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FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Porto Alegre: Artmed, 2006. Parte I: Teoria dos Mecanismos de Defesa O Ego como Sede de Observação * Análise, como método terapêutico voltado para o ego e suas aberrações, sendo a investigação do id e de seus processos de funcionamento um meio para que a correção dessas anormalidades e a recuperação do ego fossem possíveis. – pg.10 * Com avanços, a análise passa a abarcar a obtenção do “máximo de conhecimento possível de todas as três instâncias” e “aprender quais são as suas relações mútuas com o mundo externo”. – pg.10 - EGO: explorar seu conteúdo, suas fronteiras e funções e apurar as influencias no mundo externo, no id e no superego; - ID: dar uma explicação das pulsões e acompanhar as transformações por elas sofridas. * O Id não é acessível a observação (apenas através de derivados nos sistemas conscientes), enquanto o superego e o ego podem coincidir, tendo o primeiro seus contornos claros quando enfrenta o segundo, passando a ser perceptível. – pg.10 * Enquanto no Id os processos primários e o princípio do desejo são soberanos, no Ego a associação de ideias é mais regulada (processo secundário) e os imperativos da realidade, assim como as leis éticas e morais, atuam de modo controlador. Estas discrepâncias podem levam a embates entre estas duas instâncias. – pg.11 * “Todas as medidas defensivas do ego contra o Id são evadas a efeito silenciosa e invisivelmente. ” – pg.12 * “Regra geral: o Ego nada sabe sobre a rejeição do impulso ou sobre o conflito geral que resultou na implicação de uma nova característica. ” – pg.12 * “[...] todas as informações importantes que possuímos foram adquiridas mediante o estudo de incursões no lado oposto, ou seja, do Id no Ego [...]”. – pg.12 A Aplicação da Técnica Analítica ao Estudo das Instâncias Psíquicas * A autora realiza então uma análise retrospectiva e crítica acerca dos momentos anteriores ao citado anteriormente na prática psicanalítica, sendo estes: técnica hipnótica, livre associação, interpretação de sonhos, interpretação de símbolos, parapraxias, transferência. – pg.15-23 - parapraxias: irrupções do Id, especialmente me forma de deslizes da língua e esquecimentos. (pg.18) * “O paciente transgride a regra fundamental da análise ou, como dizemos, ergue ‘resistências’.” – pg.16 * Analista, através da livre associação, pode observar a entrada de ação, pelo Ego, de medidas defensivas contra o Id. Assim, é seu papel reconhecer os mecanismos de defesa. “[...] desfazer o que tiver sido feito pela defesa, descobrir e repor em seu lugar o que foi omitido por meio do recalcamento, corrigir os deslocamentos e devolver ao seu verdadeiro contexto o que tiver sido isolado.” – pg.17 * Apenas quando a observação é realizada duplamente sobre o Id e o Ego é que podemos falar de psicanálise. – pg.17 * “Por transferência entendemos todos aqueles impulsos experimentados pelo paciente, em sua relação com o analista, que não são uma criação nova ou recente da situação analítica objetiva, mas têm sua origem em relações remotas com o objeto e são agora meramente revividos sob a influência da compulsão de repetição.” – pg.19 - transferência de impulsos libidinais: emoções passionais; - transferência de defesa: compulsão de repetição; - “representar” na transferência: paciente ‘representa’ na sua vida cotidiana as moções pulsionais e as reações defensivas contidas em seus afetos transferidos. As Operações Defensivas do Ego Consideradas como Objeto de Análise * “É tarefa do analista trazer à consciência o que está inconsciente, seja qual for a instancia psíquica a que o material pertença [...] situa-se em um ponto equidistante do Id, Ego e Superego.” – pg.27 * Por atuar como facilitador do Id, o analista é encarado pelo Ego como uma ameaça. – pg.27,28 * Além de defender-se contra os investimentos dos conteúdos do Id que buscam chegar a consciência, o Ego também se defende contra os afetos que estão associados a estas moções pulsionais. – pg.29 * Assim como analisado por Wilhelm Reich, a defesa permanente pode ser observada através de atitudes corporais atuando como resíduos de processos defensivos que “evoluíram para traços caracterológicos permanentes, a ‘blindagem do caráter’.” – pg.30 * O papel do Ego na formação de sintomas envolve um método específico de defesa e na repetição este todas as vezes que a exigência pulsional se repete em sua forma estereotipada. – pg.30 * Estudo de casos com crianças e a análise infantil, desafios e caminhos pelos quais estes podem ser transpostos. – pg.31-34 Os Mecanismos de Defesa * Métodos de defesa: repressão, recalcamento, formação reativa, isolamento, anulação, projeção, introjeção, inversão contra o Ego. Reversão, sublimação. – pg.38 * Análise acerca da classificação dos mecanismos de defesa de acordo com a posição no tempo. – pg.42,43 Orientação dos Processos de Defesa Segundo a Origem da Angústia e do Perigo * Motivos para a defesa contra as pulsões – pg.45-49 - Angústia do Superego nas Neuroses de Adultos: o ego suprime alguma moção pulsional não por seu desejo, mas por se submeter ao Superego, que pode atuar de forma extremamente moralista. - Angústia Objetiva na Neurose Infantil: assim como na neurose do adulto, não é desejo do ego da criança defender-se as moções pulsionais, mas assim o fazem devido as proibições dos pais. “O Ego infantil teme as pulsões porque temo o mundo exterior [...] isto é, pela angústia objetiva.” – pg.47 - Angústia Pulsional (medo da força das pulsões): “O que é que o Ego teme [...] o perigo de que toda a organização do Ego possa ser destruída” – Robert Wälder * “Podemos calcular o montante de energia dispendida no estabelecimento de recalcamentos pelo vigor da resistência com que nos defrontamos ao querer removê-los.” – pg.50 * A análise pode ser efetiva e obter resultados quando ocorrem duas das angústias já citadas. No adulto, é necessário estimular o conflito endopsíquico e fazer-se chegar em um acordo entre as diferentes instâncias. Na criança, além de inverter o processo defensivo, é necessário influenciar a realidade para que a angústia objetiva possa ser reduzida. No que se refere a defesa contra um afeto na criança, é preciso desenvolver uma tolerância a quantidades maiores de “dor” (processo que compete mais a educação). No entanto, os estados de defesa pelo medo do vigor das pulsões não regem favoravelmente à análise. – pg.50,51 Parte II: Exemplos de Evasão da “Dor” Objetiva e de Perigo Objetivo – Estágios Preliminares de Defesa Negação em Fantasia * Durante a infância, o ego da criança tenta dominar os estímulos pulsionais enquanto também se empenha por realizar uma defesa contra a dor objetiva e os perigos que podem surgir. – pg.56 * Análise do caso de fobia animal do pequeno Hans (Freud) – pg.56,57 * “As fantasias ajudaram-no a reconciliar-se com a realidade [...] Hans negou a realidade por meio de sua fantasia; transformou-a de moda a ajustar-se às suas próprias finalidades e satisfazer seus próprios desejos; depois, e só depois, pôde ele aceita-la.” – pg.57 * Casos de dois garotos e suas fantasias pautadas em animais e nas relações parentais. – pg.58,59 * “O Ego da criança recusa-se a tomar conhecimento de certa realidade desagradável. [...] Se a transformação for bem sucedida [...] o Ego será poupado à angústia e não precisará recorrer a medidas defensivas contra as suas moções pulsionais, nem à formação de neurose.” – pg.61 * Na vida adulta, a divagação e construção de “fantasias” pode, no máximo, servir “para dominar quantidades insignificantes de desconforto ou para dar ao sujeito um alívio ilusório para alguma ‘dor’ secundária”. Não é possível a gratificação através de fantasia devido o papel do Ego de observar a realidade e comprová-la, não podendo este atuar em linhas contrárias. – pg.62 Negação em Palavras e Atos * O ego infantil tende a “livrar-se de fatos indesejáveis mediante a negação dos mesmos”, e os adultos são propensos a utilizar este mecanismo ao relacionar-se com as crianças. – pg.65,66 * A criançaspodem desenvolver, de forma análoga ao recalcamento da neurose, a negação, com o intuito de não reconhecer impressões que podem causar “dor” e angústia provenientes do mundo exterior. – pg.68,69 * “[...] a dramatização de fantasias em palavras e atos requer a existência de um placo no mundo exterior [...] condicionado exatamente pela medida em que as pessoas que rodeiam a criança concordem ou não com a sua dramatização, assim como [...] pelo grau de compatibilidade com a função de comprovação da realidade.” – pg.70 Restrição do Ego * “[...] quando as crianças se defendem contra a ‘dor’ que sentem a o comparar suas próprias realizações com as de outros, o sentimento em questão é meramente substitutivo.” – pg.73 * Diferenciação entre a postura de espectador adotada por crianças e a manifestação de genuínas inibições. – pg.73,74 * “[...] inibição neurótica está defendendo-se contra a tradução em ação de determinada moção pulsional proibida, isto é, contra a libertação de ‘dor’ através de algum perigo interno.” ; passa a existir um “conflito perpétuo entre o desejo do Id e a defesa estabelecida pelo Ego”– pg.76 * “Na restrição do ego, as impressões externas desagradáveis, no presente, são rechaçadas, porque poderiam resultar na revivescência de impressões semelhantes do passado.”; a ênfase aqui é destinada a ‘dor’ ou prazer que podem ser produzidos, há um abandono total de algumas esferas de interesse. – pg.76 * A restrição do Ego é um estágio normal na evolução do Ego. – pg.77 * Estas medidas de defesa do Ego podem surgir como profilaxia da neurose infantil, que busca evitar o sofrimento, mas que pode conter o “desenvolvimento da angústia e infligir deformidade a si próprio”. – pg.77 * Esforço por parte da mãe de privar a criança de sofrimento pode desenvolver aspectos que podem levar a uma neurose infantil, assim como a proteção (partindo da mãe e/ou da própria criança) pode desencadear em uma limitação do Ego em lidar com as agressões externas futuras, podendo desencadear em neuroses. – pg.77,78 Parte III: Exemplos de Dois Tipos de Defesa Identificação com o Agressor (introjeção + projeção) * “Uma criança introjeta certa característica de um objeto causador de angústia e, assim, assimila uma experiência de angústia que acabou de sofrer.” – pg.83 * “Quando uma criança repete constantemente esse processo de internalização e introjeta as qualidade do que são responsáveis pela sua criação, tornando suas as características e as opiniões dessas pessoas, está fornecendo o tempo todo material a partir do qual o Superego poderá adquirir forma.” – pg.85 * A identificação com o agressor ocorre com um ataque ativo ao mundo exterior, relacionando a angústia a algo esperado no futuro. – pg.84,85 * “No momento em que a crítica é internalizada, a ofensa é externalizada. Isso significa que o mecanismo de identificação com o agressor é suplementado por outra medida defensiva, ou seja, a projeção da culpa.” – pg.86 * “Um Ego [...] que evolui nesse sentido, introjeta as autoridades a cuja crítica está exposto e incorpora-as no Superego. [...] é uma espécie de fase preliminar de moralidade. A verdadeira moralidade começa quando o criticismo internalizado [...] coincide com a percepção pelo Ego de suas próprias faltas.” – pg.86,87 * Quando há uma permanência neste estágio intermediário, o indivíduo percebe a própria culpa mas continua comportando-se de forma agressiva no que refere as outras pessoas. – pg.87 Uma Forma de Altruísmo * “[...] o uso do mecanismo de projeção é muito natural para o Ego das crianças, em todo o período inicial da infância. [...] repudiar suas próprias atividades e desejos, quando estes se tornam perigosos, e para atribuir a responsabilidade pelos mesmos a algum agente externo.” – pg.89 * A autora chama de “rendição altruísta” a forma normal de atuação da projeção, quando esta nos habilita a “formar valiosos vínculos positivos e a consolidarmos as nossas relações mútuas”. – pg.90 * A projeção “habilita o sujeito a interessar-se amistosamente na gratificação das pulsões de outras pessoas”, podendo assim “indiretamente a apesar da proibição do Superego, a gratificar as próprias pulsões, enquanto liberta a atividade e a agressividade inibidas, com o intuito primordial de garantir a satisfação dos desejos pulsionais em sua relação original com o próprio sujeito.” – pg. 93 * Em grande parte dos casos, o substituto já foi objeto de inveja por parte do indivíduo, e com a “percepção do impulso proibido em outra pessoa” já dá margem para o Ego sugerir a possibilidade de projeção. – pg.93,94 * A renúncia altruísta também pode ser relacionada ao medo da morte. “[...] tanto a angústia como a ausência de angústia são devidas, antes, ao sentimento, por parte do sujeito, de que sua própria vida só vale a pena ser vivida e preservada desde que existam oportunidades nela para a gratificação de suas pulsões”. Quando estas são cedidas para outras pessoas, a vida destas é mais importante e deve ser zelada mais do que a sua própria. – pg.95 Parte IV: Defesa Motivada pelo Medo da Força das Pulsões – Ilustrada pelos Fenômenos da Puberdade O Ego e o Id na Puberdade * Nas crianças, o conflito entre o Id e o Ego é caracterizado por este último estar em processo de formação, sendo assim uma instância ainda fraca. “A atitude infantil em relação ao seu próprio Ego é simplesmente ditada pelas promessas e ameaças de outras pessoas, quer dizer, pela esperança de amor e expectativa de punição.” – pg.101,102 * “[...] o Ego é [...] perfeitamente adaptado para manter o equilíbrio entre as duas forças: as solicitações urgentes da pulsão e as pressões exteriores”, quando este equilíbrio ocorre, pode-se considerar que foi estabelecida a posição do Ego frente ao Id e as suas investidas. – pg.103 * Durante o período de latência, ocorre o estabelecimento do Superego e uma transformação na angústia infantil, que passa a possuir novos representantes: a angústia do Superego, a angústia da consciência e o sentimento de culpa. – pg.103 * Durante a adolescência, o equilíbrio psíquico já conquistado é destruído no período pré-puberal, levando a novos conflitos internos entre o Ego e o Id. Porém, com o Ego já estabelecido, diferente da infância, este permanece inflexível diante da sua relação com o Id e o Superego (caráter). – pg.104 * Quando a maturidade física sexual é estabelecida, dando início a puberdade, o “investimento libidinal é subtraído aos impulsos pré-genitais e concentrado em sentimentos, ideias de objetos e objetivos genitais”. * Os fatores que podem determinar, de forma relativa, o desfecho da puberdade são: “a força dos impulsos do Id [...] a tolerância ou intolerância do Ego em relação à pulsão, o que depende do caráter formado durante o período de latência [...] a natureza e a eficácia dos mecanismos de defesa a mando do Ego[...]”. – pg.107 Angústia Pulsional Durante a Puberdade * “Os jovens que passam pela espécie de fase ascética que tenho em mente parecem temer mais a quantidade do que a qualidade de suas pulsões [...] sua política mais segura [...] contrariar os desejos mais urgentes com proibições mais severas.” – pg.110 * Há, no entanto, “uma recuperação transitória e espontânea do estado anterior ao ascetismo”, caracterizado pela transição par ao excesso pulsional, onde o adolescente desconsidera todas as inibições e as restrições. – pg.111 * A intelectualização é voltada a assuntos que tiveram como origem os conflitos entre as instâncias psíquicas dos adolescentes, e este processo atua como um modo de traduzir os processos pulsionais e dominá-los a nível psíquico. – pg.114,115 * “Sua atividade mental é, antes, uma indicação do estado de tensão vigilantes em faze dos processos pulsionais e a tradução em pensamento abstrato do que eles apreendem.” – pg.115 * “[...] a associação de afetos e processos pulsionais com ideias de palavras é considerada o primeiro e mais importante passo no sentido do domínio das pulsões [...] essa intelectualização da vida pulsional, a tentativa de manter o controle dos processospulsionais mediante a vinculação de ideias que podem ser manejadas na consciência” pode ser considerada um dos componentes indispensáveis do Ego. – pg. 115 * Durante o período de latência e na vida adulta, como o Ego relativamente forte, este pode abrandar a necessidade de intelectualizar os processos pulsionais, no entanto, o trabalho intelectual nestes períodos, quando ocorre, é mais sólido e voltado mais estreitamente para a ação. – pg.116 * “A suspeita e o ascetismo do Ego são primariamente dirigidos contra a fixação do sujeito em todos os objetos de amor da sua infância”, levando a um afastamento do pais e uma supressão do Superego, encarado como suspeito devido sua composição derivada da relação com os pais. Assim, no Ego se projeta a angústia pulsional e os mecanismos primitivos de proteção. – pg.117,118 * O adolescente busca “se assimilar, o mais possível, à pessoa que, no momento, ocupa o lugar central na sua afeição” levando assim a uma “perda de personalidade em consequência de uma mudança de identificação” buscando o efeito de deslibidinizar o mundo externo. – pg.118-120
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