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Profa. Msc. Priscilla Maria Carvalho Oliveira ÁGUA NOS ALIMENTOS E METODOLOGIAS DE ANÁLISE O conteúdo de água de um alimento é expresso pelo valor obtido na determinação da água total contida no alimento. Entretanto, esse valor não fornece indicações de como a água esta distribuída no alimento. A água contida nos alimentos encontra-se sob duas formas: Água Ligada - está ligada quimicamente com outras substâncias do alimento e difícil de ser eliminada. Não é utilizável como solvente, não permite o desenvolvimento de microrganismo e retarda reações químicas. Água Livre - está presente nos espaços intergranulares e entre os poros do material, funciona como solvente, permitindo crescimento dos microrganismos e reações químicas, e é eliminada com relativa facilidade. UMIDADE = ÁGUA LIGADA + ÁGUA LIVRE O teor de água livre é expresso como atividade de água. Medida da água disponível nos alimentos para os microrganismos, expressa como o quociente entre a pressão do vapor de água dos alimentos e a pressão do vapor de água pura. Aw = Pressão de vapor do alimento Pressão de vapor da água pura Na água pura o valor máximo da Aw é 1. Nos alimentos ricos em água com valores de Aw acima de 0,9 poderão se formar soluções diluídas com componentes dos alimentos que servirão de substrato para os microrganismos poderem crescer. ATIVIDADE DE ÁGUA (Aa ou Aw) Aw ALIMENTOS MICRORGANISMOS 0,98 e superior Carnes e pescados frescos, frutas e hortaliças, leite Multiplica-se a maioria dos microrganismos que alteram os alimentos e todos os patógenos transmitidos por alimentos. 0,98 – 0,85 Carne bovina seca, leite condensado Multiplica-se Staphylococcus aureus e muitos fungos produtores de micotoxinas. Leveduras e fungos são os microrganismos primários da alteração. 0,85 – 0,60 Farinhas, cereais, vegetais desidratados Não se multiplicam bactérias patogênicas. Alteração por microrganismos xerófilos, osmófilos, halófilos. Inferior a 0,60 Confeitos, massas, biscoitos, leite em pó, ovos em pó, etc Não se multiplicam os microrganismos embora possam seguir sendo viáveis por muito tempo. Tabela 1 - Influência da atividade de água e crescimento microbiano Fonte CECCHI (2003). Tabela 2. Umidade e Atividade de água aproximada de alguns produtos lácteos à temperatura ambiente PRODUTO UMIDADE (%) Aw LEITE 87 0,993 LEITE CONDENSADO 27 0,830 LEITE EM PÓ DESNATADO 1,5 0,020 MANTEIGA (2% SAL) 16 0,920 MAIORIA DOS QUEIJOS 36 a 55 0,94 a 0,98 Fonte: adaptado de WASLTRA & JENNESS (1984). O teor de umidade permite uma classificação dos alimentos em: Perecíveis Semi perecíveis Não perecíveis ALIMENTOS PERECÍVEIS CARNES FRUTAS E HORTALIÇAS LEITE PESCADO ALIMENTOS SEMI PERECÍVEIS BATATAS ALGUMAS MAÇÃS FRUTOS SECOS ALIMENTOS NÃO PERECÍVEIS FARINHA ARROZ FEIJÃO MASSAS A UMIDADE PODE AFETAR ESTOCAGEM, EMBALAGEM E PROCESSAMENTO A UMIDADE DE UM ALIMENTO ESTÁ RELACIONADA COM SUA ESTABILIDADE, QUALIDADE E COMPOSIÇÃO Estocagem: Alimentos estocados com alta umidade irão se deteriorar mais rapidamente. Por exemplo, grãos com umidade excessiva estão sujeitos a rápida deterioração devido ao crescimento de fungos que produzem toxinas como a aflatoxina. Excesso de umidade: brotamento do grão Embalagem: Alguns tipos de deterioração podem ocorrer em determinadas embalagens se o alimento apresenta uma umidade excessiva. Por exemplo, a velocidade do escurecimento em vegetais e frutas desidratadas, ou a absorção de oxigênio (oxidação) em ovo em pó, podem aumentar com o aumento da umidade, em embalagens permeáveis à luz e ao oxigênio. Obs.: A embalagem deve ser estudada quanto à sua permeabilidade ao vapor d’água, para que o produto não ganhe nem perca água para a umidade relativa do ambiente. Processamento: a quantidade de água é importante no processamento de vários produtos, como, por exemplo, a umidade do trigo para fabricação de pão e produtos de padarias Minimizar o crescimento e a atividade dos microrganismos; retardar reações químicas e prevenir a ação enzimática. Uma das utilizações do nitrogênio líquido é o congelamento ultra-rápido dos alimentos. Sua elevada capacidade de refrigeração, preserva sabor, cheiro e aparência após o descongelamento. Relação entre Atividade de Água (Aw) e Métodos de Conservação Congelamento e Supercongelamento Liofilização Desidratação de alimentos congelados por sublimação da água (evaporação da água congelada sem que passe pelo estado líquido) Permite conservar satisfatoriamente a textura e o aroma dos alimentos. Aplicado a café instantâneo, leite, sopas e pó Exposição do alimento a fumaça que resulta da queima de madeira que contém uma série de substâncias voláteis, nocivas aos microrganismos. O alimento sofre desidratação e ação do calor. Aplicado a carnes e peixes Defumação A secagem é um dos processos mais antigo utilizados pelo homem na conservação de alimentos. Todos os cereais são conservados por secagem. Há inúmeras vantagens na aplicação destes métodos: Melhor conservação do produto; Redução do peso (50 a 80%) e de volume do produto; É um método mais barato que os demais; Facilidade de embalagem; Os produtos secos conservam razoavelmente suas características físicas e nutritivas SECAGEM E DESIDRATAÇÃO Os processos de secagem podem estar em dois grupos: SECAGEM NATURAL: É recomendável para regiões de clima quente, com boa irradiação solar. O tempo de secagem necessário para cada produto depende do seu teor de água, do total de irradiação solar, mas pode-se calcular como sendo de 2 a 12 dias para climas tropicais. Exemplos são o café e o cacau, carne e pescado. DESIDRATAÇÃO É a secagem pelo calor produzido artificialmente em condições de temperatura, umidade e circulação de ar, cuidadosamente controlado. O ar conduz o calor ao alimento, provocando evaporação da água. Fonte: www.servas.org.br No momento do consumo a atividade de água da maior parte dos alimentos é superior a 0,8. Isto garante que o alimento esteja tenro e úmido, o que facilita a mastigação além de ser mais agradável ao paladar; Alguns alimentos (petiscos, biscoitos, bolachas) devem ter uma Aw baixa para serem crocantes; As aplicações da Aw na tecnologia de alimentos são importantes tanto para o processamento quanto ao armazenamento dos alimentos. Relação entre atividade de água (Aw) e textura dos alimentos ALIMENTOS UMIDADE(%) produtos lácteos fluidos 87 – 91 leite em pó 4 queijos 40 – 75 manteiga 15 creme de leite 60 – 70 sorvetes 65 margarina e maionese 15 frutas 65 – 95 hortaliças 85 carnes e peixes 50 – 70 cereais <10 macarrão 9 pães e outros produtos de padaria 35 – 45 ALIMENTOS UMIDADE DE ALERTA (%) Nozes 4 – 9 Leite integral em pó 7 Cacau 7 – 10 Soja 9 – 13 Ovo integral em pó 10 Carne e pescado 10 Arroz 12 – 15 Hortaliças desidratadas 12 –22 Farinha de trigo, Macarrão 13 – 15 Sopas desidratadas 13 – 21 Frutas desidratadas 18 – 25 Tabela 3 - Conteúdo de umidade em alguns alimentos. Tabela 4 – Umidade alerta de alguns alimentos Fonte CECCHI (2003). Fonte CECCHI (2003). A composição centesimal corresponde à proporção dos grupos homogêneos de substâncias presentes em 100 g de um alimento, exprimindo de forma grosseira o seu valor nutritivo. Os grupos homogêneos de substâncias que se encontram em praticamente todos os alimentos, a saber: Umidade Lipídios ou extrato etéreo ("gorduras") proteína bruta Fibra bruta Cinzas ou resíduo mineral fixo (minerais) Fração glicídica ou E.N.N. (extrato não nitrogenado) MÉTODOS POR SECAGEM MÉTODOSPOR DESTILAÇÃO MÉTODOS QUÍMICOS MÉTODOS FÍSICOS Secagem por radiação infravermelha Secagem em fornos de microondas Secagem em dessecadores Secagem em estufas MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DE UMIDADE MÉTODOS POR DESTILAÇÃO Existe há mais de 70 anos, mas não é muito utilizado por sua grande demora. Vantagens: protege a amostra contra a oxidação pelo ar e diminui as chances de decomposição causada pelas altas temperaturas. Utilizado para grão e condimentos. O método de destilação com tolueno é um dos métodos oficiais para determinação de umidade de grãos. Os grãos são finamente moídos e fervidos em tolueno. A água condensada é coletada em uma proveta graduada e o tolueno condensado retorna ao frasco em ebulição. Umidade = volume de água coletada na proveta. Fonte: Revista SEED News, v. 6 n. 1 MÉTODOS QUÍMICOS Emprega o reagente Karl Fischer (1936). Iodo, dióxido de enxofre, piridina e um solvente que pode ser metanol (I2 : 3 SO2 : 10 C5H5N). Procedimento do método se baseia numa titulação visual. I2 é reduzido para I na presença de água. Quando toda a água da amostra for consumida, a reação cessa. TITULAÇÃO VISUAL: a solução da amostra permanece amarelo-canário enquanto houver água presente, mudando para amarelo-escuro e, no ponto final, para amarelo-marrom, característico do iodo em excesso. Fonte: www.fcfrp.usp.br MÉTODOS FÍSICOS ABSORÇÃO DE RADIAÇÃO INFRAVERMELHA: A medida da absorção da radiação em comprimentos de onda na região do infravermelho (3,0 m e 6,1 mm) obtém a quantidade de água na amostra (sensibilidade ppm). CROMATOGRAFIA GASOSA: é muito rápida (5 minutos) e pode ser aplicada em alimentos com larga faixa de umidade (8% a 65%), como cereais, produtos de cereais, frutas e produtos derivados de frutas. ÍNDICE DE REFRAÇÃO: bastante simples e rápido, feito no refratômetro, e está baseado no ângulo de refração da amostra. DENSIDADE: método simples, rápido e barato, mas pouco preciso. Amostras com alto teor de açúcar. CONDUTIVIDADE ELÉTRICA: quantidade de corrente elétrica que passa por alimento será proporcional à quantidade de água no alimento. Método rápido, mas pouco preciso. A) SECAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA É mais efetivo e envolve a penetração do calor dentro da amostra. Encurta o tempo de secagem em até 1/3 do total. Lâmpada de radiação infravermelha com 250 a 500 watts. Temperatura entre 700 oC. Distância entre a lâmpada e amostra: 10 cm (decomposição) Tempo de secagem: 20 minutos para produtos cárneos 10 minutos para grãos Peso da amostra: 2,5 e 10 g, dependendo do conteúdo de amostra. MÉTODOS POR SECAGEM DESVANTAGEM: Processo lento por secar uma amostra de cada vez. Repetibilidade não muito boa: variação de energia elétrica durante as medidas. Equipamentos: balança com leitura direta do conteúdo de umidade por diferença de peso. Fonte: Revista SEED News, v. 6 n. 1 B) SECAGEM EM FORNOS DE MICROONDAS Energia do microondas: Radiação eletromagnética entre 3 Mhz e 30.000 Ghz. MICROONDAS: aquece o material mais rapidamente e mais seletivamente. A amostra úmida é exposta a radiação de microondas, a moléculas de H2O bipolar As moléculas de H2O giram na tentativa de alinhar seus dipolos. A fricção resultante gera calor que é transferido para as moléculas vizinhas Aquecimento e evaporação da água VANTAGENS Distribuição uniforme do calor na superfície e no interior do alimento. Facilita a evaporação e evita a formação de crosta na superfície. Método bastante rápido e simples. DESVANTAGEM Método novo e muito rápido, porém não é um método padrão. Observação: A amostra deve ser misturada com cloreto de sódio (evita que a amostra seja espirrada para fora do cadinho) e óxido de ferro (absorve fortemente a radiação de microondas, acelerando a secagem). C) SECAGEM EM DESSECADORES São utilizados com vácuo e compostos químicos absorventes de água (soluções salinas saturadas, ácido sulfúrico e glicerol) . Secagem a temperatura ambiente: muito lenta e alguns casos pode levar meses. Fonte: Própria D) SECAGEM EM ESTUFAS É o método mais utilizado em alimentos e está baseado na remoção da água por aquecimento. Baixa condutividade térmica dos alimentos baixa – tempo de 6 a 18 horas a 105 ºC, ou até peso constante. A exatidão do método é influenciada por vários fatores: temperatura de secagem; umidade relativa e movimentação do ar dentro de estufa; tamanho das partículas e espessura da amostra; número e posição das amostras na estufa; formação de crosta seca na superfície da amostra material e tipo de cadinhos; pesagem da amostra quente. PREPARO DA AMOSTRA Amostras líquidas: devem ser evaporadas em banho-maria até a consistência pastosa para então serem colocadas na estufa. Amostras açucaradas: formam uma crosta dura na superfície, que impede a saída da água do interior. Neste caso, costuma-se adicionar areia, asbesto ou pedra pome em pó, misturado na amostra, para aumentar a superfície de evaporação. Peso da amostra: varia entre 2 a 5 g dependendo da quantidade de água do produto, e ela deve ser bem espalhada no cadinho formando uma camada fina. Fonte: Própria Colocar as cápsulas vazias na estufa para retirar a umidade, colocar no dessecador para esfriar. Pesar vazia (anotar o peso) Ex.: Peso da cápsula: 200 g Pesar uma quantidade definida de amostra na cápsula previamente seca (+/- 10 g), anotar o peso da cápsula + amostra. Ex.: Peso da cápsula + amostra = 209,5 g PROCEDIMENTO Fonte: Própria Colocar a cápsula na estufa (24 hs) ou por 6 horas até peso constante. Retirar a cápsula da estufa com uma pinça e colocar num dessecador para esfriar. Pesar, depois de frio, o conjunto cápsula mais amostra seca (anotar o peso). Ex.: peso da cápsula + amostra dessecada 202,5 g Fonte: Própria CÁLCULO DE UMIDADE Peso da cápsula: 200 g Peso da cápsula + amostra integral = 209,5 g Peso da cápsula + amostra dessecada =202,5 g UMIDADE = (Peso da cápsula + amostra integral) – (Peso da cápsula + amostra dessecada) UMIDADE = 209,5 g – 202,5 g = 7 g 7 g de umidade_______________ 9,5 g de amostra integral X _______________ 100 g de amostra integral X = 73,7% de umidade Peso da amostra = 9,5 g BOBBIO, F. O;BOBBIO, P. A. Química do Processamento de Alimentos. 3ª.ed. São Paulo: Varela,1992. CECCHI, H. M. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. 2ªed.rev. Campinas,SP: Unicamp,2003. IAL. Instituto Adolfo Lutz. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. 4ª.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.Disponível em: www.ial.sp.gov.br. LUZ, L, M. Medidores de umidade. Revista SEED News. Pelotas, RS. janeiro/fevereiro - v. 6 n. 1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS http://www.ial.sp.gov.br/ OBRIGADA PELA ATENÇÃO!
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