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Teoria do Crime - Conceito e Elementos

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Aula 02
Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII
Exame
Autor:
Cristiano Rodrigues
Aula 02
11 de Fevereiro de 2020
 
 
 
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Sumário 
1 - Considerações Iniciais.................................................................................................................................... 2 
2 - TEORIA DO CRIME – Conceito Analítico de Crime e Tipo Penal Doloso ....................................................... 2 
2.1 - Fato Típico ou tipicidade ........................................................................................................................ 3 
3 - TEORIA DO CRIME – Tipo Penal Culposo e Tipo Pretedoloso ....................................................................... 8 
3.1 - Tipo Culposo........................................................................................................................................... 8 
3.2 - Crimes Pretedolosos ou Preterintencionais ........................................................................................... 11 
4 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Estado de Necessidade ....................................................... 14 
4.1 - Ilicitude ou Antijuridicidade .................................................................................................................. 14 
4.2 - Excludentes de Ilicitude (Art. 23 do CP) ............................................................................................... 16 
4.3 - Estado de Necessidade (Art. 24 do CP) .............................................................................................. 16 
5 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Legítima defesa - Estrito cumprimento de dever legal - Exercício 
regular de direito - Consentimento do Ofendido ............................................................................................. 19 
5.1 - Legítima defesa (Art. 25 CP) ............................................................................................................... 19 
5.2 - Estrito cumprimento do dever legal ...................................................................................................... 22 
5.3 - Exercício regular de direito.................................................................................................................. 23 
5.4 - Consentimento do ofendido.................................................................................................................. 24 
5.5 - Ilicitude ................................................................................................................................................. 29 
6 - Considerações Finais ................................................................................................................................... 30 
 
 
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1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Galera, vamos dar início ao estudo da famosa Teoria do Crime, coração do Direito Penal e, com certeza, a 
parte mais importante da nossa matéria, no que tange a cobrança no exame de ordem e em qualquer 
concurso público!!! 
Evidentemente, em sentido amplo, nós já estamos estudando a Teoria do Crime desde a nossa aula passada, 
em que abordamos o Iter criminis que, como sabemos, aborda as etapas de realização do crime doloso. 
Porém, agora nós vamos entrar no estudo da chamada Teoria do Crime, em sentido estrito, ou seja, analisar 
o conceito analítico de crime, e analisar seus elementos estruturais. 
2 - TEORIA DO CRIME – CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME E TIPO PENAL 
DOLOSO 
Como sabemos, nosso ordenamento, através da teoria finalista da ação, adotou a concepção tripartida de 
delito, através da qual o conceito analítico de crime é formado por três elementos, cumulativos e necessários 
para que, portanto, se possa falar em crime (estrito senso), são eles: 
- Fato típico 
- Ilicitude ou antijuridicidade 
- Culpabilidade (reprovabilidade) 
Cada um desses elementos possuirá desdobramentos e características que são frequentemente objeto de 
questões na nossa prova, e podemos resumir a estrutura do crime, adotada pelo nosso Código Penal da 
seguinte forma: 
 
FATO TÍPICO
Conduta
Resultado
Nexo causal
Tipicidade
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Vamos passar então ao estudo desses elementos separadamente, começando, nesta aula, com o estudo do 
Fato Típico, suas características e aspectos, para que posteriormente possamos analisar a ilicitude e depois 
a culpabilidade, com suas respectivas características, e assim completar o estudo do crime e de seus 
elementos integrantes. 
Vocês vão perceber que nosso estudo do Fato Típico tira se dividir em duas partes para facilitar nosso 
aprendizado, primeiro vamos estudar o tipo penal doloso, que é a regra geral para incriminação de condutas, 
e depois iremos passar para o estudo do tipo penal culposo, que é exceção e incrimina as condutas 
descuidadas que geram certos resultados típicos previstos em Lei. 
2.1 - Fato Típico ou tipicidade 
Muito bem, de forma bem simples podemos definir o Fato típico, em seu aspecto formal, como sendo a 
descrição na lei da conduta humana proibida para qual se estabelece uma sanção. 
Nosso Código Penal, nas bases do finalismo, adotou a teoria indiciária da ilicitude (ratio cognoscendi), pela 
qual todo fato típico, a princípio, será também ilícito, salvo se estiver presente uma causa de justificação, ou 
seja, uma excludente de ilicitude, que afastará a ilicitude e o próprio crime, sem afetar, no entanto, a 
tipicidade do fato. 
Como já estudamos, na nossa aula de princípios, vocês devem lembrar que, em seu aspecto material, a 
tipicidade se traduz na lesão do bem jurídico tutelado (Princípio de lesividade), e também de acordo com a 
sua relevância, significância ou não (Princípio da insignificância). 
ILICITUDE
Excludentes
Estado de necessidade (art. 24)
Legítima defesa (art. 25)
Estrito cumprimento do dever legal
Exercício regular do direito
**Consentimento do ofendido (causa supralegal)
CULPABILIDADE 
(REPROVABILIDADE)
Imputabilidade
Potencial conhecimento da ilicitude
Exigibilidade de conduta diversa
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2.1.1 - Elementos integrantes do fato típico doloso 
No finalismo, o tipo penal se divide em dois grandes grupos de elementos, quais sejam, os objetivos 
(relacionados aos fatos) e os subjetivos (relacionados à vontade do sujeito). 
2.1.1.1 - Elementos objetivos 
São aqueles concretamente previstos na norma, expressamente descritos no próprio tipo, você vai perceber 
os elementos objetivos no próprio texto do artigo da lei. 
São eles: 
a) Verbo, que traduz a conduta (ação ou omissão); 
b) Elementos descritivos: são aqueles que descrevem algo de forma direta e imediata (ex.: alguém, coisa 
etc.); 
c) Elementos normativos (jurídicos e extrajurídicos): são aqueles que necessitam de conceitos, valorações 
para serem compreendidos, e assim classificados de acordo com a origem dos conceitos necessários para 
sua interpretação (ex.: funcionário público, cheque, moléstia venérea etc.). 
Assim... 
 
ELEMENTOS OBJETIVOS
Verbo 
traduz a conduta
Elementos 
descritivos
descrevem algo de 
forma direta e 
imediata 
Elementos 
normativos 
necessitam de 
conceito para serem 
compreendidos e 
classificados
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2.1.1.2 - Elementos subjetivos (dolo e especial fim de agir) 
São aqueles que traduzem o que está na cabeça do sujeito ao agir, sua intenção, sua finalidade, e seu fim 
específico para atuar, fiquem atentos à palavra, subjetivo significa ligado ao sujeito, por isso se referem a 
intenção do sujeito ao atuar. 
Dessa forma, o elemento subjetivodivide-se em: 
- Geral, ou seja, o dolo do agente ao atuar; 
- Especial, o especial fim de agir, elemento subjetivo específico, que em alguns crimes (delitos de intenção) 
traduz uma finalidade específica do agente ao atuar, que além do dolo será necessária para caracterizar esses 
crimes. 
Ex: “para si ou para outrem” no furto – art. 155 do CP; “fim de obter vantagem” na extorsão mediante 
sequestro – art. 159 do CP. 
- Elemento subjetivo geral: Trata-se do dolo, que caracteriza a conduta típica praticada; é a intenção, a 
finalidade do agente ao atuar. 
 
No finalismo esse dolo, elemento do tipo, é chamado de dolo natural, valorativamente neutro, já que traduz 
a simples intenção do agente ao atuar, sem se questionar o “porquê ou para quê” de sua ação, 
diferentemente do antigo dolo causalista, que era chamado de dolo normativo, valorativo, e integrava o 
juízo de reprovação como elemento da culpabilidade. 
 
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Nosso ordenamento trabalha com algumas espécies de dolo, e fiquem atentos a essa separação, pois ela é 
muito cobrada em nossas provas, são elas: 
a) Dolo direto de 1º grau: é o conceito puro de dolo; sendo a intenção, finalidade e a vontade do agente ao 
atuar, direcionada para a produção de resultado (Teoria da vontade). 
b) Dolo direto de 2º grau: é aquele em que o agente possui a intenção, a finalidade de gerar determinado 
resultado, porém reconhece que outros resultados paralelos com certeza se produzirão como produto da 
sua conduta. 
No dolo direto de 2º grau o agente não quer o resultado, mas sabe que ele ocorrera e mesmo assim 
atua, sendo que, quanto a esses resultados paralelos produzidos responderá a título de dolo direto de 2º 
grau. 
Neste caso, as penas dos crimes serão somadas através do concurso formal imperfeito (art. 70, 2ª parte). 
Ex.: querendo matar um desafeto (dolo direito de 1º grau), explode uma bomba no avião, possuindo, 
quanto aos demais passageiros, dolo direto de 2º grau. 
Atenção que neste exemplo, o agente não é um terrorista, não quer matar todo mundo, caso queira, não 
haverá dolo de 2º grau, mas sim dolo direto de 1º grau quanto a todos os passageiros. 
 
c) Dolo geral: ocorre quando o agente pratica determinada conduta dolosa e, acreditando ter alcançado o 
resultado pretendido, realiza um segundo ato, porém, o resultado na verdade só ocorre em decorrência 
desse segundo ato. 
Sendo assim, o dolo da primeira ação será geral e abrangente para alcançar o segundo ato (que não é 
doloso), e o agente responderá por um único crime doloso consumado (ex.: dispara para matar, acha que a 
vítima está morta e joga o corpo no rio, vindo esta a morrer afogada). 
O dolo geral ocorreu também no “Caso Nardoni” em que o pai acreditando que a filha estava morta após 
estrangulá-la, jogou o “corpo” pela janela, mas ela estava viva e morreu da queda. 
Atenção: 
Alguns autores tratam o dolo geral como sinônimo da chamada aberratio causae, porém, tecnicamente são 
institutos diferentes, já que a segunda ocorre quando, por meio de uma única conduta o agente gera o 
resultado pretendido, porém, este resultado ocorre em razão de uma causa diferente da imaginada e 
desejada inicialmente pelo autor 
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Ex.: jogar vítima de uma ponte para que esta morra afogada, porém, esta morre de traumatismo craniano 
ao bater a cabeça em uma pedra. 
Já no dolo geral há duas condutas praticadas pelo mesmo agente e o resultado decorre da segunda conduta 
realizada. 
 
d) Dolo eventual: Vamos agora tratar da mais conhecida e badalada espécie de dolo, o famoso dolo 
eventual!!! 
Podemos afirmar que o dolo eventual se trata de modalidade suis generis de dolo, pois nele o agente ao 
atuar não possui a intenção de gerar o resultado, e age de acordo com os seguintes elementos: 
I. Previsão concreta do resultado: o resultado deve ter passado previamente e concretamente na cabeça do 
autor, sendo diferente do conceito de previsibilidade, que é apenas a possibilidade de prever um resultado 
ao agir, e que caracteriza os crimes culposos; 
II. Consentimento, indiferença quanto à eventual produção do resultado previsto (Teoria do consentimento 
ou assentimento); 
III. Agir aceitando, assumindo os riscos de ocorrência dos resultados. 
 
No dolo eventual, o agente responde pelo crime doloso normalmente; porém, como não há vontade de gerar 
resultado, só será imputado por aquilo que efetivamente causar, entendendo-se majoritariamente que não 
há como falar em tentativa, caso o resultado previsto não ocorra. 
A ausência de tentativa no dolo eventual se explica pelo fato de não haver vontade de gerar qualquer 
resultado, e a tentativa pressupõe que o resultado não ocorra por motivos alheios a vontade do agente. 
IMPORTANTE 
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Os Crimes de trânsito, em sua maioria, serão culposos (arts. 302 e 303 do CTB), salvo em 
algumas hipóteses de “pega ou racha” e alguns raríssimos casos de embriaguez em que, de 
acordo com o STF, pode-se falar em dolo eventual, embora com as recentes mudanças do 
código de transito brasileiro, mesmo nestes casos, a configuração do dolo eventual tenha 
se tornado bastante difícil. 
 
 
3 - TEORIA DO CRIME – TIPO PENAL CULPOSO E TIPO PRETEDOLOSO 
3.1 - Tipo Culposo 
Amigos, vamos agora mudar completamente o enfoque no tipo penal e tratar dos crimes culposos, aqueles 
em que o agente não possui intenção, vontade de gerar qualquer resultado típico, porém, devido à sua 
conduta descuidada acaba gerando uma lesão a determinado bem jurídico tutelado. 
O tipo culposo é aquele que decorre da falta de cuidado do agente ao atuar, ou seja, da sua negligência, 
imprudência ou imperícia, gerando assim um resultado que lhe era previsível, punido como crime, desde que 
haja a forma culposa expressamente prevista em lei (regra da excepcionalidade do crime culposo – Ex.: o 
crime de dano do art. 163 do CP não possui forma culposa). 
ESPÉCIES DE DOLO
Dolo direto de 1º 
grau
intenção, finalidade e vontade do 
agente ao atuar
Dolo direto de 2º 
grau
o agente não quer o resultado, mas 
sabe que ele ocorrerá e mesmo assim 
atua
Dolo geral
há duas condutas praticadas pelo 
mesmo agente e o resultado decorre 
da segunda conduta realizada.
Dolo eventual
o agente ao atuar não possui a 
intenção de gerar o resultado
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3.1.1 - Elementos integrantes do Tipo Culposo 
Galera, assim como vimos que o crime doloso é composto por diversos elementos, os crimes culposos 
também são formados por certos elementos, sendo que, fiquem atentos, pois isso já foi objeto de questão 
na nossa prova. 
 
São eles: 
 
Fiquem ligados, esses elementos, são cumulativos e necessários para que se caracterize o crime culposo!!! 
Embora não seja comum de se perguntar na nossa prova, precisamos lembrar que de acordo com a 
controvertida teoria da imputação objetiva do resultado, oriunda do direito penal alemão (vide nosso livro: 
Temas controvertidos de Direito Penal – ED. GEN), e com base no chamado princípio da confiança, aquele 
que cumpre as regras impostas pela sociedade e pelo Estado para determinada atividade pode confiar que 
os outros também o farão e, ao atuar, independentemente da análise da situação específica, não age com 
falta de cuidado e não poderá responder pelo crime culposo. 
a) Conduta 
(ação/omissão);
b) Resultado típico 
(previsto na forma 
culposa);
c) Nexo causal (vínculo 
entre a conduta e o 
resultado);
d) Falta de cuidado 
devido (imprudência, 
negligência e imperícia);
e) Previsibilidade do 
resultado (possibilidade 
de prever).
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 Ex: quem passa direto por sinal verde na madrugada e bate em outro carro que avançava o sinal vermelho 
não responde pelo resultado, por mais que fosse previsível que alguém avançaria o sinal nesse horário). 
 
3.1.2 - Espécies de culpa 
Amigos, assim como vimos que o dolo possui diversas espécies, a culpa também se divide em duas categorias, 
sendo que, em ambas as hipóteses o agente responde igualmente pelo crime culposo praticado. 
Sendo assim, há duas espécies de culpa, admitidas em nosso ordenamento: 
a) Culpa inconsciente ou culpa comum: é a regra geral para os crimes culposos, e nela o agente não tem 
consciência, não tem previsão do resultado, atuando com falta de cuidado devido (imprudência/negligência/ 
imperícia), já que o resultado era apenas previsível (previsibilidade) para o agente, que ao agir não previu 
concretamente o resultado causado. 
b) Culpa consciente: é aquela em que o agente tem previsão concreta do resultado, porém repudia a 
ocorrência desse resultado e só atua quando crê, sinceramente, em suas habilidades para agir sem que o 
resultado se produza. 
 
Entretanto, na culpa consciente o agente ao atuar, acaba causando o resultado típico não desejado, 
respondendo assim por ele a título de culpa (ex.: atirador de elite que atinge a vítima de sequestro, ou o 
caso do Ônibus 174 no Rio de Janeiro). 
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P
ÉC
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S 
D
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C
U
LP
A
Culpa inconsciente ou culpa 
comum
regra geral
o agente não tem consciência nem previsão do 
resultado
Culpa consciente o agente tem previsão concreta do resultado
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3.2 - Crimes Pretedolosos ou Preterintencionais 
Galera, pra concluirmos o estudo do tipo penal, primeiro elemento integrante do conceito de crime, vamos 
falar dos conhecidos crimes preterdolodos que, na verdade, acabam sendo um somatório de dolo e culpa 
num mesmo tipo penal. 
Os chamados crimes preterdolosos são modalidade específica de tipo penal em que o agente tem dolo na 
sua conduta, mas acaba gerando um resultado que vai além desse dolo, causado por culpa (falta de cuidado), 
logo, trata-se de um crime doloso qualificado por um resultado culposo mais grave do que o originariamente 
desejado pelo sujeito. 
Para que possamos falar em crime preterdoloso esta modalidade deve estar expressamente prevista na lei 
como forma qualificada de certos crimes, possuem penas maiores em razão do resultado gerado (ex.: lesão 
corporal seguida de morte – art. 129, § 3º, do CP), e devido à sua natureza (resultado gerado a título de 
culpa), são em regra, incompatíveis com a forma tentada. 
 
(FGV/IV Exame de Ordem Unificado) Osíris, jovem universitária de Medicina, soube estar gestante. Todavia, 
tratava-se de gravidez indesejada, e Osíris queria saber qual substância deveria ingerir para interromper a 
gestação. Objetivando tal informação, Osíris estimulou uma discussão em sala de aula sobre o aborto. O 
professor de Osíris, então, bastante animado com o interesse dos alunos sobre o assunto, passou também a 
emitir sua opinião, a qual era claramente favorável ao aborto. Referido professor mencionou, naquele 
momento, diversas substâncias capazes de provocar a interrupção prematura da gravidez, inclusive 
fornecendo os nomes de inúmeros remédios abortivos e indicando os que achava mais eficazes. Além disso, 
também afirmou que as mulheres deveriam ter o direito de praticar aborto sempre que achassem 
indesejável uma gestação. 
Nesse sentido, considerando-se apenas os dados mencionados, é correto afirmar que o professor de Osíris 
praticou 
a) o crime previsto no art. 286 do Código Penal, que dispõe: “incitar, publicamente, a prática de crime”. 
b) a contravenção penal prevista no art. 20 do Decreto-Lei 3.688/1941, que dispõe: “anunciar processo, 
substância ou objeto destinado a provocar aborto”. 
c) fato atípico. 
d) o crime previsto no art. 68 da Lei 8.078/1990, que dispõe: “fazer ou promover publicidade que sabe ou 
deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde 
ou segurança”. 
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Resposta: C 
A conduta narrada no enunciado descreve um professor que, durante explicação de um tema, expõe sua 
posição a respeito do assunto (aborto) e se coloca favorável a essa prática. Porém, em momento algum o 
professor estimulou seus alunos a realizar a conduta de aborto, ou promoveu a realização desse fato como 
algo positivo ou que deveria vir a ser realizado por terceiros, afastando-se, assim, a incidência do crime de 
incitação ao crime (art. 286 do CP). Também não houve, de acordo com o enunciado, qualquer anúncio, 
propaganda ou promoção de fatos, meios ou objetos destinados a realizar aborto, mas somente menção de 
quais as formas mais eficazes para realizar esse tipo de procedimento. Dessa forma, percebe-se que a 
conduta realizada pelo professor, narrada no enunciado, é absolutamente atípica. 
 
(FGV/X Exame de Ordem Unificado) Jane, dirigindo seu veículo dentro do limite de velocidade para a via, ao 
efetuar manobra em uma rotatória, acaba abalroando o carro de Lorena, que, desrespeitando as regras de 
trânsito, ingressou na rotatória enquanto Jane fazia a manobra. Em virtude do abalroamento, Lorena sofreu 
lesões corporais. Nesse sentido, com base na teoria da imputação objetiva, assinale a afirmativa correta. 
a) Jane não praticou crime, pois agiu no exercício regular de direito. 
b) Jane não responderá pelas lesões corporais sofridas por Lorena com base no princípio da intervenção 
mínima. 
c) Jane não pode ser responsabilizada pelo resultado com base no princípio da confiança. 
d) Jane praticou delito previsto no Código de Trânsito Brasileiro, mas poderá fazer jus a benefícios penais. 
Comentários 
Resposta: C 
Esta questão avalia a possibilidade de se imputar a título de culpa as lesões corporais causadas em Lorena a 
Jane. Embora aborde no enunciado a famosa e controvertida Teoria da Imputação Objetiva, desenvolvida no 
Direito Penal alemão, e de aplicação restrita no Brasil (de acordo com o STF), mas que poderia ser resolvida 
com base na análise dos requisitos do Tipo Culposo. Na conduta narrada, Jane conduz seu veículo dentro da 
velocidade permitida e de acordo com as regras de trânsito, sendo que é a própria vítima Lorena que realiza 
manobra arriscada e desrespeita as regras de trânsito, faltando com o cuidado devido. Sendo assim, Jane 
não faltou com o cuidado devido e, mesmo tendo dado causa objetivamente ao resultado lesão corporal em 
Lorena, não poderá responder culposamente por esse resultado, já que não agiu com “culpa” (imprudência, 
negligência ou imperícia). O referido princípio da confiança, para a Teoria da Imputação Objetiva, é o que 
impede a imputação do resultado a título de culpa em uma situação como essa, já que Jane, ao cumprir as 
regras de trânsito, teria o direito de confiar que Lorena também o faria, e por isso, ao dirigir pela rotatória 
dentro da velocidade permitida, não pratica ato culposo, e não pode responder pelo crime. 
 
(FGV/XII Exame de Ordem Unificado) Wilson, competente professor de uma autoescola, guia seu carro por 
uma avenida à beira-mar. No banco do carona está sua noiva, Ivana. No meio do percurso, Wilson e Ivana 
começam a discutir: a moça reclama da alta velocidade empreendida. Assustada, Ivana grita com Wilson, 
dizendo que, se ele continuasse naquela velocidade, poderia facilmente perder o controle do carro e 
atropelar alguém. Wilson, por sua vez, responde que Ivana deveria deixar de ser medrosa e que nada 
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aconteceria, pois se sua profissão era ensinar os outros a dirigir,ninguém poderia ser mais competente do 
que ele na condução de um veículo. Todavia, ao fazer uma curva, o automóvel derrapa na areia trazida para 
o asfalto por conta dos ventos do litoral, o carro fica desgovernado e acaba ocorrendo o atropelamento de 
uma pessoa que passava pelo local. A vítima do atropelamento falece instantaneamente. Wilson e Ivana 
sofrem pequenas escoriações. Cumpre destacar que a perícia feita no local constatou excesso de velocidade. 
Nesse sentido, com base no caso narrado, é correto afirmar que, em relação à vítima do atropelamento, 
Wilson agiu com 
a) dolo direto. 
b) dolo eventual. 
c) culpa consciente. 
d) culpa inconsciente. 
Comentários 
Resposta: C 
O enunciado narra uma situação em que determinado agente (Wilson) conduz seu veículo em alta 
velocidade, causando, assim, um acidente e a morte de uma pessoa. Porém, fica claro, no caso narrado, que 
Wilson estava ciente do risco, e que possuía previsão concreta a respeito da possibilidade de causar esse tipo 
de resultado. Além disso, de acordo com o narrado, percebe-se que, por possuir habilidades específicas no 
que tange à condução de veículos automotores (“sua profissão era ensinar os outros a dirigir, ninguém 
poderia ser mais competente do que ele na condução de um veículo”), agiu confiando nessas habilidades, 
certo de que nada de errado ocorreria. Sendo assim, como estão presentes os requisitos técnicos de 
“previsão concreta do resultado”, “não aceitação de risco e repúdio pela produção do resultado”, além de 
“confiar em suas habilidades ao atuar”, conclui-se que o agente atuou em situação de Culpa Consciente, 
devendo responder pelo crime de homicídio culposo no trânsito (art. 302 da Lei 9.503/1997). 
 
(FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Jaime, objetivando proteger sua residência, instala uma cerca elétrica 
no muro. Certo dia, Cláudio, com o intuito de furtar a casa de Jaime, resolve pular o referido muro, 
acreditando que conseguiria escapar da cerca elétrica ali instalada e bem visível para qualquer pessoa. 
Cláudio, entretanto, não obtém sucesso e acaba levando um choque, inerente à atuação do mecanismo de 
proteção. Ocorre que, por sofrer de doença cardiovascular, o referido ladrão falece quase instantaneamente. 
Após a análise pericial, ficou constatado que a descarga elétrica não era sufi ciente para matar uma pessoa 
em condições normais de saúde, mas sufi ciente para provocar o óbito de Cláudio, em virtude de sua 
cardiopatia. Nessa hipótese é correto afirmar que: 
A) Jaime deve responder por homicídio culposo, na modalidade culpa consciente. 
B) Jaime deve responder por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual. 
C) Pode ser aplicado à hipótese o instituto do resultado diverso do pretendido. 
D) Pode ser aplicado à hipótese o instituto da legítima defesa preordenada. 
Comentários 
Resposta: D 
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A questão se refere à análise das excludentes de ilicitudes, mais especificamente à legitima defesa 
preordenada, através instalação de uma cerca elétrica para Protecao da propriedade. As chamadas 
ofendículas são consideradas como excludentes de ilicitude, e do crime, através do exercício regular de 
direito, ou mesmo da legitima defesa preordenada. Esta última, apenas considerada na hipótese da cerca 
elétrica, por ser mecanismo ativo capaz de repelir uma agressão atual (invasão), porém, previamente 
instalado. As demais alternativas encontram-se incorretas, de acordo com as normas previstas no Código 
Penal e da doutrina, pois se referem a possibilidade de imputação de crime neste caso. 
4 - TEORIA DO CRIME – ILICITUDE - EXCLUDENTES - ESTADO DE 
NECESSIDADE 
4.1 - Ilicitude ou Antijuridicidade 
Galera, agora passamos para o estudo do segundo elemento integrante do conceito de crime, a ilicitude, que 
também é chamada de antijuridicidade, e que como sabemos, tem como ponto central de cobrança as suas 
famosas causas de exclusão. 
Como vocês sabem, temos 4 causas de exclusão da Ilicitude previstas no Art. 23 do Código Penal e, dentre 
elas, as 2 mais cobradas nas nossas provas são o Estado de Necessidade e a conhecida Legítima defesa. 
Para que a gente possa estudar essas excludentes e ver como elas serão cobradas na nossa prova, precisamos 
começar nosso estudo analisando o conceito geral de Ilicitude, como elemento do crime e, depois sim, 
passaremos a análise das suas famosas causas de exclusão. 
Vamos com tudo, que esse tema, além de super interessante, cai bastante nas nossas provas!!! 
 
 
CONCEITO DE ILICITUDE 
A Ilicitude ou antijuridicidade pode ser conceituada como sendo a relação de contrariedade entre 
determinado comportamento que integre um fato típico e o ordenamento jurídico, sendo, portanto, o 
segundo elemento integrante do conceito tripartido de crime.
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De acordo com a chamada teoria indiciária da ilicitude (ratio cognoscendi), adotada por nosso ordenamento, 
a tipicidade é o indício da ilicitude, logo, todo fato típico será também ilícito, salvo se estiver presente uma 
causa de justificação, ou seja, uma excludente da ilicitude. 
Fiquem atentos pois essa teoria quer acabamos de abordar acima já foi objeto de questão na nossa prova de 
1ª Fase da OAB!!! 
Todos sabemos que o nosso Código Penal, em seu art. 23, prevê 4 causas de exclusão da ilicitude, quais 
sejam: 
a) o estado de necessidade 
b) a legítima defesa 
c) o estrito cumprimento do dever legal 
d) o exercício regular de direito 
Assim... 
 
Além disso, não podemos nos esquecer do famoso consentimento do ofendido, que, embora não esteja 
previsto em lei, é considerado como causa supralegal de exclusão da ilicitude. 
Importante lembrar que, havendo qualquer causa de exclusão da ilicitude, o fato deixará de ser considerado 
crime, pois a conduta típica realizada estará autorizada, permitida pelo próprio ordenamento jurídico, razão 
pela qual os artigos que preveem essas excludentes (ex.: arts. 24 e 25 do CP) são chamados de tipos penais 
permissivos. 
Quero lembrar vocês que, em uma questão concreta que envolva uma excludente de ilicitude, o fato 
permanece sendo Típico, apenas terá sua ilicitude afastada e por isso deixa de ser considerado crime, mas 
não se confundam, pois exclusão de ilicitude não faz com que um fato se torne atípico...ATENÇÃO! 
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA 
ILICITUDE
o estado de 
necessidade
a legítima defesa
o estrito 
cumprimento do 
dever legal 
o exercício regular 
de direito
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Cada uma das causas de exclusão da ilicitude terá características específicas e necessárias para que sejam 
reconhecidas e, preenchidos os elementos integrantes que formam seu conceito, será afastada a ilicitude 
da conduta praticada e o fato típico não será considerado CRIME. 
Sendo assim, a seguir estudaremos cada uma dessas excludentes de ilicitude separadamente, tema que, 
como dissemos, é muito cobrado no exame de ordem bem como em qualquer concurso público!!! 
4.2 - Excludentes de Ilicitude (Art. 23 do CP) 
Preparei esse pequeno esquema para que possamos resumir TODAS as principais características de cada 
uma das causas de exclusão da ilicitude adotadas em nosso ordenamento: 
 
4.3 - Estado de Necessidade (Art. 24 do CP) 
Seguindo a ordem do Código Penal, vamos agora estudar a primeira causa de exclusão de ilicitude presente 
no Art. 23 do CP, o badalado Estado de Necessidade!!! 
ILICITUDE
estado de 
necessidade (art. 
24, CP)
perigo
1. atual e 
inevitável
2. não criado por 
vontade do autor
3. inexigibilidade 
do sacrifício do 
bem
legítima defesa agresão
1. atual ou 
iminente
2. injusta
3. bem próprio ou 
de terceiro
4. meio 
moderados
estrito 
cumprimento dodever legal
funcionário 
público
exercício regular 
de direito 
ex: ofendículas
(Excludentes) Art. 
23, CP ---> 
consentimento 
do ofendido -
causa supralegal 
(não cabe para 
vida)
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Podemos começar lembrando que o Estado de Necessidade decorre de uma situação de perigo em que há 
a estrita necessidade de lesionar, sacrificar certo bem jurídico para se preservar outro. 
Dessa forma, estará autorizada a lesão de determinado bem jurídico quando esta for a única forma de 
garantir a preservação do outro bem, havendo assim um conflito entre bens jurídicos em jogo diante de uma 
situação de perigo. 
 
Quanto à natureza jurídica do estado de necessidade, o Código Penal adotou a chamada teoria unitária, pela 
qual todo estado de necessidade será sempre causa de exclusão da ilicitude, por isso chamado de estado de 
necessidade justificante, independentemente da valoração do bem jurídico a ser preservado e a ser 
sacrificado, na situação concreta. 
Há ainda a chamada teoria diferenciadora, no que tange a natureza jurídica do estado de necessidade, e que 
não foi adotada pelo nosso Código Penal, mas que está prevista no Código Penal militar, pela qual se 
diferenciam duas categorias ou espécies de estado de necessidade: 
- Estado de necessidade justificante (excludente de ilicitude), assim como no nosso Código Penal. 
- Estado de necessidade exculpante (excludente de culpabilidade), de acordo com a natureza dos 
bens preservado e sacrificado. 
Amigos, vamos agora passar para a análise dos elementos integrantes e necessários para que se reconheça 
um estado de necessidade, em um caso concreto apresentado: 
 
a) Elementos integrantes do estado de necessidade: 
a.1) Perigo atual e inevitável: para que haja o estado de necessidade, a situação de perigo tem de 
estar presente, ocorrendo, embora o dano possa ainda ser iminente, sendo que, a única forma de 
preservar o bem em perigo terá de ser a lesão, o sacrifício de um bem alheio, ou seja, para se 
autorizar a lesão do bem alheio não pode haver outra alternativa a não ser lesionar o outro bem. 
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a.2) Não criação do perigo por vontade do agente: aquele que criar dolosamente a situação de 
perigo não poderá agir em estado de necessidade para preservar o seu bem diante desse perigo 
criado. Entretanto, atenção, pois nada impede que o agente atue em estado de necessidade quando 
criar a situação de perigo por culpa, ou seja, por falta de cuidado. 
a.3) Bem próprio ou de terceiros: é possível agir em estado de necessidade quando o próprio bem 
está em jogo, em perigo, ou apenas para preservar um bem alheio, mesmo que não haja qualquer 
vínculo entre o agente e o terceiro titular do bem em perigo. 
 
a.4) Inexigibilidade de sacrifício do bem: não haverá estado de necessidade quando for exigível 
que o agente tolere o sacrifício do bem ameaçado ao invés de lesionar o outro bem. Esta limitação 
ocorre fundamentalmente quando há o confronto entre um bem disponível (ex.: patrimônio) a ser 
preservado e outro bem indisponível (ex.: vida) a ser sacrificado, não sendo autorizada, nesses casos, 
a lesão do bem indisponível. 
Contudo, num caso concreto, se mesmo assim o agente, nesse tipo de situação, optar por preservar o bem 
disponível, sacrificando o indisponível, responderá pelo crime, não havendo estado de necessidade, porém, 
diante da anormalidade da situação concreta em questão (perigo etc.) sua pena deverá ser reduzida de 1/3 
a 2/3 (art. 24, § 2º, CP). 
 
 
b) Limitações e classificações do Estado de Necessidade: 
ELEMENTOS INTEGRANTES DO ESTADO DE NECESSIDADE
Perigo atual e 
inevitável
Não criação do perigo 
por vontade do 
agente
Bem próprio ou de 
terceiros
Inexigibilidade de 
sacrifício do bem
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Amigos, percebam que de acordo com o art. 24, § 1º, do CP, quem possui o dever legal de enfrentar o perigo 
não poderá alegar estado de necessidade; logo, esse dispositivo se refere aos garantidores, especificamente 
aos que têm por lei o dever de proteção, cuidado e vigilância (Art. 13, § 2º, a CP), e por isso não poderão 
alegar estado de necessidade (ex.: bombeiro). 
 
A doutrina classifica ainda o estado de necessidade em defensivo, quando, para preservar o bem ameaçado, 
o agente precisa lesionar a própria fonte desse perigo (ex.: matar cachorro feroz), e estado de necessidade 
agressivo ou ofensivo, quando, para preservar seu bem do perigo, for preciso lesionar um bem de terceiro 
inocente, cabendo nesse caso reparação cível do prejuízo (ex.: violar um domicílio para fugir do ataque de 
um cachorro feroz). 
5 - TEORIA DO CRIME – ILICITUDE - EXCLUDENTES - LEGÍTIMA DEFESA - 
ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO - 
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO 
5.1 - Legítima defesa (Art. 25 CP) 
Galera, agora vamos ao estudo da mais famosa e mais cobrada das excludentes de ilicitude, a badalada 
Legítima Defesa, e podemos começar dizendo que ela ocorre quando o agente sofre uma injusta agressão, 
que seja atual ou iminente, a um bem jurídico próprio ou mesmo de terceiro, atuando para repelir essa 
agressão e garantir a proteção do bem jurídico ameaçado/agredido, desde que atue usando 
moderadamente os meios suficientes, disponíveis e necessários para isso. 
Muito bem, assim como fizemos com o Estado de Necessidade, vamos agora partir para a análise separada 
de cada um dos elementos necessários para que se reconheça, num caso concreto, uma legítima defesa 
como excludente da ilicitude. 
a) Elementos integrantes da legítima defesa: 
a.1) Agressão atual ou iminente: primeiramente precisamos lembrar que agressão é toda conduta 
humana voltada a lesionar bem jurídico alheio, e para caracterizar situação de legítima defesa essa 
agressão deverá ser atual, ou seja, estar ocorrendo (já começou, mas ainda não terminou) ou 
iminente, aquela que está prestes a ocorrer, ou seja, que se dá no último momento antes da 
atualidade. 
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Sendo assim, podemos concluir que não há legítima defesa de agressões passadas, que já ocorreram, nem 
de agressões futuras, promessas de agressão. 
Agora, muito cuidado pois, quando a agressão ainda for futura (promessa de agressão), mas a única forma 
do agente garantir a proteção de seu bem for se antecipar a ela, haverá a chamada legítima defesa 
antecipada, que para a maioria da nossa doutrina não se enquadra na legítima defesa como excludente de 
ilicitude, mas configura uma causa supralegal (que não está na lei) de exclusão da culpabilidade, por 
inexigibilidade de conduta diversa. 
 
Além disso, também é importante lembrar que o ataque de animal não gera agressão, mas tão somente 
perigo; logo, não gera legítima defesa, mas poderá dar origem a um estado de necessidade, salvo se o animal 
estiver sendo usado como instrumento, arma, por um ser humano para atacar outro, quando então haverá 
agressão, e poderá se falar em legítima defesa diante de um caso concreto apresentado na sua prova. 
a.2) Injusta agressão: é toda aquela que não esteja autorizada pelo ordenamento jurídico; logo, não 
há legítima defesa quando a agressão sofrida for praticada por alguém que esteja atuando autorizado 
por qualquer situação excludente de ilicitude. 
 
Sendo assim, não há legítima defesa de uma conduta praticada por quem esteja agindo em estado de 
necessidade, em estrito cumprimento de dever legal, em exercício regular de direito; e ainda, não há legítima 
defesa de legítima defesa (legítima defesa recíproca). 
Galera, é importante lembrar que nada impede a legítima defesa do ataque de um inimputável,já que este 
realiza uma agressão injusta (fato típico e ilícito) embora não tenha culpabilidade e não responda pelo crime, 
e isto pode gerar uma questão concreta bem perigosa na nossa prova...Atenção! 
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a.3) Bem próprio ou de terceiros: Esse requisito é bastante simples, pois haverá legítima defesa 
quando o próprio indivíduo sofre a agressão, ou quando esta agressão é contra um terceiro, mesmo 
sem haver qualquer vínculo entre quem atua defensivamente e esse terceiro. 
a.4) Meio moderado: Por fim, precisamos lembrar que o agente deverá atuar utilizando apenas os 
meios estritamente necessários e suficientes para afastar, fazer cessar a agressão, e ainda, de 
acordo com o que estiver disponível para ele no momento. 
 
 
 
Não podemos deixar de lembrar que na falta de moderação, quando o agente vai além do necessário para 
afastar a agressão, haverá o excesso, que será punido normalmente a título de dolo ou culpa (art. 23, 
parágrafo único, do CP) e com base no resultado causado durante esse excesso. 
Percebam que havendo excesso, o agente estará atuando de forma ilícita, permitindo assim que o agressor 
originário possa se defender desse excesso passando a agir em legítima defesa. 
 
ELEMENTOS 
INTEGRANTES DA 
LEGÍTIMA DEFESA
Agressão atual ou iminente
Injusta agressão
Bem proprio ou de terceiros
Meio moderado
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A legitima defesa que surge do excesso é chamada de legítima defesa sucessiva, pois sucede aquela em que 
o agente (agressor originário) se excedeu. 
Em certos casos, quando o excesso for produto de extremo abalo psicológico do agente, e em razão da 
situação concreta não for possível se exigir a moderação, fala-se em excesso exculpante, considerado causa 
supralegal de exclusão da culpabilidade, e o agente não responderá criminalmente por este excesso. 
5.2 - Estrito cumprimento do dever legal 
Amigos, vamos passar agora para o estudo do estrito cumprimento do dever legal, causa de exclusão da 
ilicitude bastante simples e que não possui artigo específico, apenas a previsão genérica do Art. 23 CP, como 
causa de exclusão da ilicitude. 
De forma simples, age licitamente o funcionário público que atua cumprindo os deveres legais inerentes a 
sua função, desde que o faça de forma estrita, ou seja, dentro dos limites da sua função. 
Portanto, dá pra perceber que, mesmo realizando um fato típico, este funcionário não estará atuando de 
forma ilícita e não haverá crime. 
Ex.: Policial que efetua uma prisão cumprindo um mandado não responde pela privação da liberdade que 
caracteriza o fato típico do sequestro (art. 148 do CP). 
 
Como vimos, de acordo com nosso ordenamento, o estrito cumprimento de dever legal é causa de exclusão 
da ilicitude, embora, de acordo com a famosa teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni), que não foi 
adotada pelo nosso código, ele é reconhecido como causa de exclusão da própria tipicidade penal. 
 
O policial que dispara sua arma contra meliante não atua em estrito cumprimento de dever 
legal, e somente poderá fazer isso se estiver atuando em legítima defesa, própria ou de 
terceiros, para repelir uma injusta agressão; caso contrário, responderá normalmente pelas 
lesões geradas. 
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A legítima defesa putativa (virtual) não é excludente de ilicitude, já que na verdade não há 
situação de legítima defesa, embora o agente acredite estar atuando em legítima defesa. 
Via de regra, trata-se de um erro a respeito da situação de agressão, que na verdade não 
existe, chamado erro de tipo permissivo (art. 20, § 1º, do CP), porém, em certos casos, a 
legítima defesa putativa ocorre quando o agente erra a respeito da existência, ou mesmo 
dos limites, da autorização para a legitima defesa, ocasionando assim um erro de proibição 
(art. 21 CP), modalidades de erro que estudaremos no capítulo referente à teoria do erro. 
5.3 - Exercício regular de direito 
Agora vamos tratar do exercício regular de direito, mais uma excludente de ilicitude que não possui artigo 
específico, e em palavras simples podemos dizer que, de acordo com essa causa de exclusão da ilicitude, 
age licitamente todo aquele que exerce de forma regular, e dentro dos limites, um direito que lhe tenha sido 
outorgado pela lei. 
Nesse caso, mesmo que realize um fato típico, não responderá pelo crime, já que estará afastada a ilicitude 
da sua conduta. 
Ex.: exercício do poder familiar, lesões desportivas (dentro das regras), intervenções cirúrgicas e as 
ofendículas ou ofensáculos (meios de proteção da propriedade previamente colocados como: caco de vidro, 
arame farpado, cachorro etc.). 
 
A cerca elétrica, que é uma ofendícula, é vista por alguns doutrinadores como modalidade 
de legítima defesa chamada de preordenada (também excludente de ilicitude), pois possui 
funcionamento ativo capaz de afastar/repelir o agressor no momento em que este está 
atuando, embora haja quem prefira tratá-la, junto com as demais ofendículas, como 
hipótese de exercício regular de direito. 
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5.4 - Consentimento do ofendido 
Por fim, vamos tratar do consentimento do ofendido, que é uma causa supralegal de exclusão da ilicitude, 
já que não possui previsão na lei, e ocorre quando o titular de um bem jurídico disponível autoriza 
previamente sua lesão, desde que o agente atue dentro dos limites do consentimento, afastando assim a 
ilicitude da conduta e consequentemente o crime. 
 
Atenção, o que pode aparecer como pegadinha neste tema, na nossa prova, é o fato de que não cabe 
consentimento do ofendido em crimes contra a vida, já que o bem jurídico é indisponível, como por 
exemplo, na hipótese de uma eutanásia consentida, em que, mesmo com a autorização do titular da vida, o 
agente que atuar responderá pelo homicídio doloso (privilegiado pelo motivo de relaxante valor moral). 
 
Podemos, por fim, elencar algumas hipóteses de consentimento do ofendido, em que a ilicitude será 
afastada, como por exemplo, autorizar certas lesões ao patrimônio, fazer uma tatuagem, um piercing, 
condutas consentidas de sadomasoquismo, etc. 
 
(FGV/IX Exame de Ordem Unificado) Acerca das causas excludentes de ilicitude e extintivas de punibilidade, 
assinale a afirmativa incorreta. 
a) A coação moral irresistível exclui a culpabilidade, enquanto que a coação física irresistível exclui a própria 
conduta, de modo que, nesta segunda hipótese, sequer chegamos a analisar a tipicidade, pois não há 
conduta penalmente relevante. 
b) Em um bar, Caio, por notar que Tício olhava maliciosamente para sua namorada, desfere contra este um 
soco no rosto. Aturdido, Tício vai ao chão, levantando-se em seguida, e vai atrás de Caio e o interpela quando 
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este já estava saindo do bar. Ao voltar-se para trás, atendendo ao chamado, Caio é surpreendido com um 
soco no ventre. Tício praticou conduta típica, mas amparada por uma causa excludente de ilicitude. 
c) Mévio, atendendo a ordem dada por seu líder religioso e, com o intuito de converter Rufus, permanece 
na residência deste à sua revelia, ou seja, sem o seu consentimento. Neste caso, Mévio, mesmo cumprindo 
ordem de seu superior e mesmo sendo tal ordem não manifestamente ilegal, pratica crime de violação de 
domicílio (art. 150 do Código Penal), não estando amparado pela obediência hierárquica. 
d) O consentimento do ofendido não foi previsto pelo nosso ordenamento jurídico-penal como uma causa 
de exclusão da ilicitude. Todavia, sua natureza justificanteé pacificamente aceita, desde que, entre outros 
requisitos, o ofendido seja capaz de consentir e que tal consentimento recaia sobre bem disponível. 
Comentários 
Resposta: B 
A questão se refere à análise das excludentes de ilicitudes e de culpabilidade e suas características, porém o 
enunciado pede que seja assinalada a alternativa INCORRETA, logo, teremos três afirmativas corretas e 
apenas uma errada. 
A alternativa “B” narra uma hipótese concreta em que o sujeito é agredido fisicamente, e, após sofrer a 
agressão, quando o agressor já estava se retirando do local, vai em direção a este e o agride, “devolvendo” 
o ataque, e afirma que, embora a conduta seja típica, haveria exclusão da ilicitude do fato. 
O que pode parecer como uma situação de legítima defesa (art. 25 do CP), na verdade não é, pois, um dos 
requisitos fundamentais dessa excludente de ilicitude é que a agressão a ser repelida seja “atual ou 
iminente”, e na situação narrada a agressão já havia cessado (agressão passada). Sendo assim, a alternativa 
“B” está INCORRETA, pois não há exclusão de ilicitude (legítima defesa) na conduta praticada e ambos os 
agentes deverão responder pelos crimes de lesão corporal praticados. As demais alternativas encontram-se 
corretas e de acordo com as normas previstas no Código Penal e a doutrina. 
 
(FGV/XI Exame de Ordem Unificado) Débora estava em uma festa com seu namorado Eduardo e algumas 
amigas quando percebeu que Camila, colega de faculdade, insinuava-se para Eduardo. Cega de raiva, Débora 
esperou que Camila fosse ao banheiro e a seguiu. Chegando lá e percebendo que estavam sozinhas no 
recinto, Débora desferiu vários tapas no rosto de Camila, causando-lhe lesões corporais de natureza leve. 
Camila, por sua vez, atordoada com o acontecido, somente deu por si quando Débora já estava saindo do 
banheiro, vangloriando-se da surra dada. Neste momento, com ódio de sua algoz, Camila levanta-se do chão, 
agarra Débora pelos cabelos e a golpeia com uma tesourinha de unha que carregava na bolsa, causando-lhe 
lesões de natureza grave. Com relação à conduta de Camila, assinale a afirmativa correta. 
a) Agiu em legítima defesa. 
b) Agiu em legítima defesa, mas deverá responder pelo excesso doloso. 
c) Ficará isenta de pena por inexigibilidade de conduta diversa. 
d) Praticou crime de lesão corporal de natureza grave, mas poderá ter a pena diminuída. 
Comentários 
Resposta: D 
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A questão se refere à possibilidade de aplicação do instituto da legítima defesa (art. 25 do CP), excludente 
de ilicitude, ao caso concreto narrado. 
Na conduta narrada a agressão produzida por Débora em Camila já havia cessado quando esta resolve se 
levantar e golpear a desafeta com a tesoura de unha. 
Dessa forma, já não havia agressão atual (ou iminente) por parte de Débora, o que impossibilita se falar em 
legítima defesa por parte de Camila. Sendo assim, como a agressão já havia cessado quando Camila atacou 
Débora, ela deverá responder pelas lesões corporais produzidas. Entretanto, como a conduta praticada por 
Camila foi realizada sob violenta emoção e logo após a injusta provocação da vítima (Débora), deve-se aplicar 
a causa de diminuição de pena prevista no art. 129, § 4º, do CP. 
 
(FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Jaime, objetivando proteger sua residência, instala uma cerca elétrica 
no muro. Certo dia, Cláudio, com o intuito de furtar a casa de Jaime, resolve pular o referido muro, 
acreditando que conseguiria escapar da cerca elétrica ali instalada e bem visível para qualquer pessoa. 
Cláudio, entretanto, não obtém sucesso e acaba levando um choque, inerente à atuação do mecanismo de 
proteção. Ocorre que, por sofrer de doença cardiovascular, o referido ladrão falece quase instantaneamente. 
Após a análise pericial, ficou constatado que a descarga elétrica não era sufi ciente para matar uma pessoa 
em condições normais de saúde, mas sufi ciente para provocar o óbito de Cláudio, em virtude de sua 
cardiopatia. Nessa hipótese é correto afirmar que: 
a) Jaime deve responder por homicídio culposo, na modalidade culpa consciente. 
b) Jaime deve responder por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual. 
c) Pode ser aplicado à hipótese o instituto do resultado diverso do pretendido. 
d) Pode ser aplicado à hipótese o instituto da legítima defesa preordenada. 
Comentários 
Resposta: D 
O caso narrado aponta para um clássico exemplo das chamadas ofendículas, ou ofensáculos, ou seja, 
obstáculos previamente colocados que visam a proteção do patrimônio ou propriedade. Também podem ser 
vistos como exemplos de ofendículas, o arame farpado, cacos de vidro, o cachorro etc. 
Há divergência quanto à natureza jurídica das ofendículas, sendo que a maioria da doutrina afirma que via 
de regra são espécies de exercício regular de direito e, portanto, causas de exclusão da ilicitude (art. 23 do 
CP). 
Porém, no que tange à cerca elétrica, que possui funcionamento ativo capaz de afastar o invasor (agressor) 
no momento em que este atua, boa parte da doutrina entende que seria melhor tratar esta ofendícula como 
hipótese de legítima defesa (art.25 do CP), chamada de preordenada, já que repele, afasta o agressor, mas é 
previamente colocada, predisposta, pelo titular do bem. Independentemente de se considerar a cerca 
elétrica como hipótese de exercício regular de direito ou como espécie de legítima defesa chamada de 
preordenada, ela será considerada causa de exclusão da ilicitude e o titular do bem não responderá pelas 
lesões produzidas no agressor. 
 
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(FGV/XV Exame de Ordem Unificado) Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma rua com pouco 
movimento e bastante escura, já de madrugada, quando são surpreendidos com a vinda de um cão pitbull 
na direção deles. Quando o animal iniciou o ataque contra a criança, Carlos, que estava armado e tinha 
autorização para assim se encontrar, efetuou um disparo na direção do cão, que não foi atingido, 
ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por atingir o dono do animal, Leandro, que chegava 
correndo em sua busca, pois notou que ele fugira clandestinamente da casa. A vítima atingida veio a falecer, 
ficando constatado que Carlos não teria outro modo de agir para evitar o ataque do cão contra o seu filho, 
não sendo sua conduta tachada de descuidada. Diante desse quadro, assinale a opção que apresenta a 
situação jurídica de Carlos. 
a) Carlos atuou em legítima defesa de seu filho, devendo responder, porém, pela morte de Leandro. 
b) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo responder, porém, pela morte de Leandro. 
c) Carlos atuou em estado de necessidade e não deve responder pela morte de Leandro. 
d) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, razão pela qual não deve responder pela morte de 
Leandro 
Comentários 
Resposta: C 
Esta questão envolve a análise tanto das excludentes de ilicitude (art. 23 do CP) quanto do erro quanto ao 
crime praticado (art. 74 do CP) já que em face do erro acaba se acertando uma pessoa ao invés de atingir o 
animal. 
O ataque de animal configura situação de perigo, razão pela qual permite ao agente atuar em situação de 
estado de necessidade para afastar esse perigo e preservar a integridade física de seu filho. 
Não se pode falar em legítima defesa, pois não existe agressão, que pressupõe conduta humana, e no caso 
de animal só se caracteriza agressão quando um ser humano utilizar o animal como arma para agredir 
outrem. 
Desta forma afasta-se a ilicitude da conduta, e Carlos não poderá responder pela morte do animal (Dano – 
art. 163 do CP). Entretanto, houve um erro na conduta realizada e uma pessoa acabou sendo atingida pelo 
disparo, vindo a morrer. 
Quanto à imputação desta morte a Carlos há divergência, sendo que,a banca seguiu a linha de que se 
entende a exclusão da ilicitude relativa à morte do animal para impedir a imputação do homicídio culposo 
ao agente, embora a situação narrada seja a do art. 74 do CP, ou seja, aberratio criminis e este dispositivo 
determine a imputação do resultado causado a título de culpa ao autor (art. 121, § 5º, do CP). 
 
(FGV/XXV Exame da OAB) Laura, nascida em 21 de fevereiro de 2000, é inimiga declarada de Lívia, nascida 
em 14 de dezembro de 1999, sendo que o principal motivo da rivalidade está no fato de que Lívia tem 
interesse no namorado de Laura. Durante uma festa, em 19 de fevereiro de 2018, Laura vem a saber que 
Lívia anunciou para todos que tentaria manter relações sexuais com o referido namorado. Soube, ainda, que 
Lívia disse que, na semana seguinte, iria desferir um tapa no rosto de Laura, na frente de seus colegas, como 
forma de humilhá-la. 
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Diante disso, para evitar que as ameaças de Lívia se concretizassem, Laura, durante a festa, desfere facadas 
no peito de Lívia, mas terceiros intervêm e encaminham Lívia diretamente para o hospital. Dois dias depois, 
Lívia vem a falecer em virtude dos golpes sofridos. Descobertos os fatos, o Ministério Público ofereceu 
denúncia em face de Laura pela prática do crime de homicídio qualificado. Confirmados integralmente os 
fatos, a defesa técnica de Laura deverá pleitear o reconhecimento da 
A) inimputabilidade da agente. 
B) legítima defesa. 
C) inexigibilidade de conduta diversa. 
D) atenuante da menoridade relativa. 
Comentários 
Resposta: A 
A imputabilidade, que podemos definir como a plena capacidade de entender o mundo e a natureza dos 
fatos, e ainda de se autodeterminar de acordo com esse entendimento. Uma das causas de exclusão da 
imputabilidade é a menoridade, segundo a qual há presunção absoluta de incapacidade fundada em 
aspectos orgânicos, biológicos, logo, os menores de idade não cometem crime nem recebem pena. 
 
(FGV/XVII Exame da OAB) Durante um assalto a uma instituição bancária, Antônio e Francisco, gerentes do 
estabelecimento, são feitos reféns. Tendo ciência da condição deles de gerentes e da necessidade de que 
suas digitais fossem inseridas em determinado sistema para abertura do cofre, os criminosos colocam, à 
força, o dedo de Antônio no local necessário, abrindo, com isso, o cofre e subtraindo determinada quantia 
em dinheiro. Além disso, sob a ameaça de morte da esposa de Francisco, exigem que este saia do banco, 
levando a sacola de dinheiro juntamente com eles, enquanto apontam uma arma de fogo para os policiais 
que tentavam efetuar a prisão dos agentes. 
Analisando as condutas de Antônio e Francisco, com base no conceito tripartido de crime, é correto afirmar 
que 
A) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto Francisco não responderá por 
ausência de ilicitude em sua conduta. 
B) Antônio não responderá pelo crime por ausência de ilicitude, enquanto Francisco não responderá por 
ausência de culpabilidade em sua conduta. 
C) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto Francisco não responderá por 
ausência de culpabilidade em sua conduta. 
D) Ambos não responderão pelo crime por ausência de culpabilidade em suas condutas. 
Comentários 
Resposta: C 
Segundo o conceito tripartido de crime, este é formado por três elementos, cumulativos e necessários para 
que se possa falar em crime: Fato típico, Ilicitude ou antijuridicidade, Culpabilidade (reprovabilidade). 
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A tipicidade, em seu aspecto formal, é a descrição na lei da conduta humana proibida para qual se estabelece 
uma sanção. Já a culpabilidade pode ser conceituada como a reprovabilidade pessoal da conduta típica e 
ilícita praticada, sendo elemento integrante do conceito de crime, fundamento e pressuposto para a 
aplicação da pena. 
No caso trazido pelo enunciado, estamos diante de uma coação. Antônio foi coagido fisicamente, o que 
afasta a conduta e logo a tipicidade; e Francisco foi coagido moralmente, o que afasta a culpabilidade. 
 
5.5 - Ilicitude 
ILICITUDE 
Excludentes (art. 
23 do CP) 
Estado de 
necessidade (art. 24 
do CP) 
Perigo: 
a) atual e inevitável 
b) não criado por vontade do sujeito 
c) bem próprio ou de terceiros 
d) inexigibilidade do sacrifício do bem 
ameaçado 
Legítima defesa 
(art. 25 do CP) 
Agressão: 
a) atual ou iminente 
b) injusta 
c) bem próprio ou de terceiro 
d) meios moderados 
Estrito cumprimento do dever legal (funcionário público) 
Exercício regular do direito (ex.: ofendículas) 
Consentimento do ofendido (causa supralegal de exclusão) 
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6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Muito bem, galera, fechamos nosso estudo dos dois primeiros elementos do conceito analítico de crime, 
passando pela tipicidade, com estudo do crime doloso e do crime culposo, e depois pelo estudo da ilicitude, 
seus elementos e suas causas de exclusão, tema super cobrado na nossa prova!!! 
Agora passaremos para o terceiro, e último, elemento integrante do conceito de crime, a culpabilidade que, 
assim como a ilicitude, terá diversas causas de exclusão, para estudarmos e entendermos, e que esse 
assunto também é muito recorrente na prova da OAB!!! 
Até já!!! 
 
 
 
 
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