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Estruturas Algébricas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Ana Paula Teles de Oliveira Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo 5 • A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo • A Estrutura Grupo • Exercícios de Exemplo · Nesta unidade, veremos uma estrutura algébrica fundamental para o nosso curso, denominada grupo. Para tanto, veremos alguns aspectos históricos da Álgebra. Ao término deste estudo, esperamos que você consiga definir e exemplificar a estrutura grupo. Para um bom aproveitamento da aula, realize a leitura integral do conteúdo teórico acompanhando e refazendo os exemplos resolvidos. Quando aparecer alguma dúvida, entre em contato com seu(sua) tutor(a) utilizando a ferramenta Mensagens ou o Fórum de Dúvidas. A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo 6 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Contextualização Com a obra Ars Magna do matemático italiano Cardano, onde são descritos métodos para resolver equações de terceiro e quarto grau, iniciou-se um novo questionamento: será que todas as equações algébricas poderiam ser resolvidas somente utilizando operações e radicais? Para responder a esse questionamento, iniciam-se estudos nas equações de graus superiores a quatro, com o objetivo de saber se existe e qual seria a fórmula geral para resolvê-las. Contudo, apesar dos muitos esforços, não conseguiram respondê-la. No séc. XVII, o matemático francês Lagrange dedica-se a estudar todas as fórmulas conhecidas até aquele momento com o intuito de responder a esse questionamento, fazendo permutações entre as raízes das equações. Em seguida, Ruffini, com uma proposta semelhante ao de Lagrange, propõe-se a provar que geralmente equações com grau maior do que quatro não eram resolvidas por radicais. Entretanto, a demonstração desse fato foi construída pelo matemático norueguês Abel. Apesar de, em geral, uma equação com grau superior a quatro não ser solucionada por radicais, algumas podem ser resolvidas. O problema agora consistia em caracterizá-las. Cauchy faz um estudo sobre permutações de raízes das equações algébricas. Dessa forma, a noção de permutação é apresentada de outro modo, utilizando o termo substituição. Evariste Galois inicia um trabalho para se ter um critério em que conseguiria distinguir quais equações eram resolvidas por radicais. Para isso, ele utiliza trabalhos realizados sobre esse assunto, como estudos sobre permutações entre raízes. Também em seu trabalho o termo permutação é o mesmo que substituição, usado por Cauchy. Em seu trabalho, Galois associou a cada equação um grupo, o grupo de permutações. A utilização que Galois faz da palavra grupo tem o mesmo sentido que utilizamos em nossos dias. Cauchy, percebendo a importância da teoria da permutação, publica uma série de artigos sobre esse assunto, entre os anos 1844 e 1846. Com esses materiais, Cayley define, em um artigo publicado em 1854, grupo abstrato. Em sua definição, utiliza notação multiplicativa. 7 A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Nesta unidade, estudaremos o objeto matemático denominado grupo, uma estrutura algébrica fundamental para o nosso curso. Essa estrutura consiste em um conjunto não vazio com uma operação que possui determinadas propriedades. Apesar de, atualmente, estudarmos este conteúdo como algo muito bem organizado em curto espaço de tempo, não foi sempre assim. A Álgebra, por muito tempo, foi vista como uma ciência que estudava a resolução de equações. Por meio dessa informação, podemos concluir que se trata de uma ciência antiga. Sabemos que existe um documento egípcio denominado Papiro de Rhind (Figura 1), datado de 1650 a.C., em que o escriba relata copiar um material datado de 2000 a.C. Nesse documento, existem problemas relacionados à distribuição de mercadoria que conduzem à solução de equações simples (MILIES, 2004). Figura 1: Papiro de Rind Fonte: fisica-interessante.com Desde o seu início, a Álgebra foi empregada com a preocupação de se ter métodos precisos e, ao mesmo tempo, gerais. Apesar de se conseguir formalizar uma notação apropriada para uma equação, com a utilização de letras para os coeficientes e as variáveis, durante muito tempo elas se restringiam a casos concretos, em que muitas situações eram intuitivas. (MILIES, 2004). Porém, no século XIX, a operação é vista de maneira mais abrangente, pois o seu estudo não se limita às operações clássicas dos conjuntos numéricos. Há uma generalização em seu conceito, em que se estudam as operações entre elementos. Os matemáticos preocupam-se em estudar as propriedades das operações, deixando o enfoque dado anteriormente para a natureza dos elementos. É nesse século que se inicia o que denominamos de Álgebra Abstrata. 8 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Em 1770, o matemático ítalo-francês Joseph Louis Lagrange (1736-1813), Figura 2, inicia o estudo da teoria das permutações para a resolução de equações algébricas. O seu trabalho recebeu contribuições do italiano Paolo Ruffini (1765-1822), Figura 3, e do norueguês Niels Henrik Abel (1802 - 1829), Figura 4. Figura 2: Joseph Louis Lagrange (1736–1813) Fonte: successstories.co.in Figura 3 : Paolo Ru� ni (1765 - 1822) Fonte: Wikimedia Commons Figura 4: Niels Henrik Abel (1802 - 1829). Fonte: findagrave.com Apesar de existirem vários matemáticos estudando permutações, foi o francês Evariste Galois (1811 - 1832), Figura 5, que formalizou o conceito de grupo de permutações em seu trabalho, por volta de 1830, onde utilizou o termo grupo. Figura 5: Evariste Galois (1811 - 1832) Fonte: megacurioso.com.br 9 Entre os anos de 1844 e 1846, o francês Agustin Cauchy (1789-1857), Figura 6, percebeu a importância desse assunto, escrevendo vários artigos sobre grupo de permutações. Figura 6: Agustin Cauchy Fonte: ime.unicamp.br Esses artigos influenciaram o britânico Arthur Cayley (1821-1895), Figura 7, que possuía uma habilidade para a generalização a partir de exemplos particulares. Ele percebeu que a definição de grupo não precisava ser restrita às permutações e, dessa forma, generalizou esse conceito, sendo o primeiro a definir o conceito de grupo abstrato em um artigo no ano de 1854 (MILIES, 2004). Figura 7: Arthur Cayley Fonte: Wikimedia Commons Para aprofundar o seu conhecimento sobre a História da Álgebra Abstrata, acesse o artigo de Milies que consta abaixo: http://www.bienasbm.ufba.br/M18.pdf 10 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Observamos então que foram necessários aproximadamente 24 anos entre a definição de grupo de permutação e a generalização para a formalização do conceito de grupo abstrato. E em pleno século XXI, esse conceito permanece, não somente na Matemática, mas também na Física, que a emprega atualmente em mecânica quântica. E agora dedicaremos nosso estudo a essa importante estrutura. A Estrutura Grupo Historicamente, percebemos que a estrutura grupo foi constituída primeiramente em um exemplo particular, as permutações, para depois ser generalizada e assim formalizar o conceito abstrato. Mas, na análise de diferentes livros que tratam desse assunto, como Álgebra Moderna, Introdução a Álgebra, Elementos de Álgebra , percebe-se que a apresentação ocorre de maneira inversa, iniciando-se com a definição geral para depois passar aos exemplos particulares. Em nosso trabalho, procederemos de maneira semelhante. Seja G um conjunto não vazio com uma operação * : G x G → G. G, será um grupo se as seguintes condições são satisfeitas: I. A operação * é associativa, ou seja, para quaisquer que sejam a, b, c ∈ G, têm-se (a * b) * c = a * (b * c). II. O conjunto G possui elemento neutro, ou seja, existe e ∈ G tal que e * a = a * e = a para todo a ∈ G. III. Todo elemento de G possui elemento inverso em G, ou seja, paratodo a ∈ G existe a’ ∈ G, tal que a * a’ = a’ * a = e. Vale a pena destacar a unicidade do elemento neutro. Suponha a existência de dois elementos neutros representados por e1, e2 ∈ G. e1 = Como e2 é elemento neutro, temos: e1 * e2 = Como e1 é elemento neutro, temos: = e2. Portanto, e1 = e2. Outra característica é a unicidade do elemento inverso. Sejam a’, a’’∈ G elementos inverso de a ∈ G, dessa forma: a’ = Como e é elemento neutro de G, temos: = a’ * e = Como a’’ é elemento inverso de a, temos: = a’ * (a * a’’) = 11 Utilizando a propriedade associativa, temos: = (a’ * a) * a’’= Como a’ é inverso de a, temos: e * a’’ = Como e é o elemento neutro, temos: a’’. Portanto, a’= a’’. Usualmente utilizamos a notação (G,*) para representar o grupo G com a operação *. Assista ao vídeo socrático sobre grupo. https://www.youtube.com/watch?v=PSvv73PemQs Agora que conhecemos o conceito de grupo, vejamos alguns exemplos. Iniciaremos falando de conjuntos com a operação de adição, por isso é denominado grupo aditivo: • O grupo aditivo dos inteiros representado por (Z, +). A operação adição é associativa. O elemento neutro é o número 0. O elemento inverso de a ∈ Z é – a ∈ Z; • O grupo aditivo dos racionais representado por (Q, +). A operação adição é associativa. O elemento neutro é o número 0. O elemento inverso de a ∈ Q é – a ∈ Q; • O grupo aditivo dos reais representado por (R, +). A operação adição é associativa. O elemento neutro é o número 0. O elemento inverso de a ∈ R é – a ∈ R; • Você pode estar pensando: “Será que todos os conjuntos numéricos que conhecemos é grupo aditivo?”. A resposta é negativa. Pensemos em N, observemos que a adição é uma operação aditiva, que o número 0 é o elemento neutro da adição. Porém, apesar de satisfazer essas duas condições, observamos que o conjunto dos números naturais não possui o elemento inverso. Por exemplo: qual é o número que seria o inverso para o número 1? Para respondermos a esse questionamento, temos que encontrar um número x que satisfaça à condição do elemento inverso, ou seja, satisfaça às seguintes equações: 1 + x = 0 x + 1 = 0. Contudo, o número que satisfaz às equações acima é o número (-1), que não é um número natural. Portanto, o conjunto N não é um grupo aditivo. • O grupo aditivo dos complexos representado por (C, +). Sejam a, b ∈ C, tais que a = a0 + a1i e b = b0 + b1i. A operação adição é definida por: a+b= (a0 + b0) + (a1+ b1)i 12 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Mostraremos que a adição em C é associativa. Preste muita atenção aos cálculos, pois a notação pode parecer complicada. Descreveremos todos os passos neste momento, tentando diminuir o tempo para a compreensão. Para tanto, sejam a, b, c ∈ C, tais que a = a0 + a1i, b = b0 + b1i, c = c0 + c1i, temos: (a+b) + c = Substituindo os valores de a, b e c: = ((a0 + a1i) + (b0 + b1i)) + ( c0 + c1i)= Operando a adição entre os elementos (a0 + a1i) e (b0 + b1i), temos: = ((a0 + b0) + (a1+ b1)i) + ( c0 + c1i)= Operando a adição entre os elementos ((a0 + b0) + (a1+ b1)i) e (c0 + c1i), obtemos: = ((a0 + b0) + c0) + ((a1+ b1) + c1)i = Aplicando a associatividade da adição dos números reais em ((a0 + b0) + c0) e ((a1+ b1) + c1), temos: = (a0 + (b0 + c0)) + (a1+ (b1 + c1))i = Utilizando a definição da adição em C, temos: = (a0 + a1i) + ((b0 + c0)+ (b1 + c1)i) = Utilizando a definição da adição em C, temos: = (a0 + a1i) + ((b0 + b1i) + ( c0 + c1i))= Substituindo o valor de a, b e c, temos: = a + (b + c). Portanto, vale a associatividade. Observe que todos esses passos são necessários, pois a adição em C e R é uma operação binária e, para distinguir os elementos que estamos adicionando, usamos os parênteses. Na resolução dos exercícios, contudo, não costumamos descrever todos os passos. Vamos reescrever essa mesma prova sem dar todos os detalhes e tente imaginar quais propriedades foram utilizadas: (a + b) + c = = ((a0 + a1i) + (b0 + b1i)) + ( c0 + c1i) = = ((a0 + b0) + (a1+ b1)i) + ( c0 + c1i) = = ((a0 + b0) + c0) + ((a1+ b1) + c1)i = = (a0 + (b0 + c0)) + (a1+ (b1 + c1))i = = (a0 + a1i) + ((b0 + c0) + (b1 + c1)i) = = (a0 + a1i) + ((b0 + b1i) + ( c0 + c1i))= = a + (b + c). 13 Observemos que apesar de não estarem descritos todos os passos, as equações têm uma sequência lógica, deixando claro ao leitor qual é a propriedade em uso. Então, é sempre necessário ser cuidadoso em sua escrita. Mostraremos que o elemento neutro de C é o número 0. Seja 0 = 0 + 0i ∈ C, para qualquer a ∈ C, tal que a = a0 + a1i, temos: 0 + a = Substituindo o valor de 0 e a, temos: =(0 + 0i) + (a0 + a1i) = Adicionando, temos: = (0 + a0) + (0 + a1)i = O número 0 é o elemento neutro da adição em R, temos: = a0 + a1i = Substituindo o valor de a, obtemos: = a Agora, reescreveremos sem os comentários. Tente imaginar porque vale cada igualdade: 0 + a = =(0 + 0i) + (a0 + a1i) = = (0 + a0) + (0 + a1)i = = a0 + a1i = = a Você reparou que utilizamos somente a definição de adição em C e a propriedade do elemento neutro para a adição dos números reais? Ao considerarmos a condição II para um conjunto ser grupo, é necessário verificarmos tanto 0 + a = a quanto a + 0 = a. Fizemos 0 + a = a, então tente mostrar que a + 0 = a. Dessa forma, o número 0 é o elemento neutro de C. Falta verificarmos que todos os elementos de C, na operação adição, tem um elemento inverso, ou seja, para cada número complexo existe outro número complexo e, ao adicionarmos os dois números, como resultado teremos o número 0. Seja a ∈ C tal que a = a0 + a1i, considere – a = (-a0)+ (- a1)i: a + (– a) = = (a0 + a1i) + ((- a0) + (- a1)i)= =( a0 + (- a0)) + (a1 + (- a1))i = 0 + 0i = 0 14 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Omitimos todos os comentários, tente imaginar o motivo pelo qual vale o sinal de igual em cada linha. Esse é um exercício muito importante! Observemos que para provar a propriedade do inverso em C, utilizamos a definição de a e (-a) e a propriedade do elemento inverso no conjunto dos números reais. Mas, ao olharmos a condição III, vemos que é necessário verificar também que (-a) + a = 0 – deixaremos como exercício essa verificação. Como verificamos, C possui todas as condições necessárias para ser um grupo, então C é um grupo aditivo. • Grupo Aditivo das matrizes quadradas de ordem 2, sendo representado por (M2(R), +), onde a operação de adição é: + . Mostre que todas as condições necessárias para ser um grupo estão verificadas nesse conjunto. Saiba Mais O grupo aditivo das matrizes independe se a matriz é quadrada. Por exemplo, consideremos as matrizes sobre um conjunto K, com m linhas e n colunas, em que K pode ser Z, Q, R ou C, representado por Mmxn(K), temos Mmxn(K) como um grupo aditivo, ou seja: ( Mmxn(K), +). Também podemos utilizar a multiplicação como operação em conjuntos conhecidos. Por esse motivo são denominados grupos multiplicativos. Vejamos alguns exemplos: • O grupo multiplicativo dos racionais sem o zero representado por (Q–{0},.). A operação multiplicação é associativa. O elemento neutro é o número 1. O elemento inverso de a ∈ Q-{0} é a-1 ∈ Q-{0}. • O grupo multiplicativo dos reais sem o zero representado por (R-{0},.). A operação multiplicação é associativa. O elemento neutro é o número 1. O elemento inverso de a ∈ R-{0} é a-1 ∈ R-{0}. • O grupo multiplicativo dos complexos sem o zero, representado por (C-{0},.). Sejam a, b ∈ C-{0}, tais que a = a0 + a1i e b = b0 + b1i. A operação multiplicação é definida por: ab= (a0 b0 - a1b1) + (a0 b1 + a1 b0)i O elemento neutro é o número 1 = 1 + 0i. O elemento inverso de a = ∈ C-{0} é a-1 = ∈ C-{0}. Verifique! 15 Lembramos a propriedade do elemento neutro: para todo a ∈ G, existe e ∈ G, tal que e*a = a*e=a e a propriedade do elemento inverso, ou seja, para todo a ∈ G existe a’ ∈ G, tal que a*a’ = a’*a = e. Observemos que a ordem em que os elementossão operados é de suma importância. A propriedade em que a * b = b * a, para quaisquer a, b ∈ G, é denominada comutativa. Se o grupo G satisfaz a propriedade comutativa, G é denominado Grupo Abeliano em homenagem ao matemático norueguês N. H. Abel, citado anteriormente. Também pode ser denominado grupo comutativo. Então, todos os grupos citados nos exemplos anteriores são abelianos. Vamos conhecer grupos que não são abelianos. Grupo multiplicativo das matrizes inversíveis de ordem 2 com entradas nos reais representado por (GL2(R), .), em que a multiplicação de matrizes é definida por: Observemos que não vale a propriedade comutativa em M2(R). Para ilustrarmos, temos: = . E ao comutarmos os elementos, temos: = . Mostraremos que são válidas as condições para que GL2(R) seja grupo. Vejamos a associatividade: sejam A, B, C ∈ GL2(R), tais que A = , B = e C = , temos (A . B) C = = = = = = = 16 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Omitimos os parênteses da operação multiplicação, pois em R a multiplicação é comutativa! = = = = = = = = = = = A (B.C). Portanto, o conjunto GL2(R) com a operação multiplicação é associativa. Ao olhar todos esses cálculos, não se esqueça de imaginar porque cada igualdade é válida, pense se são definições ou propriedades nos números reais... Não se esqueça de que esse é um exercício importantíssimo! O elemento neutro será a matriz identidade I2 = . Ao prestarmos atenção, consideramos o conjunto das matrizes inversíveis, para termos a condição de elemento inverso. Para saber se uma matriz é inversível, basta encontrar a sua inversa, mas um processo mais fácil é lembrar que uma matriz quadrada terá inversa se, e somente se, o seu determinante for diferente de zero. Portanto (GL2(R), .), é um grupo multiplicativo que não é abeliano. Será que posso considerar (GL3(R), .)? E o conjunto (GL4(R),.)? E (GLn(R), .), onde n ∈ { 1, 2, 3, 4, ...}? Você se lembra de que o primeiro exemplo de grupo foi denominado de permutações? Vamos agora descrever esse grupo? Para tanto, considere S um conjunto não vazio, seja: G={ f: S → S | f é bijetiva} Sejam f1, f2 ∈ G, a função composta de f1 e f2 é definida assim: (f1 ° f2)(x) = f1( f2(x)) para qualquer x ∈ S. Vejamos que a função composta é fechada. Para tanto, vamos verificar se f1 ° f2 ∈ G, ou seja, f1 ° f2 é bijetiva. Vejamos se f1 ° f2 é injetiva. Sejam x1, x2 ∈ S, tais que (f1 ° f2)(x1) = (f1 ° f2)(x2). Por definição, temos (f1(f2(x1)) = (f1 (f2(x2)). 17 Como f1 é injetiva, temos f2(x1) = f2(x2). Como f2 é injetiva, temos x1 = x2. Portanto, f1° f2 é injetiva. Mostraremos se f1 ° f2 é sobrejetora. Seja z ∈ S. Como f1 é sobrejetora, temos y ∈ S, tal que z = f1(y). Como f2 é sobrejetora, temos x ∈ S, tal que z = f1(y) = f1 ( f2(x)) = (f1 ° f2 )(x). Portanto, f1 ° f2 é sobrejetora. Como f1 ° f2 é injetora e sobrejetora, a denominamos bijetora. Portanto, f1 ° f2 ∈ G. O grupo de permutações será representado por (G, °). A composição de funções em S é uma operação associativa. O elemento neutro será a função identidade representada por I. Se f é bijetora, então f é inversível, ou seja, f-1 ° f = I. Seja G um grupo, o número de elementos de um grupo é denominado por ordem de G e representado por |G|. Quando o conjunto S é finito e representado por S={1, 2, 3,..., n}, denotamos por Sn o grupo simétrico. O conjunto Sn é finito e a sua ordem será n!, ou seja, |Sn | será n! Você percebeu que ao invés de utilizarmos a notação (Sn, °) utilizamos somente Sn? Podemos fazer isso quando está clara qual é a operação do grupo, ou seja, ao invés de usarmos (G,*), representamos o grupo por G. Seja f ∈ Sn, representamos f da seguinte maneira: f = . Por exemplo, a função identidade In ∈ Sn é In = . Vejamos o grupo de permutação S3. Quantos elementos S3 possui? Você se lembra? |S3| = 3! = 6, ou seja, S3 possui 6 elementos. Os elementos de S3 são: I3 = , f1 = = f1 -1, f2= = f2 -1, f3= = f3 - 1, f4= = f5 -1, f5= = f4 -1, 18 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo A composição de dois elementos de S3 é realizada da mesma maneira que na composição de duas funções. Vejamos as composições de duas permutações: f1° f4 = ° = Para tanto, temos que encontrar a imagem dos elementos 1, 2, 3. Temos f1° f4 (1) = f1( f4 (1)) = f1( 2) =1. Outra maneira utilizada é a imagem do elemento 1 pela composta dada por 1 2 1 . Temos f1° f4 (2) = f1( f4 (2)) = f1( 3) =3, a imagem do elemento 2 pela composta é dada por 2 3 3 . Temos f1° f4 (3) = f1( f4 (3)) = f1( 1) =2, a imagem do elemento 3 pela composta é dada por 3 1 2 . Então, f1° f4 = ° = f2. Observamos que f1° f4 = f2. Vejamos agora o valor f4° f1: f4 ° f1 = ° . Para tanto, calculemos a imagem dos elementos 1, 2 e 3: A imagem do elemento 1 pela composta é dada por 1 2 3 . A imagem do elemento 2 pela composta é dada por 2 1 2 . A imagem do elemento 3 pela composta é dada por 3 3 1 . Assim temos: f4 ° f1 = ° = f3. Notamos que f4° f1 = f3. Uma consideração relevante é que f1° f4 ≠ f4° f1. Portanto, S3 não é um grupo abeliano. Verificaremos se realmente f5 é a função inversa de f4. Para tanto, temos: f5 ° f4= ° = = I3. Como esse grupo não é abeliano, é necessário comutar, ou seja, f4 ° f5 = = = I3. Portanto, f5 é a função inversa de f4. 19 Vimos que S3 não é um grupo abeliano. Na verdade, os únicos grupos de permutação que são abelianos são S1 e S2 e, para mostrarmos isso, consideremos os grupos Sn para n≥ 3. Sejam f, g ∈ Sn tais que f : {1, 2, 3, ... n} → {1, 2, 3, ... n} tais que f(1) =2, f(2) = 1 e f(x) = x , 3 ≤ x ≤ n, g : {1, 2, 3, ... n} → {1, 2, 3, ... n} tais que g(1) =3, g(3) = 1 e g(x) = x , x = 2 ou 4 ≤ x ≤ n. Vejamos que f °g ≠ g° f, para tanto, basta verificarmos um elemento em que a imagem é diferente. Então, calculemos em 1, temos: (f °g)(1) = f (g(1)) = = f(3) = 3. Agora calculamos g° f em 1, temos: (g° f)(1) = g(f(1)) = = g(2) = 2. Assim concluímos que f °g ≠ g° f, ou seja, Sn n ≥ 3 não é um grupo abeliano. O conjunto S1 somente possui um elemento que é: S1 = . O conjunto S2 possui dois elementos que são: S2 = { }. 20 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Exercícios de Exemplo 1 - O conjunto P5(R)={a0 + a1x + a2x 2+...+a5x 5 | a0 , ..., a5 ∈ R} com a operação multiplicação é um grupo? O conjunto P5(R) com a operação multiplicação não é um grupo, pois a multiplicação não é fechada em P5(R). De fato, p(x) = x 5, q(x) = x ∈ P5(R), porém p(x).q(x) = x5. x = x5+1 = x6 P5(R). 2 - O conjunto 5Z = { x |x = 5m, m ∈ Z} com a operação soma é um grupo? Para respondermos a essa questão, inicialmente verificaremos se a operação adição é fechada em 5Z. Sejam x, y ∈ 5Z, tal que x = 5m, y =5n, com m, n ∈ Z, temos: x+y =5m + 5n = 5(m+n) ∈ 5Z. Portanto, a operação adição é fechada em 5Z. Vejamos se as condições de grupo são verificadas: I. A associatividade é válida, pois 5Z Z e em Z vale a propriedade associativa em relação à adição. II. Existe o elemento neutro, pois 0 = 5.0, então 0 ∈ 5Z. III. Todo elemento de 5Z possui elemento inverso em 5Z. De fato, seja x ∈ 5Z, tal que x = 5m, temos: -x = -(5m) = 5(-m) ∈ 5Z e –x é o elemento inverso de x, pois: x + (-x) = 5m + 5(-m) = 5(m+(-m)) = 5.0 =0. -x + x=0. Portanto, 5Z é um grupo. 3 - O grupo (5Z) é abeliano? O grupo 32Z será abeliano se for possível verificar a comutatividade em relação à adição. Como 5Z Z e Z é comutativo, 5Z será comutativo. 4 - Podemos afi rmar que (C, .) é grupo? Não. Pois C não satisfaz a propriedade do elemento inverso. De fato, 0 ∈ C, porém 0 não possui inverso. Porém temos que (C*, .) é grupo já que teríamos um complexo não nulo e por consequência a propriedade do elemento inverso. 21 Material Complementar Nesta unidade, estudamos sobre a história da álgebra abstrata e a estrutura algébrica grupo. Para que você possaampliar e aprofundar seus conhecimentos sobre como se construiu o conceito de Grupo e a sua própria definição, indicamos algumas leituras. Livros: ALENCAR FILHO, E. Elementos de Álgebra Abstrata. 3. ed. São Paulo: Nobel, 1982. DOMINGUES, H.H.; IEZZI, G. Álgebra Moderna. São Paulo: Atual, 2003. GARCIA, A.; LEQUAIN, Y. Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2002. GONÇALVES, A. Introdução à Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2003. HEIRSTEIN, I, N. Tópicos de Álgebra. São Paulo: Editora da Universidade e Polígono, 1970. MONTEIRO, L. H. J. Iniciação às estruturas algébricas. 6. ed. São Paulo: Nobel, 1973 Sites: A história da Álgebra Abstrata: MILIES, C. P. Breve história da Álgebra Abstrata. In: II Bienal da Sociedade Brasileira da Matemática. Salvador. 2004. http://www.bienasbm.ufba.br/M18.pdf BORRALHO, A.; CABRITA, I.; PALHARES, P.; E VALE, I. Os Padrões no Ensino e Aprendizagem da Álgebra. In: VALE, I.; PIMENTEL, T.; BARBOSA, A.; FONSECA, L.; SANTOS L.; CANAVARRO, P. (Orgs.) Números e Álgebra. Lisboa: SEM-SPCE, 2007. p. 193-211. http://rdpc.uevora.pt Cubo Mágico e o Grupo. http://www.dm.ufscar.br/profs/waldeck/rubik/rubik2.pdf 22 Unidade: A história da Álgebra Abstrata e a Formação do Conceito Grupo Referências ALENCAR FILHO, E. Elementos de Álgebra Abstrata. 3. ed. São Paulo: Nobel, 1982. DOMINGUES, H.H.; IEZZI, G. Álgebra Moderna. São Paulo: Atual, 2003. GARCIA, A.; LEQUAIN, Y. Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2002. GONÇALVES, A. Introdução à Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2003. HEIRSTEIN, I, N. Tópicos de Álgebra. São Paulo: Editora da Universidade e Polígono, 1970. MONTEIRO, L. H. J. Iniciação às estruturas algébricas. 6. ed. São Paulo: Nobel, 1973. MILIES, C. P. Breve história da Álgebra Abstrata. In: II Bienal da Sociedade Brasileira da Matemática. Salvador. 2004. Disponível em: http://www.bienasbm.ufba.br/M18.pdf RIZZATO, F. B. Grupos de Permutação. Disponível em: http://www.matematica.br/ historia/grupos.html 23 Anotações
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