Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAÇÃO CENTRO DE EXCELÊNCIA PORTUÁRIA DE SANTOS FUNDAMENTOS DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO Porto de Santos-SP, 5 de maio de 2020 CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 2 ENSINO NO AMBIENTE PORTUÁRIO DIA ENSINO NO AMBIENTE PORTUÁRIO 01 A capacitação de profissionais portuários. Perfil e Competências na era “Porto 4.0”. Desafios para o ensino, criatividade e inovação no ambiente portuário. 90 minutos CAIO TEISSIERE MORETTI DA SILVA Mestrando em Ciências e Tecnologias do Mar pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Mestrando em Logística e Gestão Portuária pela Universidade Politécnica de Valência – Espanha e Fundação Valenciaport. Especialização em Gestão Empresarial com Ênfase em Liderança e Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas, Brasil (2017); Diretor-Presidente da Fundação Centro de Excelência Portuária de Santos – CENEP Supervisor de Centros Educacional e Cultural da Autoridade Portuária de Santos, Brasil. Membro do Laboratório de Psicologia Ambiental e Desenvolvimento Humano, da Unifesp. caio.moretti@cenepsantos.com.br mailto:caio.moretti@cenepsantos.com.br CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 3 1. A capacitação de profissionais portuários A regulamentação do ensino no ambiente portuário tem modelo similar, na sua origem, ao das indústrias, que iniciou na década de 1940. O Sistema Nacional de Aprendizagem, que embasou o futuro Ensino Profissional Portuário, foi instituído pelo Decreto-Lei 4.048/1942. Posteriormente, foi ampliado pelo Decreto-Lei nº 4.936/1942, que incluiu a obrigação de recolhimentos de recursos pelas empresas que atuavam nos transportes e na pesca para esse sistema. De acordo com estudo realizado pela Federação Nacional dos Operadores Portuários (FENOP), o sistema de ensino criado inicialmente para a indústria passou também a contemplar o segmento de transportes e pesca ainda naquele mesmo ano de 1942. Tal sistema foi ainda alterado pelo, Decreto-Lei nº 6.246/1944, instrumento este que embasou posteriormente a criação do Fundo do Ensino Profissional Marítimo (FDEPM) e, consequentemente, o Ensino Profissional Marítimo (EPM), sob responsabilidade da Diretoria de Portos e Costas (DPC), da Marinha do Brasil. O FDEPM foi formalmente instituído pelo Decreto-lei 828/1969, ratificado pelo Decreto Legislativo nº 30/1993 e regulamentado pelo Decreto 968/1993. A constituição do FDEPM sempre teve como principal fonte de recursos os valores arrecadados e transferidos pelo Instituto Nacional da Seguridade Social - INSS. Atualmente, ainda é prerrogativa desse Fundo financiar os programas voltados aos trabalhadores portuários avulsos, vinculados e das atividades correlatas. Para compreender a diferença entre trabalhadores marítimos e portuários, definiu-se que trabalhadores que se envolviam nas operações portuárias, mas que atuavam a bordo dos navios, eram efetivamente considerados como marítimos. Tinham, inclusive, a regulação e fiscalização da profissão por meio da Delegacia do Trabalho Marítimo (DTM), que estava ligada ao Ministério do Trabalho, mas tinha a predominante participação do comando da Marinha. Categorias de trabalhadores, como os Estivadores, Conferentes, Vigias de Bordo e Trabalhadores de Bloco eram trabalhadores marítimos, avulsos, que atuavam nas operações portuárias, de acordo com o Decreto-Lei nº 3/1966. CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 4 Os trabalhadores que atuavam em terra, chamados de doqueiros, ainda que fossem empregados dos portos, tinham a obrigatoriedade de registros na Delegacia do Trabalho Marítimo (DTM), extinta no final da década de 1980. No entanto, até a promulgação da Lei 8630/93, foi recorrente a confusão sobre a distinção entre trabalho portuário e trabalho marítimo por diversos imbróglios normativos. Essa situação refletia no treinamento dos trabalhadores, que era realizado também separadamente. Enquanto a Autoridade Marítima treinava os trabalhadores que atuavam a bordo, as empresas portuárias efetuavam os treinamentos dos trabalhadores que realizavam seus serviços em terra. Com o crescimento de contingentes de trabalhadores avulsos, também nas atividades de terra, que passaram a atuar de forma complementar aos trabalhadores de capatazias, houve necessidade de regulamentação adequada para o treinamento destes novos avulsos, que não podiam ser atendidos pelos sistemas de treinamentos das empresas portuárias. Em 1986 foi instituído o Sistema de Ensino Profissional Marítimo, sob a responsabilidade do Ministério da Marinha, com o objetivo de habilitar e qualificar pessoal para a Marinha Mercante e atividades correlatas, bem como desenvolver o conhecimento no domínio da Tecnologia e das Ciências Náuticas, tendo a Diretoria de Portos e Costas – DPC como o Órgão Central do sistema, mantido com os recursos do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo. Em vista deste novo cenário, ainda previamente à Lei 8.630/93, definiu-se por meio do Decreto n° 94.536/1987 a atribuição da responsabilidade da Autoridade Marítima, para o treinamento “dos avulsos da orla portuária”. Desta forma, a Autoridade Marítima, passou a utilizar para os trabalhadores avulsos da orla portuária, o seu sistema de ensino, anteriormente previsto somente para os marítimos. Assim sendo, a Marinha por meio do Ensino Profissional Marítimo (EPM) treinava os portuários avulsos e as administrações portuárias treinavam os trabalhadores portuários, empregados com vínculo permanente. Como demonstrava claramente o instrumento legal, o EPM, sempre teve seu foco e destinação para o trabalho marítimo, e desta forma a inclusão do treinamento dos avulsos da orla portuária, caracterizava-se como uma exceção. A Lei 8.630/93, como comentado anteriormente, definiu que as funções de estiva, capatazia, bloco, conferência, conserto e vigilância de embarcações eram CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 5 consideradas como “trabalho portuário”. Essa lei, denominada de “Lei de Modernização dos Portos”, preocupou-se com o treinamento e qualificação desses trabalhadores, porém não providenciou um sistema de financiamento para tais tarefas de forma segura e permanente. Havia nesta normativa a competência para o OGMO1 – Órgão Gestor do Trabalho Portuário, promover o treinamento e a habilitação do trabalhador portuário avulso, inclusive para atuações multifuncionais. A Lei 8.630/93 estabeleceu, ainda, a obrigatoriedade de implantação de Centros de Treinamentos, por iniciativa dos respectivos CAPs – Conselho de Autoridade Portuária. Entretanto, manteve os recursos que financiariam tal sistema de treinamento, sob a gestão da DPC. Cabe destacar que alguns Centros de Treinamentos foram implantados nos portos brasileiros, quer pelos CAPs ou pelas administrações portuárias. Muitos desses Centros puderam empreender cursos especiais, com verbas obtidas em programas de governo federal, estadual ou Municipal, bem como por parcerias negociadas com empresas portuárias. A Fundação Cenep é uma delas. A Lei 12.815/13, também não resolveu a questão dos treinamentos e qualificações dos trabalhadores portuários. Manteve as competências originárias do OGMO, estabelecendo-as de maneira mais clara e introduziu novos fatores positivos, quando regulou claramente a responsabilidade desse Órgão Gestor quanto aos treinamentos de todos os trabalhadores portuários, avulsos e vinculados, bem como criou o Fórum Permanente para analisar tais temas. O Fórum Permanente, previsto nanova lei portuária e no Decreto 8033/13, pode ser um instrumento para encaminhar propostas que resolvam problemas de qualificação no segmento, porém este Fórum não produz trabalhos significativos há alguns anos, ainda que seja recém instituído. Cabe ressaltar que os principais portos do mundo se desenvolveram com a implantação de Centros de Treinamentos Profissionais. São exemplos clássicos os portos de Antuérpia, Rotterdam e Hamburgo, que aplicaram programas eficientes e eficazes de treinamentos e requalificações dos trabalhadores envolvidos. Por fim, o sistema portuário aguarda uma solução que equacione esse problema e vem buscando de forma criativa manter os profissionais desse segmento 1 Segundo o DIEESE, com base na RAIS 2015, há 30 OGMOs no Brasil, dos quais 10 se encontram na região Nordeste, oito no Sudeste, oito no sul e quatro na região norte. CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 6 capacitados à altura das exigências globais da movimentação, transporte e armazenagem de carga. 1.1 A Educação formal e a educação profissional A educação é dever do estado, conforme determina o art. 6° da Constituição Federal (Brasil, 1988). O artigo 36, da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) preceitua que o currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular, devendo incluir, dentre outros, a formação técnica e profissional. Segundo Saviani (1994) o tema educação e trabalho pode ser entendido a partir de duas perspectivas: a de que não há relação entre os dois termos e a de que, ao contrário, ela vem se estreitando em decorrência do reconhecimento que a educação, ao qualificar os trabalhadores, pode vir a contribuir para o desenvolvimento econômico. A educação geral e a educação profissional começaram a ser vistas como bastante inter-relacionadas, principalmente, por dois processos: a globalização, definida como uma multiplicidade de mudanças surgidas a partir de 1970, que instituiu novas relações internacionais nos planos econômico, social, cultural, político e tecnológico e a emergência de um sistema de produção sustentado na automação flexível. (Fiori, 1998; Scherer, 1997. Fogaça, 1998). O ensino fundamental, o ensino técnico de nível médio e o ensino superior passaram a ser colocados em pauta quando o tema é o da reestruturação produtiva e sua relação com o mercado de trabalho (Leite, 1996; Salerno, 1994), tornando quase impossível ignorar a confluência entre as organizações educacionais, as empresas e a comunidade (Dowbor, 1996). Se no ensino fundamental a relação é implícita e indireta, no ensino médio a relação entre educação e trabalho, entre o conhecimento e a atividade prática deverá ser tratada de maneira explícita e direta. O saber tem uma autonomia relativa em relação ao processo de trabalho do qual se origina. O papel fundamental da escola de nível médio será, então, o de recuperar essa relação entre o conhecimento e a prática do trabalho (Saviani, 2006). Essa é uma concepção diferente da que propõe um ensino médio profissionalizante, caso em que a profissionalização é entendida como um adestramento em uma determinada habilidade sem o conhecimento dos CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 7 fundamentos dessa habilidade e, menos ainda, da articulação dessa habilidade com o conjunto do processo produtivo. Dessa forma, vemos como a educação vem se questionando e sendo questionada com relação ao seu papel e importância para o mercado de trabalho. Algumas das modificações do processo de produção e da organização do trabalho não teriam sido possíveis, nos países desenvolvidos, sem os efeitos produzidos pelos grandes sistemas de educação de massa. Atualmente, Finlândia, Japão e Coreia do Sul são referências em sistema educacional e, consequentemente, elevam outros índices socioeconômicos. Diante desse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu dentre seus 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável das nações até 2030 a “qualidade na educação”. Espera-se dessa meta, “aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que possuem habilidades relevantes, incluindo habilidades técnicas e vocacionais, para emprego, empregos decentes e empreendedorismo”. Na sua opinião, a sua formação básica, foi suficiente para você ingressar no mercado de trabalho em condições de executar e entregar bem as suas atividades? Você concorda que faltam pessoas especializadas nos segmentos logística e porto? Leia no anexo a matéria do Jornal A Tribuna (ou clique no link ou faça a leitura do QR CODE), acerca da posição de alguns Terminais do Porto de Santos sobre a qualificação e contratação. https://www.atribuna.com.br/noticias/portoemar/terminais-do-porto-de-santos-enfrentam-dificuldades-para-contratar-m%C3%A3o-de-obra-especializada-1.79601 CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 8 2. Perfil e Competências Profissionais na era “Porto 4.0”. A organização do trabalho portuário passou por intensas modificações ao longo dos últimos 35 anos como resposta ao processo de globalização na economia e às inovações tecnológicas nos processos produtivos do setor. O perfil exigido dos trabalhadores foi se modificando, passando cada vez mais do trabalho manual para o intelectual (Aguiar et al, 2006; Monié & Vidal, 2006; Aires et al, 2016). A Organização Internacional do Trabalho (OIT), por meio da Convenção n° 137 de 1973, já previa uma modificação no cenário do trabalho portuário no mundo, citando como principais motivos a adoção de unidades de carga, com grande destaque ao contêiner, a introdução de técnicas de transbordo horizontal (roll on/roll off) e, consequentemente, o aumento da mecanização e automatização nas operações portuárias. Como consequência dessas mudanças no cenário portuário do país, houve redução no número de trabalhadores da operação por equipe, a extinção de algumas funções e exigência de maior qualificação (Machin et al, 2009). Segundo o estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE, 2015, havia 50.059 trabalhadores portuários ligados ao Ogmo, na Operação de Terminais e na Administração da Infraestrutura Portuária (dados referentes à dezembro de 2013). Do ponto de vista das ocupações dos trabalhadores na Administração da Infraestrutura Portuária, nota-se a seguinte distribuição: 18,6% dos empregados são assistentes administrativos, guardas portuários representam 16,2% e vigilantes correspondem a 8,0%, essas duas ocupações somam 24,2%. Os trabalhadores na Operação de Terminais também têm ocupações bastante diversificadas e sua distribuição está pulverizada em percentuais iguais ou menores que 7,5%. As profissões com maior concentração são: motorista de caminhão com 7,5% (2.025 trabalhadores), estivador com 7,0% (1.901 trabalhadores), seguido de assistente administrativo e conferente de carga, ambos com 5,8% (1.576 trabalhadores). Dos trabalhadores dos OGMOs, 86,7% do total são estivadores. No entanto, é importante observar que tal ocupação, pela Classificação Brasileira de Ocupações CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 9 (CBO) compreende: ajudantes de embarque de carga, ajudantes de operação portuária, bagrinhos (movimentadores de mercadorias de porto), cacimbeiros (estivadores), capatazes de estiva, encarregados de serviços portuários, encarregados de serviços de cais, operadores de carga/descarga e portuários em geral. Os trabalhadores portuários são majoritariamente do gênero masculino. Entre os trabalhadores na Administração da Infraestrutura Portuária,83% são homens e 17% são do sexo feminino e na Operação de terminais, os homens correspondem a 87% e as mulheres 13%. A concentração de trabalhadores do gênero masculino se acentua ainda mais nos OGMOs, em que 98% são homens e apenas 2% são mulheres. Em relação à escolaridade, a maior concentração entre os trabalhadores na Administração da Infraestrutura Portuária se dá no ensino médio e superior completo com 44% e 35%, respetivamente. Entre os trabalhadores na Operação de Terminais, a maior concentração está no ensino médio com 59%. Já os trabalhadores dos OGMOs concentram-se entre o ensino fundamental incompleto (33%) e o ensino médio completo (26%). Em relação à idade, destaca-se que 43% dos trabalhadores na Administração da Infraestrutura Portuária têm 50 anos ou mais e 26% têm entre 30 e 39 anos. Na operação de terminais, observa-se a maior concentração de trabalhadores na faixa etária de 30 a 39 com 37%. Entre os trabalhadores nos OGMOs, 38% têm entre 50 e 64 anos (DIEESE, 2015). A remuneração média dos trabalhadores no setor portuário que atuam na operação varia entre R$ 3.559,60 a R$ 4.275,90, valores correntes em dezembro de 2013 enquanto que para os trabalhadores na Administração da Infraestrutura Portuária, a média salarial é de R$ 8.534,6, conforme os dados da RAIS 2013, 2.1 Avanço tecnológico e perfil profissional. A automatização nos portos foi iniciada a partir da década de 1990, com o avanço nas movimentações de contêineres no mundo. O primeiro terminal de contêineres automatizado da história, o Delta/Sea-Land Terminal da Europe Container Terminal (ECT) do grupo Hutchison Port Holding (HPH) na região de Maasvlakte na Holanda, foi inaugurado em 1993. CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 10 Segundo Pinto (2010), o conceito e aplicação de automação baseiam-se no uso da tecnologia relacionada com a aplicação de sistemas mecânicos, elétricos, eletrônicos e computacionais nas operações e controle dos sistemas de produção. Vale destacar que a ciência da engenharia diferencia automação de mecanização. A mecanização, segundo Seleme e Seleme (2008) é o uso de máquina para realizar trabalho em substituição ao esforço físico. Já a automação está relacionada aos sistemas automáticos de controle, pelos quais mecanismos verificam seu próprio funcionamento, efetuam medições e correções, sem interferência humana. De acordo com a Mckinsey Global Institute (2017), os avanços tecnológicos estão criando uma nova era de automação na qual máquinas cada vez mais inteligentes e flexíveis serão implantadas em uma escala cada vez maior no local de trabalho. Vale lembrar que o desenvolvimento científico e tecnológico, suporte fundamental da globalização, aumenta a complexidade do mundo e passa a exigir um profissional com competência para lidar com um número expressivo de fatores. Esse perfil profissional desejável está alicerçado em três grandes grupos de habilidades (Assis, 1994, Gílio 2000; Silva Filho, 1994; Whitaker, 1997): i) As cognitivas, comumente obtidas no processo de educação formal (raciocínio lógico e abstrato, resolução de problemas, criatividade, capacidade de compreensão, julgamento crítico e conhecimento geral); ii) As técnicas especializadas (informática, língua estrangeira, operação de equipamentos e processos de trabalho) e, iii) As comportamentais e atitudinais - cooperação, iniciativa, empreendedorismo (como traço psicológico e como a habilidade pessoal de gerar rendas alternativas que não as oferecidas pelo mercado formal de trabalho, Karlöf, 1999), motivação, responsabilidade, participação, disciplina, ética e a atitude permanente de aprender a aprender. Vejam que os três perfis acima estão em praticamente todas as ocupações existentes no mercado de trabalho. No ambiente portuário não seria diferente. A literatura também reconhece os conceitos de competências genéricas, conhecidas por alguns como soft skills e competências técnicas. As genéricas estão CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 11 representadas pelas cognitivas, comportamentais e atitudinais e as competências técnicas pela “técnicas especializadas”. O profissional com orientação predominante às competências generalistas torna-se especialista em interagir com várias áreas, uma vez que conta com conhecimentos — bem como competências e habilidades — diversificados sobre todas elas. Dessa forma, ele apresenta uma visão sistêmica do negócio e até mesmo de sua própria profissão. Já o profissional com característica de técnico-especialista, como o próprio termo aponta, é especializado em assuntos estritamente técnicos e específicos. Diante dessa percepção de falta de capacitação, muitas organizações passaram a estruturar as suas áreas de ensino. A educação corporativa surgiu, então, entre as décadas de 1980 e 1990. Posteriormente, algumas empresas evoluíram para a implantação de Universidades Corporativas. Atualmente, há empresas que já aplicam um modelo que está sendo denominado de Stakeholder University e Universidade Corporativa em Rede. Tudo isso que foi demonstrado tem ocorrido em um ambiente de grande e constante transformação. Especialistas garantem que esta sociedade já vive a Quarta Revolução Industrial desde o início deste século. Essa Revolução demandará trabalhadores preparados com novas competências relacionadas aos modelos de negócios e tecnologias. Como estamos inseridos nessas mudanças? O conceito 4.0 surgiu na indústria Alemã, sendo divulgado e conhecido principalmente a partir de 2011. Nos Portos, essa realidade já é planejada e executada. A principal característica dessa Revolução é a digitalização dos processos. O fundamento básico consiste em se conectar em máquinas, sistemas e ativos, onde as empresas poderão criar redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor que podem controlar os módulos da produção de forma autônoma. Diante disso os portos inteligentes terão a capacidade e autonomia para agendar manutenções de equipamentos, prever falhas nos processos e se adaptar aos requisitos e mudanças não planejadas na operação. Cada vez mais, sensores e câmeras inteligentes estão sendo desenvolvidos para auxiliar a segurança e a operação nos portos. Os termos Blockchain, AI (Artifical CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 12 Intelligence) e IoT (Internet of Things) também estão presentes, sendo usados nos principais portos do mundo. Para que as pessoas não fiquem a margem dessas inovações, o ensino e a educação precisam refletir sobre o seu papel e desenvolver novos temas, com novas tecnologias de aprendizagem. Esse é o grande desafio! Para saber um pouco mais sobre a educação corporativa, acesse e veja a reportagem na íntegra. Assista no vídeo abaixo algumas inovações do Porto de Rotterdam, o maior da Europa, nesse ambiente 4.0. Assista ao vídeo abaixo para acompanhar como Maersk e IBM, por meio da TradeLens têm revolucionado os processos do comércio exterior e a logística de contêiner pelo mundo. https://espresso3.com.br/serie-suceg-profa-patricia-2-3-evolucao-da-universidade-corporativa-em-rede/ https://www.youtube.com/watch?v=3V1eUq-Red8 CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 13 O Fórum Econômico Mundial em estudo recente (2017) apontou como “os principais desafios” para as empresas do setor de logística e transporte no Brasil, até 2022, os seguintes: 1° disponibilidade de talentos; 2° custo da produção; e 3° custo da mão-de-obra. Vejam que, diferentemente de outros setores, a questão econômico-financeira não está na frenteda questão “pessoas e talentos”. O Fórum apontou também algumas profissões emergentes no setor: - Desenvolvedores e analistas de software e aplicativos; Analistas de Dados; Cientistas; e profissionais de vendas e marketing. Esse trabalho do Fórum concluiu que as principais competências requeridas para esses profissionais nos próximos anos serão as seguintes: - Pensamento analítico e inovação; criatividade, originalidade e iniciativa; aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem; projeto e programação de tecnologia; e raciocínio lógico e resolução de problemas. https://www.youtube.com/watch?v=0O2E9bCpKDk CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 14 3. Desafios para o ensino, criatividade e inovação no ambiente. Como havíamos comentado anteriormente, o desafio de se ter novos métodos de ensino na pedagogia e na andragogia (ensino de adultos) tem desafiado educadores, governantes, empresários e comunidade a se reinventarem nas políticas educacionais. A Fundação Cenep, por exemplo, desenvolveu laboratórios para aulas práticas, integrando modelos físicos conectados a softwares e ferramentas de Inteligência Artificial e Internet das Coisas. Figura 1: Aula em modelo físico na Fundação Cenep. Nesse ambiente educacional, as instituições têm utilizado métodos que desafiam os alunos a analisarem dados e informações, trabalharem em equipe e prototiparem ou desenharem soluções reais e criativas para o segmento da logística e do porto. São verdadeiros hackathons2 em sala de aula! Outras inovações que estão sendo usadas são os gamifications ou gamificação, que são jogos aplicados à aprendizagem por meio de iniciativas simples, como utilização de tabuleiros e jogos do tipo “memória” ou iniciativas sofisticadas, como simuladores com uso de realidade aumentada ou realidade virtual. 2 Hackathon - termo eventualmente aportuguesado para "hackaton," é uma maratona de programação na qual hackers se reúnem por horas, dias ou até semanas, a fim de explorar dados abertos, desvendar códigos e sistemas lógicos, discutir novas ideias e desenvolver projetos de software ou mesmo de hardware. CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 15 Cabe destacar que os simuladores já são realidade na área portuária há alguns anos. O objetivo dessa utilização é treinar para aprimorar competências técnicas ligadas à movimentação e condução do equipamento (motricidade) e comportamentais, que, neste caso, são aquelas voltadas à concentração e atenção à segurança que se deve ter na operação de equipamentos tão robustos. O E-learning, Ensino a Distância (EAD) e semipresencial também fazem parte dessas inovações educacionais. Hoje em dia é possível se capacitar utilizando o próprio smartphone. Parabéns, vocês já estão conectados à essa nova realidade! Figura 2: Cabine de simulação de operação portuária – Fundação Cenep. É importante compreender que existem diversos outras teorias que divergem com relação ao papel dos indivíduos nesse ambiente nada simplista. Se entendermos a organização como um conjunto de seres humanos que compartilham uma filosofia e um projeto de vida, podemos analisar quais são suas necessidades para se desenvolverem como tal, integralmente, e em diferentes áreas (profissional, familiar, intelectual, cultural, física, espiritual, e outras necessidades). Esperamos que vocês tenham aproveitado esse conteúdo e recomendamos que façam as leituras e assistam aos vídeos complementares. Abaixo, teremos 4 questões objetivas para conhecermos o seu entendimento sobre o tema. A finalidade dessas questões é contar a sua assiduidade no curso. Portanto, ainda que sinta dificuldades, não deixe de fazê-las. Envie suas dúvidas para caio.moretti@cenepsantos.com.br. Até breve! mailto:caio.moretti@cenepsantos.com.br CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 16 TESTE 01 1. Atualmente, de quem é a prerrogativa de financiar o sistema de ensino para os trabalhadores portuários avulsos e vinculados e com registro ou cadastro no Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO) e para os trabalhadores das atividades correlatas? A Do Fundo de Ensino da Educação Básica B Da Administração Portuária ou da Autoridade Portuária. C Do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo. D Do Órgão Gestor da Mão de Obra 2. Dois fatores foram definidos como fundamentais à evolução educacional voltada à empregabilidade: A Globalização e a “Evolução, Otimização e Automação dos Processos de Produção”. B Lei de Diretrizes e Bases – LDB e a Constituição Federal de 1988. C Obrigatoriedade de se ter diploma e a evolução das escolas técnicas. D Necessidade de aumentar a renda e de gerar empregos. 3. Qual a principal característica da Revolução 4.0 ou Quarta Revolução: A A mecanização dos equipamentos, buscando melhorar a produtividade nos processos operacionais. B A digitalização dos processos, com a integração de diversos sistemas inteligentes. C A automatização dos processos, com o objetivo de retirar as pessoas dos processos mecanizados. D A informatização dos processos, com a finalidade de, somente, aproximar o produtor do consumidor. 4. Competências genéricas são aquelas ... A Específicas e técnicas. B Voltadas às características técnico-especialista. C Necessárias à execução de uma atividade específica. D Cognitivas, comportamentais e atitudinais. CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 17 Jornalista Fernanda Balbino 14 de Dezembro de 2019 CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 18 CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 19 REFERÊNCIAS AGUIAR, M. A. F., JUNQUEIRA, L. A. P., FREDDO, A. C. D. M. O sindicato dos estivadores do Porto de Santos e o processo de modernização portuária. Revista de Administração Pública, 2006, 997-1017. AIRES, R. W. A., MOREIRA, F. K., & FREIRE, P. S. Indústria 4.0: competências requeridas aos profissionais da Quarta Revolução Industrial. International Congress of Knowledge And Innovation - Ciki, 1(1). 2017. Recuperado de http://proceeding.ciki.ufsc.br/index.php/ciki/article/view/314. ASSIS, M. A (1994). A educação e a formação profissional na encruzilhada das velhas e novas tecnologias. In C. J. Ferretti, D. M. L. Zibas, F. R. Madeira & M. L. P. B. Franco (Orgs.).futuras, Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar (pp.189-203). Petrópolis: Vozes. COMPANHIA DOCAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. O Porto de Santos – Institucional Disponível em: http://www.portodesantos.com.br/institucional/o-porto-de- santos/. DUBEY, A. This is what great leadership looks like in the digital age. 2019. Recuperado de https://www.weforum.org/agenda/2019/04/leadership-digital-age-leader/. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS OPERADORES PORTUÁRIOS – FENOP. Ensino Portuário. Documento que subsidiou a proposta de legislação para implantação do Sistema de Ensino Nacional Portuário – SENAP. 2016. FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL. The Future of Jobs Report 2018. Centre for the New Economy and Society FREIRE-Seoane, M. J., & TEIJEIRO Alvarez, M. Competences of graduates as an indicator of external quality assurance in universities. Regional and Sectoral Economic Studies, 10(3), 77-91. 2010. GÍLIO, I. Trabalho e educação. Formação profissional e mercado de trabalho. São Paulo: Nobel. 2000. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. The 17 goals. Disponível em https://www.un.org/sustainabledevelopment/education/.Acesso em 2/4/2020. PERFIL DOS TRABALHADORES NOS PORTOS DO BRASIL. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos e Federação Nacional dos Portuários. 2015. PERFIL PROFISSIONAL E MERCADO DE TRABALHO: Relação com formação acadêmica pela perspectiva de estudantes universitários. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-294X2002000200011&script=sci_arttext. Acesso em 26 de fevereiro de 2020. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, Gary. The Core Competence of the Corporation. Harvard Business Review, Boston, v. 68, n. 3, p. 79-91, May/June, 1990. https://www.un.org/sustainabledevelopment/education/ http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-294X2002000200011&script=sci_arttext CURSO DE LOGÍSTICA, INFRAESTRUTURA E AMBIENTE PORTUÁRIO ________________________________________________ 20 SILVA, Anielson Barbos. REBELO, Luiza M. Bessa. A Emergência do Pensamento Complexo nas Organizações. Revista de Administração Pública – RAP. Julho/agosto. 2003. WAGENAAR, R. Competences and learning outcomes: a panacea for understanding the (new) role of Higher Education? Tuning Journal for Higher Education, 1(2), 279- 302. 2014.
Compartilhar