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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS GABRIEL OLIVEIRA MEDEIROS A FUNDAMENTAÇÃO DA INTERVENÇÃO ECONÔMICA NO BRASIL SÃO JOÃO DEL-REI 2017 GABRIEL OLIVEIRA MEDEIROS A FUNDAMENTAÇÃO DA INTERVENÇÃO ECONÔMICA NO BRASIL Trabalho apresentado como avaliação da disciplina de Técnica de Pesquisa em Economia, ministrada pelo professor Dr. Renilson Rodrigues da Silva SÃO JOÃO DEL-REI 2017 Sumário Introdução ............................................................................................................................................... 4 Estado .................................................................................................................................................. 5 Intervenção do Estado ao longo da história ....................................................................................... 5 Formas de intervenção ........................................................................................................................ 6 A Intervenção na Economia Brasileira ................................................................................................ 7 A Teoria Keynesiana ............................................................................................................................ 9 Conclusão .............................................................................................................................................. 11 Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 12 4 Introdução Ao longo da história, a humanidade viveu organizada sob diferentes formas de governo ao redor do mundo. A atividade econômica, que em seus primórdios era limitada por relações rudimentares de escambo de produtos rurais, sofreu uma evolução deveras significativa para o curso do homem enquanto parte de uma estrutura globalizada. Se, outrora, fora o poder bélico o determinante de qual nação iria se sobressair sobre as demais, hoje é possível pressupor que o poder econômico o seja. Com o passar dos séculos, aquela relação de escambo foi se desenvolvendo para formas cada vez mais organizadas de comércio. A criação da moeda, as grandes navegações, a Primeira Revolução Industrial e a Depressão de 1929 são alguns exemplos de fatos ou momentos históricos marcantes nesse desenvolvimento, causando grande transformação em toda sociedade. Houve, porém, desde a antiga Grécia de Aristóteles, debates sobre a necessidade da intervenção do Estado, entidade soberana governante, no setor econômico. Diferentes formas de atuação foram verificadas pela história, desde o controle total da entidade governante verificada em regimes absolutistas até o livre comércio defendido pelo liberalismo clássico e, em todos os casos, economistas e estudiosos do campo econômico apontaram vantagens e desvantagens. Este trabalho visa apresentar a intervenção estatal predominante no mundo em diferentes épocas, elucidar sobre as formas como o Estado pode intervir na economia e especificamente, como essa intervenção acontece hoje no cenário econômico brasileiro. 5 Estado O termo “Estado” é definido como uma entidade dotada de soberania, composta por uma comunidade com uma estrutura organizada num determinado território. Ao longo da história esta entidade se apresentou dotada de diferentes regimes e ideologias ao redor do mundo. Atualmente, são tradicionalmente atribuídas ao Estado três funções: Legislativa, Executiva e Judicial. Deve considerar, ainda, a satisfação dos interesses coletivos. Desta forma o Estado tem duas áreas fundamentais de intervenção, a social e a econômica. Tal intervenção, porém, é amplamente debatida em diversos países, pois não há um consenso quanto à necessidade da intervenção do Estado no setor econômico ou ainda, quanto aos limites desta intervenção, dentre aqueles que a apoiam. O foco deste trabalho é discorrer sobre as formas do Estado atuar no plano econômico, bem como apresentar de que forma esta atuação ocorre na economia brasileira. Intervenção do Estado ao longo da história Já em Estados de civilizações anteriores à era cristã ocorria a intervenção estatal. Tais sociedades eram baseadas em sistemas com predominância de trabalho escravo e da economia rural. Os governantes de tais civilizações possuíam total controle sobre sua rudimentar economia. Na Grécia, Aristóteles destaca-se como partidário da intervenção dos governos na economia da pólis. O sistema intervencionista ocorreu também no Império Romano e após a queda deste iniciou-se a era feudal com economias isoladas nos burgos. Neste período o intervencionismo estatal atingiu seu auge. Lima (2009, p.19) ressalta que “a produção, nesta fase, era voltada para os interesses supremos do Estado absolutista.” Após as revoluções liberais ocorridas na Europa, surge, no século XVIII, o conceito de “Estado Liberal”. O liberalismo partia de pressupostos como a 6 propriedade privada, redução do poder político, ordem espontânea, igualdade perante a lei e funcionamento livre do mercado. O mecanismo de mercado, porém, não conseguia resolver todos os problemas através da autorregulação, entrando, então, o liberalismo em crise no final do século XIX. A supremacia dos grandes conglomerados industriais e financeiros, induzida pela busca incontida de lucros, distanciou o capital do trabalho, reduzindo as massas assalariadas a uma situação de espoliação, pondo em risco as liberdades individuais e o próprio direito à propriedade. A situação agravou-se com a Primeira Guerra Mundial e com a grande Depressão de 1929. O economista John M. Keynes defende, como resposta à crise, maior intervenção do Estado na esfera social e econômica, o que poderia contribuir para criação de empregos e geração de renda. Nesse contexto, de forma a sustentar o capitalismo, o Estado passa a cada vez mais intervir na esfera econômica, seja como executor, seja como regulador. Opondo-se ao liberalismo clássico no que tange a intervenção, surge a orientação neoliberalista, que debate não a legitimidade de uma intervenção estatal, mas sim, seus limites. Nos Estados neoliberais o uso de bens, o exercício de direitos e o desenvolvimento das atividades econômicas não são irrestritos, pois se confrontam com limites ditados pela ordem jurídica, que reconhece e assegura direitos e garantias individuais, coletivos e sociais visando o bem-estar social. Essa limitação é dirigida pela atuação do Estado na ordem econômica, que visa garantir eficiência, levando os agentes econômicos a efetuar escolhas racionais e, assim, permitir elevado grau de satisfação a baixo custo; equidade, procedendo à redistribuição dos rendimentos e estabilidade, prevenindo situações de instabilidade ou minimizando seus efeitos sobre a vida econômica e social. Formas de intervenção A intervenção estatal no campo econômico ocorre sob dois principais modelos: o Estado Regulador e o Estado Executor. Agindo como Regulador, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento. Desta forma, o Estado impõe normas e 7 mecanismos jurídicos de cunho preventivo e repressivo, visando evitar ou sanar possíveis condutas abusivas. Atuando como Executor, o Estado passa a, de fato, exercer atividades econômicas, comprometendo-se com a atividade produtiva, agindo, contudo, de acordo com preceitos e princípios constitucionais e econômicos. O Estado deve respeitar as leis do mercado privado e, de certa forma, se igualar às empresas que componham o setor no qual há de intervir, fornecendo concorrência leal e benéfica à ordem econômica. No âmbito da atuação do Estado comoExecutor, podem ocorrer dois tipos de exploração da atividade econômica: a exploração direta e a exploração indireta. Através da exploração direta, o Estado pode explorar a atividade econômica por intermédio de um de seus órgãos internos. Já na exploração indireta, o Estado cria pessoas jurídicas a ele vinculadas e com atribuições destinadas à execução de atividades mercantis. São empresas autônomas, com personalidade jurídica própria, que não se confundem com o Estado, mas são por este controladas. A Intervenção na Economia Brasileira Conforme o artigo 172 da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), “a lei disciplinará, com base no interesse nacional, os investimentos de capital estrangeiro, incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de lucros”. Assim como está escrito na carta magna de 1988, o Estado Brasileiro exerce intervenção na economia como regulador e fiscalizador, porém há também a presença de um Estado executor por meio das empresas estatais como os bancos públicos e os Correios. É inegável que a presença do Estado na economia é fundamental para que ocorra equilíbrio dos mercados e livre concorrência, porém deve-se analisar até que ponto a intervenção estatal contribui para a regulação da economia sem que provoque um grande ônus administrativo para a população. Na década de 80, diversos países emergentes, sobretudo da América do Sul, enfrentavam dificuldades para honrar suas respectivas dívidas externas. O caso 8 brasileiro não foi diferente, o país precisou, assim como vários, de contrair empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Este fundo cedia crédito aos países com a condição de fossem abertas as portas para o comércio internacional e o neoliberalismo, prática esta que era acatada pelos devedores sem terem alternativa. A situação neoliberal, no entanto, não se tornou saudável para as economias emergentes, fato este que foi reconhecido por OSTRY, LOUNGANI, FURCERI (2016) em um artigo publicado no site do FMI quando disseram que “em vez de gerar crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, comprometendo a expansão duradoura”. O governo de Fernando Collor aplicou as políticas do FMI e os resultados foram negativos, causando o aumento da dívida pública. Com o Partido dos Trabalhadores no poder, observa-se um Estado grande e ligado diretamente com a economia. O governo Lula foi marcado por um grande investimento em programas de promoção social e educacional, bem como o auxílio às empresas de pequeno porte. Inegavelmente tais medidas foram de extrema importância para melhoria da qualidade de vida, apesar das falhas cometidas pela falta de planejamento para o futuro o que acabou desembocando na atual crise. É indiscutível afirmar que o Brasil depende de uma intervenção estatal na sua economia. Por ser um país emergente, a livre concorrência e o Estado mínimo impendem o surgimento de indústrias nascentes e o desenvolvimento nacional, deixando o país a mercê de investidores e grandes empresas internacionais. Por outro lado, um país altamente protecionista ficará impedido de contrair recursos para seu desenvolvimento, sobretudo por se tratar de uma nação subdesenvolvida. Deve- se haver um equilíbrio entre liberalismo e protecionismo para que ocorra um crescimento nacional sem que cause desigualdades extremas e desemprego para população. Isto é um trade-off entre eficiência e equidade. O grande problema da intervenção do Estado Brasileiro está em seu tamanho inchaço administrativo. Um Estado muito grande carrega um enorme ônus administrativo. Segundo matéria publicada pelo Jornal Estadão (2015), os cargos de confiança da Direção e Assessoramento Superior e Natureza Especial subiram de 18.450 em 2002 para 23.008 em 2014. Por serem cargos de livre nomeação e exoneração, os candidatos eleitos têm o direito de escolherem livremente pessoas para assumirem os cargos. Usualmente as pessoas escolhidas para ocuparem tais cargos são familiares dos próprios políticos, aquelas que muitas vezes não estão 9 aptas a exercerem as funções ou sequer as conhecem, gerando um gasto público desnecessário. Consequentemente, com o inchaço público é necessária alta carga tributária para manter a máquina política em funcionamento. Com o excesso de impostos a economia desacelera, ou seja, a função do Estado de intervir na economia para potencializar os resultados acaba sendo revertida para um fim deficitário. A Teoria Keynesiana A Teoria Keynesiana é uma teoria econômica que ganhou destaque no início da década de 1930, no momento em que o capitalismo vivia uma de suas mais graves crises, a grande depressão d e 1929, como ficou conhecida a quebra da bolsa de valores de New York A realidade dos países capitalistas naquela época era crítica, o desemprego nos Estados Unidos, Inglaterra entre outros países europeus assumia valores muito elevados decorrente da quebra da bolsa. Na publicação do livro “Teoria Geral do Emprego, do juro e da moeda”, Keynes tem como ponto fundamental revisar as Teorias liberais formuladas pelo teórico Adam Smith, e apontar soluções para o problema vigente na época. Em tese a Teoria Keynesiana é o conjunto de ideias que propunham a intervenção estatal na vida econômica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. Contrastando com a escola clássica prevalecente de economistas, Keynes argumentava que uma economia de mercado pode não ter forças potentes que a movam em direção ao total emprego. Na verdade, uma economia de mercado pode colocar-se em um balanceamento com desemprego em ampla escala. O desemprego em larga escala é resultante de gastos muito baixos em bens e serviços, isso reflete na insuficiência da demanda agregada. E para curar o desemprego seria necessário aumentar a demanda agregada através de investimentos estatais A teoria de Keynes é baseada no princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos em bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior a porcentagem desta é poupada. Assim, se a renda agregada aumenta em função do aumento do emprego, a taxa de poupança aumenta simultaneamente; e como a taxa de acumulação de capital aumenta, a produtividade 10 marginal do capital reduz-se, e o investimento é reduzido, já que o lucro é proporcional à produtividade marginal do capital. Então ocorre um excesso de poupança, em relação ao investimento, o que faz com que a demanda efetivo fique abaixo da oferta e assim o emprego se reduza para um ponto de equilíbrio em que a poupança e o investimento fiquem iguais. Como esse equilíbrio pode significar a ocorrência de desemprego involuntário em economias avançadas (onde a quantidade de capital acumulado seja grande e sua produtividade seja pequena), Keynes defendeu a tese de que o Estado deveria intervir na fase recessiva dos ciclos econômicos com sua capacidade de imprimir moeda para aumentar a procura efetiva através de déficits do orçamento do Estado e assim manter o pleno emprego. É importante lembrar que Keynes nunca defendeu o carregamento de déficits de um ciclo econômico para outro, nem muito menos operar orçamentos deficitários na fase expansiva dos ciclos. Deve notar-se que, para o estado aumentar a procura efetiva, deve gastar mais do que arrecada, porque a arrecadação de impostos reduz a procura efetiva, enquanto que os gastos aumentam a procura efetiva. O ciclo de negócios segundo Keynes ocorre porque os empresários têm “impulsos animais” psicológicos que os impedem de investir a poupança dos consumidores, o que gera desemprego e reduz a demanda efetiva novamente, e por sua vez causa uma crise econômica. A crise, para terminar, deve ter uma intervenção estatal que aumente a demanda efetiva através do aumento dos gastos públicos. Para Keynes, a mais importante Agenda doEstado é tomar as decisões que ninguém adota, corrigindo, assim, os erros do mercado. O governo não deveria realizar coisas que os indivíduos já estão fazendo, mas sim deve fazer aquelas coisas que atualmente deixam de ser feitas. 11 Conclusão A economia, sobretudo em países emergentes não é capaz de caminhar de maneira saudável sem que ocorra uma intervenção do estado regulador, no intuito de fiscalizar os mercados e coibir a prática de dumping e cartéis. Protegendo a indústria nascente e a tecnologia nacional. No entanto um país não pode adotar tamanha medida protecionista que o impeça de manter os investimentos externos e os empregos. Além do que um Estado grande gera ineficiência econômica e grande ônus administrativo para população. É necessária a busca do equilíbrio, sobretudo no cenário brasileiro marcado por graves consequências tanto em momentos neoliberais quanto em momentos com grande intervenção estatal. 12 Referências Bibliográficas JUNIOR, Faustino Da Rosa Júnior. Aspectos gerais da intervenção do Estado na economia. Disponível em: http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5541. Acesso em 01/04/2017 LIMA, Maria Cristina de Brito. Direito constitucional econômico. Rio de Janeiro: Fundação de Getúlio Vargas – Direito RIO, 2009, p. 18 OSTRY, Jonathan D. LOUNGANI, Prakash. FURCERI, Davide. Neoliberalismo: Sobrevivência? Fundo Monetário Internacional. Disponível em: http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2016/06/ostry.htm. Acesso em 01/04/2017 Inchaço da Máquina Pública. Jornal Estadão. Disponível em: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,inchaco-da-maquina-publica-imp- ,1614965. Acesso em 01/04/2017 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 01/04/2017.
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