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Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame Autor: Cristiano Rodrigues Aula 03 18 de Fevereiro de 2020 1 27 Sumário 1 - Considerações Iniciais.................................................................................................................................... 2 2 - TEORIA DO CRIME – Culpabilidade – Conceito – Elementos: Imputabilidade ............................................. 2 2.1 - Culpabilidade ........................................................................................................................................ 2 3 - TEORIA DO ERRO – Espécies de Erro – Erros Essenciais ............................................................................. 11 3.1 - Introdução ............................................................................................................................................ 12 3.2 - Erros Essenciais ..................................................................................................................................... 12 4 - TEORIA DO ERRO – Espécies de Erro – Erros Acidentais ............................................................................ 16 4.1 - Erros Acidentais .................................................................................................................................... 16 5 - Considerações Finais ................................................................................................................................... 27 Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 2 27 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS Amigos, passaremos agora para o estudo do último elemento integrante do conceito de crime, a famosa Culpabilidade, seus elementos integrantes, bem como de suas diversas causas de exclusão. Vamos lá?! 2 - TEORIA DO CRIME – CULPABILIDADE – CONCEITO – ELEMENTOS: IMPUTABILIDADE 2.1 - Culpabilidade A Culpabilidade já foi objeto de inúmeras questões na nossa prova, na maioria das vezes relacionadas às suas hipóteses de exclusão que, como sabemos, tem como consequência isentar o agente de pena e afastar o próprio crime, já que nosso ordenamento adota a concepção tripartida do delito, e a culpabilidade é considerada como terceiro elemento integrante do conceito analítico de crime. 2.1.1 - Conceito Em palavras simples podemos definir a Culpabilidade como: reprovabilidade pessoal da conduta típica e ilícita praticada, sendo elemento integrante do conceito de crime, fundamento e pressuposto para a aplicação da pena. O finalismo, adotado pelo nosso Código Penal, trabalha com a teoria normativa pura da culpabilidade, pela qual a culpabilidade é formada por 3 elementos integrantes, de caráter normativo, que são cumulativos e necessários para que haja reprovação e crime. Fiquem atentos, pois é muito importante lembrar que o dolo, elemento psicológico que traduz a intenção do sujeito ao atuar, não faz parte da culpabilidade, sendo o elemento subjetivo do tipo penal, por isso, sempre que estivermos diante de uma causa de exclusão da culpabilidade, a conduta permanece sendo típica e dolosa, porem deixa de ser crime. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 3 27 2.1.2 - Elementos integrantes da Culpabilidade 2.1.3 - Imputabilidade Vamos começar com o primeiro elemento integrante do conceito de culpabilidade, a conhecida imputabilidade, que podemos definir como a plena capacidade de entender o mundo e a natureza dos fatos, e ainda de se autodeterminar de acordo com esse entendimento. Percebam que este conceito se divide em duas partes e, para que possamos considerar alguém como imputável, precisamos preencher duas condições: a) O sujeito entender os fatos e o mundo a sua volta b) O sujeito ser capaz de se autodeterminar, ou seja, tomar decisões livremente de acordo com o entendimento dos fatos que possui. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 4 27 Nosso ordenamento adotou o sistema biopsicológico ou misto para delimitação das hipóteses de inimputabilidade, que por isso podem se basear tanto em aspectos biológicos, patológicos, quanto em aspectos psicológicos do agente. 2.1.3.1 - Causas da Imputabilidade Evidentemente, para nossa prova, o ponto mais importante no que tange a imputabilidade são exatamente suas causas de exclusão, ou seja, as hipóteses em que o sujeito será considerado inimputável e, por isso, terá sua culpabilidade afastada ficando isento de pena, não respondendo criminalmente. Então, amigos, vamos passar logo pro estudo das famosas causas de inimputabilidade, previstas no nosso Código Penal: Vamos então conceituar cada uma delas: a) Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto (art. 26 do CP): este conceito inclui os loucos, retardados, débeis mentais, maníacos e psicóticos, que não possuem culpabilidade, não cometem crime e nem recebem pena. Porém, pela prática do fato típico e ilícito podem receber medidas de segurança (art. 96 CAUSAS DE INIMPUTABILIDADE Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto Menoridade Embriaguez acidental completa Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 5 27 do CP) em face de sua periculosidade. A semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo único, do CP) ocorre quando o agente apenas não era inteiramente capaz de entender a natureza dos seus atos. Nesse caso, responderá normalmente pelo crime, porém com sua pena reduzida de 1/3 a 2/3. b) Menoridade (art. 27 do CP): É fundada na falta da plena capacidade de autodeterminação dos menores de 18 anos, sendo uma presunção absoluta de incapacidade fundada em aspectos orgânicos, biológicos, logo, os menores de idade não cometem crime nem recebem pena, embora, pela prática do fato típico e ilícito (ato infracional), possam receber medidas socioeducativas, como a internação em instituição de menores (Lei 8.069/90 – ECA). c) Embriaguez acidental completa (art. 28, II, do CP) Agora vamos tratar da última hipótese de inimputabilidade e, para isso, precisaremos dividir o conceito de embriaguez, como excludente de culpabilidade em três aspectos, são eles: c.1) Embriaguez: é a perturbação da capacidade psíquica e do discernimento do agente, produto não só do álcool, mas de qualquer droga, lícita ou ilícita. c.2) Acidental: é aquela de origem involuntária, não escolhida, produto de caso fortuito (não saber da droga ou de seus efeitos) ou força maior (coação moral ou física), afastando assim a responsabilidade penal. c.3) Completa: é sinônimo de plena, total, que exclua toda a capacidade de discernimento do agente. Mas, atenção, pois a embriaguez voluntária, aquela escolhida pelo agente, seja ela dolosa ou culposa, não afasta a culpabilidade nem a responsabilidade penal, e isso se dá devido à famosa teoria da actio libera in causa. Amigos, essa importante teoria tem como característica transferir a análise dos fatos (conduta, dolo/culpa, imputabilidade) para o momento prévio, aquele em que o agente livremente ingere a droga (embriaguez voluntária), possibilitando assim que responda por aquilo que fizer posteriormente em estado de inimputabilidade, quando esta seja produto de uma embriaguez voluntária (Art. 28 II CP). Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 6 27 2.1.4 - Potencial conhecimento da Ilicitude Galera, passaremos agora para o estudo do segundo elemento da culpabilidade, o famoso potencial conhecimento da ilicitude, sendo que, nesse primeiro momento, apenas vamos entender sua estrutura fundamental, já que, a causa de exclusão da culpabilidade vinculada a exclusão deste elemento, o conhecido erro de proibição, será estudado nanossa próxima aula, quando analisarmos todos os erros presentes no nosso Código Penal. De acordo com este elemento, para que haja reprovação, culpabilidade e crime é preciso que o agente conheça, ou tenha ao menos a possibilidade de conhecer, o caráter ilícito, proibido, daquilo que faz. Como dissemos, a falta de conhecimento da ilicitude dá origem ao conhecido erro de proibição, tema recorrente na nossa prova, e que poderá excluir a culpabilidade (erro inevitável), isentando o agente de pena, ou reduzir a culpabilidade (erro evitável), também reduzindo a pena (1/6 a 1/3) (ex.: eutanásia; alguns crimes ambientais (Lei 9.605/1998), etc.) Não se confunde a falta de conhecimento da ilicitude com o desconhecimento da lei, que é inescusável e não afasta a culpabilidade, podendo apenas gerar atenuação da pena (art. 65, II, do CP), embora em certas hipóteses os conceitos possam se cumular, o que não impede a exclusão da culpabilidade pelo desconhecimento da ilicitude. 2.1.5 - Exigibilidade de conduta diversa Por fim, para concluirmos o nosso estudo da culpabilidade e suas causas de exclusão, precisamos analisar o terceiro e último elemento de seu conceito, a exigibilidade de conduta diversa, ou seja, a exigibilidade de uma conduta conforme a norma. Para que haja reprovação, culpabilidade e crime é preciso que seja possível exigir do agente um comportamento diferente daquele realizado, exigir dele uma conduta diversa diante do caso concreto, ou seja, que seja possível, diante dos fatos concretos apresentados, exigir que o sujeito não tivesse realizado o fato típico e Ilícito. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 7 27 Sendo assim, há certas hipóteses, previstas no Código Penal, em que há inexigibilidade de conduta diversa que, portanto, irão gerar exclusão da culpabilidade, e serão chamadas de causas de exculpação. São elas: a) Coação moral irresistível (art. 22 do CP): Esta primeira excludente de culpabilidade nada mais é do que uma coação que incide na moral, na psique do agente, fazendo que ele atue sem liberdade de escolha, com sua vontade viciada. Sendo assim, nas hipóteses de coação moral irresistível afasta-se a culpabilidade, e o crime, de quem sofre a coação, respondendo pelo fato apenas o autor da referida coação. Ex.: pai é coagido a subtrair dinheiro do banco onde trabalha enquanto seus filhos estão sob grave ameaça de arma de fogo por meliante. Responde pelo furto apenas o autor da coação. Não se confunde a coação moral com a coação física irresistível, que é excludente da própria tipicidade de quem a sofre, pois nela o movimento é forçado fisicamente, não existindo sequer conduta voluntária por parte do coagido. Nesse caso, também responde pelo crime apenas o autor da coação. b) Obediência hierárquica (art. 22 do CP): A segunda excludente de culpabilidade, ligada à ausência de exigibilidade de conduta diversa, ocorre quando superior hierárquico, por vínculo de direito público, dá uma Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 8 27 ordem não manifestamente ilegal ao seu subordinado e este, sem perceber a ilegalidade da ordem, a cumpre. Nesse caso, responde pelo crime somente o superior hierárquico, autor da ordem (Ex.: capitão da polícia militar dá ordem para soldado conduzir certa pessoa à delegacia, afirmando que há mandado de prisão expedido contra ela, quando na verdade não há nada contra essa pessoa. Responde pelo constrangimento ilegal – art. 146 do CP – e eventual abuso de autoridade, apenas o superior, que foi o autor da ordem). Porém, é importante lembrarmos que, caso a ordem seja claramente ilegal e o subordinado ainda assim vier a cumpri-la, ambos os agentes (superior e subordinado) responderão pelo crime. Por fim, não podemos esquecer que há, ainda, as chamadas causas supralegais de exclusão da culpabilidade, que, embora não possuam previsão na lei, também podem afastar a culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. Podemos citar como exemplos de excludentes supra legais da culpabilidade: a legítima defesa antecipada, o excesso exculpante em excludentes de ilicitude, o conflito de consciência, etc. (FGV/VIII Exame de Ordem Unificado) Analise as hipóteses abaixo relacionadas e assinale a alternativa que apresenta somente causas excludentes de culpabilidade. EXCLUSÃO DE CULPABILIDADE (causas de exculpação) coação moral irresistivel agenta atua sem liberdade de escolha Responde pelo fato o autor da referida coação obediência hieráquica subordinado cumpre ordem, sem saber da ilegalidade desta Responde pelo crime quem deu a ordem (superior hierárquico) causas supralegais afastam a culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. exemplo: legítima defesa antecipada Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 9 27 a) Erro de proibição; embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior; coação moral irresistível. b) Embriaguez culposa; erro de tipo permissivo; inimputabilidade por doença mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado. c) Inimputabilidade por menoridade; estrito cumprimento do dever legal; embriaguez incompleta. d) Embriaguez incompleta proveniente de caso fortuito ou força maior; erro de proibição; obediência hierárquica. Comentários Resposta: A Trata-se de questão estritamente dogmática, que envolve a análise dos elementos integrantes da culpabilidade e suas hipóteses de exclusão. A culpabilidade é formada por três elementos essenciais e cumulativos necessários para que haja reprovação, sendo que cada um deles poderá ser excluído, afastado em algumas hipóteses e, assim, excluir a própria culpabilidade. São elementos da culpabilidade com suas referentes causas de exclusão: - Imputabilidade: causas de exclusão (inimputabilidade) – Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto (art. 26 do CP), menoridade (18 anos – art. 27 do CP) e embriaguez acidental (involuntária) completa (art. 28, II e §§ 1º e 2º, do CP). - Potencial conhecimento da ilicitude: causa de exclusão – erro de proibição inevitável (art. 21 do CP), já o erro de proibição evitável gera diminuição da pena de 1/6 a 1/3 (art. 21, 2.ª parte, do CP). O erro de proibição é aquele em que o agente não conhece o caráter ilícito, proibido do que está realizando. - Exigibilidade de conduta diversa: causas de exclusão (inexigibilidade de conduta diversa) – coação moral irresistível (art. 22 do CP) e a obediência hierárquica (art. 22 do CP). (FGV/XI Exame de Ordem Unificado) Para aferição da inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, assinale a alternativa que indica o critério adotado pelo Código Penal vigente. a) Biológico. b) Psicológico. c) Psiquiátrico. d) Biopsicológico. Comentários Resposta: D Trata-se de questão de caráter estritamente teórico a respeito da culpabilidade e do seu primeiro elemento integrante, qual seja, a imputabilidade. O nosso ordenamento adotou o sistema biopsicológico ou misto para delimitação das hipóteses de inimputabilidade. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 10 27 Para esse sistema, que é a junção dos sistemas biológico e psicológico, as causas de inimputabilidade podem ser delimitadas com base em aspectos orgânicos, biológicos, ou então puramente em aspectos psicológicos, mentais, e essas causas aparecem em nosso Código Penal, nos arts. 26, 27 e 28 (doença mental, menoridade e embriaguez acidental completa). I) CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME FATO TÍPICO Conduta Resultado Nexo causal Tipicidade ILICITUDE Excludentes Estado de necessidade (art. 24) Legítima defesa (art.25) Estrito cumprimento do dever legal Exercício regular do direito **Consentimento do ofendido (causa supralegal) CULPABILIDADE (REPROVABILIDADE) Imputabilidade Potencial conhecimento da ilicitude Exigibilidade de conduta diversa Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 11 27 II) CULPABILIDADE 3 - TEORIA DO ERRO – ESPÉCIES DE ERRO – ERROS ESSENCIAIS Galera, vamos agora entrar num dos temas mais interessantes, e ao mesmo tempo complexos, do Direito Penal, a famosa Teoria do Erro!!! Nós sabemos o quanto este tema é importante e muito cobrado no exame da OAB, bem como em todos os tipos de concurso público, e por isso, precisamos analisar com muito cuidado todas as espécies de erro previstas em nosso ordenamento, bem como suas consequências práticas, muito abordadas nas questões de prova. Diferentemente do que vocês estão acostumados, ao invés de espalhar a análise dos erros pela teoria do crime de forma desordenada, vamos reunir todas as 6 espécies de erros previstas no nosso Código Penal em um único capítulo e, por isso, chamamos este estudo sistêmico e organizado de “Teoria do Erro”, sendo que, isso irá simplificar muito o nosso estudo e o entendimento deste tema. Então, mãos à obra, e vamos começar a desmistificar esse tema tão interessante!!! IMPUTABILIDADE (INIMPUTABILIDADE) a) Doença mental (art. 26 do CP) b) Menoridade (art. 27 do CP) c) Embriaguez acidental completa (art. 28, II, do CP) – Teoria actio libera in causa (embriaguez voluntária) POTENCIAL CONHECIMENTO DA ILICITUDE Erro de proibição (art. 21 do CP) EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA (CAUSAS DE INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA) a) Coação moral irresistível (art. 22 do CP) b) Obediência hierárquica (art. 22 do CP) Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 12 27 3.1 - Introdução No que tange às espécies de erro, nosso ordenamento adotou, a partir da teoria normativa pura da culpabilidade, que já estudamos anteriormente, a vertente chamada teoria limitada da culpabilidade. Através desta teoria (limitada) há três espécies de erros essenciais, assim chamados pois se relacionam com os elementos essenciais integrantes do conceito de crime, quais sejam: - Erro de tipo incriminador (art. 20 do CP) - Erro de tipo permissivo (art. 20, § 1º, do CP) - Erro de proibição (art. 21 do CP). Importante lembrar que o erro de tipo e, eventualmente, até mesmo o erro de proibição, podem decorrer pela influência de um terceiro que leve o agente a errar, dando origem ao chamado erro determinado por terceiros (art. 20, § 2º, do CP). Nesses casos, de acordo com o Art. 20 § 2º, do CP, se tratando de erro inevitável, responderá pelo crime apenas o terceiro que determinou o erro. Além disso, também precisamos lembrar que há também os chamados erros acidentais, que são assim chamados por serem relacionados a falhas, acidentes, no momento de realização da conduta típica, são eles: - Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, do CP) - Erro de execução ou aberratio ictus (art. 73 do CP) - Aberratio criminis (art. 74 do CP). Muito bem amigos, em suma, podemos definir e separar as diferentes espécies de erro da seguinte forma: 3.2 - Erros Essenciais a) Erro de tipo incriminador (art. 20, caput, do CP) Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 13 27 Art. 20 CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. De forma bastante simples, podemos dizer que o erro de tipo incriminador é aquele que incide nos elementos objetivos que compõem o tipo penal, ou seja, quando o agente se equivoca a respeito da situação fática que está realizando ao cometer o crime. Logo, neste erro, ao cometer o crime age acreditando estar fazendo outra coisa (Ex.: Transporta um pacote com cocaína pensando se tratar de farinha de trigo). O erro de tipo incriminador irá sempre afastar o dolo, permitindo que o agente responda pela forma culposa se o erro for evitável, produto de falta de cuidado, ou, ainda, afastar o dolo e também a culpa se o erro for inevitável, tornando o fato atípico. b) Erro de tipo permissivo (Art. 20, § 1º, do CP) No código penal o erro de tipo permissivo, também chamado de erro suis generis por parte da nossa doutrina, está previsto da seguinte forma: Descriminantes putativas Art. 20 § 1º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. O erro de tipo permissivo é aquele que incide sobre elementos integrantes de um tipo penal autorizador, por isso permissivo, ou seja, incide sobre elementos que compõem uma excludente de ilicitude (ex.: agressão na legítima defesa), gerando a chamada descriminante putativa. ERRO DE TIPO INCRIMINADOR (ART. 20, CAPUT, DO CP) Inevitável, invencível, escusável – dolo/culpa fato atípico Evitável, vencível, inescusável – dolo/culpa responde pela forma culposa do crime (se houver) Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 14 27 Fiquem atentos!!! Pois, como dissemos, este erro é chamado por parte da doutrina nacional de erro suis generis, devido as suas caraterísticas e consequências bastante peculiares. Como dica, podemos dizer que, de acordo com a Teoria Limitada da Culpabilidade, adotada em nosso ordenamento, o erro de tipo permissivo terá basicamente as mesmas consequências do erro de tipo comum (incriminador), quais sejam, sempre afastar a responsabilidade por dolo, podendo punir a forma culposa do crime se o erro for evitável, produto de falta de cuidado, ou afastar também a responsabilidade por culpa, se o erro for inevitável, excluindo assim o crime e isentando o agente de pena. Nas hipóteses de erro de tipo permissivo evitável, o agente responderá pela forma culposa do crime por meio da chamada culpa imprópria, já que nessa situação há dolo na conduta (o agente quer atingir o suposto agressor), mas esse dolo será afastado para punir “impropriamente” a forma culposa do crime. Podemos resumir as consequências deste erro tão importante da seguinte forma, montando um pequeno quadro, como fizemos no erro de tipo incriminador, mas que neste erro torna-se ainda mais útil, devido às suas características tão peculiares no que tange as consequências que o CP previu para as descriminastes putativas fáticas, principalmente aplicadas a hipótese conhecida como Legítima Defesa Putativa: ERRO DE TIPO PERMISSIVO (ART. 20, § 1º, DO CP) – EXCLUDENTES DE ILICITUDE EX.: LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA (AGRESSÃO) Inevitável, invencível, escusável – dolo/culpa isenta de pena Evitável, vencível, inescusável – dolo/culpa responde pelo crime culposo (se houver) Chama-se de Culpa imprópria (tem dolo). Obs.: pode gerar Tentativa de crime “culposo”. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 15 27 Amigos, precisamos ressaltar que a famosa culpa imprópria, produto do erro de tipo permissivo, é a única hipótese no nosso direito penal em que se admite falar em tentativa de crime “culposo”. Isso ocorre, por exemplo, quando, acreditando estar agindo em legítima defesa (legítima defesa putativa), o agente, com dolo de matar o suposto agressor, erra o disparo e este sobrevive, havendo assim uma tentativa de homicídio doloso, mas afasta-se o dolo em razão do erro de tipo permissivo, punindo, assim, a tentativa de homicídio (doloso), mas na forma culposa. c) Erro de proibição (Art. 21 do CP) Erro sobre a ilicitude do fato Art.21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminui-la de um sexto a um terço. Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Podemos perceber que o erro de proibição ocorre quando o agente não conhece o caráter ilícito, proibido, do seu comportamento, ou seja, erra a respeito da proibição daquilo que faz, atua sem o conhecimento da ilicitude de seus atos. Importante lembrar que, o erro de proibição é separado ainda pela doutrina em direto, quando o agente acredita de forma direta que sua conduta simplesmente não está proibida, ou indireto, quando, para pensar que seu comportamento não é proibido, o agente acredita erroneamente que existe uma norma permitindo seu ato naquela situação (ex.: acredita que há uma norma que lhe autorize agir em eutanásia – erro de permissão). Mas fiquem tranquilos pois essa classificação não interfere em nada nas consequências do erro de proibição, e dificilmente irá influenciar no gabarito das questões na nossa prova. Vocês podem perceber que, como o potencial conhecimento da ilicitude é um elemento da culpabilidade, fundamental para o juízo de reprovação, as consequências do erro de proibição, que incide nesse elemento serão: - Afastar a culpabilidade e o crime, isentando de pena (erro inevitável); Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 16 27 - Reduzir a pena de 1/6 a 1/3 (erro evitável). Podemos ver os seguintes exemplos para o erro de proibição que, inclusive, já foram objeto de questões na nossa prova: - O caso do holandês que usa drogas no Brasil; a eutanásia em familiar desenganado; filha pensa que pode ficar com as verbas previdenciárias da mãe após a morte desta; alguns crimes ambientais. Em suma, sobre o erro de proibição, assim como fizemos com os demais erros essenciais: 4 - TEORIA DO ERRO – ESPÉCIES DE ERRO – ERROS ACIDENTAIS 4.1 - Erros Acidentais a) Erro sobre a pessoa (Art. 20, § 3º, do CP) Em nosso código penal, o erro sobre a pessoa vem previsto da seguinte forma: § 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. Amigos, podemos dizer que o erro sobre a pessoa trata-se de um erro quanto à identidade da vítima, um erro de valoração a respeito de quem é a vítima. ERRO DE PROIBIÇÃO ART. 21 POTENCIAL CONHECIMENTO DA ILICITUDE (ELEMENTO DA CULPABILIDADE) Inevitável, invencível, escusável exclui a culpabilidade e isenta de pena Evitável, vencível, inescusável tem culpabilidade mas diminui a pena: 1/6 até 1/3 Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 17 27 Como dica para nossa prova podemos reconhecer este erro como o “erro do irmão gêmeo”, já que, nele, o agente se confunde quanto a “quem é quem” na hora que realiza a conduta. Por fim, como consequência, podemos afirmar que a lei manda ignorar todas as características da vítima lesionada, imputando-se ao agente o crime como se tivesse atingido efetivamente a vítima contra quem pensava estar agindo (agravantes, atenuantes, causas de aumento ou diminuição de pena etc.). Ex.: Mãe que, querendo matar seu filho em estado puerperal, mata filho de outrem. Embora realize um homicídio (matar alguém), responde por infanticídio (art. 123 do CP). b) Erro de execução (aberratio ictus – Art. 73 do CP) De acordo com o Código Penal: Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. Como podemos perceber trata-se de um erro fático, erro na realização/execução da conduta, em que o agente erra o alvo visado, atingindo vítima diversa da pretendida, por isso, como dica importante para nossa prova podemos reconhecer este erro, nos casos concretos, como o “erro da bala perdida”. Amigos, fica bem fácil gravar as consequências deste erro, pois são as mesmas do erro sobre a pessoa, ou seja, ignoram-se as características da vítima efetivamente atingida, imputando-se o crime como se o agente efetivamente tivesse atingido quem pretendia. Isso vale para todas as características da vítima que foi visada originariamente e que devem ser consideradas no caso concreto, como agravantes, atenuantes, causas de aumento, causas de diminuição de pena, qualificadoras, etc. Em certas hipóteses, o aberratio ictus pode até mesmo mudar a tipificação do crime na situação concreta, em face da vítima visada ter características especificas (ex: causar Homicídio – Art. 121 CP - mas responder por Infanticídio -Art. 123 CP-) Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 18 27 Vamos comparar os dois tipos de erro acidentais que estudamos até agora e perceber que eles possuem as mesmas consequências práticas... c) Aberratio criminis (aberratio delicti – Art. 74 do CP) De acordo com o Art. 74 do nosso Código Penal: Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. Podemos perceber que se trata de um erro quanto ao crime praticado, quanto ao bem jurídico lesionado, por exemplo, o agente quer um dano ao patrimônio (Art. 163 do CP), erra o alvo e atinge pessoa, causando culposamente a morte (art. 121 do CP) ou a lesão corporal (art. 129 do CP). Esse erro terá como consequência afastar a tentativa de dano doloso praticada, imputando-se apenas a lesão corporal culposa ou o homicídio culposo produzido. ERRO SOBRE (quem é) A PESSOA Art. 20, § 3º, do CP erro de valoração identidade da vítima erro do “irmão gêmeo” ERRO DE EXECUÇÃO/ ABERRATIO ICTUS Art. 73 do CP erro fático erra o alvo erro da “bala perdida” Em ambos responde como se tivesse acertado quem pretendia Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 19 27 Mas galera, atenção, pois se a situação for inversa, esse erro não terá aplicação, ou seja, se o agente visar pessoa, errar e acabar atingindo patrimônio, causando danos, não há como se aplicar o art. 74 do CP, isso por que não há previsão de modalidade culposa do crime de dano (art. 163 do CP) e, portanto, o agente responderá normalmente e somente pela tentativa do crime doloso praticado (lesão corporal ou homicídio). No erro de execução (aberratio ictus) e no aberratio criminis, se o agente atingir o alvo visado e também outro, gerando dois resultados (unidade complexa de resultados), responderá pelos dois crimes e aplicam-se as regras do concurso formal perfeito normalmente (art. 70, 1ª parte, do CP). Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 20 27 TEORIA DO ERRO - ESPÉCIES Grupo I - Erros Essenciais a) Erro de tipo incriminador (art. 20, caput, CP) b) Erro de tipo permissivo (art. 20, § 1º, CP) c) Erro de proibição (art. 21, CP) Grupo II - Erros Acidentais a) Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, CP) b) Aberratio ictus ou erro de execução (art. 73, CP) c) Aberratio criminis (art. 74, CP)Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 21 27 (FGV/II Exame de Ordem Unificado) Arlete, em estado puerperal, manifesta a intenção de matar o próprio filho recém-nascido. Após receber a criança no seu quarto para amamentá-la, a criança é levada para o berçário. Durante a noite, Arlete vai até o berçário, e, após conferir a identificação da criança, a asfixia, causando a sua morte. Na manhã seguinte, é constatada a morte por asfixia de um recém-nascido, que não era o filho de Arlete. Diante do caso concreto, assinale a alternativa que indique a responsabilidade penal da mãe. a) Crime de homicídio, pois, o erro acidental não a isenta de responsabilidade. b) Crime de homicídio, pois, uma vez que o art. 123 do CP trata de matar o próprio filho sob influência do estado puerperal, não houve preenchimento dos elementos do tipo. c) Crime de infanticídio, pois houve erro quanto à pessoa. d) Crime de infanticídio, pois houve erro essencial. Comentários Resposta: C O enunciado narra a conduta de uma mãe que, querendo matar o próprio filho sob influência do estado puerperal, confunde-se no berçário e acaba matando outra criança, filho de outrem. Trata-se de hipótese conhecida como Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3.º, do CP), espécie de erro acidental em que o agente se confunde quanto à identidade da vítima, ou seja, um erro de valoração quanto a quem é a pessoa contra quem realiza a conduta (erro do irmão gêmeo). Esse erro tem como consequência ignorar todas as características da vítima efetivamente atingida e considerar o fato como se o agente tivesse atingido quem pretendia. Dessa forma, de acordo com o narrado, mesmo tendo matado o filho de outrem (matar alguém) e, com isso, realizado homicídio, Arlete deverá responder pelo crime de Infanticídio consumado (art. 123 do CP), como se tivesse atingido a vítima pretendida inicialmente, nesse caso, seu próprio filho. (FGV/III Exame de Ordem Unificado) Joaquim, desejoso de tirar a vida da própria mãe, acaba causando a morte de uma tia (por confundi-la com aquela). Tendo como referência a situação acima, é correto afirmar que Joaquim incorre em erro a) de tipo essencial escusável – inevitável – e deverá responder pelo crime de homicídio sem a incidência da agravante relativa ao crime praticado contra ascendente (haja vista que a vítima, de fato, não era a sua genitora). b) de tipo acidental na modalidade error in persona e deverá responder pelo crime de homicídio com a incidência da agravante relativa ao crime praticado contra ascendente (mesmo que a vítima não seja, de fato, a sua genitora). Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 22 27 c) de proibição e deverá responder pelo crime de homicídio qualificado pelo fato de ter objetivado atingir ascendente (preserva-se o dolo, independente da identidade da vítima). d) de tipo essencial inescusável – evitável –, mas não deverá responder pelo crime de homicídio qualificado, uma vez que a pessoa atingida não era a sua ascendente. Comentários Resposta: B O enunciado da questão narra uma situação em que determinado agente dispara sua arma para matar a própria mãe, entretanto, por confundi-la com sua tia, mata a pessoa errada. Trata-se de hipótese conhecida como Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3.º, do CP), espécie de erro acidental em que o agente se confunde quanto à identidade da vítima, ou seja, um erro de valoração quanto a quem é a pessoa contra quem realiza a conduta (erro do irmão gêmeo). Esse erro tem como consequência ignorar todas as características da vítima efetivamente atingida, e considerar o fato como se o agente tivesse tingido quem pretendia. Dessa forma, de acordo com o narrado, mesmo tendo matado sua tia, Joaquim deverá responder pelo crime de homicídio doloso consumado com a incidência da agravante relativa ao crime praticado contra ascendente, como se tivesse atingido a vítima pretendida, nesse caso, sua própria mãe. (FGV/V Exame de Ordem Unificado) Apolo foi ameaçado de morte por Hades, conhecido matador de aluguel. Tendo tido ciência, por fontes seguras, que Hades o mataria naquela noite e, com o intuito de defender-se, Apolo saiu de casa com uma faca no bolso de seu casaco. Naquela noite, ao encontrar Hades em uma rua vazia e escura e, vendo que este colocava a mão no bolso, Apolo precipita-se e, objetivando impedir o ataque que imaginava iminente, esfaqueia Hades, provocando-lhe as lesões corporais que desejava. Todavia, após o ocorrido, o próprio Hades contou a Apolo que não ia matá-lo, pois havia desistido de seu intento e, naquela noite, foi ao seu encontro justamente para dar-lhe a notícia. Nesse sentido, é correto afirmar que: a) havia dolo na conduta de Apolo. b) mesmo sendo o erro escusável, Apolo não é isento de pena. c) Apolo não agiu em legítima defesa putativa. d) mesmo sendo o erro inescusável, Apolo responde a título de dolo. Comentários Resposta: A Esta questão narra situação em que determinado sujeito (Apolo), por acreditar que seria agredido por seu desafeto (Hades), age acreditando estar em legítima defesa, esfaqueando-o, porém não havia agressão por parte da vítima. Trata-se de situação de legítima defesa putativa, produto do erro a respeito da agressão, conhecido como erro de tipo permissivo (art. 20, § 1.º, do CP), e que poderá ter duas consequências: afastar o dolo e punir a forma culposa do crime (erro evitável), ou isentar o agente de pena (erro inevitável). Porém, é importante lembrar que, em situação de legítima defesa putativa, como a narrada no enunciado, o agente atua com dolo de lesionar o suposto agressor, embora, de acordo com o art. 20, § 1.º, do CP, determine que nesses casos o dolo será afastado, imputando ao agente a forma culposa do crime (culpa imprópria) ou até isentando o agente de pena. Dessa forma, conforme narrado na questão, houve dolo de lesão corporal na Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 23 27 conduta praticada por Apolo embora este achasse que estava agindo justificadamente em situação de legítima defesa, por pensar que estava sendo agredido. (FGV/VI Exame de Ordem Unificado) José dispara cinco tiros de revólver contra Joaquim, jovem de 26 (vinte e seis) anos que acabara de estuprar sua filha. Contudo, em decorrência de um problema na mira da arma, José erra seu alvo, vindo a atingir Rubem, senhor de 80 anos, ceifando-lhe a vida. A esse respeito, é correto afirmar que José responderá: a) pelo homicídio de Rubem, agravado por ser a vítima maior de 60 anos. b) por tentativa de homicídio privilegiado de Joaquim e homicídio culposo de Rubem, agravado por ser a vítima maior de 60 anos. c) apenas por tentativa de homicídio privilegiado, uma vez que ocorreu erro quanto à pessoa. d) apenas por homicídio privilegiado consumado, uma vez que ocorreu erro na execução. Comentários Resposta: D Trata-se de questão relacionada ao chamado erro de execução ou aberratio ictus (art. 73 do CP), já que o agente pratica uma conduta e acaba atingindo vítima diversa da pretendida. Nesse caso houve um erro de alvo, um erro na realização da conduta pelo agente, e para identificar essa categoria de erro podemos chamá- lo de “erro da bala perdida”. De acordo com o art. 73 do CP, nessas hipóteses devem-se ignorar as características da vítima efetivamente atingida e punir o fato como se o agente tivesse atingido a vítima pretendida inicialmente. Sendo assim, de acordo com o narrado, o fato de a vítima atingida possuir 80 anos de idade, o que caracteriza uma causa de aumento de pena no crime de homicídio doloso (art. 121, § 4.º, do CP) será irrelevante, devendo-se considerar o fato como se o agente tivesse efetivamente atingido o sujeito que havia acabado de estuprar sua filha, ou seja, o agente deve responderpelo homicídio privilegiado praticado por um agente dominado por violenta emoção logo após a injusta provocação da vítima (art. 121, § 1.º, do CP). (FGV/IX Exame de Ordem Unificado) Jaime, brasileiro, passou a morar em um país estrangeiro no ano de 1999. Assim como seu falecido pai, Jaime tinha por hábito sempre levar consigo acessórios de arma de fogo, o que não era proibido, levando-se em conta a legislação vigente à época, a saber, a Lei 9.437/1997. Tal hábito foi mantido no país estrangeiro que, em sua legislação, não vedava a conduta. Todavia, em 2012, Jaime resolve vir de férias ao Brasil. Além de matar as saudades dos familiares, Jaime também queria apresentar o país aos seus dois filhos, ambos nascidos no estrangeiro. Ocorre que, dois dias após sua chegada, Jaime foi preso em flagrante por portar ilegalmente acessório de arma de fogo, conduta descrita no art. 14 da Lei 10.826/2003, verbis: “Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Nesse sentido, podemos afirmar que Jaime agiu em hipótese de a) erro de proibição direto. b) erro de tipo essencial. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 24 27 c) erro de tipo acidental. d) erro sobre as descriminantes putativas. Comentários Resposta: A Trata-se de uma questão que visa a identificação da modalidade de erro ocorrida diante do caso concreto narrado. De acordo com o enunciado, o agente (Jaime) realiza a conduta tipificada no art. 14 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003), porém realiza essa conduta acreditando não realizar nada ilícito, ou seja, sem o conhecimento da ilicitude de seu ato, sem reconhecer o caráter proibido daquilo que fez. Dessa forma, percebe-se que o agente atuou em erro quanto ao caráter ilícito, proibido do seu ato, agindo, portanto, em Erro de Proibição (art. 21 do CP), que terá como consequência afastar a culpabilidade do agente e isentá-lo de pena pela falta de potencial conhecimento da ilicitude, ou, em caso de o erro ser de natureza evitável, reduzir a pena de 1/6 a 1/3. Esse erro de proibição é considerado direto, pois o agente acredita diretamente que seu ato simplesmente é lícito, ou seja, não é proibido, diferentemente do erro de proibição indireto em que, para achar que seu ato não é proibido, o agente deve acreditar que há uma permissão para sua conduta na situação específica em que se encontra, quando, na verdade, essa permissão não existe (ex.: achar que pode matar quem furta agindo em legítima defesa, quando, na verdade, isso não está autorizado e configura ato ilícito em excesso). (FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Paulo tinha inveja da prosperidade de Gustavo e, certo dia, resolveu quebrar o carro que este último havia acabado de comprar. Para tanto, assim que Gustavo estacionou o veículo e dele saiu, Paulo, munido de uma barra de ferro, foi correndo em direção ao bem para danificá-lo. Ao ver a cena, Gustavo colocou-se à frente do carro e acabou sendo atingido por um golpe da barra de ferro, vindo a falecer em decorrência de traumatismo craniano derivado da pancada. Sabe-se que Paulo não tinha a intenção de matar Gustavo e que este somente recebeu o golpe porque se colocou à frente do carro quando Paulo já estava com a barra de ferro no ar, em rápido movimento para atingir o veículo, que ficou intacto. Com base no caso relatado, assinale a afirmativa correta. a) Paulo responderá por tentativa de dano em concurso formal com homicídio culposo. b) Paulo responderá por homicídio doloso, tendo agido com dolo eventual. c) Paulo responderá por homicídio culposo. d) Paulo responderá por tentativa de dano em concurso material com homicídio culposo. Comentários Resposta: C Trata-se de um clássico caso de Aberratio Criminis em que o agente visando atingir uma coisa, ou seja, praticar um crime de dano (art. 163 do CP) acaba atingindo uma pessoa, praticando assim um homicídio culposo (art. 121, § 5º, do CP). Este erro, chamado de Aberratio Criminis está previsto no art. 74 do CP e tem como consequência que se ignore a tentativa do crime de Dano (art. 163 do CP) já que não se produziu este resultado, imputando-se ao agente somente o resultado produzido culposamente contra a pessoa, ou seja, deverá responder apenas pelo homicídio culposo. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 25 27 (FGV/XIV Exame de Ordem Unificado) Eslow, holandês e usuário de maconha, que nunca antes havia feito uma viagem internacional, veio ao Brasil para a Copa do Mundo. Assistindo ao jogo Holanda x Brasil decidiu, diante da tensão, fumar um cigarro de maconha nas arquibancadas do estádio. Imediatamente, os policiais militares de plantão o prenderam e o conduziram à Delegacia de Polícia. Diante do Delegado de Polícia, Eslow, completamente assustado, afirma que não sabia que no Brasil a utilização de pequena quantidade de maconha era proibida, pois, no seu país, é um hábito assistir a jogos de futebol fumando maconha. Sobre a hipótese apresentada, assinale a opção que apresenta a principal tese defensiva. a) Eslow está em erro de tipo essencial escusável, razão pela qual deve ser absolvido. b) Eslow está em erro de proibição direto inevitável, razão pela qual deve ser isento de pena. c) Eslow está em erro de tipo permissivo escusável, razão pela qual deve ser punido pelo crime culposo. d) Eslow está em erro de proibição, que importa em crime impossível, razão pela qual deve ser absolvido. Comentários Resposta: B Trata-se de questão ligada à teoria do erro, já que aborda um caso concreto visando a identificação da espécie de erro ocorrida na situação. O enunciado se refere a um estrangeiro que pratica a conduta criminosa de “porte de droga para uso” (art. 28 da Lei 11.343/06) porém acreditando que sua conduta não é ilícita, que o fato praticado não é proibido em nosso ordenamento. Como o próprio enunciado aponta, o referido holandês errou sobre o caráter proibido de usar maconha no Brasil, já que em seu país de origem o uso dessa substância não configura ato ilícito, sendo permitido, havendo assim um erro de proibição. O erro de proibição pode ser considerado inevitável, e nesse caso isenta o agente de pena, já que se afasta sua culpabilidade, ou evitável, reduzindo-se a pena de 1/6 a 1/3, caso, diante da situação concreta, perceba-se que o agente tinha potencial para conhecer a ilicitude do que fez. Quanto à classificação “direto”, esta se refere à situação em que o agente simplesmente (diretamente) acredita que algo não é proibido pelo ordenamento (como no exemplo da questão), e “indireto” quando crê haver alguma norma autorizando a conduta praticada, para então achar que o seu comportamento não é proibido. Esta classificação não interfere em nada nas consequências do erro de proibição. Desta forma, evidencia-se o chamado erro de proibição direto (art. 21 do CP) que ocorre quando o agente não conhece a ilicitude do que faz e, portanto, erra sobre a proibição, acredita que sua conduta não é proibida, não é ilícita, estando isento de pena (erro inevitável). (FGV/XIV Exame de Ordem Unificado) Paloma, sob o efeito do estado puerperal, logo após o parto, durante a madrugada, vai até o berçário onde acredita encontrar-se seu filho recém-nascido e o sufoca até a morte, retornando ao local de origem sem ser notada. No dia seguinte, foi descoberta a morte da criança e, pelo circuito interno do hospital, é verificado que Paloma foi a autora do crime. Todavia, constatou-se que a criança morta não era o seu filho, que se encontrava no berçário ao lado, tendo ela se equivocado quanto à vítima desejada. Diante desse quadro, Palomadeverá responder pelo crime de: a) homicídio culposo. b) homicídio doloso simples. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 26 27 c) infanticídio. d) homicídio doloso qualificado. Comentários Resposta: C Trata-se de questão relativa ao conhecido erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, do CP). Este erro ocorre quando o agente erra a respeito da identidade da vítima, ou seja, trata-se de um erro de valoração a respeito de quem é a vítima a ser atingida. Neste caso, ignora-se as características da vítima atingida imputando-se o crime ao agente como se ele tivesse atingido quem pretendia. Sendo assim, embora tenha praticado o crime de homicídio (art. 121 do CP) esta mãe responderá por infanticídio (art. 123 do CP), já que sob influência do estado puerperal e logo após o parto, pensava estar matando seu filho, devendo assim responder como se tivesse atingido quem pretendia (art. 20, § 3º, do CP). (FGV/XIX Exame da OAB) Pedro e Paulo bebiam em um bar da cidade quando teve início uma discussão sobre futebol. Pedro, objetivando atingir Paulo, desfere contra ele um disparo que atingiu o alvo desejado e também terceira pessoa que se encontrava no local, certo que ambas as vítimas faleceram, inclusive aquela cuja morte não era querida pelo agente. Para resolver a questão no campo jurídico, deve ser aplicada a seguinte modalidade de erro: A) erro sobre a pessoa. B) aberratio ictus. C) aberratio criminis. D) erro determinado por terceiro. Comentários Resposta: B No caso apresentado no enunciado, trata-se de aberratio ictus, pois Pedro, objetivando atingir Paulo, desfere contra ele um disparo que atingiu o alvo desejado e também terceira pessoa que se encontrava no local. Veja que se trata de um erro na execução da conduta, em que o agente erra o alvo visado, atingindo vítima diversa da pretendida. (FGV/XXII Exame da OAB) Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com cápsulas que acredita ser de remédios, sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocaína em seu interior. Por outro lado, José transporta em seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois acreditava que poderia ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram abordados por policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do crime de tráfico de entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tony e José deverá alegar em favor dos clientes, respectivamente, a ocorrência de A) erro de tipo, nos dois casos. B) erro de proibição, nos dois casos. Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br 27 27 C) erro de tipo e erro de proibição. D) erro de proibição e erro de tipo. Comentários Resposta: C No caso de Tony estaremos diante do erro de tipo. Nesta modalidade de erro que incide nos elementos objetivos que compõem o tipo penal, ou seja, quando o agente se equivoca a respeito da situação fática que está realizando ao cometer o crime. José, por sua vez, incidiu em erro de proibição, pois não sabia que sua conduta era ilícita. 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Galera, esse capítulo foi realmente incrível, não foi? Sei que foi muita informação para uma única aula, mas com um pouco de calma, e relendo os principais tópicos que estudamos juntos aqui, com certeza vocês vão conseguir mandar muito bem na prova quando forem cobradas questões envolvendo a Culpabilidade e suas causas de exclusão, bem como as famosas questões sobre as espécies de erro no Direito Penal. Os assuntos que estudamos juntos nesta aulas estão entre os mais cobrados nas provas da OAB, bem como em provas de concurso em geral, por isso, buscamos tratar da matéria da foram a mais simples e objetiva possível, para que vocês guardarem as características e consequências das espécies de erro, bem como buscamos organizar todas as excludentes de culpabilidade presentes no nosso código penal, já que a lei trata delas de forma bastante desorganizada e, ainda por cima, separadas. Com isso, fechamos oficialmente o estudo da Teoria do Crime (sentido estrito), coração da nossa matéria, e passaremos agora ao estudo do concurso de pessoas e do concurso de crimes, temas mais tranquilos no que tange a dogmática envolvida, mas também de grande importância para nossa prova. Até já!!! Cristiano Rodrigues Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame www.estrategiaconcursos.com.br
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