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Quem fez a primeira observação sobre a influência da saliva no processo carioso está escondido na poeira do tempo, mas ao redor de 1900 diversos relatos de casos surgiram sobre os efeitos deletérios da ausência de saliva. Miller, descreveu no início de 1903 uma mulher que sofria de secura bucal excessiva desta forma: "Os dentes tornam- se cariados de maneira assustadora, especialmente nas regiões cervicais e ao longo das margens livres das restaurações". Funções como efeito enxaguatório, limpeza do alimento e bacteriana, diluição de detritos, lubrificação das superfícies dentárias, proteção dentária pela neutralização dos ácidos pela ação tampão, manutenção da supersaturação de hidroxiapatita, participação na formação da película do esmalte e defesa antimicrobiana são exemplos dos muitos papéis que a saliva desempenha na determinação da saúde e doença bucal. Formação da saliva Para compreender a relação complexa entre os dentes e seus fluidos circundantes, é importante entender como a saliva é secretada e como seu fluxo e sua composição são parâmetros dinâmicos controlados pelas condições fisiológicas e patológicas do hospedeiro. Fatores como tipo de estímulo para formação da saliva, história médica do hospedeiro, incluindo doenças sistémicas e ingestão diária de medicamentos, são exemplos das condições que possuem impacto significativo no fluxo e na composição salivar e, assim, provavelmente afetam a integridade dos dentes, talvez levando a um número maior de lesões cariosas. O que é a saliva? A saliva é composta de mais de 99% de água e menos de 1% de sólidos, a maioria eletrólitos e proteínas, sendo as últimas que fornecem a sua viscosidade característica. O termo "saliva" refere-se à mistura de fluidos na boca em contato com os dentes e a mucosa oral, geralmente chamada de "saliva total", noventa por cento da saliva total é produzido por três pares de glândulas salivares maiores, a parótida, submandibular e sublingual. Ainda, a saliva total contém contribuintes de fontes não glandulares como o fluido crevicular gengival numa quantidade que depende da condição periodontal de cada paciente. A saliva total, em contraste à saliva glandular, também contém quantidades vastas de células epiteliais da mucosa bucal e milhões de bactérias. Anatomia da glândula salivar A maior glândula salivar é a parótida, sendo uma glândula puramente serosa que produz uma saliva fina, aquosa e rica em amilase. No estado não estimulado (secreção basal de saliva que ocorre sem estimulo bucal), entretanto, as parótidas contribuem muito menos para o volume de saliva total, porque as glândulas submandibulares produzem cerca de dois terços. As glândulas sublinguais, as menores glândulas principais, consistindo principalmente de células acinares mucosas, também produzem uma secreção viscosa, embora contribuam apenas com uma porcentagem menor do volume de saliva total tanto no estado estimulado como não estimulado. Apesar da sua contribuição baixa para o volume total de saliva, as glândulas menores secretam uma fração importante da secreção proteica total na saliva, como maior papel na lubrificação oral. O sistema de ductos da parótida e submandibular humana é bem desenvolvido e ramificado, contendo ductos intercalados, estriados e excretórios, onde os ductos estriados dão corpo ao tecido ductal . Ao redor das porções finais secretoras e ductos intercalados existem células mioepiteliais contráteis que ajudam na promoção do fluxo de saliva no sistema de ductos pela constrição ativada pelo estímulo. A saliva secretada pelas glândulas submandibular e sublingual penetra pelo ducto submandibular, que termina na carúncula sublingual lateral ao frênulo da língua e posterior aos dentes anteriores inferiores, mas a glândula sublingual também secreta através de diversos ductos menores ao longo do recesso sublingual no assoalho bucal lateral ao lado da língua. Fisiologia EspecialCárie Dentária Controle da secreção salivar A secreção salivar é iniciada por sinais aferentes dos receptores sensoriais bucais, transmitidos pelos nervos trigêmeo, facial e glossofaríngeo. Estes carregam impulsos nervosos dos mecanoceptores ativados pela mastigação no ligamento periodontal (reflexo mastigatório-salivar) e dos quimioceptores ativados pelo paladar nos botões gustativos dentro das papilas linguais (reflexo gustativo-salivar) para os núcleos salivares na medula oblongata do cérebro. Os núcleos salivares então reúnem a informação para a porção eferente do arco reflexo consistindo de duas ramificações, os feixes nervos autonómicos simpático e parassimpático, caminhando separadamente pelas glândulas. As fibras simpáticas seguem os vasos sanguíneos que suprem as glândulas e então as invernam separadamente, e as fibras parassimpáticas seguem os nervos facial e glossofaríngeo eferentes. Em função deste controle central, a salivação não estimulada normalmente é inibida durante o sono, medo e depressão mental. Assim, a estimulação de um lado da boca induz a salivação ipsilateral em que a taxa de fluxo depende da intensidade do estímulo aplicado, seja esta a intensidade gustativa ou mastigatória. O resultado de tal estimulação é a saliva com uma taxa de fluxo elevado, a estimulação simpática gera fluxo menor e uma saliva mais rica em proteínas. Existem diversos fatores que influenciam a taxa de fluxo salivar, incluindo equilíbrio aquoso no corpo, natureza e duração do estímulo, estimulação prévia e tamanho da glândula. No nível periférico glandular, o controle da salivação depende da liberação de neurotransmissores das terminações nervosas simpática e parassimpática na vicinal das glândulas salivares. Os transmissores clássicos que ativam a secreção de saliva são a acetilcolina e norepinefrina, mas outras substâncias liberadas das terminações nervosas periféricas também possuem efeitos moduladores importantes na formação de saliva pelas glândulas. A ligação dos neurotransmissores e neuropeptídeos aos receptores membranicos celulares específicos nas porções terminais secretoras altamente inervadas e nos sistemas ductais, ativa numerosos eventos bioquímicos dentro do tecido glandular. Secreção salivar: o modelo em duas etapas Basicamente, a formação de saliva ocorre em duas etapas e inclui a ativação de diversos transportadores da membrana plasmática como os canais iónicos, bombas, cotransportadores e sistemas de troca. Esta formação é iniciada pela ligação dos neurotransmissores (ex., acetilcolina ou norepinefrina) aos receptores específicos da superfície celular no nível das membranas das células acinares nas porções terminais secretoras. Assim, ocorrem diversas reações da cascata bioquímica dentro das membranas celulares e do citoplasma, o que leva à secreção da saliva primária a partir da porção terminal secretora. Estes eventos ocorrem em resposta ao aumento intracelular ativado pelo receptor na concentração de cálcio livre, o que ativa os canais de potássio e cloro regulados pelo cálcio, localizados nas porções basolateral e luminal da membrana plasmática, respectiva mente. No lúmen, o ganho de cloro cria um potencial negativo comparado às redondezas que transportam o sódio intersticial, numa via paracelular pelas junções tipo tight seletivas ao cálcio, para o lúmen, restaurando a eletroneutralidade. Um fluxo de água, provavelmente ocorrendo peIas vias paracelular e transcelular devido à permeabilidade elevada da água no tecido acinar, segue o movimento total dos sais no lúmen por osmose, resultando numa contração celular dos ácinos. A segunda etapa desse modelo é a modificação da saliva primária nos ductos. Assim como nas células acinares, a ligação de neurotransmissores aos receptores específicos na superfície dos tecidos ductais inicia um número de cascatas bioquímicas dentro das membranas celulares e citoplasma que leva à modificação da composição eletrolítica deste fluido no sistema de ductos. À medida que a saliva passa ao longo do ducto ela se modifica, mais pela reabsorção seletiva de sódio e cloro (sem água) que ocorre noducto estriado. Em função da baixa permeabilidade do ducto à água, a saliva final secretada na boca se torna hipotónica, com concentrações de sódio e cloro muito menores que na saliva primária. Composição da saliva: um processo dinâmico Já que os mecanismos envolvidos no processo de reabsorção possuem uma capacidade máxima de transporte e os ductos têm um tempo limitado para modificar a composição eletrolítica em taxas elevadas de fluxo salivar, a reabsorção de sais diminui e a saliva estimulada se torna menos hipotónica, com concentrações maiores de sódio e cloro que na saliva não estimulada. A concentração de bicarbonato, um tampão importante na saliva, não é constante, mas varia com a taxa de fluxo de tal forma que a saliva não estimulada contém apenas alguns milimoles por litro, enquanto a saliva estimulada contém concentrações muito maiores dependendo da intensidade do estímulo. Fisiologia Especial Hipofunção das glândulas salivares A hipofuncao da glândula salivar pode significar um termo que envolve tanto os sintomas subjetivos como sinais objetivos da secura bucal. A xerostomia é definida como um sintoma subjetivo da secura bucal, que geralmente traz dificuldades às funções orais, de deglutição e da fala, e, portanto, à qualidade de vida geral relacionada ao indivíduo. O valor de corte para a saliva total não estimulada é 0,1 ml/min e o da estimulada com parafina é 0,5-0,7 ml\min (para homens e mulheres, respectivamente). As taxas de fluxo são significativamente mais baixas que os "valores normais", em geral, aceitos em indivíduos saudáveis ao redor de 0,3 ml/min para a saliva total não estimulada e de 1,5 ml/min para a saliva estimulada. A xerostomia pode existir sem o paciente preencher o diagnóstico de hiposalivação e a hipossalivação pode parecer assintomática, embora a xerostomia esteja associada ao fluxo salivar reduzido. Entretanto, a velhice em si não reduz as taxas de saliva total em adultos saudáveis e não medicados, apesar do aspecto histológico das glândulas salivares em pessoas idosas, sugerindo uma função diminuída. Causas iatrogênicas e doenças Muitos medicamentos induzem queixas de secura bucal e influenciam a taxa/composição do fluxo salivar. Algumas destas medicações podem possuir interações periféricas com os sistemas de receptores colinérgicos muscarínicos da glândula salivar (antidepressivos e anti-histamínicos), dificultando o volume de saliva. Outros, como os diuréticos, podem mudar a composição pela sua ação no equilíbrio de sais e água no organismo e efeitos inibitórios nos transportadores eletrolíticos nas glândulas salivares. O risco de hipofunção na glândula salivar pode aumentar com o número de medicamentos usados e se torna preocupante quando mais de três medicamentos diferentes são ingeridos diariamente. A secreção dificultada de saliva geralmente é observada nos pacientes idosos devido à alta frequência de doenças sistémicas e consumo elevado de medicamentos na população. Limpeza oral A cavidade oral é exposta com frequência a substancias com propriedades potencialmente danosas. Algumas destas substancias possuem efeito direto na cárie, por exemplo, diversos tipos de carboidratos fermentáveis, especialmente a sucrose. Assim, uma função importante da saliva é diluir e eliminar substâncias. Este é um processo fisiológico normalmente conhecido como limpeza salivar ou, mais comumente, limpeza oral. O volume total de saliva espalhado como uma película fina sobre os dentes e mucosa varia dependendo de diversos fatores, mas geralmente é pequeno, cerca de 0,8-1,2 mL. Visto que a área superficial da mucosa é de aproximadamente 200 cm2, o filme de saliva possui 100 prn de espessura e varia entre os sítios na cavidade oral. Por exemplo, o filme é de 10 pm no palato e nos indivíduos que experimentam xerostomia representa menos que isto. O filme de saliva se desloca vagarosamente para a garganta com uma velocidade que varia de I a 8 mm/min, o movimento mais lento se encontra à frente da maxila e o mais rápido na mandíbula. O fluxo principal corre sobre o assoalho bucal de cada lado da língua com pouca troca entre as duas correntes. Por exemplo, um tablete de flúor colocado num dos lados da boca só aumenta a concentração de flúor salivar naquele lado, e muito pouco flúor passa para o lado oposto. Composição inorgânica da saliva A capacidade da saliva em manter o ambiente oral supersaturado com hidroxiapatita oferece um ambiente protetor e reparador aos dentes. Os componentes salivares envolvidos na manutenção da supersaturação são os íons cálcio e fosfato. Sob condições fisiológicas a capacidade tampão da saliva trabalha em conjunto com estes íons para manter supersaturação, com um pH próximo ao neutro no ambiente oral. Cálcio salivar A concentração de cálcio na saliva aumenta levemente dos estados não estimulados para os estados estimulados de secreção, mas permanece dentro de uma faixa de 1 a 2 mmol/L. A forma ionizada e livre do Cálcio num determinado PH e força iônica é igual a atividade do cálcio na saliva e combinada todas as três formas (ligadas à proteína e humanizada e não e organizada) perfazem a concentração total de cálcio. O cálcio não ironizado que não está ligado as proteínas fica mais ou menos ligado aos íons inorgânicos, como fosfato e bicarbonato assim como aos íons orgânicos e em quando o pH da saliva e a força iônica aumentam nas altas taxas de fluxo. Fisiologia Especial Haverá mais cálcio na forma não ionizada essas relações ocorrem em função da probabilidade aumentada dos íons em encontrar e formar pares com muitos íons em solução (Isto é alta força iônica) e pela formação de diversos complexos iônicos com cálcio em PH elevado. O cálcio que carrega duas cargas positivas também pode ser fortemente ligado a espécies iônicas com duas cargas negativas e uma configuração adequadamente estéril formando um anel de quelação, assim a concentração de cálcio ionizado livre na saliva pode ser reduzida em níveis muito baixos que afetam o nível de saturação em relação a hidroxiapatia e posteriormente aceleram a desmineralização dentária. Fosfato na saliva o fosfato inorgânico consiste de ácido fosfórico (HP04), diidrogénio fosfato (H:POI), hidrogénio fosfato (HPOi) e fosfato (PO.L). Semelhante ao cálcio, parte do fosfato da saliva é ionizado, correspondendo à atividade do fosfato (diferente para cada forma), e parte na forma não ionizada (fosfato ligado). Quanto menor o pH, menor a concentração de fosfato e maior a concentração de ácido fosfórico, e vice-versa. Assim, a concentração do íon individual relativa ao outro é determinada pelo pH da saliva e pelas constantes de dissociação (pK) para cada um dos três equilíbrios envolvidos no sistema tampão do fosfato. A soma de todos os quatro íons iguala a concentração total de cálcio. Em contraste ao cálcio, a concentração total de fosfato diminui drasticamente com as taxas aumentadas de fluxo salivar. Do estado de repouso ao estado de alta estimulação salivar, a concentração total de fosfato na saliva pode cair de I0 mmol/L para 2-4 mmol/L. Assim, a concentração total de fosfato é determinada pela taxa do fluxo salivar. Em contrapartida, a concentração de fosfato na saliva é determinada pelo pH da saliva porque será reduzida em níveis muito baixos pelo pH salivar reduzido. Este é o motivo pelo qual baixos valores de pH salivar são mais danosos para os dentes do que a concentração total de fosfato reduzida na saliva. Grau de saturação É importante a saliva ter uma composição que proteja os dentes contra a desmineralização, as atividades salivares de cálcio e fosfato (formas ionizadas) se tornam importantes porque ambos os íons são parte da unidade celular da hidroxiapatita na forma repetida. as unidades celulares formam os cristais de hidroxiapatita que são os componentes inorgânicos principais dos dentes humanos. Quando as atividades dos íons cálcio, fosfato e hidroxila são conhecidas, o produto da atividade iónica para a hidroxiapatita na saliva pode ser calculado por uma fórmula. A partirdesta expressão, pode-se ver que o produto da atividade iónica aumenta com o incremento de atividade destes íons na saliva e vice-versa. Embora ambas as concentrações totais de cálcio e fosfato na saliva influenciem o produto da atividade iónica, o fator mais importante é o pH da saliva. Assim, a diminuição de uma unidade no pH (de 6 para 5) vai diminuir a atividade do íon hidroxila I0 vezes e a atividade do íon fosfato em IM) vezes, reduzindo assim o produto total da atividade em muitas vezes para a hidroxiapatita. Numa solução aquosa pura, em que existe um equilíbrio completo entre a água e os dentes, o produto da atividade iónica será igual ao produto de solubilidade da substancia dentária. Assim, o produto de solubilidade é uma constante que precisa ser determinada. À temperatura bucal, o produto de solubilidade para a substancia dentária é de 10-0' mol'L-'S. Se o produto da atividade iónica for maior que o produto de solubilidade, a saliva está supersaturada e pode ocorrer a remineralização. Se o produto da atividade iónica é menor que o produto de solubilidade, a saliva está subsaturada e pode ocorrer desmineralização. Entretanto, a supersaturação ou subsaturação da saliva não implicam que algo vai ocorrer com a substância dentária, mas que pode ocorrer. Isto porque a saliva contém proteínas específicas com efeitos inibitórios nestes processos. pH crítico Quando o produto de atividade iónica é igual ao produto de solubilidade da hidroxiapatita, a solução está saturada e não ocorre remineralização ou desmineralização. Na literatura odontológica, o valor do pH que corresponde a este nível de saturação geralmente é denominado pH crítico. O valor do pH critico é referido como um valor fixo igual a e usado como limiar para determinação quando a desmineralização dentária pode ocorrer na cavidade oral. O valor foi determinado na saliva humana e assim refere-se apenas a este fluido e não a outros como as bebidas não alcoólicas ou água com diferentes composições químicas. Os determinantes principais do pH critico são as concentrações totais de cálcio e fosfato na saliva. Já que variações fluxo dependentes nas concentrações totais de cálcio e fosfato ocorrem na saliva humana, o pH crítico pode variar para uma unidade acima do pH crítico com diversas taxas de fluxo. A saliva não estimulada terá pH crítico menor que a saliva estimulada em função de uma concentração total maior de fosfato na saliva não estimulada. Diversos indivíduos também podem ter diferentes valores de pH crítico em função das variações interindividuais nas concentrações totais de cálcio e fosfato na saliva. Assim, o pH crítico na saliva não é uma constante, mas uma variável dinâmica, que fica ao redor de um pH médio igual a 5,5. Fisiologia Especial Capacidade tampão da saliva e controle do pH Após a ingestão de alimentos que contém açúcar, o pH da placa cai e permanece reduzido até que o açúcar seja removido da boca e as bactérias que produzem ácido sejam tamponadas. A magnitude da queda no pH é determinada pela quantidade de ácido produzida pelas bactérias e pela capacidade tampão da saliva, este último ato contrapondo a queda no pH. Uma medida mais simples para a capacidade tampão da saliva é o "efeito tampão", que é determinado pela adição de uma quantidade fixa de ácido numa quantidade fixa de saliva e, então, tem-se a leitura do pH final. A partir das curvas de titulação, a capacidade tampão da saliva pode ser determinada em milimoles de íons hidrogénio/ (litro de saliva unidade de pH) num certo intervalo de pH, já que a capacidade tampão pode ser determinada para uma faixa limitada pH, este método permite uma descrição detalhada do tema tampão na saliva humana, que pode ser caracterizado como fosfato, bicarbonato e proteico. O sistema tampão fosfato O pK para esse equilíbrio fica ao redor de 7 na saliva humana, onde o pK é a constante de dissociação que indica quando metade do sistema tampão está na forma básica e metade, na forma ácida. Em geral, tampões como o fosfato e bicarbonato tem seus melhores efeitos na faixa de I unidade de pH ao redor dos seus valores individuais e com a maior capacidade no valor do pK. Já que a concentração total de fosfato na saliva diminui com uma taxa de fluxo aumentada, a contribuição do fosfato para a capacidade tampão geral diminui entre 50% na saliva em repouso até 10% na saliva superestimulada. O sistema tampão bicarbonato As concentrações de bicarbonato na saliva variam de 3-5 mmol/L na saliva em repouso até o nível plasmático venoso de 25-28 mmoI/L na saliva superestimulada. Devido às variações, a contribuição do tampão bicarbonato para a capacidade geral varia desde menos da metade da saliva com repouso para mais de 90% na saliva estimulada, produzida em altas taxas de fluxo. Entretanto, apesar desses efeitos, a capacidade tampão da saliva humana ainda é moderada, comparada, por exemplo, com a capacidade tampão do leite. Após alguma dissolução ter ocorrido, o sistema tampão da saliva pode superar o desafio ácido remanescente na produção de ácido pela placa dentária e, assim, aumentar o pH da placa, como mostrado pela curva de Stephan. Saliva e risco de desenvolvimento de lesões cariosas Em geral, a cárie pode se desenvolver em todos os indivíduos, independentemente do fluxo e da composição salivar. Nos pacientes que receberam radiação na região de cabeça e pescoço, e também nos pacientes com doenças autoimunes das glândulas salivares como na síndrome de Sjógren primária, a ausência de saliva pode levar ao desenvolvimento rápido de cárie, mesmo em locais atípicos como superfícies lingual, incisal e ponta de cúspide. Assim, o conhecimento sobre a condição salivar num determinado paciente é uma ferramenta valiosa na identificação de pacientes em risco, e pode dar ao clínico a possibilidade de avaliar o prognóstico e plano de tratamento individualmente. Quantidade de saliva Nos pacientes com quantidade reduzida, as propriedades mecânicas e de limpeza estão dificultadas. Assim, diversos estudos clínicos têm mostrado que uma capacidade reduzida na produção de saliva está associada com experiência de cárie aumentada. Um fluxo salivar baixo e especialmente uma taxa não estimulada também parecem favorecer uma microbiota mais acídica e cariogênica rica em bactérias acidogênicas e acidúricas, como os lactobacilos e estreptococosmutans. Os efeitos longitudinais do fluxo salivar baixo são muito mais complexos que as ações puramente mecanísticas relacionadas aos tempos prolongados de limpeza. O primeiro passo na identificação de um indivíduo com potencial hipofunção da glândula salivar inclui um questionamento abrangente a ele, incluindo questões sobre ingestão de medicamentos, doenças crónicas e terapia de irradiação prévia para região de cabeça e pescoço. Ele também deve incluir questões sobre os sintomas de secura bucal e funções orais comprometidas relacionadas à secreção salivar como requisito mínimo, a quantificação da saliva deveria ser realizada cm pacientes com sintomas de xerostomia, e nos pacientes em que a inspeção clínica de rotina mostra uma atividade de cárie aumentada ou comprometimento da integridade da mucosa (secura ou infecção por fungos). Fisiologia Especial A qualidade da saliva Os dentes que sio mais banhados pela saliva, os incisivos e caninos inferiores, são menos suscetíveis às cáries que os dentes em outras regiões bucais. Tais diferenças intraorais para suscetibilidade de cárie resultam em parte das diferenças intraorais na limpeza, e também das diversas substancias na saliva que protegem contra a cárie. Ainda, a introdução de medidas preventivas poderosas de controles como o dentifrício fluoretado, pode de alguma forma ter reduzido a importância dos fatores biológicos mais fracos, como a capacidade tampão salivar c os níveis de saturação da hidroxiapatita. Uma melhora no sistema antimicrobiano individual, ou um aumento na concentraçà0 proteica antimicrobiana salivar (ex., por alguns produtos de higiene), geralmente não fornece melhor proteção contracárie nos indivíduos com fluxo salivar normal. Entretanto, diversos estudos tem mostrado uma relação inversa entre a atividade aglutinadora da saliva e colonização por Strcptococcusmutans, e também uma correlação positiva entre a atividade promotora de adesão para microrganismos patogénicos da saliva e a cárie dentária. Visto que 0 perfil individual das proteínas salivares que medeiam a aglutinação c inibição da adesão bacteriana parece ser geneticamente determinado, novos aspectos sobre a composição salivar na cárie dentária podem surgir no futuro. Tratamento da hiperfunção das glândulas salivares Pacientes com hiperfunção da glândula salivar estuo dispostos a cárie e infecções na mucosa bucal. aconselhamento sobre dieta, assim como aplicaçác regular de flúor tópico para reduzir a atividade de cárie c ajudar na preservação da dentição. Nos pacientes com fluxo salivar reduzido, o efeito benéfico do flúor na substancia dentária é prolongado em função da limpeza oral reduzida. O estímulo gustatório ou mastigatório com uso regular de doces ou goma de mascar sem açúcar sio estimulantes ao aumento da secreção salivar. Sialogogos farmacológicos (ex., pilocarpina e cevimelina), através da ação dos receptores muscarinicos colinérgicos no tecido glandular salivar, podem aumentar a secreção nos pacientes com tecido glandular remanescente. Eles deveriam ser prescritos somente com a concordância do médico do paciente, evitando-se efeitos colaterais inesperados como o agravamento da doença cardíaca ou interações medicamentosas. Observações finais A saliva possui diversos efeitos na proteção contra cárie, alguns pela inibiçáo das bactérias, outros pela diluição e eliminação das bactérias e seus substratos, pelo tamponamento dos ácidos bacterianos, ou pelo ambiente reparador depois da desmineralização dentária induzida por bactérias. Os pacientes que sofrem de hipofunçà0 da glândula salivar estio em risco de desenvolvimento de cárie, e riam receber um programa profilático individual. incluindo tratamento preventivo intenso contra cárie. Isto representa instruções para melhorar a higiene oral do paciente, aconselhamento dietético adequado, e uso direcionado de antimicrobianos e aplicação regular de flúor tópico para ajudar a preservar a dentição quando a proteção natural dada estiver reduzida. Fisiologia Especial
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