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aula2: Processo de planejamento escolar necessidade de atualização contínua da ação educacional

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Disciplina: Planejamento escolar e avaliação da aprendizagem
Aula 2: Processo de planejamento escolar – necessidade de
atualização contínua da ação educacional
Apresentação
A sociedade contemporânea está cada vez mais dinâmica: com as inúmeras redes
sociais, as informações se tornaram mais instantâneas.
Por exemplo, você já parou para pensar na mudança que o WhatsApp trouxe para o
mundo da comunicação e para a vida das pessoas? Quantos textos você produz e
reproduz por dia utilizando esse aplicativo?
O fato é que o aluno contemporâneo não aceita mais a simples condição de
expectador, de receptor do conhecimento transmitido pelo professor. Ele também
deseja produzir no ambiente escolar e acadêmico, como o faz nas mídias sociais.
E como fica a escola nesse contexto? A instituição de ensino pode continuar operando
como fazia há 50 ou 60 anos, quando meios como esses não existiam?
Essas são apenas algumas perguntas que podemos fazer no contexto educacional da
atualidade. Para respondê-las, é necessário reconhecer a importância do
planejamento escolar e das ações contínuas de atualização do fazer pedagógico na
escola.
Nesta aula, trataremos justamente de temas como estes: gestão escolar, liderança e
administração democrática, planos e projetos, construção participativa, mudanças e
diagnósticos escolares.
Objetivo
Analisar os desafios de atualização da sociedade contemporânea para a prática do
planejamento pedagógico.
Reflexões sobre a profissão
docente
Uma das particularidades da sociedade contemporânea é a função
desempenhada pelo conhecimento. Essa característica é tão forte que nosso
tempo histórico é conhecido como era do conhecimento.
O paradigma econômico dessa era não estar mais localizado no capital, no
trabalho ou nas matérias-primas, e sim na aquisição e no uso do
conhecimento contemporâneo, que é acelerado, flexível e interdisciplinar .
Assim, o conhecimento de uma área específica de estudo e
de atuação não pode se fechar ou se encerrar em si
mesmo. Ele precisa dialogar com outros campos do saber
para se tornar completo e mais adequado às exigências da
sociedade contemporânea.
A centralidade posta no conhecimento o faz um elemento fundamental em
nossa sociedade. E como vemos, ele precisa ser concebido a partir de uma
visão holística que o considere em sua totalidade.
Essa nova perspectiva de concepção do conhecimento na contemporaneidade
rompe com um antigo e clássico paradigma – cartesiano –, que entende os
processos a partir da lógica da certeza, da linearidade e da simplificação do
todo em suas partes.
No entanto, as incertezas do mundo contemporâneo rompem com essa lógica
e exigem um novo paradigma que responda, de maneira satisfatória, as
questões postas pela realidade e pela diversidade humana, especialmente
pela educação.
Dessa maneira, começou a crise dos paradigmas.
1
Mudanças de paradigmas
O modelo cartesiano começou a ser questionado e a perder, gradativamente,
sua capacidade de explicar os fatos e os fenômenos nas Ciências Humanas e
Sociais.
Consequentemente, a concepção de educação iniciou um processo de
transformação em um movimento contrário aos parâmetros impostos e
circunscritos pela ciência moderna.
A ideia era buscar respostas diferentes para suas mais variadas e complexas
questões, que não convergissem em direção à ordem cartesiana – estática e
mecânica.
Emergiram, portanto, várias correntes
pedagógicas contemporâneas, entre elas o
paradigma da complexidade (MORIN, 2001), que
compreende a educação e as relações do homem
com o mundo de outro ângulo, diferente da
visão newtoniana.
Esse paradigma busca a superação da lógica linear cartesiana e atende a uma
nova concepção, que tem como eixo central e articulador a totalidade do
conhecimento e dos processos.
Além disso, compreende como fundamental a interconexão entre as várias
áreas do conhecimento e as esferas sociais, a partir de nova visão de homem,
de sociedade e de mundo.
Como notamos até agora, o conhecimento sofreu mudanças. Atualmente, é o
ponto central de uma sociedade.
Como a escola e a universidade são lugares de aquisição do saber, podemos
deduzir que esses espaços demandam mudanças contínuas para se alinhar
com propostas mais contemporâneas de ensino e aprendizagem.
É sobre isso que discutiremos a partir de agora.
Conhecimento contemporâneo e
planejamento escolar
A forma como vemos o conhecimento no interior da escola influencia as
práticas pedagógicas nela ocorridas, sobretudo o que ensinamos e
aprendemos. Isso está relacionado diretamente ao planejamento escolar.
O conhecimento contemporâneo expressa algumas características peculiares,
tais como:
Crescimento acelerado;
Complexidade de conteúdo;
Rápida obsolescência.
Por isso, há aumento contínuo do volume da ciência, o que exige o
surgimento de novas habilidades e competências no meio escolar.
Diante desse cenário, é necessário realizar a interlocução das várias áreas
para que, juntas, consigam respostas para os problemas complexos
característicos desse tempo.
 Fonte: Shutterstock

Saiba mais
Disso resulta a importância do conceito de transversalidade. Para saber
mais sobre o assunto, assista ao vídeo
<https://www.youtube.com/embed/VVAxV1vjqBk> .
Mais adiante, vamos entender melhor a relação entre termos como esse,
muito utilizados no ensino.
Paradigma holonômico na
educação
Pensar em educação a partir das características expostas nos encaminha a
refletir sobre a necessidade de percebermos o mundo e suas relações fora da
lógica mecanicista do paradigma cartesiano.
Muitas teorias têm surgido ao longo dessa reflexão. Entre as mais discutidas
no meio educacional, aquelas que mais ganharam destaque percebem o
homem e sua realidade como um todo, e não apenas as divisões em partes. 
Essas teorias vieram dos paradigmas holonômicos, que
interpretam a realidade a partir do todo. Nessa visão, a
aprendizagem é considerada fora da lógica clássica da
divisão, ou seja, é percebida em sua totalidade.
Essa perspectiva muda a postura do professor e de sua prática pedagógica,
pois o processo de aprendizagem não é mais visto como acúmulo, e sim como
interlocução entre os vários tipos de saber.
 Fonte: Shutterstock
A partir do viés holonômico, foram estabelecidas algumas premissas. São
elas:
1
Educar não é mais apenas transmitir a informação de um conjunto organizado
de conhecimentos.
2
A função social e pedagógica do professor não se limita à exposição oral do
conteúdo.
3
Aprender não é a memorização do assunto tratado na aula ou lido no livro
adotado pela disciplina.
4
Avaliação não é a reprodução da informação coletada na aula e verificada em
uma prova para testar a capacidade de assimilação do estudante.
5
Os processos de planejamento e avaliação não podem mais estar desconexos
de todos os outros conhecimentos vivenciados pelo aluno – dentro e fora do
espaço acadêmico.
Em síntese, a educação precisa estar centrada no reconhecimento do sujeito
social e em sua importância, a fim de que os processos de aprendizagem
aconteçam de forma adequada.
Vejamos como isso é possível.
Transformações no processo de
ensino e aprendizagem
O aprendizado acontece a partir da criação de ambientes de aprendizagem
que favoreçam a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade.
Por isso, a mediação docente na educação contemporânea
pressupõe uma mudança paradigmática e epistemológica do
processo de aprendizagem e de ensino, uma vez que altera
os papéis sociais dos envolvidos e deles exige:
Novos comportamentos;
Capacidade de comunicação;
Produção compartilhada;
Associação de ideias e conceitos;
Diálogo permanente;
Reflexões éticas;
Corresponsabilidade no processo de aprendizagem.
Dessa maneira, habilidades anteriormente privilegiadas no
espaço educacional – como, por exemplo, memorizaçãoou
execução programada – perdem espaço para outras de
natureza cognitiva mais elevada, tais como:
Criação;
Argumentação;
Articulação de pensamentos e ideias;
Julgamentos e tomada de decisões coerentes e éticas com as situações
propostas.
Portanto, educar na atualidade é incentivar que os alunos
dialoguem com o conhecimento e o interpretem.
Para Behrens (2005), a aprendizagem deve partir do prisma da colaboração e
se assenta sobre quatro pilares:
Aprender a conhecer
Relacionado ao prazer em descobrir, ter curiosidade.
Aprender a viver junto
Capacidade de compreender o outro.
Aprender a fazer
Habilidades do trabalho em grupo.
Aprender a ser
Baseado nas novas exigências sociais.
Isso tudo envolve questões já mencionadas anteriormente e tão importantes
para o ensino.
Vamos entendê-las melhor?
Perspectivas holísticas da
educação
A temática em torno das perspectivas holísticas da educação provoca
discussões acaloradas no meio educacional, pois se conectam com as
seguintes categorias de complexidade:
Interdisciplinaridade
Refere-se, dentro do contexto do paradigma holonômico, à interconexão
entre as várias disciplinas do currículo ou das áreas de estudo. Mas não
há dissolução das matérias, ao contrário: sua individualidade é mantida. 
 
Em outras palavras, cada disciplina, a partir de sua perspectiva e
interpretação da realidade, oferece intervenções diferentes para a
constituição dos conhecimentos, que passam a ser, então, complexos e
múltiplos.
Transdisciplinaridade
Um pouco acima da interdisciplinaridade, trata-se de novo enfoque
científico e cultural de interpretação da realidade, da vida e do homem. 
 
Essa proposta tenta superar o entendimento fragmentado, proposto pela
ciência moderna, e incentiva conexões entre os diversos saberes para
criar uma visão contextualizada do conhecimento, do cotidiano e do
mundo. 
 
A metodologia transdisciplinar requer que os professores ultrapassem os
limites epistemológicos por meio de atitudes transversais, da atuação nos
diferentes níveis da realidade e do diálogo constante entre as inúmeras
áreas do conhecimento.
Como já sabemos, essas perspectivas exigem a interlocução entre vários saberes, e
trabalhar dentro deles demanda o uso de metodologias de ensino projetadas a partir
de conceitos holísticos. Alguns desses métodos incluem:
Estudos de caso;
Solução de problemas;
Livre discussão;
Temas geradores e projetos.
Essa é a proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) , como veremos2
a seguir.
Base Nacional Comum Curricular
(BNCC)
A BNCC foi instituída pela Resolução CNE/CP nº 2/2017, que afirma:
Art. 8º 
Os currículos, coerentes com a proposta pedagógica da instituição ou rede de ensino,
devem adequar as proposições da BNCC à sua realidade, considerando, para tanto, o
contexto e as características dos estudantes, devendo:
I. Contextualizar os conteúdos curriculares, identificando estratégias para apresentá-
los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significativos, com base
na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens se desenvolvem e são
constituídas;
II. Decidir sobre formas de organização dos componentes curriculares – disciplinar,
interdisciplinar, transdisciplinar ou pluridisciplinar – e fortalecer a competência
pedagógica das equipes escolares, de modo que se adotem estratégias mais
dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da
aprendizagem; [...].
A partir do ano letivo de 2018, todas as escolas
(públicas ou privadas) deverão pensar em seus
planejamentos com base nas diretrizes expostas na
BNCC.
Embora o prazo para essa implementação nos currículos passe a valer,
obrigatoriamente, a partir de 2020, o ideal é que as escolas já comecem a modificar
suas práticas pedagógicas a partir de agora.
Todos os currículos de qualquer rede pública e particular do Brasil precisam conter
esses conteúdos, o que altera e alcança o processo de planejamento escolar e
didático.
Vamos conhecer os requisitos necessários para que isso aconteça.

Saiba mais
Antes de encerrar seus estudos, veja quais são as Competências gerais da
nova base curricular <galeria/aula2/docs/doc1.pdf> .
Atividade
1. Sobre o paradigma da modernidade, assinale (V) para as afirmativas
verdadeiras e (F) para as falsas:
a) Estabelece um instrumento conceitual que visualiza a realidade a partir de
vários prismas e de inúmeras inter-relações.
b) Sob o prisma cartesiano – Penso. Logo, existo. –, considera as ciências sob o
modelo da racionalidade.
c) Entende a realidade e seus entrelaçamentos a partir da perspectiva da
contextualização e interpenetração de áreas do conhecimento.
d) No meio acadêmico, podemos entendê-lo como organização fixa dos
conteúdos e dos métodos quantitativos, e supervalorização do currículo.
e) Determina o modelo disciplinar do conhecimento e do ensino.
2. Assinale a opção que melhor descreve a transversalidade:
 a) Fazer pedagógico que supõe um eixo integrador – objeto de conhecimento,
projeto de investigação ou plano de intervenção.
 b) Forma diferente de visualizarmos o conhecimento. Trata-se de ação
simultânea de uma série de disciplinas em torno de uma temática comum.
 c) Recurso utilizado pelo homem para responder a seus anseios na busca de
soluções que não se enquadram ao esquema complexo do conhecimento.
 d) Nova maneira de fazer ciência e de nos relacionarmos com o conhecimento.
Trata-se de princípio teórico, a partir do qual emanam outras propostas práticas,
metodológicas e pedagógicas.
 e) Método didático caracterizado pela presença de um axioma comum a um
grupo de disciplinas conexas, definidas no nível hierárquico imediatamente
superior, o que introduz a noção de finalidade.
3. Determinada questão perpassa as fronteiras epistemológicas de cada
disciplina e constrói um novo saber por meio das ciências – um conhecimento
integrado em função da humanidade –, resgatando as relações de
interdependência, pois a vida se constitui nesses vínculos mantidos pelo
indivíduo com o meio ambiente. 
 
A isso chamamos de:
 a) Disciplinaridade
 b) Multidisciplinaridade
 c) Intradisciplinaridade
 d) Interdisciplinaridade
 e) Transdisciplinaridade
Notas
Interdisciplinar 1
Conhecimento produzido a partir da interlocução entre uma ou mais disciplinas e
áreas do saber.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) 
Documento nacional que determina os conhecimentos essenciais que todos os alunos
da Educação Básica devem aprender, ano a ano, independente do lugar onde moram
ou estudam.
Para saber mais sobre o assunto, acesse o Portal da BNCC
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/> .
Referências
BEHRENS, M. A. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis:
Vozes, 2005.
MORIN, E. (Org.). A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
Próximos Passos
• Importância do planejamento escolar participativo para os processos educacionais;
• Função social do gestor escolar para a promoção desse tipo de planejamento na
escola.
Explore mais
Sugestões de vídeo 
• Base Nacional Comum Curricular – Educação é a base
<https://www.youtube.com/watch?v=dRTN_4qWGcs> ; 
• BNCC em profundidade – movimento pela Base Nacional Comum
<https://www.youtube.com/watch?v=-wtxWfCI6gk> . 
Sugestões de leitura 
• Interdisciplinaridade: o que é isso?
<http://www.miniweb.com.br/educadores/artigos/pdf/interdisciplinaridad
e.pdf> ; 
• A proteção do conhecimento na universidade
<http://universitec.ufpa.br/arquivos/prot_conhec_universid.pdf> ; 
2
• Interdisciplinaridade na BNCC: quais perspectivas?
<https://arq.ifsp.edu.br/eventos/files/pdfs/SEMATED_2017_T6.pdf> ; 
• A dialógica de Edgard Morin e o terceiro termo incluído de Basarab
Nicolescu: uma nova maneira de olhar e interagir com o mundo
<http://www2.unucseh.ueg.br/ceped/edipe/anais/IIIedipe/pdfs/4_conferencias/conf_a_dialogica_de_edgar_morin.pdf> . 
Sugestão de filme 
Para entender melhor a mudança do pensamento cartesiano para o pensamento
emergente, assista ao filme: 
MINDWALK = PONTO de mutação. Direção: Bernt Amadeus Capra. Estados Unidos:
Cannes Home Video, 1990. 112 min, son., color.

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