção cutânea maculopapular pré-tibial 
(raramente). 
Sufusão conjuntival e sensibilidade muscular, 
notadamente na panturrilha e região lombar são os 
achados físicos mais característicos, mas ocorrem em 
uma minoria de casos. 
OBS: Defervescência em lise – 1 a 2 dias 
FASE IMUNE – 4 A 30 DIAS 
Forma anictérica: Evolução geralmente bifásica 
(gravidade variável) 
 Febre; 
 Meningismo; 
 Uveíte anterior e/ou posterior; 
 Paralisia de nervos cranianos; 
 Detecção de anticorpos específicos, leptospirúria. 
Forma ictérica: Evolução geralmente monofásica 
(gravidade é elevada) 
 Sintomas descritos anteriormente: em maior 
intensidade + Icterícia rubínica (coloração 
alaranjada) 
 Sinais de gravidade comuns: 
o Insuficiência renal; 
o Manifestações hemorrágicas 
Forma icterohemorrágica (Síndrome de Weil): 
 Icterícia rubínica (colestase); 
 Insuficiência renal aguda (nefrite 
tubulointersticial); 
 Fenômenos hemorrágicos (Devido à vasculite 
sistêmica, agravada pela plaquetopenia): 
o Petéquias e equimoses; 
o Hemorragia pulmonar (Síndrome da 
Hemorragia Pulmonar Severa). Sempre 
suspeitar se o paciente apresentar tosse 
ou angústia respiratória; 
o Hemorragia digestiva (hematêmese, 
melena, enterorragia). 
 Comprometimento cardíaco: 
o Miocardite; 
o Alterações eletrocardiográficas. 
OBS: Tríade de icterícia, insuficiência renal e 
hemorragias (pulmonar). 
 
3 Melinna Cardoso – P6 
 
 
 
SINAIS CLÍNICOS DE ALERTA 
Indicam gravidade e necessidade de internação 
hospitalar: 
1. Dispneia, tosse, taquipneia; 
2. Alterações urinárias, geralmente oligúria; 
3. Fenômenos hemorrágicos, incluindo hemoptise e 
escarros hemoptoicos; 
4. Hipotensão; 
5. Alteração do nível de consciência; 
6. Vômitos frequentes; 
7. Arritmias; 
8. Icterícia. 
CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO EM UTI 
 Dispneia ou taquipneia (FR> 28 ipm); 
 Hipoxemia (PO2 < 60 mmHg em ar ambiente); 
 Escarros hemoptoicos ou hemoptise; 
 Tosse seca persistente; 
 Infiltrado em radiografia de tórax, com ou sem 
manifestações de hemorragia pulmonar 
(hemoptoicos ou hemoptise); 
 Insuficiência renal aguda; 
 Distúrbios eletrolíticos e ácido-base que não 
respondem à reposição intravenosa de volume 
e/ou eletrólitos; 
 Hipotensão refratária a volume; 
 Arritmias cardíacas agudas; 
 Alteração do nível de consciência; 
 Hemorragia digestiva. 
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 
Alterações mais comuns: 
 Hemograma: 
o Leucocitose com neutrofilia e desvio à 
esquerda 
o Plaquetopenia 
o Anemia 
 Bilirrubinas totais elevadas com predomínio da 
fração direta 
 Aumento de ureia e creatinina 
 Transaminases normais ou elevadas (3 a 5 vezes) 
o Geralmente não ultrapassam 500 UI/dL 
o TGO (AST) pode estar mais elevada que TGP 
(ALT) 
 CPK elevada 
 Potássio sérico normal ou diminuído 
o Potássio elevado significa pior prognóstico 
 Gasometria arterial: 
o Acidose metabólica e hipoxemia 
 Sumário de urina: 
o Leucocitúria, proteinúria, cilindrúria. 
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ESPECÍFICO 
Métodos sorológicos: melhor alternativa. 
O Teste de microaglutinação (MAT) é o padrão - ouro 
Critério clínico-laboratorial: presença de sinais e 
sintomas compatíveis associadosa um ou mais dos 
seguintes resultados de exames laboratoriais: 
 Teste Elisa-IgM reagente (somente Elisa-IgM não 
dá o diagnóstico); 
 Soroconversão na reação de microaglutinação, 
entendida como uma primeira amostra (fase 
aguda) não reagente e uma segunda amostra (14-
21 dias após, máximo de 60 dias) com título maior 
ou igual a 1:200; 
 Aumento de 4 vezes ou mais nos títulos de 
microaglutinação entre duas amostras sanguíneas 
 
4 Melinna Cardoso – P6 
coletadas com um intervalo de 14 a 21 dias, 
(máximo de 60 dias); 
 Quando não houver disponibilidade de duas 
amostras, um título maior ou igual a 1:800 na 
microaglutinação confirma o diagnóstico; 
 Isolamento da Leptospira (em sangue, líquor, urina 
ou tecidos) ou detecção de DNA de leptospira 
patogênica por PCR; 
 Imunohistoquímica positiva para leptospirose em 
pacientes suspeitos que evoluíram para óbito. 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
 Formas anictéricas: 
Dengue; 
Influenza (síndrome gripal); 
Malária; 
Riquetsiosis; 
Doença de Chagas aguda; 
Toxoplasmose; 
Febre tifoide; 
Meningites. 
 Formas ictéricas: 
Hepatites virais agudas; 
Febre amarela; 
Sepse; 
Dengue (FHD); 
Colangites; 
Malária (formas graves). 
TRATAMENTO 
Antibioticoterapia: Iniciar em qualquer fase da 
doença, embora sua eficácia seja melhor na primeira 
semana do início dos sintomas. 
Formas moderadas: 
o Doxiciclina – 100 mg de 12 em 12 horas 
o Amoxicilina - 500 mg de 8 em 8 horas 
Formas graves: 
o Penicilina G cristalina – 1.500.000 UI de 6 em 6 
horas Ampicilina – 1 g IV a cada 6 horas 
o Ceftriaxone – 1 a 2 g IV a cada 24 horas 
o Cefotaxima – 1 g IV a cada 6 horas 
Duração do tratamento: 7 a 10 dias 
 Hidratação vigorosa EV (SF 0,9% ou RL); 
o Furosemida se disfunção renal oligúrica; 
o Reposição de K+ se hipocalemia; 
 Terapia renal substitutiva; se necessário; 
 Assistência ventilatória, se necessário; 
 Transfusão de hemácias e plaquetas, se necessário. 
PROFILAXIA 
 Controle de reservatórios; 
 Melhora de infraestrutura; 
 Educação em saúde; 
 EPI para profissionais expostos; 
 Vacinação de animais; 
 Profilaxia; 
 Doxiciclina 200mg VO 1x/semana: Exposição de 
risco.

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