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Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo Página 1 de 4 Doença hipertensiva (DHEG) Introdução ‐ Estima-se que 5 a 10% de todas as gestantes têm um distúrbio hipertensivo, sendo 70% provenientes de pré-eclâmpsia e 30% de hipertensão crônica. ‐ Hipertensão: pressão arterial diastólica > 140 e sistólica > 90. ‐ Classificação da doença hipertensiva específica da gestação (DHEG): • Hipertensão gestacional • Pré-eclâmpsia • Eclampsia • Hipertensão crônica • Hipertensão arterial crônica com pré- eclâmpsia superajuntada. Fatores de risco: Idade materna avançada Diabetes Mellitus Obesidade Gestação múltipla Trombofilias HF de DHEG Doença trofoblástica gestacional DHEG em gestação pregressa Doença renal Colagenoses ‐ Cerca de 75% ocorrem em nulíparas. ‐ A doença, nesses casos, é mais observada em pacientes com HAS pré-gravídica ou quando há troca de parceiro. ‐ Há maior presença de DHEG em extremos de idade, abaixo de 18 e acima de 40 anos. Etiologia e fisiopatologia ‐ A teoria mais aceita da fisiopatologia da doença é que diversos fatores atuam em conjunto e resultam em uma invasão trofoblástica inadequada, mediada por fatores imunogenéticos. ‐ Em consequência, há aumento da permeabilidade capilar e ativação do sistema de coagulação, promovendo alterações multissistêmicas, associadas a menor perfusão nos órgãos. Deficiência da invasão trofoblástica Disfunção endotelial e alterações inflamatórias Fatores imunológicos Fatores genéticos • Invasão trofoblástica ‐ Artérias espiraladas são responsáveis pelo aumento do fluxo sanguíneo uterino na gestação. ‐ É função do trofoblasto fazer a destruição da musculatura vascular e membrana elástica do vaso, ou seja, as células substituem os revestimentos vascular e endotelial, aumentando o diâmetro do vaso, que ocorre no primeiro trimestre. ‐ No segundo trimestre há uma segunda onda de invasão trofoblástica. ‐ Na DHEG, pouquíssimas artérias espiraladas fazem transformação completa, havendo redução no suprimento sanguíneo, diminuição de oxigenação e nutrição fetal, podendo se relacionar com a restrição de crescimento fetal intraútero (CIUR) e sofrimento fetal. Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo Página 2 de 4 • Disfunção endotelial e alterações inflamatórias ‐ Por consequência das alterações de perfusão placentária, há ativação endotelial sistêmica seguida de vasoespasmo. ‐ O vasoespasmo é responsável pela hipertensão e aumento da permeabilidade capilar podendo causar proteinúria, edema, hemoconcentração e ativação da coagulação (plaquetopenia). ‐ Além disso, podem ser resultados: a isquemia hepática, convulsões, oligúria, DPP. Formas clínicas • Hipertensão gestacional ‐ Quando a mulher apresenta pela primeira vez na vida níveis pressóricos alterados após a metade da gestação, sem presença de proteinúria. ‐ Metade das pacientes podem evoluir para pré- eclâmpsia até o final da gestação. ‐ Possuem maior risco de desenvolverem hipertensão crônica futuramente. ‐ É classificada como hipertensão transitória quando a evidência de pré-eclâmpsia não se desenvolve, voltando a pressão ao normal em torno de 12 semanas após o parto. • Pré-eclâmpsia ‐ Conhecida também como síndrome específica da gestação. ‐ Costuma ocorrer na segunda metade da gestação, sendo mais frequentes no terceiro trimestre. ‐ Pacientes com doença trofoblástica podem apresentar pré-eclâmpsia antes da 20 semana, caracterizada por hipertensão e proteinúria, mas pode cursar com sintomas como trombocitopenia, cefaleia, dor epigástrica. ‐ A proteinúria é marcador do extravasamento endotelial sistêmico, representando risco materno-fetal. ‐ Fatores de risco: Alto risco Moderado risco História de PE em gestações anteriores Nulíparas Gestação gemelar Obesidade HAS HF de PE DM prévio Raça negra Doença renal crônica Idade > 35 anos - CIUR em gestações prévias ‐ Pode ser classificada em leve ou grave. ‐ Sintomas como cefaleia, distúrbios visuais como escotomas, podem ser sintomas de eminência de eclampsia, classificando a pré-eclâmpsia como grave. ‐ Dor epigástrica ou no quadrante superior direito está associada a necrose hepatocelular, isquemia e edema que estiram a cápsula de Glisson, aumentando os níveis de transaminases hepáticas. ‐ Trombocitopenia também indica pré-eclâmpsia em agravamento, assim como envolvimento renal ou cardíaco, bem como a CIUR. ‐ A ausência dessas complicações indica pré- eclâmpsia leve. Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo Página 3 de 4 • Eclâmpsia ‐ Quando a gestante com hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia apresenta acometimento neurológico, como convulsões. ‐ Algumas convulsões podem acontecer antes da proteinúria. ‐ É comumente precedida de sinais e sintomas de eclampsia iminente, com distúrbios do sistema nervoso central como cefaleia frontal/occipital, torpor, obnubilação e alterações do comportamento, visuais como escotomas, fosfenas, visão emaçada, e até mesmo amaurose. Gástricos como náuseas, vômitos e dor no hipocôndrio direito ou epigástrio. ‐ As convulsões podem aparecer antes, durante ou depois do trabalho de parto. • Hipertensão crônica (HC) ‐ Hipertensão presente na mulher antes da gravidez ou é diagnosticada antes de 20 semanas de gestação. • Hipertensão arterial crônica com pré- eclâmpsia superajuntada ‐ Mulheres que evoluem para pré-eclâmpsia e possuem HC. ‐ Fator de risco: mulher com história de pré- eclâmpsia em outras gestações ou mulheres com HC há mais de 4 anos. ‐ Tende a ser mais grave e frequentemente é acompanhada por CIUR. Diagnóstico clínico e laboratorial Clínica Anamnese Exame físico Exames laboratoriais Proteinúria Ácido úrico Ureia e creatinina Hemograma com contagem de plaquetas Pesquisa de alterações eritrocitárias (Esquizócitos) Bilirrubinas Enzimas hepáticas ‐ Plaquetopenia < 100.000 + elevação de enzimas hepáticas + DHL + hemólise = síndrome HELLP, que possui elevada mortalidade. ‐ O diagnóstico de pré-eclâmpsia se dá no aumento da PA + proteinúria. ‐ Diagnóstico de eclampsia: presença de 1 ou mais crises convulsivas tônico-clônicas generalizadas e/ou coma, na ausência de outras causas. Síndrome hellp ‐ Hemolysis, Elevated Liver enzymes, Low Platelets. ‐ É uma complicação grave que ocorre em 10- 20% das pacientes com pré-eclâmpsia/ HG graves ou eclampsia. ‐ Sintomas inespecíficos como náuseas, vômitos, mal-estar, cefaleia, perda de apetite, sintomas visuais e dor abdominal. ‐ Nos exames laboratoriais, plaquetas < 100.000, alterações eritrocitárias (esquizócitos), bilirrubina total > 1,2, DHL aumentado e aumento de transaminases hepáticas. ‐ Conduta imediata, estabilização do quadro, transferência para UTI, avaliação materno-fetal, controle hipertensivo, profilaxia para convulsões e avaliação da necessidade de parto imediato. Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo Página 4 de 4 Manejo da DHEG Objetivo: prevenção de formas graves da doença e tratar elevação da pressão arterial. • Prevenção ‐ Alimentos com baixo teor de sódio, cessação do tabagismo e bebidas alcoólicas, repouso físico em decúbito lateral esquerdo, pelo menos 8h de sono a noite, para as gestantes de alto risco, utilização de antiplaquetários e cálcio. • Terapia anti-hipertensiva ‐ Indicada quando PAS > 150 ou PAD > 100, em duas medidas ou quando não há melhora nos níveis tensionais à mudança de hábitos de vida/ ocupacional. ‐ Metildopa 500mg a 2g/dia. ‐ Pode-se utilizar também pindolo e nifepidina. • Terapia na crise hipertensiva aguda ‐ PAS > 160 ou PAD > 110. ‐ Internação, posicionada em decúbito lateral esquerdo com administração de terapia anti- hipertensiva.‐ Nifepidina VO 10mg a cada 30 min, caso necessário. ‐ Se não houver resposta: hidralazina 5ml IV. ‐ Verificação da pA materna a cada 5 min por 20 minutos após a medicação e realização da avaliação fetal com cardiotocografia. • Terapia na eclampsia ‐ Internação imediata, vigilância materna-fetal, terapia convulsiva e prevenção de novas crises. ‐ Manutenção da função cardiorrespiratória e da oxigenação materna, controle da PA e correção da hipoxemia e acidose materna. ‐ Magnesioterapia para prevenção de outras crises. ‐ Solicitação de exames complementares para avaliação dos sistemas que podem ser acometidos, gasometria arterial, exame de fundo de olho, eletrocardiograma, TC de crânio (caso o quadro convulsivo persista). • Profilaxia na PE grave e eclampsia 1. Esquema de Zuspan em bomba de infusão. 2. Esquema de Sibai em bomba de infusão. 3. Esquema de Pritchard em casos especiais. • Interrupção da gestação
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