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1 Manuela Silvestre Monteiro AINES: anti-inflamatórios não esteroidais PROCESSO INFLAMATÓRIO É uma resposta natural do tecido, um processo de defesa (ao menos enquanto consigamos controlar). Desencadeada por processos físicos, químicos, fisiológicos e resposta autoimune. Tem o objetivo de remover e reparar o tecido danificado (regeneração ou remoção). Reação da microcirculação (desenvolvimento de duas respostas diferentes: resposta vascular e celular, e as duas juntas é que dão início e continuidade ao processo inflamatório). As respostas inflamatórias se dão através de mediadores químicos. ➢ Ação vascular: vasodilatação para poder mobilizar um grupo maior de células de defesa ao local. ➢ Ação algogênica: agem nas terminações nervosas sensitivas. A histamina produz dor e as prostaglandinas tornam essas terminações mais sensíveis à dor. ➢ Infiltração de leucócitos: de forma rápida para fagocitar o agressor, mas com meia-vida curta. Ocorre formação de exsudato causada pela morte do neutrófilo que fagocitou a bactéria Quando a inflamação interfere seriamente na função do órgão acometido pode ocorrer uma ameaça maior do que a inicial. Ex: cirrose hepática, artrites reumatóides, choques anafiláticos... Os fármacos agem em razão de não lesionar esses tecidos SINAIS CLÍNICOS ➢ Calor: perceptível nas superfícies corporais, decorrente de reação química. Com o aumento do movimento, gera aumento de energia, com geração de calor. Aumento da circulação sanguínea com o objetivo de levar as células para o tecido inflamado. ➢ Rubor (vermelhidão): causada pelo aumento do fluxo sanguíneo. ➢ Edema: causado aumento da permeabilidade vascular. ➢ Dor: causada pela irritação química (histamina e prostaglandinas) nas terminações nervosas e pela compressão mecânica. ➢ Perda de função: decorrente do edema (principalmente em articulações, impedindo a movimentação) e da dor, que dificultam as atividades locais. COMPONENTES DA INFLAMAÇÃO AGUDA ➢ Resposta imune inata: liberação de autacóides, contração de arteríolas, formação de edema e exsudato local rico em mediadores químicos ➢ Resposte imune adaptativa: ativação de células competentes contra possíveis patógenos de inflamação A resposta imune inata é iniciada pelo reconhecimento de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) por receptores de reconhecimento padrão (toll) nos macrófagos. A interação de um PAMP com um receptor toll inicia uma sinalização intracelular que ativam a produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, TNF-α), prostaglandinas e histamina. CASCATA INFLAMATÓRIA Ácido araquidônico é um substrato presente nos fosfolipídios de membrana. Ele serve de base para a produção de prostaglandinas e de tromboxanos. A fosfolipase A2 libera o ácido araquidônico presente na membrana celular, e esse ácido será substrato para as cicloxigenases (COX) no processo que produz prostaglandinas e tromboxanos. AINEs inibem a produção de prostaglandinas e tromboxanos, e 80% do processo inflamatório depende deles. Existem, pelo menos, 2 isoformas de cicloxigenases: 2 Manuela Silvestre Monteiro ➢ COX 1: Majoritariamente constitutiva, independe de estímulo lesivo e desencadeia funções fisiológicas, no processo inflamatório é responsável por apenas 20%. Muito presente no trato digestivo, conferindo proteção gástrica. Por isso que a dor no estômago quando toma anti- inflamatório, porque cessa a produção de prostaglandinas importantes para a proteção da mucosa. Importante na agregação plaquetária (trombótico). ➢ COX 2: Majoritariamente induzida, com baixas atividades no organismo. Sua ação aumenta até 20x no processo inflamatório, quando ocorre estímulo lesivo. Forma prostaglandinas que medeiam inflamação, dor e febre. Principal responsável pela formação de prostaglandinas inflamatórias. Se usar medicamento extremamente seletivo para COX-2, pode causar problema no coração (pois é constitutiva do endotélio vascular). Possui um bolsão lateral que favorece que alguns AINEs sejam seletivos a ela. PROSTAGLANDINAS E SUAS FUNÇÕES: ➢ PGI2: vasodilatação, inibição da agregação plaquetária, dor e inflamação, liberação de renina e natiurese ➢ PGE2: aumenta a síntese de muco protetor, vasodilatação, hiperalgesia, febre, proliferação celular ➢ TXA: agregação plaquetária. As plaquetas devem aderir nos locais onde há lesão para formar o coágulo. ➢ PGF2α: Importante no trabalho de parto. Contração do miométrio, luteólise e broncoconstricção. ➢ PGF2: importante para a permeabilidade da luz vascular no embrião. Por isso, há a contraindicação da administração de anti-inflamatórios em grávidas, para evitar o fechamento precoce do canal arterial. ➢ PGD2: Vasodilatação, inibição da agregação plaquetária e relaxamento do músculo liso do TGI e do útero. / PGE2, PGF2α, PGI2 e PGD2: Dor e inflamação TXA2: Agregação plaquetária. TROMBÓTICO PGE2: Citoproteção do TGI (↑muco ↓Ph) PGF2α: Contração uterina PGE2, PGI2 E PGF2α: Função renal PGE2, PGF2α, PGI2 e PGD2: Dor e inflamação PGI2: Antiagregação plaquetária. ANTITROMBÓTICO PGE2, PGI2 E PGF2α: Função renal AINES: ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS Fármacos utilizados para tratar os sinais e sintomas da inflamação. Ácidos orgânicos fracos de estrutura química variada, mas com várias finalidades terapêuticas (principalmente nos mecanismos de inflamação, de dor e de febre). Inibem a COX que é responsável pela produção de prostaglandinas e TXA2. MECANISMOS DE AÇÃO DOS AINES Os 3 “As” dos AINES: Antipirético(antitérmico), analgésico e anti-inflamatório + Antiagregante plaquetário ➢ Antipirético: • Existem pirógenos endógenos (interleucinas) e pirógenos exógenos (produzidos por bactérias). Os pirógenos atravessam a BHE, agem no centro termorregulador no hipotálamo, produzem prostaglandina E (PGE) e alteram o ponto fixo, causando febre. • Os AINES diminuem a síntese de PGE2, o que baixa a temperatura. Nem todos possuem boa ação antipirética, porque alguns não atravessam a BHE • Se um indivíduo com temperatura normal tomar um AINE, ele não ficará com hipotermia, pois ele age na PGE e não diretamente no hipotálamo. ➢ Analgésico: • Diminuem a produção de prostaglandinas que sensibilizam os nociceptores. Não causam anestesia pois não inibem o estímulo nervoso. • No caso da cefaleia, os aines diminuem a vasodilatação cerebral 3 Manuela Silvestre Monteiro ➢ Anti-inflamatório: • Diminuição da síntese de endoperóxidos, que são responsáveis principalmente pela vasodilatação, quimiotaxia (migração de leucócitos), aumento da permeabilidade... • AINES que atuem bloqueando as duas COX atuam na inflamação inicial e tardia. Os que agem bloqueando a COX 2 especificamente, atuam mais na fase tardia • Alguns fármacos como o paracetamol não possuem ação anti-inflamatória, pois os peróxidos impedem que ele aja inibindo a cicloxigenase, mas possuem ação analgésica ➢ Antiagregante plaquetário • Os AINES diminuem (ação irreversível) a taxa de tromboxanos das plaquetas. As plaquetas não podem produzir novamente, pois não possuem núcleo. • AAS é um anti-agregador plaquetário potente CLASSIFICAÇÃO DOS AINES INIBIDORES SELETIVOS COX 1 INIBIDORES NÃO SELETIVOS COX 1 INIBIDORES SELETIVOS COX 2 INIBIDORES NÃO SELETIVOS COX 2 AAS AAS (altas doses) Meloxicam Celecoxibe Indomectacina Etodolaco Etoricoxibe Piroxicam Nimesulida Parecoxibe Diclofenaco Ibuprofeno Quando se fala em seletividade por uma COX, não significa que ele atua somente em uma COX, mas sim preferencialmente. Inibidores seletivos COX-2 atuam 30% a mais na inibição da COX-2. Os altamente seletivospara COX-2, a seu passo, atuam 90% na COX-2. FARMACOCINÉTICA Rápida e praticamente completa no TGI. Pico de concentração em 1 a 4 horas. Alimentos retardam sem afetar a concentração. Influenciam no tempo de ação, mas protegem o TGI. Ligam-se de 95 a 99% às proteínas plasmáticas, o que implica em uma fração livre muito pequena. Vai sendo liberado aos poucos. Aspirina e diclofenaco possuem alta ligação a proteínas plasmáticas, podendo deslocar outros fármacos da albumina. Metabolismo hepático (CYP) e excreção renal (maioria). CLASSIFICAÇÃO E INDICAÇÕES DERIVADOS DO ÁCIDO SALICÍLICO: AAS, DIFLUSINAL, SALICILATO DE METILA • Analgésico, antipirético, anti-agregante e anti- inflamatório • Diflusinal não tem ação antipirética, pois não atravessa a BHE. Tem boa ação contra a dor em metástases ósseas, pois consegue boa concentração dentro dos ossos; é um potente anti- inflamatório • Salicilato de metila ( Gelol, calminex): bem absorvível quando utilizados topicamente e causa menos efeitos adversos dessa forma. Quando aplicados em uma área muito grande, podem causar reação sistêmica e gerar irritação gástrica DERIVADOS PIRAZOLÔNICOS: FENILBUTAZONA, DIPIRONA, ANTIPIRINA • Terapia de curta duração para gota (acúmulo de cristais de ácido úrico nas articulações) e artrite • Agranulocitose irreversível (diminuição de leucócitos granulócitos) • A dipirona (novalgina) não é mais prescrita nos EUA por causa das ações sobre as células sanguíneas DERIVADOS DO PARA-AMINOFENOL: PARACETAMOL • Analgésico e antipirético. Não tem ação anti- inflamatória por causa da formação de peróxidos • Pode ser usado em pacientes com gota e infecções virais • Tem pouca ação sobre a COX 1 • Paracetamol é o AINE que não tem ação plaquetária • Se for uma inflamação mais forte não vai resolver DERIVADOS DO ÁCIDO FENILACÉTICO: DICLOFENACO (CATAFLAN) • Anti-inflamatório muito potente, atinge bem a cápsula sinovial e se acumula no líquido sinovial • Inibe muito a COX 1 e pouco a COX 2 • Pode gerar distúrbios no gastrointestinais: gastrite, úlcera • Uso oftálmico: colírios (still) DERIVADOS DO INDOL: • Potente e tóxica: indometacina principalmente; endolaco é menos tóxico • Uso oftálmico, condições reumáticas agudas 4 Manuela Silvestre Monteiro • Uso mais restrito DERIVADOS DO ÁCIDO PIRROLACÉTICO: CETOROLACO • Boa ação no sistema músculo-esquelético, usado para dores no pós-operatório • Via oral, IM, EV e uso oftálmico FENAMATOS: ÁCIDO METAFÊMICO (PONSTAN), ÁCIDO FLUFENÂMICO • Antagonista sobre receptores para PGF2 e PGE2 presentes no útero • Diminuem a síntese de prostaglandinas • Indicados para cólica menstrual DERIVADOS DO ÁCIDO PROPIÔNICO: FLURBIPROFENO (OF), CETOPROFENO, IBUPROFENO • Tratamento crônico da artrite e osteoartrite • Dor na dismenorreia • Uso oftálmico: flurbiprofeno DERIVADOS DO OXICAN: TENOXICAN, MELOXICAN, PIROXICAN • Meia-vida longa: vantagem sobre os outros pois podem ser usados a cada 12h ou apenas 1x/dia • Age bem sobre o sistema músculo-esquelético • Dor de dente, muscular, articular • São menos irritantes que diclofenaco CELECOXIB E ROFECOXIB • Não produzem distúrbios gastrintestinais, mas já causaram PCR, IAM. Alguns foram proibidos e outros estão sob suspeita da ANVISA EFEITOS COLATERAIS ➢ Efeitos gastrintestinais: Causados pela diminuição da COX1. Pode causar vômitos, gastrite, ulceração gastrintestinal ➢ Aumento do tempo de sangramento: causado pela diminuição de tromboxano ➢ Reações alérgicas e idiossincráticas ➢ Indometacina em altas doses: cefaleia, tontura, depressão cardiovascular e do centro respiratório ➢ Nefrite e insuficiência renal: ocorre principalmente em decorrência do uso de derivados propiônicos (diminui fluxo renal), por ação irritante direta sobre os néfrons ➢ Pancreatite aguda: indometacina; lesão direta sobre o pâncreas ➢ Síndrome de reve: aspirina em viroses; hepatopatia: degeneração gordurosa do fígado (esteatose) principalmente em crianças com sarampo, catapora e outras viroses ➢ Alterações hematopoiéticas: várias discrasias sanguíneas; trombocitopenia (aumenta o risco de hemorragia) ➢ Alterações cardíacas: no sistema cardiovascular existe risco de hemorragia e no coração risco de IAM principalmente pelo grupo do Viox CUIDADOS NO USO • Disfunção renal ou hepática • Uso concomitante de glicocorticóides: aumento dos efeitos adversos • Uso de anticoagulantes orais: risco maior de hemorragias • Úlcera péptica • Alergias • Gravidez: para evitar o fechamento precoce do canal arterial e retardo do trabalho de parto
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