Prévia do material em texto
STEWART CLEGG MARTIN KORNBERGER TYRONE PITSIS ADMINISTRAÇÃO E ORGANIZAÇÕES SEGUNDA EDIÇÃO Uma Introdução à Teoria e à Prática C623a Clegg, Stewart. Administração e organizações [recurso eletrônico] : uma introdução à teoria e à prática / Stewart Clegg, Martin Kornberger, Tyrone Pitsis ; tradução: [coordenação de] Patrícia Lessa Flores da Cunha... [et al.] ; revisão técnica: Alexandre Perucia. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2011. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-7780-830-4 1. Administração. I. Kornberger, Martin. II. Pitsis, Tyrone. III. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 313 imagens das páginas 314 e 315. O que elas lhe sugerem com relação à organização que cada uma representa? Níveis de comunicação Uma maneira convencional de dar sentido à comunicação em organizações é começar a distinguir os diferentes níveis de comuni- cação. A comunicação pode ser analisada, olhando para os níveis de envolvimento pes- soal e social. Littlejohn (1989) diferencia quatro níveis de comunicação, apresentados na Figura 7.1. Enquanto os três primeiros tipos de co- municação estão situados, principalmente, em um contexto interpessoal (cara a cara, com exceções, tais como uma ligação telefônica ou e-mail), o quarto tipo é mediado por canais de comunicação de massa (novamente, exis- tem exceções, tais como o “boca a boca”). A comunicação diádica ocorre entre um funcio- nário e um administrador; a comunicação entre pequenos grupos e a equipe ocorre em reuniões, sessões de brainstorming e workshops; e, finalmente, a comunicação de massa está IMAGEM 7.2 Olhe para a imagem de uma tribo das mon- tanhas do norte do Vietnã: apesar de a imagem não falar, as roupas, as cores, as expressões faciais, a postura, o fato de so- mente mulheres po- sarem para as fotos dos visitantes, etc. – quase tudo na ima- gem expressa muito a respeito da vida dessas pessoas. esaito Retângulo 314 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS em ação em campanhas de marketing e de RP. Independentemente de onde ocorra, ou por quais meios, a comunicação organizacional é um processo de sensemaking, motivado cultu- ralmente. As pessoas comunicam-se para com- preender a si mesmas e aos outros; algumas vezes, elas se comunicam para enganar, em outras, fazem-no para serem claramente compre- endidas. Não é de se admirar que haja uma ampla oportuni- dade para que as mensagens se misturem e para que o público errado receba ou interprete uma mensagem incorreta (Wat- zlawick et al., 1967). Às vezes, sinais que comunicam a mesma mensagem podem diferir acen- tuadamente: comunicação atra- tiva é muito fácil de identificar – compare as placas Underground e Metro. Comunicação diádica: interpessoal Quando o gerente de produção e o novo funcionário do departamento de marketing saem para al- moçar juntos ou se encontram, en- quanto fumam do lado de fora do prédio, podem tentar entender as tarefas um do outro, o que será útil quando a empresa lançar seu novo produto. Certamente, eles podem estar fazendo outras coisas, como flertando, conversando sobre es- portes ou moda, mas estão tam- bém conhecendo o trabalho um do outro. Estão se comunicando interpessoalmente, cara a cara. A comunicação interpessoal é baseada em interdependência, em que o comportamento de cada pessoa é uma consequência do comportamento de outra. Tal comportamento pode ser expres- so verbalmente e não verbalmente e possui um caráter estruturado formal ou informal. Uma entrevis- ta de seleção, por exemplo, é um procedimento organizacional es- truturado formalmente, enquan- to uma conversa durante o almo- ço pode ser informal. Toda comunicação possui um aspecto informativo e, simultanea- FIGURA 7.1 Níveis de comunicação (conforme Littlejohn, 1989). Comunicação diádica Comunicação em pequenos grupos Comunicação organizacional Comunicação impessoal e interpessoal Comunicação de mídia Comunicação de massa IMAGEM 7.3 Underground. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 315 mente, conta algo sobre o relaciona- mento das pessoas envolvidas. O geren- te diz a seu subordinado: “Você tem até se- gunda-feira para fazer este relatório”, ou “se- ria possível estar com seu relatório em mãos na segunda-feira?” As sentenças expressam quase a mesma informação, mas definem o relacionamento de maneira totalmente dife- rente. A comunicação sempre possui um as- pecto de metacomunicação, e os administra- dores da organização devem estar bem cons- cientes disso – a forma pela qual a mensagem é projetada e recebida é tão importante quan- to o conteúdo que possui. A comunicação envolve múltiplos signi- ficados, interpretações, distorções e omis- sões. Não é tanto o processamento sem per- calços da informação, mas, de certa forma, a complexa emergência interativa de conhe- cimento, significado e narrativas o que a norteia. E nesse processo, as transições nem são aditivas nem lineares; o que você sabe hoje pode mudar o que pensava saber ante- riormente ou que saberá no futuro. Esse tema é frequentemente utilizado em filmes, como Sliding Doors (Howitt, 1998), um fil- me que mostrou como um acidente pode Você se comunica inter- pessoalmente com ou- tros quando interage com eles diretamente. IMAGEM 7.4 Metro. IMAGEM 7.5 A comunicação diádica é essencial para os relacionamentos humanos. Em geral, é ofuscada por múltiplos significados, interpretações, distorções e omissões. 316 PARTE DOIS ADMINISTRAÇÃO DE PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS mudar a base de um relacionamento e de uma vida. A comunicação abrange uma série de in- terações vistas de maneira diferente pelos par- ticipantes (Figura 7.2). Por exemplo, um lí- der com uma necessidade de controlar pode gerar resistência de funcionários. Se o líder responde com um controle mais rígido, é pro- vável que isso gere ainda mais resistência, que pode ser interpretada como uma falta de mo- tivação. Mas o controle elevado produz ainda mais resistência e menos motivação! Encon- traremos mais exemplos dessas dinâmicas no Capítulo 12, quando discutimos burocracia. Quando um círculo vicioso está em jogo, isso é bastante difícil de resolver. Ambas as partes possuem boas razões para seus comportamen- tos. São partes da mesma interação, mas dife- rem fundamentalmente ao assinalar o que está acontecendo. Enquanto os subordinados po- dem argumentar que estão desmotivados em função da falta de confiança, o superior pode enfatizar que, devido à falta de motivação, so- mente controles impostos, de maneira rígida, podem garantir um engajamento mínimo. Estão contando a mesma história, participan- do do mesmo diálogo, mas pontuando-a de maneira diferente e, assim, criando diferentes realidades, em que causas e efeitos são opos- tos. A amplificação do mal-entendido inten- sifica-se em tais circunstâncias. O exemplo demonstrou o duplo impacto, ao utilizar o fato de um administrador dizer a um funcionário que deve aumentar a produ- tividade e qualidade e que, no futuro, será monitorado mais de perto (ação). Desmoti- vado por essa falta de confiança, o funcioná- rio responde faltando mais dias, em função de doença, e tomando menos cuidado com padrões de qualidade (resposta). O administrador entende esse comportamen- to como prova da necessidade de aumento de mecanismos de controle e de reação por meio de aumento de pressão sobre o funcionário, o que leva a uma queda na motivação do mes- mo, resultando ainda mais em faltas por mo- tivo de doença, e em menos cuidados com padrões de qualidade! É importante observar que esse círculo vicioso ocorre muito na co- municação diária. Como você já sabe até ago- ra, tais dinâmicas fatais resultam da comple- xidade dos processos de comunicação (Wat- zlawick et al., 1967). A diferença em se co- municar, especialmente, faz tais círculos vi- ciosos perdurarem e serem difíceis de mudar. Comunicação diádica: impes- soal Uma carta ou um e-mail entre você e um funcionárioda Receita Federal é uma comunica- ção diádica, mas impessoal. Pense em um call center, que é, por de- finição, uma interfa- ce entre cliente e or- ganização. Quando você é colocado na es- pera e é bombardea- do com novas ofertas FIGURA 7.2 Círculos viciosos em ação. Visite www.uk.sagepub.com/ managingandorganizations/ para acesso gratuito a um ar- tigo Karl Weick, cujo trabalho sobre sensemaking teve gran- de impacto na teoria da admi- nistração de Dennis Gioia. Comunicação diádica significa comunicação entre duas partes. A co- municação diádica pode ser impessoal, quando duas pessoas interagem sem contato pessoal di- reto, bem como cara a cara e sem mediação. CAPÍTULO SETE ADMINISTRAÇÃO DA COMUNICAÇÃO 317 que não o interessam enquanto aguarda, isso expressa/comunica como a organização, a qual você busca informações, cuida das necessida- des de seus clientes. Direcionando-o para a pessoa “certa”, por meio de um sistema com- plicado de números, os call centers assumem que a comunicação digital é o nível adequado de envolvimento. Contudo, essa não é uma estrutura apropriada para estabelecer um me- tanível de comunicação. Expondo de manei- ra simples, as empresas perdem a chance de se expressar e de moldar de maneira ativa seus relacionamentos com clientes quando se res- tringem a tais formas de comunicação. Além disso, o relacionamento é puramente comple- mentar: se o cliente tem um problema, o call center o resolve, na medida em que for um problema-padrão – que possua uma solução- padrão. Mas, como veremos em breve, as or- ganizações podem aprender muito com seus clientes sobre o que querem, como realmente utilizam seus produtos e que melhorias dese- jam. Um estilo mais dialógico envolveria clien- tes e criaria um relacionamento mais forte, que desencadearia interatividade, conectividade e criatividade (ver também Capítulo 9). Comunicação em pequenos grupos As dinâ- micas de nível grupal diferem das dinâmicas diádicas. Pense em uma equipe com nove membros. A comunicação não ocorre somen- te cara a cara, mas papéis são estabelecidos, subgrupos formados e uma dinâmica diferen- te é criada. Um grupo é formado por dinâmi- cas, além da influência de seus membros indi- viduais. A cultura bem como a qualidade da solução de problemas dentro do grupo depen- dem da interação entre seus membros. As pres- sões do grupo influenciam as formas de pen- sar de seus membros, como demonstra o fe- nômeno do pensamento grupal (Littlejohn, 1983: 237). Dupla interação comunicativa De acordo com Weick (1979), organizações con- sistem em processos que ele denomina dupla interação. Weick define a dupla interação como uma ação, seguida de resposta, que leva a uma reação que muda a ação inicial seguida de res- posta, como em um circuito em movimento. Pen- se em uma situação típica de trabalho: um su- pervisor afirma que precisa controlar seus fun- cionários, pois parecem não estar motivados; os funcionários não estão motivados porque estão sendo supervisionados de maneira rígida e sen- tem-se desmotivados em função da falta de con- fiança. Veja como um círculo vicioso é produzi- do e mantido. O interessante é que ambas as partes vivem em um mesmo mundo, mas visua- lizam causa e efeito de maneira diferente. Para o supervisor, o controle rígido é o efeito causado por baixos níveis de motivação; para os traba- lhadores, a supervisão rigorosa é causa de bai- xa motivação. Em tal situação, ambas as partes estão certas e erradas, ao mesmo tempo. “Pe- gas” nesse circuito, podem discutir para sempre sem encontrar uma solução. ••••• Você é capaz de pensar em experiências de dupla interação que tenha vivido? Como e de que maneira elas poderiam ser conside- radas como duplas interações? Descreva-as abaixo, de maneira sucinta, e compare suas anotações com as de colegas. MOMENTO PARA EXERCITAR esaito Retângulo Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Página em branco