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INTRODUÇÃO Quanto vale uma empresa? Essa é uma pergunta aparentemente singela, mas cuja resposta pode ser difícil de encontrar. Mais do que isso, não existe uma resposta única: se essa pergunta for feita ao dono ou à dona da empresa, provavelmente a sua resposta vai ser significativamente diferente da resposta dada por um potencial comprador. Mesmo dois avaliadores independentes, que não tenham qualquer tipo de conflito de interesse com o ativo avaliado, ao avaliarem um mesmo ativo, chegarão a números diferentes. Projetar o futuro, definitivamente, não é tarefa fácil. Mesmo que todo o processo de valuation (isto é, de avaliação financeira de uma empresa) utilize números – projeções de fluxos de caixa, taxas de desconto, crescimento na perpetuidade, etc. –, o resultado e o processo como um todo dependem das premissas adotadas pelo avaliador. Qual vai ser o ritmo de crescimento dos fluxos de caixa da empresa? Quão arriscado é esse investimento? Qual será o crescimento da economia e da empresa na perpetuidade? A percepção do analista sobre aspectos macroeconômicos e também específicos ao negócio condicionarão os resultados da avaliação. Como bem diz Damodaran (2020), todo processo de valuation envolve números e uma narrativa, e a narrativa é às vezes mais importante do que os números. Diante das dificuldades inerentes, esta apostila abordará os principais conceitos e as práticas de avaliação de empresas, visando tornar o processo de valuation mais científico e metodologicamente palpável. Como veremos, alguns princípios básicos permitem ao avaliador precificar qualquer ativo, financeiro ou não. Veremos também exemplos de laudos de avaliação publicamente disponíveis, visando entender as etapas essenciais, a adoção de premissas, o desenvolvimento e a exposição dos procedimentos, bem como a apresentação desses relatórios. Esta apostila é a primeira de uma série de duas publicações: Avaliação de Empresas I e Avaliação de Empresas II. A primeira compila os principais tópicos que compõem a avaliação financeira de uma empresa, desde a estimação do custo de capital até a projeção de fluxos de caixa, passando pelos dois principais métodos de avaliação: fluxo de caixa descontado e avaliação por múltiplos. A segunda apostila abordará tópicos avançados e tendências recentes, como avaliação por opções reais, fusões e aquisições, capital de risco e Initial Public Offerings (IPOs), além das dimensões ESG – acrônimo para Environmental, Social, e Governance – e valuation em períodos de recessão econômica. Esperamos que o leitor possa, ao fim do material, ter uma visão ampla e aguçada sobre o processo de avaliação de empresas, desde a formulação de premissas, execução de etapas básicas, modelagem, até a consolidação de um laudo de avaliação. O objetivo geral desta disciplina é fornecer uma visão geral do que é um processo de avaliação de empresas (valuation). Os objetivos específicos, por sua vez, são: Compreender a importância da avaliação de empresas para a sociedade. Identificar as etapas principais que compõem o processo de avaliação. Estimar custo de capital próprio e de terceiros. Descrever e projetar fluxos de caixa relevantes. Discorrer sobre as metodologias comumente empregadas por avaliadores. Contrastar as situações em que um método é recomendável em detrimento de outro. Entender e criticar laudos de avaliação de empresas brasileiras. Esta apostila é composta de quatro módulos, subdivididos em diversas unidades. Um resumo dessa estrutura é exposto a seguir: Módulo I – Introdução à Avaliação de Empresas – Neste módulo, faremos uma discussão geral sobre a importância do processo de avaliação de empresas (valuation) e discutiremos alguns princípios, técnicas e modelos básicos de qualquer processo de avaliação. Também analisaremos o aspecto da forma: a apresentação de relatórios de valuation, normalmente chamados de laudos. Módulo II – Custo de Capital – Aqui, avaliaremos as técnicas de estimação de custo de capital, abrangendo conceitos e práticas de estimação da taxa livre de risco e do prêmio de risco de mercado. Veremos em que circunstâncias é recomendável utilizar o custo de capital próprio como taxa de desconto e em quais casos o indicador mais apropriado é o custo médio ponderado de capital (CMPE ou WACC). Discutiremos também a importância de realizar uma análise de sensibilidade para estimar o impacto de mudanças marginais no custo de capital sobre o resultado do valuation. Avaliaremos um exemplo prático para fixar o conteúdo. Módulo III – Projetando Fluxos de Caixa – Neste módulo, abordaremos as diferenças entre lucro e fluxo de caixa, discutiremos quais são os fluxos de caixa relevantes e também como projetar o seu crescimento. Avaliaremos também uma forma alternativa de ajustar pelo risco os fluxos de caixa: o equivalente de certeza, em substituição ao prêmio de risco no denominador (taxa de desconto). Discutiremos um exemplo real para melhor fixação do conteúdo. Módulo IV – Principais Métodos de Avaliação – No módulo final, contrastaremos os dois principais métodos de avaliação de empresas: o método do fluxo de caixa descontado e o método da avaliação por múltiplos. Discutiremos as vantagens e desvantagens de cada um deles, bem como de explorar situações em que um deles costuma ser recomendado em detrimento do outro. Além de abordar um exemplo para melhor absorção do conteúdo, faremos uma breve introdução ao conteúdo de Avaliação de Empresas II, a continuação do presente curso. Boa leitura! SUMÁRIO MÓDULO I – INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ................................................................. 9 NOÇÃO DE VALOR “JUSTO” OU INTRÍNSECO ................................................................................ 10 RISCO, RETORNO REQUERIDO E CUSTO DE OPORTUNIDADE ................................................... 12 QUAL FLUXO DE CAIXA CONSIDERAR? .......................................................................................... 13 PRINCIPAIS MODELOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 13 LAUDOS DE AVALIAÇÃO .................................................................................................................. 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 15 MÓDULO II – CUSTO DE CAPITAL ....................................................................................................... 17 TAXA LIVRE DE RISCO ...................................................................................................................... 19 Spread de risco de crédito a partir do rendimento de títulos de dívida soberana denominados em dólar americano (USD) ............................................................................ 22 Spread de risco de crédito por meio de Credit Default Swaps (CDS) .................................. 24 Spread de risco de crédito com base em ratings de dívida soberana ............................... 24 PRÊMIO DE RISCO DE MERCADO ................................................................................................... 26 Olhando para trás: o prêmio de risco histórico ................................................................... 26 Olhando para a frente: prêmio de risco de mercado implícito ......................................... 32 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (CMPC OU WACC)..................................................... 34 Estimação de custo de capital próprio .................................................................................. 36 Estimação de custo de capital de terceiros .......................................................................... 39 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE............................................................................................................40 EXEMPLO PRÁTICO: ESTIMATIVA DE CUSTO DE CAPITAL PARA ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE CONCESSÕES RODOVIÁRIAS FEDERAIS .................................... 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 50 MÓDULO III – PROJETANDO FLUXOS DE CAIXA ............................................................................... 51 PRINCIPAIS DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS ............................................................................. 51 Balanço patrimonial (BP) ........................................................................................................ 52 Demonstrativo de resultado de exercício (DRE) .................................................................. 53 Demonstrativo do fluxo de caixa (DFC) ................................................................................ 53 FLUXO DE CAIXA VERSUS LUCRO .................................................................................................... 54 DO LUCRO AO FLUXO DE CAIXA .................................................................................................... 55 Estimando as contas do DRE .................................................................................................. 56 Lucro líquido não alavancado (unlevered net income) ......................................................... 59 Ajuste pela variação de capital de giro líquido e outras contas que não representam entrada ou saída efetiva de caixa .......................................................................................... 60 Cômputo do fluxo de caixa livre da firma (FCFF) ................................................................. 61 Nota: tratamento de despesas de capital e itens extraordinários ou não recorrentes nas projeções de fluxo de caixa .................................................................................................... 62 QUAL FLUXO DE CAIXA UTILIZAR? ................................................................................................. 63 Fluxo de caixa livre para a firma (free cash flow to the firm, FCFF) ..................................... 63 Fluxo de caixa livre para o acionista (free cash flow to equity, FCFE) ................................. 63 MÉTODOS DIRETO E INDIRETO DE CÔMPUTO DO FLUXO DE CAIXA........................................ 66 ESTIMANDO CRESCIMENTO ........................................................................................................... 66 PERPETUIDADE ................................................................................................................................. 67 Perpetuidade simples ............................................................................................................. 67 Perpetuidade com taxa de crescimento constante ............................................................ 68 AJUSTANDO PELO RISCO NO NUMERADOR ................................................................................. 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 69 MÓDULO IV – PRINCIPAIS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO...................................................................... 71 FLUXO DE CAIXA DESCONTADO (DCF) .......................................................................................... 71 Valuation da firma como um todo (firm value ou enterprise value) .................................... 72 Valuation do capital próprio (equity value) ............................................................................ 72 Exemplo: valuation por DCF realizado de forma correta.................................................... 73 Exemplo: erros comuns na avaliação por DCF .................................................................... 74 AVALIAÇÃO POR MÚLTIPLOS .......................................................................................................... 75 Tipos de múltiplos ................................................................................................................... 78 Aplicação de múltiplos ............................................................................................................ 80 Múltiplos importados .............................................................................................................. 84 Múltiplos de transações precedentes ................................................................................... 86 Múltiplo PEG ............................................................................................................................. 87 Conclusão .................................................................................................................................. 89 QUAL MÉTODO ESCOLHER? ........................................................................................................... 90 CONSIDERAÇÕES FINAIS E BREVE INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO DE EMPRESAS II ................... 90 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 92 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ..................................................................................................................... 92 BIBLOGRAFIA COMPLEMENTAR ..................................................................................................... 92 PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 94 Avaliar uma empresa não é uma tarefa fácil. Além de conhecimento profundo sobre o negócio e o setor em que ele está inserido, é necessária a utilização de um conjunto de técnicas e procedimentos para estimar, com razoável nível de confiança, o valor econômico dos seus ativos. Ainda, não há um modelo do tipo “one size fits all”, ou seja, uma modelagem que seja superior às alternativas em qualquer situação. Há, no entanto, um conjunto de princípios e de abordagens que auxiliam o avaliador no apreçamento de quaisquer ativos, sejam eles reais ou financeiros. A esse conjunto de técnicas, procedimentos e abordagens dá-se o nome de Avaliação de Empresas. Mais precisamente, o enfoque deste curso se dá na avaliação financeira de negócios ou projetos, também conhecido como valuation, pelo termo em inglês, mas fazer o valuation de um negócio não é só sobre números. Como bem diz Damodaran (2020), o processo de dar preço a um ativo envolve números e uma narrativa, geralmente oriunda de preconcepções do avaliador sobre aquele ativo. Portanto, além da natural complexidade e do elevado grau de incerteza de algumas estimativas de valor, há ainda potenciais vieses derivados da visão do avaliador sobre a empresa e também da visão que os seus pares possuem daquela empresa. Todo ativo, seja ele real ou financeiro, possui valor, e este pode ser estimado de diversas maneiras. Mesmo que o processo de avaliação de uma empresa possua especificidades que vão redundar em uma análise “caso a caso”, elas costumam estar associadas a três abordagens básicas: avaliação pelo valor intrínseco ou “justo”; avaliação relativa; e avaliação por opções reais (DAMODARAN, 2020). As noções mais específicas de quando cada uma dessas técnicas é recomendada serão apresentadas e discutidas ainda nesta parte inicial. Neste módulo, você compreenderá os princípios básicos que norteiam o processo de avaliação financeira de uma empresa. O primeiro deles é a noção de valor intrínseco ou valor “justo”, essencial na avaliação de ativos que geram fluxos de caixa ao longo da sua vida útil. Ainda, veremos que a MÓDULO I – INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO DE EMPRESAS Cesar Augusto Guimarães Pereira 10 taxa de retorno exigida por um investidor potencial parafinanciar a empresa ou o projeto, seja por meio de dívida ou capital próprio, é equivalente à taxa de desconto dos fluxos de caixa dessa empresa ou desse projeto. Além disso, o princípio econômico do custo de oportunidade estabelece que a taxa de desconto de dois projetos de mesmo risco deve ser a mesma. Noção de valor “justo” ou intrínseco Um dos conceitos mais importantes em avaliação de empresas é a noção de um valor intrínseco ou “justo” de um ativo. Intuitivamente, parte-se do pressuposto de que o preço de um ativo é determinado pelo valor presente dos seus fluxos de caixa esperados ao longo da sua vida útil, descontados a uma taxa condizente com o seu risco. Matematicamente: Equação 1 – Cálculo do valor justo de um ativo gerador de Caixa �� = �(�� )(1 + ) + �(���) (1 + )� + ⋯ + �(���) (1 + )� A noção de valor justo é muito comum, por exemplo, no mercado acionário: será que uma ação está “cara”, “barata” ou negociada ao preço “justo”? Para responder a essa pergunta, primordial em qualquer processo de avaliação empresas, é necessário entender o que significa valor intrínseco. Para exemplificar, suponha que �� seja o preço de mercado do iésimo ativo, e ��∗ o seu valor intrínseco. Temos então que: Se �� > ��∗, ativo está sendo negociado a um preço superior ao seu valor intrínseco. Logo, o ativo está “caro”, e a recomendação seria de venda desse ativo. Se �� < ��∗, ativo está sendo negociado a um preço inferior ao seu valor intrínseco. Logo, o ativo está “barato”, e a recomendação seria de compra desse ativo. Se �� ≅ ��∗, ativo está sendo negociado a um preço aproximadamente igual ao seu valor justo. Portanto, não haveria oportunidade de arbitragem.1 Em teoria, isso parece bastante simples: basta ao avaliador calcular o preço justo de um ativo e compará-lo com o quanto o mercado o precifica atualmente. Na prática, entretanto, as coisas são bem mais complicadas. Para ilustrar, vamos pensar nas três variáveis fundamentais para estimar o valor justo de qualquer ativo: fluxos de caixa, variação dos fluxos de caixa ao longo do tempo, e risco. Especialmente se o objeto de avaliação for uma empresa startup,2 informações sobre o fluxo de caixa 1 Arbitragem é um termo que possui várias acepções. Em finanças, refere-se a uma operação de compra e venda de um mesmo ativo com o intuito de obter ganhos financeiros. 2 Startup é um termo comum para referir-se a uma empresa que se encontra no seu estágio inicial do ciclo de vida. 11 inexistem ou são muito limitadas. Se não há informação sequer sobre os fluxos de caixa passados e correntes, como, então, estimar a variação desses fluxos de caixa ao longo do tempo? Dado que existe uma incerteza muito grande sobre quanto a empresa gerará de caixa no futuro, como estimar o risco? A tarefa do avaliador, nesse caso, é consubstanciar essas diversas dimensões para chegar a algum arranjo que equacione tais preocupações e minimize incertezas na estimativa. O método de fluxo de caixa descontado pode ser utilizado para avaliar uma startup early stage, mesmo com uso intensivo de tecnologia e capital humano, com o uso de algumas modificações no método original. Uma delas é considerar um beta ajustado, para capturar melhor o risco de empreendimentos como startups que não possuem históricos operacionais e muitas vezes são atuantes em mercados ainda não explorados e com poucos players.3 Voltando ao universo do valor intrínseco para ações e companhias já mais maduras no ciclo de vida, uma prática muito comum de corretoras de valores mobiliários é produzir relatórios – frequentemente denominados “carteira recomendada” – indicando compra ou venda de um ativo, com base na comparação entre o valor teórico deste, ou intrínseco, e o seu preço no mercado. Os analistas de mercado responsáveis por tais recomendações utilizam, frequentemente, a ideia de valor justo para indicador compra de um ativo, muitas vezes determinado por modelos de fluxo de caixa descontado, do inglês discounted cash flow (DCF). Cumpre salientar que a ideia de valor intrínseco se aplica somente a ativos que possuem como característica a geração de caixa ao longo da sua vida útil. Alguns ativos com características peculiares não atendem a essa condição. Um excelente exemplo é trazido por Damodaran (2020): uma obra de Picasso não é um ativo gerador de fluxos de caixa, portanto, não cabe a determinação do seu preço pelo valor intrínseco. O preço é resultado, na verdade, da percepção de valor que compradores e vendedores possuem com relação ao ativo. Finalmente, mas não menos importante, ressaltamos que a ideia de valor intrínseco não necessariamente se baseia em modelos de fluxo de caixa descontado. Por exemplo, quando o valor de uma empresa é consequência do valor potencial de venda dos seus ativos – deduzidos da dívida líquida –, e não do valor presente dos seus fluxos de caixa esperados, o valor intrínseco é resultado de uma abordagem patrimonial. 3 Mais detalhes sobre startups na unidade 1.4. 12 Figura 1 – Exemplo de ações recomendadas por corretoras de valores mobiliários (abril de 2019) ação Recomendações Petrobras (PETR4) 14 Banco do Brasil (BBAS3) 8 Suzano (SUZB3) 7 Braskem (BRKM5) 6 Itaú Unibanco (ITUB4) 6 Pão de Açúcar (PCAR4) 6 IRB Brasil Resseguros (IRBR3) 5 Rumo (RAIL3) 5 Gerdau (GGBR4) 4 Usiminas (USIM5) 4 Fonte: FIGO, Anderson. As ações mais recomendadas para abril, segundo 17 corretoras. Revista Exame, 2 abr. 2019. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/as-acoes-mais-recomendadas-para-abril-segundo-17- corretoras>. Acesso em: 12 abr. 2020. Risco, retorno requerido e custo de oportunidade Uma ideia fundamental no processo de avaliação de empresas é a de que a taxa de desconto dos fluxos de caixa futuros de um ativo deve ser proporcional ao seu risco. Dito de outra maneira, quanto mais arriscado for o negócio ou o projeto avaliado, maior será a taxa de retorno requerida pelos financiadores de capital, seja capital de terceiros, seja capital próprio. Analogamente, a taxa requerida de retorno equivale ao custo de capital ou à taxa de desconto utilizada para trazer fluxos de caixa esperados para a data de hoje. Finalmente, está a ideia de custo de oportunidade: projetos de mesmo risco devem ser descontados a uma mesma taxa, sob pena de arbitragem. Portanto, o avaliador de empresas deve trazer a valor presente os fluxos de caixa esperados do negócio com base em uma taxa de desconto compatível com o risco daqueles fluxos de caixa. Esse risco pode ser entendido como o retorno requerido por potenciais investidores para aquele projeto. Quanto mais arriscados forem os fluxos de caixa avaliados, maior vai ser a “penalização” que os fluxos esperados receberão: para qualquer valor monetário positivo no futuro, uma maior taxa de desconto implica um menor valor presente, isto é, valor hoje. 13 Qual fluxo de caixa considerar? Há dois tipos de fluxo de caixa a se considerar no momento da avaliação. A sua escolha vai depender da abordagem do analista e das particularidades do caso concreto. O primeiro é o fluxo de caixa da empresa, que é o fluxo de caixa total gerado pelo negócio, antes do pagamento dos detentores de capital. Por exemplo, antes do pagamento de principal e juros da dívida, devidos aos credores da firma. Já o segundo diz respeito ao fluxo de caixa dos acionistas. Somente os fluxos de caixa destinados aos beneficiários residuais da empresa – também conhecidos como acionistas, donos ou cotistas –, o que ocorre por meio do pagamento de dividendos.4 Enquanto o primeiro tipo de fluxo de caixa – o fluxo de caixa livre da firma ou free cash flow to the firm (FCFF) – é indicado para a avaliação da empresa como um todo, o segundo – o fluxo decaixa livre ao acionista ou free cash flow to the equity (FCFE) – é indicado para a avaliação do equity ou patrimônio líquido da empresa. É importante destacar que, se a escolha do analista for por utilizar o FCFF, a taxa de desconto dos fluxos de caixa deve ser o custo de capital da firma como um todo – o custo médio ponderado de capital (CMPE) ou, ainda, WACC, sigla para weighted average cost of capital. Reciprocamente, se o avaliador utilizar o FCFE no numerador, a taxa de desconto utilizada deve ser o custo de capital próprio da empresa, independentemente de como a empresa é financiada – proporção de dívida e capital próprio, também conhecido como estrutura de capital. Principais modelos de avaliação Uma vez definido que fluxo de caixa considerar, é momento de começar a pensar em que modelo de avaliação se encaixa melhor, tendo em vista as peculiaridades da firma e do setor. Diversas referências sinalizam três principais classes de modelos de avaliação (BERK; DeMARZO, 2014; ROSS; WESTERFIELD; JAFFE, 2011; DAMODARAN, 2020): Avaliação pelo valor intrínseco ou “justo” – O valor de um ativo hoje equivale ao valor presente dos seus fluxos de caixa esperados ao longo da sua vida útil. Envolve três parâmetros principais: os fluxos de caixa; a vida útil do ativo; e o risco (taxa de desconto). Avaliação relativa – A avaliação de um ativo é baseada no quanto o mercado precifica ativos similares. Em geral, são utilizados múltiplos, tais como a relação preço/lucro (P/L), preço sobre valor patrimonial (P/VPA), preço sobre lucro antes de despesas financeiras, impostos, depreciação e amortização (P/EBITDA), entre outros. Ainda, como setores de atividade econômica possuem, naturalmente, idiossincrasias – tais como diferentes 4 No Brasil, existe ainda a figura dos Juros Sobre o Capital Próprio (JSCP), que, embora tenham tratamento fiscal de juros, figuram na prática como uma forma alternativa de distribuição de lucro, além dos dividendos. 14 oportunidades de crescimento, risco e sensibilidade em relação ao ciclo de negócios, por exemplo – costuma-se comparar uma empresa com os seus pares. O princípio aqui é comparar “bananas com bananas” e “maçãs com maçãs”. Avaliação por opções reais – É um método de avaliação indicado para ativos ou projetos que possuem algum tipo de opção atrelados a ele. É particularmente apropriado e indicado em alguns contextos específicos, tais como avaliação de projetos envolvendo recursos naturais, patentes, etc. Por exemplo: o valor de uma empresa de tecnologia pode depender de uma aprovação ou não de uma patente requerida, que determinará o seu valor em algum momento futuro de tempo. Laudos de avaliação Um laudo de avaliação é a forma tradicional de apresentação dos resultados de um valuation. Tal fato decorre tanto da formalidade do processo quanto também das exigências legais. A Lei das S.A. (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976), por exemplo, no seu art. 226, assim define a “Empresa Avaliadora” e a necessidade de apresentação de um laudo de avaliação para operações de incorporação, fusão e cisão: Art. 226. As operações de incorporação, fusão e cisão somente poderão ser efetivadas nas condições aprovadas se os peritos nomeados determinarem que o valor do patrimônio ou patrimônios líquidos a serem vertidos para a formação de capital social é, ao menos, igual ao montante do capital a realizar. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também orienta o processo de avaliação de empresas, na medida em que prevê o emprego de determinadas metodologias. A Instrução CVM 361, no seu Anexo III, dispõe sobre critérios de avaliação econômico-financeira e orienta, em detalhes, a forma de elaboração dos respectivos laudos, amplamente aceitos pelo mercado de avaliações. Há, ainda, no que se refere à apresentação de laudo e nas condições para o desenvolvimento da avaliação, algumas situações que a empresa avaliadora deve declarar, nos termos da legislação vigente no Brasil: i. não ser titular, direta ou indiretamente, de qualquer valor mobiliário ou derivativo referenciado em valor mobiliário de emissão das incorporadas ou da companhia; ii. não ter conhecimento de conflito de interesses, direto ou indireto que lhe diminua a independência necessária ao desempenho de suas funções; e Cesar Augusto Guimarães Pereira 15 iii. que as incorporadas, a companhia, seus controladores, acionistas ou administradores, de nenhuma forma: (a) direcionaram, limitaram, dificultaram ou praticaram quaisquer atos que tenham ou possam ter comprometido o acesso, a utilização ou o conhecimento das informações, bens, documentos ou metodologias de trabalho relevantes para a qualidade de suas respectivas conclusões, (b) restringiram, de qualquer forma, a sua capacidade de determinar as conclusões apresentadas de forma independente, ou (c) determinaram as metodologias utilizadas para a elaboração do laudo de avaliação do valor econômico das ações das incorporadas a serem incorporadas pela companhia. O laudo de avaliação deve também ser claro no(s) método(s) de avaliação utilizado(s), bem como nas premissas e nas informações incorporadas. Isso inclui, por exemplo, a identificação do uso de dados históricos ou de projeções, que podem ser baseados em documentos ou em estimativas fornecidas pela diretoria da empresa avaliada. A empresa avaliadora também não é responsável pelo due diligence ou auditoria das informações prestadas: é bastante comum nos laudos de avaliação o disclaimer de que a empresa avaliadora assumiu como verdadeiros e coerentes os dados obtidos para a avaliação. Alguns elementos são corriqueiramente apresentados nos referidos laudos: base de dados históricos e de projeções para a elaboração do fluxo de caixa descontado, por exemplo, informações sobre receitas, comissões, investimentos, impostos, custos operacionais, despesas administrativas, despesas comerciais – todos referentes ao negócio – e indicadores macroeconômicos; característica dos dados utilizados para a análise, por exemplo, análise do trimestre versus last twelve months (LTM); perspectivas de evolução do mercado dos produtos alvo do negócio adquirido, fornecidas pelos administradores da empresa avaliada, e discussões com executivos da empresa avaliada em relação às expectativas futuras do negócio no âmbito Brasil. Considerações finais A esta altura, o leitor já deve ter uma noção básica do que é a disciplina Avaliação de Empresas I e de como as principais abordagens se aplicam a um processo de valuation. Nos próximos módulos, entraremos mais a fundo no detalhe de algumas etapas, a começar pelo custo de capital, que corresponde à taxa de desconto pela qual fluxos de caixa devem ser descontados, e varia diretamente conforme o risco da empresa ou do projeto. Cesar Augusto Guimarães Pereira Cesar Augusto Guimarães Pereira Custo de capital é, nas palavras de Ross et al. (2011), o retorno mínimo que uma empresa precisa gerar para satisfazer todos os seus investidores, incluindo acionistas ordinaristas, acionistas preferencialistas5 e credores. É uma medida frequentemente utilizada por empresas na avaliação da viabilidade econômica de projetos de investimento: um desembolso de capital deve gerar uma taxa interna de retorno (TIR) maior que o custo de capital da empresa. Se isso for verdade, a empresa está gerando valor aos seus acionistas.6 Analogamente, do ponto de vista do investidor, suponha que determinada empresa gere R$ 1 milhão de fluxo de caixa livre. Ela tem duas opções: distribuir esse R$ 1 milhão aos seus acionistas, sob a forma de dividendos, ou reinvestir em algum projeto da firma que gera fluxos de caixa futuros que poderão ser distribuídos aos acionistas no futuro. O que você preferiria? Se houver uma opção de investimento emalgum ativo financeiro de mesmo risco do projeto, mas que possua um retorno esperado maior, os acionistas certamente preferirão receber o fluxo de caixa hoje e investi-lo no ativo que possui maior retorno. Isso nos leva a uma regra de orçamento de capital essencial para entender custo de capital (ROSS et al., 2011): A taxa de desconto de um projeto deve ser igual ao retorno esperado de um ativo financeiro de risco equivalente. 5 Uma ação preferencial tem significado bem diferente nos EUA e no Brasil. Enquanto lá é um título que paga um cupom perpétuo e, por isso, se assemelha muito a um título de renda fixa, no Brasil é muito parecido com uma ação ordinária. Como diferenças fundamentais, as ações preferenciais não dão direito a voto, mas possuem preferência no recebimento de dividendos. 6 Existem diversas restrições ao uso da TIR como método de avaliação de projetos de investimento, especialmente se o projeto for do tipo “não convencional”. Tais restrições incluem a possibilidade de múltiplas TIRs, a possibilidade de um projeto não apresentar TIR, e a assunção de que os fluxos de caixa intermediários são reinvestidos à própria TIR. Ainda, esse raciocínio de que a taxa interna de retorno deve ser superior ao custo de capital só se aplica se o projeto for do tipo upfront, quando a empresa desembolsa um valor hoje. MÓDULO II – CUSTO DE CAPITAL Cesar Augusto Guimarães Pereira 18 Quadro 1 – Relação intrínseca entre a taxa de desconto de um projeto e o seu custo de oportunidade Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Ross et al (2011). Nota: Na ausência de alíquotas tributárias diferentes entre as alternativas, os investidores preferirão que a firma invista no projeto somente se o retorno esperado deste for pelo menos tão grande quanto o do ativo financeiro de risco equivalente. A ideia se assemelha muito ao conceito de arbitragem: dado que o risco é similar, o investidor escolheria a opção de maior retorno esperado. O exemplo acima elucida a equivalência existente entre os três termos, utilizados neste trabalho de maneira intercambiável: Equação 2 – Relação intrínseca entre taxa de desconto, retorno exigido, custo de capital e custo de oportunidade taxa de desconto = retorno exigido = custo de capital = custo de oportunidade Especificamente no que tange ao valuation, vamos voltar a pensar no modelo de fluxo de caixa descontado (DCF). Já discutimos a intuição de que o valor de uma empresa advém do valor presente dos seus fluxos de caixa esperados, descontados a uma taxa condizente com o seu risco. Quando estamos avaliando um negócio como um todo, seguindo a ótica dos fluxos de caixa livres da firma (FCFF), a taxa de desconto apropriada é exatamente o custo médio ponderado de capital (CMPC ou WACC, da sigla em inglês). Conseguir estimar essa importante taxa é, agora, o desafio principal. Neste módulo, portanto, você conhecerá as principais medidas de custo de capital utilizadas para o valuation de empresas. Além disso, aprenderá como calculá-las, quais são as principais metodologias utilizadas, quais se referem a risco sistemático ou risco total, e como essas medidas interagem com os conceitos de taxa de desconto, retorno exigido e custo de oportunidade. 19 Taxa livre de risco Suponha que exista na economia um ativo sem risco de default – risco de “calote” –, cuja maturidade coincida com a maturidade de um investimento alternativo que está sendo avaliado. Se esse investimento alternativo possuir risco – o que, em se tratando de avaliação de empresas, sempre existirá, por maior ou financeiramente mais saudável que seja o negócio avaliado –, um princípio básico de finanças vem à tona: Um investidor deve exigir um retorno mais alto para investir em ativos com risco do que exigiria em um investimento livre de risco. Essa ideia nos faz pensar em um prêmio de risco: o retorno exigido por investidores deve ser proporcional ao risco assumido. Ou seja, quanto maior for o risco da empresa ou do projeto em análise, maior deverá ser a taxa de retorno requerida por potenciais investidores. É como se existisse uma taxa de juros base, oriunda de uma opção de investimento sem risco, para a qual todas as operações com ativos arriscados vão basear-se. A magnitude do prêmio de risco vai depender do quanto mais arriscado é o investimento analisado. Para entender o que torna um ativo livre de risco, temos de recordar como o risco é medido em investimentos. Investidores compram ativos e possuem um retorno esperado para o horizonte de tempo que esperam mantê-lo em carteira. O retorno observado do ativo – verificável ex post – pode ser muito diferente do retorno esperado. Em análise de investimentos, risco é frequentemente pensado como uma medida de dispersão em torno de uma média (medida estatística), o que implica deslocamentos entre retornos realizados e retornos esperados (intuição econômica). Portanto, para um ativo ser livre de risco, ele deve proporcionar um retorno sempre igual ao seu retorno esperado – um retorno “certo”, sem variabilidade nos seus resultados. Como, afinal, a taxa livre de risco pode ser identificada no mundo real? Segundo Damodaran (2009), há dois requisitos para uma taxa ser considerada livre de risco. São eles: Não pode haver risco de crédito (default risk = 0) – Na prática, essa exigência anula a possibilidade de qualquer título privado ser o ativo livre de risco. Isso porque mesmo as maiores e financeiramente mais saudáveis empresas possuem algum risco – mesmo que mínimo – de default. Os únicos valores mobiliários com possibilidade de serem risk-free são, portanto, títulos do governo, e não porque os governos sejam mais bem administrados do que empresas, mas porque controlam a impressão da moeda. Pelo menos em termos nominais, eles devem ser capazes de cumprir as suas promessas. No entanto, por mais simples que essa suposição possa parecer, nem sempre tal ideia se sustenta, a exemplo de inúmeros episódios de governos que declararam moratória da sua dívida e não pagaram os seus credores. Não deve haver risco de reinvestimento – Para ilustrar esse ponto, suponha que você esteja tentando estimar o retorno esperado em um período de cinco anos e que você deseja encontrar a taxa livre de risco. Uma taxa de seis meses de letras do Tesouro, embora livre Cesar Augusto Guimarães Pereira Cesar Augusto Guimarães Pereira Cesar Augusto Guimarães Pereira Cesar Augusto Guimarães Pereira Cesar Augusto Guimarães Pereira 20 de risco de crédito, não será um ativo sem risco, porque existe o risco de reinvestimento, pois ninguém sabe a que taxa a letra do Tesouro será negociada daqui a seis meses. Mesmo um título do Tesouro de cinco anos não está isento de riscos, uma vez que os cupons do título serão reinvestidos a taxas que não podem ser previstas hoje. A taxa livre de risco para um horizonte de cinco anos deve ser o retorno esperado em um título de cupom zero7 de cinco anos e livre de default (título do governo). Em resumo, um investimento pode ser isento de riscos se for emitido por uma entidade que não possua risco de crédito, e o instrumento específico usado para derivar a taxa livre de risco variará dependendo do período durante em que você quer que o retorno seja garantido. Na prática, portanto, um ativo livre de risco deve obedecer a essas duas propriedades, necessariamente. Se pensarmos um pouco sobre o primeiro item, concluiremos que títulos de dívida soberana de diversos países não se enquadram no conceito de default-free. Mas como fazemos para estimar taxas livre de risco – a taxa de desconto “base” para qualquer ativo com risco – em diferentes países? Se for uma firma que opera nos EUA, a resposta é mais simples: os títulos do Tesouro americano – denominados em dólar, mesma moeda dos fluxos de caixa a seremdescontados – são considerados livre de risco. Bastaria ao analista, portanto, escolher aquele título com maturidade de investimento compatível com os fluxos de caixa que estão sendo analisados. Em geral, de longo prazo, pois se pressupõe que a empresa operará indefinidamente; os bonds de 10 ou 30 anos são os mais utilizados. A figura 2 expõe a taxa de juros de diversos títulos da dívida soberana dos EUA, com maturidade constante, para diferentes prazos de vencimento. Repare que elas variam significativamente ao longo do tempo, mas tendem a “andar juntas”, especialmente os títulos com vencimento em cinco, 10 e 30 anos. 7 Esses títulos também são conhecidos como zero-coupon bonds. O investidor aporta um capital hoje (também conhecido como principal), e resgata o valor de face (valor futuro) em uma única data, no vencimento do título. Cesar Augusto Guimarães Pereira 21 Figura 2 – Séries temporais das taxas de juro de títulos do governo americano para diferentes maturidades Fonte: Federal Reserve Economic Data (Fred) – Federal Reserve Bank de St. Louis. Disponível em: <https://fred.stlouisfed.org>. Nota: Séries diárias, de 1º de janeiro de 1957 até 30 de abril de 2020, expressas em por cento ao ano (% a.a.). As taxas de juro não são ajustadas pela inflação – isto é, são nominais – e também não têm qualquer ajuste sazonal. Os títulos do Tesouro Americano de 30 anos de maturidade constante [DGS30] foram descontinuados em 18 de fevereiro de 2002 e reintroduzidos em 9 de fevereiro de 2006. Séries utilizadas na construção do gráfico: 30-year treasury constant maturity rate [DGS30], <https://fred.stlouisfed.org/series/DGS30>; 10-year treasury constant maturity rate [DGS10], <https://fred.stlouisfed.org/series/DGS10>; 5-year treasury constant maturity rate [DGS5], <https://fred.stlouisfed.org/series/DGS5>; 1-year treasury constant maturity rate [DGS1], <https://fred.stlouisfed.org/series/DGS1>; 3-month treasury constant maturity rate [DGS3MO], <https://fred.stlouisfed.org/series/DGS3MO>; Effective federal funds rate [FEDFUNDS], <https://fred.stlouisfed.org/series/FEDFUNDS>. 22 Uma nota sobre taxas de juros reais ou nominais: o avaliador deve ser consistente. Novamente, é importante pensar no princípio da consistência. Se os fluxos de caixa estimados forem reais, isto é, já descontados da variação do poder aquisitivo da moeda – inflação –, a taxa de desconto deve ser uma taxa real. Se os fluxos de caixa forem nominais, então, a taxa de desconto deve ser também nominal. No caso de estimações com base em fluxos de caixa reais, convém, ao invés de uma risk-free rate nominal, utilizar uma taxa de juros real: aquelas oriundas dos “inflation protected treasury bonds” (Tips). No Brasil, o título do Tesouro que possui essa característica é, por exemplo, a Nota do Tesouro Nacional série B Principal (NTN-B Principal),8 que paga ao investidor a correção monetária – medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – mais uma taxa de juros real, no vencimento, sem pagamentos intermediários (cupons). Voltando à taxa livre de risco: mas e se o avaliador estiver precificando um ativo em um país emergente, em moeda local? Seria a taxa de juros de um título americano, cuja unidade monetária de negociação é o dólar, a taxa livre de risco? A resposta é não. É necessário ter uma medida da taxa livre de risco específica para o país onde a empresa opera. Na prática, Damodaran (2020) indica três formas principais de calcular a taxa livre de risco: spread de risco de crédito a partir do rendimento de títulos de dívida soberana denominados em dólar americano (USD); spread de risco de crédito por meio de Credit Default Swaps (CDS); e spread de risco de crédito com base em ratings de dívida soberana.9 Spread de risco de crédito a partir do rendimento de títulos de dívida soberana denominados em dólar americano (USD) Quando existir um título de dívida do país analisado (no nosso caso, Brasil) denominado em USD e de mesmo vencimento que um título da dívida americana – por exemplo, uma T-Bill de 10 anos –, podemos estimar o spread de risco de crédito pela diferença entre os rendimentos (yields) do título brasileiro e do título americano. Exemplo (dados de 24/05/2020): Brazil 10 year bond yield: 7,35%; US 10 year bond yield: 0,66%; (A – B) Default Spread = 7,35% - 0,66% = 6,69 pontos percentuais (p.p.). Portanto, por esse método, estimamos a taxa livre de risco do Brasil como sendo de 6,69% ao ano, considerando um horizonte temporal de 10 anos. Como revela a figura 3, abaixo, o spread de risco de crédito é diferente de acordo com a maturidade do título analisado: em maio de 2020, 8 Na notação do Tesouro Direto, esse título é chamado de Tesouro IPCA+. Para mais detalhes, visite o site do Tesouro Direto: <https://www.tesourodireto.com.br/titulos/tipos-de-tesouro.htm>. 9 Exemplo prático para o Brasil será dado no fim do módulo. 23 o spread era crescente na maturidade dos títulos. Ou seja, para títulos com vencimentos no curto prazo, o spread de risco de crédito é menor (~2-3 p.p.) do que para títulos com vencimento em prazos maiores (~5,9p.p. para maturidade de cinco anos e, como calculamos, de 6,69 p.p. para maturidade de 10 anos). Figura 3 – Spread de títulos de dívida soberana com diversos vencimento, Estados Unidos vs. Brasil, em 24/05/2020 Fonte: United States vs. Brazil: country comparison. World Government Bonds. Disponível em: <http://www.worldgovernmentbonds.com/country-comparison/united-states-vs-brazil>. Acesso em: 24 maio 2020. Nota: O spread está medido em pontos-base (basis-points), o que é uma forma bastante comum de representação de spread no mercado financeiro. Portanto, -669 no eixo y significa um spread de -6,69%, considerando o retorno de um título do Tesouro americano de 10 anos (0,66%) e um título de 10 anos do Tesouro brasileiro (7,35%). Essa abordagem de estimar o spread de risco soberano pelos yields de títulos de dívida denominados em USD e de mesma maturidade é simples e bastante intuitiva. No entanto, nem todos os países possuem títulos de dívida denominados em USD. Quando o avaliador está analisando uma empresa que opera em um país que não possui títulos de dívida soberana denominados em USD, é necessário partir para uma outra solução. Por isso, é necessário discutirmos outras formas de estimar o default spread. 24 Spread de risco de crédito por meio de Credit Default Swaps (CDS) Os CDS são contratos derivativos que permitem ao detentor de um título de dívida – neste caso, soberana, mas pode ser dívida de emissão privada também – comprar um “seguro” para esses papéis. Em caso de default do governo emissor, o titular do CDS recebe o valor do principal. Em troca dessa garantia, ele paga, usualmente para uma instituição financeira, um “prêmio” para ter esse seguro. Esse prêmio, que varia de acordo com a percepção de mercado sobre a probabilidade de default do emissor, é uma medida que pode ser utilizada como proxy para o spread de risco de crédito de determinado país. Exemplo (dados de 24/05/2020): Brazil 5 years CDS: 3,026 p.p. (302.6 basis points);10 USA 5 years CDS: 0,196 p.p. (19.60 basis points) e (A – B) spread de crédito = 3,026 – 0,196 = 2,83 p.p. Neste caso, o spread de risco de crédito, para um cenário de cinco anos, é igual a 3,02%. Portanto, para estimar a taxa livre de risco, deveríamos acrescer esse spread de crédito ao rendimento de um título de dívida americana denominado em USD. Portanto, 0,66% + 3,026% = 3,69 p.p., por esta fórmula de estimar a taxa livre de risco. Spread de risco de crédito com base em ratings de dívida soberana As duas abordagens acima discutidas – spread de dívidasoberana denominada em USD e de mesma maturidade, e spread oriundo do mercado de CDS – podem não funcionar para alguns grupos de países, em particular os que não possuem títulos em ambos os mercados. Nesse caso, restam poucas alternativas para estimar o spread de risco de crédito. Uma delas é elaborar uma correspondência entre os spreads médios de países que possuem dívida soberana denominada em USD ou CDS e a classificação de risco das principais agências de rating de crédito: Moodys, Fitch e Standard & Poors. 10 Apenas como referência, um pouco antes da pandemia do Sars-Cov-2, o CDS da dívida soberana brasileira de cinco anos atingiu 91.8 pontos-base (ou seja, um spread de 0,918 p.p.), em 20 de fevereiro de 2020. Com a pandemia, o CDS subiu rapidamente, atingindo uma máxima de 374 b.p. (3,749 p.p.) em 19 de março de 2020. 25 Tabela 1 – Default de crédito médio por rating de crédito, antes e durante a pandemia de COVID-19 rating default de crédito antes da pandemia de Sars-Cov-2 (01/01/20) (b.p.) default de crédito durante a pandemia (04/01/20) (b.p.) A1 59 104 A2 71 126 A3 100 178 Aa1 33 59 Aa2 41 74 Aa3 51 90 Aaa 0 0 B1 376 668 B2 460 816 B3 544 965 Ba1 209 371 Ba2 251 445 Ba3 301 534 Baa1 134 237 Baa2 159 282 Baa3 184 326 Ca 1003 1779 Caa1 627 1112 Caa2 753 1335 Caa3 836 1482 NR NA NA Fonte: DAMODARAN, Aswath. Country default spreads and risk premiums. Disponível em: <http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/ctryprem.html>. Acesso em: 22 maio 2020. Nota: Média dos defaults de crédito calculados pelo professor Aswath Damodaran e disponibilizados no seu website (https://pages.stern.nyu.edu/~adamodar). Unidade de medida: basis-points ou pontos-base em português. Para pontos percentuais, basta dividir por 100 (Ex.: no caso do Brasil, que é rating Ba2 pela Moody’s, o spread de risco de crédito por essa abordagem seria 26 de 251 b.p. = 2,51 p.p. Para associar cada faixa de rating com um spread de risco de crédito, calcula- se a média do spread de crédito oriundo do CDS para todos os países em uma data faixa rating de crédito na escala da Moody’s. Essa média representa o quanto seria o spread esperado para aquele nível de risco soberano, em média. Para a estimativa de 1º de abril de 2020 (durante a pandemia de Sars-Cov2, portanto), foi utilizada a média da variação no CDS de todos os países da amostra – 77,36% (aumento de 31/12/2019 a 01/04/2020). O uso da abordagem de estimar o spread de risco de crédito com base no rating de crédito do país é bastante útil quando se está avaliando uma empresa que opera em um país que não possui título de dívida denominado em USD ou mercado de CDS. Por exemplo: se você estiver fazendo um valuation de uma empresa que opera no Haiti, no Zimbábue ou na Síria, provavelmente você não terá alternativa a não ser usar a abordagem do rating de crédito e a sua correspondência com um spread médio de crédito para países naquela mesma faixa de risco. Prêmio de risco de mercado O conceito de prêmio de risco de mercado – equity risk premium (ERP) – é crucial para a determinação do custo de capital de uma empresa ou projeto. Trata-se de uma medida comum a determinado país, refletindo prêmio de risco geral a todas as empresas que lá atuam. Por ser uma medida geral de mercado, não é específico da empresa ou do negócio: se estivermos avaliando a empresa A, B ou C em um mesmo instante do tempo, a estimativa de prêmio de risco de mercado será a mesma para os três ativos. Há diversas formas de se calcular o ERP. Em linhas gerais, podemos separar os modelos em dois grandes grupos: os que utilizam informações passadas para estimar o prêmio de risco no futuro (backward looking) e aqueles que utilizam informações presentes para estimar uma percepção de prêmio de risco de mercado no futuro (forward looking). No primeiro grupo, destaca-se o modelo de prêmio de risco histórico, bastante utilizado em processos de valuation. No segundo grupo, destacam-se o modelo de desconto de dividendos – ou dividend discount model (DDM) – e o prêmio de risco implícito. A seguir, discutiremos cada uma dessas abordagens. Olhando para trás: o prêmio de risco histórico O prêmio de risco de mercado pela abordagem histórica pressupõe que o prêmio de risco observado em períodos de tempo suficientemente longos representa a melhor estimativa para o prêmio de risco no horizonte projetado. Implicitamente, assume-se uma convergência à média, na medida em que se trata de uma variável que usa dados passados para calcular uma medida de interesse para o futuro, isto é, a medida é backward looking. 27 Quão bem (ou mal) a taxa média na qual os investidores foram recompensados no passado por investir em ativos com risco se aproximará do prêmio de risco no futuro, obviamente desconhecido? A resposta para essa pergunta, mesmo que em forma de conjecturas, será importante para avaliar se o uso do prêmio de risco histórico é adequado ou não para o caso concreto. Segundo Ross et al. (2011), o prêmio de risco de mercado nos EUA, entre 1900 e 2010, foi de 7,2%. Em termos comparativos, nesse mesmo período, observa-se que a média da amostra global é levemente inferior (6,9%). A Tabela 2 sintetiza o ERP, o desvio-padrão, e o Índice de Sharpe para um grupo de 17 países. Tabela 2 – Prêmio de risco mercado histórico: amostra mundial, 1900-2010 país prêmio de risco de mercado histórico (%) (A) desvio-padrão (%) (B) Índice de Sharpe (A/B) Austrália 8,3 17,6 0,47 Bélgica 5,5 24,7 0,22 Canadá 5,6 17,2 0,33 Dinamarca 4,6 20,5 0,22 França 8,7 24,5 0,36 Alemanha 9,8 31,8 0,31 Irlanda 5,3 21,5 0,25 Itália 9,8 32 0,31 Japão 9 27,7 0,32 Holanda 6,5 22,8 0,29 Noruega 5,9 26,5 0,22 África do Sul 8,3 22,1 0,38 Espanha 5,4 21,9 0,25 Suécia 6,6 22,1 0,30 Suíça 5,1 18,9 0,27 Reino Unido 6 19,9 0,30 Estados Unidos 7,2 19,8 0,36 Média 6,9 23,0 0,3 Fonte: Ross et al. (2011) 28 Olhando para os números da Tabela 2, acima, percebe-se que o prêmio de risco de mercado histórico dos EUA é o 7º (7,2%), e o prêmio médio global de risco global é de 6,9%. Os investidores americanos foram relativamente bem recompensados por assumirem o risco do mercado acionário, mas não tão bem como Itália (9,8%) e Alemanha (9,8%). Os países com melhor desempenho de acordo com o índice de Sharpe11 foram Estados Unidos, Austrália, África do Sul e França. Como adaptaríamos o prêmio de risco histórico a um mercado emergente? Damodaran (2009) propõe o uso da seguinte abordagem. Spread de crédito do título soberano do país – Nesta abordagem, o ERP do país é igual ao ERP de um mercado maduro mais o spread de default do título de dívida emitido pelo país. Explicitamente: Equação 3 – Adaptando o prêmio de risco de mercado para países em desenvolvimento �$ê& ' () $ *+' () &)$+,(' = -,*) () .& &)$+,(' &,(.$' + �$ê& ' () $ *+' (' /,í* Onde, Prêmio de risco de mercado – É o equity risk premium, ou seja, o quanto os investidores devem ser recompensados para investir em um ativo com risco, em média. (Prêmio) Base de um mercado maduro – É o equity risk premium de um mercado maduro (na prática, utilizamos os EUA como proxy). Prêmio de risco de país – É um prêmio adicional, que reflete o excesso de risco do país em que se está fazendo a avaliação. a) Exemplo aplicado ao Brasil antes da pandemia do Coronavírus (dados de 31/12/2019): ERP dos EUA: 7,20%; Brazil 10 year bond yield: 6,74%; US 10 year bond yield: 1,85% e (B – C) default spread = 6,74% - 1,85% = 4,89 p.p. Portanto, supondo que o ERP dos EUA seja de 7,20%, o ERP do Brasil seria igual a 7,20% + 4,89 p.p. = 12,09% ao ano. 11 O Índice de Sharpe (IS) medeo retorno por unidade de risco absoluto (desvio-padrão). É uma métrica bastante utilizada para retorno ajustado ao risco de investimentos. 29 b) Exemplo aplicado ao Brasil durante a pandemia do Coronavírus (dados de 24/05/2020): ERP dos EUA: 7,20%; Brazil 10 year bond yield: 7,35%; US 10 year bond yield: 0,66% e (B – C) default spread = 7,35% - 0,66% = 6,69 p.p. Portanto, supondo que o ERP dos EUA seja de 7,20%, o ERP do Brasil seria igual a 7,20% + 6,69 p.p. = 13,89% ao ano. Apenas como referência, na survey de Fernandez et al. (2020), a média do ERP utilizado por analistas, executivos, professores de economia e finanças e outros profissionais de mercado que responderam à pesquisa no Brasil variou entre 7,5% (2015) e 8,4% (2018). O Quadro 2, a seguir, expõe o resultado da pesquisa para diferentes países, com destaque para o Brasil. Quadro 2 – Prêmio de risco de mercado (MRP), taxa livre de risco (RF) e retorno requerido por investir em ativos com risco (Km = MRP + RF), média por país, 2015 a 2020 Média 2020 Média 2019 Média 2018 Média 2015 Km RF MRP Km RF MRP Km RF MRP Km RF MRP EUA 7,4 1,9 5,6 8,3 2,7 5,6 8,2 2,8 5,4 7,9 2,4 5,5 Espanha 7,6 1,3 6,3 8,2 1,7 6,4 8,8 2,1 6,7 8,1 2,2 5,9 Argentina 29,6 12,3 17,3 25,0 10,1 14,9 23,1 9,3 13,9 35,5 12,6 22,9 Austrália 10,3 2,4 7,9 9,2 2,8 6,5 9,7 3,1 6,6 9,2 3,1 6,0 Áustria 7,1 0,9 6,2 7,4 1,3 6,1 8,2 2,0 6,2 8,4 2,8 5,7 Bélgica 7,2 0,9 6,2 7,4 1,2 6,2 7,8 1,6 6,2 6,7 1,3 5,5 Brasil 12,7 4,8 7,9 15,4 7,2 8,2 15,7 7,3 8,4 16,5 9,0 7,5 Canadá 7,4 1,8 5,7 8,3 2,5 5,8 8,7 2,9 5,8 8,3 2,3 5,9 Chile 10,2 3,6 6,6 10,5 4,2 6,3 10,2 4,1 6,1 10,4 3,9 5,9 China 9,8 3,1 6,7 11,5 4,0 7,5 10,1 3,8 6,3 12,6 3,9 6,5 Colômbia 14,5 6,3 8,2 13,9 6,2 7,7 15,4 6,7 8,7 12,1 3,8 8,3 Rep. Tcheca 8,2 1,8 6,4 8,7 2,4 6,3 8,5 2,6 5,9 7,4 1,8 5,6 Dinamarca 7,0 0,9 6,1 7,2 1,2 6,0 7,6 1,6 6,0 6,8 1,3 5,5 Finlândia 7,5 1,0 6,5 7,3 1,1 6,2 7,6 1,7 5,9 6,9 1,2 5,7 França 7,0 0,8 6,2 7,2 1,2 6,0 7,4 1,6 5,9 7,2 1,5 5,6 Alemanha 6,6 0,8 5,8 6,8 1,1 5,7 6,7 1,4 5,3 6,6 1,3 5,3 30 Média 2020 Média 2019 Média 2018 Média 2015 Km RF MRP Km RF MRP Km RF MRP Km RF MRP Grécia 19,2 6,4 12,7 19,7 4,3 15,4 20,6 4,8 15,8 29,3 15,0 14,3 Hungria 10,5 3,1 7,4 11,8 4,0 7,9 11,4 3,6 7,9 9,5 0,6 8,8 Índia 11,8 4,8 7,0 14,8 6,5 8,3 14,7 6,8 7,9 15,8 7,4 8,4 Indonésia 13,9 6,3 7,6 16,2 7,2 9,0 15,6 6,8 8,8 16,4 7,5 8,9 Irlanda 7,9 1,3 6,6 7,4 1,4 6,0 8,2 1,6 6,5 6,7 1,3 5,5 Israel 7,8 1,5 6,3 8,3 2,0 6,4 7,7 1,9 5,8 6,1 0,9 5,2 Itália 7,5 1,3 6,2 7,9 1,6 6,3 8,4 2,3 6,1 7,0 1,5 5,4 Japão 7,1 0,9 6,2 7,2 1,1 6,1 6,0 0,3 5,7 6,6 0,7 5,8 Coreia do Sul 8,1 2,0 6,1 9,1 2,5 6,6 8,8 2,4 6,4 8,5 2,3 6,2 México 13,7 5,4 8,3 15,5 7,1 8,3 15,3 6,8 8,5 12,2 4,3 8,0 Holanda 7,5 1,6 5,9 7,3 1,3 6,0 7,4 1,7 5,8 7,6 1,8 5,9 Nova Zelândia 8,7 2,4 6,2 8,9 3,0 5,9 8,9 3,1 5,8 9,5 2,9 6,6 Noruega 7,0 1,2 5,8 7,4 1,4 6,0 8,1 2,4 5,7 6,8 1,4 5,5 Peru 10,7 3,7 7,0 13,1 5,6 7,5 12,6 5,3 7,3 11,2 4,0 7,2 Polônia 9,0 2,4 6,2 9,7 3,1 6,6 9,4 3,4 6,0 7,9 2,7 5,2 Portugal 8,7 1,6 7,1 10,1 2,6 7,5 10,4 3,2 7,2 7,3 1,6 5,7 Rússia 13,6 5,9 7,8 16,8 8,3 8,5 16,4 7,8 8,7 17,1 7,4 9,7 África do Sul 14,6 6,7 7,9 16,4 8,0 8,4 14,5 7,6 6,9 15,9 8,2 7,7 Suécia 7,1 1,0 6,1 7,4 1,3 6,1 8,9 1,8 7,1 6,5 1,1 5,4 Suíça 7,1 0,9 6,1 7,2 1,1 6,2 8,0 1,1 6,9 6,5 1,1 5,4 Tailândia 9,9 4,5 5,7 11,3 3,1 8,2 12,3 3,5 8,9 16,0 8,7 7,3 Turquia 21,2 10,9 10,3 20,8 11,2 9,6 18,0 10,3 7,7 17,2 7,8 9,3 Reino Unido 6,9 1,1 5,8 8,3 2,1 6,2 7,5 2,0 5,5 7,2 2,1 5,2 Uruguai 15,3 6,1 9,1 12,9 4,4 8,4 13,7 5,3 8,3 10,6 3,6 7,1 Venezuela 34,5 11,4 23,1 36,3 12,6 23,7 28,5 11,7 16,9 32,1 3,5 19,6 Fonte: Fernandez et al. (2020). Destaque, em azul, para os dados do Brasil. Conforme os dados de Fernandez et. al. (2020), a diferença entre as estimativas que os analistas utilizam e a abordagem do prêmio de risco histórico, muito provavelmente, deve-se ao fato de que os 7,20% de ERP histórico dos EUA entre 1926-2011 estão muito acima do que os agentes projetam para os próximos anos. Nesse sentido, basta ver do Quadro 2, acima, que os analistas, em média, consideraram um ERP para os EUA na faixa entre 5,4% e 5,6% em todos os anos da amostra – número significativamente abaixo do ERP histórico para os EUA. 31 Tomando a Espanha como exemplo, a Figura 4, a seguir, apresenta a dispersão nas estimativas de 521 analistas, executivos, professores de economia e finanças que responderam ao questionário de Fernandez et al. (2020) para o ano de 2020. Como se pode observar, há uma significativa amplitude nas estimativas de equity risk premium ou market risk premium, como os autores do estudo se referem: vão desde algo perto de 2% até quase 14%. Chama ainda a atenção na Figura 4 o fato de que alguns analistas têm utilizado a taxa livre de risco negativa, em termos reais. Figura 4 – Prêmio de risco de mercado (eixo y) e taxa livre de risco (eixo x) utilizada por analistas, executivos e professores de finanças e economia da Espanha, em 2020 Fonte: Fernandez et al. (2020). Nota: O gráfico sintetiza as respostas quanto à taxa de equity risk premium e risk-free rate utilizados por uma amostra de 521 analistas, executivos e professores de economia e finanças na Espanha. Os questionários foram enviados por e-mail em fevereiro de 2020, e respondidos em fevereiro ou março. No total, foram disparados mais de 15 mil e-mails, com retorno de 1.946, referentes a 81 países em todo o mundo. 32 Cabe salientar, ainda, quatro pontos importantes com relação ao risco de mercado histórico: i. Ruído na estimativa (DAMODARAN, 2009) – Primeiro, a estimativa pode carregar um ruído considerável. Trata-se de uma estimativa, com um erro padrão. Quanto menor a amostra, maior o erro padrão, ceteris paribus. Quanto maior o erro padrão, menor é a certeza de que a estimativa pontual representa de fato o verdadeiro prêmio de risco. ii. Viés de sobrevivente ou survivorship bias (DAMODARAN, 2009) – Retornos passados representam uma média ponderada dos retornos de um grupo de empresas. Essas empresas, naturalmente, são as vencedoras. As empresas que vão à falência ou fecham capital no caminho são muito provavelmente aquelas cujo rendimento é menor, isto é, não é uma amostra aleatória de empresas. O fato de essas empresas saírem do mercado ao longo do tempo gera um viés de alta nos retornos médios passados: eles são calculados com base no retorno médio das empresas que sobreviveram ao longo dos anos. iii. Retornos históricos variam ao longo do tempo – Quando estimado em diferentes janelas, observa-se que o prêmio de risco de mercado varia no tempo. Ross et al. (2011) alertam que dados do mercado acionário dos EUA desde 1802 sugerem que o ERP no período pré-1926 era menor do que no período posterior. Usando dados desde 1802 até 2010, por exemplo, o ERP dos EUA não seria 7,2%, mas, sim, 5,4% (SIEGEL, 2008; ROSS et al., 2011). iv. Retornos passados não indicam, necessariamente, retornos futuros – Da mesma forma que um documento-resumo da performance de um fundo de investimento possui um disclaimer de que rentabilidade passada não é garantia de retorno futuro, um ERP alto ou baixo no passado não implica ERP similar no futuro. Mudanças significativas na atividade econômica, no uso de tecnologia, bem como na quantidade e na rapidez de propagação de informação afetam de maneira permanente o funcionamento do mercado financeiro. Além disso, episódios recentes de crises financeiras e econômicas, como a desencadeada em 2020 pelo Coronavírus, podem trazer efeitos permanentes sobre a percepção de risco dos agentes, algo que os dados históricos não conseguem capturar. Olhando para a frente: prêmio de risco de mercado implícito A ideia básica do prêmio de risco de mercado implícito – implied equity risk premium – é, dado o preço pelo qual umaação é negociada hoje e os fluxos de caixa que esse ativo deve gerar no futuro, por exemplo, dividendos, juros sobre o capital próprio e recompra de ações, encontrar uma taxa de desconto compatível com esse fluxo. Uma das formas mais utilizadas de ERP implícito é o modelo de desconto de dividendos, o Dividend Discount Model (DDM). A ideia básica do modelo de desconto de dividendos é que o prêmio de risco de mercado é calculado agregando-se o retorno esperado de um número suficientemente grande de ativos com risco em uma economia. Especificamente, a fórmula para cálculo do retorno esperado é a seguinte (ROSS; WASTERFIELD; JAFFE, 2011, p. 404): Cesar Augusto Guimarães Pereira Cesar Augusto Guimarães Pereira 33 Equação 4 – Dividend Discount Model (DDM) para cálculo do prêmio de risco implícito 12 = 3 4� + 5 Onde, 12 é o retorno exigido do ativo; 3 4 é o dividendo a ser recebido no período seguinte; � é o preço da ação e 5 é a taxa de crescimento (constante) dos dividendos. Em outras palavras, o retorno anual esperado de uma ação é a soma do rendimento de dividendos no próximo ano mais a taxa de crescimento anual esperada em dividendos. Assim como essa fórmula pode ser usada para estimar o retorno total esperado de uma ação, ela pode ser usada para estimar o retorno total esperado do mercado como um todo. O primeiro termo ( 6�7 8 ) é o dividend yield e é uma medida amplamente utilizada na avaliação de ações. Nos EUA, por exemplo, o The Wall Street Journal recentemente declarou que o dividend yield médio de todas as ações da Standard & Poor's 500 (S&P 500) foi de cerca de 2,1%. Essa estimativa geral de um cross-section de empresas da economia pode ser utilizada para fazer as previsões de prêmio de risco de mercado pelo DDM. Em seguida, precisamos de uma estimativa da taxa de crescimento por ação em dividendos em todos as empresas do mercado. Dados tanto históricos quanto de projeções de analistas que acompanham e monitoram as empresas podem ser utilizados para estimar essa taxa, completando, assim, a fórmula do prêmio de risco de mercado pelo DDM.12 A vantagem do prêmio de risco de mercado é que ele é uma variável sensível a expectativas, ou seja, forward looking. Suponha uma situação de rápido incremento na percepção de risco dos agentes, como na recente pandemia do Coronavírus. Enquanto o prêmio de risco histórico não captura essa mudança – baseia-se na premissa de que o prêmio de risco retornará para a média histórica –, o prêmio de risco implícito reagirá instantaneamente a essa mudança de cenário. Essa é, portanto, vantagem do modelo de prêmio de risco implícito sobre o modelo de prêmio de risco histórico, algo que traz preferência pelo primeiro em detrimento do segundo tanto em nível internacional (DAMODARAN, 2009) quanto nacional.13 A característica do prêmio de risco implícito de variar rapidamente e no sentido apropriado diante de choques em variáveis reais ou financeiras pode ser visto na Figura 5, abaixo. Precisamente em momentos de maior estresse do mercado – nitidamente, da referida figura, sobressaem-se o 12 Ver Equação 2. 13 Ver Sanvicente e Carvalho (2020) para uma aplicação do prêmio de risco implícito para o mercado brasileiro. Cesar Augusto Guimarães Pereira 34 segundo choque do petróleo, em 1979, e a grande crise financeira de 2008 – é que o prêmio de risco de mercado aumenta. Se pararmos para pensar, essa é uma característica desejável de um modelo de estimação do risco de mercado: o prêmio de risco de mercado deve refletir a percepção de risco dos agentes, que, naturalmente, são uma medida que se baseia nas crenças com relação ao presente e ao futuro, ou seja, forward looking. Figura 5 – Taxa Livre de Risco vs. Prêmio de Risco de Mercado Implícito para o mercado americano, 1960-2019 Fonte: DAMODARAN (2020). Historical implied equity risk premiums. 2020. Disponível em: <http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/implpr.html>. Acesso em: 22 maio 2020. Custo médio ponderado de capital (CMPC ou WACC) Uma vez detalhados os conceitos de taxa livre de risco e prêmio de risco de mercado, pode- se partir para a análise do custo médio ponderado de capital (CMPC) propriamente dito. Aqui, vamos imaginar que uma empresa pode financiar os seus ativos por meio de capital próprio somente ou de uma combinação entre capital próprio e dívida. Independentemente da estrutura de capital escolhida, tanto a taxa livre de risco quanto o prêmio de risco de mercado entrarão no cômputo do custo de capital como insumos importantes para o retorno que os sócios exigem para investir em um ativo com risco. 35 Os modelos de avaliação de empresas e projetos baseados no fluxo de caixa, tal como o fluxo de caixa descontado (FCD) e valor presente líquido (VPL), utilizam o conceito de custo de capital, ou custo médio ponderado de capital (CMPC), também denominado weighted average cost of capital (WACC), que pondera a taxa de retorno esperada pelos sócios (capital próprio) com o retorno esperado pelos credores da empresa, ou custo da dívida de longo prazo. O CMPC representa a remuneração mínima esperada por quem financia os projetos de investimentos da empresa, ou seja, os sócios (capital próprio) e os credores (capital de terceiros). A Equação 5, a seguir, apresenta a fórmula de cálculo do custo médio ponderado de capital, para uso no modelo de avaliação econômica de empresas e projetos. Para a estimação do custo médio ponderado de capital são envolvidos os seguintes parâmetros: 9:: alíquota marginal de imposto de renda; E: valor de mercado do capital investido pelos acionistas da empresa; D: valor de mercado da dívida da empresa; ;6: custo da dívida da empresa, ou retorno esperado pelos credores, e ;<: retorno esperado pelos acionistas da empresa. Os parâmetros acima, quando aplicados à equação a seguir, fornecem o custo médio ponderado de capital (DAMODARAN, 2012): Equação 5 – Cálculo do custo médio ponderado de capital (CMPC) �=�� = ;< > �� + 3? + ;6 > 3 3 + �? (1 − 9:) A taxa de retorno esperada pelos sócios (acionistas) da empresa (;<) deve ser superior à taxa de retorno dos credores (;6), em virtude do maior risco que os sócios assumem em relação aos credores.14 O custo para a empresa relativo à remuneração dos credores é reduzido adicionalmente pela legislação fiscal, que permite a dedutibilidade dos juros no cálculo do imposto de renda e da contribuição social. No Brasil, a alíquota estatutária de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para uma empresa tributada pelo lucro real é igual a 34%. Supondo que essa também seja a sua alíquota marginal, para cada R$ 1 de despesas financeiras (pagamento de juros) incorridas em determinado exercício, a firma deixa de pagar [R$ 1 * (1-34%)] = R$ 0,66 em tributos. Portanto, quando pensamos em custo de capital de terceiros, temos de considerar não o custo bruto (taxa de juros do empréstimo), mas, sim, o custo líquido, que considera o benefício fiscal da dívida. 14 Os acionistas de uma empresa são comumente chamados de beneficiários residuais. Isso ocorre porque, em estados da natureza em que a firma vai à falência, os acionistas são os últimos da fila a receber. Portanto, se você for um investidor externo e puder escolher entre aportar recursos como credor ou como acionista, você com certeza exigirá um prêmio para investir no capital próprio da empresa porque traz maior risco. 36 Estimação de custo de capital próprio Ao contrário do custo de capital de terceiros, em que existe uma remuneração explícita acertada entre tomador e financiador – pense em um financiamento bancário ou em uma debênture, por exemplo –, não há um retorno esperadoimplícito para o custo de capital próprio, por isso precisamos basear-nos em modelos de precificação de ativos para estimar o quanto um investidor exigiria para aportar recursos adicionais para financiar a firma via capital próprio. Antes de entrarmos nos modelos propriamente ditos, cabe enfatizar que os termos “retorno exigido” e “custo de capital” são intercambiáveis. Quando um sócio investe em uma empresa – por exemplo, compra uma ação – ele espera obter retorno do capital que investiu via distribuição de lucros e ganho de capital. Quanto maior for o risco do investimento, maior será esse retorno esperado ou exigido pelo acionista. Do ponto de vista da firma, esse retorno esperado pelo sócio é o próprio custo de capital próprio da empresa. Tanto as distribuições de lucros quanto os ganhos de capital representam custos para a firma. Essa simetria é importante para entender a intuição por trás de custo de capital próprio. Um dos modelos mais consagrados na literatura, e utilizados no mercado para estimativa da taxa de retorno esperada pelos sócios da empresa (;<), é o capital asset pricing model (CAPM), desenvolvido por William Sharpe em 1964. A formulação do CAPM é a seguinte: Equação 6 – Fórmula do CAPM para cálculo do retorno esperado pelo acionista da empresa ;< = 1A + B(1C − 1A) Equação 7 – Fórmula do CAPM para cálculo do retorno esperado pelo acionista da empresa (2) ;< = 1A + B(�1=) Onde, ;<: retorno esperado pelos sócios da empresa; 1A: taxa de retorno do ativo livre de risco; 1C: retorno esperado da carteira de mercado (no Brasil, comumente utilizamos o Ibovespa); B: medida de risco sistemático da empresa (B igual a 1 indica que o risco da empresa é igual ao risco do mercado analisado) e �1=: prêmio por risco de mercado ou excesso de retorno de mercado esperado (1C − 1A), comum a todas as empresas do país. O B (beta) é uma medida de risco do ativo – em geral, calculado com base nos retornos da ação da empresa – em relação à chamada carteira de mercado, que teoricamente é composta de todos os ativos arriscados da economia. Em teoria, o beta deveria ser estável. Na prática, no entanto, diversas 37 pesquisas sugerem que o beta é instável no decorrer do tempo; além disso, a escolha do intervalo de medição dos retornos necessários ao cálculo do coeficiente beta afeta o resultado. O beta é influenciado pela alavancagem financeira (estrutura de capital) da empresa. Tal influência é apresentada pela equação de Hamada, conforme Damodaran (2012): Equação 8 – Equação de Hamada para cálculo do beta alavancado da empresa BD = BE(1 + �� (1 − 9F)) Onde, D: valor de mercado da dívida onerosa (que paga juros aos credores) e de longo prazo da empresa; E: valor de mercado da capital próprio (equity) da empresa (capital dos acionistas da empresa); BetaL: beta alavancado, que representa o risco da empresa com determinada estrutura de capital medida pela relação D/E; BetaU: beta desalavancado, que representa o risco da empresa que não possui endividamento oneroso de longo prazo, e IR: alíquota marginal de imposto de renda. Para se aproximar do risco “puro” de determinada atividade ou negócio, sem o efeito da alavancagem financeira e de outros fatores que influenciam o risco daquela atividade empresarial, Damodaran (2012) sugere a seguinte correção do beta desalavancado para o montante de caixa e disponibilidades que a empresa tem, já que estes diminuem o risco da empresa, e assim “mascaram” o real risco do negócio: Equação 9 – Correção do beta desalavancado para o caixa e disponibilidades da empresa BE,H2C :I�JI = BEK1 − �, L,�� M Onde, BetaU: beta desalavancado que representa o risco da empresa que não possui endividamento de oneroso de longo prazo; Caixa: montante de caixa e disponibilidades de curto prazo, incluindo investimentos de curto prazo; VE: valor de mercado da empresa e BetaUsemCaixa: beta desalavancado da empresa sem o efeito do caixa e disponibilidades. 38 Para empresas de capital fechado ou limitadas, ou cujos investidores não sejam bem diversificados, como é pressuposto pelo CAPM, usa-se o conceito do beta total, que é calculado pela divisão do beta obtido pela correlação entre as ações da empresa, ou as suas similares, e o índice acionário que foi empregado como representante do mercado de ações, por meio da fórmula: Equação 10 – Cálculo do beta total da empresa BNOPIQ = BE,H2C :I�JI�'$$(1�, 1C) Onde, BetaUsemCaixa: beta desalavancado da empresa sem o efeito do caixa e disponibilidades; CorrelaçãoE_M: correlação entre as taxas de retorno mensais das ações da empresa, ou similar, e as taxas de retorno mensais do índice do mercado acionário, por exemplo, o índice Bovespa (Ibovespa), e BetaTotal: beta de uma empresa sem o efeito da diversificação de investimentos por parte dos acionistas ou sócios da empresa em análise. A abordagem resumida acima, que utiliza CAPM para estimar o custo de capital próprio, é o modelo mais utilizado na prática. No entanto, como alternativas, temos os seguintes modelos que são frequentemente utilizados: i. Arbitrage Pricing Theory (APT) – Parecido na essência com o CAPM, porém não é derivado de modelo e expande o conceito de prêmio de risco na medida em que incorpora outros prêmios de risco (fatores), muitas vezes macroeconômicos (inflação, taxa de juros, câmbio, etc.). Matematicamente, Equação 11 – Estimação do custo de capital próprio pela APT �(1�) = 1A + R BS(1S − 1A) � ST Onde, �(1�): retorno esperado do i-ésimo ativo. 1A: taxa de retorno do ativo livre de risco; 1S: retorno esperado do j-ésimo fator (ex: tamanho, inflação, juros, taxa de câmbio, etc.); 39 BS: medida de risco sistemático do j-ésimo fator (mede a sensibilidade dos retornos da empresa a cada um dos n fatores de risco incluídos no modelo; �1=: prêmio por risco de mercado ou excesso de retorno de mercado esperado (1C − 1A), comum a todas as empresas do país. ii. Modelo Multifatores (Multifactor Model) – Muito similar ao APT, mas mede prêmios de risco relativos exclusivamente a fatores macroeconômicos (macroeconomic risk factors). Matematicamente, Equação 12 – Estimação de custo de capital próprio por modelos multifatores �(1�) = 1A + R BS(1S − 1A) � ST Onde, �(1�): retorno esperado do i-ésimo ativo; 1A: taxa de retorno do ativo livre de risco; 1S: retorno esperado do j-ésimo fator macroeconômico (ex.: inflação, juros, taxa de câmbio, etc.); BS: medida de risco sistemático do j-ésimo fator (mede a sensibilidade dos retornos da empresa a cada um dos n fatores de risco incluídos no modelo); �1=: prêmio por risco de mercado ou excesso de retorno de mercado esperado (1C − 1A), comum a todas as empresas do país. Estimação de custo de capital de terceiros Como dito anteriormente, a estimação do custo de capital de terceiros é menos abstrata que a estimação do custo de capital próprio. Também é considerada mais fácil e menos sujeita a incertezas. Intuitivamente, o custo de capital de terceiros é o reflexo da taxa de retorno exigida pelos credores incrementais, não necessariamente a mesma taxa que a empresa pagou em rodadas anteriores de captação de recursos. Para títulos com pequeno risco de inadimplência, o atual rendimento até o vencimento – Yield to Maturity – é uma boa estimativa dos retornos esperados dos investidores e, consequentemente, do custo do empréstimo. A empresa geralmente pode obter essas informações verificando o rendimento dos títulos negociados em bolsa ou conversando com o seu gerente financeiro. 40 Se a empresa estiver emitindo dívida pela primeira vez, os investment bankers podem avaliar, dadas as condições atuais do mercado, qual é o rendimento de uma potencial emissão de títulos de dívida (obrigações). Esse rendimento
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