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Maria Beatriz Valença Saúde da Mulher 1 • Representada por um conjunto de sintomas físicos, emocionais e comportamentais, que apresentam caráter cíclico e recorrente, iniciando-se na semana anterior à menstruação e que aliviam com o início do fluxo menstrual. Esses sintomas ocorrem de uma a duas semanas do início da menstruação, ou seja, durante a fase lútea, sendo tipicamente grave o suficiente para interferir em alguns aspectos da vida; • Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM): é considerado um subtipo e também a forma mais grave da SPM. Entre 3 e 8% das mulheres têm sintomas muito intensos, interferindo nas suas atividades diárias e comprometendo a sua produtividade e qualidade de vida, o que constitui o transtorno disfórico pré- menstrual (TDPM); • A prevalência dos sintomas da SPM é de 75% a 80% nas mulheres em idade reprodutiva e com grande variação no número, duração e gravidade dos sintomas. Já a prevalência do TDPM é de 3% a 8% e os sintomas estão relacionados ao humor, como déficit de funcionamento social, profissional e familiar. • Considera-se que a etiologia da síndrome constitui um mecanismo de ordem multifatorial; • Parece ser consequência de uma interação complexa e pouco compreendida entre hormônios esteroides ovarianos, peptídeos opioides endógenos, neurotransmissores centrais, prostaglandinas e sistemas autonômicos periféricos e endócrinos; • Estudos comprovaram que não há alteração na dosagem sérica dos hormônios sexuais das mulheres com SPM quando comparadas às mulheres normais (grupo-controle). • A atividade cíclica ovariana e os efeitos do estradiol e progesterona sobre os neurotransmissores (serotonina e ácido gama-aminobutírico) apresentam-se como um dos possíveis mecanismos fisiopatológicos que precipitaria a ocorrência da SPM em mulheres mais sensíveis; • As flutuações dos hormônios esteroides ovarianos, na fase lútea, resultam em alterações do sistema 5-hidroxitriptamino (5-HT) no cérebro. O 5-HT é um neurotransmissor serotoninérgico implicado na regulação do humor e da ansiedade, como também na regulação do apetite, do sono e da excitação; • Além disso, os hormônios sexuais ovarianos modulam a expressão e os efeitos farmacológicos do receptor do ácido gama-aminobutírico (GABA). O GABA é considerado um regulador primário de afeto e do funcionamento cognitivo. • ALLO (alopregnanolona): é um neuroesteroide, atua como modulador positivo dos receptores GABA, similar ao álcool e aos benzodiazepínicos, com propriedades sedativas, ansiolíticas e anestésicas. Há a hipótese de que as mulheres com TDPM tenham resistência à ALLO. A progesterona e a ALLO aumentam na fase lútea e caem rapidamente com a menstruação. Essa exposição crônica, seguida por rápidos aumentos, parece estar envolvida com a etiologia do TDPM; • BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro): é uma neurotrofina, proteína que regula diversos aspectos do desenvolvimento e funções neuronais, como a estruturação e a plasticidade sináptica dos sistemas periféricos e centrais. É também a proteína mais abundante no cérebro, sendo responsável pelo desenvolvimento e pela manutenção neuronal. Seus níveis são modificados pelo estradiol e apresentam ciclicidade menstrual, assim como sofrem influência positiva dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs). Sugere- se que esteja associado à etiologia da SPM; • Fatores inflamatórios: A fase lútea está relacionada com aumento de produção de fatores pró-inflamatórios, como as interleucinas (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), quando comparada com a fase folicular. O nível de proteína C- reativa (CRP, do inglês C-reactive protein) varia ao longo do ciclo menstrual; contudo, um aumento da CRP é observado quando se administra progesterona. Algumas doenças inflamatórias também tendem a piorar no período pré-menstrual, como a síndrome do intestino irritável e as gengivites. • Os sintomas da SPM são muitos e variados; • Sintomas psicológicos: labilidade de humor (é o mais frequente – até 80% das pcts), ansiedade, irritabilidade, depressão, sentimento de desvalia, insônia ou aumento de sonolência, diminuição da memória, confusão, concentração diminuída e distração; • Sintomas físicos: aumento do volume abdominal e sensação de fadiga, cefaleia tensional, enxaqueca, mastalgia, dores generalizadas, aumento de peso, tonturas, náuseas e palpitação; • Mudanças de comportamento: hábitos alimentares, aumento de apetite, avidez por alimentos específicos (particularmente doces e comidas salgadas), não participação em atividades sociais ou profissionais, maior permanência em casa, aumento do consumo de álcool e aumento ou diminuição da libido. Tensão Pré-Menstrual (TPM) ou Síndrome Pré-Menstrual (SPM) ETIOLOGIA QUADRO CLÍNICO Maria Beatriz Valença Saúde da Mulher 1 • O diagnóstico da SPM é feito pela presença de sintomas físicos e/ou emocionais, em pelo menos cinco dias que antecedem a menstruação e também por pelo menos dois a três ciclos consecutivos. Os sintomas podem ser de leve a moderada intensidade; - Sintomas somáticos: mastalgia, distensão abdominal, cefaleia e inchaço de extremidades ou sensação de “inchaço geral”; - Sintomas emocionais: depressão, fúria, irritabilidade, ansiedade, confusão e isolamento social. • Assim como o TDPM, deve ser diferenciada de outros sintomas psiquiátricos que, eventualmente, se exacerbam no período pré- menstrual, e de algumas condições médicas como hipotireoidismo ou hipertireoidismo, fadiga crônica, enxaqueca e síndrome do intestino irritável; • Exames laboratoriais poderão ser realizados excepcionalmente, quando for necessário afastar outras patologias; • Por existir variabilidade dos sintomas de ciclo a ciclo, há necessidade deles serem relatados e anotados pelas mulheres, em diários prospectivos e estarem presentes em pelo menos de dois a três ciclos consecutivos. Para tanto, o médico pode lançar mão de questionários (DRSP e PSST), a serem preenchidos pela paciente, relatando seus sintomas durante todo o ciclo menstrual. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS NA GYNECOLOGISTS (ACOG) • Presença de um ou mais sintomas somáticos e/ou emocionais durante os cinco dias que antecedem o ciclo menstrual ou durante a fase lútea; • SPM LEVE: presença de até três sintomas (físicos ou emocionais); • SPM MODERADA: presença de até quatro sintomas. • Os critérios diagnósticos usados para diagnosticar o TDPM são aqueles estabelecidos pelo DSM V. DIAGNÓTICO DA SPM • Presença de 1 ou mais sintomas afetivos ou somáticos durante os 5 dias antes da menstruação em cada 1 de 3 ciclos menstruais prévios; ✓ Sintomas afetivos: depressão, raiva, irritabilidade, ansiedade, confusão, introversão; ✓ Sintomas somáticos: mastalgia, distensão abdominal, cefaleia, edema das ectremidades. • Sintomas aliviados pelo início da menstruação (sintomas aliviados em 4 dias do início da menstruação sem recorrências até pelo menos o dia 13 do ciclo); • Sintomas presentes na ausência de qualquer terapia farmacológica, consumo de hormônios ou abuso de drogas ou álcool; • Sintomas ocorrem reprodutivamente durante 2 ciclos prospectivos; • Pct apresenta disfunção identificável do desempenho social ou econômico. DIAGNÓTICO DO TDPM A. Na maioria dos ciclos menstruais, pelo menos cinco sintomas devem estar presentes na semana final antes do início da menstruação, começar a melhorar poucos dias depois do início da menstruação e tornar-se mínimos ou ausentes na semana pós-menstrual; B. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve estar presente: 1. Labilidade afetiva acentuada (p. ex., mudanças de humor, sentir-se repentinamente triste ou chorosa ou sensibilidade aumentada à rejeição); 2. Irritabilidade ou raivaacentuadas ou aumento nos conflitos interpessoais; 3. Humor deprimido acentuado, sentimentos de desesperança ou pensamentos autodepreciativos; 4. Ansiedade acentuada, tensão e/ou sentimentos de estar nervosa ou no limite. C. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve adicionalmente estar presente para atingir um total de cinco sintomas quando combinados com os sintomas do critério B: 1. Interesse diminuído pelas atividades habituais (p. ex., trabalho, escola, amigos, passatempos); 2. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar; 3. Letargia, fadiga fácil ou falta de energia acentuada; 4. Alteração acentuada do apetite, comer em demasia, avidez por alimentos específicos; 5. Hipersonia ou insônia; 6. Sentir-se sobrecarregada ou fora de controle; 7. Sintomas físicos como sensibilidade ou inchaço nas mamas, dor articular, sensação de “inchaço” ou ganho de peso. D. Os sintomas estão associados a sofrimento clinicamente significativo ou a interferência no trabalho, na escola, em atividades sociais habituais ou relações com outras pessoas (p. ex., esquiva de atividades sociais, diminuição da produtividade e eficiência no trabalho, na escola ou em casa); E. A perturbação não é meramente uma exacerbação dos sintomas de outro transtorno, como transtorno depressivo maior, transtorno de pânico, transtorno depressivo persistente (distimia) ou um transtorno da personalidade (embora possa ser concomitante a qualquer um desses transtornos); F. Critério A deve ser confirmado por avaliações prospectivas diárias durante pelo menos dois ciclos sintomáticos (Nota: O diagnóstico pode ser feito provisoriamente antes dessa confirmação); G. Os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). Maria Beatriz Valença Saúde da Mulher 1 • Estratégias de manejo para pacientes com SPM só podem ser realizadas seguindo uma quantificação adequada dos sintomas e um diagnóstico acurado. O tratamento deve ser individualizado; • O manejo inicial consiste em educação e orientação. As pacientes e seus familiares devem conhecer as características da SPM, pois ela é uma patologia endocrinoginecológica de causa incerta e não proveniente da imaginação da mulher. Apoio médico, empatia, discussão e paciência parecem ser bastante úteis; • As intervenções terapêuticas para a SPM variam desde abordagem conservadora (tratamento não-medicamentoso) até tratamento medicamentoso ou mesmo cirúrgico. • Prática de exercícios aeróbicos: pode elevar os níveis de endorfinas e, com isso, melhorar o humor; • Modificações na dieta: Recomenda-se que as pacientes tenham alimentação equilibrada – proteínas, fibras e carboidratos adequados e baixa ingestão de gorduras saturadas; alimentos muito salgados ou muito doces devem ser evitados, pois podem produzir retenção hídrica e consequente desconforto. Bebidas como café, chá e à base de cola devem ser evitadas, pois são estimulantes, podendo agravar a irritabilidade, a tensão e a insônia. Também o álcool e outras drogas podem piorar os sintomas psicológicos; • Uso de preparados herbários; • A prescrição de suplementos alimentares contendo vitaminas (vitamina B6), cálcio e magnésio pode ser feita para sintomatologia leve, sendo que mais estudos com boa qualidade metodológica são necessários para se determinar a real eficácia desses regimes terapêuticos; • Terapia cognitivo-comportamental: tem demonstrado eficácia no tratamento da SPM, auxiliando a modificar a irritabilidade e a forma de lidar com os momentos de estresse; • Acupuntura: vem demonstrando benefícios quando comparada com o uso de progesterona e ansiolíticos, o que mostra um novo potencial terapêutico não farmacológico; • A utilização do extrato etanólico seco de Vitex agnus-castus demonstrou ser eficaz no alívio dos sintomas da SPM, o mesmo não sendo observado quando do uso do óleo de prímula, carecendo, portanto, de evidências que justifiquem a sua utilização nessa condição. • As opções de tratamento medicamentoso seguem duas linhas: 1. Aquela que influencia o sistema nervoso central (particularmente moduladores do neurotransmissor serotonina); 2. Aquela que suprime a ovulação. ANTIDEPRESSIVOS SEROTONINÉRGICOS: • Os ISRSs são considerados fármacos de primeira linha, eficazes e de boa tolerabilidade para o tratamento da SPM e do TDPM; • Os medicamentos mais utilizados são citalopram, fluoxetina, paroxetina, sertralina e um inibidor seletivo da recaptação de noradrenalina (ISRN) (antidepressivo de outra classe), a venlafaxina; • Os ISRSs podem ser usados de forma contínua ou intermitente, a partir do 15° dia do ciclo. Contudo, o tratamento intermitente tem sido particularmente útil para sintomas de irritabilidade, labilidade emocional, e o tratamento contínuo, mais útil em tratamentos de quadros depressivos. Isso deve-se à rápida resposta dos ISRSs sobre a ALLO; Obs.: Material do professor: Esses medicamentos geralmente são usados diariamente, mas para algumas mulheres são indicados para utilização durante a fase lútea ou de sete a dez dias antes do início do ciclo menstrual. As doses diárias recomendadas são de 10 mg a 20 mg para fluoxetina; 10 mg a 30 mg para paroxetina e 25 mg a 50 mg para sertralina • O tratamento com os ISRS destina-se principalmente para aquelas mulheres com maior prevalência primária para os sintomas emocionais graves ou com o TDPM. Eles podem ser prescritos associados ou não aos contraceptivos hormonais; • Os ISRSs apresentam perfil bastante seguro, não havendo efeitos residuais após a interrupção do medicamento; • Existe um estudo demonstrando que a fluoxetina está associada a uma alteração de mais ou menos 4 dias na duração dos ciclos menstruais; • As alterações na função sexual dificultam a adesão ao tratamento; • O citalopram apresenta um perfil de efeitos colaterais menor, pode ser utilizado de forma intermitente e seu maior inconveniente é o custo; • Diferentemente do tratamento de quadros depressivos, os quadros disfóricos pré-menstruais podem apresentar melhora dos sintomas já alguns dias após o início da medicação; TRATAMENTO INTERVENÇÕES NÃO-MEDICAMENTOSAS INTERVENÇÕES MEDICAMENTOSAS AGENTES PSICOTRÓPICOS Maria Beatriz Valença Saúde da Mulher 1 • Aparentemente, não há diferença na efetividade dos ISRSs para o TDPM em usuárias e não usuárias de anticoncepcionais orais combinados (ACOs). BENZODIAZEPÍNICOS: • Sedativos como os benzodiazepínicos (alprazolam 0,25 mg 2 ×/dia na fase lútea) fazem parte dos recursos terapêuticos da SPM e são comprovadamente eficazes, mas é preciso considerar os riscos de dependência e a rápida tolerância induzida por esses medicamentos; • Eles estariam indicados em situações de extrema ansiedade, sempre com muito critério. Obs.: A SPM tem melhora conhecida com placebo. ANTICONCEPCIONAIS ORAIS COMBINADOS: • Os ACOs eliminam a ciclicidade ovariana e poderiam ter eficácia terapêutica, principalmente para as mulheres com dismenorreia e mastalgia pré-menstrual, embora os resultados na literatura sejam controversos e não haja evidência de que possam aliviar os sintomas pré-menstruais; • Uma possibilidade seria a tomada de ACO contínuo. A formulação contendo 30 μg de etinilestradiol + 3 mg de drospirenona tem sido considerada eficaz no tratamento dos sintomas pré-menstruais; • A formulação de ACO de primeira escolha para o tratamento de sintomas emocionais e físicos do TDPM contém 20 μg de etinilestradiol + 3 mg de drospirenona no regime 24/4 ( 24 dias de tomada e 4 dias de parada); • A maior parte desses contraceptivos hormonais, entretanto, apresenta como componente progestogênico derivados da 19-nortestosterona, o que possibilita o surgimento de eventos adversos similares aos da SPM, tais como retenção hídrica e irritabilidade. Dessa forma, apesar de serem capazes de inibir a ovulação, estabilizando as variações hormonais, o uso dos anticoncepcionais hormonais combinados apresenta efeitos divergentes, com algumas mulheres referindo grande melhora no quadro clínico e outras se queixando de piora; • Os anticoncepcionais hormonais combinados contendo a drospirenona como componente progestogênico e utilizados tanto em ciclos de 21 quanto ciclos de 24 dias com pausa de sete ou quatro dias, respectivamente, pelo período de três ciclos menstruais consecutivos, demonstram melhoras nos sintomas pré-menstruais. DANAZOL: • É um análogo androgênico; • Inibe as gonadotrofinas quando administrado em altas doses, e pode ser utilizado para reduzir sintomas da SPM; • Tem mostrado eficácia no alívio da mastalgia; contudo, não melhora significativamente os sintomas emocionais da SPM; • Seu uso prolongado pode provocar masculinização e outros efeitos colaterais, sendo muito pouco utilizado atualmente. AGONISTAS DO HORMÂNIO LIBERADOR DE GONADOTROFINA: • Outra opção terapêutica eficaz – ainda que extrema – consiste em agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH, do inglês gonadotropin-releasing hormone). Por provocar castração médica, os sintomas da SPM melhoram significativamente; • Como o medicamento necessita ser utilizado por tempo prolongado, pode-se provocar aumento do risco de osteoporose à paciente. Além disso, em geral há queixa de fogacho e atrofia urogenital. SUPRESSÃO DA OVULAÇÃO
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