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Antibacterianos Beta-lactâmicos É uma classe ampla, subdividida em penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos e carbapenêmicos, caracterizada por uma estrutura química contendo o anel beta-lactâmico, um análogo da d-alanina, que faz com que essa classe tenha um mecanismo de ação semelhante. Mecanismo de ação Apresentam efeito bactericida por atuar inibindo a biossíntese da parede celular bacteriana, especificamente ao alterar a síntese do peptídeoglicano (polímeros de açúcar). Após a formação das moléculas de açúcar e polimerização para a formação do peptídeoglicano, haverá a formação de uma ligação cruzada que confere resistência à parede celular bacteriana. Para que a ligação cruzada ocorra, há o rompimento da ligação entre duas b-alaninas, para que a glicina terminal se ligue à b-alanina, unindo dois ácidos acetimurâmicos. Para que isso ocorra, a enzima transpeptidase (PLP) se liga à b-alanina terminal, formando um complexo que irá se romper para que ocorra a ligação cruzada. A ligação cruzada será o alvo dos beta- lactâmicos, que por atuarem como análogos da d-alanina, ‘atrairão’ a enzima PLP, impedindo à ligação cruzada e provocando morte celular. Para que seu efeito ocorra, as bactérias devem estar em crescimento. O antibacteriano deve entrar na célula, pois a transpeptidase está localizado no espaço periplasmático da bactéria, situado entre a parede celular e a parede externa da bactéria. A membrana externa da bactéria gram-negativa é uma barreira muito importante para a entrada do antibacteriano, pois a camada de peptídeoglicanos é mais espessa. Fármacos hidrofílicos apresentam maior acesso à transpeptidase, pois eles passam pelas porinas, canais de água presentes na membrana externa. Mecanismos de resistência As bactérias desenvolveram mecanismos de resistência contra os beta-lactâmicos, seja por alteração das TP, provocando uma ineficiência na ligação da TP com o fármaco (síntese de enzimas com menor afinidade ao fármaco), ou pela síntese de enzimas denominadas beta-lactamase, responsável por clivar o anel beta-lactâmico, acarretando perda a eficácia do fármaco. Penicilinas As penicilinas são fármacos que atuam inibindo a síntese da parede celular bacteriana. Elas interferem na última etapa da síntese da parede bacteriana (a transpeptidação/ligação cruzada), sendo que dois fatores estão relacionados à eficácia dessa classe: o acesso do fármaco às transpeptidases e a ligação do fármaco à essa enzima, inibindo-a. A membrana celular exposta é osmoticamente menos estável, deixando a bactéria mais sensível à lise celular. As penicilinas são, portanto, fármacos antibactericidas, eficazes apenas contra microrganismos em crescimento rápido que sintetizam parede celular de peptídeoglicano. São divididas em três grupos: 1. Penicilinas propriamente ditas Penicilina V é um fármaco mais resistente ao ácido do estômago, podendo ser utilizada pela via oral. A penicilina G, ou Benzilpenicilina, deve ser administrada pela via parenteral é o tratamento básico de infecções causadas por inúmeros cocos gram-positivos e gram- negativos, bacilos gram-positivos e espiroquetas. Ela é suscetível à inativação pelas beta-lactamases. A principal atividade delas é contra bactérias gram-positivas, pois são fármacos hidrofóbicos. No entanto, podem atuar contra algumas espécies de Neisseria, que são cocos gram negativos. 2. Penicilinas antiestafilocócicas Exemplos: meticilina e nafcilina Produzidas para tentar reverter os mecanismos de resistência das bactérias, inicialmente os Staphylococcus aureus, pela produção de b-lactamases. São muito semelhantes às penicilinas iniciais, mas apresentam resistência à beta-lactamase produzida pelas bactérias. Após a introdução desses fármacos, as bactérias passaram a alterar a enzima TP, que teria menos afinidade à penicilicina, originando o Staphylococcus aureus resistente á meticilina (MRSA). 3. Penicilinas de espectro ampliado Agem tanto quanto gram-positivos quanto gram-negativos Aminopenicilinas, como ampicilina e amoxicilina, apresentam grupos aminos, que são positivos, o que os torna mais hidrofílicos e mais capazes de se difundir pelos canais de porina. No entanto, são sensíveis as beta-lactamases. As carboxipelicinas, como carbenicilina e ticarcilina, apresentam carga negativa e resistência a algumas lactamases. Piperacilina apresenta tanto cargas positivas quanto negativas, aumentando sua difusão em bactérias gram- negativas. A amoxicilina é quase completamente absorvida quando administrada por VO. Em razão de as penicilinas serem sensíveis às beta- lactamases, os laboratórios passaram a combiná-las a fármacos inibidores da beta-lactamase, como ampicilina+sulbactam, amoxicilina+clavulanato, ticarcilina+clavulanato, piperacilina+tazobactam, ampliando o espectro de ação dos fármacos. Reações adversas As mais comuns são reações de hipersensibilidade, relacionadas ao ácido penicilóico e produtos da hidrólise alcalina, sendo a anafilaxia a mais grave. Pode haver alteração da flora do TGI, podendo causar náuseas, vômitos e diarreia, sendo o ultimo associado a um possível risco de desenvolvimento de enterocolite pseudomembranosa. Cefalosporinas São classificadas em gerações, sendo que as alterações entre uma geração e a outra se relacionam ao espectro de ação. 1ª geração: mais ativos contra bactérias gram negativas. Não são tão eficazes no tratamento de meningite por pouca penetração na barreira hematoencefálica 2ª geração: atividade um pouco melhor contra gram- negativos e menor contra gram-positivos. 3ª geração: são mais eficazes contra gram-negativos e algumas beta-lactamases. A ceftriaxona tem uma boa penetração no SNC e age contra as principais bactérias envolvidas na meningite 4ª geração: espectro ampliado para grams positivo e negativo e tem maior seletividade a enterobactérias. Monobactâmico São fármacos que interferem na síntese da parede celular bacteriana, sendo o aztreonam o único disponível. Ele apresenta atividade contra bactérias gram-negativas, principalmente contra enterobactérias. É administrado por via IV ou IM e pode se acumular em pacientes com insuficiência renal. Pode causar flebite, erupções cutâneas e alterações nos testes de função hepática. É uma alternativa segura em pacientes alérgicos a penicilinas e cefalosporinas. Carbapenêmicos São antibióticos b-lactâmicos sintéticos, cujos exemplos incluem imipeném, meropeném e ertapeném. São fármacos com amplo espectro de ação, mas ineficazes contra MRSA. O imipeném é associado à cilastatin para evitar sua degradação por uma enzima renal (desidropeptidase renal), que forma um metabólito inativo que é potencialmente nefrotóxico. Imipeném e meropeném são administrados por via IV e penetram bem os tecidos e líquidos corporais, incluindo o líquido cerebroespinal quando há inflamação de meninges. Ambos são excretados por filtração glomerular. O ertapeném pode ser administrado pelas vias IM ou IV, em dose única diária. Glicopeptídeos A vancomicina, um exemplo dessa classe, atua na biossíntese dos peptídeoglicanos formadores da parede celular, assemelhando-se aos beta-lactâmicos, no entanto seu alvo é a etapa de polimerização dos peptideoglicanos, cuja enzima envolvida é a transglicosilase. A vancomicina também reconhece e se liga às alaninas terminais, inibindo a reação catalisada pela transglicosilase. Seu mecanismo de ação consiste na inibição da adição do pentapeptídeo dissacarídeo à extremidade em crescimento do peptídeoglicano, inibindo, portanto, a síntese da parede celular. É um fármaco de grande tamanho molecular, o que o torna incapaz de penetrar a membrana externa de bactérias gram- negativas. Mecanismos de resistência São extremamente importantes levando em consideração bactérias gram-positivas e enterococcus, que são capazesde transmitir esses mecanismos. As bactérias podem modificar uma das d-alaninas terminais, substituindo-a por outro aminoácido. Para a síntese do peptídeoglicano essa alteração é indiferente, mas reduz a afinidade da vancomicina, por impedir que o fármaco se ligue às alaninas terminais. Nos fenótipos VanA e VanB a d-alanina é substituída por d-lactato (apresentam mutações diferentes que levam à mesma alteração), no VanC a substituição é por uma serina. Os Sthaphylococcus aureus podem ser resistentes à vancomicina por adquirir esse mecanismo por enterococcus resistentes à vancomicina (ERV). Farmacocinética Apresenta baixa absorção via oral, atuando localmente no TGI, podendo ser utilizada em infecções locais, como as causadas pelo Clostridium difficile. Na via parenteral, a administração ocorre por infusão intravenosa. Não apresenta boa distribuição no liquido cefalorraquidiano, não havendo garantias de que haverá uma boa concentração do fármaco em tratamentos de meningite. Sua eliminiação ocorre via filtração glomerular, tornando necessário o ajuste da dose em pacientes com insuficiência renal. É utilizada em sepse e endocardite por MRSA. Dentre as reações adversas, destacam-se flebite, hipotensão, síndrome do homem vermelho (alta velocidade de infusão), ototoxicidade, urticária e eritema. Essas reações geralmente estão relacionadas à velocidade de infusão do fármaco. Tetraciclinas Antibacterianos antigos que atuam na síntese proteica das proteínas. Apresentam um núcleo com 4 aneis fundidos, sendo que as substituições desses anéis originam as diferentes gerações de tetraciclina, sendo que eles passam a ter uma maior potência antimicrobiana. Mecanismo de ação Se ligam à unidade 30S do ribossomo, no local A (de aceptor), que irá ‘aceitar’ o RNAt carreando o aminoácido, fazendo com que o RNAt seja incapaz de se unir ao ribossomo, interrompendo a síntese proteica. Atravessam a membrana da bactéria por transporte ativo, acumulando-se no citoplasma bacteriano, o que explica a seletividade dessa classe de antibacterianos por bactérias. A tigeciclina, uma tetraciclina de 3ª geração, apresenta uma maior afinidade de ligação pelo ribossomo e uma maior atividade inibitória contra bactérias (tanto gram+ quanto gram-), portanto há uma menor MIC e maior atividade antimicrobiana. Mecanismos de resistência Existem quatro tipos de mecanismos de resistência contra as tetraciclinas. As bombas de efluxo são responsáveis por retirar os antibacterianos que estão no interior da bacteriano. Além disso, algumas proteínas se tornaram uma forma de proteção ribossomal, impedindo a ligação do fármaco. Outra forma de resistência é a síntese de enzimas que modificam e degradam as tetraciclinas. Por fim, mutações da subunidade 30S reduzem a afinidade das tetraciclinas pelo seu local de ação. Características farmacocinéticas Quelação (interação) com cátions divalentes e trivalentes, como alumínio, cálcio e ferro, presentes em leite e derivados, antiácidos e suplementos de ferro e zinco. Por isso, quando administrada por via oral e entra em contato com esses cátions, há uma redução da absorção do fármaco, pela formação de complexos não-absorvíveis. Além disso, as tetraciclinas são capazes de se depositar em ossos e dentes em crescimento, sendo contraindicadas para crianças e gestantes. Usos clínicos e efeitos adversos A doxiciclina é eficaz no tratamento de clamídia (C. trachomatis), sendo primeira escolha no tratamento de linfogranuloma venéreo. Ela também é utilizada no tratamento empírico de pneumonia adquirida na comunidade. As tetraciclinas, de um modo geral, são eficazes em infecções provocadas por Riquetsias, na leptospirose e na Doença de Lyme. Também são utilizadas em esquemas de associação para tratamento de H. pylori. Apresenta também excelente atividade contra estafilococos, inclusive MRSA. A doxiciclina pode ser utilizada em infecções respiratórias em razão de seu espectro contra H. influenza, S. pneumoniae, C. pneumoniae e M. pneumoniae. A tigeciclina pode ser utilizada em infecções cutâneas e de tecidos moles, como na infecção por S. aureus resistente à meticilina. Doses baixas de doxiciclina também podem ser usadas no tratamento de acne. Nos efeitos adversos das tetraciclinas, destacam-se distúrbios do TGI, colite pseudomembranosa, descoloração e displasia do esmalte dentário, fotossensibilidade e hepatotoxicidade. Macrolídeos Classe de fármacos que inibe a síntese proteica bacteriana, que inclui exemplos como eritromicina, espiramicina, roxitromicina e diritromicina, claritromicina e azitromicina. Mecanismo de ação Se ligam a subunidade 50S ribossomal, inibindo o deslocamento da cadeia polipeptícia em crescimento do local A para o local P (a cadeia polipeptídica deve se deslocar para o local P após a adição do aminoácido para que o local A fique disponível para a adição de um novo aminoácido). Farmacocinética A eritromicina é inativada pelo suco gástrico e deve ser administrada em comprimidos com revestimento entérico. Além disso, alimentos podem retardar sua absorção. Alguns ésteres de eritromicina, como o estr**, são mais resistentes ao ácido estomacal e apresentam menor interação com alimentos. A eritromicina apresenta baixa distribuição para o SNC, distribuição para o leite e é capaz de atravessar a placenta. Apresenta uma meia-vida relativamente curta, de 1,6h. A azitromicina tem uma rápida absorção VO. Sua meia-vida é longa, de cerca de 3 dias, possuindo uma penetração intracelular, ampla distribuição para os tecidos e lenta eliminação, permitindo que sua posologia seja de dose única diária. A claritromicina tem uma rápida absorção quando administrada por via oral e meia-vida de 4 a 6h. Pacientes com depuração de creatinina < 30 mL/min devem tomar uma dose reduzida. Usos clínicos e efeitos adversos A eritromicina pode ser usada em casos de difteria e de coqueluche. Além disso, pode ser utilizada contra inflamação de amígdalas, laringe e nariz, infecção respiratória com tosse paroxística (tosse súbita incontrolável, rápida e curta). A aritromicina pode ser usada em casos de legionelose e infecções genitais. A claritromicina pode participar de esquemas para erradicar H. pylori. A eritromicina pode provocar distúrbios do TGI, por atuar como um pró-cinético ao atuar em receptores de motilidade, tornando comum náuseas, vômitos, diarreia e anorexia. Esses efeitos são menos comuns com claritromicina e azitromicina. Eritromicina e claritromicina inibem a CYP3A4, apresentando interferências medicamentosas. Clindamicina Da mesma forma que os macrolídeos, essa classe se liga na subunidade ribossomal 50S, promovendo a inibição da síntese de proteínas por inibir a formação das ligações peptídicas. As resistências bacterianas também são semelhantes a que ocorrem com os marolídeos, por uma mutação no local de ligação ou por uma modificação do local por ação de metilases e inativação enzimáticas. São usadas em infecções graves causadas por cocos gram- positivos e por bactérias anaeróbias, além de ser usada em casos de osteomielite estafilocócica crônica, por apresentar boa distribuição óssea. Não é utilizada em infecções no SNC por possuir baixa penetração. A diarreia é um dos principais efeitos adversos, mas pode ocorrer síndrome de Stevens-Johnson (eritema), erupções cutâneas, reações anafiláticas, granulocitopenia, trombocitopenia e esofagite (a ingestão de água pode evitar a retenção na mucosa esofágica). Sulfonamidas São derivados da sulfanilamina, que são essenciais para a atividade antibacteriana. São semelhantes ao ácido para-aminobenzoico (PABA). Mecanismo de ação O mecanismo de ação consiste na inibição da síntese do ácido fólico, sendo o PABA o precursor das reações para a formação de folato. Por serem semelhantes ao PABA, as sulfonamidasirão interagir com a enzima di- hidropteroato sintase, inibindo-a Bactérias que conseguem utilizar o folato pré-formado não são sensíveis a esse fármaco. A trimetoprima não é uma sulfonamida, mas podem ser usadas em associação por apresentarem efeitos sinérgicos. Mecanismos de resistência Bombas de efluxo expulsam o fármaco do interior da bactéria Alteração da enzima, reduzindo a afinidade do fármaco por ela Produção aumentada de PABA, provocando competição pela ligação com a enzima Desenvolvimento de rotas alternativas para a síntese de folato Farmacocinética Apresentam rápida absorção pelo estômago e pelo intestino delgado e boa distribuição pelos tecidos, incluindo LCR e placenta. Elas são classificadas de acordo com a duração da ação, que sofre interferência da velocidade de absorção e da velocidade de excreção. Sulfadiazina de prata é utilizada para evitar infecções em casos de queimaduras. Usos clínicos e efeitos adversos Utilizados em infecções provocadas por Streptococcus pyogenes, Streptococcus pneumoniae, Toxoplasma, algumas espécies de Nocardia, Chlamydia trachomatis e Neisseria meningitidis (maioria das cepas é resistente). A maioria das reações adversas são de hipersensibilidade, acometendo a pele, podendo estar acompanhadas por febre, mal-estar e prurido. Também pode ocorrer anemia hemolítica e anemia aplásica (granulocitopenia e trombocitopenia). Em recém-nascidos, elas podem deslocar a bilirrubina ligada à albumina plasmática para a forma livre, por competir a ligação com albumina. A bilirrubina livre pode penetrar o SNC e provocar uma encefalopatia que pode ser irreversível. Aminoglicosídeos Recebem esse nome em razão de sua estrutura química, por serem aminoaçúcares unidos por ligações glicosídicas. São exemplos da classe as estreptomicinas e a gentamicina. A estrutura química garante uma elevada polaridade, o que provoca uma má absorção quando administrados por via oral e também uma distribuição ineficaz pelos tecidos, acarretando concentrações ineficazes no líquor, além de estar associado a uma rápida excreção renal. São fármacos ativos contra bactérias gram-negativas aeróbicas, sendo que a sensibilidade a essa classe é variada. Apresentam pouca atividade contra bactérias gram- positivas, anaeróbicas ou facultativas. São compostos com toxicidade elevada, principalmente nefro e ototoxicidade. Mecanismo de ação São fármacos que se ligam à subunidade 30S ribossomal, bloqueando o início da síntese proteica por fazer com que o complexo ribossômico fique fixado ao códon de iniciação. Caso haja a progressão da síntese, esses fármacos atuam promovendo erros de leitura do mRNA, seja incorporando aminoácidos incorretos na cadeia peptídica ou promovendo um término prematuro da síntese proteica. Mecanismo de resistência A principal forma de resistência bacteriana a esses fármacos é por meio de enzimas mediadas por plasmídeos, como acetilases e adenilases, que se ligam ou ao grupamento amino ou ao grupamento hidroxila do fármaco, inativando-o por alterar sua estrutura química, impossibilitando sua ligação ao complexo ribossomal. Farmacocinética A baixa biodisponibilidade na administração via oral, em razão de sua estrutura polarizada, faz com que haja pouca absorção através do TGI, sendo preferida a administração via parenteral. A polaridade também é responsável por limitar a distribuição para os tecidos, portanto essa classe é marcada por baixa penetração celular, ocular, no SNC e no tecido adiposo. Apresentam efeito bactericida tempo e concentração dependentes. Também tem efeito pós-antibiótico. São excretados por filtração glomerular. Em razão da toxicidade desses fármacos pacientes com alteração da função renal devem ser avaliados quanto a ajustes de dose. Efeitos adversos A ototoxicidade está relacionada a destruição de células pilosas e alterações no aparelho vestibular. O início dos sintomas pode ser com vertigem, perda do equilíbrio e zunido. Pode provocar uma surdez irreversível, dependendo do dano causado às células sensoriais. Deve-se avaliar o risco de associá-los a outros fármacos ototóxicos, como a cisplatina e os diuréticos de alça. Além disso, essa classe se acumula nas células tubulares proximais no rim, alterando a estrutura das membranas celulares, o que está relacionado à lesão de células tubulares em razão da ocorrência de processos inflamatórios e formação de EROs, consequentemente provocando disfunção glomerular. Outro efeito adverso possível é um bloqueio neuromuscular manifestado como paralisia. Isso ocorre por inibição da liberação pré-juncional de acetilcolina ou por redução da sensibilidade pós-sináptica dos receptores nicotínicos. Pacientes com miastenia gravis são mais suscetíveis a esse efeito. A administração IV de sal de cálcio ou neostigmina é realizada para reversão do bloqueio neuromuscular causado por esses fármacos. Usos terapêuticos Podem ser utilizados em infecções do trato urinário, pneumonia, meningite, sepse, peritonite associada à diálise peritoneal, endocardite bacteriana e aplicações tópicas. Esses fármacos podem ser administrados em associação com beta-lactâmicos, por usar um fármaco com baixo efeito contra bactérias gram-positivas associado a um com espectro maior; em razão da expansão do espectro antimicrobiano, por sinergismo no efeito bactericida, pois a inibição da síntese da parede celular causada pelos beta-lactâmicos auxilia no mecanismo de ação dos aminoglicosídeos; e na prevenção de resistência, fazendo com que seja menos provável que as bactérias desenvolvam mecanismos de resistência contra os dois fármacos isoladamente. No entanto, em razão do potencial de toxicidade desses fármacos, eles devem ter uso limitado em infecções potencialmente fatais ou quando outros fármacos mais seguros são contraindicados ou menos eficazes. Cloranfenicol Mecanismo de ação É um inibidor da síntese proteica, ligando-se a subunidade 50S do ribossomo, impedindo a transpeptidação (formação da ligação peptídica) e inibindo a síntese proteica. Nas células eucarióticas esse fármaco é capaz de inibir a reação de transpeptidação mitocondrial, o que justifica a grande toxicidade relacionada a ele. Isso ocorre em razão da semelhança entre os ribossomos bacterianos e os mitocondriais. Mecanismo de resistência A principal forma de resistência é por meio de uma reação de acetilação que irá formar o cloranfenicol acetilado, que é incapaz de se ligar à subunidade 50S. Farmacocinética Ele pode ser administrado na forma de succinato de cloranfenicol, que será hidrolisado por esterases para que haja a liberação do cloranfenicol. Na forma éster, ele sofre depuração renal, enquanto o cloranfenicol liberado sofre metabolismo hepático a glicuronídeo. Em RN, a função renal é deficiente, além de haver uma atividade reduzida de esterases, o que pode justificar a grande toxicidade do fármaco, provocando a síndrome do bebê cinzento, associada a vômitos, distensão abdominal, fezes amolecidas e esverdeadas, recusa em mamar, respiração irregular e períodos de cianose. A meia-vida é de 4h em adultos, o que pode ser 3-5x menor em RN. Esse fármaco é altamente lipossolúvel, apresentando ampla distribuição, inclusive no SNC. Usos clínicos Pode ou não ser associado à ampicilina no tratamento de meningite causada por meningococo, pneumococo e H. influenza. Além disso, são eficazes em casos de febre tifóide, sífilis, Doença de Lyme e peste. Também podem ser usados em doenças causadas por riquetsias. Efeitos adversos Também é um fármaco com alto potencial de toxicidade, sendo utilizados apenas quando outros fármacos mais seguros não podem ser utilizados. Seus efeitos adversos estão relacionados a discrasias sanguíneas, como anemia, leucopenia, trombocitopenia e anemias aplásicas não relacionadas a dose. Reações de hipersensibilidadetambém são comuns Quinolonas São divididos em gerações. A primeira geração é representada pelo ácido nalidíxico, a segunda inclui norfloxacino, ciprofloxacino, perfloxacino e lomefloxacinalo, enquanto a terceira engloba levofloxacino, gatifloxacino, moxifloxacino, gemifloxacino e esparfloxacino. A partir do ácido nalidíxico foram formados análogos fluorados, que apresentam maior espectro bacteriano. Mecanismo de ação Atuam em duas enzimas: DNA-girase, alvo em bactérias gram-negativas, e topoisomerase IV, alvo em bactérias gram- positivas. Em sua forma normal, o DNA se apresenta superespiralado e, para que ocorram os processos de transcrição e replicação, é necessário que ele sofra um relaxamento, o que é realizado pela DNA girase. Ao inibir essa enzima, as quinolonas dificultam o processo de replicação. A topoisomerase IV é responsável pela separação do DNA cromossômico replicado durante a divisão celular. A inibição dessa enzima dificulta a divisão celular. Farmacocinética Apresentam boa absorção oral, mas a presença de cátions divalentes (presentes em antiácidos) e de alimentos podem provocar uma redução da biodisponibilidade do fármaco, recomendando-se um intervalo de 2h entre as administrações. Usos clínicos As quinolonas de primeira geração têm um uso mais limitado, pois apresentam um espectro estreito. Podem ser usadas para tratamento de infecções do trato urinário não complicada. Os fármacos de segunda geração têm um espectro mais amplo, sendo ativo contra bactérias gram-negativas e algumas gram-positivas. O ciprofloxacino, por exemplo, pode ser usada por infecções causadas por enterobactérias e por Pseudomonas aeruginosa. A terceira geração apresenta maior atividade contra bactérias gram-positivas, incluindo estreptocococos e, de um modo geral, podem ser usadas para o tratamento de prostatite, infecções do trato respiratório e de pele, algumas DSTs (com exceção da sífilis). A gonorréia pode ser tratada por quinolonas, mas as bactérias estão cada vez mais resistentes a esses fármacos. O moxifloxacino apresenta maior atividade contra anaeróbios e bactérias gram-positivas, mas alcança uma baixa concentração urinária, portanto não é indicado para ITU Efeitos adversos Podem provocar Artropatia e lesão de cartilagens em crescimento, devendo se evitadas em pacientes com menos de 18 anos. Além disso, algumas quinolonas, como levofloxacino, podem provocar um prolongamento do intervalo QT, portanto devem ser utilizados com cautela em pacientes com arritmia ou em uso de antiarrítmicos. Outros efeitos adversos estão relacionados ao TGI, como náuseas e diarreia, e ao SNC, a exemplo de cefaleia e tonturas. Também podem ser associados à nefrotoxicidade. Linezolida É um inibidor da síntese proteica que se liga à subunidade 50S ribossomal. São principalmente ativas contra bactérias gram-positivas, sendo pouco ativas contra gram-negativas. Apresentam boa taxa de cura em infecções por Enterococos faecium resistentes à vancomicina. Também podem ser usadas em infecções de pele causadas por S. aureus MRSA e participam de uma terapia alternativa para infecções refratárias a vancomicina. Além disso, podem ser usadas em pneumonia adquirida na comunidade por S. pneumoniae sensíveis à penicilina. Deve ser reservada como agente alternativo para tratar infecções causadas por cepas resistentes a múltiplos fármacos. Não deve ser utilizada quando houver outros agentes provavelmente eficazes, pois o uso indiscriminado poderá causar o surgimento de cepas resistentes. Geralmente é um fármaco bem tolerado, com poucos efeitos adversos, mas pode ser associado a neuropatia periférica, neurite óptica e acidose lática em tratamentos prolongados. Além disso, pode provocar mielosupressão, acarretando anemia, leucopenia, pancitopenia e trombocitopenia.
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