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Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Fisiologia do Sistema Digestório O Sistema Digestório realiza desde a captação do alimento até a quebra e absorção de nutrientes, além de ser convertido e armazenado para consumo a longo prazo. Além disso, o sistema digestório realiza a conversão de conteúdos não essenciais ou são até mesmo tóxicos para o organismo e elimina de forma rápida e que não cause danos. Um exemplo disso é a quebra de proteína em amônia, composto tóxico ao corpo, principalmente para o sistema nervoso. O corpo, converte então essa amônia em ureia, para facilitar a eliminação. O sistema digestório é uma das principais portas de entrada de patógenos para o meio interno como o parvovírus, Toxocara, Ancylostoma etc. Por conta disso há mecanismos de defesa que visam minimizar o contato com esses agentes. Quando há variações de pH ou de conteúdo alimentar há comprometimento da microbiota intestinal, podendo facilitar a disseminação de microrganismos lesivos ao organismo. A microbiota ruminal é primordial para os animais. Esses animais se alimentam para dar condições adequadas para que os microrganismos presentes nos pré estômagos forneçam energia para eles. A captação do alimento é diversificada de acordo com a espécie e hábitos alimentares. O sistema digestório é um tubo em que cada órgão tem uma função específica para que haja a quebra adequada dos alimentos podendo gerar a energia necessária. Há motilidade, secreção de enzimas e substâncias que facilitam a digestão, a quebra, absorção de nutrientes e armazenamento de compostos que podem ser usados futuramente. Podemos afirmar que indivíduos com aumento de motilidade, absorvem menos o alimento, uma vez que este fica pouco tempo em contato com a mucosa intestinal. A cavidade oral realiza a captação do alimento, secreção de substâncias e condução para a porção posterior. O esôfago por sua vez realiza o processo de condução por meio de movimentos peristálticos. No estômago ocorre a digestão por meio da ação do ácido clorídrico e enzimas digestivas. Nos intestinos há absorção de nutrientes e água para geração de energia. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO A regulação dos processos da via digestiva é formada por 3 segmentos: em que o indivíduo nem ingeriu o alimento ainda, mas já se lembra do alimento, odor, horário de alimentação, hábitos alimentares, paladar servindo como estímulo para que haja produção de enzimas e sucos digestivos. , por sua vez, já está relacionada com a presença do alimento no estômago. Essa presença realizará estímulo de motilidade e secreção enzimática. também ocorre depois da presença do alimento e, com isso, haverá estímulo para liberação de sucos digestivos e absorção nutricional. A cavidade oral é um ambiente fechado já que haverá processo digestivo físico para redução da partícula alimentar facilitando a absorção, além do início da digestão química por conta da amilase salivar presente em algumas espécies. É na cavidade oral que as partículas alimentares são misturadas à saliva (insalivação) para formação do bolo alimentar. Os ruminantes que são presas naturais realizam regurgitação do alimento fazendo com que haja reaproveitamento do conteúdo ingerido, intensificando a mastigação e, consequentemente, facilitando a fermentação. Os equinos utilizam muito os lábios para obter o alimento. Os lábios, principalmente o superior são extremamente maleáveis facilitando a captação do alimento juntamente com os dentes incisivos que realizarão o corte da gramínea. Os bovinos, por sua vez, utilizam muito a língua, sendo o principal órgão de captação dessa espécie. As aves utilizam o bico. Por não ser maleável, esses animais erguem a cabeça para facilitar o direcionamento do conteúdo alimentar para as seguintes estruturas da via digestiva. Na cavidade oral há a umidificação através do muco salivar, mistura do alimento à saliva e trituração para facilitar a condução e digestão gástrica e intestinal. Quanto mais tempo o alimento é degradado, mais fácil é a absorção do nutriente (por isso é tão recomendada a mastigação). Na primeira imagem vemos o alimento original, sem ter sofrido nenhum processo digestivo. Na segunda imagem há duas mastigações e podemos ver que o alimento ainda se encontra seco e com uma estrutura física mais íntegra. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Conforme vai havendo mastigação, o alimento vai sendo degradado e misturado à saliva. A língua é um músculo fundamental para que haja o processo de mastigação e insalivação, uma vez que é ela quem movimenta o alimento na cavidade oral favorecendo a homogeneização além de conduzir o conteúdo para o esôfago. Por conta das papilas gustativas presentes na língua, há estímulo de motilidade, secreções gástricas e intestinal havendo preparação das demais estruturas do sistema digestório. Algumas espécies possuem poucas papilas gustativas relacionadas a dor como vemos nos répteis podendo consumir alimentos como pimenta sem sentir grandes diferenças. A língua também auxilia na emissão de sons, dissipação de calor como ocorre nos cães que possuem poucas glândulas sudoríparas, o que dificulta o processo de dissipação de calor que irá ocorrer a partir da elevação da musculatura extrínseca que recolhe e auxilia na ingestão hídrica como a musculatura intrínseca que facilita o aumento da área de superfície e, consequentemente, a dissipação do calor. A inervação motora da língua se dá pelo hipoglosso (12º par de nervos cranianos) que facilita a movimentação da língua. A inervação sensitiva se dá pelo 5º par de nervos cranianos denominado Trigêmeo. A cavidade oral é fechada pelo palato mole que impede que haja refluxo para vias respiratórias e impede que o ar desvie da traqueia para o esôfago. é o processo voluntário em que há a mastigação e o início da deglutição. Há um sincronismo entre os músculos mastigatórios, lábios e língua. Isso é importante para promover um processo mastigatório rítmico. O processo de mastigação é controlado pelo núcleo motor trigêmeo em que há áreas sensoriais do paladar e olfato que promoverão o abaixamento da mandíbula e entrada do alimento. A sequência rítmica em que há abaixamento da mandíbula, elevação e lateralização é controlada pelo tronco encefálico. é o processo involuntário em que há condução do alimento da faringe para o esôfago. Nesse processo, o palato mole é deslocado para porção dorsal impedindo que o alimento se desloque para as vias aéreas superiores impedindo que haja o refluxo. Também há arcos palatofaríngeos que agem como limitadores de volume Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO alimentar que irá passar para a porção esofágica, agem impedindo a passagem de alimentos grandes. No processo de deglutição também há um controle respiratório, uma vez que há inibição da respiração no momento da deglutição. Isso é fundamental, uma vez que, se o alimento for direcionado à via respiratória haverá pneumonia por aspiração. Indivíduos que se engasgam ou regurgitam o alimento tem grande possibilidade de desenvolver pneumonia aspirativa como acontece em filhotes em que há imaturidade de esfíncteres, havendo constantes regurgitações favorecendo o processo de aspiração alimentar. Diferente da êmese, na regurgitação não há inibição da respiração por issoé mais difícil haver aspiração alimentar no processo emético que é controlado pelo centro do vômito. também é involuntária, havendo condução do alimento do esôfago ao estômago. Nessa fase há os movimentos peristálticos que facilitarão a condução do bolo alimentar até a junção gastroesofágica, O esfíncter é fechado tonicamente no repouso e é aberto durante a deglutição, vômito ou eructação. Quando a onda peristáltica chega ao estômago há uma onda de relaxamento do esfíncter esofágico inferior promovida pelo sistema nervoso autônomo impedindo com que haja refluxo do conteúdo presente no estômago para porção esofágica. Na fase esofágica também há dois tipos de peristalse promovendo a propulsão do alimento: É a primeira contratilidade esofágica iniciada na faringe e se propaga para o esôfago. Dura cerca de 10 cm. Ocorre quando há distensão do esôfago, quando nem todo o alimento presente foi removido com a peristalse primária. Ocorre ondas cada vez mais intensas até que todo o esôfago seja devidamente esvaziado. Comum quando há ingestão de corpo estranho buscando o deslocamento do conteúdo para porção gástrica. Dependendo do tipo de material e do tamanho pode haver lesão na parede esofágica havendo distensão. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Na imagem anterior temos a radiografia de um gato com um esôfago distendido. Ao comer, o conteúdo fica parado na área esofágica e a peristalse é insuficiente para conduzir o conteúdo alimentar para porção gástrica. Consequentemente, não haverá absorção nutricional, uma vez que o animal irá regurgitar o conteúdo ingerido que não irá para o estômago e para as porções seguintes do trato digestório. A desvantagem de ter um conteúdo gástrico sendo deslocado para o esôfago é devido a acidez do pH gástrico que pode lesionar a parede esofágica gerando uma esofagite. PARÓTIDAS, MANDIBULARES e SUBLINGUAIS têm papel de secretar a serosa: líquido aquoso e claro, mucosa (material viscoso e firme atuando como cobertura ao longo do trato) e mista (mucosa + serosa). Agem também como proteção contra patógenos que possam adentrar a cavidade oral. A saliva serve tanto para lubrificação quanto para regulação de pH por conter bicarbonato. Há diversas imunoglobulinas promovendo a defesa de forma imediata além de enzimas que facilitam o início do processo digestivo. A regulação de pH é primordial para ruminantes, uma vez que o processo de regurgitação faz além de lubrificar o alimento e digerir mecanicamente, há a alcalinização do pH do alimento para que esteja adequado para não fazer mal a microbiota ruminal. A maior parte das aves possui glândulas salivares secretoras de muco facilitando o deslocamento e o processo de quebra daquele conteúdo alimentar. O pH neutro também é mantido na saliva devido a amilase salivar que é ativada com esse pH. Em ruminantes a função da saliva é manter o ambiente fluido e capacidade tamponante. O estômago tem como função armazenar grandes quantidades de alimento até que possa haver o processamento. Isso ocorre principalmente em presas como ruminantes e pequenos herbívoros. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Além disso, o estômago tem a função de misturar o conteúdo à secreção gástrica composta por diversas enzimas que acelerarão o processo digestivo. O controle do fluxo com que o quimo (conteúdo alimentar) será direcionado para o intestino delgado também é realizado pelo estômago. A porção de fundo é uma área que pode ser distendida aumentando a capacidade de armazenamento de alimento. A motilidade é realizada pelo corpo e pelo antro pilórico com função principal de homogeneizar o conteúdo alimentar a secreção gástrica. Para que haja mistura do conteúdo alimentar com o suco gástrico há contração de corpo que fará com que partículas menores passem o esfíncter pilórico enquanto as maiores refluem da região antro pilórica para a porção de corpo, essa é a fase de propulsão. A fase seguinte é chamada de esvaziamento em que ocorre o esvaziamento de líquidos e pequenas partículas enquanto as maiores continuam retidas no antro pilórico. A última fase é denominada Retropulsão em que há novamente contração gástrica e secreção enzimática que irá diminuir ainda mais as partículas favorecendo a absorção. A região antro pilórica, principalmente para pequenos animais é uma importante região obstrutiva já que é uma região limitadora que impede a passagem de corpo estranho para a porção intestinal. A limitação da passagem do conteúdo gástrico para o duodeno é realizada pelo piloro que controla a velocidade do esvaziamento gástrico. Nessas atividades, há inervação do nervo vago por meio do tronco encefálico. Na imagem acima conseguimos ver a distensão máxima do estômago, mesmo que já haja saciedade, ainda há uma capacidade de relaxamento realizada pela inervação vagal favorecendo o consumo de mais alimento. O equino possui uma inserção oblíqua do esôfago em relação ao estômago além de um esfíncter tenso impedindo essa espécie de vomitar. O refluxo também é muito raro. Nas aves, há um pró ventrículo denominado moela, onde há digestão física promovendo a redução das partículas. Os ruminantes, por sua vez, possuem três pré estômagos e um estômago enzimático tido como verdadeiro. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Na imagem acima vemos papilas ruminais que tem função fermentativa. O Retículo por sua vez tem função de promover o processo de regurgitação para auxiliar o processo fermentativo. O omaso além de realizar digestão mecânica também tem a função de absorver água. o abomaso por sua vez é o estômago enzimático dos ruminantes, equivalente ao estômago dos monogástricos tendo a função de digestão por meio do ácido clorídrico e enzimas presentes no suco gástrico. Na via digestiva, temos uma série de hormônios que atuam no sistema digestório como um todo. Na maior parte na cavidade gástrica com a secreção de ácido clorídrico e no intestino, principalmente delgado, com secreções que controlam pH, facilitam digestão química e regulam motilidade. Temos milhões de células epiteliais que revestem a via digestiva facilitando o deslocamento do conteúdo alimentar e promovendo a secreção de hormônios. As células produtoras e secretoras de hormônios são denominadas CÉLULAS ENTEROCROMAFINS/ CÉLULAS ENDÓCRINAS . É um dos principais hormônios presentes na cavidade gástrica e tem como principal função estimular a liberação do ácido clorídrico além de promover e manter a Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO motilidade gástrica. O estímulo para sua liberação se dá pela presença do conteúdo alimentar (principalmente proteína) além da elevação do pH já que o alimento tem o pH mais alcalino quando comparado ao pH gástrico. Tem a função de manter a motilidade do trato gastrointestinal superior. O estímulo para sua liberação é a acetilcolina, neurotransmissor do Sistema Nervoso Autônomo que estimula as células enterocromafins a liberação de motilina pelas células enteroendócrinas do intestino (duodeno e jejuno). Ainda falando sobre controle hormonal intrínseco, temos a colecistocinina que é um hormônio liberado quando há presença de proteínas e gordura na porção intestinal. É produzida no duodeno, jejuno e íleo e tem como função estimular asecreção da enzima pancreática além da contração da vesícula biliar e inibição do esvaziamento gástrico. Soma-se a isso a função de diminuir e retardar o tempo de esvaziamento gástrico, havendo redução parcial na secreção gástrica. Produzida no duodeno e jejuno e é estimulada pelo pH ácido, gordura e proteína presente no quimo e tem como função estimular a secreção de bicarbonato e inibir a secreção ácida proveniente do estômago. E produzido no duodeno e jejuno, tem como principal ação inibir as secreções gástricas além de estimular a secreção de insulina para estocar a glicose que é um dos estimuladores para sua secreção assim como a gordura. Na imagem acima vemos um exemplo de mucosa gástrica formada por vários poros das células secretoras gástricas. Na primeira parcela temos células produtoras de muco que fazem o revestimento gástrico protegendo a mucosa contra a secreção do ácido clorídrico. A regulação da produção de muco é realizada pelas prostaglandinas que estimulam a circulação da mucosa gástrica fazendo com Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO que haja reparação, caso alguma célula tenha sido danificada. Consequentemente, esse aumento de perfusão promove a produção de muco pelas células especializadas. É importante comentarmos sobre um assunto interessante que é a presença de gastrite em indivíduos que fazem uso prolongado de anti-inflamatórios, principalmente AINEs. Isso se dá pelo bloqueio da COX 1, que atua em processos fisiológicos como a liberação de prostaglandinas que exerce função na mucosa gástrica. Quando não há a ação das prostaglandinas, há interferência na produção de células reparativas e produção de muco expondo a mucosa gástrica à ação do ácido clorídrico causando uma gastrite. Outro tipo de célula que podemos citar é a CÉLULA PARIETAL que sofre estímulos por algumas vias: gastrina, acetilcolina pelo sistema nervoso autônomo e histamina. As CÉLULAS PRINCIPAIS agem liberando o pepsinogênio (forma inativa da pepsina) que atua na digestão proteica. As CÉLULAS PILÓRICAS, também conhecidas como Células G liberam a Gastrina que tem função de estimular a secreção do ácido clorídrico e atua também na motilidade gástrica. O ácido clorídrico possui 3 fontes: ACETILCOLINA, GASTRINA e a HISTAMINA. A célula parietal se encontra junto a uma célula enterocromafim, que irá secretar histamina, capaz de intensificar a produção de ácido clorídrico. Já a célula parietal conta com três importantes receptores: para histamina, gastrina e acetilcolina. Vimos que a gastrina é estimulada pela presença do alimento, em especial a proteína que estimula sua liberação pela célula G. A acetilcolina, por sua vez, é estimulada desde a fase cefálica de digestão onde o indivíduo vê, sente o cheiro ou tem até mesmo memória de determinado alimento. Tanto a gastrina como a acetilcolina conseguem estimular de forma direta a produção de ácido clorídrico pela célula parietal, mas não com tanta intensidade. Todavia, o principal mecanismo de produção de ácido clorídrico se dá a partir da célula enterocromafim que, estimulada pela gastrina e acetilcolina, libera histamina que, ao se ligar na célula parietal, é responsável por produzir de 60 a 80% de ácido clorídrico. Importante destacar que a prostaglandina além de favorecer a perfusão sanguínea na mucosa gástrica promovendo reparação, também atua como bloqueadora de histamina, com o objetivo de controlar a produção de ácido clorídrico. Esse estímulo se dá devido a abertura dos receptores ocupados pela gastrina, acetilcolina e histamina, havendo entrada de íons de hidrogênio que irão alterar o pH interno da membrana. Quando o hidrogênio está em excesso, começa a funcionar uma bomba de prótons que tem, como o objetivo, expulsar o hidrogênio para o lúmen gástrico. Isso se dá de forma ativa, ou seja, com gasto de Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO energia e, em troca do hidrogênio, há a entrada de potássio. Quando há aumento da atividade da bomba de prótons haverá a formação do bicarbonato também, uma vez que haverá aumento da atividade metabólica da célula resultando na produção de CO2 que irá se unir a uma molécula de água formando ácido carbônico (CO2+H2O ----- H2CO3) o ácido carbônico irá se dissociar em H+ que será expulso pela bomba de prótons e HCO3 (bicarbonato). O bicarbonato, quando em excesso, desencadeia uma outra bomba que irá direcioná-lo para dentro do vaso sanguíneo (alcalose metabólica) em troca de um íon cloreto. Esse cloreto passa para o lúmen gástrico por meio de um canal, sendo um transporte facilitado. A junção do cloreto com os íons de hidrogênio forma o ácido clorídrico. Medicamentos como a Ranitidina, Cimetidina são antagonistas de receptores H2 que são justamente os receptores de histamina da célula parietal. Ao ingerir esses medicamentos, haverá ligação com o receptor impedindo com que haja ligação da histamina, bloqueando sua ação. Todavia a eficácia não é total, uma vez que também há outras duas vias de ação (acetilcolina e gastrina) que podem ainda atuar na produção do ácido clorídrico. Já quando pensamos no Omeprazol e Pantoprazol que são bloqueadores da bomba de prótons vemos que sua ação é mais eficaz, uma vez que não haverá produção do ácido clorídrico já que o hidrogênio não será direcionado ao lúmen gástrico independente da via (gastrina, acetilcolina ou histamina). Portanto são muito mais potentes quando comparados aos antagonistas de receptores H2. O uso prolongado desses medicamentos interfere na ativação de enzimas como a pepsina, perdendo sua capacidade de digestão química. Estudos comprovam que não é aconselhável a parada brusca na administração de inibidores da bomba de prótons, uma vez que a ativação será imediata podendo causar desconfortos como vômitos no paciente. Portanto, é recomentada uma redução gradual da administração. De modo geral, o estômago sofre controle do sistema nervoso autônomo que atua na motilidade e secreção. O sistema autônomo simpático deprime o sistema digestório enquanto o parassimpático estimula a motilidade e secreção de sucos digestivos e enzimas. Alguns fatores interferem no esvaziamento gástrico, são eles: a NATUREZA DO ALIMENTO, o VOLUME ALIMENTAR, a OSMOLARIDADE, ALTA INGESTÃO DE PROTEÍNAS OU PROTEÍNAS DE BAIXO VALOR BIOLÓGICO e PH. Quando o conteúdo gástrico é destinado ao duodeno, há secreção de CCK (colescistoquinina) que diminui a motilidade gástrica para que o conteúdo seja direcionado para o intestino regulando o tempo de esvaziamento gástrico para que haja secreção e motilidade na porção intestinal. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO A motilidade é estimulada pelo volume gástrico que distende o estômago. Além disso há a atuação hormonal como a gastrina e motilina. Já a inibição da motilidade gástrica se dá pela presença de conteúdo gástrico chegando no duodeno havendo reflexos nervosos enterogástricos duodenais. A presença de gordura e presença de CCK também inibe a motilidade. Por último há a secretina e peptídeo inibidor gástrico (GIP) que também age inibindo a motilidade gástrica. No segmento intestinal que aumenta sua área de contato favorecendo a absorção (movimento de mistura ou segmentar) e um movimento para deslocamento de conteúdo (movimento peristáltico ou de propulsão). Isso se dá pela presença de duas camadas musculares no intestino (circular e longitudinal). Esses dois processos se dãopela despolarização neuronal que ocorre em cascata, um despolariza o outro e assim sucessivamente fazendo com que a motilidade seja gradual. Indivíduos com quadros eméticos entram em alcalose metabólica devido a perda excessiva de ácido sendo necessário a solução de soro fisiológico que tem o pH ácido. Quando há quadros de diarreia, o indivíduo perde muito bicarbonato gerando uma acidose metabólica. Portanto, é necessária a administração de Ringer Lactato para voltar à homeostase. A perda é maior quando há diarreia então mesmo que o indivíduo esteja apresentando tanto êmese quanto diarreia, o tratamento será voltado para a acidose causada pela diarreia. Para que haja um episódio emético, há duas áreas vitais que atuam nesse processo, são elas a ZONA QUIMIORRECEPTORA DE DISPARO e o CENTRO DO VÔMITO. Ambas as áreas estão presentes no Sistema Nervoso Central. A Zona Quimiorreceptora de Disparo (ZQD) é o principal sinalizador de que há alguma disfunção no trato digestível ou até mesmo sistêmico enquanto o Centro do Vômito é a região do Sistema Nervoso Central, mais especificamente no bulbo presente no Tronco Encefálico em que há início do processo emético. Alguns fatores que podem ser captados pela zona quimiorreceptora são aumento da produção do ácido clorídrico, lesões causadas por processos inflamatórios ou infecciosos, neoplasias, presença de corpo estranho. Distúrbios vasculares também podem ser captados como processos inflamatórios ou agentes infecciosos sistêmicos em que as toxinas irão estimular a ZQD. Logo, é possível compreender o Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO porquê em quadros de sepse há presença de episódios eméticos. Quando há identificação desses fatores pela ZQD, há estimulação do Centro do vômito promovendo relaxamento de esfíncteres, contração diafragmática e de musculatura abdominal ocasionado o episódio emético. É importante destacar que nem todo estímulo irá ativar a ZQD, podendo ter ação direta no Centro do Vômito. Podemos citar como exemplo os estímulos visuais, olfativos e até mesmo efeitos de memória (em humanos). A questão do equilíbrio também é um fator que ativa diretamente o Centro do Vômito explicando o fato de muitos indivíduos ficarem nauseados numa viagem de carro, por exemplo, isso é chamado de Cinetose. Para quadros de cinetose ou em situações em que o vômito é causado pela memória é importante prescrevermos um antiemético que não tem ação na ZQD já que não está ligada ao quadro e sim um medicamento que age no Centro do Vômito. Zona Quimiorreceptora de Disparo (ZQD) É mediada por três vias: Dopaminérgica (D2), Serotoninérgica (5-HT3) e colinérgica muscarínica além disso também pode sofrer estímulo de toxinas endógenas ou exógenas. Quando há uma dilatação gástrica, inflamação, infecção ou queda excessiva de pH, o nervo vago irá atuar na ativação da ZQD. Como exemplo de medicamento podemos citar a Ondansetrona que atua diretamente na ZQD. Centro do Vômito É mediado pelo via histaminérgica (H1) e colinérgica muscarínica. O estímulo se dá por cinetose, via sensorial (visão, olfato ou dor) e centros encefálicos altos (ansiedade, medo, memória). Como exemplo de medicamento temos o Dramin que é um anti-histamínico indicado para cinetose. O intestino grosso é responsável pela absorção de água e processos fermentativos, principalmente em herbívoros. Além disso, o intestino grosso também é responsável pelo formato fecal. Na imagem acima observamos uma tabela com alguns sinais clínicos apresentados e suas devidas localizações. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Na imagem acima observamos fezes com coloração enegrecida devido a presença de sangue enegrecido conhecido como melena. Isso pode ser causado por lesões em alguma porção da via digestiva superior. Na imagem acima encontramos um conteúdo fecal mais líquido além da coloração ser de sangue vivo (hematoquezia) mostrando que a localização do problema se dá em intestino grosso. Na imagem acima podemos ver que as fezes são de consistência mais líquida além de haver presença de muco nas fezes que tem a função de lubrificar as fezes. Esse padrão de diarreia se dá por colites (inflamação do cólon). A manifestação de esteatorreia (presença de gordura nas fezes) se dá devido a lesões intestinais interferindo na ação da bile e/ou suco pancreático havendo perda da absorção dessa gordura que sairá nas fezes. O tenesmo (dificuldade ao defecar) se manifesta em alterações de intestino grosso já que é responsável pela formação das fezes. O fígado é um órgão rico em funções para o organismo dos animais. A unidade funcional do fígado é o hepatócito que necessita de um fluxo sanguíneo adequado que pode vir da porção intestinal: circulação enteroportal, que é a principal, trazendo nutrientes digeridos na porção intestinal além de compostos tóxicos que também são absorvidos pelo intestino; A excreção de substâncias se dá pelos canalículos biliares que desembocam em ductos maiores chamados de Ductos Biliares e, em seguida, para a vesícula biliar nas espécies que a tem. Animais que não apresentam vesícula biliar acabam por produzir menos bile que é lançada diretamente no intestino afetando a digestão lipídica havendo quadros intensos de diarreia. Ao analisarmos um exame de função hepática observamos os níveis enzimáticos para avaliarmos se há a presença de lesões. Um hepatócito possui algumas enzimas em seu interior, uma das principais é denominada ALT. Em lesões em que há destruição dos hepatócitos, essa enzima é liberada na circulação havendo então aumento de ALT em exames laboratoriais. A fosfatase alcalina se encontra nos canalículos biliares. Em quadros de colestase, em que há acúmulo sanguíneo Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO dificultando a passagem pelos canalículos há aumento na concentração de fosfatase alcalina a níveis séricos, isso se dá em razão da maior viscosidade em razão dos níveis de triglicérides ou em quadros inflamatórios. A albumina também é uma proteína sintetizada no parênquima hepático. Tem formação nos hepatócitos que conjugam aminoácidos, colesterol e água sendo chamados de sais biliares. Em alguns exames ultrassonográficos pode ser evidenciada a presença de “lama biliar” que nada mais é do que a bile mais densa e viscosa possuindo uma maior celularidade. Isso se dá em razão do aumento dos níveis de colesterol por conta da alimentação, níveis hormonais ou obesidade. A bile atua na formação de miscelas no intestino para que haja digestão e absorção de gordura. É justamente a presença dessa gordura que estimula o hormônio CCK que age contraindo a vesícula biliar. Participação no metabolismo de hormônios, produção de fatores de coagulação; Função de armazenamento de vitaminas, glicogênio e lipídeos; Desintoxicação e excreção de fármacos ou de moléculas que apresentam lipossolubilidade e maior peso molecular; Funções digestivas como contração da vesícula biliar e eliminação de sais biliares; O principal hormônio atuante na contração da vesícula biliar é a colecistoquinina (CCK) estimulada pela presença de gordura na porção intestinal. O parênquima hepático também participa do ciclo da amônia, que é um composto altamente volátil, ou seja, que é facilmente absorvível pelos tecidos, inclusive pelo sistema nervoso que é altamente sensível a este composto. A amônia é produto da digestão da proteínaque é quebrada na cavidade gástrica e no intestino com a ação das enzimas pancreáticas e ação de bactérias proteases levando a formação de amônia, composto tóxico que é captado pela circulação enteroportal e direcionado para o parênquima hepático que converte a amônia em ureia, composto menos tóxico e de fácil excreção pelo parênquima renal. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Comum em raças toys sendo caracterizada pela má formação em que um vaso, ao invés de direcionar a amônia para o parênquima hepático, direciona para a veia cava caudal tornando a amônia livre, sendo absorvida por diversos tecidos, inclusive o nervoso causando manifestações clínicas como alterações neurológicas. Indivíduos que possuem perda funcional hepática apresentam perda da capacidade de conversão de amônia e ureia, além de perder a capacidade de síntese de albumina, fatores de coagulação, problemas na quebra de reservas de glicogênio. O parênquima hepático também atua na síntese e excreção da bilirrubina formada a partir de hemoglobina presente na hemácia que fica envelhecida e é fagocitada pelo sistema monocítico liberando biliverdina que forma, na circulação, a bilirrubina não conjugada/indireta. Recebe esse nome pois sua conjugação ocorre em ambiente hepático, após seu transporte ser realizado pela albumina. Dessa forma, a bilirrubina consegue ser eliminada pelas fezes, em forma de estercobilinogênio que é responsável pela coloração acastanhada das fezes. Uma menor parcela dessa bilirrubina é reabsorvida pela circulação enteroportal e é destinada para eliminação via renal por meio da urina. Vale destacar que alterações pré hepáticas vão resultar em aumento da bilirrubina indireta como casos de hemólise (destruição de hemácias) havendo liberação de bilirrubina não conjugada. Já em lesões hepáticas ou pós hepáticas como obstrução de canalículos, ductos ou vesícula biliar vai resultar no aumento da bilirrubina conjugada/direta. O excesso de bilirrubina circulante irá promover um sinal clínico chamado Icterícia que poderemos observar pelo amarelamento de mucosas além de bilirrubinúria que se dá pela coloração de coca cola na urina do animal. Animal com mucosa ocular ictérica. Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO Animal apresentando urina em colúria em razão da presença de bilirrubina. Animal com perda da capacidade de armazenamento, além da perda da síntese de proteínas como albumina levando ao catabolismo muscular e lipídico buscando a busca de nutrientes. O animal apresentado também apresenta ascite (abaulamento abdominal) decorrente da queda da pressão oncótica que ocorre por conta da diminuição da síntese de albumina. O pâncreas possui função exócrina, ligada a produção de enzimas atuantes na digestão realizando quebras de moléculas, também possui uma função endócrina ligada, principalmente a produção de insulina. Para que haja secreção pancreática, as células acinares liberam o estímulo para que haja secreção enzimática inativa que serão ativadas em ambiente intestinal que, com sua variação de pH, ativará essas enzimas. Essa ativação em ambiente intestinal é muito importante, uma vez que as enzimas são auto digestivas, portanto, se houver ativação no pâncreas pode haver digestão do tecido do pâncreas gerando um caso de pancreatite. Isso pode ocorrer em decorrência de agentes infecciosos, distúrbios circulatórios, processos inflamatórios ou até mesmo hiper estimulação enzimática. O estímulo para a liberação das enzimas se dá pela ação do nervo vago e do hormônio CCK. Essas enzimas são direcionadas ao intestino junto com a presença da secretina que possui em sua composição bicarbonato e água e, ao chegar em ambiente intestina, haverá ativação dessas enzimas devido ao pH mais baixo. As enzimas pancreáticas são a Tripsina (inativa) que tem o papel de quebrar a proteína, lipase ligada na captação de gordura e quebra desses triglicerídeos e, por último, a amilase que tem o papel de quebra dos carboidratos. Indivíduos com insuficiência pancreática exócrina tem como sinal clínico a polifagia, porém há caquexia uma vez que não há secreção pancreática de enzimas para que haja a absorção correta dos nutrientes. Esses indivíduos também apresentam diarreia crônica em razão que não há Fisiologia Veterinária – Jennifer Reis da Silva (@jenniferreis_vet) – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO absorção lipídica. A polifagia, por sua vez, é apresentada já que os nutrientes não são absorvidos e o centro da saciedade irá interpretar como jejum prolongado mantendo o sinal de fome. As fezes desse indivíduo podem apresentar alta presença de gordura (esteatorreia) e alimentos parcialmente digeridos como vemos acima.
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