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A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: binômio sujeito/ família e escola Eliane Maria Freitas Monken e Necy Maria Campos e Castro 1.1. Uma breve introdução Agora vamos aprender mais conteúdos nesta disciplina, pois ainda temos aspectos importantes para aprendermos quando se trata de discutir sobre sujeito, saberes e conhecimentos. José, entendemos que a educação acontece não só nos espaços escolares, e, sim, nos espaços não escolares. Aprendemos o que significa cuidar e educar na visão integrada, bem como a importância dos projetos para auxiliar na educação para todos. Estudamos na ótica de várias áreas e autores o significado de sujeito e as diversas tendências educacionais que vêm apoiando os profissionais da educação ao longo dos tempos. João! Você esqueceu de contar, que nós aprendemos todos os aspectos legais relacionados à educação, quando foi possível ler a discussão sobre os documentos oficiais. Estudamos a Constituição de 1988, O ECA (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e as Diretrizes Curriculares. Foi muito bom estudar e saber dos nossos direitos. João, nesta unidade, ainda vamos aprender, especificamente, sobre os sujeitos na escola, a estrutura familiar e sua importância na formação do sujeito, a integração família e escola e a função da escola na perspectiva da inclusão. José, então vamos nos preparar para mais um estudo de qualidade, pois aprender essa disciplina em um curso de pedagogia é tudo de bom! Já pensou, nós, pedagogos, saindo da Universidade com essa visão de sujeito, de inclusão e de escola para todos? Então, vamos lá! Discutiremos a seguir A Função Social da escola: binômio sujeito/ família e escola. Ei, João, como aprendemos nesta disciplina! 1.2. A estrutura familiar e sua implicação na vida escolar dos sujeitos Com muita atenção e abertos aos estudos vamos nos envolver nesse tópico super importante, pois precisamos saber sobre as novas estruturas familiares existentes em nossa sociedade para entendermos os diversos perfis de alunos que se encontram na escola hoje. Essa temática nos incita, tendo em vista que, como indivíduos, educadores e cidadãos, necessitamos entender como podemos conhecer as diversas famílias existentes e ajudá-las na educação de seus integrantes, visto que a escola precisa da parceria da família para que haja uma educação profícua e alunos mais felizes e saudáveis. Você sabe o que significa família? Vamos ler o conceito e prosseguir com a nossa discussão. Família pode ser considerada como um grupo social composto por dois ou mais integrantes, no qual cada membro tem um desempenho a cumprir a fim de que haja o bom funcionamento desse grupo. (MINUCHIN, 1990). Leia a seguir algumas curiosidades sobre a origem da família A palavra família é originada do latim fâmulos e significa escravo doméstico (servo). Este termo foi criado na Roma Antiga para classificar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas na agricultura e na escravidão legalizada. E, atualmente? A estrutura familiar existente hoje é resultante das inúmeras e múltiplas mudanças demográficas e geográficas que aconteceram na História da Humanidade, com adaptações específicas, visando principalmente à manutenção e sobrevivência. A família é definida como um grupo de pessoas de mesmo sangue, ou unidas, por casamento ou adoção. Neste contexto é também uma instituição constituída por uma série de pactos de afiliação, agregamento e aliança, aceitas pelos membros. (ZENIDARCI, [s.d], p.1)1 Nesse sentido, como você percebe a importância da família indiferente da concepção de cada época? E os tipos de família que se constituíram ao longo da história, de acordo com as demandas sociais e culturais? Você já pensou a esse respeito? Então, vamos lá.... 1 ZENIDARCI, Anderson. Psicologia familiar. Portal Ciência e vida. Disponível em <http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/53/imprime174115.asp> Acesso em 10.jun.2017. Fonte: Disponível em: < http://blog.grupofoco.com.br/foco talentos/wordpress/wp- content/uploads/2009/12/foto-de- familia.jpg>. Acesso em: 07/07/2017 http://blog.grupofoco.com.br/focotalentos/wordpress/wp-content/uploads/2009/12/foto-de-familia.jpg http://blog.grupofoco.com.br/focotalentos/wordpress/wp-content/uploads/2009/12/foto-de-familia.jpg http://blog.grupofoco.com.br/focotalentos/wordpress/wp-content/uploads/2009/12/foto-de-familia.jpg http://blog.grupofoco.com.br/focotalentos/wordpress/wp-content/uploads/2009/12/foto-de-familia.jpg Pelo comentário de Zenidarci2, você pode perceber que ele apresenta um modelo de família apenas como aquele grupo social advindo do modelo burguês, mesmo com algumas diferenças. Aquele conceito da sociedade que tem como família o papai, a mamãe e irmãos. E hoje? Como podemos identificar os tipos de famílias existentes? Existe nas escolas apenas o perfil de família abordado pelo autor? Para melhor compreensão do que se refere à estrutura familiar e sua implicação na vida escolar dos sujeitos, a seguir, serão apresentados a você os tipos de famílias estudados por alguns pesquisadores. 1.2.1. Família: em qual tipo de família você se inclui? Sem a mínima pretensão de esgotar esse assunto, que não é o nosso objeto principal deste estudo, vamos agora apenas apontar alguns tipos de famílias existentes, para que você possa entender os perfis das famílias na atualidade e passar a pensar nos perfis dos nossos discentes na escola. Para efeito de ilustração e sem muitas delongas, vamos ler o quadro 1, que traz alguns esclarecimentos estudados sobre os tipos de família. QUADRO 01: Tipos de Famílias Tipos de Famílias Família nuclear simples e tradicional Pai e a mãe estão presentes; todas as crianças são filhos desse mesmo pai e dessa mesma mãe. Não há mais qualquer adulto ou criança (que não sejam filhos) morando na mesma casa Família monoparental Grupo onde apenas a mãe (ou o pai) está presente, vivendo com seus filhos e também, eventualmente, com outros filhos menores de idade sob sua responsabilidade. Não há mais nenhuma pessoa maior de 18 anos, que não seja filho, morando na mesma casa. Família recasada Grupo em que o pai e/ou a mãe estão vivendo em nova união, legal ou consensualmente e podem ter seus filhos vivendo ou não juntos na mesma casa. 2 ZENIDARCI, Anderson. Psicologia familiar. Portal Ciência e vida. Disponível em <http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/53/imprime174115.asp> Acesso em 10.jun.2017. Família não convencional Grupo mais amplo que consiste na família nuclear (pai, mãe, filhos) mais os parentes diretos de ambos os lados, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos. Família de casal homossexual Adotam os filhos ou um deles faz inseminação artificial e arruma uma barriga de aluguel. Família de pais separados Família dissolvida, porém os ex- cônjuges ficam com a guarda compartilhada dos filhos. Família de filhos adotivos Por algum problema de infertilidade o casal adota filhos ou, além de terem seus filhos biológicos, optam por adoção também. Família uniparental Essa família é definida assim quando o ônus da criação do filho é de apenas do marido ou da mulher, seja por viuvez, maus tratos etc. Fonte: Disponível em: http://imagens.webboom.pt/recurso?&id=1046744. Acesso em: 07/07/2017 Convido você para a leitura dos diálogos a seguir... A escola fala que a família não quer educar os filhos e por outro lado a família não entende o que deve ser feito com as crianças. De que forma a escola pode ajudar? Após a leitura, você perceberá o quanto os professores comentam sobre a educação de seus alunos. É notório, também, que a Constituição de 1988,Gente! Como a estrutura familiar mudou ao longo dos tempos! Como existem vários tipos de famílias! E, para incluí-las no processo educacional, temos que entendê- las e compreender em qual tipo de família cada aluno está inserido, para que possamos trabalhar voltados para suas necessidades socioculturais. É Matilde, temos agora que investigar de que forma podemos trabalhar com essas famílias. No meu entender, elas já estão dentro da escola. É importante destacar que precisamos incluí-las de fato e de direito, não é mesmo? Amigos, estamos numa fase em que a inclusão já existe. Agora precisamos de fato trabalhar para a qualidade dessa inclusão e, para isso, precisamos entender em que contexto essas famílias vivem e de que forma elas entendem a função da escola e vice-versa. http://imagens.webboom.pt/recurso?&id=1046744 além da Lei de Diretrizes e Bases (1996), aponta diretrizes que devem ser pensadas. Após a leitura dos comentários, vamos ler o que os documentos oficiais revelam sobre esse assunto. Em um dia normal de escola, entram os professores para uma reunião e começam a conversar sobre as crianças e seus pais. Naquele mesmo dia, pai de Zé vai ao posto de saúde e conversa com a médica sobre sua angústia. Leia os comentários a seguir. Professora, quero fazer um desabafo antes de iniciarmos a reunião. Já não aguento mais a família do Zé, pois já mandei vários bilhetes, falo para seus pais que eles estão errados em tudo na educação de seus filhos e não muda nada. O menino está cada vez pior. Comigo é a mesma coisa. Ai que saudade das famílias de antigamente. Mãe cuidando dos filhos em casa, pai trabalhando fora. Nossa, tudo era diferente! Bom dia, Doutora. Estou aqui para a Senhora me ajudar. Meu Filho Zé não está bem na escola, nos estudos, pois não faz os deveres de casa e não obedece aos professores. Quando chego a nossa casa e leio as ocorrências, pego logo o chinelo e daí a Senhora já sabe. Já até deixei marcas no menino, mas não tem jeito. Mas bater na criança não adianta e nem é adequado. Porque não conversa com ele? Fonte da imagem: Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/_6l0elbMtwMU/SoZ5ctZjzAI/AAAAAAAAAiM/awZarkrzvMA/s320/1%2520RE~1.JPG. Acesso em: 19/07/2017 http://2.bp.blogspot.com/_6l0elbMtwMU/SoZ5ctZjzAI/AAAAAAAAAiM/awZarkrzvMA/s320/1%2520RE~1.JPG Naquele mesmo dia, o pai procurou a escola e os comentários foram os mesmos, ou seja, seu filho está mal, não quer estudar e já desistimos dele. Sabemos que nem toda realidade é assim como a de José, visto que a escola e a família buscam um diálogo mais próximo procurando aliar-se para buscar entendimento e uma solução. Essa prática que contraria a realidade de José é a coerente e legítima, tendo em vista que a Constituição Federal (1988), em seu artigo 227, afirma que: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta aprendizagem, o direito à educação, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e expressão. (BRASIL, 1988). Além desse artigo que vem apontar de que forma devemos educar e cuidar dos sujeitos na contemporaneidade tem-se na LDB, em seu artigo 29 a seguinte premissa: Doutora, tenho que sair de casa às 6 horas e só chego à noite. Não sei ler e não consigo ensinar ele nada. Então, converse com ele, peça-o ajuda e depois vá à escola e explique sua situação. Vou seguir o seu conselho... Vou à escola pedir ajuda. Boa sorte! Tenho certeza de que tudo vai dar certo. Fonte da imagem: Disponível em: <http://galeria.colorir.com/images/painted/58336c66773fc97b24d5c2e6cefbba72.png>. Acesso em: 19/07/2017 http://galeria.colorir.com/images/painted/58336c66773fc97b24d5c2e6cefbba72.png A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e das instituições de educação infantil. (BRASIL, 1996). Apesar de termos estudado esses artigos na segunda unidade desta disciplina, precisamos reforçar tais afirmativas, pois torna-se imperativa essa reflexão acerca da família e da escola. Entretanto, ainda temos muitas escolas e famílias que se apoiam em modelos tradicionais de educação e tentam educar o sujeito de uma forma que não cabe mais nos dias de hoje, ou seja, uma educação voltada para a obediência e não para a construção de pontos de vistas na busca de uma conscientização e da cidadania. Além disso, é importante frisarmos que temos muitas ações nas escolas voltadas para o exemplo fictício de José, mas que acontece de forma violada, camuflada, ou seja, de uma forma simbólica, em silêncio e através de outras linguagens fazemos o sujeito entender que ele não é capaz, abordagem essa tão discutida pelo sociólogo Bourdier (1998), já mencionado por nós neste estudo. Agora, vamos relacionar essa discussão com esta disciplina. Você se lembra das unidades anteriores quando discutimos várias questões voltadas para o sujeito protagonista de sua própria história, desejos e necessidades? Também, na unidade anterior, estudamos as tendências educacionais que apoiaram as práticas das escolas ao longo dos tempos. E com a família? Como você percebe essas tendências? Mudou alguma coisa? Claro que sim, mas essas tendências também fizeram parte da educação familiar. Nesse sentido, cabem alguns questionamentos: • Como ajudar a mãe de José e seus professores para que eles possam se entender e auxiliar na formação desse menino? • De que forma a escola deve perceber essa família: igual à família burguesa de antigamente, como disse a professora na conversa com o professor? • De que maneira vamos incluir a família na educação escolar de seus filhos: incluindo- os para um trabalho de qualidade com seus filhos ou rotulando-os e fazendo julgamentos para que eles fujam da escola? • De que forma podemos inserir o sujeito na escola se a família está fora dela? • Como está a família na atualidade? A fala da mãe de José o fez lembrar alguma situação familiar de seus alunos? Acredito que sim. Todos nós sabemos que a família passou por muitas modificações ao longo dos tempos e que atualmente deve ser percebida de várias formas conforme estudamos acima. Nessa perspectiva, cabe lembrar que, além de termos hoje vários tipos de estruturas familiares presentes dentro da escola, essas famílias, assim como as nossas, passaram por muitas transformações advindas das mudanças sociais. A maioria das mulheres buscou sua autonomia profissional e financeira, passando a trabalhar fora; outras aumentando a jornada de trabalho, ou saíram em busca de trabalho para sobreviverem e aumentar a renda familiar, além de outros fatores que influenciam exacerbadamente os meios familiares. Com isso, podemos apontar que todas as manifestações familiares obviamente influenciam a vida das crianças. Sendo assim, precisamos buscar formas de entender cada família e criar estratégias para que possamos ajudá-las e, consequentemente, incluir os nossos sujeitos alunos, familiares e cidadãos no espaço escolar. Castro (2002, p. 12) nos aponta a importância da escola e da família na vida dos sujeitos: A família e a escola, como instituições sociais nas quais o indivíduo permanece sob suas ações durante um bom tempo de sua existência, exercem um poder de inculcação de princípios sociais na formação desse indivíduo. A família é considerada não só instância de reprodução de valores, de condutas e normas sociais que regem a convivência entre as pessoas,como também instância de reprodução de representações e de formas de ver e de viver a vida. Para Bourdieu (2001 apud Castro, 2002, p.83), “a família, enquanto instituição social tem um papel determinante na manutenção da ordem social, na reprodução, não apenas biológica, mas social, isto é, na reprodução da estrutura do espaço social e das relações sociais”. Nessa vertente, podemos concluir que a família é uma instituição essencial no processo educativo do sujeito, pois é na família que a criança inicia sua educação, a construção de sua identidade e recebe as primeiras influências de sua cultura. Diante disso, vamos discutir de que forma podemos ajudar essas famílias já que elas influenciam diretamente na formação da criança desde o seu nascimento e ao longo de sua vida. Para isso, será abordado a seguir o binômio família/escola como estratégia pedagógica para que a qualidade da inclusão dessas crianças na escola aconteça de forma integrada junto à família. 1.2.2. O binômio família/escola Ao estudarmos nesta disciplina que o cuidar e o educar devem ser trabalhados de forma indissociável, podemos fazer, nesse sentido, uma analogia entre a família e a escola. Entendemos que o cuidar está para o educar, assim como a escola está para a família e vice- versa. Nessa perspectiva, não existe escola inclusiva se não tiver complementando os cuidados e a educação da família de acordo com suas demandas. Somente podemos pensar no sujeito de direitos quando ele estiver associado as suas crenças, valores, interesses, bem como a suas famílias. Assim, cabe a escola entender diversos aspectos relacionados com essa indissociabilidade para que possamos aproximar cada vez mais as diversas famílias das instituições escolares. Em um estudo relevante sobre a construção da proposta pedagógica, a equipe de profissionais destacou a importância dessa relação entre família e escola, a saber: Quando as crianças chegam à escola, elas já trazem uma história de vida construída com a família e com a comunidade na qual estão inseridas. Nesse sentido, fica claro que a responsabilidade pela formação dos sujeitos em sua integralidade, para que eles sejam cidadãos, participativos, atuantes e conscientes de seus deveres e direitos, é de todos os envolvidos no processo educativo, ou seja, a família, indiferente da estrutura na qual se encontra, da comunidade, do Estado e das escolas. (CADERNO DE EDUCAÇÃO INFANTIL, 2007). Documentos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), dentre outros, afirmam que toda proposta pedagógica de qualquer instituição educacional deve ser construída em parceria com a comunidade e com a família. Nessa ótica, entendemos que essa participação muito favorecerá para a inclusão dessas famílias na escola, desde a construção de sua proposta até a avaliação de sua aplicação ao longo do processo. Vale salientar que, para que essa participação ocorra e para que haja o binômio família/escola, é imprescindível pensar em alguns aspectos, tais como: Considerar as diversas estruturas e formas de organização familiar; Organizar momentos de trocas de experiências e discussões para que as famílias compartilhem seus pontos de vistas, expectativas, desejos, dificuldades e críticas relacionadas à escola; Promover a participação da família na rotina escolar, não apenas em festas e reuniões pontuais, fazendo com que ela seja ouvida e que participe também da tomada de decisões; Respeitar a diversidade cultural, étnico-racial, religiosa e sexual das famílias; Considerar todo o processo de formação da criança e de sua família desde a sua entrada na escola até sua saída. Incentivar o entendimento dos direitos da criança e do adolescente assegurando-lhes estratégias para o alcance desses direitos. Fazer com que a família participe do planejamento, da execução, do acompanhamento e da avaliação de todo processo educativo na instituição. Enfim, acreditamos que essas finalidades contribuirão cada vez mais com o binômio família/escola, assegurando aos sujeitos uma educação de qualidade e inclusiva. Nessa perspectiva, as escolas nas quais José passou jamais terão lugar nessa sociedade, que busca cada vez mais a participação efetiva dos sujeitos nela inseridos. Nesse aspecto, como fica a função social da escola para todos? Vamos a seguir discutir a função social da escola atual. 1.3. A função social da escola na contemporaneidade Querido aluno, você pode perceber que ao longo dessa unidade tentamos lhe mostrar a articulação dos diversos aspectos relacionados com os sujeitos, seus saberes e seus conhecimentos, nas diversas abordagens e contextos. A partir dessa ótica, esse tópico tem como objetivo maior enlaçarmos todas as unidades estudadas em um único viés, que é a função social da escola na contemporaneidade, pois entendemos que: O espaço escolar é cenário de manifestações culturais e sociais diversas, pois ali se reúnem, diariamente, indivíduos plurais do ponto de vista sociocultural e escolar. Esses indivíduos, como portadores de uma cultura, vivenciam em seu cotidiano experiências diversas junto aos seus familiares, amigos e outros agentes sociais. Deparam também com uma estrutura escolar sólida, possuidora de normas, regras, princípios e valores a serem apreendidos ao longo de toda a trajetória escolar (CASTRO, 2002, p.126). Entender os sujeitos, seus saberes e seus conhecimentos passa pelo entendimento do papel da escola em sua vida e sua implicação para sua formação. 1.3.1. Afinal, para que serve a escola? Sabemos que formar o cidadão não é tarefa da escola. No entanto, como local privilegiado de trabalho com o conhecimento, a escola tem grande responsabilidade nessa formação, pois recebe crianças e jovens por certo número de horas, todos os dias, durante anos de suas vidas, possibilitando-lhes construir saberes indispensáveis para sua Inserção social. Além disso, o papel da escola é fundamentalmente o de ensinar, mas ensinar o quê? Vamos ler as posições de alguns autores que se apoiam nas vertentes construtivistas e sociointeracionista sobre esse aspecto: Moretto (2008) sinaliza que a educação deve ser pautada no ensino para as competências. Para ele, a finalidade das propostas educativas é “a de desenvolver a capacidade do sujeito para abordar situações complexas” (MORETTO, 2008, p.86). Segundo esse autor, o paradigma atual se pauta no ensino de conteúdos, sendo que este deve ser pensado na tríade: fato/conceito, procedimento e atitude, assim como sinaliza Zabala (1999). Ainda, salienta que esses conteúdos devem ser desenvolvidos concomitantemente a partir de instrumentos metodológicos em que o professor possa buscar recursos necessários para possibilitar a aprendizagem. Na perspectiva de Zabala (1999, p.35), a discussão sobre conteúdos se faz da seguinte maneira: O termo “conteúdos” normalmente foi utilizado para expressar aquilo que deve se aprender, mas em relação quase que exclusiva aos conhecimentos das matérias ou disciplinas clássicas e, habitualmente, para aludir àqueles que se expressam no conhecimento de nomes, conceitos, princípios, enunciados e teoremas. Assim, pois, se diz que uma matéria está muito carregada de conteúdos ou que um livro não tem muitos conteúdos, fazendo alusão a este tipo de conhecimentos. Este sentido, estritamente disciplinar e de caráter cognitivo, geralmente também tem sido utilizado na avaliação do papel que os conteúdos devem ter no ensino, de forma que nas concepções que entendem a educação como formação integral se tem criticado o uso dos conteúdos como uma única forma de definir as intenções educacionais. Devemos nos desprender desta leitura restrita do termo “conteúdo” e entende-lo como tudo quanto se tem que aprender para alcançar determinados objetivos que não apenas abrangem as capacidades cognitivas como tambémincluem as demais capacidades. Deste modo, os conteúdos de aprendizagem não se reduzem unicamente as contribuições das disciplinas a matérias tradicionais. Portanto, também serão conteúdos de aprendizagem todos aqueles que possibilitem o desenvolvimento das capacidades motoras, afetivas, de relação interpessoal e de inserção social. Nessa perspectiva, podemos entender que a função da escola na contemporaneidade é a de ensinar de forma globalizada, ou seja, ensinar para a vida, a fim de formar valores e atitudes éticas, bem como ensinar conteúdos, sim, de forma contextualizada, entendendo que ela, a escola, tem que promover o ensino e fazer com que o aluno aprenda e que ele saiba aplicá- lo em sua vida diária. Para isso, a escola deve ter a clareza de sua função, que homem que se quer formar, e como vai ensinar, tendo em vista que esses quesitos são fundamentais para que ela realize uma prática pedagógica competente e socialmente comprometida, particularmente num país de contrastes como o nosso, onde convivemos com grandes desigualdades econômicas, sociais e culturais. Cabe salientar que o papel da escola é proporcionar ao cidadão inserido na escola, bem como sua família e comunidade, uma formação competente e reflexiva, capaz de construir e socializar novos conhecimentos, buscando uma educação de qualidade. E ainda continuar na formação desses cidadãos de forma que eles se tornem cada vez mais pensantes, éticos e competentes, possibilitando-lhes uma construção de saberes indispensáveis para sua inserção na sociedade. (ARROYO, 2001; CORTELA, 2000; FREIRE, 1997). Há um papel social, quando existe uma realização de práticas pedagógicas competentes e socialmente comprometidas para uma melhor formação e realização desse indivíduo. Nesse caso, quando pensarmos nessas premissas em relação à função da escola, é necessário investir na formação do professor, para que este saiba sua função na instituição, pois somente fará diferença aquele docente que entender o papel da escola inclusiva e cidadã; aquele Ser crítico, conhecedor, ativo, pesquisador e reflexivo em relação ao papel social da escola. Nesse contexto, o professor estará aberto para conhecer as políticas públicas para a educação; participará, juntamente com os alunos, com a comunidade e a com família, da construção da proposta pedagógica da escola, bem como executá-la, acompanhar as mudanças e os desafios, avaliá-la continuamente. Ao partir dessa premissa, entendemos que a escola atingirá sua função social: ensinar em todos os aspectos e contextos. Para concluir nossa discussão aqui apresentada, a escola assumirá sua função quando: ➢ Ensinar conteúdos e habilidades necessárias levando o aluno a ser participativo na sociedade; ➢ Não se restringir suas ações ao aspecto pedagógico, mas quando somar a elas às questões sociopolíticas; ➢ A escola deve levar o aluno a compreender a sua própria realidade, situar-se nela, interpretá-la, e contribuir para sua transformação; ➢ A escola é fundamental para a formação da cidadania. Por isso, nenhuma criança pode ficar excluída da escola; ➢ Todas as crianças têm o direito a uma sólida formação escolar. Todas têm direito de sonhar e seguir seus sonhos, realizando seus projetos individuais e coletivos. (CORTELA, 2000; ARROYO, 2001, MONKEN, 2001;GADOTTI, 1999). Enfim, ao longo de nossos estudos e discussões sobre os aspectos relacionados com a temática em estudo, destacamos uma educação voltada para as concepções construtivista e sociointeracionista. Pontuamos diferentes tendências ideológicas, enfatizamos o trabalho pautado na diversidade, bem como nas diferentes formas de ensinar e de avaliar nesse contexto. Podemos, então, afirmar que a inclusão esteve sempre presente nas entrelinhas ou de forma declarada em cada discurso apresentado nas unidades trabalhadas. 1.3.2. Uma sucinta discussão sobre função da escola: espaço de inclusão Neste tópico, faremos uma breve reflexão de um dos papéis da escola - que é incluir. Entendemos que focamos, ao longo de nossos estudos, o aluno como sujeito de direitos e deveres, independente de credo, raça, cultura, situação econômica, ritmo e, acima de tudo, o situamos como o protagonista do processo ensino-aprendizagem. Então, você percebeu que os aspectos relacionados com a inclusão estiveram sempre presentes? Por quê? Sabemos que a inclusão é foco de investigações e grandes avanços já ocorreram em relação a ela, principalmente na metade do Séc XX até a atualidade. Podemos citar, como referências, vários documentos que são importantes para sua legitimação. Dentre eles, a Declaração dos Direitos Humanos, a Conferência realizada em Salamanca, que teve como consequência a Declaração de Salamanca, a Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n.9394 (BRASIL, 1996), e dos inúmeros movimentos sociais que ocorreram em prol das lutas a favor da inclusão. Conforme Lima (2005), foi possível verificar sua congruência com o que já apresentamos nesse estudo, quando ela afirma que é imprescindível que nós, educadores, sejamos co- participantes no processo de inclusão. Ainda reforça “que essa ação requer de nós uma atuação baseada em princípios igualitários e a consciência de que a inclusão dos alunos com necessidades especiais é um direito fundamental” (p.11). Estudos realizados por Torezani e Ortega (2007) apontam para uma discussão pertinente a anterior, quando eles confirmam que a inclusão deverá ter a participação de todos, a seguir: Ao observar o cenário nacional, percebe-se que os municípios, de forma crescente, vêm contribuindo significativamente para a construção de um conjunto de políticas sociais e econômicas visando reverter um quadro de desigualdades e exclusão social. Sendo assim, para formular, propor e implementar uma política de atendimento eficaz, faz-se necessário a articulação da sociedade civil e das organizações de representação, uma vez que o poder executivo e seus servidores, são incapazes de implementar serviços que visam de forma integral a garantia e a efetivação dos direitos de cidadania das pessoas com deficiência. (TOREZANI; ORTEGA, 2007, p. 03). Ao focarmos nessa linha de pensamento, podemos entender que somos nós, cidadãos, em conjunto que conseguiremos políticas públicas capazes de assegurar ainda mais a qualidade desse atendimento, além de buscarmos na formação em serviço condições de garantir a qualidade dessa inclusão e, com isso, garantir que a função da escola seja efetivada de forma qualitativa e adequada. Então, só conseguiremos desenvolver na prática o que se discutiu ao longo deste texto, se nós, como educadores, nos conscientizarmos do papel de agente de transformação social, de líderes capazes de ensinar a todos, respeitando etnias, credos, crenças, valores e, acima de tudo, o que o sujeito já sabe, propiciando-lhes avanços ao longo do seu processo dentro do espaço escolar. Sucesso!! REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel. Imagens Quebradas. Revista Criança do professor de Educação Infantil. Brasília, MEC, n.41 p.3-7, Nov.2006. ARROYO, M. As Bases da Educação e Saúde. Revista da Fiocruz. Disponível em< http://www.gices-sc.org/Arroyo.html> Acesso em 20.abr.2010. BRANDÃO. Carlos R. O que é educação, 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. BOFF, L. SABER CUIDAR: ética do humano compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999. BOFF, Leonardo. Depois de 500 anos: que Brasil queremos? Petrópolis, RJ: Vozes,2000. São Paulo: Vozes, 2000. BOURDIEU, Pierre. Classificação, desclassificação, reclassificação. 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