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A neurulação é o processo responsável pela formação do tubo neural, o primórdio do sistema nervoso central. A neurulação envolve quatro eventos principais: formação da placa neural, modelagem da placa neural, dobramento da placa neural e fechamento do sulco neural. FORMAÇÃO DO TUBO NEURAL A notocorda é responsável por induzir o ectoderma suprajacente a ela a se diferenciar, dando origem a placa neural. A placa neural irá se moldar e formará um sulco neural com duas pregas neurais em cada um dos seus lados. Durante a terceira semana do desenvolvimento as pregas neurais se movimentam e suas pontas se fundem dando origem ao tubo neural. Posteriormente, esse tubo neural irá se desprender do ectoderma e ocupará o plano do mesoderma. O ectoderma lateral, que não foi induzido, será responsável por revestir o embrião dando o origem ao ectoderma de revestimento. Futuramente, o ectoderma de revestimento dará origem a epiderme do embrião. CRISTA NEURAL Durante a neurulação, haverá também a formação da crista neural. No momento em que as extremidades das pregas neurais se encostam, uma porção das suas células (crista neural) se separam e o restante do tubo se fecha. Após a separação do tubo neural, as células da crista neural migram para vários locais onde se diferenciam. A rota e o ponto onde ela para de migrar determinam qual tipo de célula ela será, sendo a principal formação delas o sistema nervoso periférico com a sua diferenciação em gânglios espinhais (gânglios da raiz dorsal) e gânglios do sistema nervoso autônomo. Portanto, as células da crista neural possuem uma alta capacidade migratória, migrando bilateralmente ao longo do eixo cefalocaudal do embrião, dando origem ao sistema nervoso periférico. Na neurulação há a formação do tubo neural, que dará origem ao sistema nervoso central, e da crista neural, que dará origem ao sistema nervoso periférico. FECHAMENTO DO TUBO NEURAL As principais mudanças na forma do embrião ocorrem durante a 4a semana. Durante o 22o dia observam-se a placa neural ainda aberta e as pregas neurais em ambas as extremidades do embrião. Conforme as pregas neurais se aproximam ao longo do eixo cefalocaudal, observa-se o fechamento do tubo neural. À medida em que ocorre o fechamento do tubo neural há a formação dos neuroporos rostral e caudal. O neuroporo rostral é a futura região cefálica do embrião e o neuroporo caudal é a sua futura região caudal. A formação do tubo neural termina com o fechamento dos neuroporos rostral (25o dia) e caudal (27o dia). Embriologia Formação do Sistema Nervoso Beatriz Fernandes DEFEITOS NO FECHAMENTO DO TUBO NEURAL Anencefalia: Defeito de fechamento na região cefálica do tubo neural, causando o não desenvolvimento do encéfalo; Espinha bífida: Defeito de fechamento do neuroporo caudal. As principais causas dos defeitos de fechamento do tubo neural correspondem a fatores nutricionais, fatores ambientais e fatores genéticos. E a forma de prevenção é a fortificação da alimentação com ácido fólico durante a gestação. DIFERENCIAÇÃO DO TUBO NEURAL Após a sua formação, o tubo neural se diferencia em sistema nervoso central, constituído pelo encéfalo e pela medula espinhal. REGIONALIZAÇÃO DO TUBO NEURAL Pouco tempo depois da formação do tubo neural, sua extremidade cefálica dá origem a três vesículas encefálicas primárias: cérebro anterior (prosencéfalo), cérebro médio (mesencéfalo) e cérebro posterior (rombencéfalo). Durante a 5a semana do desenvolvimento embrionário, as três vesículas primárias do embrião originam cinco vesículas encefálicas secundárias. O prosencéfalo dará origem ao telencéfalo e ao diencéfalo, o mesencéfalo permanecerá como mesencéfalo e o rombencéfalo dará origem ao metencéfalo e mielencéfalo. Também durante a 5a semana do desenvolvimento embrionário o encéfalo embrionários cresce rapidamente e se curva ventralmente com o dobramento da cabeça. A curvatura produz a flexura do mesencéfalo na região do mesencéfalo e a flexura cervical na junção do rombencéfalo e da medula espinhal. Posteriormente, o crescimento desigual do encéfalo entre essas flexuras produz a flexura pontina na direção oposta. As cinco vesículas secundárias darão origem aos derivados adultos. O telencéfalo e o diencéfalo darão origem ao córtex cerebral, ao corpo caloso, ao tálamo e ao hipotálamo. O mesencéfalo permanecerá como mesencéfalo. Já o metencéfalo e o mielencéfalo darão origem ao cerebelo, ao bulbo e a ponte. Durante a neurulação há a formação do tubo neural ao longo do eixo cefalocaudal do embrião que dará origem ao sistema nervoso central. A diferenciação do sistema nervoso central em diversas estruturas acontece graças a existência de sinais moleculares na região cefálica (anterior) e caudal (posterior) do embrião, que criam condições de diferenciação celular específica no tubo neural. Inicialmente, na região cefálica, há a formação das três vesículas encefálicas primárias ao fim da 4a semana do desenvolvimento embrionário. CANAL NEURAL O lúmen (canal neural) do tubo neural dará origem ao sistema ventricular. O sistema ventricular é composto por: Ventrículos laterais direito e esquerdo (cavidades dos hemisférios cerebrais); Terceiro ventrículo (cavidade do diencéfalo); Aqueduto cerebral (cavidade do mesencéfalo); Quarto ventrículo (cavidade do rombencéfalo); Canal central da medula espinhal. Cada ventrículo contém um plexo coroide que produz o líquido cefalorraquidiano, que possui a função primordial de realizar a proteção mecânica do sistema nervoso central. Logo que o tubo neural se fecha, no final do primeiro mês de gestação, podem-se identificar as três vesículas primitivas que formam o sistema nervoso do embrião. Depois, o tubo vai se retorcendo, as vesículas crescem desigualmente e, apenas no quarto mês, o sistema nervoso central do embrião começa a se parecer com o do adulto, embora o córtex cerebral e o cerebelo ainda não apresentem os giros e folhas que mais tarde se formarão. DEFEITOS VENTRICULARES CONGÊNITOS Hidrocefalia: É resultado ou do excesso de produção do líquido cefalorraquidiano ou do impedimento da absorção desse líquido, causando um aumento dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo. NEUROGÊNESE E GLIOGÊNESE O tubo neural é composto por células neuroepiteliais, ou seja, células alongadas que abrangem toda a espessura da parede do tubo neural. Essas células são indiferenciadas e, a partir delas, teremos a formação das células finais do sistema nervoso central. O cérebro humano contém bilhões de neurônios e células da Glia, a maioria dos quais são produzidos durante a gestação. As células tronco neurais ou progenitoras neurais são capazes de produzir todas as diferentes células que compõem o sistema nervoso central. Existem dois modos pelos quais as células progenitoras neurais se proliferem para darem origem aos neurônios e às células da Glia: Divisão simétrica: Uma célula progenitora neural dá origem a duas células progenitoras neurais que também se dividirão; Divisão assimétrica: Uma célula progenitora neural dá origem a outra célula progenitora neural, que também irá se dividir, e um neurônio ou célula da Glia. Um dos primeiros tipos celulares presentes no epitélio do tubo neural são as células da glia radial (células progenitoras) que, em algum momento, darão origem às células diferenciadas (neurônio ou astrócito). Além do seu papel progenitor, as células da glia radial propiciam a migração celular ao estabelecer o posicionamento do neurônio em uma determinada região do sistema nervoso central. CITODIFERENCIAÇÃO DO TUBONEURAL A medida em que os neurônios se formam, o tubo neural se torna estratificado na camada ventricular (adjacente ao canal neural), camada do manto (contém os corpos dos neurônios e células da Glia) e na camada marginal (contém fibras nervosas). É na camada ventricular onde ocorrem os ciclos de divisão celular que darão origem aos neurônios. Os neurônios migrarão para fora da camada ventricular, dando origem a camada do manto com seus corpos celulares e as células da Glia. Já os axônios desses neurônios darão origem a camada marginal. Camada do manto: Dará origem a substância cinzenta; Camada marginal: Dará origem a substância branca. CÓRTEX CEREBRAL As células progenitoras se dividem assimetricamente na zona ventricular dando origem aos neurônios e à mais células progenitoras. Os primeiros neurônios gerados migram da zona ventricular e formam a pré-placa com seus corpos celular e a zona intermediária com seus axônios. Os próximos neurônios a nascerem migram para o meio da pré-placa, dividindo-a em zona marginal (futura camada I) e subplaca (população transitória), dando origem a uma camada intermediária entre essas divisões denominada placa cortical. Posteriormente, a placa cortical começará a se subdividir em sucessivas camadas de neurônios típicas do córtex cerebral maduro (entre II e VI), que se sobrepõem à substância branca (zona intermediária). MIGRAÇÃO CELULAR As células da Glia radial são responsáveis por organizar os neurônios nas diversas camadas do córtex cerebral maduro. O corpo celular desta célula encontra-se na zona ventricular, onde a célula progenitora neural está se dividindo, e o seu prolongamento é emitido até a extremidade mais externa do córtex cerebral. Os neurônios recém produzidos aderem ao prolongamento da célula da Glia radial e migram até a sua camada cortical. Os próximos neurônios farão o mesmo e se estabelecerão cada um em suas camadas corticais. As células corticais seguem um padrão de migração de dentro para fora, ou seja, os neurônios nascidos primeiro se estabelecem nas camadas mais internas enquanto os neurônios nascidos por último se estabelecem nas camadas corticais mais externas, dando origem às seis camadas corticais do córtex cerebral maduro. Além da migração radial, em que os neurônios migram ao longo das células da Glia radial até o seu destino final, há também a migração tangencial, em que os neurônios utilizam os tratos axonais preexistentes que conectam regiões de geração neuronal com a posição final de estabelecimento dos neurônios. Ao chegarem aos seus destinos finais, o neurônios iniciam o seu processo de diferenciação celular. O neurônio, inicialmente bipolar, se tornará maduro com seu axônio e dendritos. MATURAÇÃO CELULAR Durante o processo de maturação celular há o crescimento dos dendritos, que criarão uma área de superfície para permitir que ocorram as sinapses, e a extensão dos axônios até o alvo apropriado para a realização das sinapses. O desenvolvimento do dendrito envolve diversas etapas: Ramificação dendrítica; Crescimento de espinhas dendríticas; Poda de ramificações e espinhas dendríticas. Embora o desenvolvimento dendrítico se inicie durante o desenvolvimento embrionário, ele continua por um longo período após o nascimento. Em torno da área de Broca (região da fala), os neurônios se tornam progressivamente mais complexos até a criança atingir os dois anos de idade. Durante o crescimento axonal, o axônio emerge como um prolongamento do corpo celular e logo forma uma estrutura característica na sua extremidade denominada cone de crescimento. Essa estrutura apresenta filopódios que buscarão pistas químicas no ambiente como, por exemplo, moléculas de adesão à MEC, moléculas de adesão à superfície celular, moléculas que causam a repulsão do contato, axônios de neurônios pré-existentes (fasciculação) e moléculas difusíveis (quimioatração ou quimiorepulsão) para o encontro da célula alvo. Ao chegar na célula alvo, o cone de crescimento dá origem a uma sinapse. Portanto, tanto pistas atrativas quanto pistas repulsivas são responsáveis por direcionar o crescimento axonal até a chegada do cone de crescimento à célula alvo. MORTE CELULAR PROGRAMADA Nem todos os neurônios são destinados a sobreviver e, dessa forma, decisões relativas à vida ou à morte são aspectos do destino de um neurônio. Durante um experimento realizado em um embrião de pinto foi retirado um de seus membros e, posteriormente, observou-se uma taxa de sobrevivência menor dos neurônios motores na região onde ocorreu a remoção em uma secção da medula espinhal. Entretanto, quando foi feito o transplante de um broto na região de um membro pré-existente, observou-se uma taxa de sobrevivência maior dos neurônios motores naquela região. Com isso, concluiu- se que sinais originados da célula-alvo são cruciais para a sobrevivência dos neurônios. As células-alvo do neurônio ou próximas a ele secretam pequenas quantidades de nutrientes essenciais e a captura desses fatores é necessária para a sobrevivência neuronal. Esses sinais originados da célula-alvo são denominados fatores neurotróficos. Os neurônios que obtém uma quantidade suficiente de fator neurotrófico, sobrevivem. Já os neurônios que não obtém essa quantidade suficiente, desaparecem (morte celular). REFINAMENTO SINÁPTICO Durante o refinamento sináptico, ocorre a eliminação das sinapses extranumerárias. Enquanto na morte celular programada há a eliminação de neurônios extranumerários, no refinamento sináptico há a eliminação de sinapses extranumerárias. Estima-se que, no córtex humano, 42% das sinapses são eliminadas. Logo após o nascimento ocorre um aumento extraordinário de sinapses e, no oitavo mês, aproximadamente, as sinapses começam a ser eliminadas até o fim da vida. MIELINIZAÇÃO O processo de mielinização marca o final da maturação do sistema nervoso. Durante a mielinização observa-se que os oligodendrócitos (sistema nervoso central) são os responsáveis pela produção da mielina. A mielina se enrola ao longo do axônio e permite uma maior eficiência na transmissão da informação. Porém, nem todos os neurônios possuem mielina em seus axônios. As diferentes áreas do córtex não sofrem mielinização homogênea. As regiões corticais com mielinização precoce (córtex motor primário e sensorial) controlam movimentos relativamente simples ou análises sensoriais, enquanto as áreas com mielinização tardia controlam as funções mentais elevadas. A mielinização funciona como um índice aproximado da maturação cerebral. MALFORMAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO CORTICAL LISENCEFALIA TIPO 1 Os neurônios produzidos na zona ventricular falham em migrar dentro da placa cortical, resultando em apenas quatro camadas corticais sobrepostas à substância branca. Além disso, há um padrão de desorganização cerebral, ou seja, neurônios destinados a permanecer em uma determinada camada se encontram em outras camadas. Na lisencefalia tipo 1, o córtex cerebral não apresenta giros e sulcos, causando atraso mental e psicomotor severos nesse paciente. Além disso, ele pode apresentar um aspecto facial incomum. LISENCEFALIA TIPO 2 Na lisencefalia tipo 2 alguns neurônios ultrapassam o limite da substância cinzenta, causando um aumento na quantidade de sulcos e giros. Os sintomas dessa enfermidade são retardo psicomotor grave, convulsões, perda de visão e distrofia muscular congênita, podendo apresentar aspecto facial incomum. POLIMICROGIRIA Na polimicrogiria há também o excesso de giros e sulcos. O córtex cerebral do paciente com essa enfermidade sofre uma redução de camadas corticais, apresentandoapenas três delas, e uma desorganização delas. Os sintomas da polimicrogiria são prejuízo seletivo da função cognitiva e epilepsia intratável. DISPLASIA CORTICAL FOCAL Alterações na microarquitetura do córtex cerebral, acompanhadas ou não por células anormais, principalmente neurônios dismórficos (gigantes e displásicos) e ballon cells. O sintoma mais comum da displasia cortical focal é a epilepsia refratária (intratável), com início precoce na infância. MEGALENCEFALIA Caracterizada por crescimento hamartomatoso (tumor benigno) de parte ou de todo o hemisfério cerebral, com defeitos na proliferação neuronal, migração e organização cortical. Pode se apresentar na infância com epilepsia refratária, retardo do desenvolvimento neurológico e hemiparesia. ESQUIZOFRENIA Nos cérebros com esquizofrenia, os neurônios piramidais do hipocampo (responsável pela memória) encontram-se desorganizados. Na adolescência, à medida que o lobo frontal se desenvolve, o paciente começa a sentir os sintomas do desenvolvimento cortical anormal como, por exemplo, delírios, alucinações e déficits cognitivos. RETARDO MENTAL É uma deficiência no funcionamento cognitivo que acompanha o desenvolvimento anormal do cérebro. Um paciente com retardo mental apresenta poucas espinhas dendríticas em seus neurônios.
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