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Nas primeiras semanas após a fertilização, o zigoto sofrerá não só sucessivas divisões celulares (clivagens), mas também diferenciações celulares. As clivagens acontecem durante todo o trajeto do embrião até o útero, onde ocorrerá também a primeira diferenciação celular com a formação do blastocisto. Entre o fim da primeira semana e da segunda semana de desenvolvimento, o embrião irá se implantar na parede uterina e a sua massa celular interna sofrerá ainda mais modificações, dando origem à um embrião bilaminar, formado por epiblasto e hipoblasto. Conversão do disco embrionário bilaminar em um disco trilaminar com a formação das camadas germinativas ectoderma, mesoderma e endoderma; Inicia-se com a formação da linha primitiva e estabelecimento da orientação axial; Período de susceptibilidade no desenvolvimento; Papel da expressão gênica diferencial e sinalização celular na determinação dos destinos celulares. LINHA PRIMITIVA O principal evento da terceira semana de gestação, a gastrulação, começa com a formação de uma estrutura longitudinal na linha mediana, a linha primitiva, do epiblasto próximo à extremidade caudal do disco embrionário bilaminar. A linha primitiva é uma migração das células do epiblasto para as regiões mediana caudal do embrião (região posterior), opostamente à região cefálica ou cranial do feto. A extremidade cranial da linha primitiva se expande em uma estrutura denominada nó primitivo (centro sinalizador para movimentação e diferenciação celular). E, ao longo dessa linha primitiva, há também o sulco primitivo, que permite a movimentação das células do epiblasto para a posterior formação das camadas germinativas. A linha primitiva é adjacente à fosseta primitiva, uma invaginação no nó primitivo. No momento da formação da linha primitiva há a formação também do eixo do embrião, pois como essa linha é formada na região mediana caudal, a região oposta a ela será a região cranial. Na região cranial, posteriormente à formação da linha primitiva, observa- se a formação da membrana orofaríngea que, futuramente, será a região da boca. A região dorsal será aquela voltada para a cavidade amniótica (epiblasto) e a região ventral aquela onde encontra-se o hipoblasto. FORMAÇÃO DO EMBRIÃO TRILAMINAR A partir da linha primitiva as células do epiblasto ingressam para formarem as primeiras camadas germinativas. Após a formação da linha primitiva, as primeiras células do epiblasto migram para dentro dela para deslocar o hipoblasto e ocupar o lugar dele, dando origem ao endoderma (folheto germinativo ventral – intestino primitivo). A segunda migração de células do epiblasto para dentro da linha primitiva dará origem ao mesoderma, entre o endoderma e o epiblasto. Finalmente, as últimas células que sobram no epiblasto irão se diferenciar, dando origem ao último folheto germinativo, o ectoderma. TRANSIÇÃO EPITÉLIO-MESENQUIMAL Para que as migrações das células do epiblasto ocorram é necessária que aconteça a transição epitélio- mesênquima. As células do epiblasto, inicialmente, Embriologia Gastrulação Beatriz Fernandes possuem características epiteliais e, quando elas iniciam as migrações, elas ingressam para dentro da linha primitiva como células individuais. De células epiteliais elas se transformam em células em garrafa e, finalmente, em células mesenquimais, sendo capaz de migrar individualmente e interagir com o ambiente. Algumas moléculas que são modificadas durante a transição epitélio-mesênquima são as e-caderinas, que se transformam em n-caderina, permitindo o contato e o movimento das células mesenquimais pela matriz extracelular. No estágio de formação do endoderma, as células que migram para dentro da linha primitiva sofrem a transição epitélio-mesenquimal e, posteriormente, sofrem uma transição reversa para formarem uma camada epitelial, o endoderma. CAMADAS GERMINATIVAS O ectoderma (camada externa) dará origem não só à parte externa do indivíduo com, por exemplo, a pele, mas também ao sistema nervoso e às células pigmentadas do organismo. O mesoderma (camada intermediária) dará origem aos músculos, ossos, sistemas circulatório e reprodutor. Já o endoderma (camada interna) dará origem aos tratos digestório e respiratório. DINÂMICA DA LINHA PRIMITIVA A linha primitiva, por ser uma estrutura dinâmica, inicia a sua formação na região caudal do embrião e cresce em comprimento até atingir entre 60% e 75% de todo o embrião. No entanto, ela regride, posteriormente, trazendo o nó primitivo com ela. E é durante o crescimento e a regressão total dessa linha que ocorre o processo de gastrulação. FORMAÇÃO DO MESODERMA INTRAEMBRIONÁRIO Mesoderma cardiogênico; Mesoderma paraxial (somitos); Mesoderma intermediário; Mesoderma da placa lateral; Processo notocordal. Iniciando no 16o dia, algumas células do epiblasto migram através da linha primitiva, estendem‑se pelo espaço entre o epiblasto e o endoderma definitivo nascente e formam uma terceira camada germinativa, o mesoderma intraembrionário. Essas células migram bilateralmente a partir da linha primitiva e formam inicialmente uma camada de células frouxas entre o epiblasto e o endoderma. Logo depois, a camada se reorganiza para formar as quatro subdivisões principais do mesoderma intraembrionário: o mesoderma cardiogênico, o mesoderma paraxial, o mesoderma intermediário (também denominado nefrótomo) e o mesoderma da placa lateral. Além disso, uma quinta população de células mesodérmicas migra cranialmente a partir do nó primitivo para formar um tubo de paredes espessas na linha média, denominado processo notocordal. Durante a 3a semana do desenvolvimento, duas tênues depressões se formam no ectoderma, uma na extremidade cranial do embrião e outra na extremidade caudal, atrás da linha primitiva. No final da terceira semana, o ectoderma nessas áreas fusiona‑se intimamente com o endoderma subjacente, excluindo o mesoderma e formando membranas bilaminares. A membrana cefálica é denominada membrana orofaríngea e a membrana caudal é a membrana cloacal. Posteriormente, as membranas orofaríngea e cloacal passam a ser as extremidades cegas do tubo intestinal. A membrana orofaríngea se rompe na quarta semana para formar a abertura da cavidade oral, enquanto a membrana cloacal se desintegra mais tarde, na sétima semana, para formar as aberturas do ânus e dos tratos urinário e genital. PROCESSO NOTOCORDAL E NOTOCORDA A notocorda fará parte do mesoderma, pois será gerada a partir das células do epiblasto que ingressaram pelo nó primitivo e se posicionaram entre o ectoderma e o endoderma. Ela será considerada um mesoderma axial, pois será formada na região medial do embrião. As células que formarão o processo notocordal ingressam pelo nó primitivo e migram cefalicamente entre o endoderma e o ectoderma até a membrana bucofaríngea. Posteriormente, ocorrerá uma cavitação dentro do processo notocordal denominada canal notocordal. Após a cavitação desse processo notocordal, ele irá se fundir ao endoderma por um breve período e, posteriormente, irá se separar novamente, dando origem a notocorda. A notocorda serve de base para o desenvolvimento do esqueleto axial e indica o local dos futuros corpos vertebrais. Parte dessa notocorda irá se degenerar quando os corpos vertebrais se formarem e persistir como o núcleo pulposo das vértebras até a infância, quando será substituída por células mesodermais. A principal função da notocorda é a indução e geração de padrões que irão influenciar não só na diferenciação das células do mesoderma, ao redor da notocorda, mas também dos tecidos adjacentes, o ectoderma e endoderma. FORMAÇÃODO ECTODERMA As células que permanecem no epiblasto dão origem ao ectoderma do embrião. Ele irá se diferenciar em placa neural (futuro tubo neural) e ectoderma cutâneo, na região periférica. HIERARQUIA NO DESENVOLVIMENTO O número de tipos celulares no embrião aumenta à medida que o desenvolvimento prossegue. Os novos tipos celulares surgem através de uma série de decisões hierárquicas. Essas decisões tendem a ser irreversíveis, havendo uma restrição progressiva dos possíveis destinos de uma célula, bem como do seu potencial ao longo do desenvolvimento. O que faz um tipo celular ser diferente de outro? Expressão gênica diferencial essencial à diferenciação celular durante a gastrulação; O destino celular é progressivamente restringido e normalmente irreversível; Diferenciação regulada no tempo e espaço; Gastrulação: Movimentos morfogenéticos quebram a simetria esférica do blastocisto, conferem novos microambientes para que a indução tenha lugar; Folhetos germinativos e posicionamento relativo das células no embrião essenciais na determinação do percurso de determinação/diferenciação celulares. DIFERENCIAÇÃO CELULAR A indução de um tipo celular não é dependente de uma única sinalização, mas de uma combinação de sinais. Portanto, vários indutores e repressores, ao mesmo tempo, combinam a sinalização para darem origem a diferentes tipos celulares. Além disso, a memória celular também influencia para essa diferenciação. GRADIENTES MORFÓGENOS Os morfógenos são sinais secretados pelas células e vão atuar de acordo com o gradiente de concentração. Existe um gradiente de concentração a partir da fonte que produziu esse sinal, quanto mais próximo da fonte, maior a concentração desse sinal, quanto mais longe, menor a concentração. A informação contínua contida em um gradiente de concentração é convertida em destinos celulares diferentes através de limiares de ativação. A localização da célula no embrião é determinante para o seu destino. O ORGANIZADOR O nó primitivo, ou organizador, é uma importante região de sinalização e, por isso, é denominado organizador do embrião. DINÂMICA DA LINHA PRIMITIVA A linha primitiva se inicia na região caudal e cresce em direção a região cefálica e, após chegar à 60% do tamanho do embrião, ela regride. Ao regredir, algumas células dessa linha primitiva formarão o broto caudal, células mesenquimais importantes para a formação dos membros posteriores e das vértebras sacrais. Qualquer alteração nesse broto caudal pode dar origem à algumas síndromes como, por exemplo, a displasia caudal. INDUÇÃO LATERALIDADE - DIREITA E ESQUERDA A assimetria esquerda-direita é estabelecida durante a gastrulação, através de interações celulares. O nó primitivo expressa a proteína nodal que é responsável por realizar uma cascata de sinalização somente no lado esquerdo do embrião. As células do lado esquerdo que apresentam receptores para nodal são as que vão sofrer maior influência dessa proteína. A falta de nodal no lado direito vai estimular a produção de outros fatores. Foi visto que na região próxima a linha primitiva existem células ciliadas que fazem com que sinais do fluido sejam deslocadas para a esquerda, mantendo uma concentração de sinais preferencialmente no lado esquerdo da linha. MAPA DO DESTINO Os mapas do destino esperado mostram que as células de diferentes camadas germinativas e de diferentes subdivisões dentro das camadas germinativas são parcialmente segregadas umas das outras no epiblasto e na linha primitiva.
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