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VULVOVAGINITES INTRODUÇÃO • As vulvovaginites são causas comuns de corrimento vaginal patológico e se caracterizam por afecções do epitélio estratificado da vulva e vagina - importante não fazer confusão com as cervicites, que acometem a mucosa glandular. • As vulvovaginites são afecções do epitélio estratificado vulvo-vaginal causadas por inflamação infecção ou desequilíbrio da flora vaginal normal. • O meio vaginal é composto pelo resíduo vaginal, restos celulares e microorganismos – tanto aeróbios quanto anaeróbios. • Dentre os microorganismos presentes, incluem-se patógenos oportunistas que, na mulher saudável, não ocasionam doenças. • Os lactobacilos mantêm o pH normal fisiológico, através do metabolismo da glicose realizado utilizando- se do glicogênio no epitélio vaginal. A glicose é convertida em ácido lático, tornando o pH vaginal normal entre 3,5 e 4,5. • Essa acidez também é parte dos mecanismos de defesa contra infecções. Alguns fatores podem acabar desequilibrando esse ecossistema: muco cervical, sêmen, antibióticos, duchas vaginais, doenças sexualmente transmissíveis, sangue menstrual, doenças sistêmicas (diabetes mellitus, por exemplo), gravidez e menopausa. • Ao atender uma paciente com queixas compatíveis com vulvovaginite, devemos realizar uma anamnese direcionada e completa, questionando duração dos sintomas, perguntando sobre atividade sexual, uso de preservativo, sinais como prurido e odor fétido, estado de saúde, medicamentos utilizados, mudança de sabonete, uso de produtos íntimos e passado de IST/DST. DETERMINAÇÃO DO PH VAGINAL • Baseia-se na mudança de cor do papel colorimétrico, indicando diferentes valores de pH. • Coloca-se uma fita em contato com a parede vaginal lateral, evitando o conteúdo do fundo de saco vaginal ou colo uterino. • A cor que o papel adquire irá variar de acordo com o pH do conteúdo da vagina. TESTE DAS AMINAS • Colocam-se 1 a 2 gotas de KOH a 10% na superfície (espátula ou adesivo) com conteúdo vaginal, e sente-se o odor das aminas quando há alterações que aumentem a flora vaginal anaeróbia. (vaginose bacteriana, tricomoníase, vaginite aeróbica por microtraumatismos ou ulcerações). • Isso ocorre porque, ao entrar em contato com substância básica, há reação com liberação de aminas voláteis, que possuem esse odor característico. EXAME BACTERIOSCÓPICO • Coleta-se conteúdo da parede vaginal usando espátula de madeira ou cotonete. O material então é disposto em três lâminas de vidro, em esfregão. • Uma seleção é usada para a coloração de Gram; outra, coloca-se uma gota de soro fisiológico a 0,9% e, na outra, uma gota de KOH a 10%. • Observa-se: a) Na lâmina do SF: Trichomonas móveis, clue cells, celularidade e se a flora é bacilar ou cocácea (cocos); b) Na lâmina do KOH: hifas e blastóporos; c) Na lâmina do gram: células de defesa, tipo de flora, Trichomonas fixados, clue cells, hifas e blastóporos. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL • A candidíase vulvo-vaginal (CVV) é uma das formas mais comuns de vulvovaginite e atinge boa parte das mulheres ao menos uma vez durante a vida. • A Candida albicans faz parte da flora oral, retal e vaginal de forma comensal e, durante a vida reprodutiva, 10% a 20% das mulheres são colonizadas de forma assintomática. • Em 80% a 90% dos casos, o agente causador da CVV é a Candida albicans. O restante é causado por outras espécies específicas de Candida: Candida glabarata, tropicalis, krusei, etc. • A maioria das candidíases vulvovaginais são classificadas como não-complicadas. • As formas não-complicadas incluem aquelas com todos os seguintes critérios: 1. Esporádica ou infrequente; 2. Leve a moderada; cujo provável agente é a Candida albicans; 3. Pacientes não-imunocomprometidas. • A candidíase complicada inclui qualquer uma das seguintes características: 1. infecção recorrente por cândida (4 ou mais surtos em um ano); 2. infecção grave; 3. candidíase não-albicans; 4. diabetes não controlado; 5. imunossupressão; 6. debilidade ou gravidez. O QUADRO CLÍNICO DA CANDIDÍASE INCLUI: I. Prurido II. Ardência III. Corrimento geralmente grumoso, inodoro, com aspecto de queijo “cottage” e aderente à parede vaginal IV. Dispareunia de introito vaginal V. Disúria externa • Os sinais característicos são: eritema e fissura vulvares, corrimento grumoso com placas aderidas à parede vaginal, de cor branca, edema vulvar, escoriações e lesões satélites. • À citologia a fresco, o pH vaginal é normal (ácido) <4,5; e o exame microscópico da leucorreia, após aplicação de solução salina ou KOH a 10%, mostra a levedura ou hifas. • Essa citologia deve ser realizada antes de prescrever o tratamento empírico. Caso venha negativa, colhe-se a cultura. • De maneira geral, iremos colher a cultura de pacientes com sintomas clínicos cuja citologia a fresco veio negativa; em caso de falha do tratamento e em casos de episódios recorrentes. • O tratamento da candidíase não complicada pode ser feito através de vários esquemas, levando em consideração particularidades e preferências da paciente. • Para as formas não-complicadas, os azóis costumam ser muito eficazes. • Quando a candidíase é complicada, não se trata com doses e esquemas curtos como os da candidíase não- complicada. • No mínimo, usa-se um esquema vaginal de 7 dias ou múltiplas doses de fluconazol (150mg a cada 72h, em 3 doses). • Nas CVV recorrentes – que são, em sua maioria, causadas pela C. albicans – após controle dos fatores subjacentes – diabetes, doenças auto-imunes, antibióticos, etc – faz-se indução de terapia azólica por 14 dias – tópica ou oral – seguida de regime supressivo de 6 meses – 150mg de fluconazol semanal, durante seis meses. • Em casos de Candida glabarata, vale aplicar ácido bórico tópico em cápsulas gelatinosas, 600mg diariamente por 14 dias. • Em CVV causadas por outras espécies de cândida, a nistatina é a primeira escolha. Podem-se usar também óvulos de anfotericina via vaginal. • É contraindicada terapia azólica oral em gestantes, preferindo-se creme vaginal de nistatina por 14 dias ou clotrimazol 1% por 7 dias. • Por fim, é importante pontuar que o tratamento da CVV não muda em pacientes HIV-positivas. VAGINOSE BACTERIANA • A vaginose bacteriana (VB) é a desordem mais frequente do trato genital inferior em mulheres de idade reprodutiva e a causa mais comum de odor fétido no corrimento, responsável por 45% a 50% dos casos de corrimento vaginal patológico. • Sua patogênese está relacionada ao desequilíbrio na flora vaginal, com perda de lactobacilos e aumento de bactérias como a Gardenerella vaginalis, patógeno frequentemente associado à VB. • Outras bactérias podem também estar em supercrescimento, como a Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Mobiluncus spp. • Como já abordamos, a flora vaginal normalmente contém espécies aeróbicas e anaeróbicas, com predomínio de 90% de lactobacilos vaginais. • Esses lactobacilos constituem linha de defesa contra infecções – pela manutenção do pH e pela produção de peróxido de hidrogênio. • Quando eles diminuem, propicia o desequilíbrio e o consequente crescimento de bactérias patogênicas. • Essas bactérias produzem sialidase, que decompõe produtos do muco cervical e gera o corrimento bolhoso – os lactobacilos também produzem sialidase, mas em quantidade expressivamente menor. • Sem lactobacilos, o pH normalmente ácido aumenta e a Gardnerella vaginalis produz aminoácidos, que são quebrados em aminas voláteis (putrescina, cadaverina e trimetilamina), aumentando mais o pH e causando o odor desagradável muito referido pelas pacientes. • Outro fator de risco da aula: relação sexual com outras mulheres • Apesar de muitos fatores de risco estarem relacionados à atividade sexual, a vaginose bacteriana não é considerada uma doença sexualmente transmissível, e não está indicado o tratamento do parceiro. • Seu quadro clínico é caracterizadopor corrimento de odor fétido – o odor piora após coito e na menstruação, bolhoso e branco a acinzentado. Além disso, não há irritação nem inflamação vulvar ou vaginal. • Em 1983, foram criados os critérios de Amsel e colaboradores, dos quais devem estar presentes três. • Os achados de clue cells e whiff teste positivo são patognomônicos da doença, mesmo em pacientes assintomáticas. • Existem ainda os critérios de Nugent, um sistema de escore que quantifica os elementos microbiológicos. Fundamenta-se na presença ou não de lactobacilos, Gardnerella ou Molibuncus: • Vários desfechos ginecológicos adversos podem ocorrer em decorrência da VB: vaginite, endometrite, doença inflamatória pélvica não associada à Neisseria ou Chlamydia e infecções pélvicas agudas pós-cirurgias pélvicas. • Alguns esquemas de tratamento foram propostos para a VB em mulheres não-grávidas, conforme a seguir: TRICOMONÍASE • Causada pelo Trichomonas vaginalis, protozoário anaeróbico com flagelo, possuindo período de incubação de 3 dias a 4 semanas. • A tricomoníase é considerada a doença sexualmente transmissível não-viral mais comum no mundo. • Constitui importante fonte de morbidade reprodutiva e facilitadora da infecção pelo HIV. • É mais comumente diagnosticada em mulheres, pois a maioria das infecções em homem é assintomática, e a coinfecção com Neisseria gonorrhoeae é comum – bem como com outros patógenos. • Isso torna fundamental a busca de outras infecções sexualmente transmissíveis nas pacientes diagnosticadas. Além disso, a transmissão vertical durante o parto é possível. • Sua manifestação clínica é constituída por corrimento, por vezes abundante, de fluido a espesso, amarelado ou esverdeado e com odor fétido. • A vagina, uretra, ectocérvice e bexiga podem ser afetadas. Disúria, dispareunia, prurido vulvar e dor podem também estar presentes. • Ao exame ginecológico, há vulvite discreta, hiperemia difusa da vagina, secreção amarelada ou esverdeada abundante e colo com aspecto de framboesa ou morango. • Pode haver, além da leucorreia, hemorragias subepiteliais ou “manchas vermelhas” na vagina e no colo uterino. • Ao teste de Schiller, o colo adquire aspecto de “pele de tigre”. Ao exame citológico a fresco, o pH vaginal é geralmente superior a 5 e o teste de KOH costuma ser positivo. • O diagnóstico pode ser obtido pelo próprio exame citológico a fresco, com visualização de protozoários em exame microscópico do conteúdo vaginal. No entanto, a sensibilidade é baixa. • A cultura tem sensibilidade muito maior, mas se torna impraticável devido à necessidade de um meio especial (meio Diamante). • O teste rápido para tricomonas, disponível para uso em consultório e com resultado rápido, é uma opção, tendo sensibilidade e especificidade de 88% e 99%, respectivamente. • Pode ainda ser observado no Papanicolau, mas com sensibilidade de apenas 60%. Se houver sua detecção no Papanicolau, sugere-se exame microscópico antes de iniciar o tratamento. • A tricomoníase é considerada uma infecção sexualmente transmissível, devendo o parceiro ser tratado. Das principais vulvovaginites que vemos, essa é a única na qual o tratamento do parceiro está indicado. • NATT’s – teste de amplificação de ácidos nucleicos – pouco disponível. Tratamento – sempre tratar o parceiro. I. Metronidazol 2g, dose única, VO II. Tinidazol 2g, dose única, VO III. Metronidazol 500 mg, VO, 2x/dia, 7 dias • Repetir exame após 3 meses de TTO. OBS: atenção nesse quadro acima por favor. • Existem apresentações de vulvo-vaginites menos comuns, tais como a vaginose citolítica, vaginite atrófica, vaginite actínica, vaginite lactacional e vaginite alérgica. VAGINOSE CITOLÍTICA • Seu quadro clínico pode imitar o da candidíase, levando a paciente a tratamentos repetidos com anti-fúngicos sem sucesso. • A flora de lactobacilos está exacerbada e, ao exame microscópico, há citólise. • Não há terapia com evidência consistente para essa patologia, mas costuma-se tratar com alcalinização vaginal, usando creme vaginal com tampão borato e duchas vaginais de água com bicarbonato de sódio. • Suas manifestações incluem corrimento branco, prurido vulvo-vaginal, dispareunia, disúria e ardência perineal. Esses sintomas se intensificam na fase lútea do ciclo menstrual. • Os principais sinais são: I. corrimento branco homogêneo II. pH vaginal entre 3,5 e 4,5 III. teste de aminas negativo IV. hiperpopulação de lactobacilos na microbiologia V. citologia: citólise de células intermediárias ricas em glicogênio, leucócitos raros. • Parâmetros para diagnóstico: I. Flora tipo I (bacilar) intensa II. Escore de Nugent 0 a 3 III. Células descamativas numerosas IV. Leucócitos ausentes ou em grande quantidade (0 a 1 por campo) V. Lise celular intensa, com núcleos desnudos e muito material celular no esfregaço VAGINITE ATRÓFICA • É uma vaginite própria da paciente hipoestrogênica, gerando dispareunia pela atrofia. • Manifestações incluem: prurido vulvo-vaginal, dispareunia, queimação ou ardor vaginal, disúria, ITU ou incontinência urinária e urgência urinária. • A atrofia e o aumento do pH vaginal predispõem a vagina a traumatismos e infecções. • O tratamento consiste em terapia estrogênica – sistêmica ou vaginal. VAGINITE ACTÍNICA • Geralmente ocorre com infecção bacteriana secundária, apresentando descarga purulenta. • Deve ser tratada após exame microbiológico. VAGINITE LACTACIONAL • Pode mimetizar a tricomoníase e assemelha à colpite atrófica inicial, devido ao hipoestrogenismo. • Sintomas incluem desconforto urinário, prurido e secura vaginais, leucorreia e dispaneunia. • PH geralmente está alcalino e há poucos bacilos na microbiologia, aumento de células basais e parabasais, e diminuição de células superficiais. • É tratada com clindamicina ou acidificação com vitamina C vaginal. VAGINITE IRRITATIVA • É causada por agentes químicos e o tratamento é a suspensão destes. Causa ardor, prurido e eritema. VAGINITE ALÉRGICA • Pode ser causada por uma gama de substâncias que desencadeiem uma reação alérgica, por meio da hipersensibilização. • Ardor vaginal, prurido e eritema fazem parte do quadro. • Anti-histamínicos costumam ajudar a dessensibilizar a paciente e melhorar os sintomas, podendo-se associar corticoides orais ou sistêmicos.
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