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CONCEITO Hábito intestinal alterado, caracterizado por aumento do número de evacuações e/ou diminuição da consistência das fezes Aumento do número de evacuações > 3x/dia Diminuição da consistência Aumento da fluidez – água > 60-75% Aumento da massa fecal = acima de 200mg/dia ou 10ml/jg/dia Considerar que neonatos e lactentes, em aleitamento materno exclusivo, podem apresentar esse padrão de evacuação sem que seja considerado diarreia aguda Disenteria é a dirreia com a presença de sangue e/ou leucócitos nas fezes Diarreia Aguda: possui duração de até 14 dias e é um processo autolimitado e benigno. É uma síndrome infecciosa que gera agressão ao tecido delgado e/ou grosso. Ocasiona má absorção de água e eletrólitos. EPIDEMIOLOGIA Maior problema mundial de saúde na criança 1,5 milhões de morte/ano conforme a ONU No Brasil, as regiões Norte e Nordeste concentram os maiores índices de mortalidade Média de 3 episódios de diarreia/ano/crianças em crianças menores que 5 anos nos países em desenvolvimento No Brasil, estima-se que as crianças tenham em média 25 dias de diarreia por ano A média das diarreias no Brasil é de 8 dias FATORES DE RISCO Menores de 1 ano Escolaridade dos pais Desnutrição Nível socioeconômico (falta de saneamento, acesso aos serviços de saúde, habitação precária). Lactentes, menores de 1 ano, com curto tempo de aleitamento materno exclusivo e algum grau de desnutrição vivendo em condições desfavoráveis. ETIOLOGIA Mundialmente as causas infecciosas apresentam maior prevalência e impacto na saúde das crianças, principalmente nos maiores de 5 anos. Causas não infecciosas mais frequentes: alergias, intolerâncias, erros alimentares, alguns medicamentos Causas infecciosas: os vírus são os principais causadores de bactérias infecciosas Rotavírus: presente em quase 40% das diarreias agudas nas crianças nos países em desenvolvimento, sendo, portanto, o principal responsável pelos episódios de diarreia aguda. Representam 40% dos casos graves com hospitalização. É altamente contagioso, com forma de transmissão fecal-oral. O quadro clínico se inicia com vômitos, diarreia aquosa (> 10 episódios/dia) e febre. Geralmente é precedido por IVAS. Geralmente ocorre em crianças menores de 5 anos e possui o pico de incidência na faixa etária de 6 a 24 meses. Calicivírus: principais agentes de surtos epidêmicos de gastroenterites virais transmitidos por contaminação alimentar Adenovírus: causam, com mais frequência, infecção do aparelho respiratório, mas dependendo do sorotipo podem causar quadros de gastroenterite Astrovírus: são menos prevalentes. Associados a infecções nosocomiais, surtos de diarreia em creches e diarreias em imunodeprimidos. Pode ocorrer em adultos e crianças, mas os lactentes são os mais acometidos. A transmissão é pessoa-pessoa. Resuminho Medicina Geralmente provoca quadros de diarreia leve e autolimitada. As diarreias de causa bacteriana e parasitárias são mais prevalentes nos países em desenvolvimento e têm pico de incidências nas estações chuvosas e quentes. Os agentes parasitários mais frequentemente envolvidos na etiologia da diarreia aguda são: Cryptosporidium parvum, Giardia intestinalis, Entamoeba hystolica e Cyclospora cauyetamensis Principal causa de diarreia bacteriana = E. coli. É um bacilo gram negativo da família Enterobacteriaceae. Existe seis categorias: ECEPatogênica, ECEToxinogênica, ECEinvasiva, ECEHemorrágica, ECEAgregativa, ECEDifusamente aderente. Enterotoxêmica (ECET): transmissão acontece pela ingesta de água contaminada. O quadro clínico consiste em diarreia aquosa, explosiva, dor abdominal e febre durando em média 5 dias. É conhecida como diarreia dos viajantes e é a principal causa de diarreia bacteriana no Brasil. Enterohemorrágica (ECEH): coloniza principalmente cólon distal e íleo distal. Quadro clínico começa com diarreia aquosa que evolui para diarreia com sangue, febre e dor abdominal com duração média de 4 dias. Possui como complicações prolapso retal, colite e síndrome hemolítica urêmica (SHU = insuficiência renal aguda, anemia hemolítica e trombocitopenia) TRANSMISSÃO A transmissão da maioria dos patógenos que causam diarreia é fecal-oral. FISIOPATOLOGIA Algumas barreiras do sistema digestório potencializado em crianças que usam leite materno exclusivo = ph ácido gástrico, flora bacteriana normal, peristaltismo intestinal, mucinas presentes na camada de muco que reveste a superfície luminal dos enterócitos, fatores antimicrobianos como lisozimas e lactoferrina e o sistema imune entérico Para que ocorra diarreia aguda infecciosa, os microorganismos precisam romper essa barreira e aderir à superfície da mucosa. Depois da aderência à superfície celular, os microorganismos exercem seus fatores de virulência por meio da produção de enterotoxina, citotoxina e lesão da mucosa intestinal de intensidade variada, podendo até determinar em alguns casos infecção generalizada. Dependendo do fator de virulência do microorganismo podem ocorrer mecanismos fisiopatológicos de diarreia aguda: osmótico, secretor, invasiva/inflamatória, síndrome do intestino curto (normalmente quando se realiza algum procedimento cirúrgico) e alterações da motilidade intestinal. Diarreia Osmótica Predomina nos quadros virais Os agentes infecciosos causam lesões focais com infecção das células vilositárias apicais que concentram as dissacaridades, principalmente a enzima lactase. Com a destruição desses enterócitos e a reposição por células imaturas, há diminuição da atividade enzimática, reduzindo a absorção de carboidratos, com ênfase na lactose. Os açúcares não absorvidos aumentam a pressão osmótica da luz no espaço intestinal, o que determina a maior passagem de água e eletrólitos para o espaço intraluminal para manter o equilíbrio osmótico. Principal etiologia é a má absorção de hidratos de carbono Quadro clínico: eliminação de fezes líquidas e volumosas, amareladas, com caráter explosivo e com grande perda hidroeletrolítica. Os vômitos são frequentes e precoces. A febre, geralmente alta, acontece em metade dos casos. Diarreia Secretora Caracterizada por perda de grande volume de água e eletrólitos, por ação de enterotoxinas que estimulam os mediadores de secreção, levando à diminuição da absorção de água e íons e à secreção ativa pelas criptas. Etiologias: Enterotoxinas: V. cholerae, E. coli, S. aureus, secretagogos hormonais Hipersecreção gástrica: síndrome de Z. Ellison, Síndrome do intestino curto Laxantes: ácido recinoleico, bisacodil, fenolftaleína Sais biliares: doença/ressecção ilear, obstrução das vias biliares Ácidos gordos Quadro clínico: diarreia persistente com jejum, volume >1L/dia, dejecões muito aquosas, fezes sem sangue, muco ou pus e poucos sintomas sistêmicos presentes (febre ausente ou baixa e vômitos surgem com a desidratação). Diarreia Exsudativa/Invasiva/Inflamatória Ocasionada por algumas bactérias Há lesão da célula do epitélio do intestino que impede a absorção de alguns nutrientes As bactérias invadem a mucosa e podem chegar à submucosa, com consequente aparecimento de sangue e leucócitos nas fezes Etiologias: Doença Inflamatória Intestinal Idiopática: Doença de Crohn, colite ulcerativa Infecção: shigella, salmonela, camplytobacter, yersínia, amebíase, C. dificille Isquemia Vascular Radiações Tumoral Quadro clínico: diarreia de grande volume tipo disentérica. Fezes com sangue, muco e pus. Febre, mal estar, vômitos, dor abdominal do tipo cólica. Os sintomas sistêmicosserão tão mais intensos quanto maior for o potencial invasivo do patógeno. Em algumas situações, os microrganismos podem atingir a circulação sistêmica, afetando órgãos à distância como articulações, fígado, baço e sistema nervoso central. Diarreias Agudas Disentéricas Muco, pus e sangue. Representam 10%. Bactérias: Campylobacter jejuni: principal causa de disenteria em países desenvolvidos. Comum a presença de animais domésticos nas casas. A clínica é de diarreia aquosa leve que por volta do segundo dia evolui para disenteria com tenesmo e cólicas abdominais. Fezes em pequena quantidade, com elevada frequência, associada à eliminação de sangue, pus e muco. Associada à Síndrome de Guillain-Barré, artrite reativa, eritema nodoso e Síndrome de Reiter. Shigela: é a principal causa de disenteria. Toxina de shiga – Síndrome Hemolítica Urêmica (IRA, anemia hemolítica e trombocitopenia). Clínica semelhante à disenteria por Campylobacter. Laboratório apresenta aumenta dos leucócitos fecais/leucocitose com desvio à esquerda. Salmonella: a transmissão é por meio de produtos de animais contaminados (carnes, ovos, leite, ave). A clínica é de início abrupto com febre, cólicas e diarreia líquido. Em alguns casos, sangue e muco. Algumas crianças podem ter doença intensa, com febre elevada, cefaleia, confusão mental, meningismo e convulsões. COMPLICAÇÕES DA DIARREIA AGUDA Desidratação Distúrbios hidroeletrolíticos Desnutrição Diarreia persistente DIAGNÓSTICO Eminentemente clínico Deve constar na anamnese: duração da diarreia, característica das fezes, número de evacuações diarreicas por dia, vômitos, febre, diurese, uso de medicamentos, sede, apetite, viagem recente, contato com pessoas com diarreia, ingestão de alimentos suspeitos e uso recente de antibióticos. Buscar sinais de desidratação no exame físico: mucosas secas, alterações ortostáticas de FC e PA, oligúria Exames complementares: solicitar apenas para pacientes lactentes muito jovens (menores de 2 meses), desnutridos graves (abaixo do percentil 3) e imunodeprimidos. Exame de Fezes: pesquisa de alimentos anormais, parasitológicos, coprocultura, ph fecal e pesquisa de vírus Hemograma completo, eletrólitos, gasometria e hemocultura: solicitar em casos mais graves com repercussão hemodinâmica TRATAMENTO 1. Terapia de reidratação oral (TRO) Composição do mmol/L recomendada pela OMS: Sódio = 75 Potássio = 20 Cloro = 65 Glicose = 75 Osmolaridade = 245 2. Plano A – Criança Hidratada Não há necessidade de esquema terapêutico rígido Orientar familiares sobre a evolução natural da doença e os riscos de complicações Aumentar a ingestão hídrica (soluções caseiras) após cada evacuação diarreica: < 1 ano: 50 a 100ml > 1 ano: 100 a 200ml > 10 anos: quantidade que desejar Manter a dieta habitual da criança Administrar Zinco 1x/dia durante 10-14 dias. Reduz a duração e gravidade do episódio atual e faz a prevenção contra novos episódios nos próximos 2-3 meses Até 6 meses de idade: 10mg/dia Maiores que seis meses de idade: 20mg/dia Além do soro de hidratação oral, são considerados líquidos adequados: sopa de frango com hortaliças e verduras, água de coco e água Soro Caseiro: 1 copo de 200ml de água + 1 medida rasa de sal + 2 medidas rasas de açúcar 3. Plano B – Crianças com Desidratação Terapia de reidratação oral (na unidade de saúde). Soro 50- 100ml/kg durante 4-6 horas. Forma de administração = hábito da criança Alimentação: manter aleitamento materno Reavaliar frequentemente: sinais clínicos, peso e diurese Critérios de alta: hidratada (segue como plano A) Gastróclise: reposição por sonda nasogástrica Volume: 20-30ml/kg/hora durante 4-6 horas Indicações: dificuldade de ingestão do soro de reidratação oral, vômitos persistentes em terapia de reidratação oral, distensão abdominal acentuada com RHA +, perda de peso após 2 horas de terapia de reidratação oral 4. Plano C – Desidratação Grave na Unidade Hospitalar Fase rápida (expansão) para menores de 5 anos: repetir até que a criança fique hidratada Soro Fisiológico 0,9%: iniciar com 20ml/kg de peso. Repetir essa quantidade até que a criança esteja hidratada, reavaliando os sinais clínicos após cada fase de expansão administrada. Para RN e cardiopatadas começar com 10ml/kg de peso. Tempo de duração de 30min. Fase rápida (expansão) para maiores de 5 anos: Soro Fisiológico 0,9%: 30ml/kg em 30 min Ringer Lactato: 70ml/kg em 2 horas e 30 min INDICAÇÕES PARA INTERNAÇÃO HOSPITALAR Perdas hídricas superiores a 5% Dificuldade para terapia de reidratação oral em domicílio Persistência da diarreia e vômito apesar da terapia de reidratação oral Lactentes menores de 2 meses com diarreia e vômito Desnutrição USO DE ANTIMICROBIANOS Objetivos: casos graves de diarreia invasiva, febre elevada e grande repercussão sobre o estado geral, desnutridos graves, RN e lactentes pequenos, imunodeprimidos.
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