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Febre amarela – profa Francielle Vargas 1 Febre amarela A febre amarela é uma doença infecciosa febril ou arbovirose causada por um vírus de RNA do gênero Flavivírus da família Flaviviridae com tropismo pelo fígado, sendo endêmica na Amazônia com ocorrência sazonal (maior incidência entre dezembro e maio). Transmissão: ocorre durante a hematofagia pela picada da fêmea do mosquito vetor. No ciclo silvestre o vetor costuma ser mosquitos dos gêneros Haemagogus ou Sabethes, enquanto que o macaco é o principal hospedeiro (epizootia) e a transmissão para o homem é acidental. Enquanto isso, no ciclo urbano o vetor é o Aedes aegypti e o homem é o principal hospedeiro – não ocorre desde 1942. No mosquito a transmissão pode ser vertical. O período de incubação intrínseca corresponde ao tempo entre a picada do mosquito e o início dos sintomas, esse que varia entre 3 a 6 dias e pode se estender por até 15 dias. A incubação extrínseca corresponde ao tempo deste a ingestão do vírus pelo mosquito até a replicação em suas glândulas salivares e nova transmissão, levando cerca de 8 a 12 dias. No homem, a viremia inicia-se entre 24 e 48h antes dos sintomas e se estende por 3 a 5 dias após início da doença. Nos mosquitos, a fêmea pode transmitir durante toda sua vida, cerca de 6 a 8 semanas. A suscetibilidade é universal e a infecção confere imunidade duradoura que pode se estender por toda a vida. Quadro clínico: após a transmissão, tem-se replicação do vírus e disseminação para linfonodos e outros órgãos, como baço e fígado – iniciando a fase de viremia. De modo geral, cerca de 40 a 65% dos infectados evoluem para quadros assintomáticos, 20 a 30% para formas leve ou moderada, 10 a 20% para as formas graves e 5 a 10% para a forma maligna com evolução para morte. No período de infecção (3 a 4 dias) tem-se sintomas inespecíficos como febre, calafrios, dores pelo corpo, prostração, náuseas e vômitos – 90% melhoram e 10% evoluem para a segunda fase. No período toxêmico (7 a 10 dias) tem-se reaparecimento da febre e sintomas decorrentes da insuficiência hepática e renal – fase com letalidade de cerca de 50%. Nesse momento surgem os anticorpos e desaparece a viremia. O período afebril antes da toxemia é de cerca de 48 horas. O óbito acontece em 20 a 50% das formas graves e, em geral, ocorre do 7º ao 10º dia de doença. É precedido por piora da icterícia, hemorragias, taquicardia, hipotensão, oligúria e azotemia, sendo que prenunciam a letalidade sinais como hipotermia, agitação, anúria, estupor e coma. O principal alvo é o fígado, gerando focos hemorrágicos, necrose das áreas centrais dos hepatócitos, corpúsculos de Councilman e corpúsculo de Torres. Pode-se ter insuficiência hepática com icterícia, aumento das transaminases, Febre amarela – profa Francielle Vargas 2 hipoglicemia, encefalopatia hepática, plaquetopenia e distúrbios de coagulação por deficiência nos fatores de coagulação hepáticos (II, V, VII, IX e X). Como comprometimento cardíaco pode-se ter bradicardia (sinal de Faget: bradicardia e hipertermia), arritmias, hipotensão, miocardite aguda, entre outros. Os rins podem ser comprometidos por ação direta pelo vírus, que promove lesão tubular, proteinúria e elevação de escórias nitrogenadas, causando insuficiência renal – que também pode ser pré-renal secundária à diminuição do fluxo sanguíneo renal por redução do débito cardíaco. Essas disfunções orgânicas estão associadas a uma exacerbada resposta inflamatória sistêmica com liberação de substâncias pró-inflamatórias e citocinas (TNF, IL-1, IL-2, IL-6, IL-8, IL-12, IL-16, NO). Essa “tempestade de citocinas” desencadeia eventos como lesões endoteliais, fibrinólise, distúrbios de coagulação, aumento da permeabilidade capilar e o extravasamento plasmático, tornando-se a principal causa da hipotensão e choque hemodinâmico da forma grave da febre amarela, que se assemelha clinicamente ao choque séptico. Essas alterações, somadas às disfunções cardíaca, renal, da coagulação e principalmente hepática, vão levar à falência de múltiplos órgãos e a um choque refratário à reposição de fluidos e vasopressores. Diagnóstico: como manifestações inespecíficas pode-se ter leucopenia, neutropenia, plaquetopenia, anemia, elevação expressiva das transaminases, bilirrubinemia sustentada por aumento de bilirrubina direta, hipercolesterolemia, aumento de ureia e creatinina, elevação do TTPa e do tempo de protrombina, albuminúria, hematúria, cilindrúria e VHS baixo. O diagnóstico específico é feito por isolamento viral através dos exames de PCR ou cultura em células de C6/36 entre o 4º e 7º dia da doença. Os testes sorológicos podem ser feitos a partir do 6º dias de sintomas e repetidos após 14 dias se a primeira amostra vier negativa. Os exames por técnicas imunohistoquímicas permitem a detecção do antígeno viral ou do complexo vírus- IgM em amostras de tecidos, principalmente do fígado, baço, pulmão, rins, coração ou cérebro. Além disso, o exame histopatológico pode identificar o vírus pela análise de órgãos pós-morte. Diagnóstico diferencial: malária, leptospirose, sepse, dengue, mononucleose infecciosa, Influenza, hepatites virais, zika, Chikungunya, febre tifoide e outras síndromes febris agudas. Tratamento: não existe tratamento específico, devendo realizar medidas de suporte nas formas leves e suporte avançado em UTI nas formas graves. Em formas leves realiza-se hidratação via oral (60 ml/kg/dia) de acordo com a aceitação dos pacientes. Em caso de intolerância da hidratação por via oral, utilizar 30 ml/kg/dia de cristaloides (soro fisiológico 0,9% ou Ringer lactato) por via venosa. Além disso, prescreve-se sintomáticos para o manejo da dor e febre – evitando SALICILATOS. É necessário repetir, pelo menos, os exames de transaminases, creatinina, RNI e hemograma completo com intervalo máximo de 24 horas até o paciente completar 48 horas de remissão da febre. Prevenção: evitar o vetor e áreas silvestres, proteção individual em áreas suspeitas, monitoramento de mortalidade de macacos, controle do vetor urbano, vacinação, isolamento relativo de enfermos, notificação compulsória e investigação de óbitos (viscerotomia). Febre amarela – profa Francielle Vargas 3 No Brasil tem-se duas vacinas (Fiocruz ou Sanofi Pasteur) compostas de vírus vacinal amarílico vivo atenuado e cultivado em ovo de galinha – dose plena sem necessidade de dose de reforço. É feita em residentes em áreas com recomendação para vacinação (mesmo que temporária) e para indivíduos que se deslocam para estas áreas: 9 meses a 59 anos de idade, desde que não apresentem contraindicação. Também se realiza em indivíduos em viagens para países que exigem a vacinação, 10 dias antes da viagem, desde que não apresentem contraindicação – em maiores de 60 anos deve-se emitir o certificado de isenção da vacinação com justificativa, já que esses pacientes não são vacinados pelo risco de evoluir para um quadro de febre amarela grave. Como contraindicações tem-se imunossuprimidos, HIV com CD4 < 200 células/mm3, crianças < 6 meses, pacientes em quimio ou radioterapia, alergia a ovo de galinha e seus derivados (avaliar risco/benefício), pessoas com história de reação anafilática por substâncias da vacina, pacientes que tenham apresentado doença neurológica desmielinizante no período de 6 semanas após a aplicação da dose anterior da vacina, entre outros.
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